ANGELA BUENO BECKER
PREVALÊNCIA DE
COMORBIDADE
Ps1QU1ÁTR1‹:A
EM
PACIENTES
INTERNADOS NAS
ENEERMARIAS DE
CLÍNICA
MEDICA
Do
HU-UESC
Trabalho
apresentado
àUniversidade Federal
de
Santa Catarina para
aconclusão
do
Curso
de
Graduação
em
Medicina.
Florianópolis
Universidade Federal
de Santa Catarina
ANGELA BUENO BECKER
PREVALÊNCIA
DE
COMORBIDADE
PSIQUIÁTRICA
EM
PACIENTES
INTERNADOS NAS
ENFERMARIAS DE
CLÍNICA
MÉDICA
DO
HU-UFSC
Trabalho
apresentado
àUniversidade Federal
de Santa Catarina para
aconclusão
do
Curso
de
Graduação
em
Medicina.
Presidente
do
Colegiado:
Prof.
Dr.
Edson
José
Cardoso
Professora Orientadora:
Prof".
Dra.
Letícia
Maria
Furlanetto
Florianópolis
Universidade
Federal
de Santa Catarina
“A
alegriado
triunfojamais
poderia
serexperimentada
se
não
existissea
luta,que
é
a
que
determina
a oportunidade de
vencer.”Dedico
este trabalho a todos aquelesque
me
ajudaram
a lutar,AGRADECIMENTOS
Aos
meus
pais e irmãs pelo apoio, pelas correções e pelo estímulo constante.À
Prof.” Dr” LetíciaMaria
Furlanetto,minha
orientadora, por sua paciência,dedicação e por sua sabedoria
na
artede
ensinar.Ao
tio André, incansável, por toda sua ajuda.Ao
tioBueno
e a Lígia Becker,minha
madrinha, por suas correções e sugestões.Ao
Leandro,companheiro
eterno, por estimular-mesempre
a ser melhor.A
todosmeus
amigos, por estaremcomigo
nos
momentos
mais
difíceis.Aos
colegasde
pesquisa, pelocompanheirismo
e ajuda mútua.Aos
pacientes,que
tantome
ensinaram,compartilhando
sua vida e sua história.SUMÁR1o
l . Introdução ... _. 2. Objetivo ... .. 3.Método
... ._ 3.l. 3.2. 3.3. 3.4. 3.5. 3.6. Casuística ... .. Local ... ..Procedimentos
... _.Avaliação da
Comorbidade
PsiquiátricaAspectos
Éticos ... _. Análise Estatística ... _. 4. Resultados ... .. 5. Discussao ... .. 6.Conclusão
... _. 7.Normas
Adotadas
... .. 8. Referências Bibliográficas ... ._Apêndice.
VlRESUMO
Este trabalho teve
como
objetivo determinar a prevalênciade comorbidade
psiquiátrica(CP)
entre os pacientes internados nas enfermariasde
clínicamédica
(ECM)
do
HospitalUniversitário
da
Universidade Federalde
Santa Catarina(HU-UFSC).
Realizou-seum
estudo transversal, selecionando porrandomização
pacientes internados nasECM
do
HU-
UFSC
no
períodode
maio
de
2000
amarço
de
2002.Dos
1234
pacientes elegíveis parao
estudo,
27,6%
foram
excluídos,chegando-se
auma
amostra
finalde 893
pacientes.A
avaliação psiquiátrica foi realizada através de avaliação clínica,na
qual os pacientesque
cumpriam
critérios diagnósticosdo
Manual
Diagnóstico e Estatísticode Doenças Mentais
-quarta edição
(DSM-IV)
para deliríum e/oudemência
eram
agrupados
na categoria diagnóstica “prejuízo cognitivo”.Nos
pacientessem
prejuízo cognitivo,o
diagnóstico foifeito através da
“Mini
International Neuropsychiatric Interview” (MINI), entrevistadiagnóstica padronizada baseada nos critérios
do
DSM-IV.
A
amostra
apresentoupredomínio
dehomens
(64,2%), brancos (84,8%), casados/amasiados (59%).A
média
de
idadeÍ
desvio padrão(DP)
foide
53,1 dz 18anos
e amédia
de escolaridadei
DP
foide
5,5 dz4
anos. Foi feito diagnóstico psiquiátricoem
275
pacientes (30,8%). Prejuízo cognitivofoi encontrado
em
145 pacientes (16,2%), transtomos relacionados a substânciasem
64
(7,2%)
e transtornosdo
humor
em
48 (5,4% da
amostra).Concluímos que
a presençade
CP
nasECM
do
HU-UFSC
é alta (30,8%). Estedado
é importante paraque
sebusque
diagnosticar tais pacientes, realizando
um
tratamentoadequado do transtomo
psiquiátrico,além
de pennitirum
melhor planejamento
dos serviços psiquiátricosem
hospitais gerais.SUMMARY
The
aim of
the present studywas
to determine the prevalenceof
psychiatric disorders(PD)
among
medical in-patients in a university hospital(HU-UFSC).
A
transversal studywas
performed, selecting
by
randomization patients admitted to the medicalwards
ofHU-UF
SC
from
May
2000
toMarch
2002.Of
theI234
patients eligible for the study,27,6%
were
excluded.The
finalsample
included893
patients.The
psychiatric evaluationwas
carriedout
by
a clinical interview, inwhich
the patients with delirium or dementia, according toDiagnostic
and
StatisticalManual
of Mental
Disorders-fourth edition(DSM-IV)
criteria,were grouped
in the diagnostic category “cognitive impairment”.Those
who
were
notcognitively impaired
were
evaluated with a standardized interview, theMini
InternationalNeuropsychiatric Interview (MINI),
which
is basedon
DSM-IV
disorders. In this sample,64,2%
were
male,84,8%
whiteand
59%
were
married.The
mean
age zh Standard Deviation(SD)
was
53,1 :tz 18 yearsand
themean
educational leveli
SD
was
5,5i
4
years.A
psychiatric diagnosiswas
detected in275
patients (30,8%). Cognitiveimpairment
was
themost
common
PD
found
(l6,2%). Substance disorderswere
present in64
patients(7,2%)
and
depressive disorders in48
(5,4%).We
found
a high prevalenceof
PD
in the medical in-patients
of
HU-UFSC
(30,8%). This data highlights theneed
to detectPD
in these patientsin order to offer
them
adequate treatment,improving
their physicaland
mental conditions.Besides that, it provides data for planning psychiatric services in general hospitals.
BDI
CGI
CID-9
CID-IO
CIS-R
DSM-III
DSM-III-R
DSM-IV
GHQ
HAD
HU-UFSC
MINI
MMSE
PSE
SCAN
SPISPMSQ
SRQ
UFRJ
UNICAMP
LISTA
DE
ABREVIATURAS
“Beck
Depression Inventory” (InventárioBeck
de
Depressão)“Clinical Global Impression” (Impressão Clínica Global)
Classificação Intemacional
de Doenças,
nona
ediçãoClassificação Internacional
de Doenças, décima
edição“Clinical Interview Schedule, revised version” (Roteiro de Entrevista Clínica,
versão revisada)
“Diagnostic
and
StatisticalManual
of Mental
Disorders, third edition”(Manual
Diagnóstico e Estatístico deDoenças
Mentais, terceira edição)“Diagnostic
and
StatisticalManual
of Mental
Disorders, third edition, revisedversion”
(Manual
Diagnóstico e Estatísticode
Doenças
Mentais, terceiraedição revisada)
“Diagnostic
and
StatisticalManual
of Mental
Disorders, fourth edition”(Manual
Diagnóstico e Estatístico deDoenças
Mentais, quarta edição)“General Health Questionnaire”
“Hospital
Anxiety and
Depression Scale” (Escala paraAvaliação de
Ansiedade
eDepressão no Contexto
do
Hospital Geral)Hospital Universitário Dr.
Polydoro
Emani
de São Thiago da
UniversidadeFederal
de
Santa Catarina“Mini
lntemational Neuropsychiatric Interview”“Mini-Mental
StateExamination”
“Present State
Examination”
“Schedule
for ClinicalAssessment
in Neuropsychiatry”“Standardized Psychiatric Interview” (Entrevista Psiquiátrica Estruturada)
“Short Portable
Mental
Status Questionnaire” “Self Reporting Questionnaire”Universidade Federal
do Rio
de JaneiroUniversidade Estadual
de
Campinas
1.
INTRODUÇÃO
A
comorbidade
psiquiátrica consistena
presençade
transtornos mentaisem
pacientes
com
doenças
físicas.Sua
alta prevalência ébem
conhecida
em
pacientesde
~ . , . ¡_ . . 4 , . , . . , .
atençao primaria, 3 ambulatoriais e
na
praticamedica
geral.5Em
um
artigo classicode
revisão,
Mayouó
demonstra que no
hospital geraltambém
se observaque
pacientescom
doenças
físicaspadecem
mais de
transtornos psiquiátricos, apesarde
haverpoucos
estudosde
comorbidade
psiquiátrica global nesta populaçãof”A
presençade
comorbidade
psiquiátricanão
tratada influencia demaneira
significativa a
evolução
clínicados
pacientescom
doenças
físicas.7 Observa-seque
pacientes
com
comorbidade
psiquiátrica, entre elas principalmente a depressão,apresentam
baixas taxasde
adesão aos tratamentos médicosg” 9 emaior
morbi-mortalidade,mesmo
após
controlar a gravidade fisica.l°`l5 Pacientes
com
diagnóstico de depressão,'6`l8 prejuízo. . _ . 3 . . .
cognitivo” 23
ou
ansiedadeló' 1permanecem
mais
tempo
intemados
eapresentam
maior
número
de
re-intemações,17aumentando,
conseqüentemente, os custos referentesao
tratamento destes pacientesfó* 24Não
obstante, transtomos mentais são muitas vezes subdiagnosticadosna
prática clínica.25`28Na
literatura,encontramos
taxas de prevalênciade comorbidade
psiquiátricaem
hospital geralque variam
de31%”
a61%.”
Em
um
estudocanadense
utilizandouma
entrevista semi-estruturada, Silverstone et al.25chegaram
aum
diagnóstico psiquiátricoem
35,9%
da
amostra, de acordocom
o
Manual
Diagnóstico e Estatístico deDoenças
Mentais,quarta edição
(DSM-lV).3'
No
Brasil, a presençade
serviços de psiquiatriano
hospitalgeral é
modesta
e as pesquisas nessa área são escassas.Encontramos
um
estudo realizadono
Hospital Universitáriode
Campinas
que
relatauma
fieqüência
globalde transtomos
psiquiátricos
de
36%.”
No
entanto, a maioriados
estudos de prevalênciaem
hospital geral considerauma
amostra específica (pacientescom
Diabetes Mellítus,33 pacientes neurológicos27ou
idososlg' 23) e/ou transtomos psiquiátricos especificos.¡9° 34” 35
A
prevalência
de
depressãotem
sido amais
estudada,com
artigosde
revisão sugerindoque
l5 a60%
dos
pacientesapresentam-se deprimidos
no
momento
da
entrevista.6* 36Um
resumo
dos principais estudosda
literatura nacional e intemacionalno
período de1974
a2002
é apresentado nosQuadros
1 e2.2
QUADRO
l-
Prevalência global decomorbidade
psiquiátricaem
pacientesintemados
em
hospital geral
-
Revisão
da
literatura.ESTUDO/
ANO
N
INSTRUMENTO
(s)-
PONTO
DE
CORTE
(PC)
TRANSTORNO
PREVALÊNCIA
(%)
467
Pump
ef al., 199823 (z 65anos)
Entrevista clínica estruturada
para DSM-111-R
MMSE
-PC S
23 Prevalência global - Transtomos de Ansiedade - Transtomos Depressivos - Prejuízo Cognitivo 44,5 10,9 18,8 26,9 Silverstone et al. ,S ° 343 1996-MMSE
-
PC
< 22SCAN
Critérios diagnósticos doDSM-IV
Prevalência global - Prejuízo Cognitivo - Delirium - Demência - Depressão Maior* - Transtornos de Ansiedade - Dep/Abuso Álcool - Transtorno de Ajustamento 35,9 8,7 6,1 2,6 5,1 6,7 5,4 13,7 Botega et al., vs 1 994” CIS-R-
PC
29 Sintomas de ansiedade edepressão significativos - CIS-R 22
Prevalência global Depressão Ansiedade 36,0 28,2 26,9 Deshpande et al., 37 350 1989
SRQ
(screening)-
PC
2 11PSE
eMSE
Entrevista clínica
com
critérios da
CID
9Prevalência globall'
- Delírium
- Psicose Maníaco Depressiva
- Ansiedade
+
TOC
- Distimia - Dependência Álcool - Transtomo de Ajustamento 34,3 10,9 1,0 4,1 4,2 0,4 10,4 Cavanaugh, 198330 335MMSE-PCS23
GHQ-PC25
BDI-PCZ2l
Prevalência global - Transtomo Cognitivo - Alteração Emocional - Depressão 61,0 28,0 61,0 14,0 Maguire et al., ,Q 170 1974”GHQ-60
(screening) -PC >l1 SPI -PC
22 Prevalência global - Depressão - Ansiedade - Alcoolismo- Transtomo psicótico orgânico
31,2
14,7 6,7 0,6 3,5
*Modificado por Endicott: Substituição de 4 sintomas somáticos por 4 não somáticos.
TValores corrigidos foram utilizados para todos os cálculos neste estudo, exceto Delirium
Abreviaturas usadas:
MMSE
= “Mini-Mental State Examination” (escala para avaliação do estado cognitivo)SCAN
= “Schedule for Clinical Assessment in Neuropsychiatry”DSM-111-R = “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, third edition, revised version” (Manual Diagnóstico
e Estatístico de Doenças Mentais. terceira edição revisada)
DSM-IV = “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, fourth edition” (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Doenças Mentais, quarta edição)
CIS-R = “Clinical Interview Schedule, revised version” (Roteiro de Entrevista Clínica, versão revisada)
SRQ
= “Self Reporting Questionnaire”GHQ
=“General Health Qucstionnaire”SP1 =“Standardized Psychiatric Interview” (Entrevista Psiquiátrica Estruturada)
PSE = “Present State Examination”
QUADRO
23
-
Prevalênciade
comorbidade
psiquiátricaespecífica
em
pacientes internadosem
hospital geral-
Revisão
da
literatura.ESTUDO/
ANO
N
lNsrRuMENTo(s) -
PONTO
DE
Coari; (PC)TRANSTORNO
PREVALÊNCIA
(%)
Furlanetto,
1996”
155 CIS
+
avaliação clínicaBDI Síndrome depressiva - Leve - Moderada - Grave 32,3 12,3 13,5 6,5 Botega et al., 1995” 78 CIS-R
Escala de gravidade de sintomas
(2
=
leve; 3=
moderada; 4=
grave)“caso” = a) CIS-R 22
para ansiedade e/ou 2 4 para depressão + idéias depressivas
b) escala de gravidade 22 Transtorno do
Humor
- Depressão - Ansiedade - Depressão+Ansiedade Casos de Ansiedade - Leve - Moderada - Grave Casos de Depressão - Leve - Moderada 39,0 19,2 6,4 14,1 20,5 18,0 1,3 1,3 33,0 24,4 8,9 Nascimento&
Noal, 1992” 190'BDI
- Leve -PC
=
14E
- 14 21 - Moderada/Grave =2
21 Depressão - Leve - Moderada/Grave 30,5 1 8,4 12,1 Machado et al., 1938” 90Entrevista psiquiátrica (EP)
BDI -
PC
2 14 2 21 DepressãoEP=
44,4PC
214
=
51,1PC
2
2l= 36,6 Erkinjuntti et al 19só'° -9 2000 (255 anos)SPMSQ
(screening)-
PC
22Entrevista clínica
com
critérios do DSM-III Prejuízo Cognitivo{
- Demência - Delíríum 55-64 anos=
7,1 2 85 anos=
44,6 9,1 15,1 Roca et al., 1984” 380* (>40 anos) CritériosDSM
IIIMMSE
- PC <
24 Demência 15,0 Cavanaugh et al., 19334* 309BDI-PC>
10 - Leve = 11 - 20 - Moderada=
21 - 30 - Grave=
> 30 Depressão - Leve - Moderada - Grave 45,0 31,0 8,0 6,0Moffic
&
Pzzykei, 1975” 150BDI-PC2
14 Depressão 24,0 _b . , . . , .Pacientes climcos e cimrgicos
'Excluídos pacientes analfabetos.
Abreviaturas utilizadas: BDI = “Beck Depression Inventory” (Inventário Beck de Depressão)
C IS-R = “Clinical Interview Schedule, revised version” (Roteiro de Entrevista C línica, versão revisada)
CGI = “Global Clinical Impression” (Impressão Clínica Global)
HAD
= “Hospital Anxiety and Depression Scale”SPMSQ = “Short Portable Mental Status Questionnaire”
DSM-III = “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, third edition” (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais.
terceira edição)
4
Como
sepôde
observar nosquadros
l e 2, existe grande variaçãona
prevalênciade
comorbidade
psiquiátrica encontrada por estudo.É
consenso que há
uma
grande dificuldadena
pesquisa, avaliação ecompreensão dos dados
obtidoscom
estudos realizadosem
hospital geral.6' 25* 32* 38* 41Obsewam-se
inúmeras
divergênciasem
seus resultadosdevido
àdificuldade
na
definiçãode
“caso” e à faltade
instrumentosadequados
para tal população.43A
nosografia' psiquiátrica utilizada atualmentenão
éadequada
parao entendimento da
morbidade
psiquiátrica nos pacientesde
hospital geral, visto seruma
classificaçãobaseada
em
casosde
hospitais psiquiátricos,com
quadros
geralmentemais
graves,mais
complexos
e
de
pior prognóstico.No
hospital geral, a presençados
sintomas fisicos conseqüentes àcondição física, ao uso de
medicamentos,
seus efeitos adversos e interaçõesbem
como
o
fato de os pacientes geralmente apresentarem sintomatologia psiquiátrica
mais
leve,concorrem
paraque o
uso das classificações nosológicas neste contexto seja confuso,dificultando
o
diagnóstico e aconduta
nestes pacientes.”Apesar
destas dificuldades,o reconhecimento
decomorbidades
psiquiátricasem
pacientes internadosem
hospitais geraisdeve
ser destacado, vistoque
sãocondições
freqüentes, para as quais existem tratamentos eficazes e que,
uma
vez não
diagnosticadas etratadas, afetam negativamente a
evolução
clínica destes pacientes. Talconhecimento
permite estabelecer
um
planejamentodos
serviços psiquiátricos,de
acordocom
asnecessidades clínicas,
bem como
uma
melhor formação
acadêmica,além
de despertarnos
profissionais de saúde
maior
interessena busca de
possíveis transtornos psiquiátricosem
seus pacientes.No
presente estudo, nospropomos
a avaliar a prevalênciade
comorbidade
psiquiátrica
em uma
população de
pacientescom
doenças
físicas,intemados
em
um
hospital geral.
'
5
2.
ÚBJETIVO
Determinar
a prevalênciade
comorbidade
psiquiátrica entre os pacientesintemados
nas enfermarias de clínicamédica do
Hospital Universitárioda
Universidade Federalde
Santa Catarina(HU-UFSC).
6
3.
MÉTODO
3.1. Casuística
A
seleção foi feita atravésde
randomização após serem
anotados osnomes
de
todos os pacientes consecutivamente internados nas enfermariasde
clínicamédica do
HospitalUniversitário Professor
Polydoro
Emani
de São Thiago de
Florianópolis(HU-UFSC), no
períodode
maio
de
2000
amarço
de 2002.Foram
elegíveis para participarem deste estudo1234
pacientes.A
amostra
finalcompreendeu
893
pacientes(N
=
893) e foicomposta de
acordo
com
os seguintes critérios:3.1.1. Critérios
de
Inclusão:a) Idade: igual
ou maior que
18 anos.b)
Consentimento
do
pacienteou
familiarapós
esclarecimento (vide aspectos éticos).3.1.2. Critérios
de
Exclusão:a) Pacientes
que não conseguiram
colaborarde maneira adequada
com
a entrevista,por alterações decorrentes
da doença de
baseou da condição
fisica geral: afasia,hipoacusia severa, dispnéia
ou
dor intensa.b) Pacientes cirúrgicos. c)
Recusa do
paciente.d)
Causas
administrativas:0 Pacientes
intemados
há mais de 07
diasno
momento
da
entrevista.0 Pacientes
que não
seencontravam
nas enfermariasdo
hospitalno
momento
da
entrevista, por já haver recebido altaou
licença hospitalar, portransferência à
UTI
ou
outros hospitaisou
por realização deexames
forado
7
3.2.
Local
Este estudo foi realizado nas enfermarias
de
clínicamédica do
HospitalUniversitário
da
Universidade Federalde
Santa Catarina,HU-UFSC.
A
enfermaria geralde
adultos possui
um
totalde
90
leitosque atendem
a pacientes provenientesda grande
Florianópolis e
de
outras localidadesdo
estado.3.3.
Procedimentos
Realizou-se
um
estudo transversal de prevalênciade comorbidades
psiquiátricasem
pacientes internados nas enfermariasdo
HU-UFSC.
Os
pacientes selecionados, isto é,aqueles
que preenchiam
os critériosde
inclusão,eram
entrevistados parao preenchimento
do
questionáriode
variáveis sócio-demográficas e clínicas (veja apêndice).Quando
necessário, os questionárioseram
complementados
com
informações colhidasnos
prontuários.
No
mesmo
dia, os pacienteseram
submetidos
à avaliação psiquiátrica,que
consistia primeiro
em uma
avaliação clinica, seguidaou não da
aplicaçãode
uma
entrevista semi-estruturada.3.4.
Avaliação
da
Comorbidade
PsiquiátricaPor
meio
de
avaliação clínica, os pacientesque preenchiam
critérios para delíríum* e/oudemência, segundo o DSM-IV,3'
eram
consideradoscomo
tendocomorbidade
psiquiátrica e
agrupados na
categoria diagnóstica “prejuízo cognitivo”,conforme
outrospesquisadores nesta área.23' 26' 4°” 44 Estes pacientes
não prosseguiam
com
a entrevista semi-estruturada visto
que não
responderiamde
maneira adequada
às perguntas.'
Delírium é conceituado pelo DSM-IV3'
como
uma
perturbação da consciência, acompanhada poruma
alteração na cognição, que não pode ser melhor explicada poruma
demência preexistente, ouem
evolução. Quando há prejuízo cognitivo não é possível avaliar a presença ou não de outros transtomos
8
A
avaliação psiquiátricados
demais
pacientes foi realizada atravésde
uma
entrevista diagnóstica padronizada, a
“Mini
lntemacional Neuropsychiatric Interview” (MlNl).45O
MlNl45
éum
questionário breve e compatívelcom
os critériosdo
DSM-IV,3'
desenvolvido por pesquisadores
do
Hospital Pitié-Salpêtrièrede
Paris eda
Universidadeda
Flórida e traduzido para
o
portuguêsfm Estudos de validaçãoem
paísesda Europa
enos
EstadosUnidos mostraram
índicesde
confiabilidade e qualidades psicométricassatisfatórias,
comparáveis
aos de outros questionários diagnósticos padronizados ecomplexos.45" 46
O
MINl45
permiteuma
avaliação rápida, entre 15 a30
minutos, dos principaistranstomos
do
eixo Ido DSM-IV,31
priorizando a exploraçãodos
transtomos atuais.Avalia
também
o transtornode
personalidade anti-social, pertencente ao eixo Ildo DSM-IV.3
1Foi utilizada para este estudo a versão integral
do MINl45
(versão brasileira 5.0.0),que
compreende
l9módulos
que exploram
dezessete transtomosdo
eixo ldo DSM-lV,3] o
risco
de
suicídio e otranstomo da
personalidade anti-social.No
entanto, para análisedos
resultados,
conforme o
objetivodo
presente estudo, consideraram-se apenas os diagnósticosde transtomos atuais.
Foram,
portanto, consideradoscomo
apresentandocomorbidade
psiquiátrica,aqueles pacientes
com
diagnóstico de prejuízo cognitivo, acrescidos daquelescom
lou
mais
diagnósticos psiquiátricosdados
peloMINL45
3.5.
Aspectos
ÉticosO
projeto de pesquisa foisubmetido
à avaliaçãodo Comitê de
Pesquisaem
SeresHumanos
do
HU-UFSC
eaprovado
pelomesmo.
Antes
da
entrevistacom
cada
paciente, osmesmos
eram
esclarecidos sobre a pesquisa e,somente
com
o
consentimento por escritodo
paciente, dava-se início à entrevista. Entre as informações
dadas
aos pacientesconstavam
explicações sobre a pesquisa eo
esclarecimentode que
a participaçãono
estudo era voluntária.Além
disso, foi explicadoque
em
nada
alteraria seu tratamento casooptassem
9
Nos
casosde
pacientesque apresentavam
alteraçõesna
capacidade dejulgamento
(por
exemplo,
naquelescom
prejuízo cognitivo),o
consentimento escrito,após
esclarecimento, foi obtido
com
um
familiarou
acompanhante.
3.6.
Análise
EstatísticaA
análisedos
dados
foi feita atravésdo
“StatisticalPackage
for the Social Sciences”, versão 10.0(SPSS-10).”
Para a caracterizaçãoda amostra foram
utilizados percentagens,médias
e desvios-padrão,conforme
apropriado.Foram
descritos onúmero
e apercentagem
total de pacientescom
comorbidade
psiquiátrica.Além
disso,foram
descritoso
número
e apercentagem de
pacientesem
cada
uma
das categorias diagnósticas abaixo:l. Prejuízo Cognitivo: deliríum;
demência
e outros transtomoscom
declínio cognitivo2.
Transtomos do
Humor:
episódio depressivo maior; distimia;mania;
hipomania
3. Transtornos de Ansiedade:
transtomo
do
pânico; agorafobiasem
pânicoatual; fobia social; transtorno obsessivo-compulsivo;
transtomo de
estressepós-traumático;
transtomo
de ansiedade generalizada4. Transtornos Relacionados a Substâncias:
abuso/dependência
de
álcool;abuso/dependência de outras substâncias
5. Transtornos Alimentares: anorexia nervosa; bulimia
10
4.
RESULTADOS
A
amostra
finalcompôs-se
de893
pacientes,sendo que
27,6%
da amostra
inicialmente elegível para estudo foi excluída.
O
principalmotivo de
exclusão foi por causas administrativasou
por falta deconsentimento
familiarquando
o
paciente apresentavaum
prejuízo cognitivo(3l,4% dos
excluídos).Noventa
eum
pacientes(26,7%)
se
recusaram
a participardo
estudo.A
amostra
apresentouum
predomínio
do
gêneromasculino
eda
raça branca.A
idademédia
i
desvio padrão(DP)
foi de 53,1i
18 anos, variandode
l8 a99
anos.A
média
de
escolaridadei
DP
foide
5,5 :L-4
anos.As
principais características sócio-demográficasTABELA
1-
Características
sócio-demográficas
da amostra
(N=893)
Característican
%*
Gênero
Masculino
573
64,2Feminino
320
35,8Idade
(anos) 1 8-64628
70,62
65
262
29,4Raça
Branca
757
34,3 Parda69
7,7Negra
52
5,8Estado
Civil Solteiro(a) 1 1 1 12,4 Casado(a) /Amasiado(a)
527
59,0 Separado(a) / Divorciado(a) 1 14 12,3 v¡úv0(a) 124 13,9Escolaridade
(anos) 0 (analfabeto)94
1 1,2 1 _4
351 41,7 5 _ 3216
25,7>
3 180 21,4FONTE: HU-UFSC,
2000-200212
Dos
pacientes avaliados,18,2%
foram intemados devido
adoenças de origem
circulatória,
14,4%
pordoenças
respiratórias e14,1%
por causas digestivas(Figura
l).Hematoló ficas Outras ‹ -
O 5
24%
Circulatórias 6 4*18%
Mal definidas Endócrinas8%
Respiratórias14%
Neurológicas D. estivas lg9%
14%
Figura 1
-
Distribuição dos pacientes da amostra por motivo de internaçãoVinte e sete e
meio
por centoda amostra
ocupava
leitosda
clínica médica,14,8%
da
cardiologia e
14,2%
da
gastroenterologia(Figura
2).Efld°°fifl°1°gifl
5%
°““aS6%
clínica Médica28%
Hematologia
7%
Neurologia 11%
, Cardiologia15%
Pneumologia14%
Gastroenterologia14%
13
A
condição clínicamais
freqüente entre os entrevistados foi Hipertensão Arterial Sistêmica, seguidode
Diabetes Mellitus,como
pode
serobservado
naTabela
2.TABELA
2
-
Características
clínicasda amostra
(N =
893)
Característica clínica
n
%
História
de
Hipertensão Arterial Sistêmica320
35,8História
de
Diabetes Mellitus 151 16,9 História deDoença
Pulmonar
ObstrutivaCrônica
138 15,5 Históriade
InfartoAgudo
do Miocárdio
89
10,0 Históriade
Acidente Vascular Cerebral66
7,4FONTE: HU-UFSC,
2000-2002Encontramos
uma
prevalência global de30,8%
de comorbidade
psiquiátrica atual,sendo que
as três categorias diagnósticasmais
freqüentesforam
prejuízo cognitivo (16,2%), transtomos relacionados a substâncias(7,2%)
e transtomosdo
humor
(5,4%).Nenhum
pacientecumpriu
critérios para transtomos alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo,mania
ou
hipomania. Paramelhor
compreensão
e análise dos resultados,agrupamos
algunsl4
TABELA
3
-
Prevalência
de
comorbidade
psiquiátrica
nas enfermarias
de
Clínica
Médica
do
HU-UFSC
através
de avaliação
psiquiátrica
pela
entrevista
semi-estruturada
MINI*
(N=893)
TRANSTORNO
PSIQUIÁTRICO
ATUAL
II oh?1. Prejuízo Cognitivo*
Delirium
Demência
Outros transtomos
com
declínio cognitivo2. Transtornos
do
Humor
Episódio Depressivo Maior
Distimia atual
Mania/Hipomania
3. Transtornos de
Ansiedade
Transtomo
do PânicoAgorafobia
sem
Pânico atualFobia Social
Transtomo
Obsessivo-CompulsivoTranstorno de Estresse pós Traumático
Transtorno de Ansiedade Generalizada
4. Transtornos Relacionados a Substâncias Transtomos relacionados ao álcool
- Dependência de álcool -
Abuso
de álcoolTranstornos relacionados a outras substâncias
- Dependência de outras substâncias -
Abuso
de outras substâncias5. Transtornos Alimentares
6.
Transtorno
de Personalidade Anti-Social145 53 87 5 48 42 6 zero 47 2 lS 2 zero 3 25 64 57 50 7 22 l8 4 Zero 6 16,2 5,9 9,7 0,6 5,4 4,7 0,7 zero 5,2 0,2 1,7 0,2 zero 0,3 2,8 7,2 6,4 5,6 0,8 2,4 2,0 0,4 zero 0,7
Prevalência Global
de
Comorbidade
Psiquiátrica275
30,8Fonte: HU-UFSC. 2000-2002
* MINI = “Mini Intemational Neuropsychiatric lnterview"45
J'
Um
mesmo paciente poderia ter mais de um diagnóstico psiquiátrico1 Prejuízo Cognitivo = Delirium e/ou Demência. Estes pacientes receberam diagnósticos através de
avaliação clínica
15
5.
DISCUSSÃO
A
prevalênciade comorbidade
psiquiátrica encontrada foide
30,8%
e estáde acordo
com
a literaturanacional”
e intemacional.25“ 29` 37 Valores encontradosem
estudos préviosvariam de
31%”
a6l%,30 sendo
dificil a confrontaçãode
dados, vistoque cada
estudo adotava instrumentos e pontosde
corte variados,sem
um
consenso na definição de
“caso”.6Este estudo utiliza critérios
do
DSM-IV”
para diagnósticodos
principais transtornos psiquiátricos,ou
seja,somente
se considerouum
“caso” aqueles pacientesque respondiam
positivamente acada
transtomo avaliado peloMINL45
Estedado
é importante vistoque
outros estudos encontraram taxas
de
prevalência superiores,4l,9%25
e49%”
quando
consideravam
sintomas psiquiátricosem
qualquer grau.Quando
avaliamos os transtomosdo
humor
eem
particular a depressão,observamos
que
as nossas taxas(5,4%
e4,7%
respectivamente) estão de acordocom
a encontrada porSilverstone et al.” para depressão (5,l%).
Em
contraste, outros estudos6° 27” 29) 3°” 38° 39` 42apresentam
resultados bastante superiores,com
19%”
a51%”
de
seus pacientessendo
considerados deprimidos.A
prevalência encontradadepende
claramente dos critériosempregados.
Estudosque
utilizaram instrumentoscomo
o
CIS
2132” 38 eo
BDl34` 38'39'”
42avaliavam
sintomasou síndromes
depressivas eencontraram
taxasmais
elevadasde
depressão, sugerindoque
esteaumento
na
prevalência era às custasdos
casos levesda
doença,ou de
sintomasque
muitas vezespodem
ser esperadoscomo
reações“normais”
àdoença
fisica. Tais pacientesnão
eram
considerados nos outros instrumentospor não
preencherem
critérios diagnósticos para episódio depressivomaior
ou transtomo
depressivo maior.Em
contrapartida,o
estudode
Silverstone,25 analisado acima, baseava seus critériosdiagnósticos
no DSM-IV,31
e encontrou taxasmais
reduzidas,provavelmente
refletindoapenas
os casos de gravidademais
significativa. Se, porum
lado,um
diagnóstico categórico permite determinar seo
pacientetem
ou não
depressão,sendo
útil paramelhor
compreensão
emanejo do
paciente, estepode não
ser compativelcom
a realidadeque
seapresenta
no
hospital geral.Segundo
Furlanetto, “oque
se observa éuma
ampla
gama
de
gravidadede
transtomos depressivos, sobretudocom
altas taxasde síndromes
leves emoderadas, tomando-se
mais
exeqüível e eficaz neste contexto buscar diagnosticar “o16
A
ansiedade apresenta-se nos pacientes de hospital geral, àsemelhança da
depressão, através
de
sintomas leves e inespecíficos, fazendo parte, muitas vezes,da
situação ansiogênica caracterizada por
uma
combinação de
ansiedade, depressão epreocupações, vividas pelo paciente ao lidar
com
a suadoença
física, até adaptar-se a ela eao
ambiente
hospitalar.Em
alguns estudosõ” 26' 35é considerada dentro
do
grupo “transtomo
emocional” ou
“transtornodo
humor”.
Em
outros éabordada
isoladamente e/ou associada à depressão.27' 32* 35A
prevalênciageral
de
transtomosde
ansiedade encontrada foide 5,2%,
àsemelhança
dos estudos deMaguire
(6,7%),29Desphande
(3,4%),37 Bridges (4%)27 e Silverstone (6,7%).25 Diferentemente,Botega
et al.,em
dois estudos,encontraram
taxasde
prevalência
de
ansiedademuito
superiores aos encontradosem
outros estudosda
literatura(26,9%
e 20,5%).32' 35 Tal resultado deve-se, provavelmente, ao fato de os instrumentosutilizados por
Botega serem mais adequados
para rastreamentoque
para diagnóstico,uma
vez
que
avaliam a presença de sintomas enão de
transtomos específicos.Poucos
estudosde
prevalência decomorbidade
psiquiátrica retratam freqüênciade
transtomos relacionados a substânciasnos
pacientesintemados
em
hospital geral.Encontramos que
7,2%
dos pacientesapresentavam algum
tipode dependência
ou
abuso,sendo
adependência
ao álcool amais
comum
dentre elas (5,6%).Nossos dados
consonam
com
os resultadosde
Silverstone et al.,25que
encontraramuma
prevalênciade
5,1%
paraabuso/dependência
ao
álcool. Estudos prévios,no
entanto,revelam
taxasmenores de
alcoolismo (0,6%29 e 0,4%37).
É
possívelque
esta diferença seja explicada pelas diferentesmetodologias aplicadas.
Outro
aspecto a ser considerado é a diferençana amostragem.
Espera-seque
em uma
população predominantemente
masculina,como
ado
presente estudo (64,2%), encontre-semaior
prevalênciade
transtomos relacionados a substâncias.Comparando
um
grupo
com
diagnóstico de alcoolismo e outrosem
este diagnóstico, Silverstone et al.25observaram
que o
número
dehomens
no
primeirogrupo
erasignificativamente
maior
quando
comparado
com
o segundo.A
condição clínica prejuízo cognitivo foi amais
freqüente entre os pacientes avaliados neste estudo (l6,2%).Como
visto anteriormentena
revisão da literatura, a freqüência geral destetranstomo
varia entre 3,5 a 33%,6' 25' 29sendo que há
uma
predominância
para valoresmais
elevados.Quando
comparamos
nossosdados
aosde
estudosque revelam maior
prevalênciade
prejuízo cognitivo,observamos que
diferenças17
No
presente estudo,um
número
elevadode
pacientes,27,6%,
foi excluído.Era de
se esperarque
tais pacientes apresentassem taxasmais
elevadasde
comorbidade
psiquiátrica,visto
que
muitas das exclusõeseram
de
pacientescom
alteraçõesda
cognição e que, pornão
teremum
familiarque
consentissecom
a realizaçãoda
pesquisa,não
puderam
fazer parteda amostra
estudada.O
mesmo
ocorreucom
Maguire”
que
encontrou prevalênciamuito
baixa de transtornosda cognição
(3,5%),com
uma
taxade
exclusãode 26,1%.
Sabe-se
que
a freqüênciade
prejuízo cognitivo variade
maneira
importantesegundo o
instrumento usado, o pontode
corte determinado, a idademédia
da amostra
e seu graude
escolaridade.ó* 19
A
prevalênciade
demência observada
neste estudo(9,7%)
estáde acordo
com
a de Erkinjuntti (9,l%),'9porém,
com
diferençasno
instrumentoempregado
ena
idadeda
amostra.Delíríum
foi diagnosticadoem
5,9%
dos pacientes. Taldado
é similar aode
Silverstone,
que
encontrou taxade
6,1%
para delirumna amostra
estudada.”A
boa
atuaçãomédica
depende,fimdamentalmente, de
um
tratamentoadequado
adoenças
corretamente reconhecidas.O
modelo
biomédico no
qual aMedicina
ocidental se baseia favorece muitas vezesque o
serhumano
seja visto deuma
maneira
cartesiana,dicotomizada, separando-se
corpo
e mente.48No
entanto,sem
poder
estabeleceruma
relação causal,notamos
uma
grandeconcomitância
de
transtornos mentais edoenças
fisicas. Este
conhecimento
é importante vistoque
acomorbidade
psiquiátrica influide
maneira
significativana
evolução clínica,aumentando
o
sofrimento eo
número
de mortes
destes pacientes.'2” 14* lí 19
Porém,
paraque possamos
tratarde maneira
adequada
acomorbidade
psiquiátrica, primeirotemos que
diagnosticá-la e daí a importância deconhecer
sua prevalência.Os
resultados proporcionados por este trabalhopodem
auxiliarno
ensinoda
psiquiatria nesta universidade,uma
vez
que refletem
a realidade localde
nossa população.O
conhecimento da
prevalênciade comorbidade
psiquiátricano
hospital geraltambém
possibilitauma
melhor
organizaçãodo
serviço de Psiquiatria para atender àsnecessidades clínicas e
um
melhor
preparo dos atuais e dos futuros profissionais.Como
limitaçõesdo
presente estudo,podemos
citar:l) a alta taxa
de
exclusão,que
pode
terprovocado
uma
subestimaçãodos
problemas
psiquiátricos
-
é possívelque
muitos dos pacientes excluídos apresentassemalgum
transtomo
mental, entre eles principalmente prejuízo cognitivo;2) o uso
de
uma
entrevista semi-estruturada para fazer os diagnósticode
transtornos mentais,na
qual os resultados encontrados são categóricos,ou
seja,ou
setem
ou não
sel8
tem
o transtornoem
questão.Sabemos
que
no
hospital geral seriamais
válidoum
diagnóstico feito a partirde
uma
avaliação clínica,que
permitisse distinguir e analisar osdiversos matizes
da doença
eo
“quanto”do
transtornoo
paciente apresenta.”No
entanto, aopção
porum
instrumento padronizadotem
vantagens, principalmenteno que
tange àpossibilidade
de
reaplicaçãodo
estudo,na comparação
com
dados da
literatura eem
sepoder
chegar aum
diagnóstico psiquiátrico demaneira mais
simples, diagnosticando os casosque mais
sebeneficiariam
com uma
intervenção adequada.Nossos
resultados revelamuma
alta prevalênciade comorbidade
psiquiátrica entre pacientesintemados
nas enfermariasmédicas
pordoenças
fisicas.Assim,
enfatizamos anecessidade
de
diagnosticar tais transtomos mentais,uma
vez que o
seu tratamentopode
melhorar
a condição físicado
paciente e sua qualidadede
vida, repercutindo positivamentetambém
em
seuentomo
familiar,além de
trazer benefícios parao
próprio hospital e equipede
saúde, vistoque
pacientescom
comorbidade
psiquiátricarequerem maior
tempo
eatençao
da
equipede
enfermagem
egastam mais
com
maior
número
de
reinternações e19
6.
CONCLUSÃO
l.
A
prevalência deComorbidade
Psiquiátrica entre os pacientesintemados
nasenfermarias de clínica
médica do
Hospital UniversitárioHU-UFSC
éde
30,8%.
20
7.
NORMAS
ADOTADAS
Este trabalho foi realizado seguindo a normatização para trabalhos
de
conclusãode
2]
8.
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Amorim
P.Mini
lntemational Neuropsychiatric Interview (MINI): validaçãode
entrevista breve para diagnóstico
de
transtomos mentais.Rev
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Norusis
MJ.
SPSS/PC
10.0Base Manual.
Chicago:SPSS
Inc.; 2000.Capra
F.O
ponto de mutação
-A
Ciência, aSociedade
e a Cultura emergente.São
Paulo: Editora Cultrix; 1982.26
FICHA
DE
COLETA
DE
DADOS
1:1 Excluído? (circule o motivo)
1: Imp. Física; 2: +7dias; 3: <l8a; 4: recusa; 5: outros ... ._
1-
Nome:
... .. 2-Data da
Intemação: ... ../ ... ../ ... .. Pront.: ... _.3- Leito: ... ..
CID-10:
... ..Espec: E1
Cln
med
U
CardioU
Pneumo
1:1 GastroU Endocr
E1Neuro U
Hemato
E1 outras 4-End:
... ..N°...Apto: ... ..Cidade: ... ..UF: ... ..CEP: ... ..Tel: ... ..Cel: ... .. 5- Sexo: |:|
Masc
E1Fem
6- Idade: ... ._
Data de
Nasc.: ... ../ ... ../ ... ..(dd/mm/aaaa)7- Raça:
U Branca U Parda
E1Negra
1:1Amarela
E1 Outras ... _.8- Estado Civil: El Solteiro E1
Casado/Amasiado
|::|Viúvo
E1 Separado/Divorciado9- Escolaridade: ... ..anos
10- História
de
Hipertensão Arterial? |:|não
1:1sim
11- História de
IAM?
E1não
E1sim
12- História de Diabete? |:|
não
1:1sim
(U tipo I/ 1:1 tipo II)13- História
de
Acidente Vascular Cerebral?(com
seqüelas) E1não
1:1sim
14- História deDoença
Pulmonar
ObstrutivaCrônica?
E1não
1:1sim
15-
Comorbidade
Psiquiátrica Atual? |:|não
E1sim
Se
sim, qual (ais)? ... .. Diagnóstico(s) peloMINI
(DSM-IV):
... .., ... .., ... .., ... ..TCC
UFSC
CM
0484
ELI Nbflflm- lL,L, Urbt. L,1v1 u‹+‹›4Autor: Becker, Angela Bue
Título: Prevalência de comorbidade psiqu
97281 1908 Ac. 253633
Ex.1 UFSC BSCCSM