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EXCLUSÃO SOCIAL EM OURINHOS: A QUESTÃO DOS BAIRROS ESMERALDA, DIAMANTE E BRILHANTE

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Academic year: 2021

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EXCLUSÃO SOCIAL EM OURINHOS: A QUESTÃO DOS BAIRROS

ESMERALDA, DIAMANTE E BRILHANTE

Alberto Luiz dos Santos Universidade Estadual Paulista – UNESP beto_als@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

O modo de produção capitalista revela claramente a estrutura de classes na qual a sociedade está inserida. A divisão da sociedade em diferentes classes sociais manifesta-se nas várias dimensões da realidade, como a econômica, a cultural, a social e espacial.

Nesta sociedade dividida em classes sociais, inexoravelmente, setores minoritários acabam beneficiados em detrimento de uma grande maioria, que sofre com a carência de acesso às questões fundamentais, indispensáveis para uma vida digna.

Nas sociedades capitalistas não existe igualdade de oportunidades, pois as bases de seu funcionamento necessitam das diferenças sociais para sua manutenção e reprodução, o que podemos verificar em diferentes aspectos do sistema (produção, comércio, exploração de mão de obra, propriedade privada, etc).

Dentro desse quadro é que se coloca a questão de discutir a exclusão social dentro do sistema capitalista. Para a Geografia a temática permite trabalhar essas desigualdades na sua dimensão espacial, contribuindo para desvendar formas desiguais de apropriação da riqueza produzida socialmente.

No entanto, o conceito de exclusão social é complexo e admite diferentes interpretações, que muitas vezes divergem de autor para autor. Em síntese, existem perspectivas um pouco diferentes para essa caracterização, mesmo que, não fujam necessariamente do foco principal do estudo.

Por esse motivo, iremos abordar especificamente a temática da exclusão social e também sua conceituação, para posteriormente relacioná-la ao caso da cidade de Ourinhos, mais especificamente dos bairros escolhidos como objeto de estudo.

Para haver essa relação, será necessário também contextualizar a cidade de Ourinhos e sua inserção na estruturação da rede urbana do sistema capitalista.

Ourinhos, devido às suas peculiaridades, pode ser enquadrada na caracterização de cidade média. No entanto, para uma melhor abordagem, iremos discutir algumas conceituações de cidade média, bem como discorrer a respeito de como se chegou a esse conceito, para posteriormente interligá-lo à realidade ourinhense.

Após teorizar sobre exclusão social e cidade média, no estudo dos bairros Esmeralda, Diamante e Brilhante, que são loteamentos populares na periferia de Ourinhos, pretendemos indicar o grau de exclusão social do lugar, além de apontar as tendências de agravamento dessa situação.

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Pretendemos responder, portanto, se os bairros estudados estão realmente excluídos e em quais aspectos e proporções, ou mesmo se estão incluídos, apontando perspectivas futuras. METODOLOGIA

Partimos da leitura de uma bibliografia específica sobre exclusão e segregação social no âmbito das ciências sociais e vamos nos dedicar numa próxima etapa para os trabalhos mais especificamente geográficos, com o objetivo de buscar contribuições para uma análise geográfica do processo de exclusão social. Procuramos também fazer uma revisão bibliográfica do conceito de cidade média, para situarmos nossa área de estudo.

Para definir as formas que assumem os processos de exclusão social nos bairros Esmeralda, Diamante e Brilhante e apontar o grau dessa exclusão, caracterizando os setores mais atingidos da população dos bairros, fizemos inicialmente algumas visitas aos locais, acompanhadas de conversas informais com os moradores dos bairros citados. Para a continuidade do trabalho, pretendemos aprofundar a análise socioeconômica, através de entrevistas com a utilização de um questionário. Além disso faremos um levantamento dos indicadores sociais específicos da área em órgãos públicos, como Prefeitura Municipal e IBGE. Também nas entrevistas pretendemos realizar um levantamento das infra-estruturas que não atendem às necessidades da população (transporte, escolas, hospitais, moradias).

DESENVOLVIMENTO

1. Conceito de Exclusão Social

O termo exclusão social surgiu na década de 70, através de movimentos sociais franceses, que se autodenominaram excluídos dos direitos sociais do país. Atualmente, define-se exclusão social no meio acadêmico como um processo de injustiça e desigualdade, ou mesmo a falta de acesso pleno aos direitos. No entanto, resumidamente, e de acordo com o senso comum, esse termo significa a diferença na qualidade de vida entre as pessoas, que, na grande maioria das vezes, sabem que estão excluídas e marginalizadas, em relação à boa parte da sociedade. Teoricamente, julgamos ambos os conceitos corretos, numa abordagem genérica. Inúmeras vezes o conceito de exclusão social confunde-se com o conceito de desigualdade e de pobreza. Apesar de serem componentes de uma mesma temática, esses conceitos são diferentes e dificultariam a compreensão dos processos de exclusão social. Vale salientar, que a associação não está totalmente errada, e ainda está atrelada ao senso comum.

Avançando, são grandes também os setores que julgam a exclusão social, fruto direto da crise econômica de 1970, que encabeçou as profundas mudanças econômicas em que vivemos atualmente. Trata-se da reestruturação produtiva, globalização e neoliberalismo.

Não vamos nos deter ao esclarecimento aprofundado desses conceitos, porém o associamos diretamente aos processos de exclusão social. No entanto, consideramos que essa é mais uma abordagem genérica, afinal, indubitavelmente, a exclusão social está diretamente atrelada ao modo de produção capitalista, ou seja, existe desde seus primórdios.

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De um modo ou de outro, fica praticamente consensual entre os autores que tratam da temática, e também para a nossa análise, que exclusão social são as condições de diferença e desigualdade sociais intrínsecas à sociedade capitalista, que tende a elevar o número de pobres e miseráveis em todo o mundo, de modo acentuado nas últimas décadas.

No entanto, gostaríamos de abordar a questão sob um prisma diferenciado, que pode nos remeter a uma realidade pouco diferente do que já concluímos, no entanto muito curiosa e até mesmo coerente.

Os julgamentos realizados até então a respeito da exclusão social são justos e verdadeiros, no entanto uma análise aprofundada pode nos remeter a uma grande contradição. Determinar qualquer setor da sociedade como excluído não significa necessariamente que este setor está totalmente fora do contexto social ou que não possui nenhum segmento dentro do atual sistema. É impossível determinar que qualquer grupo de pessoas não participe em nada no funcionamento do sistema.

O que ocorre na verdade é a carência de determinados direitos, ou mesmo participação. Podemos dizer, por exemplo, que um assalariado que sustenta sua família, não dignamente, com apenas um salário mínimo, impossibilitando-a de ter acesso à cultura, lazer, boa moradia e todas as demais necessidades dignamente, é um incluso no sistema, e não excluído socialmente. Isso pode ser feito pois mesmo com as carências devido aos baixos salários, o assalariado vende sua força de trabalho, e aumenta a produtividade da empresa, sendo, portanto, um membro incluído no sistema.

Essa situação remete a um problema já apresentado, que é a confusão do termo exclusão com o termo pobreza.

Outros exemplos poderiam ser citados com relação a essa ambigüidade que ocorre com relação aos critérios que definem a exclusão. Nessa linha de raciocínio, apresentamos portanto uma segunda “corrente” na definição da exclusão social.

Trata-se de julgar o que se chama de exclusão, como uma inclusão parcial. Essa inclusão, apenas parcial, é decorrente dos processos de exclusão, nos demais segmentos.

Para isso ocorrer, devemos entender que após todos os processos de exclusão, existe uma reinclusão, pois o excluído parte em busca do que possa suprir, o que lhe foi impossibilitado. A partir daí, a (re)inclusão que ocorre é precária e instável, além de ineficiente. Uma família que não pode mais pagar o aluguel de sua residência em um bairro de classe média, passa a ser obrigada a mudar-se para a periferia. Essa situação não exclui necessariamente a família, apenas a inclui de maneira diferenciada e, na maioria das vezes, inferiorizada, precária.

As afirmações dessa segunda corrente associam-se então ao termo segregação, que pode remeter também às discussões de segregação sócio espacial.

Em nossa análise, não há necessidade de fecharmos nossa análise em apenas uma das perspectivas temáticas, sendo necessário apenas contextualizar a temática. É claro que a exclusão não é total, como critica a segunda corrente, no entanto, a análise prática feita pela primeira, é suficiente para se entender o problema de falta de acesso, em muitos setores.

Ou seja, não afirmamos que a idéia de reinclusão precária e de segregação estejam incorretas, mas a exclusão de que nos referimos pode ser assim chamada, pois suas características são as mesmas da segregação e reinclusão, se analisadas de maneira dialética.

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Expostas as discussões a respeito da exclusão social, apresentaremos algumas questões de como esse processo se dá nas cidades médias.

2. Conceito de Cidade Média

Da mesma forma que acontece com o conceito de exclusão social, o conceito de Cidade Média é fruto de muitas discussões e muitas vezes de análises incorretas.

Primeiramente julgamos necessário frisar a importância do tema em relação às produções científicas já realizadas.

Sabe-se atualmente, que o capitalismo globalizado atua em um sistema de redes, e que nesses sistemas não são apenas as grandes metrópoles que atuam decisivamente, mas também muitas outras cidades que possuem infra-estrutura e investimentos significativos, como as chamadas cidades médias.

Nossa preocupação se dá no sentido das pesquisas sobre essas cidades no âmbito acadêmico, ainda serem pouco expressivas. Acreditamos que essas cidades merecem um estudo aprofundado, principalmente com relação às características socioeconômicas, seja em caráter de transformações, situação atual ou perspectivas futuras.

Mas antes de nos aprofundar no estudo, iremos, descrever alguns critérios para a definição de uma cidade média.

O termo cidade média está inevitavelmente associado à questão demográfica, seja através de definições delimitadas, seja através do senso-comum. Sob esse ponto de vista, julga-se cidade média aquelas com população entre 100 e 500 mil habitantes. Ainda no mesmo raciocínio, salientamos que essas cidades, de acordo com os dados demográficos, abrigam mais de 70% da atual população brasileira, e que apresentaram crescimento progressivo, a partir da década de 70, associando-se, portanto, as mudanças profundas do sistema capitalista, iniciadas nessa mesma época (Reestruturação Produtiva, Globalização, Produção Flexível, etc).

Contudo, entre os autores que se aprofundaram na temática, existe o consenso de que o recorte demográfico não serve (ou pelo menos não deveria servir) como o único definidor de uma cidade média.

Na literatura encontramos como características que devem ser consideradas para definir uma cidade média, a delimitação das suas relações econômicas, sociais, políticas e culturais. Essas relações são o principal definidor do papel da cidade na rede urbana nos possibilitando identificá-la. Essa identificação de rede urbana só pode ser realizada sob um prisma geográfico, que analise profundamente todo o espaço da cidade média.

Define-se assim o tripé que caracteriza uma cidade média: recorte demográfico; relações socioeconômicas, políticas e culturais; análise geográfica da influência dessas relações na rede urbana.

Antes de avançarmos na discussão, esclarecemos que essa definição é relativa, podendo uma cidade apresentar-se ou não como cidade média, dependendo da região em que se insere e do contexto que lá está.

Abordaremos a partir de agora como o processo de exclusão social ocorre nas cidades médias, especificamente, nos bairros escolhidos.

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3. Exclusão Social em Ourinhos, com ênfase nos bairros Esmeralda, Diamante e Brilhante

Toda a análise até aqui apresentada nos servirá como campo de trabalho para entender o processo de exclusão social em Ourinhos, descobrindo algumas peculiaridades dessa cidade, considerada como uma cidade média.

Primeiramente, é preciso dizer que nas cidades médias se desenvolvem processos de exclusão diferentes, se relacionado aos processos ocorridos nas metrópoles ou grandes cidades. Ourinhos não foge a essa regra.

A exclusão em cidades como Ourinhos relacionam-se diretamente com a definição de (re)inclusão precária, marginal, ou mesmo com o termo segregação. Isso ocorre porque, como indicam tais teorias, a exclusão em Ourinhos não ocorre por completo. Os bairros que poderíamos julgar como excluídos, passam na verdade por um processo de carência de infra-estruturas gerais (escolas, transporte, saúde, boas moradias, saneamento), variando de bairro para bairro. No entanto, esses recursos não estão totalmente fora do alcance dos cidadãos.

Em cidades médias como Ourinhos, mesmo que as infra-estruturas não estejam necessariamente nos bairros, elas podem ser alcançadas com determinado deslocamento, transtorno ou perda de tempo. Isso englobaria os setores de saúde, transportes, lazer, escolas entre outros. Com relação às moradias ocorre um processo de valorização do imóvel e de loteamentos periféricos. Devido ao sistema em que a cidade se enquadra na rede urbana, alguns setores dessa cidade (na grande maioria das vezes , o centro) são valorizados, aumentando o custo de vida e a especulação imobiliária. Além disso, bairros elitizados, frutos do desenvolvimento de uma burguesia local, também aparecem, como por exemplo, o bairro Nova Ourinhos, remetendo novamente à questão da segregação. Dessa forma, quem não tem condições de custear sua vida nessas regiões da cidade, se vêem obrigados a buscar regiões afastadas, muitas vezes loteadas por construtoras. É o caso, por exemplo, dos bairros populares Esmeralda, Diamante e Brilhante, localizados em Ourinhos.

Antes de abordarmos a questão desses bairros, vamos deixar claro que não consideramos desprezíveis os processos de exclusão nas cidades médias como Ourinhos. No entanto, trata-se de uma situação diferente da que se manifesta em grandes cidades ou metrópoles, onde a exclusão traduz a favelização, a grande violência urbana, a falta de vagas nas escolas, a falta de hospitais, etc. Naturalmente, esses fatos não ocorrem em Ourinhos na mesma intensidade que em muitas outras cidades, por isso, elas merecem um estudo diferenciado, com políticas públicas também específicas, que pretendemos analisar na seqüência deste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a exposição de alguns pontos específicos que abrangem os processos de exclusão social em cidades médias consideramos que, embora o conceito em si possa definir o que ocorre nas camadas de baixa renda e periféricas das grandes cidades, quando tratamos de cidades médias especificamente, a idéia de exclusão parcial, precária e marginalizada (segregação) é a melhor a ser utilizada.

Tal fato decorre de que, como analisamos, as camadas periféricas e de baixa renda passam por dificuldades com relação à qualidade de vida, mas não estão impossibilitados de alcançá-la. Isso porque, como percebemos, o ciclo de exclusão não se completou totalmente, e as políticas públicas vigentes conseguem suprir parcialmente a demanda desses bairros.

Consideramos relevante a participação de políticas públicas que não visem apenas o desenvolvimento econômico da região, beneficiando apenas as atividades econômicas e os proprietários de terra, mas que possuam um planejamento urbano voltado para minimizar as diferenças sociais presentes no capitalismo, pois como sabemos, enquanto vigente esse sistema, as diferenças sociais existirão. Desse modo, tanto a exclusão quanto à “inclusão parcial” só tendem a aumentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a nova desigualdade. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2003.

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Referências

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