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Indígenas no censo demográfico 2010: uma análise do quesito “se considera” nos setores urbanos das terras indígenas no nordeste

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Resumo expandido enviado para avaliação | XXI ABEP 2018 INDÍGENAS NO CENSO DEMOGRÁFICO 2010:

UMA ANÁLISE DO QUESITO “SE CONSIDERA” NOS SETORES URBANOS DAS TERRAS INDÍGENAS NO NORDESTE

Resumo

No Censo Demográfico de 2010 houve um esforço por parte do IBGE na compatibilização das malhas cartográficas das Terras Indígenas (TI) à base territorial da pesquisa censitária, assim como ao questionário básico e da amostra, com questões dirigidas especificamente à população no interior destes territórios. Assim, pela primeira vez foi possível identificar para cada TI setores censitários urbanos e rurais, e como consequência, características da população indígena que vive em domicílios urbanos nas Terras Indígenas. Dentre as grandes regiões brasileiras, é nas TI localizadas na região Nordeste onde está a maior proporção de população em áreas urbanas e a maior proporção de indígenas que não se declararam como tal. Por esta razão, este trabalho busca analisar o perfil de declaração de raça-cor indígena, e mais especificamente o quesito “você se considera indígena” nos domicílios urbanos das Terras Indígenas da região Nordeste. A partir dos resultados buscaremos compreender o contexto histórico e sociodemográfico das TI no Nordeste, traçando o perfil de resposta à questão raça ou cor da pele e identificando quais os setores censitários urbanos nestas TI, buscando estabelecer hipóteses para compreender a relevância do quesito “se considera” nesta região.

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1 Introdução

De maneira inédita, o Censo Demográfico de 2010 ampliou o alcance e incluiu diversas questões para captação de informações sobre a população indígena no Brasil, sendo até o momento a primeira pesquisa censitária a levantar e divulgar dados quanto à diversidade étnica e linguística dos povos indígenas. Dentre as inovações do Censo de 2010, o IBGE compatibilizou as malhas cartográficas das Terras Indígenas (TI), incorporando este limite territorial ao próprio questionário, possibilitando que questões específicas fossem feitas à população residente nas TI. Assim, além de o quesito raça ou cor ter passado a figurar no questionário básico foram incluídas também questões sobre etnia ou povo ao qual o indivíduo pertence e quanto à língua indígena falada no domicílio, com possibilidade para até duas línguas diferentes além da língua portuguesa (IBGE, 2010; PEREIRA, 2012; SANTOS e TEIXEIRA, 2011). Outro avanço importante, e objeto deste trabalho, foi a inclusão de uma pergunta de verificação somente para as Terras Indígenas. Caso o recenseado respondesse não ser indígena na questão sobre raça ou cor da pele, perguntava-se se o indivíduo se considerava indígena. Essa questão surgiu durante as provas-piloto do censo 2010, em que se constatou que a pergunta “raça/cor da pele não era muito inteligível para muitos indígenas” (AZEVEDO, 2011). Desta forma, a população indígena no Brasil, segundo os dados do Censo de 2010, foi o resultado da soma de todos os indivíduos que se declararam indígenas no quesito raça ou cor da pele e todos que se consideraram indígenas na questão de verificação.

A análise das repostas do quesito “se considera indígena” apontou para a importância dos recortes rural e urbano e segundo Grandes Regiões para a interpretação dos resultados. As áreas urbanas das TI da região Nordeste apresentaram o maior acréscimo no total de indígenas pela inclusão da questão, nas quais 8.234 pessoas se consideraram indígenas, aumentando em 43% a população indígena desta região. É justamente na análise dos resultados para as áreas urbanas das TI no Nordeste que este trabalho se concentra, realizando um mapeamento de todos os setores censitários urbanos no interior destas TI, a fim de identificar o perfil de declaração das perguntas raça ou cor da pele e se considera indígena e traçar hipóteses quanto à importância deste último quesito nesta região.

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2 Métodos

A análise aqui proposta parte primeiramente da identificação de como o quesito

condição de indígena foi respondido em todas as Terras Indígenas da região Nordeste

no Censo de 2010. Quando um indivíduo não se autodeclarava indígena na questão raça-cor teve então duas alternativas de resposta: se considera indígena; não se

considera indígena ou sem declaração/ignorado. Portanto, como primeiro passo,

serão utilizados os dados agregados (SIDRA) do Censo 2010 para todas as 57 Terras Indígenas do Nordeste para o referido quesito. Para compreender as diferenças entre as áreas rurais e urbanas das TI serão utilizadas as informações de cada setor censitário, identificando, através de ferramentas de georreferenciamento, os setores urbanos destas TI. Dados disponibilizados pelo Banco Multidimensional de Estatísticas (BME) também serão incorporados na análise.

O recurso da grade estatística (IBGE, 2016) que permite a visualização da densidade populacional em áreas rurais para células de 1 km por 1 km também auxiliará na verificação da distribuição geográfica desta população nas Terras Indígenas. Além dos dados do Censo 2010 serão utilizados, quando possível, dados dos cadastramentos de população indígena por aldeia produzidos pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI) e informações contextuais da situação político-social das Terras Indígenas do Instituto Socioambiental (ISA).

Resultado e discussão

De acordo com o Censo Demográfico 2010 (Tabela 1), das 567.582 pessoas que residiam em domicílios localizados em Terras Indígenas, 438.429 (77,2%) se declararam como “indígena” no quesito “cor ou raça”. Classificados nas demais categorias (“branca”, “preta”, “amarela” ou “parda”), os demais 129.153 residentes em TI foram questionados se “se consideravam indígenas”, sendo que 78.954 (61,1%) responderam afirmativamente e, 30.691 (23,8%) não “se consideraram” indígenas. Para 19.508 (15,1%) não se obteve resposta (“ignorado”).

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3 Tabela 1 – População indígena (cor ou raça e categorias de "se considera") residente em

Terras Indígenas segundo situação urbana e rural, Brasil, 2010.

Fonte: Censo Demográfico 2010

Em relação ao total de residentes em TI, segundo a situação do domicílio, verificou-se que a ampla maioria (90,4%) vivia em domicílios rurais. Para os que “não verificou-se consideraram” indígenas, 63,8% estavam em domicílios urbanos, e, aproximadamente metade daqueles cuja resposta foi ignorado (45,6%) também residiam nestes domicílios. A presença de moradores em áreas urbanas ocorreu de modo mais expressivo nos que responderam ao quesito “se considera” (29,5% em 129.153). Ao analisarmos apenas os domicílios urbanos em Terras Indígenas no Brasil, houve maior expressão das TI do Nordeste, região que concentrou 74,1% do total da população urbana em TI, sendo também a região em que a maior parte da população não se declarou indígena, respondendo assim ao quesito “você se

considera indígena” (Tabela 2).

Tabela 2 – População residente em terras indígenas que "se considera indígena"

segundo situação de domicílio urbana, Brasil, 2010.

Urbano

“Se considera” indígena? (%)

Região

N Sim Não Ignorado Total

9.642 19.569 8.897 38.108 Norte 3.509 1,3 0,0 98,7 100,0 Nordeste 29.395 28,0 65,2 6,7 100,0 Sudeste 2.546 0,4 0,0 99,6 100,0 Sul 1.423 30,3 8,6 61,1 100,0 Centro-Oeste 1.235 74,3 22,0 3,6 100,0

Fonte: Censo Demográfico 2010

Urbana Rural Cor ou raça Indígena (%) Se considera indígena? Total (%) Cor ou raça Indígena (%) Se considera indígena? Total (%) Região Sim (%) Não (%) Ignorado (%) Sim (%) Não (%) Ignorado

(%) 16.321 9.642 19.569 8.897 54.429 422.108 69.309 11.125 10.608 513.150 Norte 13,1 0,5 0,0 38,9 10,4 50,4 53,3 49,2 38,6 50,5 Nordeste 66,9 85,4 98,0 22,3 74,1 16,9 22,8 25,0 26,0 18,0 Sudeste 3,9 0,1 0,0 28,5 5,9 3,3 1,7 0,3 0,3 3,0 Sul 7,1 4,5 0,6 9,8 4,8 8,2 4,9 6,3 14,6 7,8 Centro-Oeste 9,0 9,5 1,4 0,5 5,0 21,2 17,3 19,1 20,5 20,6

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Desta forma, observa-se a sobreposição de dois fatores que incidem sobre as TI localizadas na região Nordeste: maior proporção de população em áreas urbanas e maior proporção de indígenas que não se declararam indígenas. A partir destes resultados buscaremos compreender o contexto histórico e sociodemográfico das TI no Nordeste. Como amplamente enfatizado pelas ciências sociais, a questão das identidades étnico-raciais e de cor nos censos brasileiros é de notável complexidade e em larga medida influenciada pelos contextos sócio-políticos e culturais (OLIVEIRA, 2012), sendo a população indígena no Nordeste caracterizada pelo fenômeno da etnogênese (OLIVEIRA,1998). Assim, traçaremos o perfil de resposta à questão raça ou cor da pele e identificando quais os setores censitários urbanos nestas TI, buscando traçar hipóteses para compreender a relevância do quesito nesta região.

Referências

AZEVEDO, M. O censo 2010 e os povos indígenas: In: ISA, Povos Indígenas no

Brasil – no Brasil Atual, São Paulo, 2011. Disponível em:

http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/quantos-sao/o-censo-2010-e-os-povos-indigenas . Acesso em 20 de abril de 2016.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010: Sinopse do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2011.

IBGE. Censo Demográfico 2010: Características gerais dos indígenas: Resultados do universo. Rio de Janeiro, IBGE, 2012.

OLIVEIRA, J.P. Mensurando alteridades, estabelecendo direitos: práticas e

saberes governamentais na criação de fronteiras étnicas. Dados, v. 55, pp. 1055-

1088, 2012.

OLIVEIRA, J.P. “Uma etnologia dos "índios misturados"? Situação colonial,

territorialização e fluxos culturais. Mana, Rio de Janeiro , v. 4, n. 1, p. 47-77, Abril

1998 . Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131998000100003&lng=en&nrm=iso . Acesso em 20 de abril de 2016.

PEREIRA, N. Inovações na pesquisa do indígena do Censo Demográfico 2010 do Brasil e um perfil demográfico dos indígenas residentes na fronteira brasileira. In:

Anais do V Congresso da Associação Latinoamericana de População.

Montevideo, 2012. Disponível em:

<http://www.alapop.org/2009/index.php?option=com_content&view=article&id=887&I temid=518>. Acesso em 10 de novembro de 2012.Acesso em 20 de abril de 2016. SANTOS, R.V. & TEIXEIRA, P.T. O “indígena” que emerge do Censo Demográfico

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