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GEOGRAFIA Prof.: Sabbath Lista: 05 Aluno(a): Turma: Data: 10/03/2015

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GEOGRAFIA

Prof.: Sabbath

Lista: 05

Aluno(a): _______________________________________________

Turma: ____________________________ Data: 10/03/2015

Descolonização da África e Ásia e o Terceiro Mundo

Ásia e África: as lutas pela descolonização

As transformações históricas após o termino da Segunda Guerra Mundial não se restringiram a ascensão das superpotências. Os antigos domínios europeus na África e na Ásia alcançaram sua emancipação política. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que prega a igualdade de direitos para todos, serviu de estimulo para os povos colonizados que, na época, lutavam pela independência.

Mesmo os países que não eram colônias formais, como a America Latina, mas que tinham desafios como a dependência econômica em relação aos países desenvolvidos e um histórico de desigualdade econômica, procuraram caminhos próprios no mundo bipolarizado entre os blocos comunistas e capitalistas.

O chamado Terceiro Mundo, que inclui África, Ásia e America Latina, passou por grandes transformações em suas sociedades e economias durante o século XX, mas que, por um viés comparativo com os países ricos, foi objeto de menos estudos e pesquisas por parte de especialistas. A pluralidade dos povos, culturas e historias dessas regiões que concentram a maioria da população do planeta, muitas vezes e preterida por uma explicação exclusivamente econômica que se refere a eles como os "países pobres".

A descolonização

As potencias europeias do inicio do século XX, arrasadas pelos conflitos da Segunda Guerra, viveram uma situação paradoxal ao ter-mino desse embate. Enquanto se proclamavam defensoras da liberdade e da autonomia dos povos, ainda tinham domínios coloniais.

Os movimentos de resistência e pro independência dos países colonizados ganharam forma, tanto pelos próprios processos de cada pais colonizado, quanto pela pressão da opinião publica dos países colonizadores. Também a atuação das duas grandes superpotências (EUA e URSS), interessadas em aumentar suas áreas de influencia, deve ser considerada no contexto da descolonização da África e da Ásia.

Algumas independências foram alcançadas de forma mais pacifica, muitas vezes contando com alianças das metrópoles com as elites locais; outras, no entanto, mobilizaram combatentes nas colônias, que formaram frentes de libertação e recorreram a luta armada para obter sua autonomia política.

O rompimento dos países afro-asiáticos com o colonialismo no século XX tem muitas explicações possíveis. Em linhas gerais devemos reconhecer três aspectos centrais, que não podem ser vistos

isolada-mente, para compreendermos a descolonização ocorrida a partir do final dos anos 1940:

o declínio das antigas potências européias - o desgaste da Inglaterra e da Franga, as duas principais nações européias colonialistas nos séculos XIX e XX, com a Segunda Guerra Mundial;

a emergência das duas superpotências mundiais e o apoio oferecido por elas aos países que lutavam por suas independências - na busca por espaços e pretendendo ocupar aqueles deixados pelas nações européias, os EUA e a URSS incentivaram ou mesmo ofereceram recursos para que os países buscassem a sua independência;

o nacionalismo emergente nos países colonizados - na Ásia e na África os levantes passaram a ter um componente nacionalista, expressando um sentimento de ruptura com a ordem política e econômica do cenário internacional. A noção de autodeterminação dos povos, principio expresso pela própria ONU, era um dos aspectos evidenciados pelos movimentos de independência.

A descolonização na Ásia

A descolonização no Oriente Médio teve inicio antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Começou pelo Egito e Iraque, colônias britânicas que conseguiram suas independências em 1922 e 1932, respectivamente. Em 1946 os ingleses deixaram a Transjordania (que corresponde aos atuais territórios da Jordânia e Síria) e em 1948, a Palestina. O Líbano se libertou da Franga em 1943 e a Síria, em 1946.

Mas o principal símbolo do imperialismo europeu do século XIX era a Índia.

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A independência da Índia: resistência pacifica e desobediência civil

Durante todo o século XIX, o imperialismo britânico dominou a Índia, como vimos no Capitulo 28. A resistência indiana aos ingleses já era expressa na fundação do Partido do Congresso, em 1886, sob os lemas da resistência pacifica e da não violência. Em 1942, o Partido do Congresso, liderado pelos hindus Mahatma Gandhi Jawaharial Nehru, reafirmou os princípios da independência pela resolução "Deixar a Índia", na qual defendiam ideais nacionalistas e a modernização do pais.

Considerado o grande líder da independência da Índia, Gandhi pregava a desobediência civil como forma de luta contra o jugo colonial da Grã-Bretanha, que se traduzia em não pagamento de impostos e boicote aos produtos manufaturados ingleses. Pelo lado dos muçulmanos, Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, defendia a criação de um Estado muçulmano independente.

Na tentativa de manter a Índia sob seu domínio, os britânicos trataram de fomentar o conflito entre hindus e muçulmanos, os dois maiores grupos religiosos da Índia, para enfraquecer os movimentos de libertação. Porem, o desejo de independência crescia pelo pais e o domínio inglês chegava ao seu limite. Em 15 de julho de 1947, os indianos conquistaram sua independência, divididos em duas nações: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana (Paquistão Ocidental e Oriental).

Em 1948, Gandhi foi assassinado por um extremista hindu, contrario a sua política de conciliação com os muçulmanos. Em 1965, graves incidentes na região da Caxemira levaram os dois Estados a uma guerra. O território da Caxemira ficou com a Índia, embora habitada por uma população majoritariamente muçulmana. A Caxemira foi dividida, mas ainda e motivo de intensas disputas entre Paquistão e Índia, envolvendo conflitos armados e ameaças pouco veladas de uso de armas nucleares para resolver a questão, visto que ambos detêm essa tecnologia.

Gandhi nasceu em 1869, na Índia, e foi morto por um extremista hindu em 1948. Cinco vezes indicado ao Nobel da Paz, nunca foi escolhido para o prêmio. Pregando a não-violência, conduziu a Índia a independência, ainda que, contra a sua vontade, dividida em dois países.

No processo de divisão dos dois países, mais de um milhão de pessoas morreram, devido a conflitos provocados pelo deslocamento de grandes contingentes populacionais - muçulmanos que viviam na recém-criada Índia tiveram de se deslocar para os recém-criados Paquistão Ocidental e Oriental, e vice-versa.

Em 1971, depois de uma guerra civil, o Paquistão Oriental separou-se do Ocidental, passando a denominar-se Bangladesh.

Saiba mais Caxemira

A Índia e hoje o segundo pais mais populoso do mundo com mais de um bilhão de pessoas, onde predomina a religião hindu. Seu vizinho Paquistão e predominantemente muçulmano. Ambos os países possuem arsenal nuclear e disputam hoje uma área fronteiriça muito fria ao norte da Índia e do Paquistão, conhecida como Caxemira. Essa região de maioria muçulmana ficou em território indiano, o que não satisfez os paquistaneses que reivindicam sua posse.

A disputa, não se da só no campo diplomático, mas é feita por escaramuças e ate mesmo por enfrentamentos militares e conflitos armados: Para dar demonstrações de forca, os dois lados realizaram testes nucleares e teme-se que armas nucleares possam ser usadas efetivamente em uma guerra entre os dois países. Em 2004, sob grande pressão intencional, os dois países iniciaram negociações sobre a questão.

Indochina

A Indochina foi ocupada pelos franceses ainda no século XIX. Entre 1940 e 1945, ela foi ocupada pelos japoneses que fomentavam o sentimento anti-Frances. Mas os invasores nipônicos foram combatidos pelos vietminhs, movimento fundado em 1941 e liderado pelo comunista Ho Chi Minh. Em 1945, com o exito obtido quanto a expulsao japonesa, o líder Ho Chi Minh declarou a independência do Vietnã. No entanto, a independência foi efêmera, pois os franceses não a reconheciam. Os dois grupos estabeleceram negociações que se estenderam ate meados de 1946, quando eclodiram os conflitos armados entre vietnamitas e franceses. Uma serie de atentados contra as tropas francesas na Indochina provocou uma intensa repressão do exercito Frances, que utilizou bombardeio s aéreos e matou centenas de pessoas. A represália vietminh foi o massacre de

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europeus na cidade de Hanoi. Era o inicio da guerra da Indochina, que durou oito anos (1946-1954). Os soviéticos apoiavam os guerrilheiros

vietminhs e os Estados Unidos, por causa da comunização da China e

da guerra da Coreia, decidiram apoiar os franceses, por volta de 1950. Mas o poderio franco-americano não foi capaz de vencer a guerrilha vietnamita. Em maio de 1954, os vietnamitas conseguiram a capitulação francesa em Dien-Bien-Phu. Em julho desse mesmo ano, a Franga reconheceu, pelos acordos de Genebra, a independência da Indochina: o Vietnã foi dividido em dois (Vietnã do Sul e do Norte) e surgiram o Laos e o Camboja.

A Indochina francesa era composta pelo Laos, Camboja, Tonquin e Annam, todos protetorados, e uma colônia, a ' Conchinchina. Na formação do Vietnã não foram incorporados apenas o Laos e o Camboja.

Recortes da História

Estados Unidos, União Soviética e ONU sobre a descolonização O despertar da Ásia.

Depois de mais de um ano, eu exprimo a opinião de que a Indochina não deve mais ficar sob a dominação francesa, mas devera ficar sob a tutela de uma comissão 'internacional. Cada caso deve ser regido separadamente, mas este da Indochina e muito claro. Ha cem anos que a Franga suga esse pais. O povo da Indochina merece uma melhor sorte. Franklin Delano Roosevelt, 1945, presidente dos EUA (1933-1945).

A crise do sistema, acentuada pelo fim da Segunda Guerra Mundial, se manifesta pela intensificação do movimento de liberação nacional nas colônias e países dependentes.

Os povos das colônias não desejam mais viver como no passado. As classes dominantes das metrópoles não podem governar as colônias como fizeram inicialmente. As tentativas de aniquilação do movimento de libertação nacional pelas forças militares se chocaram com a resistência armada crescente dos povos colonizados e conduzem a longas guerras coloniais: Holanda e Indonésia, Franga e Vietnã.

A. Jdanov, 1947, membro do Politburo Soviético.

Os Estados membros da Organização devem reconhecer e favorecer a (...) [implementação] no que diz respeito a população dos territórios sob sua tutela ou sob sua administração, do direito de que eles mesmos decidam seu destino, levando em consideração os princípios e o espírito da Carta das Nações Unidas. No que diz respeito a cada territ6rio, a vontade da população deve ser determinada por meio de um plebiscito ou por outros meios reconhecidamente democráticos, de preferência sob a égide das Nações Unidas.

Resolução da ONU em 16 dez. 1952. Fontes: Anais do Congresso Americano e Arquivo da Federação Russa.

A descolonização da África

A descolonização da África tomou impulso depois da Conferencia de Bandung, em 1955, que deu maior respaldo internacional aos movimentos de libertação africanos. A Conferência de Bandung Entre 18 e 24 de abril de 1955, 29 países da África (23) e da Ásia (6) que representavam, na época, mais de 50% da população mundial, reuniram-se em Bandung, na Indonésia, com o intuito de firmar o lugar que os novos Estados independentes

tinham no cenário mundial bipolarizado. As vozes que mais se sobressaíram foram as de Nasser, do Egito, de Nehru, da Índia e de Chu EnLai da China.

Um dos pontos mais polêmicos do encontro foi o julgamento da atuação da URSS na Ásia central e nos paises-satelites europeus sob sua influência: a ação dos soviéticos nessas regiões não teria o mesmo significado do imperialismo colonial impôs-to pelo Ocidente? Ao termino das discussões, mesmo com posições discordantes entre os participantes do encontro em relação a política internacional, o documento final trazia o repudio "ao colonialismo em todas as suas manifestações", ao racismo e ao alinhamento tanto aos Estados Unidos quanto a União Soviética. Desse comunicado nasceu um movimento afro-asiático que deu maior forca ao processo de descolonização do pós-guerra.

Os países mais pobres procuravam se libertar do domínio explícito das superpotências, reafirmando a autodeterminação dos povos e repudiando a bipolarização do mundo, desenhada pelos conflitos da Guerra Fria. A Conferência de Bandung e um marco nas relações internacionais do século XX por ser a primeira conferência internacional de peso sem a presença das grandes potências da época, EUA e URSS, que sequer foram convidadas.

Os movimentos de libertação na África

O processo de descolonização era tragado por dois caminhos bem distintos: um conseguido pela luta armada em conflitos abertos com as metrópoles, como Argélia e Franca, Congo Belga e Bélgica e África Oriental e Inglaterra que deram origem a três países: Tanzânia, Quênia e Uganda. O outro foi feito por negociações diplomáticas, de forma a manter lagos que dessem respaldo aos interesses econômicos das antigas metrópoles.

Os movimentos pela independência, entretanto, não eram homogêneos e muitas vezes foram caracterizadas por grandes rivalidades e disputas internas. As fronteiras impostas pelo imperialismo europeu no século XIX juntaram em um mesmo Estado etnias rivais e grupos que se uniram aos colonizadores e obtinham algum tipo de beneficio com a situação. As fronteiras artificiais criadas pelos colonizadores foram responsáveis pelo acirramento de disputas étnicas que muitas vezes desencadearam sangrentas guerras civis.

O sonho do pan-africanismo, ou seja, os africanos governados pelos africanos, supondo uma unidade entre os diferentes povos do continente, alimentada projetos políticos ambiciosos de uma unidade política que abrangesse aquele território. Porem, as divisões e as peculiaridades de cada região inviabilizaram este projeto. Questões imediatas, como a obtenção da independência política em relação aos países colonizadores europeus, eram mais importantes no horizonte de cada pais. Aspectos internos, como a disputa entre grupos pelo controle do poder nos novos países independentes, também influenciaram no contexto das independências africanas.

Mesmo com essas divergências foi criada em 1963 a Organização da Unidade Africana (OUA) que tinha como objetivos reforçar a solidariedade africana, eliminar todas as formas de colonialismo na África, assegurar a independência e a integridade territorial de cada Estado e a não interferência nos assuntos internos das nações africanas, entre outros. Na pratica, a OUA tinha princípios gerais que serviam como diretrizes, mas foi incapaz de interferir nas contradições internas impostas pelas fronteiras artificiais colonialistas.

As ultimas independências africanas foram as do império português. Guerras caras e impopulares contra os movimentos de independência em Angola, Moçambique e na Guine Portuguesa levaram a derrubada da ditadura direitista portuguesa do general Salazar, em 1974, que defendia a manutenção das colônias. Em 1975, a principal colônia portuguesa na África, Angola, libertou-se de Portugal, mas iniciou-se uma guerra civil entre o novo governo, apoiado pelos EUA, e os movimentos de libertação, apoiados pela URSS.

A luta pela independência da Argélia foi uma das mais duras. Desde 1954 os argelinos empreenderam ataques aos franceses que estavam em seu território. A repressão do exercito da Franga foi extremamente violenta, levando ao assassinato de muitas lideranças do pais Africano. Em 1962, os argelinos finalmente obtiveram a sua independência. Nas ruas de Argel, manifestações populares de apoio a luta militar contra os colonizadores foram uma das principais características da independência argelina.

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As dificuldades dos novos países descolonizados

O objetivo da autodeterminação concretizou-se nas antigas áreas coloniais da Ásia, África e Oceania. Porem, a independência política não era a única solução para os problemas que acompanhavam as novas nações. As dificuldades econômicas e as desigualdades sociais eram obstáculos maiores do que o* controle político. Os colonizadores implantaram modelos agrários exportadores ou de extra-Gao mineral, sem promover o desenvolvimento em suas colônias. Os novos países nasciam com uma economia fraca, com pouca ou nenhuma industrialização, sendo obrigados a recorrer a importação para suprir suas necessidades.

Com a descolonização, surgiram guerras e conflitos de caráter étnico em muitos países. Angola e Moçambique enfrentaram guerras civis. Em Angola, antes da independência que ocorreu em 11 de novembro de 1975, os três grupos nacionalistas (MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola) que tinham combatido militarmente o colonialismo português, lutavam entre si pelo controle do país. Cada um deles era apoiado por potencias estrangeiras, dando ao conflito uma dimensão internacional. A União Soviética e principalmente Cuba apoiavam o MPLA. A África do Sul e os EUA apoiavam a UNITA (que incorporou a FNLA), que se proclamava antimarxista e pro ocidental. A guerra civil entre a UNITA e o MPLA, iniciada em 1975, se arrastou pelas décadas seguintes, com breves períodos de paz. Apenas em 2002 o Parlamento angolano aprovou uma lei que anistiou os combatentes da guerra civil que praticaram crimes "contra a segurança do Estado".

Os escassos recursos que esses países possuíam para investimentos não atendiam as necessidades básicas de sua população. Assim, agravou-se o problema da subnutri-gao, da miséria, do analfabetismo ou da pouca escolaridade, como também a falta de assistência medica. Muitas vezes, uma elite ligada as antigas metrópoles se apropriava dos recursos públicos ou oriundos de empréstimos estrangeiros, acentuando ainda mais as desigualdades existentes, contrastando com a imensa maioria que vivia em condições de miséria.

Conflitos étnicos e apartheid

Na década de 1960, a retalhada África da partilha imperialista enfrentava problemas internos as nações independentes, fruto da rivalidade étnica e religiosa. Os processos políticos intensificaram rivalidades entre lideranças e grupos étnicos diferentes. As guerras civis, como em outras regiões do continente, eram frequentes. Sucederam-se ditaduras e tiranias em uma ordem política instável.

Guerras sangrentas, como a secessão de Biafra (1967-1970), ocorrida por disputas étnicas e pela delimitação de fronteiras, chocaram o mundo pela crueldade com que a população civil foi tratada, assim como os inimigos capturados. Biafra, uma região da Nigéria riquíssima em petróleo, foi acometida por uma fome devastadora. Estados vizinhos apoiaram tacitamente o massacre dos rebeldes biafrenses com medo de que outros grupos étnicos em seus territórios seguissem o exemplo. A acomodação as fronteiras artificiais era uma forma de impedir que os conflitos se estendessem pelo continente africano.

A guerra de Biafra matou mais de um milhão de crianças (na foto, criança vitima dessa guerra em 12 de julho de 1968). As imagens chegaram ao Ocidente e diante do imobilismo ocidental nasceu um dos mais atuantes grupos de ajuda humanitária não vinculados a nenhuma instituição oficial: "Médicos sem fronteiras".

Vivendo seu tempo

[A Organização Não Governamental] Médicos Sem Fronteiras foi criada em 1971 por um grupo de jovens médicos e jornalistas que, em sua maioria, tinham trabalhado como voluntários em Biafra, região da Nigéria, que, no final dos anos 60, está sendo destruída por uma guerra civil brutal. Enquanto

trabalhavam para socorrer as vitimas do conflito, eles perceberam que as limitações da ajuda humanitária internacional da época eram fatais. Para tratar dos doentes e feridos era preciso esperar por um entendimento entre as partes em conflito ou pela autorização oficial das autoridades locais. Alem do emperramento burocrático, os grupos de ajuda humanitária não se manifestavam diante dos fatos testemunhados. Em 1971, o sentimento de frustração desse grupo e a vontade de assistir as populações mais necessitadas de modo rápido e eficiente deram origem a Médicos Sem Fronteiras. A organização surgiu com o objetivo de levar cuidados de saúde para quem mais precisa, independentemente de interesses políticos, raça, credo ou nacionalidade. No ano seguinte, MSF fez sua primeira intervenção, na Nicarágua, após um terremoto que devastou o pais. Hoje, mais de 22 mil profissionais trabalham com essa organização em mais de 70 países.

Disponível em: <http://wvwv.msf.org.br/sobre/msfHistoria.aspx Acesso em: 20 maio 2006.

Manifestantes carregam faixas e cartazes em protesto no dia 2 de abril de 1960 contra o massacre de Sharpeville na África do Sul e contra a política de segregação racial desse pais.

O apartheid

O regime segregacionista sul-africano do apartheid vigorou ate 1991. Por ele, os africâner, minoria branca formada por descendentes de colonizadores brancos holandeses, retiraram as melhores terras dos negros, tomaram o poder e instituíram leis que proibiam os negros nativos de votar, frequentar certos locais públicos reservados exclusivamente aos brancos e ocupar cargos públicos.

A população negra das cidades foi expulsa para regiões periféricas, os chamados guetos, onde a qualidade de vida era precária, entre outras barbaridades. Em 1960, um movimento africano pacífico tomou corpo contra a instituição dos pass law, um "passe legal" com os dados da vida pregressa e atual do individuo, sendo uma verdadeira ficha policial que os negros eram obrigados a portar. Essa ficha era usada como forma de repressão pelos brancos que podiam, assim, controlar o movimento dos "nao-brancos". Revoltados, moradoras de Shaperville manifestaram contra tal imposição, o que resultou em 69 mortos e 180 feridos.

As marcas da descolonização e seus imensos problemas perduram ate os dias de hoje. A maioria dos países apresenta problemas sociais e econômicos, com poucas perspectivas de solução a curto e médio prazos. Alguns países tem grandes riquezas minerais, como a Nigéria (petróleo) e Angola (diamantes), mas não conseguiram sair do estagio de pobreza.

Alem disso, em virtude dos conflitos ainda existentes, a ONU calcula que haja mais de 4 milhões de refugiados em países vizinhos as áreas em conflito, dificultando ainda mais a sobrevivência das populações já carentes do continente.

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As guerras africanas produziram um grande 1 número de vítimas civis. Muitas vezes, uma I das facções bloqueava o acesso à comida ou I até mesmo impedia a população de plantar. I Outras vezes, atrocidades físicas e psicológicas marcaram milhares de pessoas para sempre. Na imagem, distribuição do parco alimento entre os refugiados de Umahia, Biafra, em 22 de março de 1969.

Saiba mais Nelson Mandela

e a luta contra o apartheid

O líder negro Nelson Mandela tornou-se conhecido por sua luta contra o regime de segregação racial na África do Sul. Por suas posições, ficou preso por 27 anos e foi libertado durante o governo do presidente branco Frederik de Klerk, que, após longa negociação e pressão internacional, referiu-se a Mandela como "o preso político mais antigo do mundo". Durante os anos 70, Mandela recusou a oferta de revisão de sua pena e nos anos 80 preferiu continuar preso a ter de renunciar às suas convicções.

Mandela e de Klerk foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz, em 1993, ocasião em que o líder negro declarou: "Os filhos da África do Sul brincarão em campo aberto, sem serem torturados pelas dores da fome e das doenças e sem sofrerem ameaças de agressão. As crianças são nosso maior tesouro". Depois de sua libertação, uma nova Constituição não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e, em 1994, foram realizadas as primeiras eleições multirraciais na África do Sul, quando Mandela foi eleito presidente.

Após o período na presidência, Mandela continua atuando na polí-tica internacional e nas questões africanas, como, por exemplo, alertan-do a comunidade internacional sobre a propagação da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), doença que tem castigado populações do continente, que não têm acesso a medicamentos e formas de con-trole de sua propagação. O alastramento dessa doença na África tem ocorrido de forma mais intensa que em outras regiões do planeta e reduzido a expectativa de vida em diversos países desse continente.

Depois

da descolonização, a procura por novos rumos...

A independência política das antigas colônias em nada modificou a situação de pobreza das nações do Terceiro Mundo, pois não tinham condições de se livrar do domínio econômico de suas ex-metrópoles. Entrava-se na era do neocolonialismo, política adotada por países desenvolvidos - as antigas metrópoles - para manter ou instituir formas de dominação econômica sobre os países descolonizados.

Disseram a respeito

0 desmoronamento dos sistemas coloniais

Não surpreendentemente, os velhos sistemas coloniais ruíram primeiro na Ásia. A Síria e o Líbano (antes franceses) se tornaram independentes em 1945 (...). Só em partes do Sudeste Asiático essa política sofreu séria resistência, notadamente na Indochina francesa (atuais Vietnã, Camboja e Laos), onde a resistência comunista declarara independência após a libertação, sob a liderança do nobre Ho Chi Minh. Os franceses, apoiados pelos britânicos e depois pelos EUA, realizaram uma desesperada ação para reconquistar e manter o país contra a revolução vitoriosa. Foram derrotados e obrigados a se retirar em 1954 (...).

A resistência no resto do Sudeste Asiático foi desigual. Os holandeses (que se revelaram um pouco melhores que os britânicos, descolonizando seu império Índico sem dividi-lo) eram fracos demais para manter um poder militar adequado ao imenso arquipélago indonésio (...). Eles desistiram quando descobriram que os EUA não consideravam a Indonésia uma frente essencial contra o comunismo mundial, ao contrário do Vietnã. (...)

Em 1950, a descolonização asiática estava completa, a não ser pela Indochina. Enquanto isso, a região do Islã ocidental, da Pérsia (Irã) ao Marrocos, era transformada por uma série de movimentos populares, golpes revolucionários e insurreições, começando pela nacionalização das empresas de petróleo ocidental no Irã (1951).

Contudo, os franceses resistiram tenazmente ao levante pela independência nacional da Argélia (1954-1962), um dos territórios em

que, a exemplo da África do Sul e - de certa manejra - Israel, a coexistência de uma população local com um grande grupo de colonos europeus tornava o problema da descolonização particularmente difícil de resolver. A guerra argelina foi assim um conflito de uma brutalidade peculiar, que ajudou a institucionalizar a tortura nos exércitos, polícia e forças de segurança de países que se diziam civilizados. (...)

De qualquer modo, em fins da década de 1950 já ficara claro para os velhos impérios sobreviventes que o colonialismo formal tinha de ser liquidado. Só Portugal continuou resistindo à sua dissolução, pois sua economia metropolitana atrasada, politicamente isolada e marginalizada não tinha meios para sustentar o neocolonialismo. (...) A África do Sul e a Rodésia do Sul, os Estados africanos com substanciais populações de colonos brancos (com exceção do Quénia) se recusavam a adotar políticas que inevitavelmente produziriam regimes controlados por africanos, e os brancos da Rodésia do Sul chegaram a declarar-se independentes para evitar esse destino. Contudo, Paris, Londres e Bruxelas (Congo Belga) decidiram que a concessão de independência com a manutenção da dependência econômica e cultural era preferível a longas lutas que provavelmente terminariam em independência sob governos esquerdistas.

Fonte: HOBSBAWM, E. J. A Era dos Extremo Op. c/f.

p. 214-215,217-219. O Terceiro Mundo

Dependentes económica e politicamente das nações ricas, os países mais pobres acabam sujeitan-do-se a acordos que muitas vezes contrariam seus interesses internos. Para tentarem mudar a correlação de forças imposta pela dependência do capital externo e se fortalecerem no comércio internacional, os chamados países do Terceiro Mundo articularam-se, desde a década de 1950, para, juntos, buscarem apoio em defesa de suas necessidades económicas e da soberania nacional, em um mundo bipolarizado.

Com o fim da Guerra Fria, os países do Terceiro Mundo, hoje conhecidos como "países em desenvolvimento", passaram a pleitear maior inserção de seus produtos no comércio internacional e a discussão de temas relativos ao desenvolvimento económico. Há muitas críticas a essa expressão, pois se pressupõe que um dia os países em desenvolvimento conseguirão atingir índices económicos e sociais comparáveis aos das nações mais ricas, partindo-se do princípio de que será '"inevitável" atingir esse modelo, ignoran-do-se as contradições e as disparidades entre os países.

Rio de Janeiro, Brasil. Por mais que se identifiquem as precárias condições dos países do chamado Terceiro Mundo, a economia desses países obteve expressivos índices de desenvolvimento. Porém, com a elevada concentração de renda, a riqueza de poucos contrasta com a pobreza da maioria da população.

Nem um nem outro: um Terceiro Mundo

Durante a Guerra Fria, a divisão do mundo em dois blocos antagónicos criou uma situação de alinhamento dos diversos países à potência sob a qual se encontrava sob influência, independentemente do grau de desenvolvimento das diferentes nações.

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A expressão "Terceiro Mundo" (Tiers Monde) foi usada pela primeira vez em 1952, em um artigo do demógrafo francês Alfred Sauvy, "Três mundos, três planetas", publicado na revista France

Obseruateur. Sauvy afirmava que entre os dois mundos claramente

definidos - o Primeiro, dos países "ocidentais" e o Segundo, dos países "comunistas" - havia um "Terceiro", o das nações subdesenvolvidas africanas, asiáticas e da Oceania, que se encontravam em processo de descolonização. Ele alertava: "Este Terceiro Mundo ignorado, explorado, desprezado como o Terceiro Estado [numa alusão à Revolução Francesa, na França do século XVIII, na qual o Terceiro Estado era formado por 97% da população, constituído pela pequena burguesia, artesãos, camponeses e trabalhadores urbanos que sustenta-vam o clero e a nobreza isenta de impostos e sem direitos políticos], quer, também, ser alguma coisa". A partir de 1960, no rol das nações do Terceiro Mundo também passaram a ser incluídos os países latino-americanos, independentes desde o século XIX.

Saiba mais

As principais conferências internacionais do Terceiro Mundo

Em 1955, como vimos, em Bandung, asiáticos e africanos se posicionaram contra o colonialismo e fixou-se a recusa do alinhamento direto com uma ou outra superpotência. Os países reunidos defendiam a descolonização das populações ainda dominadas, em especial na África; colocaram-se contra a dominação das nações ricas. Os países da África e da Ásia buscavam um papel de maior relevância no contexto internacional, como forma de assegurar o desenvolvimento económico em regiões pobres e carentes.

Em 1961, na Conferência de Belgrado, na ex-lugoslávia (atual Sérvia), reafirmaram-se as posições tomadas em Bandung e tomou corpo a posição dos países não-ali-nhados, com o direito de neutralidade diante dos conflitos "patrocinados" pelas superpotências.

Com o abrandamento da Guerra Fria em 1964, houve a Segunda Conferência Afro-asiática, na qual foi proposto um Programa para a Paz e a Cooperação Internacional, pretendendo que esses países tivessem mais poder de barganha nas relações internacionais. Nesse encontro, porém, permaneceu nítida a divisão entre países pró-soviéticos e pró-americanos.

Em 1966, Cuba sediou a Primeira Conferência Tri-continental, dessa vez com a participação também de representantes da América Latina. Nessa ocasião, o líder cubano Fidel Castro propôs expandir a revolução socialista para os diversos países "fragilizados" pelo imperialismo americano. Para o líder Che Guevara, companheiro revolucionário de Castro, as nações pobres deviam inspirar-se no modelo da Indochina, fazendo florescer "um, dois, numerosos Vietnãs". A proposta esbarrou nas já conhecidas divergências de caráter ideológico entre os países participantes.

Em 1973, na Conferência de Argel, capital da Argélia, o presidente Huari Bumediene declarou a importância do Terceiro Mundo como fornecedor de matérias-prímas para o Primeiro e Segundo mundos. Nessa conferência, o aspecto económico sobrepujou-se ao político. No encontro ficou claro o quão imperiosa era a reorganização da dinâmica económica mundial, visando a uma nova ordem económica internacional que pudesse contemplar o interesse dos países pobres.

A guerrilha, uma forma de vencer a dependência?

As revoluções socialistas soviética e chinesa inspiravam grupos para derrubar o poder em países pobres, principalmente, muitos deles incentivados pela vitória dos guerrilheiros vietcongues sobre a nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos, na guerra do Vietnã.

A Revolução Cubana, no entanto, era o grande modelo dos ideais revolucionários nas décadas de 1960 e 1970. Che Guevara tentou exportar a revolução cubana para o Congo, na Africa, e para a Bolívia. O carismático Ernesto "Che" Guevara foi um dos líderes esquerdistas que se embrenharam pelo coração da América do Sul, tentando convencer as populações locais, pobres e oprimidas, a aderir aos ideais revolucionários e lutar contra o imperialismo norte-americano.

Disseram a respeito

A construção da imagem do mártir revolucionário

O mexicano Jorge Castaneda analisou a figura do revolucionário Che Guevara, que nasceu na Argentina em 1928 e participou da Revolução Cubana ao lado de Fidel Castro. Che transformou-se em um mito que ultrapassou as fronteiras latino-americanas e o seu tempo. Foi assassinado em uma emboscada, em 1967, na Bolívia.

Limparam seu rosto, já sereno e claro, e descobriram-lhe o peito dizimado por [quase] quarenta anos de asma e um de fome no árido Sudeste boliviano. Depois o estenderam no leito do hospital de Nuestra Seiíora de Malta, alçando sua cabeça para que todos pudessem contemplar a presa caída. Ao recostá-lo na lápide de concreto, soltaram as cordas que serviram para atar suas mãos durante a viagem de helicóptero desde La Higuera, e pediram à enfermeira que o lavasse, penteasse e inclusive escanhoasse parte da barba rala que tinha. Quando os jornalistas e populares curiosos começaram a desfilar, a metamorfose já era completa: o homem abatido, iracundo e esfarrapado até a véspera da morte se convertera no Cristo de Vallegrande, refletindo nos límpidos olhos abertos a tranquilidade do sacrifício consentido. 0 exército boliviano cometeu o único erro da campanha depois de consumada a captura de seu máximo troféu de guerra. Transformou o revolucionário resignado e encurralado (...) na imagem de Cristo da vida que sucede à morte. Seus verdugos deram feição, corpo e alma ao mito que percorreria o mundo. (...)

Ernesto Guevara conquistou seu direito de cidadania no imaginário social de toda uma geração por muitos motivos, mas antes de mais nada pelo encontro místico de um homem com a própria época. Nos anos 60, repletos de cólera e doçura, outra pessoa teria deixado um leve rastro; o mesmo Che, em outra época menos turbulenta, idealista e paradigmática, teria passado em branco. A permanência de Guevara enquanto figura digna de interesse, investigação e leitura não deriva diretamente da geração à qual pertence. Não brota da obra nem sequer do ideário guevarista; vem da identificação quase perfeita de um lapso da história com um indivíduo. Outra vida jamais teria captado o espírito da época; outro momento histórico nunca se

reconheceria em uma vida como a dele. (...) A importância de Che Guevara para o mundo e para a vida de hoje se verifica (...) na atualidade dos valores de sua era [igual-dade, solidarie[igual-dade, libertação individual e coletiva], jaz na relevância das esperanças e sonhos dos anos 60 para um fim de século órfão de utopias, carente de projeto coletivo e dilacerado pelos ódios e tensões.

Fonte: CASTANEDA, J. G. Che Guevara: a vida em vermelho. São Paulo:

Companhia das Letras, 2006. p. 13, 15, 17. América Latina

Os reflexos da bipolarização entre as duas superpotências resultaram na aproximação dos países latino-americanos com os EUA. No entanto, após a experiência da Revolução Cubana e diante do contínuo quadro de desigualdade económica, muitos grupos inspirados em ideais revolucioná rios surgiram na América Latina. Nos anos 1960, houve um acirramento das tensões políticas no continente. Os Estados Unidos apoiaram ditaduras militares que contaram com o respaldo das elites locais, como uma forma de deter a comunização do continente. Em alguns outros lugares sua interferência económica era direta, feita pela aliança de grandes empresas estadunidenses e as oligarquias locais. A nova ordem política legitimava-se em nome dos princípios da Doutrina de Segurança Nacional, com nítido caráter anticomunista,

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inspirada na ação e política norte-americana para preservar a América Latina como sua área de influência.

Movimentos guerrilheiros socialistas espalharam-se pela América do Sul e atingiram também a Nicarágua, na América Central, zona de influência norte-americana. A maioria desses movimentos era financiada pela União Soviética. As guerrilhas eram formadas por intelectuais e estudantes, que acreditavam que por meio da luta armada conseguiriam acabar com as injustiças e desigualdades sociais que assolavam suas nações.

Assim como a guerrilha de Che no interior da Bolívia, outros movimentos guerrilheiros na América Latina não contaram com o necessário apoio dos diversos segmentos sociais de seus países e, vulneráveis, foram combatidos pelas ditaduras militares que imperavam no continente.

Os processos ditatoriais na América Latina (analisados no Capítulo 42, juntamente com a ditadura no Brasil) marcaram um período de modernização económica, em países como Brasil, Chile e Argentina, e grande repressão às liberdades civis e políticas, com a prática da tortura e com inúmeros desaparecidos políticos.

Entre os anos 1960 e 1970, as contradições sociais e políticas do continente e a polarização mundial tiveram profundas relações nos pro-cessos históricos da América Latina.

Disseram a respeito Uma avaliação da economia do Terceiro Mundo

A triste folha de serviços dos novos Estados da África subsaariana não deve nos levar a subestimar as substanciais realizações de países anteriormente coloniais ou dependentes mais bem colocados, que escolheram o caminho do desenvolvimento económico planejado ou patrocinado pelo Estado. Os países que vieram a ser conhecidos a partir da década de 1970 (...) como NICs (Newly Industrializing Countríes -

Países de Industrialização Recente) basea-vam-se todos, com exceção

(...) de Hong Kong, nessas políticas. Como atestará qualquer um com o mínimo de conhecimento de Brasil ou México, elas produziram burocracia, espetacular corrupção e muito desperdício - mas também uma taxa de crescimento anual de 7% nos dois países durante décadas: em suma, os dois conseguiram a desejada transição para economias industriais modernas. Na verdade, o Brasil se tornou por algum tempo o oitavo maior país industrial do mundo não comunista. (...) A certa altura, o setor público brasileiro era responsável por cerca de metade do Produto Interno Bruto e representava dezenove das vinte maiores empresas. (...) Planejamento e iniciativa de Estado eram a voga em toda parte do mundo nas décadas de 1950 e 1960, e nos NICs até a década de 1990. Se essa forma de desenvolvimento económico produziu resultados satisfatórios ou decepcionantes, isso dependeu de condições locais e de erros humanos.

Fonte: HOBSBAWM, E. J. I. Op. c/f. p. 344.

Cinemateca

A história oficial (1985, Argentina, dir.: Luís Puenzo) Filme que retrata a terrível ditadura militar argentina de 1976 a 1982.

Missing- desaparecido (1982, EUA/Inglaterra, dir.: Costa-Gavras)

Baseado em fatos reais, este filme aborda o desaparecimento de um norte-americano durante a ditadura chilena de Pinochet.

Gandhi (1982, Inglaterra, dir.: Richard Attenborough) O filme narra a vida do líder Gandhi e de suas lutas para libertar a índia da dominação inglesa.

Um grito de liberdade (1987, Inglaterra, dir.: Richard Attenbourough) Filme sobre a luta contra o apartheid, na África do Sul, do ponto de vista de um homem branco e de um negro.

Diários de motocicleta (2004/EUA/Peru/Chile/lnglaterra/ Argentina/Brasil, dir.: Walter Salles) A viagem do jovem Che Guevara pela América do Sul, antes de se tornar um dos ícones da Revolução Cubana.

A batalha de Argel (1965, Itália/Argélia, dir.: Gillo Pontecorvo) A luta da independência da Argélia, que põe em combate o exército francês e a Frente de Libertação Nacional.

REVISITANDO A HISTÓRIA

01. A Segunda Guerra Mundial trouxe fortes impactos no processo de descolonização afro-asiática. Enume-re-os e explique-os.

02. Como surgiu a expressão Terceiro Mundo? A que ela se referia? 03. Qual a importância da Conferência de Bandung, em 1955, para a

descolonização africana?

04. O que significava o não-alinha-mento dos países do Terceiro Mun-do? Que problemas enfrentavam para agir em bloco?

05. Observe a imagem abaixo, feita em 1893, no auge da colonização europeia na África,

a) O que a imagem retrata.

b) A independência mudou significativamente essa situação?

Submissão dos chefes indígenas aos franceses na Costa do Marfim. (Pétit Journalí)

Questões de vestibular

01. (UNIFOR - CE) Importante para o processo de descolonização da Ásia e da África, foi

a) a solução em 1955, em Bandung, e a defesa do não-ali-nhamento automático com as grandes potências.

b) criação de uma Assembleia Internacional para decidir sobre as questões de descolonização.

c) reafirmação da política imperialista dos Estados Unidos. d) manutenção da divisão do mundo em dois blocos políticos

antagónicos.

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02. (UNIRIO - RJ) O sistema do apartheid, articulado pela elite política bóer, apoiava-se na concepção da existência separada de duas nações no interior do Estado sul-africa-no. Ele compunha-se de uma tripla segregação que se caracteriza por ser:

a) étnica, pois somente alguns grupos negros podiam ir às Universidades; filosófica, justificando o conflito entre as nações africanas; e etnocêntrica, considerando que os brancos eram superiores aos negros analfabetos;

b) cultural, mediante o fomento dos conflitos interétnicos; militar, estimulando a criação de exércitos mercenários; e ideológica, exacerbando a influência soviética sobre os negros africanos; c) cultural, com a criação das novas nações negras na África do

Sul; sexual, impedindo que negros se casassem com brancas; e política, possibilitando que somente os negros primogénitos pudessem votar;

d) política, com a exclusão do exercício dos direitos políticos gerais; geográfica, através da delimitação de áreas reservadas de moradia; e geopolítica, mantendo a separação entre "nação negra" e "nação branca";

e) política, somente permitindo acesso ao voto dos brancos nascidos na África; cultural, valorizando somente o produto do branco; e geográfica, admitindo que os negros só pudessem trabalhar nos bantustões.

03. (UFES) Durante a descolonização afro-asiática que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, vinte e nove países do Terceiro Mundo se organizaram na Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955, objetivando reformular o caráter das relações entre as grandes potências e os países subdesenvolvidos. Como posição resultante dessa Conferência, pode-se indicar a seguinte;

a) os participantes defenderam uma política de não-alinha-mento automático com as superpotências e proclamaram seu direito à autodeterminação, além de condenarem o colonialismo. b) cinco países (Nigéria, Quénia, Gambia, China e Vietnã)

afirmaram sua emancipação política, referendando o Acordo de Versalhes com a França.

c) incentivos foram criados à diversificação da economia afro-asiática com vistas ao rompimento da divisão internacional do trabalho vigente na época, mediante a qual os países do Terceiro Mundo eram importadores de matéria-prima.

d) todos os países presentes à Conferência pronunciaram-se pela política de alinhamento ao bloco das democracias ocidentais. e) a implantação de bases militares estrangeiras foi exigida à

época, bem como foi recomendada a livre ação das empresas multinacionais em territórios do Terceiro Mundo.

04. (UFF - RJ - adaptada) Quando comparada à revolução chinesa, a independência indiana adquire uma singularidade que, ainda hoje, desperta a atenção dos estudiosos. Ao contrário de uma revolução comunista, a índia adquiriu sua independência pela via pacífica. Identifique o comentário que se refere, corretamen-te, à política implementada por Gandhi para obter a independência.

a) A política de desobediência civil que se fundamentava no princípio da resistência pela não-violência.

b) O sistema hindu, fundado na igualdade social e no sistema de castas, representou um obstáculo à independência indiana. c) Parte significativa da burguesia indiana apoiou a política de

Gandhi, pois o seu programa de defesa do produto nacional ajudava a combater a concorrência dos materiais ingleses. d) A doutrina da dignidade do trabalho defendida por Gandhi

implicava a defesa intransigente de greves de cunho político. e) O principal impulso do programa de Gandhi era a proposta de

reformulação da aldeia tradicional com a introdução da mecanização no campo.

05. (FVG - SP) Gandhi (1869-1948) conseguiu mobilizar milhões de indianos na luta para tornar o país independente da dominação britânica, recorrendo ao:

a) socialismo, à denúncia do sistema de castas e à guerra revolucionária.

b) nacionalismo, à modernização social e à ação coletiva não violenta.

c) tradicionalismo, à defesa das castas e à luta armada.

d) capitalismo, à cooperação com o imperialismo e à negociação. e) fascismo, à aliança com os paquistaneses e ao fundamentalismo

religioso.

06. (UFF - RJ - adaptada) Leia a notícia e observe a foto. Fim do Mundo mais Próximo

O ponteiro do "Relógio do Fim do Mundo" foi adiantado ontem em cinco minutos. Essa mudança deveu-se às explosões subterrâneas, nos últimos meses, de cinco bombas atómicas pela índia e seis pelo Paquistão, em testes que ratificaram a entrada dos dois países para o clube de potências nucleares - até então limitado aos EUA, Rússia, Inglaterra, França e China. (...)

"As consequências de um possível confronto nuclear entre índia e Paquistão são imprevisíveis", alerta o Boletim dos Cientistas Atómicos.

Adaptado do Jornal do Brasil, 12 jun. 1998.

Militares do Paquistão e da índia, frente a frente, na fronteira entre os dois países.

Um fator responsável pelos enfrentamentos entre índia e Paquistão é o seguinte:

a) a disputa pela região da Caxemira, área geográfica fronteiriça de maioria demográfica muçulmana, sob controle maioritariamente indiano;

b) o avanço do terrorismo na região da Caxemira, com domínio paquistanês sobre uma população maioritariamente de origem hindu;

c) a aliança política formada entre muçulmanos do Paquistão e do Afeganistão, sob liderança talibã, contrária ao hinduísmo nas fronteiras;

d) a pressão militar atómica chinesa sobre a índia, com a decorrente desestabilização da identidade religiosa que une indianos e paquistaneses;

e) o entrechoque de civilizações milenares, tornadas rivais a partir da corrida nuclear estabelecida naquela parte da Ásia.

07. (UFBA) O comportamento das camadas dirigentes fica mais claro de ser entendido quando se fica sabendo que muitos países obtiveram a sua independência em troca de concessões feitas aos antigos dominadores. Hoje se pode observar uma África descolonizada, mas envolvida em revoltas, fome e rebeliões de origem étnico-religiosa.

FARIA et a/., p. 379.

A partir do que afirma o texto, cite um dos fatores responsáveis pela contradição: África descolonizada x África como foco de conflitos e miséria e justifique sua resposta.

08. (UFPE) Na África, as lutas contra a opressão das grandes potências têm sido uma marca histórica inesquecível, mostrando as muitas contradições da Modernidade. Dentro desse contexto, foi relevante o movimento de libertação da Argélia, iniciado em 1954, e tema do filme de Gillo Pontecorvo, A batalha de Argel. Esse movimento: a) contou com a pouca organização da população, mas teve a

participação, nas lutas militares, de outras potências europeias, como a Inglaterra e a Alemanha;

b) teve a participação ativa da Frente de Libertação Nacional, com o apoio popular expressivo na luta militar contra os opressores coloniais;

c) fracassou militarmente, devido à falta de ajuda de outros povos que também lutavam contra a colonização europeia e não tinham recursos técnicos para atacar os adversários de forma sistemática;

d) apenas foi concluído no início dos anos 70, graças à vitória da Frente de Libertação, com sua guerrilha urbana atuante e o apoio dos soviéticos;

e) não teve a participação dos nacionalistas, sendo mais um confronto de conteúdo político e económico, baseado nos interesses dos franceses de não saírem da africa.

09. (PUC - SP - adaptada) "A economia dos países africanos caracteriza-se por alto endividamento externo, elevadas taxas de inflação, constante desvalorização da moeda e grande grau de concentração de renda, mantidos pela ausência ou fraqueza dos mecanismos de redistribuição da riqueza e pelo aprofundamento da dependência da ajuda financeira internacional, em uma escala que alguns países não tiveram nem durante o colonialismo."

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HERNANDEZ, L. L. A África na Sala de Aula. São Paulo: Selo Negro Edições, 2005.p. 615.

O fragmento caracteriza a atual situação geral dos países africanos que obtiveram sua independência na segunda metade do século XX. Sobre tal caracterização pode-se afirmar que:

a) deriva sobretudo da falta de unidade política entre os Estados nacionais africanos, que impede o desenvolvimento de uma luta conjunta contra o controle do comércio internacional pelos grandes blocos económicos.

b) é resultado da precariedade de recursos naturais no continente africano e da falta de experiência política dos novos governantes, que facilitam o agravamento da corrupção e dificultam a contenção dos gastos públicos.

c) deriva sobretudo das dificuldades de formação dos Estados nacionais africanos, que não conseguiram romper totalmente, após a independência, com os sistemas económicos, culturais e político-administrativos das antigas metrópoles.

d) é resultado exclusivo da globalização económica, que submeteu as economias dos países pobres às dos países ricos, visando à exploração económica direta e estabelecendo a hegemonia norte-americana sobre todo o planeta.

e) deriva sobretudo do desperdício provocado pelas guerras internas no continente africano, que se reacenderam em meio às lutas de independência e ao processo de formação nacional.



A crise do mundo socialista e o término da Guerra Fria A divisão do mundo entre os blocos capitalista e socialista após a Segunda Guerra Mundial teve seu epílogo a partir de 1989 com a crise dos países socialistas. Antes da crise, EUA e URSS viveram a chamada distensão (nos anos 1970) e um novo revigoramento da competição na década de 1980.

O caminho da distensão

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por uma transição na política internacional entre as duas superpotências. EUA e URSS enfrentavam dificuldades em suas áreas de domínio, como o rompimento da China com a URSS, e a desgastante campanha dos EUA no Vietnã.

Além das disputas entre si, as duas superpotências identificaram descontentamentos e contestações em suas áreas de influência. Nesse contexto, a grande novidade da política internacional, que teve reflexos em diferentes campos, foi a adoção da política de distensão (détenté) entre URSS e EUA. A corrida armamen-tista e o relativo equilíbrio entre Moscou e Washington, além das pressões populares dos anos 1960, levaram a uma reavaliação dos

programas de armas nucleares, que tinham, até então, assegurado o poderio dos líderes dos blocos comunista e capitalista.

Operário e trabalhadora de fazenda coletiva. Nesta escultura em aço de 25 m de

altura, criada em 1937 por Vera I. Mukhina. O operário com o martelo representa a força, e a mulher com a foice, a produtividade do campo. Martelo e foice são os símbolos do regime comunista.

A détente

Ao longo da década de 1960, EUA e URSS iniciaram as discussões sobre a limitação de testes nucleares subterrâneos (1963). As discussões sobre a não-proliferação de armas nucleares avançaram no período, com o compromisso de que os países que tinham tecnologia nuclear não aumentariam o seu arsenal, enquanto aqueles que não detinham a tecnologia não desenvolveriam esse tipo de armamento.

Essa discussão seria inócua se não envolvesse as superpotências. Em 1972, em um gesto dos novos tempos, URSS e EUA assinaram o acordo conhecido como SALT (Strategic Arms Limitation Talks —

Conversações sobre Limitação de Armas Estratégicas), que limitava a

produção de mísseis nucleares e previa o aumento de relações comer-ciais entre os dois países.

Selo comemorativo do vôo conjunto Apollo-Soyuz em 1975, uma missão espacial que envolveu norte-america-nos e soviéticos, em um gesto de aproximação entre as superpotências.

Os acordos de limitação de armas estratégicas "congelavam" os mísseis intercontinentais. Os países que não tivessem desenvolvido a tecnologia nuclear deveriam renunciar à possibilidade de a obterem. China e França, detentoras da tecnologia nuclear, rejeitaram o acordo, bem como outros países interessados em desenvolver tecnologia ató-mica. Mais do que mostrar um gesto pacifista, EUA e URSS pretendiam continuar monopolizando o domínio nuclear e reduzir os altos custos da manutenção da corrida armamentista.

Embora criticado e sem adesão de muitos países, o SALT foi um marco por iniciar uma nova fase nas relações entre os protagonistas da Guerra Fria. As duas superpotências, apesar das divergências ideológicas, passavam a ser parceiras em determinadas questões, como no domínio da tecnologia nuclear e nas operações espaciais.

Os EUA durante a distensão

No período da distensão, os EUA ampliaram as relações comerciais com a URSS e buscaram a aproximação com a China, iniciada durante a visita do presidente Nixon a Pequim em 1972. Esse gesto foi visto como uma provocação norte-ameri-cana aos soviéticos, pois a China, embora comunista, estava rompida com a URSS desde 1962 (como vimos no Capítulo 38).

Essas iniciativas, como podemos perceber, não significaram o fim da Guerra Fria, mas ampliaram os espaços de negociação entre os blocos. Os confrontos, por exemplo, nas lutas de independência das ex-colô-nias africanas (vistos no Capítulo 41), contavam com o apoio direto de EUA e URSS.

Internamente, os EUA ainda enfrentavam as consequências da Guerra do Vietnã. Os resultados da missão militar não eram favoráveis e as críticas da sociedade civil americana ao conflito se intensificavam, o que levou os EUA a se retirarem do Sudeste asiático em 1975. A política externa norte-americana era revista e submetida cada vez mais às pressões da opinião pública do país. A saída do Vietnã, entretanto, não significou que os EUA abdicariam dos assuntos internacionais, mas teve reflexos na condução dessas questões.

A invasão do Afeganistão pela URSS e a vitória da revolução islâmica no Irã, ambos ocorridos em 1979, levaram o republicano Ronald Reagan à

presidência dos EUA no ano seguinte, marcando a retomada de uma ação internacional mais forte para garantir a "segurança dos americanos e do mundo livre" e sepultando o clima da détente.

O filme Nascido em 4 de julho (1989), estrelado por Tom Cruise, resolveu uma das mais profundas feridas da história dos Estados Unidos: a perda de milhares de vidas na Guerra do Vietnã e a dificuldade de readaptação social enfrentada pelos ex-combatentes.

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Vivendo seu tempo A cultura norte-americana dos anos 1980

A década de 1980 sagrou-se nos EUA pelo culto ao sucesso pessoal, valorizando a ascensão profissional e o êxito económico. Assim, os yuppies {Young Urban Profissional), como ficou conhecida essa geração, agiam em função de seu interesse em ganhar e gastar milhares de dólares. O capitalismo estava consolidado e aqueles que se sobressaíam obtinham todas as vantagens e confortos que esse sistema económico podia oferecer. O ideal yuppie de felicidade era do enriquecimento antes dos 30 anos de idade. A propaganda tornava indissociável a relação entre dinheiro, felicidade, poder e sucesso. A aparência física tor-nou-se questão de primeira ordem e as academias de ginástica ganharam visibilidade nos grandes centros urbanos.

Essa mentalidade permeou fortemente a música e o cinema norte-americano neste período. O cinema carac-terizou-se pelo excesso, seja da violência - como nos filmes de Silvester Stallone ou nos de Arnold Schwarze-negger, em que se exaltava a coragem, o triunfo individual contra o mal -, seja de efeitos especiais nos filmes produzidos - Steven Spielberg emocionou o mundo com seu ET – O Extra-terrestre, em 1982, e a antológica cena da bicicleta que voa sob o clarão da lua cheia. Nessa mesma década, Spielberg levou a saga do arqueólogo Indiana Jones às telas, com suas incríveis aventuras em busca do Santo Graal ou da Arca Perdida. Além destes, cineastas mais ousados, como Francis Ford Copolla e Oliver Stone, reabriram velhas feridas sobre o Vietnã nos filmes Apocalypse Now (de 1979) e Platoon, propondo aos ame-ricanos um questionamento sobre sua participação na guerra do Sudeste asiático.

A televisão, além de estar presente na maioria das casas, a não ser na de países muito pobres, passou a ser mais uma forma de entretenimento, pelo uso acoplado de videocassetes aos televisores, que assim reproduziam os grandes sucessos do cinema em fitas VHS. Na mesma época surgiram os canais a cabo, que permitiram ao espectador ter uma programação mais diversificada. Em 1985, surgiu em Nova York uma tevê especializada em música, a MTV, com programação exclusivamente voltada para clipes musicais. Sua grande audiência fez com que se espalhasse pelo mundo.

Na música, os grandes astros pops, verdadeiros ídolos mundiais, venderam dezenas de milhares de discos. Seus shows, muitos deles verdadeiras megaturnês pelo mundo, vistos por milhares de pessoas reunidas em estádios, avenidas, entre outros lugares, passaram a ser acompanhados por inúmeros recursos audiovisuais. Entre esses superastros destacaram-se Michael Jackson e Madonna. O primeiro, em 1981, com seu disco e clipe Tríller, magnetizou centenas de milhares de fãs em todo mundo. A coreografia de Jackson no clipe mudou a linguagem visual desse tipo de produção para divulgação. Madonna vendeu 22 milhões de cópias em 1984, com seu álbum Like a Virgin. O

rock estourou com The Police, Talking Heads, The Clash e o U2, uma

banda irlandesa que trazia letras de músicas com forte conteúdo político.

Mas nada mudaria tanto a vida no planeta quanto um lançamento da empresa Apple, um microcomputador para uso individual e familiar.

União Soviética: exuberância externa e dificuldades internas A União Soviética, durante a détente, passou por intensas transformações internas, mas o objetivo de se alcançar ou superar os EUA foi abandonado. Embora a URSS ampliasse sua participação no comércio internacional, por exemplo, com a venda de petróleo para a Europa, as condições de vida da população não acompanharam o ritmo dos discursos oficiais.

Moscou ampliava sua presença internacional, exportando movimentos revolucionários para áreas pobres, como a Africa, e para países da Ásia, como o Afeganistão. Ou seja, os investimentos no setor bélico continuavam a ser uma prioridade do regime soviético.

Saiba mais

As mudanças sociais nos anos de Brejnev

Os anos da era Brejnev foram marcados pelo imobilismo político, mas nesse período a URSS passou por grandes transformações. As taxas de natalidade decresceram significativamente, embora variassem

muito no vasto território soviético. As repúblicas muçulmanas da Ásia foram as que registraram maior aumento de população, passando de 11%, em 1955, do número de habitantes da URSS para 16% em 1979. As diferenças regionais étnicas foram se acentuando, embora os altos membros do Comité do Partido Comunista Soviético insistissem que o marxismo-leninismo igualava a todos.

Nesse período, houve forte êxodo rural e a população urbana saltou de 48% (1960) para 62% em 1980. O discurso oficial dizia que o regime socialista garantia a segurança do emprego e um mínimo de conforto para a população, coisa que se tornava cada vez menos verdadeira nos centros urbanos. A escolarização de grande parte da população-principalmente das pessoas com nível médio e superior-também fez com que crescesse a capacidade crítica nesses segmentos.

A imagem de crescimento de suas zonas de influência, no entanto, contrastava com o aumento das resistências nacionais, com os levantes nas repúblicas soviéticas. No Leste europeu, a Alemanha Oriental comunista iniciava a "abertura para o Leste", nos anos 1970, aproximando-se da Alemanha Ocidental capitalista.

Outros países do Leste europeu buscavam maior liberdade em relação aos soviéticos. Um dos movimentos mais famosos ocorreu na Tchecoslová-quia, em 1968, no episódio que ficou conhecido como a Primavera de Praga (capital do país), tido como a maior afronta aos interesses soviéticos no Leste europeu. Na época, a Tchecoslováquia era governada por Alexander Dubcek, secretário-geral do Partido Comunista, que tentava implementar uma série de reformas democráticas no país, as quais acenavam para o fim do partido único, a ado-ção de uma política económica mais autónoma em relação à URSS, além da restauração das liberdades civis e dos direitos dos cidadãos. Dubcek pretendia implantar um modelo de "socialismo de rosto humano", afastando de vez o fantasma do stalinis-mo, pretensão que se chocava frontalmente com a ideologia do PC soviético. A reação da URSS veio no dia 20 de agosto de 1968, quando as tropas do Pacto de Varsóvia, o bloco militar dos países comunistas, invadiram Praga e depuseram Alexander Dubcek, substituído alguns meses depois por Gustav Husák, alinhado com Moscou.

A vitória soviética, no entanto, despertou muitas críticas, inclusive entre socialistas e comunistas do mundo europeu, aumentando o isola-mento da URSS.

Tanques soviéticos esmagam os anseios de liberdade na Primavera de Praga, em 1968. 0 episódio recebeu esse nome porque representava o florescer da independência tcheca em relação ao autoritarismo do regime comunista.

Um dos pontos nevrálgicos da crise no mundo socialista que levou ao fim da détente foi a ação militar no Afeganistão em 1979. No ano anterior, o país havia se tornado comunista, contando com o apoio de Moscou, porém grupos locais islâmicos se rebelaram contra o governo. Utilizando-se, da mesma estratégia repressora adotáda em Praga, os soviéticos invadiram o Afeganistão. A complexa situação polí-tico-militar desse país agravou-se, levando a uma sangrenta guerra civil. Os soviéticos não conseguiram impor o seu domínio na região. As tropas soviéticas se retiraram do Afeganistão

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