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31 • Elaborar posters sobre os benefícios do consumo de vegetais,

5. ANÁLISE CRÍTICA

A expressão "deve começar na escola" é utilizada a propósito dos mais variados assuntos: conhecimento das regras básicas de comportamento como condutor ou peão, atitudes perante o meio ambiente, higiene pessoal e social, defesa do consumidor, regras de segurança em casa, alimentação, etc. Quase sempre com pertinência.

Intervenções centradas apenas nos alunos não são solução para muitos dos problemas sugeridos. É necessário desenvolver acções que envolvam os alunos, os pais e a comunidade. A EA é uma dessas situações.

Em Portugal, não existem estudos, suficientemente abrangentes e válidos, relativos aos hábitos alimentares das crianças e jovens em idade escolar. Mas não parece difícil perceber a existência de alguns problemas, em comum com outros países: grupos populacionais com carências alimentares e nutricionais, outros com excesso de ingestão alimentar, outros com um padrão alimentar caracterizado por profundos desequilíbrios.

Em termos de EA, o que parece existir nas nossas escolas são acções isoladas, sem uma programação ao longo de vários anos lectivos e muitas vezes sem uma avaliação dos resultados. Nas escolas onde trabalhei, e onde se desenvolveram algumas acções relativas à alimentação e hábitos alimentares, houve sempre algo de positivo no trabalho realizado.

Se se pretender obter resultados mais abrangentes e duradouros em termos de mudança de comportamentos alimentares, terá que se apostar na implementação de uma política de EA a nível nacional, acompanhada de programas a desenvolver a nível de escola. Mas é muito importante que exista uma ligação entre estes dois tipos de trabalho: em termos de mensagens a transmitir, linguagem utilizada, materiais usados, etc.

Parece-me pertinente reflectir sobre o modo como desenvolver e aplicar projectos de EA a nível de escola. A totalidade da bibliografia consultada remete para uma transversalidade na aplicação de projectos de EPS. Sejam estudos americanos, canadianos ou europeus, sejam autores nacionais, espanhóis ou franceses. Mas é importante encontrar a fórmula mais indicada para aplicar essa abordagem transversal, adequada a cada caso. Nem sempre se percebe bem como esse tipo de abordagem é aplicado na prática. Naturalmente que diferentes contextos exigirão diferentes tipos de orientações.

Ao analisar os programas escolares e linhas orientadoras dos mesmos, verifica-se uma referência a assuntos de EA dispersos pelos vários anos de escolaridade, limitados a uma disciplina ou área disciplinar, normalmente Estudo

do Meio (1o Ciclo do EB) ou Ciências da Natureza/Naturais no 2o e 3o ciclos. Além

desta abordagem, nos Projectos Curriculares de Escola poderá incluir-se acções relacionadas com o tema, mas que não podem ser consideradas verdadeiros programas de EA. Limitam-se, habitualmente, a actividades isoladas, das quais a mais habitual é a comemoração do Dia da Alimentação ou de um dia dedicado à alimentação. Os alunos elaboram cartazes, com mais ou menos orientação, que são expostos no salão polivalente, convida-se uma personalidade para efectuar umas palestras, os professores entregam um folheto aos alunos, fala-se sobre o

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tema durante uma aula e, algumas vezes, realizam-se actividades mais elaboradas e prolongadas. Este tipo de actividades não tem o impacto desejado na comunidade escolar. Normalmente, são aqueles que demonstram mais interesse pelo tema os que mais proveitos tiram destas actividades, e cujo padrão alimentar não será considerado dos mais incorrectos, e não aqueles que mais necessitariam de alterar hábitos alimentares.

Então como conceber um programa de EA no actual desenho curricular do EB e secundário? Um tratamento transversal do programa parece-me correcto. O modo de o fazer terá de ser bem delineado. Todos estarão de acordo que é responsabilidade de todos os professores, das diferentes áreas, a formação cívica e formação para a cidadania dos alunos. Atendendo às diferentes vertentes que deve ter um programa de EA, (científica, cultural, histórica...) a contribuição de diferentes saberes poderá servir de reforço e enriquecimento.

A abordagem de temas como a alimentação e hábitos alimentares, relacionando-os com outros assuntos, nas disciplinas mais vocacionadas para tal, parece correcta.

A seguir, seria necessário criar um grupo de trabalho responsável pela EA na escola e conceber um programa para a sua efectivação. Considero que o modo de aplicar o programa terá de ser muito bem definido. O apoio da Direcção Executiva e a intervenção dos órgãos de gestão intermédia, como o Conselho Pedagógico é fundamental.

Nos aspectos, relativos à aplicação do programa, parece-me mais indicado que teria de haver uma disciplina ou área disciplinar âncora, na qual fossem explorados os temas do ponto de vista científico e a apresentação das linhas gerais básicas, tendo em conta os objectivos a atingir. Por que não destinar uma

grande parte da Área de Projecto para se executar um trabalho na área da EPS, incluindo a EA, que pudesse atravessar todos os anos da escolaridade obrigatória? As restantes disciplinas colaborariam de um modo complementar, reforçando as mensagens que vão sendo transmitidas. Parece-me que essa seria a forma mais indicada de efectuar uma abordagem transversal. Mesmo assim teria de haver uma boa coordenação entre os vários professores. Ressalta, desde já, a necessidade de uma preparação adequada dos professores, nas várias áreas de intervenção, e a existência de materiais de apoio. Um primeiro passo a efectuar será a motivação, a apresentação de propostas de trabalho e a percepção da existência de apoio, por parte dos vários intervenientes. Os professores de Língua Portuguesa e de Inglês, por exemplo, terão de saber o modo como irão participar, assim como a calendarização. O mesmo acontecerá com os restantes professores.

Intervenções a nível dos bufetes escolares, cantina e refeitório são partes desses programas que não deverão ser descurados. O estabelecimento de regras relativas ao seu funcionamento e ao tipo de alimentos disponíveis nesses locais é fundamental. O cumprimento das recomendações, já existentes, não está a ser efectuado.

A existência de um programa nacional de EA seria importante como fonte de informação para toda a população e como base de dados para os programas de EA nas escolas.

6. CONCLUSÃO

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A EA faz parte da promoção da saúde na escola. A aquisição de hábitos alimentares saudáveis durante a infância e a adolescência é essencial, pois tais hábitos tendem a perdurar durante a idade adulta 8. Assim sendo, a EA na escola

toma-se fundamental pois permite acompanhar as crianças e os adolescentes durante muitos anos em ambiente dedicado à aprendizagem e com possibilidade de se efectuar uma abordagem multidisciplinar e transversal ao currículo. Nos programas de EA, a inclusão da família é indispensável e devem existir acções dirigidas à comunidade836

Para o bom desenvolvimento destes programas, é importante a definição de uma política alimentar e nutricional a nível nacional. Daí devem partir as linhas gerais de orientação e eixos estratégicos de acção 17,3°.

Nos estabelecimentos de ensino, é possível desenvolver programas de EA de forma eficaz. Acções ocasionais, fugazes e improvisadas não são

recomendáveis2. A nível da escola é importante a escolha de um responsável

pelo projecto e a formação de um grupo de trabalho que coordenem a concepção e a aplicação do programa. É importante a formação dos professores envolvidos, a supervisão de um responsável especializado em nutrição comunitária (nutricionista), a existência de materiais adequados, o envolvimento de toda a comunidade escolar e dos serviços de alimentação, a colaboração da autarquia, e, sempre que possível e desejável, a participação de associações culturais e

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