• Nenhum resultado encontrado

PROJETO DE PESQUISA. Título: Teoria e História do direito internacional em transição. Pesquisador: Prof. George Rodrigo Bandeira Galindo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PROJETO DE PESQUISA. Título: Teoria e História do direito internacional em transição. Pesquisador: Prof. George Rodrigo Bandeira Galindo"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

____________________________________________________________

Universidade de Brasília

Faculdade de Direito

PROJETO DE PESQUISA

Título: Teoria e História do direito internacional em transição

Pesquisador: Prof. George Rodrigo Bandeira Galindo

Brasília, agosto de 2008

1. Introdução

Desde a década de 1990, uma série de estudiosos do direito internacional, originalmente ligados ao movimento do critical legal studies nos Estados Unidos, iniciaram paulatinamente um projeto de crítica aos modos pelos quais o direito internacional é pensado e também aplicado. Esse grupo de estudiosos, que passaram a ser denominados a newstream do direito internacional, trouxeram ao menos três grandes desafios ao direito internacional: um desafio conceitual, um desafio metodológico e, por último, um desafio estratégico (CASS, 1996, p. 344). Não obstante os três desafios sejam

empreendidos de maneira conjunta por muitos representantes da newstream, o primeiro deles – conceitual – tem sido o que maiores controvérsias trouxe para a teoria e prática do direito internacional contemporâneo, justamente porque envolve uma reformulação das próprias fundações da ordem jurídica internacional.

Ainda segundo Cass (1996, p. 344), o desafio conceitual poderia ser dividido em três partes. Desse modo, para a newstream, a mainstream do direito internacional partiria das seguintes premissas: (a) abordagem complacente sobre como se define a cultura no plano jurídico internacional; (b) história do direito internacional como uma grande narrativa de progresso; (c) redução da produção legislativa do direito internacional ao costume ou ao tratado e esquecimento da dimensão da linguagem. A partir da crítica a tais premissas, esses estudiosos têm cobrado reformas no direito internacional.

(2)

Embora as críticas formuladas pela newstream já remontem quase duas décadas, é possível dizer que diversos setores do direito internacional, especialmente aqueles que lidam com aspectos mais práticos, ainda demonstram resistência em aceitar a necessidade de levar adiante a crítica conceitual e reformular suas próprias premissas. A resistência é ainda maior em países como o Brasil, em que a reflexão jurídica internacional dificilmente toca as premissas básicas do sistema jurídico internacional. 2- Perguntas de pesquisa

O desafio conceitual proposto pelos newstreamers à disciplina do direito internacional procede?

Em específico, cultura, progresso e linguagem são categorias realmente importantes para encarar o desafio conceitual?

Em caso afirmativo, por que uma grande parte da disciplina ainda desconhece ou menospreza os aportes trazidos pela newstream?

A pouca recepção do desafio conceitual em países como o Brasil tem sua razão de na postura adotada pelos operadores jurídicos em face do direito internacional? 3. Hipóteses

A importância da newstream no direito internacional reside mais em sua capacidade de contestação dos alicerces da disciplina do direito internacional do que, exatamente, na sua reinterpretação desses alicerces. De qualquer modo, é possível perceber, ainda nos dias de hoje, que o direito internacional encara com muita dificuldade os desafios da cultura, do progresso e da linguagem. Tais desafios são essenciais para uma compreensão integrada da disciplina, uma vez que representam três dimensões essenciais: (a) a forma como o direito internacional se relaciona com outras disciplinas (cultura); (b) a forma como o direito internacional encara seu próprio passado (progresso); (c) a forma como o direito internacional articula internamente suas próprias premissas (linguagem).

A resistência em revisitar as próprias bases da disciplina guarda uma forte relação com um espírito pragmático que envolveu boa parte dos internacionalistas após o fim da II Guerra Mundial. Estes pretendiam conferir um novo rumo à ciência jurídica

(3)

período do entre-guerras cederam espaço para a tentativa de solução de problemas supostamente mais concretos e por um crescente desprezo pela teoria e a história do direito internacional (KENNDEY, 1988, p. 1-48). Muitos resquícios dessa perspectiva se

fazem sentir ainda nos dias de hoje.

Esse senso de pragmatismo dominou países como o Brasil, em que operadores jurídicos passaram não apenas a desprezar a teoria e a história do direito internacional, como desprezar a própria disciplina do direito internacional. O senso de pragmatismo foi ainda estimulado por eventos históricos ocorridos internamente no Brasil: o período de exceção democrática estimulou uma maior despreocupação para com o direito internacional (GALINDO, 2002, p. 363-404).

4. Objetivos

O objetivo principal da presente pesquisa é traçar o impacto que a newstream tem produzido na reflexão sobre a teoria e a história do direito internacional. Com isso, não se pretende chegar a conclusões necessariamente alinhadas com aquelas formuladas pelos newstreamers, mas tomar a crítica formulada pelo movimento como modelo para críticas e outro tipo, partindo da hipótese que o direito internacional não lida muito bem com as dimensões da cultura, do progresso e da linguagem.

4.1. Objetivos específicos

Desenvolver, entre estudantes de graduação e pós-graduação, através de atividades de grupos de pesquisa como o Grupo Direitos Humanos e Democracia, as implicações que o desafio conceitual traz para o direito internacional. A partir desse projeto mais amplo, pretende-se desenvolver, de maneira vinculada, ao menos três outros projetos com alcance menor: uma para a dimensão da cultura, outro para a dimensão do progresso e o terceiro para a dimensão da linguagem. Em relação ao segundo projeto, um importante passo já foi dado com a disciplina Arqueologia Crítica das Teorias Jurídicas, ministrada pelo autor do presente projeto no primeiro semestre de 2008. A disciplina analisou o seguinte tema: “Narrativas de Progresso no discurso jurídico: com ênfase no direito constitucional e no direito internacional”, e trouxe importantes pontos de partida para a reflexão sobre o impacto do progresso no direito internacional.

(4)

4. Metodologia

A pesquisa buscará empreender a análise do impacto do desafio conceitual em três níveis: (a) análise de casos julgados por diferentes tribunais internacionais e tribunais constitucionais internos; (b) análise da prática dos Estados relativa ao direito internacional; (c) análise da doutrina do direito internacional e de ramos jurídicos correlatos.

A pesquisa interdisciplinar será de fundamental importância, especialmente no que se refere ao desafio conceitual que concerne à cultura - antropologia, relações internacionais, sociologia, psicologia e literatura; mas também a historiografia, em relação ao tema do progresso e a teoria da linguagem, no que se refere à dimensão da linguagem.

5 – Resultados Esperados

Espera-se que as análises realizadas despertem para a necessidade de formulação de constantes juízos críticos sobre as base constitutivas do direito internacional.

6 - Bibliografia Preliminar

ANGHIE, Antony (1999). Finding the Peripheries: Sovereignty and Colonialism in Nineteenth-Century International Law. Harvard International Law Journal. Cambridge. Vol. 40. Nº 1, pp. 1-71.

BECKETT, Jason A. (2005) Countering uncertainty and ending up/down arguments: prolegomena to a response to NAIL. European Journal of International Law. Firenze. Vol. 16. Nº 2, p. 213-238.

BENJAMIN, Walter (1994). Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte

e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 7a ed. São Paulo:

Brasiliense, pp. 222-232.

BERMAN, Nathaniel (1993). “But the alternative is despair”: European nationalist and the modernist renewal of International Law. Harvard Law Review. Cambridge. Vol. 106. Nº 8, pp. 1792-1903.

CARTY, Anthony (1991). Critical International Law: recent trends in the Theory of International Law.

European Journal of International Law. Firenze. Vol. 2. Nº 1, pp. 66-96.

CASS, Deborah Z. (1996). Navigating the Newstream: recent Critical Scholarship in International Law.

Nordic Journal of International Law. Lund. Vol. 65. Nº 1, pp. 341-383.

CONNELLY, James (2004). A Time for Progress? History and Theory. Middletown. Vol. 43. Nº 3, pp. 410-422.

CRAVEN, Matthew et al (ed.) (2007). Time, history and international law. Leiden: Martinus Nijhoff. CRYER, Robert (2002). Déjà vu in International Law. The Modern Law Review. London. Vol. 65. Nº 6, pp. 931-949.

FISCHER-LESCANO, Andreas e TEUBNER, Gunther (2004). Regime-collisions: the vain search for legal unity in the fragmentation of global law. Michigan Journal of International Law. Ann Arbor. Vol. 25. Nº 3, pp. 999-1046.

FISHER III, William W. (1997). Texts and contexts: the application to American legal history of the methodologies of intellectual history. Stanford Law Review. Palo Alto. Vol. 49. Nº 5, pp. 1065-1110. GADDIS, John Lewis (2003). Paisagens da história: como os historiadores mapeiam o passado. Trad.

(5)

GALINDO, George Rodrigo Bandeira (2002). Tratados Internacionais de Direitos Humanos e Constituição Brasileira. Belo Horizonte: Del Rey.

GALINDO, George Rodrigo Bandeira (2004). Martti Koskenniemi and the historiographical turn in international law. European Journal of International Law. Vol. 16. Nº 3, pp. 539-559.

GARDINER, Patrick (1995). Hegel. In: GARDINER, Patrick (ed.). Teorias da História. 4a ed. Trad. Vítor Matos e Sá. Lisboa: Calouste Gulbenkian, pp. 71-73.

GREWE, Wilhelm (2000). The Epochs of International Law. Transl. Michael Byers. Berlin; New York: de Gruyter.

HUECK, Ingo J. (2001). The Discipline of the History of International Law – New trends and methods on the history of International Law. Journal of the History of International Law. The Hague. Vol. 3. Nº 2, pp. 194-217.

KANT, Immanuel (2004). Para a paz perpétua. Trad. J. Guinsburg. In: GUINSBURG, J. (org.). A paz

perpétua: um projeto para hoje. São Paulo: Perspectiva, pp. 31-87.

KENNEDY, David (1987). International Legal Structures. Baden-Baden: Nomos Verlagsgesellschaft. KENNEDY, David (1988). A new stream of international legal scholarship. Wisconsin International Law

Journal. Madison. Vol. 7. Nº 1, pp. 1-49.

KENNEDY, David (1996). International Law and the Nineteenth Century: History of an illusion. Nordic

Journal of International Law. Lund. Vol. 65. Nº 3/4, pp. 385-420.

KENNEDY, David (2000). When Renewal Repeats: Thinking against the Box. New York University

Journal of International Law and Politics. New York. Vol. 32. No. 2, pp. 335-500.

KENNEDY-PIPE, Caroline (2000). International History and International Relations theory: a dialogue beyond the Cold War. International Affairs. London. Vol. 76. Nº 4, pp. 741-754.

KORHONEN, Outi (1996). New international law: silence, defence or deliverance? European Journal of

International Law. Firenze. Vol. 7. Nº 1, pp. 1-28.

KOSKENNIEMI, Martti (2005). From apology to utopia: the structure of international legal argument (reissue with new epilogue). Cambridge: Cambridge University Press.

KOSKENNIEMI, Martti (1999). Letter to the Editors of the Symposium. American Journal of

International Law. Washington. Vol. 93. Nº 2, pp. 351-361.

KOSKENNIEMI, Martti (2002). The Gentle Civilizer of Nations: The Rise and Fall of International Law,

1870-1960. Cambridge: Cambridge University Press.

MARKS, Susan (2000). The riddle of all constitutions: international law, democracy and the critique of

ideology. New York: Oxford University Press.

METZ, Johann Baptist (1999). Por una cultura de la memoria. Trad. José Maria Ortega. Barcelona: Anthropos.

MORGAN, Ed (2007). The aesthetics of international law. Toronto: Toronto University Press.

PAULUS, Andreas (2001). International Law after postmodernism: towards renewal or decline of International Law. Leiden Journal of International Law. Leiden. Vol. 14. Nº 4, pp. 727-755.

POCOCK, J. G. A. (2003). Linguagens do Ideário Político. Trad. Fábio Fernandez. São Paulo: EdUSP. SCHMITT, Carl (2002). El nomos de la Tierra: en el derecho de gentes del ‘Ius publicum europaeum’. Trad. Dora Schilling Thou. Granada: Comares.

SKINNER, Quentin. Visions of Politics. Vol. I: Regarding Method. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 57-89.

SKOUTERIS, Thomas (1997). Fin de NAIL: New Approaches to International Law and its Impact on Contemporary International Legal Scholarship. Leiden Journal of International Law. Leiden. Vol. 10. Nº3, p. 415-420.

SMITH, Thomas W. (1999). History and International Relations. London: Routledge.

SUGANAMI, Hidemi (1989). The domestic analogy and world order proposals. Cambridge: Cambridge University Press.

TOWES, John E. (1987). Intellectual history after the linguistic turn: the autonomy of meaning and the irreducibility of experience. The American Historical Review. Bloomington. Vol. 92. Nº 4, pp. 879-907.

Referências

Documentos relacionados

Tendo em consideração que os valores de temperatura mensal média têm vindo a diminuir entre o ano 2005 e o ano 2016 (conforme visível no gráfico anterior), será razoável e

O movimento cognitivista enfatiza o funcionamento do sistema cognitivo, esta- belecendo uma ruptura no domínio da in- vestigação na psicologia. A pesquisa tradi- cional

A cirurgia, como etapa mais drástica do tratamento, é indicada quando medidas não invasivas como dietas restritivas e a prática regular de exercícios físicos

utilizada, pois no trabalho de Diacenco (2010) foi utilizada a Teoria da Deformação Cisalhante de Alta Order (HSDT) e, neste trabalho utilizou-se a Teoria da

Em síntese, no presente estudo, verificou-se que o período de 72 horas de EA é o período mais ad- equado para o envelhecimento acelerado de sementes de ipê-roxo

Quanto às suas desvantagens, com este modelo, não é possível o aluno rever perguntas ou imagens sendo o tempo de visualização e de resposta fixo e limitado;

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das