' I'
PE
182
Am?
UNIVERSIDADE EEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA
SIEILIS CONGENITA PRECOCE NO RECÉM-NASCIDO CASOS DIACNOSTICADOS NA MATERNIDADE CARMELA DUTRA
FLORIANÓPOLIS - S.C.
AUTORES: ADEMIR MASSANARES
HEITOR KAMIGASHIMÁ ORIENTÂDOR: AIRSON CAMILO STEIN
Curso de Graduaçao em Medicina Zla. fase
Florianopolis, dezembro de Z985
Ao Dr. Airson Camilo Stein e ao Dr. Lúcio José Botelho, pe-
~ , ~
lo estimulo, colaboraçao e orientaçao.
A todos que deram sua contribuição, particularmente às nos-
sas companheiras, Magaly e Maria Salete.
:*`
I II III IV V VI VII VIII IX SUMÁRIO - RESUMO . . - INTRODUÇÃO . - OBJETIVOS . .
..
- MATERIAL E MÉTODOS . . - RESULTADOSA - Número de casos por ano
B - Dados maternos . . . .
C - Dados neonatais ; - DISCUSSÃO
A - Número de casos por ano
B - Dados maternos . . . . C - Dados neonatais . . - CONCLUSÕES . . . - SUMMARY . . ~ BIBLIOGRAFIA . ANEXO I . _
Os autores estudaram 22 casos de Siƒilis Congënita Precoce nos Recém-Nascidos diagnosticados na Maternidade Carmela Dutra,
no periodo de janeiro de l982 a agosto de l985, inclusive. Estes casos foram estudados, segundo os dados maternos e neonatais.
Os autores finalizando, discutem a realização do pré-natal
e condições sócio-econãmicas. .wi › z I I § › ¡ _.<-¬.._¬_¬_r...-l
II - INTRODUQÃO
A siƒilis ê uma doença sexualmente transmissivel causada pe-
lo Treponema pallidum. É uma enfermidade relatada em praticamente todos os paises do mundo e que nao tem predileçao especial por
determinados grupos ëtnicos ou sexo, porem, incide mais nas clas- ses menos privilegiadas ( CUNHA e col., l983).
Doença exclusivamente humana, e transmitida quase sempre por
contato direto e, raramente, por contato indireto, atraves de so-
luçao de continuidade na pele ou mucosas.
Outra forma de transmissão da siƒilis ê a passagem
transpla-~
centdria da bactéria, causando a sifilis congênita. Com relaçao a
esta ƒorma de transmissão da doença, constatou-se na literatura pesquisada:
"O antigo conceito de que o espiroqueta so atravessa
a placenta depois do quarto mês ficou seriamente abalado pelos trabalhos de Hanter e Bernirschke, que encontraram esses organismos em dois conceptos no primeiro trimestre
de gravidez em um grupo de cinco, provenientes de uma cli- nica de aborto terapêutico” (Martino, apud BELDA, l985).
Quando uma mulher em condições de procriar contrai a siƒilis
e não ë devidamente tratada, em até 50% dos casos pode transmitir a doença para o ƒeto, se engravidar dentro de um periodo de mais
ou menos dois anos (Klaus & Fanaroƒƒ, apud MARTINO & col., l977).
Porém, se a mulher estiver grdvida, a presença de siƒilis recente
representa um risco de quase lOO% de probabilidade de contamina-
~ A
çao do feto, na ausencia de tratamento (CARVALHO e col., l983).
Conforme ROCHA (l98l):
'M gestante sifilitica ndo tratada em tempo hdbil po-
derá ter um feto natimorto (principalmente no ultimo tri- mestre), um recem-nascido infectado ou, excepcionalmente,
um recém-nascido sadio. A criança infectada poderá nascer com as manifestações da doença ou aparentemente normal,
apresentando sintomatologia geralmente a partir da segunda semana de vida”.
A partir da década de l940, com a difusao do uso da penici-
lina, a siƒilis tornou-se rara em todo o mundo, a tal ponto que,
na decada de l950, segundo MARINHO (l982), "alguns dermatologis-
tas chegaram a prever a completa erradicação das treponematoses”. .-.
Na década de l960, porém, a incidencia das doenças venêreas
voltou a assumir lugar de destaque nas estatisticas de morbidade,
devido ao estimulo de diversos fatores socio-economicos e cultu-
rais. Entre esses fatores podem ser citados os novos metodos con- traceptivos e a conseqüente liberalização sexual, o incremento do
turismo, os movimentos migratórios, a menor influência religiosa
sobre os costumes e 0 grande avanço dos meios de comunicaçao, que
causou a propagação mais rápida de um modo de vida liberal.OARVA-
LHO e col. (l983) citam:
" z ø ~ z ~
Calcula-se que mais de 250 milhoes de infecçoes por gonorrëia e cerca de 50 milhões de casos de siƒilis ocor-
ram, anuabwente no mundo”.
Acompanhando este aumento de incidência da sifilis em adul-
tos, a forma congênita da doença também teve um crescimento (RO-
CHA, l98l). Examinando um grupo de gestantes, no periodo de 3 de
dezembro de l979 a 28 de fevereiro de l980, na Agência Central do
INAMPS, em Florianopolis - S.O., CARVALHO e col. (l983) encontra-
ram positividade sorolõgica para lues em 3% das pacientes.
,&_
v
\
07
Conforme definição dada pelo Ministério da Saúde, a presença
da infecção luëtica em menores de dez anos, com ou sem manifesta- çães clinicas e com sorologia positiva, constitui a siƒilis con-
A N
genita. Segundo RAMOS (l978), a presença das manifestaçoes cli- nicas da lues ao nascimento ou até os dois anos de idade ë chama-
da Sifilis Congënita Precoce (SGP).
A sifilis constitui um problema de saude publica de extrema
- ~
importancia, tendo em vista a gravidade das manifestaçoes clini-
cas e das complicações tardias que podem incidir na criança in-
ƒectada durante a gestação.
No presente estudo abordamos a SCP em recém-nascidos (RN) do
ponto de vista do diagnostico, manifestações clinicas, epidemio- logia e da necessidade de intensificação da sua prevenção. Esta
vem assumindo um caráter de crescente importãncia diante dos
constantes relatos de recrudescimento da doença, que . contrastam
~
com a extrema facilidade de detecçao e de tratamento das gestan
tes sifiliticas.
Como forma de dar continuidade a este trabalho, sugerimos um
estudo abrangente da maneira como vem sendo prestada a assisten-
cia prë-natal em nossos serviços de saúde.
- Estudar a SCP em RN, a partir dos casos diagnosticados na Ma- ternidade Carmela Dutra (MCD), em Florianopolis, no periodo
de janeiro de l982 a agosto de l985, inclusive.
--Salientar as ƒormas de maniƒestaçao clinica da SCP em RN en- contradas nos casos estudados.
- Estabelecer o número de mães que relataram ter realizado o
pre-natal, nos casos de SCP em RN estudados, considerando a
procedência.
- Relacionar a SCP em RN com as condições sócio-economicas.
Iv - MA1'ERIAL`E ME1'0nos
Este trabalho ë um estudo retrospectivo de casos de SCP
diagnosticados em RN, na Maternidade Carmela Dutra, de janeiro
de l982 a agosto de l985, inclusive.
Com base nos livros de registro disponiveis, selecionamos
os possiveis casos de SCP em RN, para posterior confirmaçao ou
não do diagnõstico, nos prõprios prontuãrios do Serviço de Ar-
quivo Mëdico e Estatistica (SAME) onde, em etapa posterior efe-
tuamos o levantamento dos dados, através de um protocolo (Anexo
I).
Consultando a bibliografia levantada, elegemos os dados de
maior valor para a realização deste trabalho, dividindo-os em
dois grupos principais: "Dados Maternos" e "Dados Neonatais". Estes
grupos foram subdivididos, respectivamente, em:'Taüms eühñasfl
"Distribuição étnica", "Estado civil”, "Condições sõcio-econõmicas", "Proce- dëncia", "Realização do pré-natal” e "Sorologia para lues", e 'flabde gesta-
cional", "Peso de nascimento", "Classificação quanto ao peso de nascimento",
"Sexo", "Manifestações clinicas", "Manifestações laboratoriais”, "Manifesta-
ções radiolõgicas” e "Evolução".
A terapêutica não foi considerada neste trabalho, tendo em
vista que existe um padrão estabelecido de tratamento da SCP na
MCD, sendo que as variações na dosagem e na duração se dão em
função do peso do RN.
Nas tabelas realizadas não foram utilizados valores percen- tuais devido ã amostragem que conseguimos obter (menor que 30
Para a ƒundamentaçao metodológica deste trabalho, consulta-
mos os livros: Manual do Autor (IBGE, l979) e Apresentação de
Trabalhos Escolares (BECKER e col., l98l).
V - RESULTADOS
A - Número de casos por ano
Tabela I - Distribuiçao por ano dos casos de SCP em RN diagnostt-
cados na MOD, em Florianopolis, de janeiro/82 a agos-
to/85. Ano NQ de casos l982 l983 l984 l985 * 04 07 06 05 Total 22
Fonte: SAME da MOD.
*Até 30 de agosto de l985.
B - Dados maternos
l. Faixas etárias
A faixa etária das 22 maes variou de l4 a 39 anos de idade
Tabela II - Faixa etária das maes dos RN portadores de SCP diag-
nosticada na MOD, em Florianopolis, de janeiro/82
agosto/85. Idade N? de casos 10
|--
25 15|--
20 20}--
25 251-
30 30 |--¡ só >35 Ol 06 09 05 0l Total 22 Fonte: SAME da MCD.lã
2. Distribuição étnica
Foi observado um predomínio das maes brancas sobre as nao
brancas.
~ 4 ~
Tabela III - Distribuiçao etnica das maes dos RN portadores de
SCP diagnosticada na MCD, em Florianopolis, de ja-
neiro/82 a agosto/85 Cor NQ de mdes Brancas l3 Nao Brancas 08 Não Consta Ol Total 22 Fonte: SAME da MCD. O 3. Estado civil ¿ .ø ~ ~
Observou-se igualdade numerica entre maes solteiras e maes
casadas.
4. Condições sõcio-economicas
Houve uma distribuiçao igual dos casos entre maes de clas-
ses menos favorecidas.
Tabela IV - Condições socio-economicas das mães dos RN portadores
de SCP diagnosticada na MCD, em Florianopolis, de ja-
neiro/82 a agosto/85. Classe N? de casos Particular - Previdenciárias (INAMPS) ll Indigentes* ll Total 22 Fonte: SAME da MCD.
* Casos atendidos via Serviço Social.
l5
.~
5. Procedencia
Nota-se um predominio de mães procedentes de dreas periƒê-
- . ‹ . . 4 , _ 4
ricas do municipio de Florianopolis e de outros munici-
pios da Grande Florianopolis.
Tabela V - Procedëncia das mães dos RN portadores de SCP diagnos- tiãada na MOD, em Florianopolis, de janeiro/82 a agos-
to 85. ' Procedëncia NQ de casos Áreas Centrais * 04 Áreas Periƒëricas** 06 Grande Florianopolis *** ll Não Consta Ol Total 22 Fonte: SAME da MGD.
* Bairros geograficamente mais proximos do centro comercial
e administrativo do municipio de Florianópolis. ** Outros bairros do municipio de Florianopolis.
*** Considerou-se como Grande Florianopolis os outros municí-
pios dessa regiao.
6. Realizaçao do pré-natal
Houve uma diferença, para mais, de apenas um caso pelo la- do das maes que nao realizaram o pré-natal.
Tabela VI - Realização do exame pre-natal pelas mães dos RN por-
-tadores de SCP diagnosticada na MCD, em Florianópolis
de janeiro/82 a agosto/85. Pré-Natal' N? de casos sim 09 Nao l0 Não Consta 03 Total 22 Fonte: SAME da MCD. Q.
l7
7. Sorologia para lues
Em dez prontuários não havia referência d sorologia das mães. Entre as l2 mães em que a sorologia foi realizada oito ƒoram reagentes.
Tabela VII - Sorologia para lues das mães dos RN portadores SCP diagnosticada na MCD, em Florianõpolis, de neiro/82 a agosto/85. 3 de ja Sorologia N? de casos Positiva O8 Negativa 04
La?
Não Consta Total 22 Fonte: SAME da MCD. .C - Dados neonatais
l. Idade gestacional
A idade gestacional dos RN estudados variou de 30 semanas
casos ocorreu na ƒaixa de 38 a 42 semanas (l3 casos)
Tabela VIII - Idade gestacional dos RN portadores de SCP diag-
'nosticada na MCD, em Florianopolis, de janeiro/82
a agosto/85.
e um dia a 43 semanas e tres dias. A maior frequência d
Semanas NQ de casos 28
|--
ss ossal--sã
se [_--| 42 is >42 ,/ 05/ Total 22 ` Fonte: SAME da MCD.l9
2. Peso de nascimento
Nos 22 casos estudados constatamos uma variação no
dos RN de l.4l0 a 4.000 g.
Tabela IX - Peso dos R0 portadores de SCP diagnosticada na
em Florianopolis, de janeiro/82 a agosto/85.
peso
MCD
Peso (em gramas) N? de oasos
<l.000 l.000 l.500 2.000 2.500 3.000 >3.500 a l a l a 2 a 2 a 3 499 999 499 999 500 01 05 0.3, 04 os 03 Uyv-/\ Total 22 Fonte : SAME da MCD. U»
Classificação por pesoãde nascimento
X
1}%\A maior parte (lã) dos RN recebeu a classificação AIG
(adequado para a idade gestacional). Quatro receberam a
classificação PIG (pequeno para a idade gestacional) e
três, GIG (grande para a idade gestacional).
Sexo
2l
5. Manifestaçoes clinicas
Relacionamos na Tabela X a freqüência das manifestações encontradas, constantes do quadro clinico de SCP citado na
literatura pesquisada.
X - Manifestaçoes clinicas dos RN portadores de SCP diag-
nosticada na MCD, em Florianõpolis, de janeiro/82 a
agosto/85.
Manifestações clinicas N? de casos
U ¬ Dificuldade Respiratõria p l2 Anemia 03 Hepatomegalia 04 Tabela
~____
Es lenomegalia 03 Ictericia 03 Edema de MMII 02 Lesões Conjuntivais 02 Lesões de Pele Úí Hipotermia ' õ 01 Nariz em Sela ÚZSem manifestação clinica 07
Fonte: SAME da MCD.
A soma do numero de casos excede a 22, pois em muitos RN
ocorrem mais de uma manifestação clinica.
(Venereal Disease Research Laboratory), qualitativa
quantitativamente, no soro e no liquor, e IgM FTA-ABS
(IgM Fluorescent Treponemal Antibody Absorption Test) soro e no liquor.
Tabela XI - Manifestações laboratoriais dos RN portadores de SCP
diagnosticada na MCD, em Florianopolis, de janeiro/82
a agosto/85. Resultado NQ de casos ÃQ§iii22_ Negativo Não Consta l7 03 02 Total 22 Fonte: SAM E da MCD.
23
7. Manifestaçoes radiolõgicas
Foram considerados os exames radiolõgicos visando detectar manifestações õsseas da SCP. Dos nove casos em que foram solicitados radiografias, cinco apresentaram sinais radio- lõgicos compativeis.
Tabela XII - Manifestações radiolõgicas dos RN portadores de SCP
diagnosticada na MCD, em Florianõpolis, de janei-
ro/82 a agosto/85.
Exame Radiolõgico NQ de casos *
Com manifestações 05 Sem manifestaçoes 02 Sem laudo O2 Não consta \/ L/. C3
É
Total 22Fonte: SAME da MOD.
8. Evolução
* Dos 22 RN estudados, 20 evoluiram para alta em periodos
variáveis de oito a 20 dias. Um teve õbito no sétimo dia e
um foi transferido para o Hospital Infantil Joana de Gus-
mão, apõs dez dias de tratamento.
A - Numero de casos por ano
O ano em que se constatou, na MCD, 0 maior númgrg de gasgs de
SCP em RN foi o de l983, em que observamos sete dos 22 RN estuda-
dos. O ano com o menor numero de casos foi l982, com quatro siƒi-
liticos. 2
No ano de l984 ƒoram constatados seis casos e em l985, até 30
de agosto, cinco casos.
Observa-se, portanto, que apõs l983, depois de um súbito au- mento em relação a l982, manteve-se uma freqüência com pouca vari- ação, aparentemente tendendo d diminuição do numero de casos. Po-
rém, deve ser lembrado aqui o fato de que a coleta de dados ƒoi
realizada no mês de setembro de l985, ficando, portanto, excluidos deste estudo os eventuais novos casos que venham a ocorrer até o
final deste ano.
B - Dados maternos
l. Faixa etária das mães
A faixa etãria de 20 a 25 anos apresentou nove das 22 mães
dos RN portadores de SCP. A ƒaixa de l5 a 20 anos apresentou seis
e a de 25 a 30 anos, cinco mães. Observa-se, portanto, que l4 mães
situaram-se na ƒaixa de 20 a 30 anos, concordando com os trabalhos
de CARVALHO e col. (l982} e CUNHA e col. (l983), onde se constata
uma maior incidência nesta faixa etãria.
2. Cor
Observou-se predominio das mães de cor branca, perfazendo lã
25
entre os 22 casos pesquisados, discordando da literatura consul-
tada, como MARTINO e col. (l982) que, traçando um "perfil da ges-
tante sifilitica”, afirmam tratar-se de uma mulher ”...geralmente
de cor preta ...". Porém, diante da composição étnica da popula-
ção de nossa região, este dado perde sua significação epidemiolo- gíca (TAFNER & SILVEIRA, l985).
3. Estado civil
Houve uma distribuiçao por igual entre as maes casadas e as
solteiras. Na literatura consultada houve sempre predominio de
mães solteiras.
4. Condiçoes socio-economicas
Nenhum caso de atendimento particular foi observado entre os
22 casos estudados. Destes, ll tiveram atendimento previdenciário
todos pelo INAMPS, inclusive uma mãe encaminhada pela FUCABEM
(Fundação Catarinense para o Bem-Estar do Menor) e uma interna do
Hospital Colonia Santana, e ll foram atendidas como indigentes
via Serviço Social. Em todos os casos estudados, as mães perten- cem a classes menos ƒavorecidas,»concordando com a literatura
consultada.
5. Pré-natal
A resposta ao quesito relativo ã realização do exame prê- natal, do qual faz parte a sorologia para lues (BELFORT, . l982),
foi afirmativa em nove dos 22 prontuãrios pesquisados e negativa
em dez. Estes dados são discordantes da literatura pesquisada:
MARTINO e col. (l982) relatam 82% de mães que não realizaram o
pré-natal e l8,2% que afirmaram tê-lo realizado. 6. Sorologia para lues _
Em dez prontuãrios não constava a sorologia para lues da mãe
Em oito houve positividade sorolõgica e em quatro a sorologia foi
negativa.
Na bibliografia consultada nao encontramos referência a es-
tudo estatistico da sorologia materna para lues comparando à so-
rologia do RN. MARTINO e col. (l977) afirmam que quando a sorolo-
gia materna mostrar positividade em diluições iguais ou superio-
res a l:l6, realizam o exame tambem no RN. Se a titulagem, então,
for igual ou maior que a da mae, o RN e considerado doente.
C - Dados neonatais
l. Idade gestacional
Seguindo a classificação citada por BATISTA (l982), observa-
mos que entre os 22 RN estudados, êš)nasceram a termo,<šÊEb
tive-Â
~ 4 4
ram a classificaçao de pre-termo e
Qš) pos-termo.
Segundo FISZBEYN (l98l), a prematuridade está presente em 25
Q
a 50% dos casos de sifilis congenita.
2. Peso de nascimento '
Foram constatados nove RN de baixo peso, considerando-se co- mo tal toda criança que tenha nascido com peso inferior a 2.500 g
independente da idade gestacional (BATISTA, l982).
MARTINO e col. (l977) referem uma incidencia de 27,9% de RN
de baixo peso. Já FISZBEYN (l98l) obteve uma incidência de sete RN de baixo peso numa amostragem de oito casos de sifilis congê-
nita.
Observa-se, portanto, que os dados constantes na literatura pesquisada são bastante variados, e que o valor obtido neste es-
tudo situa-se dentro dos limites formados pelos dois indices ci-
H
27
tados acima, em que pese a pequena amostragem do segundo traba-
lho.
3. Classiƒicaçao por peso de nascimento
Classificando-se os RN quanto ao peso de nascimento pela curva de Bataglia e Lubchenco (BATISTA, l982), obteve-se em l5
dos 22 RN a classificação AIG (adequado para a idade gestacional)
e em quatro, a classificação PIG (pequeno para a idade gestacio-
nal).
Na literatura pesquisada, não encontramos referências indi- cando a sifilis como causa importante de retardo no crescimento intra-uterino. FISZBEYN (l98l) afirma ser raro tal fato.
4..Sexo
Concordando com a literatura pesquisada, ndo houve predomi- nio de nenhum dos sexos, constatando-se a ocorrência de igual nu- mero de casos em ambos.
5. Manifestaçoes clinicas
As manifestações clinicas mais freqüentes foram a dificulda-
de respiratõria, constatada em l2 dos 22 RN, e a anemia em oito. ROCHA (l98l) relata que a dificuldade respiratõria foi cons- tatada em 53% de 46 casos estudados. Segundo CROSSE (l980):
"Os sinais precoces suspeitos incluem obstrução na-
sal, exantema penƒigoide ou pleomõrfico (face, nádegas,
solas dos pes e palmas das mãos), hepatoesplenomegalia, ictericia e pneumonia alba”.
MARTINO e col. (l977) alertam para a dificuldade do diagnõs-
tico clinico tendo em vista que o quadro clássico de SCP, do qual
fazem parte pënfigo palmo-plantar, crânio-tabes, fronte olimpica,
coriza, esplenomegalia ou hepatoesplenomegalia, pneumonia alba e
pseudoparalisia de Parrot, raramer . 5 encontrado. Os mesmos au-
tores chamam a atençao, ainda, para a frequencia com que os RN portadores de SCP se apresentam totalmente assintomdticos, che- gando nos registros de seu serviço a cerca de um terço dos casos.
Em nosso estudo constatamos sete RN sem qualquer manifesta- çao clinica sugestiva de SCP e que tiveram o diagnostico firmado
laboratorialmente.
6. Maniƒestaçoes laboratoriais
O VDRL ë considerado o melhor meio para a investigação roti-
neira da siƒilis, em vista de seu baixo custo, facilidade de exe- cução e sensibilidade (CARVALHO e col., l983), porem, não ë ne-
cessariamente positivo em todos os casos de lues congenita (Casa- grande, apud KRUEL e col., l983).
Em nosso trabalho, analisados os 22 casos, l? apresentaram
VDRL positivo no soro. Destes, três tiveram solicitado VDRL do
liquor, resultando positivo em dois casos. Foi solicitado IgM
FTA-ABS do liquor em dois casos, resultando positivo em um deles.
7. Manifestações radiolõgicas
Segundo SACHDEV (l982), "a radiologia desempenha um papel
importante no diagnostico precoce da siƒilis congênita”. Porem, ela por si sõ não estabelece esse diagnostico, já que p existem
outras patologias como a anemia eritrobldstica, traumas obstëtri-
cos, raquitismo, periostite ossiƒicante traumática do RN, que po-
dem também apresentar sinais radiológicos de metaƒisite (KRUEL e
col., l983). '
Em nosso estudo constatamos cinco casos de RN portadores de
SCP em que haviam maniƒestaçães Õsseas confirmadas radiologica- mente. Estas manifestações são constituidas principalmente de
29
taƒisite de ossos longos dos MMII, concordando com a afirmação de
KRUEL e col. (l983), segundo o qual a primeira fase do envolvi- mento Õsseo, "comumente ao nascimento ou logo apos, ë a osteocon-
drite ou metaƒisite”.
8. Evoluçao
Dos 22 casos analisados, um evoluiu para o obito, em 7 dias
e um foi transferido para o Hospital Infantil Joana de Gusmão. Os
restantes 20 RN evoluiram para a alta hospitalar em prazos que variaram de oito a 20 dias.
Este resultado se aproxima do apresentado por MÁRTINO e col.
(l977) que, em 2l2 casos diagnosticados de siƒilis congênita,
re-¿
latam l8 obitos.
l. 2 3 4 5 6. 7. 8 9 l0. ll. v`\'. K0
O numero de casos de SCP em RN diagnosticados por ano tem a-
presentado pequenas variaçães, praticamente se estabilizando.
É
Ê`mãÍvr\nímero de filhos portadores de SCP no periodo peri-natal ocorreu entre mães da faixa etária de 20 a 25 anos. Houve um pre inio de mães de cor branca.
O estado civil das mães não influiu na incidência de SCP nos
22 RN estudados.
Os casos ocorreram com igual freqüência entre as maes das classes menos favorecidas.
Das 22 mães l7 vieram de áreas mais distantes do centro de
Florianópolis.
Apr imadamente metade das mães não realizaram o pré-natal.
De l2 maes em que foi realizada a sorologia para lues, oito
foram reagentes.
Mais da metade dos RN afetados nasceram a termo.
Nove dos 22 RN portadores de SCP tiveram baixo peso ao nasci-
mento.
As manifestações clinicas predominantes foram a dificuldade
respiratõria e a anemia.
Houve um considerãvel numero de RN sifiliticos sem manifesta- çoes clinicas que sugerissem a infecçao.
Sl
Os exames laboratoriais confirmaram a grande maioria dos casos
O exame radiolõgico foi pouco utilizado na pesquisa dos casos
de SCP em RN.
A grande maioria dos RN evoluiu para a alta hospitalar.
The authors have studied 22 cases oƒ early congenital sy-
philis on newborn of Maternidade Carmela Dutra during the period of January l982 to August Z985. The cases were studied ƒollowing
the maternal and neonatal data.
To conclude the authors discuss the performance of exams and socio-economical conditions.
IX - §¿BLIoGRAFIA
BATISTA, N. Alves. Classificação do Recém-Nascido. In: MURAHOVSCHI, Jayme.
ãediatria Diagnostico e Tratamento. Sa. edição. São Paulo. Sarvier,
982.
.~ ,
BATISTA, N. Alves_et alii. Siƒilis Congânita. In: MURAHOVSCHI, Jayme. Pe
diatria Diagnostico e Tratamento. 3 . edição. São Paulo. Sarvierg l982
~ ~
BECKEEL Fernando et alii. Apresentacao de Trabalhos Escolares. 5a. ediçao.
Porto Alegre. Redacta-Prodil, l98l. 5l p.
BELDA, Walter. Lbenças Sexualmente Transmissiveis. Anais Brasileiros ,de Defiwatologia, 60(3): l24-l27, l985.
.~
BELFOR¶z Paulo. Assistencia Pré-Natal. Doenças Infecciosas eaParasitãrias.
Aspectos Clinicos. In: Rezende, Jorge de. Obstetricia. 4 . edição. Rio
de Janeiro. Editora Guanabara Koogan S.A., l982. p. 238-252.
BOGLIOLO, Luigi. Siƒilis Congênita.
In:---
. Patologia. Sa. edição. Riode Janeiro. Editora Guanabara Koogan S.A., l98l. l236 p.
BRASIL. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. .Manual
do Autor. Rio de Janeiro, I.B.G.E., l979. l05 p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Normas para diagnõstico, tratamento e controle de do-
enças sexuabwente transmitidas. Bol. Div. Nac. Derm. Sanit. 37: 9-l4, l978.
CARVALHO, J. P. de Paula et alii. Siƒilis em gestantes atendidas na Agên- cia Central do INAMPS de Florianopolis, S.C. Anais Brasileiros de Der- matologia, 58(2): 67-70, l983.
CROSSE, V. M. Siƒilis Congënita.
In:---
. O Recém-Nascido Prematuro. 8a.edição. São Raulo, Manole, l980. p.l92.
CUNHA, V. Fernandes da et alii. Aspectos do problema da siƒilis em duas
unidades de atenção na capital de São Paulo. Anais Brasileiros de Der- matologia, 58(2): 63~66, l983.
FISZBEYN, celso. sífilis congênita. In; SEGRE, Conceição A. M. & AHMELLINI
Pedro A. R.N. São Paulo, Sarvier, l98l. p. 529¿536.
l3 l4 l5 l6 l7 l8 l9 20 2l 22 23 24 25 26 L\3 `×1 28 29 30
FURTADO, T. Azveo. sífilis. Ia; EoGLIoLo, Luigi. Pavozovva. sa. ediçao. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, l98l. p. ll68-ll69.
GOLDENBERG, José et alii. Artropatia de lues secundária. Rev. Bras. Reumat.
22(4)z iôz-iss. ago. 1982. “__” "'" _'
GOLDEMBERG, P. et alii. A dimensão social das doenças II - Positividade das reações de Wassenwan e VDRL em convocados para o serviço militar no Es- tado de São Paulo (Brasil), de l972 a l978. Rev. Saude Publica, ` São
Paulo, Lô; iss-z4s, 1982.
GUTHE, Thorstein. Siƒilis. In: BEESON, Paul B. & MGDERMOTT, Walsh. TratadO
de Medicina Interna. Rio de Janeiro. Interamericana, l975. p. 542-555.
JORGE, J. CL Controle de qualiáhde de reações sorolõgicas para a siƒilis em
laboratories de saude de¡Florianopolis, Santa Catarina. (Tese de Dou- toramento), Fac. Saude Publica, USP. São Paulo, l984.
KRUEL, Germano et alii. Lues Congënita. Arq. Cat. Med., l2(3): l79-l82. se-
tembro, l983.
MARINHO, D. E. de Azevedo. sífilis (Euvvevveva). E.M., iz(8)z 20-22. ouvu- bro, l982.
MARTINO, Hélio de et alii. Siƒilis Congënita: recrudescimento e seus aspec-
tos atuais. J. Ped., 42(4): 27-Sl, l977.
--. Siƒilis_Congënita: incidência, morbidade e mortalidade no Hospital U-
niversitario Antonio Pedro (HUAP). J. Ped. 52(3): lll-ll2, l982.
PROENÇA, N. G. & FREITAS, T. H. P. A siƒilis na atualidade, no Brasil. Rev.
Ass. Med. Brasil., 27(l): 43-45, l98l.
RAMosà J. L. A. ev aiii. sífilis. In; MARCONDES, Eduardo. Pedvavvva Básvoa.
6 . edição. São Paulo. Sarvier, l978. p. lOO9-lO24.
ROBBINS, S. L. Doenças Bacterianas. In:
---.
Patologia Estrutural e Fun-cional. Rio de Janeiro. Interamericana, Z974. p. 349-350.
ROCHA, Liane Port da. Siƒilis Congënita Precoce. J. Ped., 5l(l): 36-38,l98l
SAAD, E. A. et alii. Doenças Infecciosas â Parasitãrias. Aspectos Clinicos.
In: REZENDE, Jorge de. Obstetrícia. 4 . edição. Rio de Janeiro. Editora
Guanabara Koogan S.A., l982. p. 48l-482.
SACHDEV, M. et alii. Osseus Maniƒestations in Congenital Syphilis: A Study
of 55 Cases. Clinical Radiologu, 33(3): 3l9-323. l982 may 3.
SAMPAIO, S. A. P.aSiƒilis. In: VERONESI, Ricardo. Doenças Infecciosas e Pa-
rasitãrias. 6 . edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan S.A.
l976. p. 8l7-82l.
--. Siƒilis. In: PRADO, F. Cintra et alii. Atualização Terapêutica. lâa.
edição. São Paulo. Editora Artes Medicas, l98l. p. 669-670.
SAMPAIO, S. A. P. et aläi. Siƒilis e outras Treponematoses. In:
---.
Der-matologia Bãsica. 3 . edição. São Paulo. Editora Artes Medicas, l983,
p. 3ll-32l.
3l - ¶%F¶EfiQ Edson & SILVEIRA, Pierre. Siƒilis Congënita Precoce: Casos inter- nados no Hospital Infantil Joana de Gusmão e no Hospital Universitá-
rio. Irabalho de conclusao do Curso de Medicina ~ UFSC. Florianópolis
l985.
32 - WÀL¶¶¶L P. et alii. The Placental Lesions in Cbngenital Syphilis. A Study
oƒ Six Cases. Wirohows Arch., 387(3): 3l3~3l6, l982.
Qu
PROTOCOLO DADOS MATERNOS:
Nome: Estado civil
Idade: Cor:
Procedëncia: Escolaridade:
Condiçoes socio-economicas:
Pre-natal: sim ( ) VLCZ
NQ gesta: Idade gestacional:
VDRL: positivo ( ) negativo ( ) ndo consta Í )
Data do parto: DADOS NEONATAIS:
Sexo: Peso:
APGAR: primeiro minuto:
Maniƒestaç5es.clinicas: Manifestações laboratoriais: VDRL: - sangue: positivo ( ) - liquor: positivo ( ) FTA-ABS! - sangue: positivo ( ) - liquor: positivo ( ) Exame radiolõgico: solicitado ( negativo negativo negativo negativo nao solicitado ( ) sem laudo ( ) .›. N? Registro o ( ) quinto minuto ( ) nao ( ) não ( ) não ( ) não consta consta consta consta com alteraçao sem alteraçao
- Evoluçao: alta ( J transferencia ( ) Óbito
l`CC UFSC PE 0182 Ex.l NUM" TCC UFSC PE 0182
Autor Massanares, Ademxr
Txtulo Slfills congemta precoce no rec