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Educação alimentar na escola : metodologias de abordagem nas escolas do ensino básico

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Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação

Universidade do Porto

2002/03

E D U C A Ç Ã O ALIMENTAR N A ESCOLA

Metodologias de Abordagem nas Escolas do Ensino Básico

(2)

JHJOTECA

ÍNDICE

1. Introdução 1 2. A educação alimentar como parte integrante de um projecto de

promoção da saúde 3 2.1. Concepção de uma política de educação alimentar a

nível nacional 5 2.2. Concepção e aplicação de programas de educação

alimentara nível de escola 9 3 - 0 projecto de educação alimentar na escola 24

3.1. Diagnóstico 26 3.1.1. Situação alimentar a nível da escola 26

3.1.2. Actividades educativas realizadas 28 3.1.3. Conhecimentos, preferências e práticas alimentares 28

3.1.4. Conhecimento das condições sócio-económicas 29

3.2. Preparação das acções 29 3.2.1. Definição de prioridades 29

3.2.2. Definição de objectivos 30 3.2.3. Escolha das actividades 31 3.3. Realização das actividades 33

3.4. Avaliação 34 4. A educação alimentar e os currículos 35

5. Análise crítica 39 6. Conclusão 43

(3)

ii / | L

LISTA DE ABREVIATURAS

EA Educação Alimentar EB Ensino Básico

EPS Educação para a Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

(4)

Ill

RESUMO

A existência, de um número cada vez maior de crianças e adolescentes com padrões alimentares pouco saudáveis, padrões estes que tenderão a perdurar na idade adulta e o aparecimento precoce de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo2 e alguns tipos de cancro justificam a implementação de programas de Educação Alimentar (EA) nestes grupos etários.

A Educação para a Saúde (EPS), de que faz parte a EA deve ser uma prioridade a nível escolar. Os programas de EA implementados em escolas devem estar apoiados numa política de EA a nível nacional.

A escola é um local privilegiado para se implementar programas de EA, pois nela é possível abranger alunos, docentes, não docentes, família e comunidade envolvente. O êxito destes programas engloba um conjunto de aspectos, como a existência de orientações, formação de professores, existência de materiais adequados, uma abordagem sequencial ao longo de toda a escolaridade, uma duração adequada em cada ano lectivo, a criação de um ambiente escolar coerente com as mensagens de uma alimentação saudável, o envolvimento global de toda a escola, a indispensável inclusão da família e um planeamento cuidado dos projectos.

A planificação dos projectos de EA nas escolas deve merecer uma atenção particular, a nível do diagnóstico, preparação e realização das actividades, assim como merecer uma avaliação contínua e final.

Estes programas devem estar, preferencialmente, integrados nos currículos e a sua abordagem deve ter um carácter transversal. Os aspectos relacionados com a sua implementação devem ser bem estudados, para que se possa efectuar

(5)

uma coordenação de esforços de todos os intervenientes e assim atingir a meta de poder implementar nos jovens, hábitos alimentares saudáveis de forma duradoura.

(6)

1. INTRODUÇÃO

1

Educação alimentar (EA) é o conjunto de acções que pretendem promover a aquisição de conhecimentos na área da alimentação e nutrição e a implementação de atitudes e comportamentos alimentares saudáveis em indivíduos, grupos de indivíduos ou populações, atendendo aos hábitos alimentares existentes e às características sócio-culturais e tendo como objectivo final a promoção da saúde do indivíduo e da comunidade 1 2 A Educação para a

Saúde (EPS), de que faz parte a EA é de fundamental importância na infância e adolescência por promover a aquisição de comportamentos saudáveis e a sua permanência durante a idade adulta2'3.

Os conhecimentos científicos actuais apontam, inequivocamente, para a importância de uma alimentação saudável como meio de se conseguir a promoção da saúde. Os hábitos alimentares dos jovens estão em rápida mudança, abandonando práticas alimentares saudáveis, para adoptar modelos quase universais, que podemos designar de "tipo ocidental" 4 Os jovens, em

idade escolar, constituem um grupo etário muito diversificado quanto à permeabilidade a influências, positivas ou negativas, nos seus hábitos alimentares5.

Parece consensual que a escola é o local privilegiado para se poder efectuar uma educação alimentar eficiente, abrangente e com resultados duradouros 3'6,7,8.

Nela, diariamente, os jovens passam muitas horas, ao longo de vários anos, passam por estádios fundamentais do seu desenvolvimento e ali recebem uma importante fatia da sua formação; ali existem profissionais qualificados no processo de ensino/aprendizagem, aí a atenção e a aprendizagem são a regra5,9.

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Actualmente, a escola não se resume a alunos e a professores. Hoje, a comunidade escolar envolve, activamente, alunos, professores, encarregados de educação, auxiliares de acção educativa, funcionários administrativos, autarquias

10 11

e associações culturais e recreativas

Onde juntar tão vasto leque de agentes, senão na escola? E por tão nobre propósito que é o dos pais quererem uma boa formação para os seus filhos. Naturalmente que nem todas as escolas serão esta comunidade participada e envolvente que se pode depreender do que atrás se disse.

Convém lembrar que a família tem um papel fundamental na educação integral dos jovens, não esquecendo a educação alimentar12,13. Mas, relativamente a este

aspecto, estarão as famílias preparadas para o fazer? Não necessitarão elas também de informação a este nível? E as situações de disfuncionamento familiar ou os problemas sócio-económicos?14 A escola poderá ter um papel relevante na

informação e formação das famílias, no que concerne à educação alimentar a par de outras medidas de saúde pública. Começa, assim, a perceber-se a dimensão global da educação alimentar.

Quase todos os jovens cumprem a escolaridade obrigatória e mais de metade frequenta o ensino secundário15. Devemos ainda lembrar que muitos já

frequentaram jardins-de-infância. Durante este período de passagem pela escola, os jovens atravessam etapas cruciais no seu desenvolvimento e, em algumas delas, existe uma grande receptividade para a aprendizagem e assimilação de atitudes positivas, nomeadamente no que respeita a cuidados de saúde e hábitos alimentares saudáveis 9.

Jardins-de-infância, escolas do 1o ciclo do EB, escolas do 2o e 3o ciclos do EB

(8)

3

fases do crescimento dos jovens que as frequentam são muito diferentes e exigem abordagens de educação alimentar diferenciadas 16.

O propósito deste trabalho é contextualizar e problematizar as metodologias de abordagem da educação alimentar nas escolas do EB.

2. A EDUCAÇÃO ALIMENTAR COMO PARTE INTEGRANTE DE UM PROJECTO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE

Actualmente, é reconhecida a importância da alimentação no crescimento e desenvolvimento humanos e a influência dos hábitos alimentares no aparecimento de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2, alguns tipos de cancro, etc. 5'8'17-18. Os nossos problemas de saúde estão, cada vez mais,

ligados ao estilo de vida e aos comportamentos alimentares pouco saudáveis que, se adquiridos na infância e adolescência, tendem a perdurar na idade adulta, tornando-se de difícil mudança 8'9,17.

Estes factos e a constatação das altas taxas de morbilidade por doenças metabólicas e o seu aparecimento em idades cada vez mais precoces 19>20'21

justificam a implementação de programas de promoção da saúde, a nível nacional, regional e local.

Os conceitos de Promoção da Saúde e EPS não são novos: existem desde o início do séc. XIX. Acompanharam a evolução da concepção de saúde, ao longo do tempo, naturalmente marcada pelo contexto histórico, cultural, filosófico e pelo progresso científico. A partir dos anos oitenta, prevalece uma concepção ecológica da saúde que se preocupa com o estabelecimento, desde a infância, de

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estilos de vida saudáveis, de ambientes propiciadores de saúde, tendo em conta os aspectos físicos, psicológicos e sociais 922.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) apoiou este modelo de Educação para a Saúde e impulsionou, em 1991, a formação da Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde (REEPS). Portugal aderiu à REEPS em 1994.

«Uma escola promotora de saúde é aquela que proporciona condições óptimas de desenvolvimento emocional, intelectual, físico e social dos alunos» . Numa escola é importante: (a) a aquisição de conhecimentos, que constituem uma base importante de toda a formação, a par de um bom desenvolvimento intelectual e físico; (b) a capacitação para a tomada de decisões de forma autónoma, fundamentada e consciente; (c) a promoção da estima e a auto-confiança; (d) o desenvolvimento de competências a nível da participação, selecção e escolha 923. A escola, como instituição de socialização, de formação e

de expressão da vida pública, tem obrigação desenvolver nas crianças e jovens os saberes, as práticas e os valores duma cidadania activa. Nos componentes de uma educação para a cidadania podemos identificar a formação pessoal para a autonomia moral e a responsabilidade, o conhecimento e o juízo crítico, a empatia e a comunicação, a formação social para a escolha e a decisão, a cooperação, a intervenção e o compromisso 16. Ora, estes aspectos da formação dos jovens, são

importantes para uma consistente EPS.

As áreas de actuação de uma escola promotora de saúde são variadas e devem compreender a dimensão psíquica, física e social ^2 e envolver actividades

como os malefícios do tabaco, a EA, a saúde oral, a actividade física, a educação sexual, as doenças sexualmente transmissíveis, a saúde mental, a prevenção do uso e abuso de substâncias lícitas e ilícitas, a higiene e segurança, etc24. A

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5 enumeração deste vasto leque de assuntos, permite-nos compreender que a EA é um dos vários temas que é solicitado à escola desenvolver. A EPS deve fazer parte de um processo educativo cuja função é a formação integral dos alunos 9.

No âmbito da EPS, a EA deve merecer um destaque privilegiado. Tal é reconhecido, a nível nacional e internacional 3,4,5,8,14,17,23,25,25,26,27,28,29,30,31

2.1. Concepção de uma política de EA a nível nacional

A concepção de uma política alimentar e nutricional para a população portuguesa é considerada fundamental para a melhoria dos hábitos alimentares dos indivíduos e dos padrões alimentares das populações. De entre as várias medidas resultantes da implementação de uma política nutricional surge a EA3031.

A EA é entendida como um conjunto de experiências de aprendizagem que têm como finalidade proporcionar uma voluntária aquisição de conhecimentos relativos à nutrição e uma adopção, por vontade própria, de comportamentos alimentares, ambas conducentes a um bom estado de saúde 2'32.

A EA deve ter, no âmago da sua concepção, uma visão centrada no "aprender a aprender" em termos de competências, procedimentos e estratégias, que garantam uma continuidade da aprendizagem e a adaptação do Homem às rápidas mudanças que hoje se verificam. Podemos, então, dizer que, em EA, a aquisição de conhecimentos é importante e necessária, mas não é suficiente. A intervenção a nível de comportamentos, atitudes e valores é fundamental. O "eu sei, eu quero, eu faço" é importante para a mudança de comportamentos 33.

Em EA é necessário ter em conta as orientações e acções tomadas a nível nacional, quando se desenham programas a nível de escola. É muito importante

(11)

que coincidam nos fundamentos, nas mensagens e tipo de materiais utilizados, para que uma e outra tenham êxito.

As recomendações para a população portuguesa, em termos nutricionais, elaboradas pelo Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição, são as seguintes: «1- Promoção do aleitamento materno; 2- aumento do consumo dos hidratos de carbono complexos; 3- aumento do consumo de fibra; 4- redução do consumo dos lípidos totais, em especial à custa dos ácidos gordos saturados e colesterol; 5-redução do consumo de sacarose; 6- 5-redução do consumo do sódio; 7- 5-redução do consumo do álcool; 8- ingestão adequada de cálcio; 9- ingestão adequada de flúor; 10- adequação alimentar às necessidades energéticas»31.

As recomendações elaboradas com base na análise da Balança Alimentar Portuguesa revelam algumas fragilidades, que têm a ver com a natureza das Balanças Alimentares. Por isso, é importante acrescentar, a essa análise, novos dados, referentes a reais consumos, através de inquéritos nacionais ao consumo alimentar e estudos a grupos específicos da população34. Não só se obteria uma

determinação mais rigorosa dos consumos, como se conheceriam diferenças entre determinados grupos de população, diferenças regionais e locais. Estes três últimos aspectos são particularmente importantes para se elaborar programas de EA a nível regional ou local e a sua articulação com acções de EA nas escolas.

Para se implementar um programa de EA, há que compreender que os hábitos alimentares são de grande complexidade e dependentes de muitos factores, que formam uma complicada teia de interacções como se pode constatar na figura 1 .

(12)

7

Infra-estruturas Comunicações

Política Economia Clima Tradições Características geográficas Infra-estruturas Comunicações Características geográficas Disponibilidade de alimentos Disponibilidade de alimentos

Estado de saúde Escolha de alimentos Disponibilidade

económica

Estado de saúde Escolha de alimentos Disponibilidade

económica Disponibilidade económica Educação alimentar Tabus Religião Nível cultura educativo e Educação alimentar Tabus Religião Nível cultura educativo e Família Preferências alimentares Costumes de cada local Publicidade Marketing Bartrina, JR; 2001

Figura 1 - Esquema dos principais factores condicionantes da escolha alimentar

Não cabe no âmbito deste trabalho explorar que tipo de intervenções se deverão efectuar para a definição de uma política nutricional nacional. No entanto, será natural reflectir sobre o que podemos esperar de uma política nutricional no âmbito da EA. Podemos, assim, enumerar alguns aspectos considerados fundamentais 17:

• Realização de inquéritos nacionais ao consumo alimentar e estudos alimentares e nutricionais a grupos específicos da população.

• Estudo dos determinantes do consumo de alimentos e dos hábitos alimentares.

• Conhecimentos actuais dos factores nutricionais implicados no aparecimento de doenças.

• Recomendações, fundamentadas, sobre os objectivos prioritários a nível alimentar e nutricional.

• Conhecimento de recomendações alimentares e nutricionais para grupos específicos da população (crianças, adolescentes...).

(13)

• Conhecimento das estruturas e organizações implicadas no campo da nutrição.

• Implementação de programas de EA.

• Elaboração e divulgação de material de apoio a projectos nacionais e locais. • Disponibilidade de pessoal qualificado para supervisionar programas de EA. • Apoio aos media e dos media.

• Orientações sobre a dinamização de acções de EPS em meio escolar.

Parece importante, neste momento, apresentar um caso prático, da acção de um país sobre esta matéria. Em França, consultas a peritos e um estudo pedido ao "Haut Comité de la Santé Publique", constituído por pessoas de reconhecida competência, permitiram enumerar um conjunto de informações, que, de forma resumida, a seguir se apresentam 17:

• Inequívoca relação existente entre a alimentação e o aparecimento de doenças.

• Doenças cardiovasculares como a primeira causa de morte.

• Percentagem elevada de tumores malignos, com o aparecimento estimado de 240 000 novos casos por ano.

• 7% a 10% dos adultos são obesos, assim como 10% a 12,5% das crianças, valores estes que têm vindo a aumentar de forma assustadora nos últimos anos.

• Altas percentagens de osteoporose, em mulheres. • Alta prevalência de diabetes.

• Valores elevados de colesterolemia da população (quase 1 em cada 5 com valores superiores a 2,50 g/l.

(14)

9

• Custos económicos, directos e indirectos, consideráveis com as patologias acima referidas.

• A alimentação saudável é um factor do bom estado de saúde e de bem-estar.

Atendendo a estes dados, o governo francês resolveu implementar um programa nacional tendo como prioridade a nutrição e designado Programme

National Nutrition-Santé PNNS 2001-200535.

Foram definidos nove objectivos nutricionais prioritários em termos de saúde pública, nove objectivos nutricionais específicos, princípios gerais e eixos estratégicos de acção.

Não é um programa de EA, mas sim um instrumento de política nutricional. É importante como base para se implementar programas de EA e possui na sua estrutura acções de EA.

2.2. Concepção e aplicação de programas de EA a nível de escola

Escolas - locais de eleição para efectuar EA

As escolas são locais de eleição para o lançamento de programas de EA 3,5,7,8,9,23,36,37,38.

• Pelas escolas passam a quase totalidade das crianças e adolescentes, por um período longo da vida, de forma continuada, em ambiente dedicado à educação e à aprendizagem.

• As crianças em idade escolar passam por um período de grande receptividade à aprendizagem. Esses saberes influem a família.

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• Hábitos saudáveis adquiridos na infância e adolescência tendem a perdurar na idade adulta. Os primeiros anos de escolaridade podem ser marcantes na aquisição de estilos de vida e padrões alimentares saudáveis.

• Há estudos que revelam que intervenções a nível da EA e EPS fazem aumentar o rendimento escolar.

• As escolas são os locais onde os pais e encarregados de educação se deslocam, de forma voluntária e regular, para acompanhar a situação dos seus educandos, pelo menos nos quatro a seis primeiros anos de escolaridade.

• Nas escolas é possível efectuar aprendizagens em diferentes áreas do saber, orientadas por profissionais em educação.

• Os estabelecimentos de ensino são, talvez, os locais onde mais facilmente se pode chegar a um leque alargado da população, incluindo os jovens, os professores, os funcionários as famílias e a comunidade. Este aspecto é especialmente importante quando é fundamental intervir a nível dos jovens e das suas famílias.

• São locais onde existe a oportunidade de fazer EA através das refeições escolares e disponibilidade de alimentos consistentes com as mensagens transmitidas. Muitos alunos fazem na escola três refeições diárias (lanche da manhã, almoço e lanche da tarde).

• São os locais onde é possível relacionar a alimentação saudável e o estado nutricional com o desempenho a nível cognitivo e físico.

• Nas escolas é possível a integração no currículo de informação nutricional. • São locais onde se pode actuar através de diferentes áreas disciplinares.

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• As escolas podem e devem educar os jovens a lidar com as pressões sociais, dentro e fora da escola, sejam dos colegas, dos media ou outras. • Vários estudos têm revelado que a EA na escola melhora os hábitos

alimentares dos jovens.

• As intervenções de EA nas escolas mostram uma boa relação custo/benefício.

• As intervenções de EA na escola podem beneficiar a comunidade.

O êxito de programas de EA na escola

O sucesso das intervenções de EA, nas escolas, requer uma abordagem

3 5 7 8 14 21 23 32 39 40

global tendo em conta os seguintes aspectos

• Promover e implementar bons programas de EA para todas as crianças e adolescentes, de forma sequencial, ao longo de toda a escolaridade.

• Desenvolver um conjunto de linhas de orientação sobre alimentação e nutrição, para crianças e adolescentes.

• Encorajar a criação de programas locais de promoção de hábitos alimentares saudáveis.

• Desenvolver acções de formação para professores e outros intervenientes envolvidos em EA.

• Produzir, promover e difundir materiais de EA, adequados aos vários níveis de ensino, utilizando mensagens claras e estratégias diversificadas de modo a reforçar as mensagens transmitidas.

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• Partilhar troca de experiências e informações entre escolas e outras instituições sobre assuntos relacionados com nutrição e alimentação de crianças e adolescentes.

• Utilizar estratégias educacionais relevantes, variadas e comportamentalmente dirigidas, embora não possam ser esquecidos os domínios cognitivo e afectivo.

• Efectuar pesquisas e partilhar os seus resultados.

• Dedicar, em cada ano lectivo, um tempo adequado para a aplicação dos programas de EA.

• Envolver os pais e a família.

• Desenvolver acções em sala de aula, adequadas ao escalão etário, culturalmente relevantes, e, sempre que possível, de carácter prático.

• Promover um ambiente escolar (nomeadamente a nível das refeições escolares, cantina, cozinha, bufete e serviços de alimentação) coerente com as mensagens transmitidas e que lhes sirva de reforço.

• Efectuar acções de formação sobre alimentação, nutrição e manipulação de alimentos ao pessoal de cozinha, e responsáveis pelos serviços de alimentação.

• Efectuar intervenções na comunidade onde está inserida a escola. • Respeitar os hábitos alimentares próprios da cultura tradicional local.

• Ter em conta a situação económica das famílias e as disponibilidades alimentares.

• Obter supervisão e aconselhamento especializados, nomeadamente por nutricionistas e envolvimento dos serviços de saúde.

(18)

13 • Integrar as acções de EA com outros programas de EPS.

• Efectuar uma avaliação durante e depois da aplicação das intervenções de EA e efectuar, sempre que necessário, os ajustamentos necessários.

Adequação dos programas de EA à realidade local

A definição de programas de EA a nível de escola permite adequar as mensagens à realidade local, nomeadamente do ponto de vista cultural, social e económico. Embora o desenho de um projecto de EA seja mais adiante estudado, é importante, neste momento, referir que os programas de EA devem ser cuidadosamente preparados 29. De um modo geral, podem distinguir-se quatro

etapas na sua concretização: diagnóstico, preparação das actividades, realização das actividades e avaliação 2A\ Uma formação adequada dos responsáveis pela

intervenção é fundamental, tal como uma boa organização geral do programa, mesmo em assuntos que, inicialmente, nos poderão parecer menores, como a importância da comunicação, as estratégias a adoptar, a definição das mensagens, a tomada de atitudes positivas, a fuga às atitudes proibicionistas 1l 8,28

Muitas vezes a concretização de objectivos muito bem definidos colide com as estratégias propostas e com a concretização das actividades.

Podemos reflectir sobre alguns exemplos práticos: Propagandear que se deve ingerir x gramas de sal diariamente terá o efeito desejado, que é o de se reduzir o consumo de sal? Como reduzir a quantidade de sal na preparação dos alimentos? Talvez falar do modo de confeccionar os alimentos para o conseguir; talvez utilizar uma receita tradicional e reformular a sua confecção. Outros pormenores a

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ter em conta serão, como exemplo: falar da importância da culinária saudável e exemplificar com determinadas receitas, propagandear os sucessos, explicar como adequar as refeições ao horário de trabalho, perceber se há tempo para fazer merendas e em que condições e propor soluções 28. Divulgar aspectos

funcionais do modo como atingir determinado objectivo poderá ser mais proveitoso do que enumerar regras teóricas, aparentemente simples, mas que muitas vezes não são fáceis de pôr em prática.

Recursos humanos

Outro aspecto importante a ter conta relaciona-se com os recursos humanos, que são deveras importantes 29. A aplicação de programas de EA, no terreno,

exige conhecimentos na área da educação, tanto quanto na área do conhecimento científico. É importante ser bom educador e saber sensibilizar a população alvo 28. A motivação e a formação dos professores e de todo o pessoal

envolvido na aplicação dos programas de EA deve ser um aspecto a merecer realce 3'5'7'8.

Coordenação entre profissionais de saúde e iconografia e linguagem utilizadas

Parecem existir algumas contradições entre os profissionais de saúde sobre questões importantes no campo da nutrição, tal como existem algumas incoerências entre notícias nos media. Pelo menos essa é a sensação que transparece por parte dos alunos e do público, em geral. É realmente importante que entre os nutricionistas e todos os outros profissionais de saúde haja um

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15

discurso unívoco nas questões fundamentais. Para isso, é necessário um espírito de colaboração entre todos, divulgação de estudos científicos, fundamentação das mensagens, uma coordenação e divulgação do modo como abordar as questões de alimentação e nutrição a nível nacional, etc. Por exemplo, a iconografia utilizada deve ser uniforme e coerente com as mensagens que se pretendem transmitir 28. É cada vez mais frequente utilizar-se a Pirâmide dos

Alimentos em livros e jornais para EA ou simples informação. As mensagens transmitidas, pela pirâmide, podem entrar em aparente contradição com as da Roda dos Alimentos. Verifica-se, no mesmo manual escolar, a utilização da Roda dos Alimentos e da Pirâmide dos Alimentos ^4 3 4 4 4 5 4 6 e até vários tipos de

"pirâmides", criando confusão nos alunos, pois o poder das imagens é grande e estas são apreendidas com muita facilidade.

Os nutricionistas têm de assumir a capacidade e a responsabilidade de fornecerem informações válidas, sobre alimentação e nutrição e uma responsabilidade em esclarecer e ajudar o público e os órgãos de informação. Devem divulgar mensagens positivas, práticas e não usar uma linguagem muito técnica, em situações de contacto com alunos ou o grande público. Acordos com instituições, como o Ministério da Educação, editoras, meios de comunicação social ou a publicação de artigos e livros são alguns meios de afirmar a importância do nutricionista 47. A colaboração com as editoras de livros escolares

parece uma medida importante para que os manuais utilizados pelos alunos contenham conteúdos sem erros, nem contradições e apresentando actividades adequadas.

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EA na sala de aula, currículo e transversalidade

De que modo se deve efectuar a EA na sala de aula? Integrada nos currículos ou aplicada de forma extracurricular? Centrada numa disciplina, área disciplinar ou aplicada de modo transversal às diferentes disciplinas? Para se encontrar o melhor caminho, convém lembrar que qualquer projecto necessita de alguns pre-requisites, nomeadamente, existência de meios materiais, existência de pessoal qualificado e um programa bem definido.

É defendido que os programas de EA, e também a generalidade dos programas de EPS, tenham uma integração no currículo, a intervenção das várias disciplinas e uma abordagem sequencial ao longo de toda a escolaridade 36'822.

Mas muitas vezes o conceito de transversalidade é invocado sem que se explique bem o modo como se deverá processar esse tipo de abordagem 22. Quando se

apela à transversalidade da EA na sala de aula, deve explicar-se como o fazer no âmbito das diferentes disciplinas, como a Língua Portuguesa, o Inglês, a História, as Ciências da Natureza, a Matemática, etc. Como já foi referido, a escola tem responsabilidades no desenvolvimento intelectual, físico e emocional dos seus alunos, do desenvolvimento da auto-confiança, da auto-estima, do sentido de responsabilidade, do juízo crítico, da participação, da capacidade de tomada de decisões de forma consciente, etc. Todos estes aspectos são importantes para uma sólida EPS 9'16. Todos são da responsabilidade colectiva da escola e

requerem uma abordagem transversal a todas as disciplinas.

Relativamente à EA deverá haver um programa devidamente estruturado, em que a parte de formação base será da responsabilidade de uma determinada disciplina ou área. As restantes disciplinas deverão integrar o programa com

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17 actividades de complemento e reforço das mensagens transmitidas3. Deste modo,

simplifica-se o processo, poupa-se esforços na formação e pode escolher-se os professores que possuem mais conhecimentos na área e os que estão mais motivados. Esta abordagem transversal, como qualquer outra, obriga a uma planificação muito cuidada. Saber muito bem quem faz, o quê, como e quando. Mais uma vez se acrescenta que a formação dos professores e a existência de materiais adequados são aspectos fundamentais.

Parcerias

Considera-se importante a existência de parcerias com os serviços de saúde, organizações educacionais, outras escolas, instituições de ensino superior, organizações científicas, nutricionistas considerados individualmente, associações locais, imprensa regional, rádios locais, empresas, etc. Os alunos estarão mais receptivos a mudanças de comportamentos se receberem mensagens consistentes e coerentes de diferentes pessoas ou organizações. Além disso, as parcerias deverão trazer mais-valias em termos de conhecimentos, divulgação, financiamento ou outras 7'8'36'3948

Determinantes do consumo alimentar dos jovens

Para melhor elaborar os programas de EA convém estudar, com algum cuidado, os determinantes do consumo alimentar dos jovens e o tipo de consumos que fazem nas escolas.

(23)

Crescendo as crianças no ambiente familiar não surpreende que seja a família quem tem uma influência predominante nos seus hábitos alimentares. Também sabemos que cada vez mais crianças vão para os infantários mais cedo, tendo, portanto, esses estabelecimentos uma influência significativa no desenvolvimento de preferências alimentares. Mas, para além destes dois factores, as escolhas alimentares, das crianças e jovens, estão dependentes de outras causas: disponibilidade de alimentos no seu ambiente, quer em casa, quer na escola, as preferências, o gosto, a aparência, a conveniência, a disponibilidade de tempo, o ambiente sócio-cultural onde estão integrados, os modelos, a pressão dos colegas, a aceitação no grupo, a publicidade e os meios de comunicação, nomeadamente a televisão, o preço, etc.3,5,47,48,50,51.

Num estudo de Jennifer O'Dea 51, ao contrário do que é habitual em muitos

outros, não se perguntou aos jovens por que é que não comiam "alimentos saudáveis"; pelo contrário, questionou-se por que é que eles escolhiam "alimentos saudáveis". Os maiores benefícios referidos para se fazer uma alimentação saudável foram melhor desempenho na escola, melhores resultados a nível físico, factores psicológicos, sensação de bem-estar físico e produção de energia. As maiores barreiras para fazer uma alimentação saudável foram a disponibilidade de alimentos considerados menos saudáveis, em casa, na escola, em casa dos amigos, sendo a publicidade e o preço factores com pouco significado. A referência a este exemplo serve para se perceber que estudos, utilizando abordagens diversificadas, são muito importantes para se recolher o maior número de dados possível, a fim de se poder efectuar programas de EA com sucesso.

(24)

19

Compreender as razões que levam os jovens a fazer, ou não, uma alimentação saudável é um passo importante para desenhar programas de EA.

A televisão e os hábitos alimentares das crianças e jovens

Embora a influência da televisão nos hábitos alimentares dos jovens seja um assunto que motiva controvérsia, convém realçar o papel dos media, em particular a televisão, que terá uma força muito significativa nas opções alimentares das crianças e jovens. As crianças, antes da entrada na escola e durante o tempo em que a frequentam, são espectadores assíduos da televisão e, quanto mais novas, mais profundamente são influenciadas pelas mensagens por ela recebidas e mais credibilidade lhes dão ^5 2 E as mensagens relativas a alimentos, recebidas

através da publicidade não promovem bons hábitos alimentares, atendendo a que, como refere Rocha, P et ai s, a "roda dos anúncios" é significativamente

diferente da Roda dos Alimentos. Vários estudos com crianças relacionam a compra e os pedidos de compra de produtos alimentares com os anunciados na televisão ^. Mas outra coisa não seria de esperar; não se justificaria o enorme investimento monetário em anúncios, se tal não conduzisse a um aumento das vendas.

Crianças e adolescentes

Tendo o presente trabalho como referência os alunos do EB, não nos podemos esquecer que eles ocupam uma faixa etária constituindo grupos com

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características muito diferentes. Alunos com 6 anos até jovens em plena adolescência.

A mudança de atitudes e comportamentos é mais susceptível de ser concretizada desde a pré-escola até ao final do 1o ciclo do EB 5. Este aspecto

está relacionado com a idade e a fase de desenvolvimento dos alunos, mas também com a integração dos alunos em escolas com uma tipologia característica. As escolas do 1o ciclo funcionam, predominantemente, em regime

de monodocência e os alunos não têm contacto com colegas de outros graus de ensino dentro do mesmo estabelecimento. Até ao início da adolescência, a mudança de hábitos alimentares é mais fácil do que durante esse período 5 Além

disso, nesta fase, os pais vão com mais frequência à escola e acompanham mais os seus filhos. Tendo crianças mais predispostas à aprendizagem e à descoberta, pais mais presentes e um ambiente mais propício, é extremamente importante a existência de programas de EA neste contexto.

Nas escolas do 1o e 2o ciclos, os alunos, frequentemente, trazem os lanches

de casa e muitas vezes tomam o almoço na cantina da escola. Os projectos de EA devem aproveitar este facto para promover a existência de lanches e almoços saudáveis. Estes são aspectos em que os pais devem estar envolvidos, nomeadamente recebendo informações sobre alimentação saudável, com a sua presença na escola e através da distribuição de folhetos, ou realização conjunta com os filhos de certos "trabalhos de casa" 78,36. Os alunos provenientes de

famílias com carências sócio-económicas, e que recebem ajuda em termos alimentares, devem ter refeições escolares equilibradas e em quantidades adequadas (não só os almoços, mas também os lanches).

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21 Ao longo dos anos, os alunos vão sofrendo um desenvolvimento físico, cognitivo e afectivo. Tal deve obrigar a uma adequação nos objectivos da EA. Os professores devem estar conscientes deste facto e assim poder definir objectivos adaptados ao estado de desenvolvimento dos alunos e adequar as estratégias e os materiais utilizados. Podemos referir que os alunos só a partir do início da adolescência começam, progressivamente, a possuir um raciocínio formal, mais complexo e com capacidade de abstracção œ. Encontramos aqui mais uma razão

para a necessidade de se desenvolver acções de EA de uma forma sequencial, adequada à fase de desenvolvimento das crianças e jovens e realizada ao longo de toda a escolaridade.

A adolescência é um período marcado por profundas mudanças biológicas, cognitivas, psicológicas e sociais. As mudanças sucedem-se rapidamente, a nível do crescimento, do desenvolvimento cognitivo, dos valores e da identidade. O conhecimento dessas mudanças é fundamental para uma abordagem a nível da r « 18,55,56

Maus hábitos alimentares adquiridos na infância e adolescência tendem a perdurar para a vida adulta. Na adolescência, as influências extra-familiares começam a ter cada vez maior importância. Este é um período da vida em que começam a tomar, cada vez mais, as suas próprias decisões sobre os alimentos que consomem. A aceitação no grupo, a influência dos amigos e a pressão social começam a pesar nas suas escolhas alimentares. Na adolescência o padrão das refeições é, por vezes, caótico: comem mais vezes fora de casa com os colegas, começam a comprar alimentos de forma independente, falham muitas refeições e consomem fast-food de forma exagerada. Esses maus hábitos caracterizam-se, em particular, pelo consumo excessivo de gorduras, de açúcar e de sal,

(27)

insuficiente ingestão de fruta, vegetais e leguminosas. Acresce que o nível de actividade física é, muitas vezes, insuficiente. Estes erros estão a colocar os próprios adolescentes em risco. Doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2 e certos tipos de cancro, que habitualmente começavam a surgir na meia-idade, estão a aparecer na adolescência. Tendo em atenção todos estes aspectos, é fundamental a implementação de programas de EA devidamente concebidos para atingir as diferentes faixas etárias dos jovens em idade escolar 18,21,56,57

Acções isoladas, ocasionais, improvisadas ou desenquadradas da realidade não surtem os efeitos globais pretendidos 228. As intervenções de EA devem

abranger três aspectos da aprendizagem: cognitivo, afectivo e comportamental. Não devem ser baseadas unicamente na aquisição de conhecimentos, mas dirigidos, prioritariamente, para a mudança de comportamentos, devem ter em conta todos os factores ambientais, ter uma duração e intensidade adequadas, adoptar estratégias apropriadas, ter em conta as características locais, ser acompanhadas por técnicos qualificados 21.

Um obstáculo nas acções de EA com os jovens, na sua generalidade, é a dificuldade em fazer interiorizar-lhes a relação entre os riscos de uma alimentação desequilibrada e o aparecimento de doenças no futuro, assim como os aspectos positivos consequentes de uma alimentação saudável em anos vindouros. O futuro é considerado algo que vem longe e a juventude é encarada como um escudo protector. Normalmente é um período de vida em que poucas vezes se está doente. Para os jovens o importante é o curto prazo. São poucas as vezes que eles mudam os seus hábitos alimentares pensando nas consequências futuras (positivas ou negativas). Algumas modificações dos hábitos alimentares

(28)

23

são feitas, principalmente, por motivos de obesidade, que lhes causam problemas de estética ou por outras situações pontuais 4.

No entanto, podemos utilizar esta visão a curto prazo, característica dos jovens, para os atingir e provocar uma alteração dos seus hábitos alimentares. Se soubermos quais são as barreiras e as motivações dos jovens para fazerem uma alimentação saudável e conhecermos o que eles pensam sobre as consequências imediatas da má e da saudável alimentação, teremos algo de muito importante por onde começar. Se valorizam o aspecto físico, o desempenho desportivo e a função cognitiva, então vamos efectuar a relação da alimentação saudável com esses aspectos. Será mais uma estratégia a utilizar na sensibilização dos jovens

51

O mesmo tipo de abordagem pode ser realizado com outros aspectos para lhes fazer chegar as mensagens relativas à alimentação saudável: os jovens gostam de ver televisão e ouvir rádio? Usem-se esses meios; os adolescentes têm ídolos e modelos? Utilizem-nos; a publicidade é eficaz? Usem-se técnicas de marketing 52.

Pode acrescentar-se que as mensagens relativas à alimentação saudável podem ser veiculadas de forma oculta * . Os programas de entretenimento, as séries televisivas, as novelas, os noticiários, as revistas, os livros escolares e outros meios podem transmitir, de forma perceptível, embora não explícita, mensagens de alimentação saudável. Aliás, tal processo já é feito com outros fins.

(29)

3. O PROJECTO DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR NA ESCOLA

Tal como já referido anteriormente, um projecto de EA na escola deve envolver toda a comunidade escolar: alunos, professores, encarregados de educação, funcionários, autarquias e associações (figura 2) 6'7'8,23. Estes

intervenientes já estão presentes nas escolas sendo chamados a participar activamente na gestão escolar10,11.

Nomdedeu, CS; 2000

Figura 2 - Intervenientes na EA na escola

O objectivo fulcral de um projecto deste tipo é incrementar a aquisição de conhecimentos na área da alimentação e nutrição e a implementação de atitudes e comportamentos alimentares saudáveis que perdurem durante a idade adulta, tendo em conta os hábitos alimentares existentes e as características sócio-económico-culturais 2'32.

(30)

25 Quem deve planificar este tipo de intervenções? Na escola deve ser encontrado um coordenador e um grupo de trabalho responsáveis pelo projecto. Em todas as fases da sua elaboração deve existir o envolvimento de estudantes, pais, professores, serviços de alimentação da escola e a colaboração e apoio dos órgãos de gestão. O envolvimento de alunos, desde o início da planificação, é importante para darem conta das suas necessidades e preocupações e fazer sentir-lhes a co-responsabilidade da autoria do projecto. Os pais, os professores e os representantes das autarquias e das associações locais podem assegurar a adequação do programa às características sócio-culturais locais. Pode ser pedida a colaboração de outros parceiros: jornais, rádio, serviços de saúde, serviços sociais, figuras carismáticas locais, desportistas de destaque, empresas, etc23. A

colaboração e/ou supervisão por pessoal especializado em alimentação e nutrição comunitárias (nutricionistas) é fundamental em todas as fases do processo ^.

Os Centros de Saúde, os organismos regionais do Ministério da Educação ou as Câmaras Municipais deverão admitir nutricionistas, que poderão prestar apoio nesta área. As escolas, de acordo com as suas condições, recorreriam à instituição mais adequada5.

A análise de outros projectos e as experiências que já tenham sido realizadas na escola, no âmbito da EPS, devem ser analisadas, pois poderão dar indicações úteis e fazer com que se não repitam erros.

Como já foi atrás referido, um programa de EA ou de EPS não pode resumir-se a trabalhos esporádicos e dispersos. Deve ter um carácter contínuo, sistemático, devidamente estruturado, administrado a nível dos conteúdos básicos numa determinada área disciplinar e complementado com a realização de actividades realizadas nas restantes áreas. O tempo considerado necessário para

(31)

que um programa de EA tenha impacto significativo nos comportamentos alimentares é de 50 horas 3 É de realçar que todas as disciplinas são

responsáveis pela necessária formação pessoal, social e cívica dos alunos.

Há que planificar com muito cuidado todas as fases do projecto: diagnóstico, preparação das actividades, realização das actividades e avaliação241.

"W

3.1. Diagnóstico

Um diagnóstico correctamente efectuado é fundamental para que o processo de planificação e educação alimentar sejam eficazes e os resultados válidos. Além dos aspectos, a seguir indicados, é necessário determinar a disponibilidade de recursos financeiros, humanos e de materiais disponíveis.

3.1.1. Situação alimentar a nível da escola

É necessário fazer um levantamento e análise dos produtos alimentares vendidos nos bufetes ou disponíveis nas máquinas de venda automáticas, assim como efectuar uma análise às ementas da escola e um levantamento dos produtos alimentares trazidos para a escola pelos alunos. Não deve ser esquecido realizar uma apreciação das condições de funcionamento das cozinhas e bufetes, no que respeita às condições de higiene e salubridade dos locais de recepção, armazenamento, preparação e conservação dos alimentos, verificação do equipamento e práticas dos manipuladores de alimentos. Deve fazer-se uma caracterização do refeitório e do ambiente existente durante as refeições.

(32)

27 É importante saber se os pais têm informação relativa aos produtos servidos na escola e ao seu envolvimento em actividades no âmbito da EPS. Também se poderá questionar os órgãos de gestão da escola acerca do cumprimento de directivas ou orientações sobre questões relacionadas com alimentação e formação inicial e contínua do pessoal não docente 741.

O conhecimento de todas as situações relativas à recepção, armazenamento, confecção e serviço de alimentos poderá ser secundário aos olhos dos responsáveis pela gestão das escolas. É importante que os órgãos de gestão escolar compreendam essa necessidade. Efectuar um diagnóstico tão exaustivo quanto possível poderá parecer desnecessário, mas a eleição de prioridades de actuação, só fará sentido se tal acontecer. Além disso, a EA é um processo global e mesmo que se definam dois ou três objectivos específicos, há que ter em conta que o meio envolvente poderá não ser conciliável com tais objectivos.

Podemos imaginar uma campanha, para baixar o consumo de produtos ricos em gorduras e aumentar o consumo de frutas e vegetais. As actividades a desenvolver poderiam ser a divulgação de mensagens na rádio da escola, afixação de cartazes em locais estratégicos e realização de um determinado número de palestras, etc.). É, obviamente, necessário que os serviços de alimentação forneçam alimentos e refeições de acordo com o conteúdo das mensagens. Tem que haver uma concordância entre os princípios defendidos e difundidos e as práticas 7,s. E os aspectos relativos à higiene e manipulação dos

(33)

3.1.2. Actividades educativas realizadas

É importante apreciar-se o modo como os assuntos, pertencentes ao currículo, relacionados com a alimentação e nutrição são abordados com os alunos e a relevância que se lhes dá. Deve conhecer-se as actividades educativas extra curriculares relacionadas com o tema já realizadas (assuntos, tipo de actividades, métodos, materiais utilizados, parcerias, participação/envolvimento dos pais, etc.) e as conclusões a que se chegou. Saber se existe alguém responsável pela EA, por exemplo, a nível de actividades com alunos, funcionamento de clubes e elaboração de ementas. Conhecer a oferta de formação contínua aos professores na área da EPS e EA41.

3.1.3. Conhecimentos, preferências e práticas alimentares

Há que conhecer os hábitos alimentares da população alvo. É claro que na escola os alunos são o elemento central e o alvo preferencial, mas a família tem de estar envolvida. A apreciação dos hábitos, conhecimentos e preferências alimentares serão fundamentalmente determinados através da realização de inquéritos. Os resultados destes inquéritos poderão complementar-se com outros estudos sociológicos, resultados de estatísticas ou outros trabalhos já efectuados. Embora inerente ao que se tem dito, é importante conhecer a existência de grupos específicos de população, como emigrantes ou grupos étnicos, para poder actuar conforme os seus costumes e práticas alimentares 223-41.

(34)

29

3.1.4. Conhecimento das condições sócio-económicas

O estudo das condições sócio-económicas é essencial para detectar a existência de grupos com necessidades especiais de intervenção, como crianças pertencentes a famílias com más condições económicas e/ou sociais que podem apresentar deficiências a nível nutricional.

Normalmente nas escolas é feita uma caracterização sócio-económica dos alunos logo no início do ano lectivo, que, por vezes, é suficiente para se detectar situações problemáticas 23.

3.2. Preparação das acções

Terminada a fase de diagnóstico e analisados todos os dados é necessário preparar as acções a desenvolver: traçar prioridades, definir objectivos e planear as actividades.

3.2.1. Definição de prioridades

A definição de prioridades deve ter em conta os factores positivos e negativos detectados durante o diagnóstico. Os recursos existentes (humanos, financeiros, colaborações externas, parcerias, etc.) têm, também peso nesta decisão 41.

É natural ter que hierarquizar problemas e ter que escolher alguns, em detrimento de outros. Também não é possível, nem desejável, abarcar um grande número de acções ao mesmo tempo. Por opção, ou quando os recursos são limitados, pode definir-se um número restrito de objectivos.

(35)

É indispensável ter um ambiente facilitador para a mudança de comportamentos. É natural que, do conjunto de medidas a tomar, algumas passem por esse âmbito.

3.2.2. Definição de objectivos

Para que as acções de EA nas escolas, a nível de modificação de

comportamentos alimentares, sejam válidas, convém reafirmar que é indispensável que se actue ao nível dos alunos, professores e pais. É com este pressuposto que devem ser definidos os objectivos 2.

Devem ser definidos objectivos gerais e específicos. Consideremos um exemplo:

Objectivo geral:

• Promover o consumo de vegetais, legumes e frutos.

Poderíamos definir, por exemplo, os seguintes objectivos específicos:

• Dar a conhecer à comunidade escolar as vantagens nutricionais do consumo de vegetais, legumes e frutos e do consumo de sopa. • Disponibilizar no bufete "sandes/menus saudáveis".

• Disponibilizar fruta no bufete promover a sua venda.

• Publicitar no jornal escolar, no salão dos alunos, na entrada dos blocos e no local de venda das senhas e existência de menus saudáveis no bufete da escola.

• Efectuar promoções semanais de fruta no bufete.

• Incluir legumes ou saladas em todos os almoços servidos na escola. • Construir e distribuir panfletos aos alunos e pais.

(36)

31 • Elaborar posters sobre os benefícios do consumo de vegetais,

legumes e frutos e sopa.

• Fazer um conjunto de artigos para serem divulgados através do jornal e rádio locais.

• Actuar a nível da cantina no incentivo ao consumo de sopa.

• Colaborar com a responsável pela elaboração das ementas e a cozinheira na elaboração de sopas e saladas mais atractivas.

3.2.3. Escolha das actividades

Feito o diagnóstico, estabelecidas as prioridades e definidos os objectivos, há que escolher as actividades a desenvolver.

As intervenções para modificar comportamentos alimentares necessitam de ter em conta várias áreas de influência em interacção: (a) ambiente facilitador (normas de funcionamento, espaço agradável, influência de modelos, alternativas saudáveis e atraentes, preço convidativo de alimentos saudáveis); (b) formação individual (conhecimentos, atitudes, valores, auto-confiança, auto-estima); (c) competências a nível comportamental (saber seleccionar e preparar alimentos, auto-avaliação e convicção na tomada de decisões, resistência à pressão social)

8,38,41

Nesta fase é muito importante que a população alvo e os objectivos estejam bem definidos, pois só assim poderemos decidir as acções a desenvolver, os responsáveis pela sua execução, a escolha de parcerias, as datas de execução, as metas intermediárias, etc. É preciso ficar bem determinado o que se faz, como se faz, quem faz e com quem, quando se faz ^4 1.

(37)

Atendendo ao exposto, parece importante salvaguardar a formação adequada de quem vai administrar as actividades. Mais uma vez se refere a importância da supervisão de pessoal especializado œ.

A exacta determinação dos meios materiais necessários e disponíveis e o empenho das pessoas envolvidas são essenciais para que as actividades programadas se realizem efectivamente. Não é raro verificar-se que determinado projecto acaba por falta de meios materiais ou por desleixo de quem orienta.

A população escolar do EB está dividida em três ciclos, com características próprias e que obrigam à utilização de métodos e estratégias específicos. Os alunos encontram-se em diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo, psicológico e social, o que implica abordagens diferentes para cada patamar de desenvolvimento. As actividades têm de ser adequadas à população alvo e terão de estar de acordo com o nível de desenvolvimento dos alunos5.

Além de adequadas ao nível de desenvolvimento dos alunos, as actividades devem ter em conta a realidade social, os usos, os costumes e ser culturalmente relevantes. A criatividade é importante 121436. Eis alguns exemplos de

actividades/estratégias82347'58:

• Intervenção nos serviços de alimentação, sugerindo opções de alimentos mais saudáveis e intervindo nas condições higio-sanitárias. • Disponibilizar alimentos saudáveis no bufete.

• Utilizar modelos de referência.

• Utilizar conceitos da alimentação saudável para criar textos, quadras, histórias, peças de teatro, lenga-lengas...

• Efectuar análise de rótulos. • Efectuar testes de sabor.

(38)

33

• Experimentar novos alimentos.

• Realizar demonstração de lanches saudáveis.

• Adaptar receitas tradicionais, tornando-as mais saudáveis.

• Aproveitar alunos de outras culturas para divulgar diferentes alimentos e efectuar provas.

• Elaborar ementas saudáveis e propor a sua confecção na cozinha, com a colaboração da cozinheira e responsável pelos serviços de alimentação ou elaborar essas ementas, se tal for possível.

• Efectuar mesas redondas/debates com os alunos.

• Utilizar meios audiovisuais e as novas tecnologias da informação e comunicação.

• Convidar personalidades especializadas em alimentação/nutrição. • Enviar "trabalhos de casa" para serem efectuados em conjunto com os

pais.

• Convidar pais para comer com as crianças na cantina da escola. • Construir uma horta na escola.

Esta é uma simples lista de possíveis actividades, descontextualizada de qualquer programa de EA.

3.3. Realização das actividades

Escolhidas as actividades há que passar à acção. Como as actividades devem ter interdependência e complementaridade, a impossibilidade de execução de alguma(s) pode pôr em causa a eficácia de outras, a sua exequibilidade ou até

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comprometer todo o processo. Um acompanhamento da realização das actividades é fundamental. Pode ser necessário alterar algo que estava previsto.

Mesmo com um bom planeamento é normal surgirem dificuldades. É importante estar atento e registar todas as contrariedades e imprevistos e estar preparado para o seu aparecimento. Os êxitos, os fracassos e as dificuldades deverão ser realisticamente registados, pois serão material de trabalho muito importante para eventuais reformulações e mais um elemento de reflexão na elaboração de futuros projectos ou actividades.

3.4. Avaliação

Embora a avaliação, de todo o programa de EA, se possa efectuar de uma forma mais sistematizada, podemos distinguir duas fases essenciais: do processo e dos resultados. Uma avaliação contínua (monitorização) das actividades que vão sendo executadas é fundamental para que se possa fazer reajustamentos à planificação inicial. Poderemos recolher informação sobre os materiais usados, os métodos utilizados, as dificuldades dos professores e outro pessoal implicado na aplicação do programa, cumprimento do calendário, etc2.

Neste tipo de intervenções haverá sempre aspectos não previstos que devem ser devidamente analisados. Rectificar o diagnóstico, eleger novas prioridades e formular novos objectivos poderão ser aspectos a considerar. No entanto, há que ter em consideração que uma mudança radical nos aspectos agora referidos poderá não ser benéfica para a execução do programa e revelará eventuais falhas nas fases anteriores, da sua concepção. Pequenos ajustamentos serão

(40)

35

Uma avaliação final é fundamental para2'23,41:

• Efectuar o balanço do projecto e determinar se os objectivos foram ou não alcançados.

• Comparar a situação final com a de partida, atendendo aos objectivos definidos inicialmente.

• Apreciar os êxitos.

• Determinar os fracassos.

• Perceber as dificuldades encontradas. • Determinar os aspectos favoráveis. • Eleger novas prioridades.

• Formular novos objectivos.

• Espevitar a imaginação para a definição de novas actividades. • Continuar com o projecto.

• Partilhar experiências e resultados com outras escolas.

Conforme a tipologia do programa, na avaliação dos resultados, poderemos distinguir as consequências imediatas e as a longo prazo.

4. A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E OS CURRÍCULOS

O documento Currículo Nacional do Ensino Básico é considerado uma «referência nacional para o trabalho de formulação e desenvolvimento do projecto curricular de escola e de turma» 25. A sua análise permite-nos compreender de

que modo a EA é encarada na perspectiva oficial ao longo do EB.

Na introdução do documento, é referido explicitamente que a abordagem dos temas da EPS, em geral, e da EA, em particular, fazem parte do currículo. Refere

(41)

também que a abordagem destes temas deve ter um carácter transversal, numa perspectiva interdisciplinar e em aprendizagens específicas no âmbito de determinadas disciplinas.

No capítulo referente às Ciências Físicas e Naturais e ao tema Viver Melhor na

Terra são mencionadas, entre outras, as seguintes as competências gerais para

todo o EB:

• «Reconhecimento da necessidade de desenvolver hábitos de vida saudáveis e de segurança, numa perspectiva biológica, psicológica e social.

• ( - )

• Reconhecimento de que a tomada de decisão relativa a comportamentos associados à saúde e segurança global é influenciada por aspectos sociais, culturais e económicos.»

Ao nível das competências para o 1o ciclo lê-se: «Reconhecimento de que a

sobrevivência e o bem-estar humano dependem de hábitos individuais de alimentação equilibrada, de higiene e de actividade física e de regras de segurança e prevenção».

Ao nível das competências para o 2o ciclo lê-se: «Compreensão da

importância da alimentação para o funcionamento equilibrado do organismo.» e «Discussão sobre a influência da publicidade e da comunicação social nos hábitos de consumo e na tomada de decisões que tenham em conta a defesa da saúde e a qualidade de vida».

(42)

37 Ao nível das competências para o 3o ciclo lê-se: «Discussão sobre a aquisição

de hábitos individuais e comunitários que contribuam para a qualidade de vida».

A par das competências, acima transcritas, são sugeridas algumas metodologias e actividades a executar para cada um dos ciclos referentes a assuntos do âmbito da EA.

Podemos concluir que do ponto de vista dos currículos escolares do EB existe uma vontade expressa para que a EA seja efectivamente explorada ao longo da escolaridade obrigatória, sendo reconhecida a sua importância. Os temas da Alimentação e EA estão claramente explícitos nos currículos e, por isso, será legítimo considerar que todas as escolas os desenvolvam. Mas também não se pode esquecer que as competências atrás referidas são algumas entre outras definidas para cada ciclo do EB.

O que se poderá questionar é a importância dada à EA e ao modo como é abordada e como está definida no Projecto Curricular de Escola. Não existem dados nacionais sobre os projectos curriculares de escola. Estes são enviados às Direcções Regionais de Educação para análise e ratificação, mas não sabemos se serão objecto de análise e estudo estatístico.

As escolas do 1o ciclo que pudemos contactar dão um destaque particular ao

tema da alimentação. Estas escolas, pelo facto de funcionarem, predominantemente, em regime de monodocência tornam determinante a sensibilidade do professor para o tema.

Ao nível do 2o ciclo do EB o desenvolvimento dos conteúdos programáticos

definidos pelo Projecto Curricular de Escola fica muitas vezes refém dos manuais escolares. Isto quer dizer que conforme o livro adoptado desenvolva mais ou

(43)

menos o tema, assim ele será tratado nas aulas. Apesar disso, o tema

Alimentação merece algum destaque, acrescido ao facto de ser o primeiro a ser

tratado no 6o ano da escolaridade, na disciplina de Ciências da Natureza, e não

haver pressão com o "não haver tempo" e "estar atrasado". O tema Alimentação

Saudável é, também, um dos temas de eleição para o desenvolvimento de

actividades de enriquecimento curricular, assim como um tema tratado na área curricular designada Área de Projecto, tal como foi na Área-Escola, já desaparecida.

No 3o ciclo do EB, a extensão dos programas a tratar na disciplina de Ciências

Naturais leva a que os conteúdos programáticos onde cabe a EA sejam dados

como mais uma "matéria" e não como uma forma de efectuar EA. Os alunos podem adquirir conhecimentos, mas não serão motivados para alterar comportamentos. Acresce dizer que estes conteúdos são leccionados apenas no 8o ano de escolaridade, nada sendo referido no 7o e no 9o.

A EA para ser efectiva e induzir comportamentos alimentares saudáveis e duradouros deve ser um processo contínuo 3. O que se verifica ao analisar os

currículos ao longo da escolaridade obrigatória é que as questões relacionadas com EA estão restritas ao 1o ciclo, nos quatro anos de escolaridade, embora

possam ser abordadas de forma variável de escola para escola, e ao 6o e 8o anos.

Que se faça EA de forma integrada nos currículos parece positivo e desejável, mas tal pode não ser suficiente. A análise do Currículo Nacional do Ensino Básico permite concluir que não é possível aplicar de forma completa e rigorosa um programa de EA, a não ser com algumas adaptações e com a disponibilidade da

(44)

39

está actualmente, não é possível conciliar o cumprimento dos assuntos programáticos de cada disciplina com um projecto de EA devidamente estruturado e com uma duração que o torne eficaz.

5. ANÁLISE CRÍTICA

A expressão "deve começar na escola" é utilizada a propósito dos mais variados assuntos: conhecimento das regras básicas de comportamento como condutor ou peão, atitudes perante o meio ambiente, higiene pessoal e social, defesa do consumidor, regras de segurança em casa, alimentação, etc. Quase sempre com pertinência.

Intervenções centradas apenas nos alunos não são solução para muitos dos problemas sugeridos. É necessário desenvolver acções que envolvam os alunos, os pais e a comunidade. A EA é uma dessas situações.

Em Portugal, não existem estudos, suficientemente abrangentes e válidos, relativos aos hábitos alimentares das crianças e jovens em idade escolar. Mas não parece difícil perceber a existência de alguns problemas, em comum com outros países: grupos populacionais com carências alimentares e nutricionais, outros com excesso de ingestão alimentar, outros com um padrão alimentar caracterizado por profundos desequilíbrios.

Em termos de EA, o que parece existir nas nossas escolas são acções isoladas, sem uma programação ao longo de vários anos lectivos e muitas vezes sem uma avaliação dos resultados. Nas escolas onde trabalhei, e onde se desenvolveram algumas acções relativas à alimentação e hábitos alimentares, houve sempre algo de positivo no trabalho realizado.

(45)

Se se pretender obter resultados mais abrangentes e duradouros em termos de mudança de comportamentos alimentares, terá que se apostar na implementação de uma política de EA a nível nacional, acompanhada de programas a desenvolver a nível de escola. Mas é muito importante que exista uma ligação entre estes dois tipos de trabalho: em termos de mensagens a transmitir, linguagem utilizada, materiais usados, etc.

Parece-me pertinente reflectir sobre o modo como desenvolver e aplicar projectos de EA a nível de escola. A totalidade da bibliografia consultada remete para uma transversalidade na aplicação de projectos de EPS. Sejam estudos americanos, canadianos ou europeus, sejam autores nacionais, espanhóis ou franceses. Mas é importante encontrar a fórmula mais indicada para aplicar essa abordagem transversal, adequada a cada caso. Nem sempre se percebe bem como esse tipo de abordagem é aplicado na prática. Naturalmente que diferentes contextos exigirão diferentes tipos de orientações.

Ao analisar os programas escolares e linhas orientadoras dos mesmos, verifica-se uma referência a assuntos de EA dispersos pelos vários anos de escolaridade, limitados a uma disciplina ou área disciplinar, normalmente Estudo

do Meio (1o Ciclo do EB) ou Ciências da Natureza/Naturais no 2o e 3o ciclos. Além

desta abordagem, nos Projectos Curriculares de Escola poderá incluir-se acções relacionadas com o tema, mas que não podem ser consideradas verdadeiros programas de EA. Limitam-se, habitualmente, a actividades isoladas, das quais a mais habitual é a comemoração do Dia da Alimentação ou de um dia dedicado à alimentação. Os alunos elaboram cartazes, com mais ou menos orientação, que são expostos no salão polivalente, convida-se uma personalidade para efectuar umas palestras, os professores entregam um folheto aos alunos, fala-se sobre o

(46)

41

tema durante uma aula e, algumas vezes, realizam-se actividades mais elaboradas e prolongadas. Este tipo de actividades não tem o impacto desejado na comunidade escolar. Normalmente, são aqueles que demonstram mais interesse pelo tema os que mais proveitos tiram destas actividades, e cujo padrão alimentar não será considerado dos mais incorrectos, e não aqueles que mais necessitariam de alterar hábitos alimentares.

Então como conceber um programa de EA no actual desenho curricular do EB e secundário? Um tratamento transversal do programa parece-me correcto. O modo de o fazer terá de ser bem delineado. Todos estarão de acordo que é responsabilidade de todos os professores, das diferentes áreas, a formação cívica e formação para a cidadania dos alunos. Atendendo às diferentes vertentes que deve ter um programa de EA, (científica, cultural, histórica...) a contribuição de diferentes saberes poderá servir de reforço e enriquecimento.

A abordagem de temas como a alimentação e hábitos alimentares, relacionando-os com outros assuntos, nas disciplinas mais vocacionadas para tal, parece correcta.

A seguir, seria necessário criar um grupo de trabalho responsável pela EA na escola e conceber um programa para a sua efectivação. Considero que o modo de aplicar o programa terá de ser muito bem definido. O apoio da Direcção Executiva e a intervenção dos órgãos de gestão intermédia, como o Conselho Pedagógico é fundamental.

Nos aspectos, relativos à aplicação do programa, parece-me mais indicado que teria de haver uma disciplina ou área disciplinar âncora, na qual fossem explorados os temas do ponto de vista científico e a apresentação das linhas gerais básicas, tendo em conta os objectivos a atingir. Por que não destinar uma

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grande parte da Área de Projecto para se executar um trabalho na área da EPS, incluindo a EA, que pudesse atravessar todos os anos da escolaridade obrigatória? As restantes disciplinas colaborariam de um modo complementar, reforçando as mensagens que vão sendo transmitidas. Parece-me que essa seria a forma mais indicada de efectuar uma abordagem transversal. Mesmo assim teria de haver uma boa coordenação entre os vários professores. Ressalta, desde já, a necessidade de uma preparação adequada dos professores, nas várias áreas de intervenção, e a existência de materiais de apoio. Um primeiro passo a efectuar será a motivação, a apresentação de propostas de trabalho e a percepção da existência de apoio, por parte dos vários intervenientes. Os professores de Língua Portuguesa e de Inglês, por exemplo, terão de saber o modo como irão participar, assim como a calendarização. O mesmo acontecerá com os restantes professores.

Intervenções a nível dos bufetes escolares, cantina e refeitório são partes desses programas que não deverão ser descurados. O estabelecimento de regras relativas ao seu funcionamento e ao tipo de alimentos disponíveis nesses locais é fundamental. O cumprimento das recomendações, já existentes, não está a ser efectuado.

A existência de um programa nacional de EA seria importante como fonte de informação para toda a população e como base de dados para os programas de EA nas escolas.

(48)

6. CONCLUSÃO

43

A EA faz parte da promoção da saúde na escola. A aquisição de hábitos alimentares saudáveis durante a infância e a adolescência é essencial, pois tais hábitos tendem a perdurar durante a idade adulta 8. Assim sendo, a EA na escola

toma-se fundamental pois permite acompanhar as crianças e os adolescentes durante muitos anos em ambiente dedicado à aprendizagem e com possibilidade de se efectuar uma abordagem multidisciplinar e transversal ao currículo. Nos programas de EA, a inclusão da família é indispensável e devem existir acções dirigidas à comunidade836

Para o bom desenvolvimento destes programas, é importante a definição de uma política alimentar e nutricional a nível nacional. Daí devem partir as linhas gerais de orientação e eixos estratégicos de acção 17,3°.

Nos estabelecimentos de ensino, é possível desenvolver programas de EA de forma eficaz. Acções ocasionais, fugazes e improvisadas não são

recomendáveis2. A nível da escola é importante a escolha de um responsável

pelo projecto e a formação de um grupo de trabalho que coordenem a concepção e a aplicação do programa. É importante a formação dos professores envolvidos, a supervisão de um responsável especializado em nutrição comunitária (nutricionista), a existência de materiais adequados, o envolvimento de toda a comunidade escolar e dos serviços de alimentação, a colaboração da autarquia, e, sempre que possível e desejável, a participação de associações culturais e

* - 3 23 39 desportivas (ou outras) e de personalidades carismáticas w

Os programas de EA devem obedecer a critérios rigorosos na sua concepção, nas fases de diagnóstico, preparação e execução das actividades e avaliação 241.

Imagem

Figura 1 - Esquema dos principais factores condicionantes da escolha alimentar
Figura 2 - Intervenientes na EA na escola

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