UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
TÂNIA MARIA DE MATTOS PEREZ
IMAGEM, MEMÓRIA E ALEGORIA NA FICÇÃO DE CHICO BUARQUE
Niterói, RJ 2014
TÂNIA MARIA DE MATTOS PEREZ
IMAGEM, MEMÓRIA E ALEGORIA NA FICÇÃO DE CHICO BUARQUE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense para a obtenção do título de Doutor em Estudos Literários. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ângela Maria Dias.
Niterói, RJ 2014
TÂNIA MARIA DE MATTOS PEREZ
IMAGEM, MEMÓRIA E ALEGORIA NA FICÇÃO DE CHICO BUARQUE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense para a obtenção do título de Doutor em Estudos Literários.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________ Profa. Dra. Ângela Maria Dias (orientadora – UFF)
_________________________________________________________ Profa. Dra. Claudete Daflon dos Santos (UFF)
_________________________________________________________ Profa. Dra. Analice de Oliveira Martins ( IFF e UENF )
_________________________________________________________ Prof. Dr. André Luiz Dias Lima (UFF)
_________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto Tonani do Patrocínio (UFRJ)
Aos meus queridos pais, João Baptista de Mattos e Maria da Penha Pereira de Mattos (in memoriam). Ao meu paciente e amoroso marido Roberto, aos meus queridos filhos Marcelo, Flavia e Erika e aos amados netos Carolina, Bernardo, Gabriela e Beatriz.
M
eus sinceros agradecimentos a: DeU
s por estar sempre ao meu lado;Ch
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co Buarque pela palavra “prima”, inspiração da tese;T
oda a família pelo apoio e compreensão;Ao saudos
O
Mestre LATUF, maior incentivador desta empreitada;Às múltiplas e competentes
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rientações da Profa. Dra. Ângela Maria Dias; À honrosaB
anca pela leitura crítica deste trabalho;Ao Instituto de Let
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as, aos funcionários e amigos uffianos;À Tania Nunes e Christ
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ane Arcuri pelo carinho, empréstimos de livros e informações; Ao Mestre daG
entileza, José Luiz Matias, pelas contribuições e revisões; À ilustre amiga,A
nélia Pietrani, pela prestimosa colaboração e incentivo; À Suely Pessanha de Almeida,D
edicada mestra, amiga e atenta leitora-revisora.Sou um evadido Logo que nasci
Fecharam-me em mim, Ah, mas eu fugi. Se agente se cansa Do mesmo lugar, Do mesmo ser
Por que não se cansar? Minha alma procura-me Mas eu ando a monte, Oxalá que ela
Nunca me encontre Ser um é cadeia, Ser eu não é ser. Viverei fugindo Mas vivo a valer. (Fernando Pessoa).
Imagem, memória e alegoria na ficção de Chico Buarque
RESUMO
A presente pesquisa visa analisar a obra ficcional de Chico Buarque composta pelos romances: Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003) e Leite Derramado (2009), com o propósito de interpretar, alegoricamente, as histórias de ruínas dos sujeitos buarquianos, segundo a concepção moderna da alegoria barroca de Walter Benjamin. Pretende-se sublinhar, na tessitura dos romances de Chico Buarque, os elementos constitutivos da alegoria barroca e moderna de Walter Benjamin, especialmente, dois conceitos fundamentais que se entrelaçam: a alegoria e a melancolia. A melancolia faz parte da alegoria, e esta é a sua manifestação primordial, em que o efêmero e o eterno se aproximam. A melancolia resulta da consciência da perda e da transitoriedade das coisas. A ambiguidade, o luto e a morte são outros elementos constitutivos da escrita alegórica e estão presentes nas histórias dos sujeitos fragmentados, em crise de identidade, melancólicos e inadaptados ao mundo globalizado, midiático, capitalista e violento da contemporaneidade. Observa-se, ainda, a escrita contemporânea, imagética e cinematográfica do escritor, sobretudo a questão do olhar e da memória nas narrativas.
Palavras-chave: Chico Buarque; Walter Benjamin; Ficção; Alegoria; Melancolia; Imagem; Memória.
Imagem, memória e alegoria na ficção de Chico Buarque
ABSTRACT
This research aims at analyzing Chico Buarque’s fictional works, namely Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003) and Leite Derramado (2009), in order to construe, in an allegorical manner, the stories of the ruinous Buarquian subjects, according to Walter Benjamin’s modern concept of baroque allegory. The present work intends to underscore, in Chico Buarque’s novels, the elements of Walter Benjamin’s baroque and modern allegory, especially two fundamental concepts that are interwoven: allegory and melancholy. Melancholy is part of allegory and constitutes its primordial manifestation, through which the ephemeral and the eternal are brought closer. Melancholy results from the awareness of loss and of the transitory nature of things. Ambiguity, mourning and death are other elements that characterize allegorical writing and are found in the stories of fragmented subjects, those undergoing identity crises, who feel melancholic and out of place in a world that is globalized, media oriented, capitalist and violent. This also work discusses the contemporary, imagetic and cinematographic writing of Buarque, emphasizing the issue of the gaze and of memory in his narratives.
Keywords: Chico Buarque; Walter Benjamin; Fiction; Allegory; Melancholy; Image; Memory.
Imagem, memória e alegoria na ficção de Chico Buarque
RESUMEN
Cette recherche se propose d’analyser l’ouvre fictionnel de Chico Buarque qui comprend les romans suivants: Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003) et Leite derramado (2009), avec le but d’interpréter allégoriquement les histoires du ruines des sujets, d’aprés la conception moderne de l’allegorie baroque de Walter Benjamin. On prétend souligner dans la tessiture des romans de Chico Buarque, les éléments constitutifs de l’allégorie baroque et moderne de Walter Benjamin, spécialement deux concepts fondamentaux qui s’entrelacent: l’allégorie et la mélancolie. La melancolie fait partie de l’allégorie et cela, c’est sa manifestation primordiale où l’éphemèré et l’éternel se sapprochent. La mélancolie est le résultat de la peste et de la valeur transitoire des choses. L’ ambiguïté, le deuil et la mort sont d’autres éléments constitutifs de l’ écriture allégorique et sont présents dans les histoires des sujets fragmentés, en crise d’identité, mélancoliques et inadaptés au monde globalisé, médiatique, capitaliste et violent de la contemporanéité. On remarque encore l’écriture contemporaine pleine d’imageries et cinématographique de l’écrivain, en rehaussant la question du regard et de la mémoire dans les narratives.
Mots-clé: Chico Buarque; Walter Benjamin; Fiction; L’allégorie; La mélancolie; L’ image; La mémoire.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
1 ALEGORIA 17
1.1 Alegoria na crítica de Walter Benjamin 18
1.2 1.3 1.4
Alegoria barroca Melancolia
Alegoria moderna: Baudelaire
21 23 27
2 A DUPLA CRIAÇÃO DE CHICO BUARQUE 33 2.1 Os críticos em crítica 36 2.2. 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4. 3 3.1 3.2 3.3 3.4
A recepção dos romances Estorvo
Benjamim Budapeste Leite derramado
ESTORVO: UMA LEITURA ALEGÓRICA E ESCÓPICA Ambiguidade, melancolia e anonimato
Fuga do herói às avessas
Pulsão escópica e alegoria do avesso Despersonalização e derrocada do sujeito
41 41 46 48 52 55 61 67 71 74
4 BENJAMIM: ESCRITA FÍLMICA E ALEGÓRICA 77
4.1 Memória e fantasmagoria 83 4.2
4.3
Melancolia e morte O duplo especular e o avesso
88 92
5
5.1
BUDAPESTE: DUPLO ALEGÓRICO E ENCENAÇÃO DA ESCRITA
A autoria em questão
98
104 5.2. A crise do sujeito: vaidade, ciúme e peregrinação 111 5.3.
5.4
Melancolia, ambiguidade e tradução alegórica Palavra: objeto de prazer e jogo
120 126
6 LEITE DERRAMADO: O OLHAR E A ESCRITA DA MEMÓRIA 133
6.1 Memória e desconstrução da escrita memorial 138
6.2 6.3
Olhar, espelho, racismo e incerteza Metáfora, alegoria e melancolia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
143 149
156
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO I – QUADRO DE DÜRER - Melencolia I
ANEXO II – QUADRO DE PAUL KLEE – Angelus novus
ANEXO III – IMAGENS DOS ROMANCES
162
170
171 172