• Nenhum resultado encontrado

O ESQUEMA CORPORAL E IMAGEM INCONSCIENTE DO CORPO NA PSICANÁLISE DE FRANÇOISE DOLTO. Micheli Maria Müller Giseli Monteiro Gagliotto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O ESQUEMA CORPORAL E IMAGEM INCONSCIENTE DO CORPO NA PSICANÁLISE DE FRANÇOISE DOLTO. Micheli Maria Müller Giseli Monteiro Gagliotto"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

O ESQUEMA CORPORAL E IMAGEM INCONSCIENTE DO CORPO NA PSICANÁLISE DE FRANÇOISE DOLTO

Micheli Maria Müller Giseli Monteiro Gagliotto

Micheli Maria Müller

Acadêmica do 4° ano do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão – PR. Bolsista de Iniciação Científica (PICV), Bolsista de Extensão (Fundação Araucária) e Membro do Grupo de Pesquisa Educação e Sociedade GEDUS-UNIOESTE.

Giseli Monteiro Gagliotto

Pedagoga, Psicóloga e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp – SP, é professora Adjunta Nível C do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão – PR. Pesquisadora do Grupo Educação e Sociedade.

Resumo: O presente artigo é o resultado das pesquisas feitas até no momento, a qual consiste em uma revisão teórico-bibliográfica da obra “A Imagem Inconsciente do Corpo” da psicanalista Françoise Dolto. Nesta obra a autora discute dois conceitos centrais: imagem inconsciente do corpo e esquema corporal e sua importância nos tempos atuais para a educação. Dolto mostra que a criança desde muito pequena é capaz de nos compreender e manifestar tudo o que lhe afeta através da linguagem corporal. Dolto afirma que a criança está em pé de igualdade com um adulto, ou seja; não há diferença entre uma criança e um adulto, sendo assim, é preciso escutá-la.

Palavras-chave: Psicanálise de Criança. Sexualidade. Linguagem. Educação INTRODUÇÃO

Françoise Dolto era médica e em 1937 se tornou psicanalista e dedicou mais de trinta anos de sua vida à psicanálise da criança. Dolto, nesta matéria, foi pioneira, ao dizer que se poderia falar com as crianças pequenas tendo a garantia de que elas apresentam capacidade de compreensão. Então, a maior contribuição da autora à psicanálise é o conceito de imagem do corpo. Para entender a imagem do corpo, Dolto analisava os desenhos, as modelagens e a criança por inteiro. Ela registrava as respostas que a criança espontaneamente lhe dava, pois a partir de um desenho ou de uma modelagem é possível saber o que a criança sente, o que pensa e assim compreendê-la. A possibilidade de se fazer psicanálise infantil está no fato da própria criança trazer os dados da interpretação através do que diz de seus desenhos fantasmagóricos.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar as atividades desenvolvidas durante os doze meses de execução do projeto de Iniciação Científica, cujo título da proposta é As imagens do corpo e seu destino: das

(2)

castrações e construção da subjetividade do sujeito em Françoise Dolto às interlocuções entre sexualidade e educação. A pesquisa sobre a teoria psicanalítica de Françoise Dolto se justifica pela atenção que ela destinava às crianças e assim encontrava com precisão as origens dos problemas enfrentados além das causas aparentes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método utilizado na pesquisa foi baseado na revisão bibliográfica de obras de Françoise Dolto; no sentido de elaborar um quadro dos conceitos centrais da obra A Imagem Inconsciente do Corpo. Análise documental e Análise de conteúdo dos conhecimentos adquiridos no do grupo de estudos Psicanálise, Cultura e Educação através de leituras, debates e registros de textos e vídeos a respeito da sexualidade da criança em Françoise Dolto e sua contribuição para a educação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES A Imagem Inconsciente do Corpo

Este conceito é utilizado por Françoise Dolto principalmente em sua obra A imagem inconsciente do corpo, conceito que permeia todos os outros. No início do seu trabalho com as crianças Dolto oferecia a elas papel, lápis de cor e depois passou a acrescentar massa de modelar para que as crianças através de desenho pudessem contar os seus fantasmas, verbalizando assim, o que desenhavam e modelavam. Com isso, percebeu que as instâncias da teoria freudiana do aparelho psíquico o Id, Ego e o Superego aparecem em qualquer composição livre, pode ser gráfica, através de desenhos, ou plástica, através da modelagem.

Essas produções que as crianças fazem são verdadeiros fantasmas e as diferentes partes de seus desenhos criam vida quando a criança fala a respeito dele analisando-o, ou seja, é como se a criança fizesse parte daquele desenho, então quando ela fala a respeito do desenho é como se ela estivesse dentro do desenho.

De acordo com Dolto (2010, p. 3), os temas figurativos utilizados pelas crianças em seus desenhos, normalmente estão ligados a um drama familiar, algo que aconteceu e que marcou a criança profundamente. O que permite compreender a possibilidade de se fazer psicanálise infantil é que a própria criança traz os dados da interpretação pelo que diz de seus desenhos fantasmagóricos.

De início, ela parece desenhar uma cena; mas na realidade, pela maneira como ela própria interpreta, fala de seu desenho, prova que por meio desta encenação gráfica ela mediatiza pulsões parciais de seu desejo, em luta com pulsões parciais de seu desejo em um outro nível. Tais níveis da psique são os que Freud descreveu como: “EU”, “Eu Ideal” e “Super Eu”. E a energia que é posta em jogo nos cenários imaginários que são estes desenhos ou estas modelagens, nada mais é senão a libido que se expressa por seu corpo, quer passiva, quer ativamente – passivamente em seu equilíbrio psicossomático, ativamente na relação com os outros. (DOLTO, 2010, p.6)

(3)

Os adultos conseguem falar de forma livre sobre seus fantasmas e seus sonhos, porém as crianças não conseguem, pois o medo as impede. Então, de acordo com Dolto (2004, p.9), a imagem do corpo para a criança é como se fosse uma mediação na qual ela consegue representar o que está sentindo sem medo e sem culpa, e para o analista é um meio de reconhecer esses fantasmas que a criança ou o sujeito tem. Esse fantasma que a criança representa precisa ser decodificado, porém sozinho o analista não conseguirá decodificá-lo. São as associações que a criança faz que trazem a chave para decodificá-lo.

Devido a isso, pode-se dizer que a criança é o próprio analista; ela mesma com a ajuda do analista se decodifica. A própria criança descobre e conta onde está o fantasma. “A imagem do corpo não é a imagem que é desenhada ali, ou representada na modelagem; ela está por ser revelada pelo diálogo analítico com a criança”. (DOLTO, 2010, p. 9). É devido a isso, que o analista não pode interpretar de imediato o material da criança, como o desenho, a massa de modelar, etc. É a criança que acaba fornecendo os elementos que o analista precisa para a interpretação psicanalítica de seus sintomas, isso não ocorre de imediato, pode demorar dias, meses.

[...] a imagem do corpo não é a imagem que é desenhada ali, ou representada na modelagem; ela está por ser revelada pelo diálogo analítico com a criança. É por isso que, ao contrário do que se acredita em geral, o analista não poderia interpretar de imediato o material gráfico, plástico, que lhe é trazido pela criança; é esta que, associado sobre seu trabalho, acaba por fornecer os elementos de uma interpretação psicanalítica de seus sintomas. DOLTO, 2010, p. 9).

É de fundamental importância que não seja confundido imagem do corpo e esquema corporal, pois são dois conceitos diferentes, primeiramente vamos definir o esquema corporal e em seguida a imagem inconsciente do corpo.

O esquema corporal é uma realidade de fato, sendo de certa forma nosso viver carnal no contato com o mundo físico. Nossas experiências de nossas realidade dependem da integridade do organismo, ou de suas lesões transitórias ou indeléveis, neurológicas, musculares, ósseas e também, de nossas sensações fisiológicas viscerais, circulatórias[...]. (DOLTO, 2010, p. 10-11).

Então, podemos dizer que o esquema corporal segue uma lógica material, que é determinada por fatores genéticos comuns, ou seja, que todos nós temos. Então, golpes orgânicos precoce, traumas, medos podem provocar perturbações do esquema corporal, e estas, podem ocasionar modificações passageiras ou duráveis. É frequente que o esquema corporal com problemas e a imagem sã do corpo coabitem em um mesmo sujeito, ou seja, uma pessoa pode ter uma imagem do corpo perfeitamente boa (sã), mas o seu esquema corporal tem problemas, está enfermo.

Quando podemos dizer que o esquema corporal de um indivíduo foi atingido e tem problemas? O esquema corporal, por exemplo, pode ser atingido quando a poliomielite é muito precoce, em crianças de berços, na idade do aleitamento, mas mesmo se essas crianças não recuperarem um esquema corporal são, a

(4)

enfermidade pode não afetar sua imagem corpo. Então isso nos mostra que o esquema corporal nem sempre afeta a imagem do corpo. Porém, para isso é preciso que a relação com a mãe e o ambiente humano tenha permanecido flexível e satisfatória, sem muita angústia da parte dos pais.

Assim, uma criança paraplégica, por exemplo, tem necessidade de brincar com a mãe, não precisa ser uma brincadeira que a criança não consiga realizar. Ela pode muito bem brincar verbalmente com a mãe, falando sobre atividades como correr, saltar, coisas que a mãe sabe que a criança não poderá fazer. Porém, desta forma a criança projeta uma imagem sã do corpo.

Podemos perceber que se a criança tem a oportunidade de falar e brincar com alguém que aceita este jogo projetivo, isso permite à criança integrar na linguagem tais desejos, apesar da realidade, da enfermidade de seu corpo. E a linguagem irá proporcionar a esta criança as descobertas de meio pessoais de comunicação.

Também é possível perceber isso, quando observamos crianças sem braço ou sem perna, pintar com a boca tão bem quanto àquelas que têm mãos; e aqueles que só têm pés, chegar a ser tão hábeis com seus pés quanto outros o são com as mãos. Mas é importante destacar que isto só acontece se elas são amadas e apoiadas nos meios que lhes restam para se tornarem criadoras, meios que são representantes de suas pulsões nas trocas com os outros, ou seja, é preciso que elas sejam apoiadas, que sejam vista como indivíduos capazes e não como indivíduos doentes.

A imagem do corpo de acordo com Dolto (2010) é:

A imagem do corpo é a síntese viva de nossas experiências emocionais: inter-humanas, respectivamente vividas através das sensações erógenas eletivas, arcaicas ou atuais. Ela pode ser considerada como a encarnação simbólica inconsciente do sujeito desejante e, isto, antes mesmo que o indivíduo em questão seja capaz de designar-se a si mesmo pelo pronome pessoal Eu e saiba dizer Eu. (p.14)

Assim, podemos dizer que a imagem do corpo é a memória inconsciente de todo o vivido relacional, e ao mesmo tempo, ela é atual, viva. De acordo com Dolto (2010, p. 15), é através da nossa imagem do corpo, sustentada pelo esquema corporal que podemos entrar em comunicação com outras pessoas. Pois todo o contato com o outro, quer o contato seja de comunicação ou para evitá-la é subtendido pela imagem do corpo; pois é na imagem do corpo que o tempo se cruza com o espaço e que o passado inconsciente ressoa na relação presente, ou seja; no tempo atual sempre se repete algo de uma relação de um tempo passado.

Estes dois conceitos, a imagem do corpo e o esquema corporal são diferentes, mas como podemos distingui-los?

Como podemos perceber em Dolto (2010, p. 14), o esquema corporal especifica o indivíduo enquanto representante da espécie, em qualquer lugar, época ou as condições nas quais ele vive. Então, o esquema corporal será o interprete ativo ou passivo da imagem do corpo. O esquema corporal se estrutura pela aprendizagem e pela experiência. Já, a imagem do corpo se estrutura pela comunicação entre sujeitos e o vestígio no dia-a-dia.

(5)

O esquema corporal reporta o corpo atual no espaço à experiência imediata. Ele pode ser independente da linguagem entendida como a história das relações do sujeito com o outro. Podemos dizer que o esquema corporal é inconsciente, pré-consciente e também pré-consciente. O esquema corporal é evolutivo no tempo e no espaço. Já, a imagem do corpo pode se tornar independente do esquema corporal, ou seja, ela não depende do esquema corporal. A imagem do corpo diferente do esquema corporal é sempre inconsciente.

Se o esquema corporal é, em princípio, o mesmo para todos os indivíduos ( aproximadamente de mesma idade, sob um mesmo clima) da espécie humana, a imagem do corpo, em contrapartida é peculiar a cada um: está ligada ao sujeito e a sua história. Ela é específica de uma libido em situação, de um tipo de situação libidinal. Daí resulta o esquema corporal é, em parte, inconsciente, mas também pré-consciente e consciente, enquanto que a imagem do corpo eminentemente inconsciente [...]. (DOLTO, 2010, p. 14)

É justamente pelo esquema corporal ser neutralizado pela posição alongada do paciente, que o desdobramento da imagem do corpo vem a ser possibilitado, ou seja; a imagem do corpo é acionada, ao mesmo tempo em que a visão do corpo do analista se faz impossível, o que provoca no analisando uma representação imaginária do outro e não uma apreensão de sua realidade visível.

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES

De acordo com a pesquisa realizada da obra “A imagem inconsciente do corpo” de Dolto (2010), podemos afirmar que é importante cuidar e ser parceiro das crianças, pois esta se desenvolve desde o início de sua geração (no dia em que sua mãe engravida) e mesmo estando no ventre da mãe, a criança compreende tudo o que se passa. Françoise Dolto cria dois conceitos distintos muito importantes: a imagem do corpo e o esquema corporal, que são apresentados por Dolto na obra citada a cima.

Assim, a partir dos estudos realizados é possível afirmar que a imagem do corpo é o elemento que aparece com maior clareza no jogo da criança, no desenho da criança, pois a criança se expressa através das brincadeiras, dos desenhos, isto permite ao professor conhecer melhor a criança com quem está lidando. Devido a isso o analista ou até mesmo o próprio professor podem e devem fazer a leitura da imagem do corpo que a criança apresenta por meio do seu jogo, para compreender os lugares nos quais a criança está marcada e a maneira como a corporeidade da criança foi marcada de um ponto de vista libidinal.

E o esquema corporal designa-se o corpo, o conjunto das funções orgânicas e biológicas que específica o indivíduo enquanto ser vivo, ele é o mesmo para todas as pessoas, sendo em parte inconsciente, mas também pré-consciente e consciente. Para comprovar a importância destes dois conceitos muito utilizados por Françoise podemos ter como base a teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal citada por Vigotski (p.73, 2001), o qual afirma que todo o momento do aprendizado e

(6)

o posterior desenvolvimento se da a partir da interação que o indivíduo tem com o meio. E a aprendizagem ocorre a partir de um desenvolvimento potencial para um desenvolvimento real. Isso explica a necessidade do indivíduo ter uma imagem corporal que facilite a interação com o meio, sendo de fundamental importância à participação de um sujeito mais experiente para que aquilo que ele consiga fazer hoje com a ajuda do mesmo, num estágio posterior seja capaz de realizar sozinho.

De acordo com Correia (p.1), é importante reconhecer que a imagem corporal deve estar estruturada o suficiente para que essa relação ocorra através do esquema corporal, que é um facilitador na comunicação, de forma objetiva promovendo uma constante alteração na imagem que o indivíduo possui. A base da imagem corporal se estrutura até aproximadamente os seis anos de idade, o que corresponde ao final da educação infantil quando relacionado à educação física escolar, porém a mesma sofre alterações posteriores, em função da continua relação que o indivíduo mantém com o meio.

Então, este artigo, resultado de uma pesquisa PICV, teve como objetivo analisar e mostrar a importância desses dois conceitos a imagem do corpo e o esquema corporal que são fundamentais para entender, compreender e ajudar a criança no seu pleno desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

CORREA, Fernanda Soares. A Imagem e o Esquema Corporal na Formação do Ser Pluridimencional. Disponível em: http://cev.org.br/biblioteca/a-imagem-o-esquema-corporal-formacao-ser-pluridimencional/ acesso: 25/02/2014 as 10:38.

DOLTO, Françoise. A imagem inconsciente do corpo (tradução Noemi Moritz e Marize Levy), São Paulo: Perspectiva, 2010.

VIGOTSKY, L.S., Pensamento e Linguagem, São Paulo: Editora Martim Fontes, 2003.CORRIJA O Y POR I E ESCREVA O NOME DELE POR EXTENSO ASSIM COMO OS DOS OUTROS AUTORES.

Referências

Documentos relacionados

Os tratamentos foram definidos em função da época de indução do déficit hídrico nos diferentes estádios fenológicos da cultura (vegetativo, floração e enchimento de grãos) e

Este trabalho tem como objetivo avaliar alguns aspectos técnicos relativos à fenologia, à demanda hídrica e à conservação pós colheita do maracujá amarelo (Passiflora edulis

Verificação por uma ou mais pessoas com a devida qualificação e com treinamento com relação aos requerimentos do Instituto, de provas testemunhais apresentadas pelo candidato na

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em

CARACTERÍSTICAS DE SEGURANÇA - Cinto de segurança para recém nascido, alarme de alta temperatura limitado em 40ºC, Alarme de tensão de baterias, Temperatura da superfície

[r]

Quanto ao tema deste trabalho, trata-se das políticas públicas de desenvolvimento econômico territorial, realizadas pelo Serviço de Apoio às Micro e pequenas

Os Sistemas Agroflorestais utilizados como ferramenta para a recuperação de áreas de preservação permanente degradadas do Ribeirão Taguatinga (DF) estão em