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OS PRINCIPAIS DESAFIOS E POTENCIALIDADES NO ENFRENTAMENTO DA SÍFILIS PELA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE

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Academic year: 2021

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DOI: http://doi.org/10.24281/rremecs2020.5.9.3-13

OS PRINCIPAIS DESAFIOS E POTENCIALIDADES NO ENFRENTAMENTO

DA SÍFILIS PELA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE

--- Resumo: A ocorrência das Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST tem se tornado grande desafio de saúde pública, destacando-se a sífilis. Caracterizar os principais desafios e potencialidades da Atenção Primária em Saúde no enfrentamento da sífilis. Pesquisa exploratória descritiva de natureza qualitativa, segundo os preceitos da revisão de literatura, utilizando artigos científicos publicados preferencialmente no período de 2013 a 2017. Os principais desafios encontrados estão relacionados ao nível de escolaridade da população, a déficits na dinâmica de trabalho da equipe que repercutem no diagnóstico inoportuno, tratamento inadequado, não monitoramento dos casos e principalmente na ausência de ações preventivas. Em contrapartida, alguns dos desafios também têm interface como potencialidade, sendo elas a educação permanente em saúde, as ações preventivas junto à comunidade, principalmente o incentivo ao uso do preservativo. Ficou evidente a fragilidade da Atenção Primária em Saúde no enfrentamento da sífilis, e considerando o contexto atual que se encontra a sífilis se faz necessário o fortalecimento das ações que favoreçam o diagnóstico precoce, o tratamento oportuno, e principalmente as ações preventivas.

Descritores: Sífilis, Epidemiologia, Atenção Primária em Saúde.

The main challenges and potentialities in coping with syphilis for primary health care

Abstract: The occurrence of Sexually Transmitted Infections (STIs) has become the major public health challenge, especially syphilis. To characterize the main challenges and potentialities of Primary Health Care in coping with syphilis. Descriptive exploratory research of qualitative nature, according to the precepts of the literature review, using scientific articles published preferably in the period from 2013 to 2017. The main challenges are related to the educational level of the population, deficits in work dynamics of the team that have repercussions in the inopportune diagnosis, in the inadequate treatment, no monitoring of the cases and mainly in the absence of preventive actions. On the other hand, some of the challenges also have an interface as potentiality, being they the permanent education in health, the preventive actions in the community, mainly the incentive to the use of the condom. It was evident the fragility of Primary Health Care in coping with syphilis, and considering the current context of syphilis, it is necessary to strengthen actions that favor early diagnosis, timely treatment, and especially preventive actions.

Descriptors: Syphilis, Epidemiology, Primary Health Care.

Los principales desafíos y potencialidades en el desafío de la sífilis por la atención primaria de salud

Resumen: La aparición de infecciones de transmisión sexual (ITS) se ha convertido en un importante desafío para la salud pública, especialmente la sífilis. Caracterizar los principales desafíos y potencialidades de la atención primaria de salud para enfrentar la sífilis. Investigación exploratoria descriptiva de naturaleza cualitativa, de acuerdo con los preceptos de la revisión de la literatura, utilizando artículos científicos publicados preferiblemente en el período de 2013 a 2017. Los principales desafíos están relacionados con el nivel de escolaridad de la población, déficits en las dinámicas de trabajo. Del equipo que repercute en el diagnóstico inoportuno, en el tratamiento inadecuado, no en el seguimiento de los casos y sobre todo en la ausencia de acciones preventivas. Por otro lado, algunos de los desafíos también tienen una interfaz como potencial, ya que son la educación permanente en salud, las acciones preventivas con la comunidad, principalmente el incentivo para el uso del condón. Fue evidente la fragilidad de la atención primaria de salud para hacer frente a la sífilis y, considerando el contexto actual de la sífilis, es necesario fortalecer las acciones que favorecen el diagnóstico temprano, el tratamiento oportuno y especialmente las acciones preventivas.

Descriptores: Sífilis, Epidemiología, Atención Primaria de Salud.

Brenda Castro Moreira

Egressa do curso de Enfermagem do IESC -FAG. Guaraí - TO. E-mail: brendamoreira.pf@gmail.com

Juliana Luz Ribeiro

Egressa do curso de Enfermagem do IESC -FAG. Guaraí - TO. E-mail: juliana.appd@hotmail.com

Rogério Carvalho de Figueredo

Enfermeiro. Mestre em Ciências da Saúde e Esp. em Saúde Pública com ênfase em Saúde Coletiva. Guaraí - TO. E-mail: rigoh1@live.com

Renata Cristina Correia da Silva Amorim

Enfermeira. Mestra em Administração e Gestão da Saúde Pública e Especialista em Enfermagem do Trabalho. E-mail: renatacsamorim@gmail.com

Leidiany Souza Silva

Enfermeira. Especialista em Saúde Pública com ênfase em Saúde Coletiva e da Família. E-mail: leidianysouza@hotmail.com

Rafael Souza Silva

Enfermeiro. Especialista em Urgência e Emergência. E-mail: rafael.unirg@gmail.com Submissão: 15/07/2019 Aprovação: 25/06/2020

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I n t r o d u ç ã o

Atualmente o SUS tem como um dos grandes desafios a diminuição de ocorrências de Infecções

Sexualmente Transmissíveis-IST no país,

principalmente a sífilis. Nos países desenvolvidos, a sífilis é uma das principais infecções transmitida pelo o ato sexual desprotegido com maior magnitude e transcendência no mundo. A sífilis adquirida é uma infecção de transmissão prevalentemente sexual sendo muito rara a ocorrência pelo contágio extragenital. A população com faixa etária dentre 15 e 30 anos, considerada a população jovem é mais afetada por serem sexualmente ativos1.

Ocasionada através do Treponema pallidum, uma bactéria espiroqueta e gram-negativa, a infeção sifilítica clinicamente apresenta três tipos de fases ativas sendo elas: sífilis primária, secundária e terciária; e uma fase de latência. Se manifesta através de pequenas abrasões principalmente nos órgãos genitais, quando a bactéria alcança o sistema linfático, e em passagem sanguínea pode atingir os demais órgãos2.

Por meio da propagação hematogênica do T.

pallidum, temos a sífilis congênita, que se dá por via

transplacentária entre gestante e feto. Ela é

prevenível quando detectada e tratada

adequadamente a gestante infectada e seus companheiros sexuais. Esta transmissão poderá acontecer em qualquer período gestacional, tendo grande chance de incidência no começo da infecção sifilítica, no qual há mais treponemas na circulação sanguínea. Sua contaminação pode provocar óbito fetal, aborto e também mortalidade neonatal em 40% dos fetos contaminados ou nascidos com sífilis2,3.

AEstratégia Saúde da Família (ESF) é responsável pela promoção de ações que visam o enfrentamento dos problemas no processo saúde-doença da população e busca a longitudinalidade do cuidado aos indivíduos e a prevenção de agravos. A sífilis é considerada uma patologia de fácil controle para os profissionais que compõem as equipes de ESF, devido a presença de testes e análises com sensibilidade para diagnosticar, e terapêutica eficiente e baixo custo, porém enfrenta diversas barreiras nas rotinas dos serviços de saúde4.

A ação de melhor resultado para o

enfrentamento da sífilis é a sua prevenção principalmente no incentivo ao uso de preservativos, por meio de diagnóstico em tempo oportuno, tratamento adequado e orientações educativas. Estes, realizados quase exclusivamente pelas equipes da ESF, atuantes na Atenção Primária em Saúde (APS), considerada porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS)5.

Entre as ações prioritárias para o enfretamento da sífilis na APS, a literatura aponta a notificação como ferramenta epidemiológica; a busca ativa para o monitoramento dos casos; o acesso ao diagnostico pela a população; tratamento em tempo oportuno e eficaz dos infectados e parceiros sexuais e avaliação sorológica que comprove a sua cura, representam as atividades a serem realizadas na atenção primária à saúde. Portanto, ressalta-se a importância do rastreamento da sífilis por esse nível de atenção, intensificando a realização das atividades de educação em saúde, o diagnóstico em tempo oportuno, a adesão do tratamento pelo parceiro sexual, e as ações preventivas6.

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Devido à alta incidência de sífilis, barreiras são encontradas que dificultam o acompanhamento e tratamento completo de pessoas com essa infecção. Com base nisso, surge a seguinte problemática: quais os desafios e potencialidades encontrados pela Atenção Primária em Saúde no enfrentamento da sífilis?

A identificação desses desafios enfrentados pela a Atenção Primária em Saúde e suas potencialidades no manejo desta doença pode colaborar para um resultado positivo nas ações de intervenção realizadas pelas equipes de ESF, contribuindo na produção de novas táticas que podem resultar na qualificação da assistência. O estudo se sustenta na relevância em oferecer reforços teóricos e qualitativos no âmbito de saúde e também para subsidiar a atuação do enfermeiro diante à sífilis na Atenção Primária em Saúde, contribuindo para a identificação das dificuldades e potencialidades no acompanhamento de pessoas que apresentam diagnóstico positivo para sífilis, assim colaborar para o progresso das intervenções.

Diante disso, o estudo tem como objetivo caracterizar os principais desafios e potencialidades da Atenção Primária em Saúde no enfrentamento da sífilis. E como objetivos específicos: Apresentar preceitos históricos, conceituais e característicos da infecção; explanar sobre as atribuições da APS diante da sífilis caracterizando a dinâmica de trabalho da equipe de ESF, no que tange o diagnóstico, tratamento e prevenção da mesma; e analisar o papel do enfermeiro nesse contexto.

M a t e r i a l e M é t o d o

Pesquisa realizada através de revisão literária, de abordagem descritiva e exploratória e natureza

qualitativa. A pesquisa foi orientada a partir da questão: “Quais são os principais desafios e potencialidades no enfrentamento da sífilis pela atenção primária em saúde?”, por intermédio de revistas brasileiras com artigos científicos publicados preferencialmente entre os anos de 2013 a 2017, e também dados secundários extraídos de boletins epidemiológicos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). A pesquisa dos artigos ocorreu nos meses de agosto a novembro de 2017 utilizando as bases de pesquisas BIREME, LILACS

e SCIELO; utilizando os descritores: Sífilis,

Epidemiologia, Atenção Primária em Saúde. Foram pré-selecionados 27 (vinte e sete) artigos, e utilizados 16 (dezesseis) para elaboração dessa pesquisa, após leitura e análise de associação do conteúdo dos artigos ao objetivo do trabalho.

Foram realizadas leituras superficiais dos artigos

pré-avaliados, principalmente dos resumos,

possibilitando aquisição de conhecimento dos assuntos descritos nas pesquisas e selecionados os que apresentaram maior compatibilidade para a elaboração desse trabalho.

A exploração do material utilizado ocorreu após leituras detalhadas dos textos. A partir das informações adquiridas, realizaram-se interpretações e adaptações com base em referencial teórico, que deram base neste estudo de revisão.

R e s u l t a d o s e D i s c u s s ã o

Breve histórico da sífilis

O agente etiológico Treponema pallidum, exposto em 1905, examinado e preparado a fresco por Fritz Schaudin (zoologista), onde foi colhida a amostra de uma pápula na região genital de uma paciente com sífilis secundária por Paul Erich

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Hoffman (dermatologista). Onde observaram por meio do microscópio as bactérias em espiral finos, girando em torno de si para se movimentarem. Denominaram inicialmente de Spirochaeta pallida após um ano, nomearam o Treponema pallidum5.

O sinônimo da infecção cogitava a situação sociopolítica da Europa na época, atribuindo sempre à doença a uma característica que a associava com outros povos ou nações, mal espanhol, italiano e francês usados, até então nomear sífilis, proveniente de um poema de Hieronymus Fracastorius. Era grave o desenvolvimento endêmico em meados do século XIX. A medicina em contraparte se fortalecia, resultando nas primeiras criações de drogas sintetizadas. A grande repercussão possivelmente foi inclusão da penicilina, com a descoberta deu-se a entender que a infecção seria facilmente controlada, ocasionando redução do seu estudo e controle5,6.

Passou a ser bastante popular no fim do século XV no continente Europeu devido sua propagação acelerada, tornando-a em uma das principais epidemias no mundo. Diante disso, foram criadas duas teorias tentando descobrir seu surgimento. Chamada de mal colombiano, a primeira versão relata sobre a endemia sifilítica no Novo mundo, inserida através dos marinheiros da Espanha na Europa, tais teriam integrado como parte do descobrimento da América. Diversos pesquisadores pensavam que viria a ser resultante de alterações que as espécies de treponemas endêmicos do continente africano sofriam5.

Sendo assim uma infecção crônica a sífilis, conhecida desde o século XV, que possui como hospedeiro definitivo dos seres humanos, apresenta metabolização lenta, com tempo multiplicação média

de cerca de 30 horas. A sífilis é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), podendo ser transmitida entre parceiros sexuais7.

Devido à ausência ou pouca sintomatologia, afetando principalmente jovens, homossexuais, profissionais do sexo e populações sem acesso a serviços de saúde independente da sua classe social que podem negligenciar o cuidado. Atualmente 12 milhões de pessoas no mundo são afetadas pela sífilis segundo Organização Mundial da Saúde (OMS), com incidência de 714 mil casos ao ano, sendo uma doença de notificação compulsória desde o ano de 1986, na saúde pública, e esses dados indicam um desafio para os profissionais de saúde8.

Conceito, classificação, transmissão, diagnóstico e tratamento

A sífilis é uma infecção bacteriana de caráter sistêmico, curável e exclusiva do ser humano. Quando seu tratamento não é realizado em tempo oportuno, pode resultar em uma evolução crônica com danos de

potencial irreversível. A transmissão ocorre

principalmente por contato sexual, porem também pode ocorrer por transmissão vertical através da placenta e em casos raros, por hemotranfussão. Seu contágio é de maior predominância nos estágios iniciais da infecção, e se reduzira a medida em que a infecção progride. Não existe uma vacina específica para o combate da sífilis, e uma vez contaminado, o indivíduo não adquirir imunidade contra a bactéria, ou seja, isso significa que as pessoas podem vir a serem infectadas todas às vezes que ficarem sujeitadas a bactéria9.

Outra classificação da sífilis é caracterizada pela transmissão através da placenta para o feto durante o período de gestação, quando a gestante tem a

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infecção não tratada ou quando realizado o tratamento de forma inadequada. A transmissão pode ocorrer pelo contato do recém-nascido com trauma genital durante o parto, mas é menos frequente. A sensibilidade da sífilis a temperaturas baixas e vida fora do organismo humano tornou a sua sobrevivência em bolsa de sangue rara, essas são avaliadas rigorosamente em seu manejo laboratorial, que detectam processo de infecção, dificultando sua transmissão através de hemotransfusão9.

Esta infecção, clinicamente apresenta-se em três fases ativas (primária, secundária e terciária) e uma fase de latência, conforme descrição a seguir10.

A sífilis primária tem como lesão característica própria o cancro duro, que aparece no local onde ocorreu o contágio, num total previsto entre 21 dias após sua contaminação. Inicia-se com uma pápula de coloração roseada, evoluindo a um intenso vermelho e exulceração. Geralmente o cancro é único, indolor, praticamente

ausente de sinais inflamatórios

perilesionais, bordas endurecidas,

apresentam um fundo liso e limpo, recoberto por matéria serosa. Após sete ou quatorze dias surgem reações ganglionares regional múltiplas e bilaterais, com nódulos duros e indolores.

A sífilis secundária manifesta-se entre um período que pode levar em média de 6 semanas a 6 meses após a infecção, com duração entre 4 e 12 semanas. No entanto, as lesões podem agravar-se por até 2 anos. Porém, em poucas semanas os sintomas podem desaparecer de forma natural. As

lesões secundárias são repletas de bactérias do tipo T. pallidum. Podendo ocorrer o aparecimento de uma série de lesões inflamatórias na pele no formato de máculas ou pápulas, especialmente na região do tórax, tendo como exemplo a inflamação eritemato-escamosas, placas

eritematosas branco-acinzentadas nas

mucosas, lesões palmo-plantares, pápulo-hipertróficas nas mucosas, além do surgimento de alopecia em clareira, febre, madarose, mal-estar e cefaleia.

A fase latente da sífilis quando não tratada entrara em um estágio onde não terá ocorrências de sinais e sintomas, sendo ela no primeiro ano considerado recente e tardio após esse período. Sem que ela não apresente nenhum sintoma clínico, tendo como reagente todos os testes que identifiquem os anticorpos, e quanto aos testes não treponêmicos percebe-se que os títulos terão uma queda. Para obter um diagnóstico eficaz dessa fase da infecção, o profissional deve associar os resultados apresentados pelos testes e a história clínica do paciente, tendo que ser tratado caso ele apresente resultados positivos de algum teste imunológico mesmo ele sendo assintomático e sem história pregressa da infecção9,10.

Em 30% das infecções sifilíticas não tratadas prevalecem a sífilis terciaria, devido após um longo período de latência, esta surgir entre 2 a 40 anos depois do início da infecção. Tida como rara, pois a população está sempre recebendo de forma indireta altas doses de antibióticos que agem sobre a bactéria resultando em cura, quando

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presente, a sífilis nesse estágio manifesta-se na forma de inflamação e degradação

tecidual. Os sistemas nervoso e

cardiovascular também são alvos. Além disso, na pele, ossos ou quaisquer tecidos e mucosos notam-se o surgimento de gomas sifilíticas10.

As formas de diagnósticos são realizadas através de exames sorológicos e podem ser feitos a partir da segunda ou terceira semana do surgimento com o cancro duro, com reações não-treponêmicas, com testes reagínicos não específicos como VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) RPR (Rapid Test Reagin) reações treponêmicas, ou pesquisa de

anticorpos verdadeiros, FTA-ABS (Fluorescent

treponemal antibody - absorption), ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay), TP-PA (T. pallidum Passive Particle Agglutination test) ou de MHA-TP, TPI detectam anticorpos específicos produzidos pela infecção, e que são raros os casos de falso-positivo 8-10.

O tratamento da sífilis é recomendado que seja feita com penicilina G benzatina, podendo ser utilizado como tratamento alternativo a ceftriaxona, ou doxiciclina caso tenha sensibilidade a penicilinas7.

A tabela 1 apresenta um resumo dos esquemas terapêuticos utilizados para sífilis.

Tabela 1. Esquemas terapêuticos utilizados para o tratamento da sífilis.

Estadiamento Esquema terapêutico Alternativa

Sífilis primária, secundária e latente recente (com menos de um ano de evolução).

Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo).

Doxiciclina 100mg, VO, 2x dia, por 15 dias (exceto gestantes) ou Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1x dia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes.

Sífilis latente tardia (com mais de um ano de evolução) ou latente com duração ignorada e sífilis terciária.

Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI, IM, semanal, por 3 semanas Dose total: 7,2 milhões UI, IM.

Doxiciclina 100 mg, VO, 2x dia, por 30 dias (exceto gestantes) ou Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1x dia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes.

Neurossífilis

Penicilina cristalina 18-24

milhões UI/dia, por via

endovenosa, administrada em doses de 3-4 milhões UI, a cada 4 horas ou por infusão contínua, por 14 dias.

Ceftriaxona 2 g, IV ou IM, 1x dia, por 10 a 14 dias.

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Contexto epidemiológico da sífilis no país

No ano de 2015, observou-se que no Brasil, os casos de sífilis adquirida ocorriam entre a faixa etária de 20 a 39 anos, cujo 16,3% cursaram ensino médio completo, 40,1% afirmaram ser da cor branca e 31,0% parda. Destaca-se ainda que em 36,8% dos casos a informação de escolaridade estava como ignorada11.

Foram informados no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no período de 2010 a junho de 2016, um total de 227.663 casos de sífilis adquirida no país, onde cerca de 62,1% destes casos foram da população da região Sudeste, 20,5% na região Sul, 9,3% no Nordeste, 4,7% no Centro-Oeste e 3,4% no Norte11.

De acordo com o SINAN entre os anos de 2005 a 2016 de junho notificaram-se 169.546 casos de gestantes portadoras de sífilis, o Sudeste apresentou a maior porcentagem num total de 42,9%, a região Nordestina em segundo lugar com 21,7%, o Sul em terceiro apresentando 13,7%, quarto colocado o Norte com 11,9%, e em último o Centro Oeste com 9,8% de infectadas11.

Sífilis na Atenção Primária em Saúde

Considerando que a relação entre serviços de saúde e comunidade é mais próxima através da Atenção Primária em Saúde, está se torna imprescindível para o enfrentamento da infecção, quanto a detecção de casos, diagnóstico de indivíduos, parceiros ou de gestantes. Em que o objetivo do controle da sífilis é a interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção para que não ocorra novos casos. O controle na detecção e o tratamento precoce da doença do parceiro ou dos parceiros, tem por finalidade evitar o contágio e propagação da infecção12.

Entre as atividades a serem priorizadas no âmbito da atenção primária em saúde, além da melhoria da oferta e qualidade do diagnóstico e tratamento da sífilis, ressalta-se o papel da equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF), iniciando-se pelo papel dos agentes comunitário de saúde nas ações de educação em saúde e na busca ativa de gestantes e parceiros, o que coloca em destaque a importância de modelos de atenção como a ESF13.

As principais ações incluem: atividades

educativas na promoção à saúde e na prevenção, aconselhamento para oferta e realização dos testes e exames de diagnósticos e para adesão à terapia instituída e às recomendações de assistência, detecção precoce da sífilis em públicos prioritários, tratamento adequado durante o pré-natal para prevenção da sífilis congênita, e principalmente a

educação em saúde como ferramenta de

conscientização da população12,13.

A Atenção Primária em Saúde tem como atribuição a superação do preconceito e da discriminação que envolve as questões relacionadas à

sexualidade, ao uso de drogas, fatores

socioeconômicos entre outros, promovendo a

inserção social das pessoas que vivem com sífilis, conscientizar a população sobre à promoção, prevenção, diagnóstico e assistência a esses agravos, garantindo o acesso e atendimento às populações mais vulneráveis a essas infecções, atuando de forma integrada com os profissionais dos serviços especializados no tratamento de pessoas com esses agravos, identificar e desenvolver ações em parceria com os serviços existentes na comunidade, priorizando prevenção e promoção da saúde6,13.

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Desafios e Potencialidades

A partir da revisão da literatura foi possível perceber que a sífilis é uma infecção que tem como

principais fatores de risco a qualidade

socioeconômica baixa, indivíduos com vida sexual ativa, usuários de drogas, indivíduos com pouca escolaridade e jovens, porém não tem afetado somente a população adstrita como de risco. Consideram que ela ocorre com maior frequência nos meios onde existem vários problemas de natureza social, os quais colaboram para as condições de aquisição da doença13.

O nível de escolaridade do indivíduo influi diretamente, na absorção das orientações sobre a patologia; portanto, quanto mais baixa, maior a dificuldade de compreensão do diagnóstico, da necessidade na mudança de hábitos e da adesão ao tratamento adequado. Os profissionais de saúde devem atentar ao tipo e à forma de linguagem que devem utilizar no processo de comunicação a fim de garantir que as informações sejam eficazes14.

Desse modo, para eliminar esta enfermidade é necessário transpor barreiras socioeconômicas, fortalecendo Atenção Primária em Saúde do Sistema Único de Saúde, garantindo uma assistência ampla e de qualidade, de forma a promover uma amplificação no acesso ao conhecimento do tema, bem como ofertar diagnóstico precoce e tratamento eficaz, melhorando assim os indicadores de saúde e o bem-estar da população6,12,15.

A dificuldade na prática da interdisciplinaridade no trabalho das equipes foi outro fator identificado na literatura. Autores apontam que, na prática, os profissionais privilegiam o trabalho individual em detrimento do coletivo, o que prejudica a integração

da equipe e a aplicação da prática de cuidado necessária12.

Pode-se destacar que a ocorrência de sífilis congênita expressa uma falha da atenção ao pré-natal realizada na Atenção Primária em Saúde, pois o diagnóstico precoce e tratamento da gestante e de seus parceiros são medidas bastante eficazes na

prevenção desta forma de doença, sendo

imprescindível a detecção na gestante em tempo hábil, ou seja, logo no primeiro trimestre. E ainda é necessário fazer a busca ativa do parceiro e realizar os exames e tratamentos preconizados no âmbito do SUS4,15.

O desconhecimento sobre a doença, e suas formas de prevenção e de tratamento são uns dos fatores que dificultam a adesão do parceiro e demais indivíduos em situação e risco ou vulnerabilidade. Com relação ao tratamento, a terapia medicamentosa intramuscular ocasiona resistência as pessoas infectadas devido a dor na administração e a quantidade de doses necessárias para a conclusão do tratamento, reforçando novamente a importância da conscientização da população através da educação em saúde1,6,7.

Para que ocorra uma maior adesão ao tratamento, percebe-se que o acolhimento, empatia, comunicação eficaz, caracterizam-se como principais ações para uma construção confiável entre os profissionais e o paciente. O vínculo é de fundamental importância para a melhoria do atendimento, pois é a partir desse componente que o enfermeiro estabelecerá uma relação contínua com o usuário no seu cotidiano. Empatia é sinônimo de compreensão, o cuidar requer a empatia, ou seja, desenvolvimento de ações, colocar-se no lugar do

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outro, ouvindo e sentindo as suas necessidades, a fim de identificar como o paciente percebe e sente a sua situação6,14,15.

A última Avaliação Normativa da ESF apontou que a maioria das equipes avaliadas apresentava condições necessárias para o diagnóstico, mas não para o tratamento da sífilis nas gestantes e parceiros, seja pela falta da penicilina ou pela falta de condições

de aplicação segura desse medicamento,

necessitando encaminhar os casos diagnosticados para tratamento em outros serviços, o que comprometeria seriamente o controle desse agravo, considerando a importância dos fatores tempo e oportunidade no tratamento dessa IST12.

De acordo com as principais estratégias adotadas para controle da infecção pela Atenção Primária em Saúde, percebeu-se barreiras em relação a atuação multiprofissional. Lembrando que a prevenção e o controle dos grandes índices sífilis depende principalmente da integração da ESF e do seu envolvimento12,16.

A expansão da cobertura de APS através das consultas médicas e outros procedimentos têm potencial inegável que impactam nas condições de saúde da sociedade. Além desse potencial de resolução delegado a APS, ainda é notado um número de casos inadmissíveis de agravos que são possivelmente evitáveis por esse nível de atenção13.

Apesar de poucos artigos abordarem ou enfatizarem a importância dos preservativos no enfrentamento da sífilis, percebe-se que ainda é necessário que esses insumos sejam mais bem abordados no contexto da APS, cabendo aos profissionais da ESF, adotarem estratégias que

garantam a retirada dos preservativos, a

conscientização da importância e uso pela a população14.

Dentre os princípios que precisam orientar os atos de controle da sífilis nota-se precisão de adoção de um foco integrado, tornando todos os programas

vinculados, estes que evolvam a saúde,

particularmente a APS. Priorizando as atividades no ambiente da atenção à saúde, além da melhor oferta de qualidade durante o diagnóstico e tratamento da sífilis primária, destaca-se as ações de educação em saúde como papel dos agentes de saúde em ação com a comunidade, reforçando a importância do modelo de atenção preconizado pela ESF10,16.

Observa-se que apenas disponibilizar os preservativos nas Unidades Básicas de Saúde, sem estimular o uso e orientar sobre a importância do mesmo, não é possível diminuir os riscos da infecção e prevenir esse agravo. Sendo assim, a própria potencialidade quando não executada se torna uma barreira para a diminuição dos casos e enfretamentos da sífilis15.

Outro ponto relevante encontrado na literatura refere à disponibilização de manuais, protocolos, notas técnicas, informes e diversos materiais educativos e orientadores pelo o Ministério da Saúde, dos quais os profissionais da APS, muitas vezes desconhecem e não utilizam. Reforçando assim a importância da educação permanente em saúde (EPS) para todos os profissionais da APS, com o objetivo de mantê-los atualizados e aptos para atuar conforme a necessidade da comunidade12,16.

A EPS pode potencializar o enfrentamento da sífilis principalmente estimulando e capacitando os profissionais de saúde a terem uma participação concisa e a desenvolverem diferentes ações

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educativas, focando prioritariamente nas reais demandas da população considerando sempre a sua realidade16.

Percebe-se como fundamental a atuação dos profissionais de saúde, sobretudo dos enfermeiros que tem um papel importante de educador em saúde, na sensibilização da população em relevância ao controle da patologia. Observado que a partir das ações apropriadas e com fundamentações técnico-científicas podem intervir de modo direto no controle da sífilis, com diferentes parceiros da sociedade, garantindo uma assistência humanizada, integral e de qualidade16.

C o n c l u s ã o

A Atenção Primária em Saúde tem grande importância na assistência aos portadores de sífilis, na prevenção e no manejo da infecção, por meio de projetos de conscientização, intervenção, detecção de situações e fatores de risco, colaborando para o diagnóstico precoce, adesão ao tratamento efetivo do paciente e seu parceiro sexual, e na comunidade promovendo educação em saúde.

A prevenção dessa infecção se tornou um grande desafio para a saúde pública, principalmente em facilitar o acesso da população vulnerável, disponibilizar assistência eficaz, e assim permitir a diminuição dos índices dessa patologia. A integração da população com as atividades desenvolvidas nas Unidades Básicas de Saúde permitirá entender melhor os problemas, com a construção de novas e melhores formas de intervenção fortalecendo, deste modo, a Atenção Primária em Saúde.

Tais desafios no enfrentamento da sífilis são problemáticas em potencial a serem superados, através de ações que busquem o aprimoramento dos

profissionais atuantes da ESF, principalmente através de capacitação, atualizações e educação permanente em saúde, para que estes possam oferecer a população ações e manifestações educativas de promoção e prevenção conforme as necessidades da população e realidade dos serviços de saúde.

O estudo possibilitou pensar as propostas referidas nos objetivos, e os resultados que apontam para a reflexão através de como a sífilis, sua prevenção e controle são empenhados na atenção primária, com a expectativa de colaborar para a adoção de medidas que qualifiquem a assistência aos portadores desta infecção, a diminuição desses indicadores e as condições da ação para enfrentar os desafios que surjam.

R e f e r ê n c i a s

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Referências

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