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Vulnerabilidade sociodemográfica e desigualdades no acesso aos serviços públicos de Saúde Básica em Campinas – SP

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Vulnerabilidade sociodemográfica e desigualdades no acesso aos

serviços públicos de Saúde Básica em Campinas – SP*

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Simone Jose Sardinha de Azevedo

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A presente proposta de pesquisa tem por objetivo refletir sobre a relação entre vulnerabilidades sociodemográficas e o acesso aos serviços públicos de saúde básica, a partir de um quadro teórico baseado nos conceitos de risco, vulnerabilidade, ativos e estrutura de oportunidades. A problemática desta pesquisa também está diretamente envolvida com a compreensão da atuação do Estado, supondo que suas diferentes formas de atuação (ou parte de suas burocracias) podem resultar em desigualdades no acesso aos serviços de saúde, contribuindo para potencializar os riscos de morbimortalidade dos diferentes grupos populacionais.

Partimos da hipótese de que o desempenho da política de saúde pode ser diferenciado segundo sua implementação nos diferentes locais da cidade. Nossa investigação preocupa-se em entender como as populações que vivem em áreas segregadas e pobres das cidades podem correr riscos diferenciados de adoecer ou morrer. Busca-se para tanto, relacionar as características sociodemográficas dos grupos populacionais (escolaridade, idade, sexo, renda) com seu contexto espacial, a fim de verificar não apenas suas maiores probabilidades de adoecer/morrer (riscos), mas também suas oportunidades de acesso aos serviços de saúde (capacidades de reagir ao risco).

Deste modo, apresentaremos neste trabalho uma análise preliminar sobre a oferta de serviços dos Centros de Saúde, o perfil sociodemográfico dos grupos populacionais residentes nas áreas de atendimento dos centros de saúde. Cruzando estas informações, procuramos ter indícios se a oferta de serviços pode ser impactada pelo fato dos Centros de Saúde localizarem-se nas áreas mais pobres e localizarem-segregadas do município.

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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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Doutoranda em Demografia, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/Núcleo de Estudos de População (NEPO).

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Introdução

O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre a relação entre vulnerabilidades sociodemográficas e a oferta dos serviços públicos de saúde básica, a partir de um quadro teórico baseado nos conceitos de risco, vulnerabilidade, ativos e estrutura de oportunidades. Estes conceitos são recentes e ainda estão em fase de construção. Conforme sinaliza BILAC (2006)

nenhuma destas noções tem significado unívoco, perfeitamente estabelecido. Ao contrário, foram desenvolvidos no interior de teorias diversas, apoiadas em diferentes percepções do mundo social e, portanto, com objetivos analíticos distintos e muitas vezes irredutíveis uns aos outros, razão pela qual se torna necessário esclarecer com qual concepção se dialoga (BILAC, 2006, p.51).

Desta forma, apresenta-se como um desafio adicional a esta pesquisa dialogar com uma produção intelectual onde os conceitos não estão perfeitamente estabelecidos e a produção intelectual que busca refletir sobre diferenciais qualitativos de acesso a políticas sociais no espaço intra-urbano é bastante contemporânea.

A problemática desta pesquisa também está diretamente envolvida com a compreensão da atuação do Estado, supondo que suas diferentes formas de atuação (ou parte de suas burocracias) podem resultar em desigualdades no acesso aos serviços de saúde, contribuindo para potencializar os riscos de morbimortalidade nos diferentes grupos populacionais.

Deste modo, partimos da hipótese de que o desempenho da política de saúde pode ser diferenciado segundo sua implementação nos diferentes locais da cidade. Esta tese se aproxima das linhas de estudo propostas por VILLAÇA (2000), CALDEIRA (2000) e TORRES (2005a), as quais se preocupam em verificar os efeitos do espaço sobre o social tanto pela separação dos grupos sociais no espaço como pelas conseqüências deste fato nas políticas sociais.

Nossa investigação preocupa-se em entender como as populações que vivem em áreas segregadas e pobres das cidades podem correr riscos diferenciados de adoecer ou morrer. É sabido que as populações residentes nestas áreas, em geral têm piores condições de vida, como falta de infra-estrutura de saneamento e condições inadequadas de moradia; deste modo, estão mais expostas ao risco de adoecer ou morrer. Mas acreditamos que, além disso, o fato destas áreas apresentarem este acúmulo de carências pode interferir na oferta dos serviços básicos de saúde pública, talvez pela ausência ou dificuldade de se fixar profissionais nestes locais, talvez pela “falta de voz política” destes grupos para fazer ouvir suas reivindicações.

Em síntese, este trabalho tem por objetivo principal identificar, para a cidade de Campinas, a localização de alguns grupos populacionais mais expostos aos riscos de sofrerem os efeitos de morbimortalidade. Busca-se para tanto, relacionar as características sociodemográficas dos grupos populacionais (escolaridade, idade, sexo, renda) com seu contexto espacial, a fim de verificar não apenas suas maiores probabilidades de adoecer/morrer (riscos), mas também suas oportunidades de acesso aos serviços de saúde (capacidades de reagir ao risco).

Para a verificação empírica destas variações nos riscos e nas capacidades de reagir ao risco, analisaremos a oferta dos serviços básicos de saúde no município de Campinas, feita pelo atendimento nos centros de saúde. Investigaremos suas possíveis desigualdades de oferta, tanto pelo aspecto da inexistência do serviço como por diferenciais de desempenho dos serviços em alguns locais da cidade. Considerando-se que os Centros de Saúde (CS) já apresentam uma rede bastante capilarizada pela cidade3, interessa-nos agora verificar os possíveis diferenciais de desempenho destes serviços. Os locais para verificação empírica serão escolhidos, procurando separar os CS localizados em áreas ocupadas por populações de diferentes estratos socioeconômicos. Como resultado, selecionaremos os CS nas áreas onde os níveis socioeconômicos da população são mais elevados (maior renda, escolaridade, etc) e nas áreas com piores níveis socioeconômicos.

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Para cada uma destas áreas faremos uma rápida caracterização dos CS, segundo sua capacidade de atendimento. Também será serão analisadas algumas características sociodemográficas dos grupos populacionais residentes nas áreas de atendimento dos CS. Cruzando estas informações, procuramos ter indícios se, nas áreas mais pobres e segregadas do município, o desempenho dos serviços de saúde fica comprometido.

1. Riscos, Vulnerabilidade, Ativos e Estrutura de Oportunidades

Os geógrafos no contexto dos estudos sobre risco foram os primeiros a trazer a vulnerabilidade para o debate ambiental. “O interesse dos geógrafos e dos demógrafos tem confluído, principalmente, com preocupações mais recentes destes últimos com populações em situações de risco. Ambos passam a ocupar-se de estudos sobre enchentes e deslizamentos, entre outras situações em que o ambiente, conjugado a fatores socioeconômicos, expõe as populações a riscos, sobretudo nas cidades” (MARANDOLA JR e HOGAN, 2005, p.31).

Na demografia, a noção de risco tradicionalmente é vista como a probabilidade de ocorrer um evento da dinâmica demográfica (fecundidade, migração e mortalidade). No campo específico da saúde muitos estudos voltam-se para os riscos de morte ou de contrair uma doença. Estudos recentes sobre a Aids têm procurado ampliar as discussões para ultrapassar a dimensão comportamental do risco, incorporando o contexto social (AYRES et al, 1999; BARBOSA, 2003). Assim, procura-se investigar os riscos de morbimortalidade, segundo os diferentes grupos populacionais e sua maior ou menor chance de se proteger do problema. São consideradas as “diferentes chances que cada indivíduo ou grupo populacional particular tem de se contaminar, dado o conjunto formado por certas características individuais e sociais de cotidiano, julgadas relevantes para a maior exposição ou menor chance de proteção diante do problema” (AYRES et al, 1999, p.65).

Ressalta-se, nesta abordagem, a importância de verificar a capacidade do indivíduo de se proteger diante da materialização do risco. Assim, no campo da epidemiologia aliada à demografia, um avanço na noção de risco, enquanto medida objetiva, quantitativa e comportamental se dá pela incorporação da

biface vulnerabilidade – empowement como duas faces do mesmo processo, que interagem na equação do risco e da saúde. Outro ponto fundamental é a ênfase nos processos coletivos, sociais e demográficos, e na face política da doença e do risco, influenciando a capacidade das pessoas e grupos de se protegerem e/ou se tratarem. No entanto, a conceituação de vulnerabilidade ainda continua em construção, amplamente utilizada embora pouco precisada na maior parte desses estudos (MARANDOLA JR e HOGAN, 2005, p.38).

Portanto, resta ainda o desafio de elaborar o conceito de vulnerabilidade de modo mais preciso. As conceituações de vulnerabilidade são diversas e “as Ciências Sociais tomaram de empréstimo das Ciências Ambientais a noção de vulnerabilidade para designar a maior ou menor capacidade de enfrentamento dos riscos sociais por parte de indivíduos e de grupos” (BILAC, 2006, p.53).

Como as realidades tornam-se cada vez mais complexas, os cientistas buscam novos conceitos para tentar explicar a realidade, sendo que a vulnerabilidade adquire um lugar de destaque no pensamento acadêmico. Configura-se, assim, uma multidisciplinariedade do conceito de vulnerabilidade. Pode-se dizer que a vulnerabilidade é uma conseqüência da situação de risco e que, elementos como violência, narcotráfico, desigualdade social, segregação e exclusão trazem as questões do risco e da vulnerabilidade para o centro da discussão (HOGAN e MARANDOLA JR, 2006, p.25).

No cenário latino-americano, a Comisión Económica para América Latina y el Caribe (Cepal) têm promovido discussões e trabalhos embasados na leitura de vantagens (ativos) e desvantagens (falta de ativos) sociais para se avaliar a pobreza. Neste enfoque de ativos, deriva-se o conceito de vulnerabilidade social e sua correlata vulnerabilidade sociodemográfica.

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No enfoque teórico da vulnerabilidade proposto por KAZTMAN a vulnerabilidade ante a pobreza ou a exclusão social refere-se as “situações que surgem quando as configurações de recursos que controlam e podem movimentar os domicílios não são suficientes para aproveitar as estruturas de oportunidades de acesso ao bem-estar” (KAZTMAN, 2006, p. 71).

Para KAZTMAN (1999) os recursos de um domicílio são todos os bens, tangíveis e intangíveis, que este possui. Os ativos são um subconjunto dos recursos e sua mobilização permite o aproveitamento das estruturas de oportunidades, seja para elevar o nível de bem estar ou para mantê-lo diante de ameaças externas. Os ativos são compostos por:

• capital físico: bens materiais e renda (baseado em direitos);

• capital humano: trabalho, educação e saúde (baseado nas pessoas);

• capital social: rede de relações baseadas na confiança e na solidariedade, onde circulam recursos e informação (baseado em relações);

A forma de se avaliar a pobreza por meio de ativos foi desenvolvida no trabalho seminal de MOSER (1998), o qual se contrapõe aos estudos cujo enfoque da pobreza se faz apenas pelo recorte da falta de renda monetária, ou seja, a pobreza é mensurada estritamente por medidas fixas como a linha de pobreza.

Este enfoque voltado para os ativos procura olhar o que os pobres têm ao invés do que lhes fala, sendo que, o olhar do pesquisador volta-se para as estratégias de soluções encontradas pela população alvo do estudo. Porém, é preciso lembrar das dificuldades existentes em se encontrar um “rigth mix, na gestão dos ativos que realmente resolva determinada vulnerabilidade sem propiciar o surgimento de novas” (BILAC, 2006, p.63).

O diferencial de KAZTMAN (1999) em relação à proposta de MOSER (1998) foi

vincular a existência de ativos nos domicílios e sua capacidade de movimentá-los às lógicas de produção e distribuição de ativos em cada sociedade. Reconhecemos o passo fundamental dado por Moser ao abrir a caixa preta dos domicílios e perguntar-se a respeito dos recursos e das estratégias que utilizam para mobilizá-los diante de crises e adversidades. O que propusémos em nosso enfoque é ampliar a pergunta, interrogando-nos sobre como construir sociedades que minimizem a ocorrência dessa situação de risco, para que estas afetem o menor número possível de pessoas e de famílias. Para responder a esta questão, devemos entender as lógicas de produção e distribuição destes ativos em distintas sociedades, isto é, perguntar pela natureza e pela dinâmica das estruturas de oportunidades que controlam as ordens institucionais básicas da sociedade, isto é, o mercado, o Estado e a comunidade (KAZTMAN, 2006, p. 73).

O trecho acima aponta um aspecto importante desta proposta, ou seja, a introdução de um novo componente: a estrutura de oportunidades. A estrutura de oportunidades pode ser definida como

probabilidade de acesso a bens, serviços e ao desempenho de atividades. Estas oportunidades incidem sobre o bem-estar dos domicílios, seja porque permitem ou facilitam aos membros do domicilio o uso de seus próprios recursos ou porque os provê de recursos novos. O termo estrutura alude ao fato de que as rotas de bem estar estão estreitamente vinculadas entre si, de modo, que o acesso a determinados bens, serviços ou atividades provêem recursos que facilitam por sua vez o acesso a outras oportunidades (KAZTMAN, 1999, p. 9).

As estruturas de oportunidades são controladas pelo: mercado, Estado e a comunidade e suas funções são classificadas entre àquelas que fornecem ativos ou regeneram aqueles esgotados (como por exemplo, a provisão de oportunidades de educação e saúdes gratuitas pelo Estado) e àquelas que facilitam um uso mais eficiente dos recursos já disponíveis nos domicílios (como por exemplo, serviços de creche) (KAZTMAN, 2006, p. 73).

Assim, acreditamos que é preciso compreender a dinâmica destas estruturas de oportunidades para se fazer uma avaliação dos riscos sociais e que, nesta compreensão deve ser levada em conta a dimensão espacial em suas diferentes escalas.

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A mesma lógica de ação de um Estado pode resultar em diferentes desempenhos dos serviços públicos de saúde. Estas diferenças qualitativas não podem ser classificadas como desproteção do Estado no plano macro das políticas quando as mesmas são adotadas sob princípios universalistas (como no caso brasileiro de saúde). Entretanto, talvez seja possível verificar que a desproteção existe em espaços circunscritos.

Logo, a estrutura de oportunidades pode variar não somente pela origem diferenciada de seus agentes controladores (Estado, mercado, comunidade), mas também pela sua localização. Ou seja, uma mesma estrutura de oportunidades (serviços públicos de saúde) controladas por um mesmo agente (Estado brasileiro) pode variar segundo o local onde o serviço é ofertado (CS localizados em periferias pobres das metrópoles).

Conforme já visto, os estudos mais específicos sobre vulnerabilidade e saúde destacam a importância de se verificar o contexto social, sendo a dimensão espacial um componente importante deste contexto. Portanto, é importante identificar a relação dos grupos populacionais com os riscos de morbimortalidade, levando em conta não apenas as características sociodemográficas, mas também características do local onde habitam estes grupos populacionais. O local onde os grupos populacionais habitam é importante, pois ele sugere, além das probabilidades de adoecer em função do ambiente biofísico e das condições de infra-estrutura urbana, as possibilidades de acesso aos serviços de saúde desta população.

Vulnerabilidade e Segregação Residencial

Pode-se dizer que os grupos sociais mais vulneráveis tendem a apresentar segregação socioespacial, pois a ausência de maior heterogeneidade em seus relacionamentos contribui para precariedade e instabilidade do mercado de trabalho e carência dos serviços públicos, como educação e saúde. Este acúmulo de carências gera situações de fragilidade social, as quais, para serem mais bem apreendidas necessitam ir além de enfoques tradicionais que considerem apenas a renda para mensurar a pobreza.

Uma das formas de se verificar a fragilidade social pode ser pela ausência ou dificuldade de acesso a políticas sociais, ou segundo o enfoque de KAZTMAN (1999) acesso à estrutura de oportunidades fornecida pelo Estado. Como nesta pesquisa estudaremos alguns elementos que podem gerar desigualdades na estrutura de oportunidades (fonte de ativos) fornecida pelo Estado, interessa-nos estabelecer pontos de diálogo com outros autores que enfoquem mais especificamente a interferência da segregação residencial nas políticas sociais.

Alguns autores (VILLAÇA, 2000; MARQUES e TORRES, 2005) estudam os diferenciais socioeconômicos no espaço e, para eles, a segregação é entendida, em linhas gerais, como a separação residencial entre grupos sociais.4 Neste trabalho utilizaremos esta definição de segregação.

É sabido que, nos bairros com grande concentração de pessoas pobres, o desempenho escolar dos alunos tende a ser pior porque os jovens estudam em escolas onde o nível socioeconômico é baixo; a probabilidade de alguém conseguir um emprego formal também é menor nestes bairros, pois a proporção de pessoas com emprego formal é baixa, reduzindo assim as chances de obtê-lo através das relações sociais de vizinhança; muitas vezes soma-se a este quadro condições precárias de infra-estrutura dos domicílios e uma maior exposição à violência, ocasionando maiores riscos de agravos de saúde ou até de vida. Todos estes elementos criam uma espiral negativa dificultando as soluções sociais existentes, sobretudo pelas políticas sociais universalistas que não atuam nestas especificidades (TORRES e MARQUES, 2005).

Levando-se em conta o fato da sociedade brasileira possuir fortes desigualdades sociais, a questão da escala territorial no desenho de políticas sociais torna-se muito importante, a fim de que “situações sociais negativas não sejam diluídas em grande médias heterogêneas” (TORRES e MARQUES, 2005, p. 9). O olhar para espaços intra-urbanos, desta forma, permite-nos conhecer melhor os processos geradores as carências enfrentadas por estes locais.

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Maiores esclarecimentos sobre conceitos, métodos e medições da segregação podem ser obtidos na edição da revista Espaço & Debates, São Paulo, v.24, n.45, jan/jul 2004. Em particular nos artigos de PRETECEILLE, MARCUSE e no debate final.

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A afirmação de que o espaço pode ser visto como gerador de externalidades negativas ou positivas, as quais impactam na implementação de políticas sociais ajudará no desenvolvimento desta pesquisa.

No que diz respeito à dimensão espacial, não buscamos apenas descrever a presença de diferenciais socioeconômicos no espaço (entre grupos, atividades, etc.), mas defender a existência de uma dimensão verdadeiramente espacial nas condições de vida. Entendemos por dimensão espacial o efeito específico que os padrões de

contigüidade, vizinhança e distância causam aos indivíduos e grupos, afetando suas possibilidades de inserção em diversas esferas da sociedade. [grifos nosso]

Nossas análises indicam que indivíduos com condições sociais semelhantes, mas localizados em regiões distintas da cidade, têm acesso diferenciado a bens e serviços públicos e a elementos geradores de mobilidade social (como o emprego), assim como tendem a ser submetidos de forma diferente a agravos de diversas naturezas, dependendo das condições de segregação a que estão submetidos (TORRES; MARQUES e BICHIR, 2006, p.232).

A dimensão espacial define-se pelos efeitos resultantes da proximidade ou distância física dos grupos sociais (a segregação). Ou seja, a segregação residencial, materializada no espaço pela separação dos grupos sociais5, pode gerar interferências na produção e implementação das políticas sociais.

Deste modo, as desigualdades de acesso às políticas sociais e a separação dos grupos sociais no espaço (processos que caracterizam a segregação) se retro-alimentam, em um constante movimento de ir e vir. O espaço (materializado por meio dos grupos sociais homogêneos) pode “atuar” determinando a concretização de diferentes estruturas de oportunidades.

Outros elementos da segregação que podem interferir no acesso a políticas sociais são: a “evitação social” e a “violência”

em relação à segregação, considero que atualmente há um elemento essencial que é o processo das pessoas evitarem outras que são vistas como diferentes delas, tidos e havidos como potencialmente perigosos (...) É o processo de evitação social que cria formas de distanciamento, isolamento, que são extremamente importantes para separar ou segregar um grupo do outro, principalmente os abastados dos pobres. A questão da violência não só separa um grupo do outro como também é um elemento básico em estruturação da vida das famílias. Em pesquisa que fiz tanto no centro como na periferia, as entrevistas mostram que as pessoas procuram se situar em certos locais da cidade muito em função do trabalho, mas também em função da violência, ou, muitas vezes, para escapar dela. Existe uma migração de local de residência hoje para escapar da violência (KOWARICK, 2004, p.96-97).

O problema da violência tem desdobramentos na mobilidade da população no espaço intra-urbano. E desta forma verifica-se que a violência e mais especificamente, o medo dela interfere na vida não apenas de quem mora nas regiões com maiores índices de criminalidade, mas também aos outros moradores da cidade que temem freqüentar estes locais, seja para morar ou para trabalhar. As pessoas tentam se situar em lugares onde a violência “não esteja tão presente”.

Evidentemente que nem todos conseguem, mas muitos procuram afastar-se das áreas periféricas. E, ainda que a violência não esteja circunscrita espacialmente somente nestes locais, é sabido que nas periferias os índices de homicídios são maiores, o que contribui para potencializar este processo de “evitação social”. Este fato pode nos ajudar a explicar diferenças na oferta dos serviços de saúde, quando pensado do ponto de vista de alocação de recursos humanos.

5 È preciso ter em conta que existem graus de homogeneidade. Portanto, “há segregações e segregações, dependendo do

grau de homogeneidade (...) Nunca se deve esperar, como às vezes acontece, uma homogeneidade total, mas sim um maior ou menor grau de homogeneidade.” (VILLAÇA, p.94, in: Espaço & Debates, São Paulo, v.24, n.45, jan/jul 2004).

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Vulnerabilidade e Políticas Sociais

Na fase de implementação a política original muitas vezes é distorcida para atender interesses burocráticos que mudam os objetivos iniciais. Deste modo, as desigualdades de acesso aos serviços de saúde podem ser resultados das diferentes formas de atuação pelos agentes que são os responsáveis pela prestação de serviços. Assim, a implementação modifica as políticas tanto pela burocracia estatal que toma as decisões a respeito dos recursos destinados a um local como pelos prestadores de serviço que lidam diretamente com as pessoas (as atividades fim).

(...) as decisões dos burocratas que desempenham atividades-fim, as rotinas que eles estabelecem, os expedientes que eles criam para contornar a incerteza e as pressões, eis o que vêm a ser de fato as políticas públicas. Eu argumento que a política pública não é bem entendida se observada pelo ângulo da legislatura ou do alto nível da administração. Porque em diversos aspectos importantes ela é realmente feita nos escritórios lotados e nos encontros diários das burocracias. (...) trabalhadores, clientes e os cidadãos em geral ‘experimentam’ a burocracia que desempenha atividades-fim por meio dos conflitos que estes encontram para tornar o desempenho de suas funções mais consistente com suas próprias preferências e compromissos (LIPSKY, 1980, p.xii apud ARRETCHE, 2001, p.47)

A passagem acima destaca que o papel relevante das “burocracias-fim”6 no cumprimento adequado do desenho político. O papel das burocracias fim pode ser pensado pela ótica das dificuldades que os agentes implementadores encontram para desempenhar adequadamente suas funções, como os constrangimentos provenientes da própria ação estatal expressos por condições inadequadas de trabalho, falta de recursos materiais, ou mesmo a violência.

Outra forma se pensar o desempenho inadequadamente dos agentes implementadores diz respeito ao fato de que estes, embora conhecendo a política e tendo as condições adequadas de trabalho, resistem a implementar corretamente a política por preferências e compromissos pessoais.

Ao avaliar a implementação do Programa de Renda Mínima em Ribeirão Preto, ALONSO e GUIMARAES (1998)7, concluíram que as assistentes sociais encarregadas das seleções dos beneficiários conheciam as regras legais de seleção, concordavam com as normas estabelecidas, mas selecionavam de fato segundo critérios que lhes pareciam subjetivamente mais sensatos (ARRETCHE, 2001, p.56)

Podemos citar um outro exemplo desta distorção da política no momento de sua implementação. Em estudo referente aos direitos reprodutivos realizado por BERQUO e CAVENAGHI (2003)8 cujo objetivo era analisar os impactos e as possíveis mudanças que a implementação da nova legislação sobre planejamento familiar teve nas práticas reprodutivas, constatou-se que por diferentes motivos, a lei mudou pouco a prática usual da esterilização e ainda não satisfaz os direitos reprodutivos de mulheres e homens no Brasil.

As dificuldades encontradas pela população para conseguir fazer cumprir seu direito à esterilização gratuita pelo SUS foram assim resumidas

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Seguimos a terminologia adotada por ARRETCHE (2001). Burocracias-fim refere-se à tradução do termo Street-level

bureaucracy. TORRES (2006, p.246) usa a expressão “burocracias do nível de rua”, porém trata-se do mesmo termo,

baseado na obra de LIPSKY (1980).

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ALONSO, Analucia F.; GUIMARAES, Erico. Avaliação do Programa de Renda Mínima de Ribeirao Preto. Araraquara, 1998 (trabalho final de estágio de conclusão de curso de Administração Pública).

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O trabalho foi baseado em uma pesquisa follow-up, aplicada com uma amostra de 159 indivíduos durante seis meses e em seis diferentes capitais de estado: Palmas, Recife, Cuiabá, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba. Em cada capital foram acompanhados 15 mulheres e 15 homens demandantes de esterilização em um estabelecimento público de saúde ou conveniado com o SUS.

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de fato, a grande maioria encontrou dificuldades no SUS, proporção maior para as mulheres (54,8%) do que para os homens (41,7%). As dificuldades alegadas pelas mulheres incluem: difícil acesso para solicitação, ausência de médicos, má vontade, burocracia do SUS acarreta longo tempo de espera, SUS não respeita critério de idade ou número de filhos vivos, ser solteira, não ter quem assine, médico alega arrependimento, médico do SUS cobra extra pela cirurgia e médico não recomenda por motivo “médico” (pressão alta). Sendo que, as duas primeiras citações respondem por 76,4% das referidas dificuldades. (...) Os homens que não conseguiram a vasectomia pelo SUS, assim expressaram seus motivos: burocracias do SUS, longas filas etc.; SUS não respeita critério de idade ou número de filhos vivos; médico alega arrependimento; SUS não faz de graça; médico não recomenda por problemas de saúde (colesterol elevado) e cirurgia foi suspensa no período. As duas primeiras queixas respondem por 80,0% das impossibilidades do atendimento pelo SUS (BERQUO e CAVENAGHI, 2003, p. S448)

O trecho destacado deixa bem claro o quanto a “vontade dos agentes”, não obstante outras dificuldades burocráticas de funcionamento do sistema como a “ausência de médicos” e “burocracia do SUS acarreta longo tempo de espera”, determina o acesso ou não à esterilização. Ressaltam-se os seguintes elementos citados pelas mulheres: “má vontade”, “ser solteira”, “médico alega arrependimento”, “médico do SUS cobra extra pela cirurgia” e “médico não recomenda por motivo ‘médico’ (pressão alta)” são critérios completamente subjetivos do médico.

Assim,

a implementação é, de fato, uma cadeia de relações entre formuladores e implementadores, e entre implementadores situados em diferentes posições na máquina governamental. Isto implica que a maior proximidade entre as intenções do formulador e a ação dos implementadores dependerá do sucesso do primeiro em obter adesão dos agentes implementadores aos objetivos e à metodologia de operação de um programa (ARRETCHE, 2001, p.49)

A concentração da pobreza urbana pode interferir nas escolhas e formas de atuar dos agentes responsáveis “de fato” pela implementação de políticas. Isto parece ser empiricamente observável, no caso do atendimento básico à saúde, pelo fato de que as Secretarias Municipais de Saúde9 tem dificuldade de manter funcionários nas áreas mais periféricas da cidade e, às vezes, nem com maiores benefícios salariais para estes trabalhadores os quadros de funcionários conseguem ser preenchidos; muitas vezes só são preenchidos temporariamente, o que pode resultar em impactos na própria qualidade do serviço oferecido. Para este trabalho, buscamos apresentar alguns elementos de caracterização da oferta de serviços dos CS que nos permitam inferir, ainda que preliminarmente, sobre os diferenciais de oferta de serviços dos CS em função de sua localização espacial no tecido urbano.

2. Elementos sobre a Oferta dos Serviços Básicos de Saúde em Campinas

Atualmente, em Campinas há 49 centros de saúde, os quais têm território e população bem definidos. Segundo a Secretaria Municipal de Campinas (SMSC), dimensiona-se 1 CS para aproximadamente cada 20.000 habitantes, com equipes multiprofissionais envolvendo médicos nas especialidades básicas (clínicos, pediatras, gineco-obstetras), enfermeiros (com responsabilidades voltadas para as áreas da mulher, criança e adultos), dentistas, auxiliares de enfermagem, auxiliares de consultório dentário e profissionais de apoio podem completar essas equipes.

Em linhas gerais, as áreas Sul e Sudoeste de Campinas caracterizam-se pelas piores condições socioeconômicas e de maior precariedade de infra-estrutura sanitária da cidade. Estas regiões também

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Segundo informações obtidas na Secretarias Municipais de Saúde de Campinas e com os Coordenadores dos Centros de Saúde.

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apresentam maior densidade populacional, maior concentração de crianças e de jovens, além de menor escolaridade da população (AZEVEDO, 2005).

Em relação à localização dos CS em Campinas e suas respectivas áreas de cobertura10, uma rápida leitura do Mapa 1 indica que os CS apresentam uma boa distribuição geográfica na cidade, cobrindo todas as regiões da cidade. A menor presença dos CS nas áreas de mais alta renda da cidade não pode ser atribuída à ausência da ação do Estado nestes espaços, mas sim à baixa demanda por estes serviços destes estratos socioeconômicos.

Destacamos aqui o fato de que no Brasil existe um distanciamento entre o Sistema Único de Saúde (SUS) real, o qual é segmentado e o SUS constitucional que é universal. Alguns autores falam em universalização residual dado que o sistema universal atende, predominantemente, aos estratos mais pobres da população (FAVARET FILHO e OLIVEIRA, 1990). Uma conseqüência perversa desta segmentação do SUS é que ela amplia as iniqüidades. Algumas razões para isto são:

• pobres, em geral, não conseguem se posicionar na arena política, resultando para eles piores serviços;

• existe uma mobilidade unilateral da demanda, ou seja, beneficiários da saúde suplementar usam cestas de serviços de maior densidade tecnológica do SUS, logo estes serviços tendem a apresentar maior qualidade, temos o exemplo exitoso do Programa de combate à AIDS/HIV;

Entretanto, os objetivos deste trabalho não contemplam uma discussão mais aprofundada a respeito das iniqüidades e particularidades do SUS.

Assim, voltando à análise da distribuição dos CS em Campinas, observamos pelo Mapa 1 que há uma boa distribuição dos CS, mesmo nas áreas sul e sudoeste da cidade caracterizadas pelas piores condições de vida. Fazemos aqui uma distinção para efeitos didáticos, o distrito de saúde11 Noroeste (classificação da SMSC) corresponde às áreas sul e sudoeste (a partir do centro de Campinas), as quais apresentam piores condições sociais, conforme já mostrado em outro trabalho (AZEVEDO, 2005). Como neste trabalho estaremos utilizando as definições da SMSC, daqui por diante faremos referência ao distrito noroeste como integrante do grupo de maiores carências sociais.

A análise do Mapa 1 revela que são justamente os Distritos de Saúde Sul/Sudoeste que concentram o maior número de CS, ou seja 24, sendo 12 para cada distrito. Os Distritos Leste e Noroeste apresentam 8 CS cada e o Norte apresenta 9. Assim, a distribuição dos CS se faz presente mesmo nas áreas mais periféricas e pobres da cidade. Todavia, não desconsideramos a grande importância de se fazer uma avaliação sobre a existência de diferenciais qualitativos nos serviços oferecidos por estes equipamentos. Mais adiante mostraremos alguns dados que refletem esta preocupação.

Outra característica dos Distritos Sul/Sudoeste/Noroeste e que eles concentram as maiores favelas da cidade, segundo a classificação do Censo do Demográfico do IBGE de 2000, onde as favelas são classificadas como aglomerados subnormais nos setores censitários.12

10

Destaca-se o excelente trabalho da Secretaria Municipal de Saúde Campinas (SMSC) na organização, coleta e disseminação de dados, havendo mesmo uma Coordenadoria de Informação e Informática, voltada para o georreferenciamento dos dados. Para maiores informações sobre os dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de

Saúde de Campinas consultar http://antigo.campinas.sp.gov.br/saude/.

11

Divisão administrativa da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Cada Distrito de Saúde é composto por um grupo de Centros de Saúde (CS).

12

Setor censitário corresponde a menor unidade espacial de pesquisa que o IBGE utiliza para operacionalizar o Censo Demográfico (IBGE 2002).

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Mapa 1 – Distritos e áreas de cobertura dos Centros de Saúde, Campinas, 2006 4 kilometers 2 0 PAULÍNIA MONTE MOR VALINHOS SUMARÉ HORTOLÂNDIA PEDREIRA INDAIATUBA JAGUARIÚNA VINHEDO MORUNGABA NOVA ODESSA ITUPEVA RO D SA N TO S DU MONT RO D S ANT OS DU MON T ROD SA NTOS DU MO NT RO D SA N TO S DU MONT ROD SA NTOS DU MO NT RO D SA N TO S DU MONT RO D S ANT OS DU MON T ROD SA NTOS DU MO N T RO D S ANT OS DU MON T RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA RO D ANH ANGU ERA R O D BAN DE IR ANTES R O D B A N DE IR AN T ES RO D BAN DE IR AN T ES R O D B AN D E IR A NTES R O D B AN D E IR A N T E S R O D B A N D E IR A N TES R O D B A NDE IRAN TES R O D B A N D E IRAN TES R OD B ANDE IR A N T E S ROD. D PE DRO ROD. D PE DRO ROD. D PE DRO R OD. D PE DRO R OD. ROD. D PE DROD PE DRO

ROD. D PE DRO ROD. D PE DRO R OD. D PE DRO V Uniao S Jose 31 de Marco J Egideo Sousas S Quirino Conceicao Paranapanema O Maia Esmeraldina S Monica C Silva Centro Anchieta CS S Barbara B Vista Aurelia F Lima S Odila S Vicente Ipe Figueira C Moura V Rica Florence Ipaussurama Integracao Perseu P Aquino T Neves Capivari S Lucia Aeroporto S Cristovao V Alegre Dic I Itatinga U Bairros Itajai Valenca Floresta Eulina B Geraldo T aquaral S Marcos C Raposo Amaral DIC III S Antonio Distritos de Sáude (número de CS) Leste (8) Noroeste (8) Norte (9) Sudoeste (12) Sul (12) Legenda

favelas (segundo Censo IBGE) Rodovias

Área de cobertura do Centro de Saúde Centro de Saúde (CS)

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, Censo Demográfico FIBGE (2000)

%

A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SMSC) com base em seus bancos de dados formulou um índice de Condição de Vida (ICS, 2001) como proposta para identificar os diferentes níveis de qualidade de vida nas áreas de abrangência dos CS. Foram criados 3 grupos de classificação com base nos seguintes indicadores sociodemográficos: moradores em sub-habitação, chefes de família com pouca escolaridade, taxas de crescimento anual, proporção de mães com menos de 20 anos, coeficiente médio de mortalidade infantil, coeficiente médio de mortalidade por homicídio, incidência média de desnutrição em menores de 5 anos e incidência média de tuberculose.

A maior parte dos CS do Distrito Sudoeste e Noroeste estão classificados no pior grupo. No Distrito Norte nenhum CS está no pior grupo e no Leste 60% dos CS concentram-se no grupo de melhor ICV e apenas um deles está incluído no pior grupo. Os quatro CS empatados com piores ICV são: Valença, São Vicente, Santa Lucia e Orosimbo Maia. Já os três melhores ICV são Taquaral, Aurélia e Faria Lima. Em relação à mortalidade, o gráfico1 apresenta sua distribuição por causas e Distritos de saúde:

A leitura do gráfico 1 revela que o distrito sudoeste apresenta as maiores proporções de mortes por causas externas, indicando a violência como uma característica a somar-se na precariedade das condições de vida da população ali residente. Segundo o Boletim de Mortalidade (2001, n.30) da SMSC, onde são sintetizadas as tendências de mortalidade por distritos de saúde da última década, o distrito Leste apresenta os mais elevados percentuais de mortalidade por doenças do aparelho circulatório e por neoplasias e o menor por causas externas. Estes dados estão de acordo com o fato deste distrito apresentar uma população mais envelhecida.

O Distrito Sudoeste contrasta com este perfil apresentando o maior percentual de óbitos por causas externas do município, atingindo 25%. Neste distrito, 1 em cada 4 óbitos é provocado por violência.

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Gráfico 1 - Principais grupos de causas de óbito segundo distritos de saúde, Campinas 2000

A análise das tendências de mortalidade por Distritos de Saúde deve considerar o papel significativo da estrutura etária nas causas de morte e suas heterogeneidades no espaço intra-urbano (Boletim de Mortalidade, 2001). Observa-se que os em investimentos em políticas de saúde materno-infantis tendem a ser reduzidos no Distrito Leste em decorrência da estrutura etária mais envelhecida, enquanto os investimentos para a saúde dos idosos tende a crescer.

Já para os Distritos Sudoeste e Sul, deve-se manter a priorização de investimentos em saúde materno-infantil, o que já vem dando bons resultados, como mostrados pela queda da mortalidade infantil (Boletim de Mortalidade, 2001), mas também deve-se dar atenção a políticas sociais intersetoriais para combater o problema da violência.

Este trabalho busca verificar como esta violência também pode impactar na oferta dos serviços de saúde, apoiando-se na idéia de que a localização do CS pode afetar sua capacidade de atendimento, considerando-se que àqueles CS localizados em áreas mais pobres e violentas da cidade podem enfrentar maiores dificuldades na manutenção de seu quadro de funcionários. Por exemplo, esta alta rotatividade de médicos pode ter impactos no atendimento oferecido, dificultando o estabelecimento de vínculos de confiança na relação médico/paciente.

O Mapa 2, apresenta a média de horas trabalhadas entre 2004 e 2006, por profissionais de nível superior nos CS. Sua leitura revela que, apesar de 2 CS (São Jose e Florence) localizados nas áreas mais carentes da cidade estarem no grupo com maior quantidade de horas, as áreas de abrangência dos Distritos Norte e Leste são as que apresentam a maior parte de seus CS no grupo com maior quantidade de horas. Embora, esta informação não permita uma classificação de modo contundente, onde das áreas com menor quantidade de horas trabalhadas seriam sempre as de piores condições sociais, dado que ocorre uma mistura pela cidade; é possível fazer aproximações iniciais. Os CS São Quirino, Costa e Silva, Taquaral e Centro estão nas áreas mais ricas da cidade e também estão entre os que apresentam maiores quantidades de horas trabalhadas.

É preciso estudar com mais cuidado as heterogeneidades intra-urbanas, pois mesmo que os Distritos Sul e Sudoeste de maneira geral apresentem as piores condições socioeconômicas, há diferenciais dentro deles, os quais talvez expliquem estes CS no grupo com maior quantidade de horas trabalhadas. Outra possibilidade é que isto se explique por características específicas deste CS, como projetos de parceria com universidades. Neste momento, ainda não dispomos destas informações, mas

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estamos em fase de execução de pesquisas qualitativas nos CS para melhor entender estes diferenciais.

Também se deve considerar que a SMSC oferece salários diferenciados para os profissionais que trabalham nos CS localizados nas áreas de piores condições sociais. Este fato parece ter ajudado na alocação de médicos, sobretudo os recém formados.13 Entretanto, estes médicos tem contrato temporário e, justamente por isso, aceitam trabalhar nestas áreas; são recém formados, buscando suas primeiras colocações profissionais, sendo que o diferencial salarial é bem atrativo e sabem que será por pouco tempo que ficarão neste CS. Assim, apesar do atendimento, há dificuldades para o estabelecimento de vínculos mais duradouros entre médico/paciente, podendo vir a comprometer os tratamentos médicos.

O mais adequado seria que as horas trabalhadas se distribuíssem igualmente pelos dias da semana, para que não houvesse períodos descobertos. Foi relatado pelos coordenadores do CS como dificuldade de atendimento para o CS, o fato dos médicos muitas vezes concentrarem sua carga horária em apenas um ou dois dias da semana, especialmente nos CS de mais difícil acesso, o que sobrecarregaria o profissional e deixaria os demais dias descobertos.

A Tabela 1 apresenta a concentração das horas trabalhadas por médicos ou profissionais de nível superior por dia da semana. De modo geral, a distribuição é bem parecida entre os CS, havendo em todos eles uma menor carga horária na quinta-feira e sexta-feira. Dos CS que apresentam a maior redução na carga horária da nestes dias, com exceção do CS F. Lima, todos os outros se localizam nas áreas mais distante do centro da cidade e com piores condições sociais.

13

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Mapa 2 – Horas trabalhadas por profissionais de saúde de nível superior, Campinas, 2004-2006

Fonte: Secretaria Municipal de Campinas (Sistema de Informações da Produção Ambulatorial), 2004, 2005 e 2006. Elaboração própria

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Tabela 1 – Distribuição semanal das horas trabalhadas por médicos nos Centros de Saúde, Campinas, 2004 - 2006

Codigo Centros de Saúde (CS) % SEG %TER % QUAR %QUI %SEX % Total

(seg a sex) 1 CS 31 de Marco 23 23 22 16 17 100 2 CS Aeroporto 24 23 20 15 17 100 3 CS Anchieta 20 20 20 20 20 100 4 CS Aurelia 23 23 21 17 16 100 5 CS B Geraldo 21 21 20 18 19 100 6 CS B Vista 19 19 25 17 19 100 7 CS C Moura 21 20 21 17 21 100 8 CS Raposo Amaral - - - -9 CS C Silva 24 21 21 17 16 100 10 CS Capivari 22 21 21 16 20 100 11 CS Centro 25 21 20 18 16 100 12 CS Conceicao 19 23 23 15 20 100 13 CS DIC I 21 21 21 20 17 100 14 CS DIC III 23 23 20 18 16 100 15 CS Esmeraldina 22 22 21 18 17 100 16 CS Eulina 22 23 22 17 16 100 17 CS F Lima 24 22 21 14 19 100 18 CS Figueira 19 23 22 18 18 100 19 CS Florence 21 25 23 15 16 100 20 CS Floresta 22 21 23 19 15 100 21 CS Integracao 22 21 24 17 16 100 22 CS Ipaussurama 21 19 21 18 21 100 23 CS Ipe 20 23 21 19 18 100 24 CS Itajai 23 23 24 16 14 100 25 CS Itatinga 21 22 25 15 17 100 26 CS J Egideo 19 22 22 19 18 100 27 CS O Maia 23 21 23 15 18 100 28 CS P Aquino 22 22 23 15 18 100 29 CS Paranapanema 23 24 22 16 16 100 30 CS Perseu 21 22 23 16 18 100 31 CS S Antonio 22 23 23 14 19 100 32 CS S Jose 20 21 20 21 18 100 33 CS S Lucia 21 22 25 16 15 100 34 CS S Monica 24 19 23 16 18 100 35 CS S Quirino 23 22 23 15 18 100 36 CS S Vicente 20 25 16 21 18 100 37 CS S Barbara 21 23 22 17 17 100 38 CS S Cristovao 22 24 22 13 20 100 39 CS S Domingos 18 16 18 13 35 100 40 CS S Marcos 22 21 22 22 13 100 41 CS Sousas 19 25 19 19 17 100 42 CS S Odila 21 22 23 15 19 100 43 CS T Neves 22 20 24 15 18 100 44 CS Taquaral 15 24 22 21 19 100 45 CS U Bairros 22 21 21 16 19 100 46 CS V Alegre 16 22 24 24 15 100 47 CS V Rica 20 21 23 19 18 100 48 CS V Uniao/CAIC 24 22 22 16 16 100 49 CS Valenca 22 19 21 20 18 100

Distribuição das horas trabalhadas por Médicos

Fonte: Secretaria Municipal de Campinas (Sistema de Informações da Produção Ambulatorial), 2004, 2005 e 2006. Elaboração própria.

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A Tabela 2 apresenta o percentual de profissionais por atividade em cada CS. Observa-se que os CS com maior participação de médicos entre seus profissionais, com exceção do CS São José, estão nas áreas mais centrais da cidade e com melhores condições socioeconômicas.

Tabela 2 – Distribuição dos profissionais de saúde por atividade e Centros de Saúde, Campinas, julho/ 2006

Codigo Centros de Saúde (CS) % Medicos e Prof Nivel Superior* % Agentes Saude % Enfermagem % Profissionais

Odontologia % Outros 1 CS 31 de Marco 15 20 45 10 10 2 CS Aeroporto 17 29 38 10 6 3 CS Anchieta 25 22 40 7 7 4 CS Aurelia 26 11 50 7 7 5 CS B Geraldo 19 21 38 9 13 6 CS B Vista 23 23 39 0 16 7 CS C Moura 17 27 40 7 10 8 CS Raposo Amaral - - - - -9 CS C Silva 24 20 37 7 11 10 CS Capivari 17 30 40 6 6 11 CS Centro 16 22 38 14 10 12 CS Conceicao 20 24 35 11 11 13 CS DIC I 22 30 31 9 7 14 CS DIC III 17 26 34 9 14 15 CS Esmeraldina 10 19 55 10 6 16 CS Eulina 5 20 60 15 0 17 CS F Lima 14 21 25 10 30 18 CS Figueira 21 19 40 12 9 19 CS Florence 19 22 34 12 14 20 CS Floresta 13 27 44 7 9 21 CS Integracao 26 15 33 9 17 22 CS Ipaussurama 20 22 42 6 10 23 CS Ipe 22 14 41 10 14 24 CS Itajai 10 28 38 7 17 25 CS Itatinga 13 31 38 13 6 26 CS J Egideo 21 21 37 11 11 27 CS O Maia 16 26 42 9 7 28 CS P Aquino 18 18 45 8 10 29 CS Paranapanema 23 23 36 6 11 30 CS Perseu 12 27 37 8 16 31 CS S Antonio - - - - -32 CS S Jose 24 22 34 8 12 33 CS S Lucia 13 28 43 9 6 34 CS S Monica 22 22 43 8 5 35 CS S Quirino 19 28 33 8 13 36 CS S Vicente 18 24 39 11 8 37 CS S Barbara 23 19 33 8 17 38 CS S Cristovao 12 29 43 10 7 39 CS S Domingos 15 36 32 6 11 40 CS S Marcos 18 25 37 6 14 41 CS Sousas 17 28 36 11 9 42 CS S Odila 15 18 46 3 18 43 CS T Neves 24 24 33 8 10 44 CS Taquaral 17 28 40 7 9 45 CS U Bairros 17 31 35 10 6 46 CS V Alegre 19 27 40 8 6 47 CS V Rica 16 19 44 9 12 48 CS V Uniao/CAIC 5 25 40 15 15 49 CS Valenca 19 25 44 4 8

Fonte: Secretaria Municipal de Campinas (Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde), julho/ 2006. Elaboração própria.

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A Tabela 3 apresenta alguns indicadores que elaboramos para tentar inferir sobre a coincidência ou não das áreas mais carentes também apresentarem piores ofertas de serviços. Em rosa destacamos os valores mais baixos dentro da coluna e em verde os mais altos. Sua leitura revela uma heterogeneidade da oferta de serviços de Saúde e nem sempre as áreas que apresentam piores condições socioeconômicas são aquelas com valores baixos resultados nos indicadores.

Assim, os CS do Centro, Joaquim Egídio e São Domingos apresentam melhores resultados nos Indicadores de Consultas por habitante ao ano, Profissionais de Saúde por habitante e Consultórios por habitante. Os CS de Joaquim Egidio e São Domingos atendem predominantemente uma população rural, estão bem afastados do centro da cidade, mas enquanto o primeiro está num local de mais alta renda o segundo encontra-se em situação oposta. Por outro lado é justamente no CS de Joaquim Egidio que existe um maior percentual de população coberta pelo SUS (78%) contra 22% no CS de São Domingos, o que pode ter favorecido este último nos resultados dos indicadores, dado que sua população dependente SUS estaria subestimada.

Como visto na Tabela 1, o CS São Domingos apresenta grande concentração das horas trabalhadas pelos médicos em apenas um dia da semana: a sexta-feira.E, conforme mostrado na Tabela 2, está no grupo das mais baixas participações de profissionais de odontologia e enfermagem e ao mesmo tempo maior participação de Agentes de Saúde, sugerindo que os serviços deste CS se dão predominantemente pela ação dos agentes de Saúde.

Entretanto, o gradiente de variação da Tabela 3 entre os CS é bastante amplo e não nos permite, neste momento, maiores explicações sobre sua variação, dado que elas não apresentam uma associação direta entre áreas mais segregadas e de piores condições sociais com piores indicadores de oferta de serviços. Estamos investigando se há outras maneiras de construir os indicadores e fazendo pesquisas qualitativas nestes CS para identificar as possíveis causas de seus melhores ou piores resultados.

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Tabela 3 – População dependente SUS por Centros de Saúde e indicadores de atendimento, Campinas, julho/ 2006

Centro de Saúde (CS) Projeção de População 2007 Regular-mente Espora-dicamen te

Nao usa Total

% População Cadastrada SUS Consultas/ Pop usa Reg. SUS Profis.Saúde /Pop usa Reg. SUS Consultórios /Pop usa Reg. SUS 1 CS 31 de Marco 7.288 1.991 1.228 661 3.880 54,0 3,3 9,0 3,30 2 CS Aeroporto 15.409 3.985 4.003 960 8.947 59,2 3,0 11,3 3,03 3 CS Anchieta 24.361 7.557 3.123 1.324 12.004 51,6 3,1 9,0 3,09 4 CS Aurelia 38.488 6.206 5.610 2.954 14.770 40,3 3,7 6,9 3,75 5 CS B Geraldo 39.778 6.323 2.948 2.603 11.874 30,5 4,1 7,3 4,08 6 CS B Vista 10.323 5.553 4.819 1.450 11.822 115,7 2,3 4,7 2,30 7 CS C Moura 11.478 4.534 1.171 1.084 6.789 59,6 2,7 6,0 2,68 8 CS C Raposo Amaral - - - -9 CS C Silva 24.375 5.995 4.739 3.593 14.327 61,4 4,2 8,0 4,16 10 CS Capivari 13.489 7.088 2.598 946 10.632 79,1 2,0 6,2 1,99 11 CS Centro 63.674 4.356 3.819 2.719 10.894 17,6 5,0 14,2 4,96 12 CS Conceicao 29.840 8.118 6.071 1.797 15.986 55,4 2,6 6,0 2,60 13 CS DIC I 31.991 9.256 4.029 1.923 15.208 48,1 2,6 5,4 2,56 14 CS DIC III 23.114 5.400 1.749 694 7.843 36,0 2,7 10,4 2,70 15 CS Esmeraldina 12.433 4.974 3.026 872 8.873 72,2 3,5 5,8 3,52 16 CS Eulina 19.086 3.466 1.500 767 5.733 31,0 4,0 5,8 3,98 17 CS F Lima 34.710 7.528 3.876 3.734 15.138 45,6 2,4 7,2 2,43 18 CS Figueira 17.603 3.848 2.037 1.103 6.988 40,6 4,0 10,1 4,06 19 CS Florence 34.922 9.598 5.143 1.933 16.674 48,2 3,7 6,7 3,66 20 CS Floresta 14.062 3.769 2.726 658 7.153 52,4 3,9 10,9 3,88 21 CS Integracao 26.675 5.731 2.779 1.414 9.924 38,6 2,9 7,9 2,93 22 CS Ipaussurama 22.833 4.644 3.567 1.514 9.724 43,4 3,7 9,7 3,72 23 CS Ipe 28.563 5.532 1.094 1.185 7.811 28,2 5,5 8,0 5,52 24 CS Itajai 9.863 3.562 2.391 898 6.851 70,5 1,9 6,7 1,88 25 CS Itatinga 3.002 2.160 154 971 3.285 109,4 2,5 6,9 2,57 26 CS J Egideo 2.746 1.001 822 305 2.128 78,6 9,0 17,0 9,04 27 CS O Maia 22.021 6.584 3.169 715 10.469 48,6 2,8 6,1 2,78 28 CS P Aquino 18.404 9.462 2.959 1.477 13.897 76,0 2,4 5,7 2,42 29 CS Paranapanema 25.331 5.036 2.580 1.009 8.624 35,0 3,3 8,3 3,35 30 CS Perseu 10.957 6.344 2.348 679 9.371 87,6 2,8 6,5 2,86 31 CS S Antonio - - - -32 CS S Jose 50.192 12.403 6.774 2.905 22.082 44,7 2,9 7,4 2,91 33 CS S Lucia 21.608 5.804 3.515 2.361 11.680 55,3 3,4 8,6 3,43 34 CS S Monica 9.954 5.181 3.505 1.587 10.273 105,2 3,0 6,8 3,04 35 CS S Quirino 20.670 5.954 4.982 2.241 13.178 66,0 4,2 9,4 4,23 36 CS S Vicente 11.462 3.324 1.202 449 4.974 44,1 4,8 10,5 4,85 37 CS S Barbara 25.449 4.690 2.284 1.263 8.237 33,9 3,0 8,5 3,03 38 CS S Cristovao 20.641 8.137 3.845 2.056 14.038 70,4 1,5 4,8 1,53 39 CS S Domingos 33.586 3.585 2.524 1.129 7.238 22,5 6,8 16,5 6,84 40 CS S Marcos 12.747 7.316 3.899 1.437 12.652 101,0 3,1 9,3 3,09 41 CS Sousas 25.052 6.017 4.112 1.020 11.149 45,0 3,9 7,1 3,89 42 CS S Odila 15.305 3.876 1.718 879 6.473 43,0 4,1 8,3 4,06 43 CS T Neves 21.647 6.499 4.928 2.251 13.678 64,0 3,0 6,8 3,00 44 CS Taquaral 42.193 8.520 4.330 4.835 17.685 44,2 3,3 6,2 3,33 45 CS U Bairros 29.328 5.098 2.880 653 8.631 30,4 3,4 8,8 3,43 46 CS V Alegre 20.275 7.385 4.384 1.558 13.327 66,6 3,3 8,0 3,30 47 CS V Rica 14.716 6.513 2.997 2.116 11.625 80,0 1,6 5,8 1,62 48 CS V Uniao/CAIC 13.798 2.862 1.324 870 5.056 37,4 2,7 5,9 2,67 49 CS Valenca 31.786 7.396 5.777 2.478 15.651 49,5 3,2 9,6 3,16

População cadastrada para obtenção do Cartão SUS segundo sua frequencia de

uso do Centro de Saúde

Fonte: Secretaria Municipal de Campinas (Sistema de Informações da Produção Ambulatorial- 2007), (Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde – julho/2006), (Cadastro Paidéia – 2007).

Elaboração própria.

Notas: A projeção de população de Campinas foi feita pela SMSC a partir dos Censos de 1991 e 2000, utilizando o aplicativo PeqAR do IBGE. As informações referentes à população usuária SUS são provenientes do Cadastro Paidéia. As informações referentes a consultas são provenientes do Sistema de Informações da Produção Ambulatorial. As informações referentes a Profissionais de Saúde e Consultórios são provenientes do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde. Ressalta-se ainda que os períodos de cada dado não são exatamente coincidentes, mas foi o mais próximo que obtivemos neste momento.

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Considerações finais

O presente trabalho sintetiza algumas avaliações iniciais sobre a oferta dos serviços oferecidos pelos Centros de Saúde de Campinas. Nosso objetivo, conforme já dito, preocupa-se em verificar se esta oferta varia conforme o local da cidade, havendo uma correspondência entre locais de piores condições socioeconômicas e maiores fragilidades de oferta. Certamente ainda não podemos ter elementos conclusivos sobre isto, dado a heterogeneidade de resultados encontrados até aqui. Para um melhor entendimento dos mesmos e da variação dos serviços em Campinas, nos apoiaremos em pesquisas qualitativas, as quais estão sendo realizadas no momento atual da pesquisa.

Estuda-se também novas formas de elaborar indicadores mais refinados, de modo que possam captar mecanismos mais específicos que talvez interferiram no funcionamento e na oferta de serviços dos CS. Outro desafio a ser contornado é o de trabalharmos com dados de morbimortalidade das populações da área de atendimento dos CS, dado que tratam-se de pequenas áreas, onde o pequeno número de casos pode distorcer os resultados.

Por fim, acreditamos que o conhecimento da vulnerabilidade dos grupos populacionais no espaço intra-urbano possa contribuir para o planejamento de estratégias específicas de ação política. As fortes desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira dificultam a utilização de números médios para o planejamento de políticas públicas nos mais diversos setores: habitação, saúde, educação, telecomunicações entre outros. Deste modo, a investigação intra-urbana torna-se muito importante, a fim de que as especificidades sejam conhecidas e “situações sociais negativas não sejam diluídas em grande médias heterogêneas” (MARQUES e TORRES, 2005, p. 9).

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