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A ESCOLA E O BAIRRO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO: UM ESTUDO DA CONCEPÇÃO DO PROGRAMA DE GESTÃO COMUNITÁRIA DA ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA APRENDIZ

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A ESCOLA E O BAIRRO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO:

UM ESTUDO DA CONCEPÇÃO DO PROGRAMA DE GESTÃO

COMUNITÁRIA DA ASSOCIAÇÃO CIDADE ESCOLA

APRENDIZ

Mayara de Freitas Orientadora Profa. Dra. Sandra Aparecida Riscal Linha de Pesquisa do Mestrado: Educação Cultura e Subjetividade

Resumo

O objeto de estudo desse trabalho é o projeto Bairro-Escola da ONG Cidade Escola Aprendiz e seu objetivo é analisar as concepções de Bairro-Escola, Educador Comunitário e Gestor Público em Educação Comunitária pela articulação destes conceitos com as concepções de parceria, comunidade e justiça social que o fundamentam. Pretende-se compreender, pela análise da documentação relativa ao programa, a relação entre as ações propostas e os fundamentos teóricos apresentados, verificando a sua aderência e organicidade e determinar o papel atribuído às parcerias. Trata-se de entender em que medida essas concepções podem fazer parte de uma política de ações compensatórias, voltadas para a equidade e justiça social, e do projeto de modernização, racionalização e de gerenciamento. O procedimento analítico se baseará nas categorias de modernização e racionalização, de Max Weber, eqüidade e justiça social de John Ralws e confluência perversa de Evelina Dagnino. Para realizar o objetivo proposto, serão analisados os documentos relativos ao projeto, os projetos de parceria e de adesão dos municípios e a literatura produzida a este respeito.

Palavras Chaves

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Introdução

O objeto de estudo é a experiência “Bairro-Escola” da organização não governamental Cidade Escola Aprendiz fundada por Gilberto Dimenstein em 1997. A escolha foi feita por se tratar de um projeto que tem como finalidade a integração comunidade e escola, que é um dos principais objetivos da gestão democrática, tal como é definida na Constituição Brasileira e na Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. Pretendemos estudar os conceitos “Educador Comunitário” e “gestor público em Educação Comunitária”, difundidos por essa ONG, e como tem se dado a formação desses profissionais. Além disso, interessa-nos conhecer as bases teórico-metodológicas que embasa a capacitação, a concepção de aptidão e função, para compreender os fundamentos do programa Bairro-Escola e sua concepção de educação formal e não formal.

Com a constituição de 1988 e, posteriormente com a LDB, lei 9394/96, deu-se início a um processo que se propagou pelos diferentes níveis dos variados sistemas de educação brasileiro, a ideia da implementação da gestão democrática. Entretanto, desejamos compreender se aqui estamos diante da mesma ideia sobre gestão democrática ou sob uma capa de participação da comunidade estaria se realizando um programa de gestão de resultados, voltado para a eficiência, otimização dos recursos, racionalização dos processos administrativos e inserção no mercado de trabalho. Seria o projeto da Organização Cidade Escola Aprendiz um fator de elevação ou de empecilho ao desenvolvimento de uma gestão mais democrática?

Outro aspecto importante para a compreensão do projeto refere-se à concepção de parceria que constitui um aspecto da política gerencial que desresponsabiliza o Estado pelos serviços sociais e torna as unidades escolares executoras da política educacional, sob financiamento, controle e avaliação não só do Estado, mas também de instituições do Segundo e Terceiro Setores e de agências internacionais. (Libanori, 2011).

Tendo em vista estes aspectos, para atingir o propósito exposto, será empreendida uma análise do discurso apresentado nos documentos que embasam a ONG Cidade Escola Aprendiz. Em particular, concentraremos nossa atenção nas concepções de gestão democrática, comunidade e justiça social de modo a verificar como estas concepções podem ser articuladas às concepções de gestão comunitária e educação comunitária, centrais ao projeto. É necessário afirmar que não se pretende, neste trabalho, avaliar esta ONG do ponto de vista de sua eficácia em relação aos programas, se estes atingem os objetivos propostos e quais os resultados obtidos até o momento. Este já foi o objeto de outros estudos, como o

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realizado junto à PUC com a pesquisa denominada "Identificação de Valores de Jovens Brasileiros – Uma Nova Proposta". Nosso estudo está voltado exclusivamente para a determinação dos pressupostos do projeto, na medida em que permite compreender seu papel na determinação da concepção de gestão dos dirigentes escolares e de sua influencia nas iniciativas comunitárias e de políticas públicas.

A análise da articulação das concepções propostas pela ONG e a noção de gerenciamento permitirá compreender se suas ações podem ser situadas no campo das mudanças nas políticas públicas que se configuraram a partir da década de 1990, com o projeto de Reforma do Estado. Neste caso, o projeto em questão pode ser compreendido como uma alternativa de financiamento por meio de uma delegação das responsabilidades estatais ao setor não público, que supriria os projetos educacionais com os recursos que faltam ao Estado, trazendo suplementarmente, a vantagem da eficiência que caracterizaria, segundo a concepção gerencial, o setor privado. Neste sentido, a proposta da ONG atende ao princípio que introduz a lógica produtiva e de mercado no interior da esfera educacional. Tomada neste sentido, o modelo de gestão que é proposta pela ONG Cidade Escola Aprendiz, se aproximaria mais do tipo gerencial, voltado para formação de liderança e para um processo de modernização.

O procedimento teórico-metodológico deste trabalho será baseado em pesquisa bibliográfica e documental. Os documentos foram obtidos junto aos sites da Associação Escola aprendiz e Bairro-escola e das instituições parceiras, bem como em publicações destas instituições. Serão consultadas, também, as documentações relativas às parcerias com Secretarias municipais de educação.

Para atingir o fim proposto, usamos como referencial teórico os conceitos de racionalização e modernização segundo as obras de Max Weber. Para discutir a concepção de gestão e autogestão, ideologia e administração, basearemos nos trabalhos de Maurício Tragtenberg. Para tratar dos aspectos relativos à ressignificação dos conceitos de participação e cidadania, tomaremos como base as reflexões de Evelina Dagnino.

Particularmente abordaremos o conceito de justiça como equidade à luz das obras de John Rawls. Rawls. Concepções de equidade e justiça social estão diretamente vinculadas à concepção de desenvolvimento econômico, entendido como diminuição das diferenças por meio da elevação da capacidade de empregabilidade da população. Os projetos educacionais têm sido articulados com a política de estabilidade e crescimento da economia. Daí a importância de lidar com as desigualdades por meio da formação para o trabalho.

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Neste sentido, a noção de democratização deixou de representar o poder da população na determinação das políticas fundamentais que constituem o Estado para ser identificada com controles democráticos de políticas de implementação e gestão, consideradas por meio de sua maior eficácia em garantir a sustentabilidade da economia e não em seu papel de propiciar a redistribuição das condições de produção de renda.

Objetivos

O objetivo deste trabalho é esclarecer os pressupostos subjacentes ao discurso da ONG Cidade Escola Aprendiz, e compreender quais são as concepções teóricas que fundamentam este programa, de forma que se possa estabelecer o papel deste programa na política educacional que vem sendo implementada no Brasil a partir da década de 1990.

Do ponto de vista teórico, pretende-se verificar as matrizes teóricas que fundamentam o projeto, sua relação com a concepção de gerenciamento de resultados e teoria do capital humano.

Para atingir os objetivos propostos:

- Focalizaremos nossa atenção em particular nos conceitos de “Bairro-Escola” e os conceitos

“educador comunitário” e “gestor público em Educação Comunitária”.

- Verificar se estas concepções se articulam com os princípios de gestão democrática, ou se

têm maior identidade teórica com a noção de gerenciamento de resultados;

- Análise das concepções de parceria, cidadania, justiça social nos textos relativos ao

programa de forma a determinar o significado que assumem no discurso estudado.

Metodologia

Nesta fase inicial da pesquisa, realizou-se o levantamento dos dados relativos à ONG Cidade Escola Aprendiz por meio de coleta de documentação do programa junto à organização, nas publicações e trabalhos do instituto. Procurar-se-á estabelecer os objetivos e fundamentos do programa de parceria.

Também será objeto de análise, para subsídio à compreensão das concepções que embasam o projeto, os livros de Gilberto Dimenstein, idealizador do projeto e criador da ONG e que tem produzido uma farta literatura sobre o assunto. Serão ainda utilizadas como

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fontes artigos, reportagens e noticias em revistas, jornais e sites sobre o programa ou sobre o tema em estudo.

Procedimentos

A pesquisa vem sendo desenvolvida, com o estudo do referencial teórico e com a análise das fontes documentais. Já foi realizado o levantamento das fontes e após a primeira leitura e listagem das categorias obtidas na analise crítica inicial, procedeu-se à síntese de categorias segundo orientações, assuntos e detalhamentos. Em uma segunda etapa, será realizada a análise do programa à luz do referencial teórico. Finalmente pretende-se compor um quadro geral, sintético, que explicite, por meio das categorias de análise, as bases teórico-metodológicas do programa e a caracterização de suas ações.

Resultados

A leitura realizada até o momento dos documentos coletados sugeriu alguns aspectos dignos de aprofundamento, encontramos concepções de democratização e autogestão com perspectivas de uma educação voltada para as mudanças do sistema produtivo e do mundo do trabalho.

Nas propostas, ao mesmo tempo em que aponta para uma formação educativa voltada para o mercado e para propostas de ensino baseadas na concepção liberal de aprender a aprender, semelhantes ao escolanovismo, por outro lado adota um vocabulário com expressões de educação libertária retiradas de textos de Paulo Freire, às quais são acrescentadas concepções provenientes da concepção de capital humano e estratégias de ação, as mais variadas, que dão a sensação de fragmentação sem que uma coerência teórica entre os projetos possa ser detectada. Esta fragmentação pode ser apenas uma falsa sensação de superficialidade que esconde uma base flexível que permite adaptar o discurso a diferentes situações, sem que se abra mão da questão que seria fundamental, embora não seja a mais citada: a formação para um mercado de trabalho que exige uma mão de obra flexível, capaz de navegar em diferentes discursos e concepções.

Embora pareçam remeter a uma experiência autogestionária e libertadora, os termos e frases apresentados no contexto que visa em última instância a formação para o trabalho e o desenvolvimento econômico, assumem uma significação, muito distante da original.

Para a análise e compreensão deste tipo de discurso a concepção de confluência

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período de redemocratização, conceitos como participação e cidadania foram esvaziados de significado tendo sido radicalmente redefinidos e reduzidos a concepções “com ênfase gerencialista e empreendorista que permitira o seu transito da área da administração privada para o âmbito da gestão estatal com todas as implicações despolitizadoras delas decorrentes.” (DAGNINO,2004: 206).

Um exemplo deste tipo de confluência perversa pode ser observado na seguinte locução que se refere ao projeto Bairro-escola:

um projeto de cidade, que gera autonomia, cooperação e contribui para o desenvolvimento local, uma vez que fortalece simultaneamente o capital humano e o capital social, expandindo o potencial dos indivíduos ao mesmo tempo em que estreita os vínculos entre os atores locais. (Bairro-Escola passo a passo, p. 08)

Neste caso mescla-se o ideal de um projeto que não seria apenas local, mas de cidade, que geraria autonomia, cooperação para o desenvolvimento local, apontando assim para ideais comunitários. Ao final, acrescenta uma concepção que pode ser reconhecida como originária das décadas de 1960 e 1970, conhecida como teoria do capital humano, cujo pressuposto central seria a consideração da força de trabalho como capital, que pode ser produzido deliberadamente por meio de investimentos e treinamento com vistas ao crescimento econômico. Esta concepção, que considera o trabalhador como capital é ainda associada, na frase, ao conceito de capital social, que pode ser interpretado em diferentes acepções, tanto no sentido empresarial, quanto segundo a concepção de Bourdieu, que remete às trocas simbólicas entre indivíduos no campo social. Finalmente a referência ao estreitamento de vínculos entre os atores locais, pode ser considerada uma referência às concepções de redes sociais que tem frequentado alguns estudos de ciências sociais a partir da década de 1980.

O projeto propõe um pacto com a sociedade civil, com a realização de parcerias específicas com aqueles que disponibilizam espaços, monitores, instrutores, metodologias, recursos materiais ou financeiros para a execução do programa, também precisam ser formalizadas. A ideia é, segundo o projeto, implantar uma rede de parcerias diversificada e um processo de gestão transparente e participativo, considerados como requisitos a sustentabilidade e continuidade. Este pacto proposto com a sociedade civil representa a adoção e reelaboração da política educacional que passa a ser partilhada com as associações não governamentais e setores privados.

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A participação cada vez maior destes setores na orientação das políticas públicas e ações dos sistemas municipais de ensino e das unidades escolares apontam para uma reestruturação da política educacional vigente e de uma desresponsabilização do Estado pelos serviços sociais. Nesta perspectiva as escolas assumem o papel de agências executoras com o dever de implementar os projetos propostos por instituições sociais financiadas e controladas pelo setor privado e que gradualmente vêm se especializado nesta atividade, substituindo o Estado nesta função.

Referências

ASSOCIAÇÃO ESCOLA APRENDIZ: Site Oficial,

http://aprendiz.uol.com.br/content/kedocrijuj.mmp Acesso 26 de agosto de 2010______

Bairro-escola passo a passo. Publicação da Associação escola aprendiz.

http://aprendiz.uol.com.br/downloads/educacao_comunitaria/bairro_escola.pdf - Acesso

26/08/2010, acesso 25 de julho de 2011

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 134,

n. 248, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27834-27841.

DAGNINO, E. Confluência Perversa, Deslocamentos de sentido e crise discursiva in LIBANORI, G.A. A família vai à escola: as concepções de justiça social, cidadania e

parcerias comunitárias como estratégias conservadoras de poder em cinco programas da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo . Dissertação de mestrado apresentada junto

ao Programa de Pós Graduação da UFSCar, em 2011 a partir de pesquisa financiada pela Fapesp e sob orientação da profa. Dra. Sandra A. Riscal.

SANTOS, T. L. A. Inovações e Desafios do Programa Bairro-escola de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, dissertação de mestrado realizada em 2010, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

TRAGTENBERG, Maurício. Burocracia e Ideologia. São Paulo: Ática, 1974. __________. Administração Poder e Ideologia. São Paulo: Moraes, 1980.

WEBER, Max. Ensaios de Sociologia: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.

Referências

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