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AS DINÂMICAS TERRITORIAIS NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS REFLEXOS DA EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO, O CASO DE IGARAPÉ-AÇU

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AS DINÂMICAS TERRITORIAIS NAS

COMUNIDADES TRADICIONAIS REFLEXOS DA

EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO, O CASO DE

IGARAPÉ-AÇU

Elisson Fernando Silva de Souza

Universidade do Estado do Pará – UEPA

Allan004araujo@gmail.com

Francisco Allan Araújo de Oliveira

Universidade do Estado do Pará – UEPA

elisson_uepa@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Uma das grandes novidades no espaço agrário da Amazônia na atualidade é o cultivo da palma de dendê voltado para produção de biodiesel. Nesse sentido são inseridos nesse espaço grandes empreendimentos promovendo uma intensa transformação territorial caracterizado no avanço da agricultura capitalista no campo.

Em uma tentativa de inserir a Amazônia na nova dinâmica econômica nacional são introduzidos novos modelos de produção no território amazônico, São inseridos projetos subsidiado por politicas públicas e impulsionados pelos interesses do grande capital, muitas vezes negligenciando o modelo de produção existente com a introdução de novos sujeitos territoriais que forçam uma reestruturação do espaço e no modo de vida da população camponesa vindo a acarretar conflitos em torno da posse da terra e da atividade nela exercida, dentre varias tentativas de integração da Amazônia à dinâmica econômica do país.

Essas dinâmicas territoriais na perspectiva do agronegócio forçam uma reestruturação territorial devido o uso de uma grande área plantada, essa pesquisa busca a partir desse atual processo identificar no modo de vida da população camponesa e sua relação com seu território e sua produção frente às investidas do cultivo da palma de dendê,

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examinaremos também se essa relação entre o campesinado e o agronegócio acarreta conflitos em torno da posse da terra.

A partir do plano de produção do biodiesel implantado pelo governo federal no estado do pará com o plantio da palma de dendê as relações da dendeicultura no estado do Pará de intensificou fortemente na vinda de muitas empresas proporcionando essa expansão.

Para Becker (2012) o atual momento do dendê na Amazônia, está relacionado diretamente às transformações que ocorrem na matriz energética brasileira, e que não pode ser dissociada do contexto geopolítico internacional, onde há busca permanente de fontes de energia alternativa/renováveis.

O cerne dessa pesquisa situa-se na necessidade de entender como esse processo de expansão na necessidade de mais espaços para sua aplicação tem influenciado comunidades camponesas dessa região. Nossa busca nesse processo se pauta em identificar como o camponês se insere nesse processo, frente o avanço da empresa Agroindustrial Palmasa S/A nesse município.

Sobre a dendeicultura analisamos aspectos das dinâmicas sociais no nordeste paraense no município de Igarapé-açu. Vivemos os aspectos da expansão da dendeicultura sobre a ótica da agricultura familiar evidenciando a importância da monocultura do dendê classificada como uma palma que promove um desenvolvimento sustentável ressaltando as questões econômicas, mas também propondo uma reflexão sobre os impactos no modo de vida camponês a partir das relações econômicas, ambientais e sociais do dendê, como ocorre o reordenamento a partir da expansão do dendê onde atua esse agronegócio.

No trabalho propomo-nos discutir a formação territorial do agronegócio no município de Igarapé-Açu caracterizado na expansão da dendeicultura Partindo desse processo, identificar a formação da comunidade remanescente de quilombo Nossa Senhora do Livramento, localizada no município de Igarapé-Açu, nordeste paraense. Seus processos econômicos e sua relação territorial com a expansão do agronegócio, e os desafios da mesma em conviver com a experiência de dividir a fronteira com uma empresa que marca a territorialização do capitalismo no meio rural.

As bases para as reflexões trazidas no trabalho partiram de um trabalho de campo, realizado na comunidade e no entorno da mesma, que nos inquietou a compreender a dinâmica dessa região, bem como entender o território camponês diante

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das transformações da agricultura capitalista e do agronegócio caracterizado na empresa Agroindustrial Palmasa S/A nessa região.

Como metodologia, optamos pelo trabalho de campo. Por meio deste método de pesquisa, entramos em contato com os camponeses da comunidade e com a empresa produtora de dendê buscando analisar sua proposta de expansão e uso do território, pela aplicação de entrevistas e analise documental conseguimos muitas das informações aqui contidas.

Buscamos caracterizar essa possível passagem do lavrador para agricultor de dendê e como isso questionar como se encontra o cultivo de alimentos para subsistência a partir da agricultura familiar tendo em vista o plano de expansão em hectares das empresas atuantes na área da dendeicultura e os planos nacionais de produção e uso do biodiesel onde se aprofunda a associação da agricultura familiar à dendeicultura e a transformação dos povos camponeses em produtores de dendê a partir da necessidade de expansão para atender as necessidades de produção.

Pretende-se assim, fazer uma breve consideração acerca de nossa pesquisa, apresentando alguns elementos que constituem a vida camponesa e o processo de expansão do capitalismo no uso de território no município de Igarapé-Açu.

A DINÂMICA TERRITORIAL CAMPONESA NA AMAZÔNIA

O campesinato na Amazônia emergiu a partir de políticas públicas tendo como principal objetivo fomenta a produção agrícola na região. GONÇALVES (2008) percebemos que a região amazônica foi exposta a um processo modificador e integrador dado a um modelo de desenvolvimento que modificava a sociedade dessa região. se tem agora o iniciar de uma produção agrícola, na necessidade de se estabelecer o processo de ocupação do espaço amazônico.

Até a década de 1960 se estabeleceu na Amazônia uma dinâmica de formação territorial tendo os rios como eixo central deste processo. A gênese de formação da comunidade estudada situação na vanguarda desse processo onde a mesma partilha dessa relação com o rio, tendo em vista que sua construção se dá ao lado do rio maracanã que na região de formação dessa comunidade é conhecido como rio livramento a relação dessa comunidade é tão forte com o ria que o mesmo da sentido ao nome dessa comunidade dando sentido a existência da comunidade Nossa Senhora do Livramento.

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Pós 1960 o que temos é uma nova geopolítica da amazônia como descreve BECKER (2009). Onde surge as malhas rodoviária mudando o modo de vida do campesinato tradicional e dando sentido novo campesinato que resultou do processo migratório intra e inter-regional.

Entre 1968 e 1974, o estado brasileiro implantou tal tipo de malhas na Amazônia, visando completar a apropriação física e controlar o território. Redes de circulação rodoviária, de telecomunicações, urbana, etc., subsídios ao fluxo de capital de incentivos fiscais e crédito a baixos juros, indução de fluxos migratórios para povoamento e formação de um mercado de trabalho regional, inclusive com projetos de colonização, e superposição de territórios federais sobre os estados, compuseram a malha tecno-política (BECKER, 2009, p. 26).

Nesse processo integrador da Amazônia apontado por Becker (2009) o nordeste paraense onde esta situado o município de Igarapé-Açu locus dessa pesquisa sofre também impactos desse processo, estabelecendo uma nova dinâmica territorial com a expansão de sua malha rodoviária caracterizada na PA – 127, PA – 320, e PA – 242. Esses processos também impactaram a comunidade Nossa Senhora do Livramento, onde a essa é cortada pela PA – 242.

As malhas rodoviárias possibilitaram uma grande concentração de terra (latifúndios) ao longo de toda extensão das PAs. Essa grande propriedade evidenciava em primeiro plano a pecuária e em segundo plano a agricultura como sua principal atividade econômica, nesse processo apesar de uma grande concentração de terra as comunidades rurais existiam, claro que em menor escala perto a modernização das grandes propriedades rurais como justifica KAUTSKY (1972), em sua obra “A Questão agrária” esse explica: “a grande propriedade rural tem superioridade técnica em relação a pequena, sendo que melhor se adapta à penetração do capitalismo no campo”. Nesse momento A agricultura camponesa, e o principal viés produtivo a produção da farinha de mandioca.

Se faz necessário entender que os impactos nas comunidades camponesas e nos grandes latifúndios estão diretamente ligado a nova conjuntura geopolítica pensada para o desenvolvimento da região Amazônica. Com esse processo de ampliação das malhas rodoviárias pautadas na necessidade dos fluxos se expandirem rapidamente, acarretaram também em grandes correntes migratórias para região onde essas formaram muitas comunidades rurais, migrações induzidas pela ação governamental.

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MONOCULTURA DO DENDÊ E AGRICULTURA FAMILIAR, O CASO DE

IGARAPÉ-AÇU.

O município de Igarapé-Açu localizado no Nordeste Paraense possui atualmente uma vasta área de plantio de dendê em suas fronteiras municipais e ao longo das PAs: 127 que ligam Igarapé-açu a Maracanã e outro trecho liga Igarapé-açu a BR 316, PA- 320 que liga castanhal a Igarapé-açu passando pelo município de São Francisco do Pará e a PA-242 que liga Igarapé-açu ao município de Nova Timboteua. A monocultura do dendê na região de Igarapé-açu bem como a agricultura familiar são dois fatores muito presentes na realidade desse município pelo mesmo possuir inúmeras áreas agrícolas, a dendeicultura local se deve muito a atuação do grupo palmasa que movimenta boa parte da economia desse município por ser a maior fonte empregatício do mesmo.

Em 1986 alguns produtores rurais japoneses e brasileiros, no município de Igarapé-Açu criaram uma empresa para extração de óleo de palma. Inaugurada em 1991 a Agroindustrial Palmasa S/A, recebeu apoio da ex-Sudam, BNDES, BASA e Banco do Brasil, criando um modelo associativo somente para a indústria, cabendo o fornecimento da matéria-prima aos associados e outros plantadores, gerando um novo modelo de gestão. Atualmente a Agroindustrial Palmasa S/A possui uma área de plantio de dendê de 4.500 hectares. Sendo 2.978 hectares (plantios adultos), e 1.522 hectares (plantios jovens), desses 20% são de sócios da usina, 45% de japoneses, 13% de produtores locais não japoneses e 22% de plantios próprios. Em pesquisa de campo podemos perceber que o projeto de expansão da Agroindustrial Palmasa S/A esta funcionando uma vez ao analisar os aspectos da cidade de Igarapé-Açu identificamos que a mesma esta rodea por plantios de dendê. E que as outras policulturas vão dando lugar a grande quantidade de terras tomadas pela monocultura do dendê. A expansão da dendeicultura no município de igarapé-Açu comina em um impacto na agricultura familiar, onde esses agora estão se transformando em plantadores de dendê, sendo que deixam de lado o plantio de sua subsistência e passam a cultivar para a empresa integrada aos projetos de agricultura do dendê. Para esse camponês sua principal força produtiva advém da própria terra onde o mesmo passa a ter uma relação de identidade com ela, essa expansão do dendê põe em risco essa identidade uma vez que a agricultura familiar diversificada esta comprometida o que reina agora é a monocultura a partir do capital capaz de compra sua força de produção pois ele não tem capital para concorrer com o agronegócio podendo provocar a desterritorialização do camponês.

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A COMUNIDADE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

A comunidade Nossa Senhora do Livramento esta situada na PA – 242 que liga o município de Igarapé-Açu a cidade de Nova Timboteua no nordeste Paraense. Localizada a 22 Km da sede do município de Igarapé-Açu, situando-se entre a vila de São Luis e a agrovila Terreirão.

A comunidade Nossa Senhora do Livramento foi fundada as marges do rio Maracanã conhecido como livramento, devido a herança religiosa portuguesa de dar nome de santo as vilas que surgiam. Nesse lugar Nossa Senhora do Livramento dar nome a comunidade e ao rio.

Segundo os moradores a Nossa Senhora do Livramento surgiu como refugio dos escravos, segundo as informações passadas entre gerações os primeiros povos constituidos nessa comunidade eram escravos vindos do Maranhão, Onde esses se refugiaram as margens do rio Livramento dando inicio vila de Nossa Senhora do Livramento. Os mesmos afirmam que não tem muitas informações sobre sua gênese porque não lhes eram repassados muitas informações.

Atualmente na área de remanescentes de quilombo Nossa Senhora do Livramento reside 54 famílias. Tendo como território total com título de reconhecimento 178,1272 hectares.

As famílias na comunidade de Nossa Senhora do Livramento têm como meio de sobrevivência o trabalho na agricultura. Anteriormente a pesca era uma das fontes de renda na comunidade hoje ela esta ameaçada pela pesca predatória e criminosa.

A comunidade trabalha em sua totalidade na agricultura familiar, pesca e extração de junco, as roças em sua maioria são de mandioca para beneficiamento da farinha. Na área de várzea é extraído o junco que depois de secos são fabricadas esteiras para cangalha de animal e vendido em feixes para outros municípios.

Entre a produção para o consumo e para a comercialização, percebemos que a produção camponesa parte da diversificação agrícola. Isto permite ao camponês ter uma parte da sua alimentação vindo do seu trabalho, da roça, e ao mesmo tempo comprar aquilo que ele não produz, através da renda obtida com a venda de parte da sua produção.

Hoje a comunidade Nossa Senhora do Livramento faz da extração de junco, uma das suas maiores fontes de renda onde os mesmos realizam em suas dependências o processo de beneficiamento. Segundo MARQUES (2004, p. 152) “para o camponês, o

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trabalho se realiza de forma independente e o que ele vende ao capital é o fruto do seu trabalho transformado em mercadoria”. Sendo assim, os camponeses são trabalhadores livres, dono do que produzem e de seus meios de trabalho.

PROCESSO DE HOMOGENEIZAÇÃO DO TERRITÓRIO AMAZÔNICO

SEGUNDO A ÓTICA DO CAPITAL.

Ao longo do processo de ocupação do território amazônico, foram introduzidos sujeitos territoriais que visa única exclusivamente o processo de exploração de recursos naturais isso vem a se intensificar a partir da década de 30 e se estendendo pelas décadas seguintes com politicas de desenvolvimento pautados na integração e na exploração em larga escala dos recursos naturais da região (a exemplo das madeiras e dos minérios), com a justificativa de ocupar um grande “vazio geográfico” transformarão a paisagem com a implantação da agropecuária e produção de soja no sul do Pará destinada a exportação de grãos, com a implantação das monoculturas a partir da introdução do agronegócio o capital acaba sendo o principal agente homogeneizador do espaço, reformulando características anteriormente presentes no mesmo e tomando.

Como consequência o enfraquecimento da policultura forçando o pequeno agricultor a se adaptar ao novo modelo de produção ou abrir mão de seu modo de vida por não se inserir nos novos moldes produtivos contribuindo para o enfraquecimento do campesinato e do modo de vida tradicional. O capital surge como o principal viés para homogeneizar o espaço amazônico tendo em vista os projetos e politicas empregados para integrar a região amazônica. Sobre esses aspectos há uma união entre Estado e capital para favorecimento de determinados grupos que homogeneízam o espaço como explica Picoli (2006): O Estado e o capital em conjunto regulam as ações de dominação da região. Eles usam da força conjunta para favorecer grupos organizados na economia e na política, tendo como objetivo final a expansão e a concentração do capital na região. Nessa estratégia, utilizam a super exploração e colocam a natureza a serviço de grandes conglomerados econômicos (PICOLI, 2006, p. 17). Façamos um recorte a partir desse favorecimento do estado a grupos organizados, para compreender de que forma se dá as desigualdades frente aos processos econômicos, rememorando os processos de integração da Amazônia, chegando à dendeicultura e compreendendo como que esse favorecimento a partir da homogeneização do capital interfere na agricultura familiar. Pensando como se caracteriza esse processo no campesinato e salientando nessa perspectiva para quem interessa a

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homogeneização do espaço.

AS DINÂMICAS TERRITORIAIS E O PROCESSO DE MONOPOLIZAÇÃO DO

TERRITÓRIO

Na busca pelas dinâmicas territoriais buscamos observar o entorno da comunidade de Nossa Senhora do Livramento, visualizamos uma intensa transformação da paisagem, com a diminuição da paisagem natural e o aumento da monocultura do dendê. A grande área de produção do dendê caracteriza-se pela territorialização do capital no campo, a partir da expansão da Agroindustrial Palmasa S/A, com uma produção voltada exclusivamente para o mercado. Desta forma, a territorialização do capital aparece de forma muito nítida nessa alteração do espaço agrário do município de Igarapé-Açu.

Buscamos entender esse processo de expansão frente aos processos territoriais tendo em vista o território camponês da comunidade Nossa Senhora do Livramento. Com se estabelece esse momento monopolizador do território rural nesse município e como se porta a comunidade frente a esse processo, evidenciando os caminhos pelos quais a comunidade seguira seu processo de produção e comercialização do trabalho de sua terra.

O desenvolvimento, portanto, da agricultura (via industrialização) revela que o capitalismo está contraditoriamente unificando o que ele separou no início de seu desenvolvimento: indústria e agricultura. Essa unificação está sendo possível porque o capitalista se tornou também proprietário das terras, latifundiário, portanto. Isso se deu igualmente também porque o capital desenvolveu liames de sujeição que funcionam como peias, como amarras ao campesinato, fazendo com que ele às vezes produza exclusivamente para a indústria (OLIVEIRA, 2004, p. 41-42).

Identificamos atravês de pesquisa que a territorialização do capitalismo no meio rural no município de igarapé-Açu se da por meio do agronegócio tendo seu viés fundamental caracterizado na monocultura de dendê. Neste contexto, a indústria e a agricultura estão unidas, na qual o empresário é ao mesmo tempo o proprietário da terra e da indústria que manufatura a produção agrícola.

Identificamos que a partir do plano nacional para produção de biodiesel aplicado no norte em 2004, a indústria ganha mais força em sua produção e em sua expansão territorial por que essa atua agora em parceria com a agricultura familiar. No município de Igarapé-Açu a principal força monopolizadora de território esta caracterizada na Agroindustrial Palmasa S/A principal força produtora da monocultura de dendê nesse

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município.

Em 1986 alguns produtores rurais japoneses e brasileiros, no município de Igarapé-Açu criaram uma empresa para extração de óleo de palma. Inaugurada em 1991 a Agroindustrial Palmasa S/A, recebeu apoio da ex-Sudam, BNDES, BASA e Banco do Brasil, criando um modelo associativo somente para a indústria, cabendo o fornecimento da matéria-prima aos associados e outros plantadores, gerando um novo modelo de gestão.

Atualmente a Agroindustrial Palmasa S/A possui uma área de plantio de dendê de 4.500 hectares. Sendo 2.978 hectares (plantios adultos), e 1.522 hectares (plantios jovens), desses 20% são de sócios da usina, 45% de japoneses, 13% de produtores locais não japoneses e 22% de plantios próprios.

Em pesquisa de campo podemos perceber que o projeto de expansão da Agroindustrial Palmasa S/A esta funcionando uma vez ao analisar os aspectos da cidade de Igarapé-Açu identificamos que a mesma esta rodeada por plantios de dendê. E que as outras policulturas vão dando lugar a grande quantidade de terras tomadas pela monocultura do dendê.

Nossa principal preocupação pauta-se em identificar como esse processo de monopolização territorial tem impactado a comunidade Nossa Senhora do Livramento que possui 178,1272 hectares onde residem 54 famílias. Exercendo produção para consumo e comercialização.

Já no segundo mecanismo, quando monopoliza o território, o capital cria, recria, redefine relações camponesas de produção familiar. Abre espaço para que a economia camponesa se desenvolva e com ela o campesinato como classe social. O campo continua povoado, e a população rural pode até se expandir. Nesse caso, o desenvolvimento do campo camponês pode possibilitar, simultaneamente, a distribuição da riqueza na área rural e nas cidades, que nem sempre são grandes (OLIVEIRA, 2004, p. 42).

Partindo desta perspectiva, percebemos que o avanço do agronegócio nessa parte da Amazônia, dar-se tanto pela territorialização do capitalismo, quando Agroindustrial Palmasa S/A compra as propriedades camponesas ou se associa a agricultura familiar, como também pela monopolização do território, quando os camponeses passam a cultivar o dendê, estreitando laços com o empresário capitalista.

A monopolização do território camponês pelo capitalismo, na qual o capital mantém relações com os sujeitos não capitalistas (os camponeses). O dendê é colocado pelo

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Governo Federal como um projeto que além de desenvolver o nordeste paraense, parte da natureza de um projeto maior, na qual “o óleo de dendê é umas das soluções tecnicamente satisfatórias para substituir o óleo diesel” (MONTEIRO 2006, p. 236).

Neste contexto Amazônico, o cultivo do dendê tem como finalidade produzir biodiesel, fomentando a emergência de fonte de energias limpas. No caso da Agroindustrial Palmasa S/A, produtora de óleo de palma a produção do dendê tende acontecer de duas maneiras. Na primeira é cultivar o dendê em propriedade própria, marcada pelo agronegócio, e na segunda maneira é no consorciamento com agricultores camponeses da região. Como justificamos acima na natural área plantada pela empresa e no seu projeto de expansão.

O sistema agrícola do agronegócio é distinto do sistema agrícola do campesinato. No sistema agrícola do agronegócio, a monocultura, o trabalho assalariado e produção em grande escala são algumas das principais referências. No sistema agrícola camponês, a biodiversidade, a predominância do trabalho familiar e a produção em pequena escala são algumas das principais referências. [...]. O campesinato pode produzir a partir do sistema agrícola do agronegócio, contudo, dentro dos limites próprios das propriedades camponesas, no que se refere à área e escala de produção. Evidente que a participação do campesinato no sistema agrícola do agronegócio é uma condição determinada pelo capital (FERNANDES & WELCH, 2008, p.49).

Observamos uma dicotomia territorial exposta em Fernandes e Welch (2008). No que se refere a expansão do agronegócio no nordeste paraense. Onde temos a Agroindustrial Palmasa S/A na vanguarda do agronegócio evidenciando as necessidades do capital nessa região e do outro encontramos a comunidade Nossa Senhora do Livramento, composta por um sistema agrícola camponês, atento as necessidades familiar e ao mercado interno paraense.

A inserção da pequena agricultura na produção de agroenergia está colocada como se fosse possível obter vantagens na produção em cadeia controlada por corporações nacionais e estrangeiras globalizadas. Contudo, a participação dos camponeses na produção de agrocombustível implica numa inclusão subordinada, [...] em que o trabalho e renda da terra são transferidos ao capital no processo de circulação (comercialização) da produção, principalmente (FABRINI, 2010, p. 56).

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territorial bancada pelo agronegócio na figura da monocultura de dendê, onde fica o camponês nessa monopolização, como ele encara esse processo e como seu território é abalado pela relação de grandes empresas que avançam diariamente na aquisição de mais terras para o plantio de dendê.

A expansão do agronegócio preocupa a comunidade aqui estudada. Pode-se visualizar em campo, que esta expansão do dendê tem se apresentando como uma ameaça às comunidades rurais dessa região de Igarapé-Açu. A grande produtora de óleo de palma nesse município exerce uma pressão aos camponeses, essa exercitada principalmente pelo avanço da cerca da empresa, quando essa não compra a terra do camponês ela faz inúmeras proposta para associar a terra camponesa a produção da palma de dendê. Terra busca pela monopolização do território tal empresa vem descaracterizando a paisagem da região e a identidade camponesa com o lugar.

Nossa pesquisa na comunidade Nossa Senhora do Livramento mostrou que a ideia do dendê é colocada para a comunidade como se o desenvolvimento social e econômico dessas famílias dependessem exclusivamente dessa monocultura. Porém nossa pesquisa nos mostra que a tentativa de monopolização territorial por parte de agronegócio tem descaracterizando a paisagem natural, desterritorializando populações tradicionais, e construindo um falso desenvolvimento regional e nacional, tudo isso em nome dos interesses do grande capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo buscamos uma reflexão sobre a pesquisa que estamos desenvolvendo no município de Igarapé-Açu no nordeste paraense. Apresentamos aqui a comunidade Nossa Senhora do Livramento que possui um valor histórico grandiosos sendo esses remanescentes de povos quilombolas estabelecendo um território de migrantes de outras regiões do país e formando uma comunidade rica em diversidade.

Vivenciamos aspectos da agricultura familiar na estrutura social do campesinato frente à atuação das grandes empresas na produção de palma atualmente com enfoque no biodiesel. Como se caracteriza essa relação entre o camponês e a agroindústria o que se tem de positivos e/ou negativo nessa relação, evidenciando as mudanças territoriais impulsionados pela monocultura do dendê.

Na comunidade no contato com as pessoas daquele lugar percebemos que existe uma produção caracterizada na agricultura familiar, pesca e extração de junco, as

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roças em sua maioria são de mandioca para beneficiamento da farinha. Na área de várzea é extraído o junco que depois de secos são fabricadas esteiras para cangalha de animal e vendido em feixes para outros municípios.

A comunidade possui um território de 178,1272 hectares. E nesse buscamos evidenciar as dinâmicas a partir da inserção do agronegócio caracterizado na monocultura de dendê e bancado nessa região pela Agroindustrial Palmasa S/A empresa que detêm o monopólio de terras nesse município e que possui um plano de expansão de plantio de dendê que acarretara na necessidade por mais terras para sua realização.

Nesse sentido evidenciamos aspectos dessa dinâmica territorial entre o agronegócio e a comunidade a partir do trabalho de campo que nos possibilitou visualizar os avanços das cercas da monocultura do dendê frente a comunidade Nossa Senhora do Livramento.

Em suma, buscamos apresentar algumas questões para entender a dinâmica da produção do espaço no nordeste paraense, no atual momento marcado pelo avanço do Agronegócio sobre o território do camponês e contribuir para discussão das dinâmicas territoriais no espaço agrário Amazônico.

REFERÊNCIAS

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AS DINÂMICAS TERRITORIAIS NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS

REFLEXOS DA EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO, O CASO DE

IGARAPÉ-AÇU

EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural

RESUMO

Este artigo evidência as dinâmicas territoriais a partir da relação do agronegócio com as comunidades camponesas, a dinâmica dos territórios tendo em vista a expansão do agronegócio no estado do pará e a sua necessidade por grandes áreas de terras para sua realização. Buscaremos nesse sentido discorrer como as comunidades camponesas vem se portando nesse processo e se os seus territórios vêm subsidiando a expansão do agronegócio. O lócus de pesquisa foi a comunidade Nossa Senhora do Livramento localizada no município de Igarapé-Açu nordeste paraense. O objetivo deste trabalho é compreender o território camponês e sua relação territorial com a empresa Agroindustrial Palmasa S/A na região estudada. Como metodologia, utilizamos a pesquisa in loco como modelo de análise das questões visualizadas e ainda realizamos entrevistas, nas quais as conversas possibilitaram uma maior visão da problemática do território camponês inserido no avanço do capitalismo pelo campo. No trabalho, buscamos refletir sobre a unidade produtiva do dendê e suas ações sobre o território camponês.

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