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MOYSES NAFTALI LEAL QUITÉRIO

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Academic year: 2021

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MOYSES NAFTALI LEAL QUITÉRIO

A HIPÉRBOLE DO NEOPENTECOSTALISMO BRASILEIRO: Estudos a respeito da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, o líder Apóstolo Agenor Duque e suas

inscrições midiáticas no cenário religioso brasileiro.

São Paulo 2018

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MOYSES NAFTALI LEAL QUITÉRIO

A HIPÉRBOLE DO NEOPENTECOSTALISMO BRASILEIRO: Estudos a respeito da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, o líder Apóstolo Agenor Duque e suas

inscrições midiáticas no cenário religioso brasileiro.

Dissertação apresentada ao Centro de Teologia e Filosofia da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Ricardo Bitun

São Paulo 2018

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Bibliotecário Responsável: Eliezer Lírio dos Santos – CRB/8 6779 Q8h Quiterio, Moyses Naftali Leal

A hipérbole do neopentecostalismo brasileiro: estudos a respeito da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, o líder apóstolo Agenor Duque e suas inscrições midiáticas no cenário religioso Brasileiro / Moyses Naftali Leal Quiterio – 2018.

142 f.: il.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Bitun Bibliografia: f. 126-129

1. Pentecostalismo 2. Igreja Apostólica Plenitude do Trino de

Deus 3. Neopentecostalismo I. Duque, Agenor II. Duque, Ingrid III.

Bitun, Ricardo, orientador IV. Título

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Ao meu mestre Ricardo Bitun, pelas palavras de incentivo, sua paciência e seu amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que, ao mesmo tempo é a razão e o objetivo de minha existência. À minha doce e querida mãe, Maria Fatima Leal, pelo enorme apoio e incentivo durante toda a minha vida, inclusive em minha caminhada acadêmica.

À minha irmã, Priscila Leal, que esteve comigo durante este período, sendo ouvinte das minhas ideias e me ajudando constantemente.

À minha avó, Margarida Almeida, que é como uma flor no jardim e deu-me palavras de conforto. A sua vida é de grande importância para mim.

Ao meu mestre, Doutor Ricardo Bitun, que me deu o privéligio de ser seu orientando por mais de uma vez! Obrigado por ter acreditado em mim!

Ao amigo Fernando Silva, que foi muito importante neste trabalho, grande incentivador e que antes mesmo desse período, me apoiava e compartilhava ideias. Sem a sua ajuda, a jornada com certeza seria muito mais díficil.

Ao mestrando Vinnícius Almeida, que gentilmente se propôs a participar deste projeto, pelos apontamentos desta pesquisa. Muito obrigado por partilhar seu talento intelectual e sua sensibilidade comigo!

A um grande amigo, Arão Teruel que contribuiu significativamente com este trabalho, abrindo as portas da igreja, tornando o apóstolo Agenor Duque ciente de que a pesquisa estava sendo realizada.

Ao Jairo Manhães, que me ajudou na pesquisa fazendo com que a entrevista com o Apóstolo Agenor Duque fosse realizada. Obrigado pelas conversas informais que tivemos durante o curso.

Ao Apóstolo Agenor Duque, que gentilmente abriu as portas de sua Igreja e do seu escritório para que a entrevista fosse realizada e o trabalho fosse fidedigno e verdadeiro.

Ao professor Leonildo Campos da Silveira, que gentilmente contribuiu na qualificação deste trabalho com seus ricos apontamentos.

Ao professor Paul Freston, que também gentilmente aceitou o convite em participar da banca examinadora tanto na de qualificação quanto na de defesa.

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Ao professor João Clemente de Souza Neto, que de forma rápida e gentil aceitou participar da banca de defesa deste trabalho e pela disposição em ler, avaliar e comentar o texto. Aos professores do Programa de Ciências da Religião da Universidade Mackenzie que contribuíram para o meu crescimento e para este trabalho.

Ao Mestre Marcelo Pires de Souza, um amigo, companheiro e um ouvinte apaixonado pelas ideias da religião. Suas contribuições foram sempre ouvidas.

A minha mais profunda gratidão à Universidade Presbiteriana Mackenzie, e ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT), dos quais tenho muito orgulho em completar este ciclo da minha vida nesse ambiente tão querido. Um período muito especial na minha formação.

Ao grupo de pesquisa NEP – Núcleo de Pesquisa do Protestantismo, do qual eu faço parte e à professora responsável, Lídice Meyer Pinto Ribeiro.

À Dagmar Dollinger, sempre gentil e ajudando cada aluno do Programa de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Ao MackPesquisa, por fomentar os estudos e pelo apoio financeiro que tornou possível esta pesquisa.

A todos aqueles que, mesmo não contemplados nominalmente, forneceram sua ajuda à concepção desta dissertação. Meu muito obrigado!

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RESUMO

O presente estudo analisa o crescimento da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, inserida no bojo (neo) pentecostal, que ganha destaque no cenário religioso brasileiro com apenas onze anos de existência, e se posiciona como uma das grandes igrejas pentecostais na contemporaneidade. A proposta do trabalho traz diversos aspectos da instituição, desde empresas ligadas ao grupo, o destaque midiático e a perspectiva de sua teologia. A figura principal é a do seu líder carismático, o Apóstolo Agenor Duque, que, juntamente com a sua esposa, Bispa Ingrid Duque, têm aproximações com grandes nomes da música gospel e pregadores conhecidos no circuito nacional, bem como internacional. Para tanto, utilizamos uma abordagem bibliográfica acerca do pentecostalismo e uma entrevista concedida pelo fundador da instituição, que apresenta as origens e o ethos da igreja, além de compartilhar sobre sua peregrinação religiosa, que inclui grandes igrejas pentecostais. O uso do rádio, televisão e das redes sociais, suas aproximações do pentecostalismo clássico e a inserção na política, sinalizam a direção para continuar entre as grandes igrejas e expressam correlações diante do fenômeno da neopentecostalidade.

Palavras-chave: Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus; Apóstolo Agenor Duque; Bispa Ingrid Duque; Pentecostalismo; Neopentecostalismo.

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ABSTRACT

The present study analyzes the growth of the Apostolic Church “Plenitude do Trono de Deus” inserted in the (neo) pentecostal context, which gains prominence in the Brazilian religious scene with only eleven years of existence and positions itself as one of the great pentecostal churches in contemporary times. The proposal of the research brings several aspects of the institution, from companies linked to the group, the highlight on the media and the perspective of its theology. The main figure is the charismatic leader, Apostle Agenor Duque, who, along with his wife, the Bishop Ingrid Duque, is close to great names of gospel music and preachers known in the national as well as the international circuit. To do so, we use a bibliographical approach to pentecostalism and an interview granted by the founder of the institution, which presents the origins and the ethos of the church, as well as he shares about his religious pilgrimage, passing through large pentecostal churches. The use of radio, television, social networks, their approach to classical pentecostalism, and their insertion in politics, gives the direction to continue among the great churches and expresses correlations with the phenomenon of neopentecostality.

Keywords: Apostolic Church “Plenitude do Trono de Deus; Apostle Agenor Duque; wife Bishop Ingrid Duque; Pentecostalism; Neopentecostalism.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AD Igreja Evangélica Assembleia de Deus

CBC Canadian Broadcasting Corporation

CCB Igreja Congregação Cristã no Brasil

CIPE Conselho Internacional de Pastores e Empresários

CEDI Centro Ecumênico de Documentação e Informação

COGIC Church of God in Christ International

CGADB Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil

CONAMAD Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de Madureira DIAP Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

GMUH Gideões Missionários da Última Hora

IAPTD Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus

IARC Igreja Apostólica Renascer em Cristo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IIGD Igreja Internacional da Graça de Deus

IMPD Igreja Mundial do Poder Deus

IPDA Igreja Pentecostal Deus é Amor

ISBN International Standard Book Number

IURD Igreja Universal do Reino de Deus

MEC Ministério da Educação

NGT Nova Geração de Televisão

OBPC Igreja Evangélica O Brasil para Cristo

PRB Partido Republicano Brasileiro

PSDB Partido Social Democrata Brasileiro

R.R. Soares Romildo Ribeiro Soares

RBI Rede Brasileira de Informação

RIT Rede Internacional de Televisão

SEPAL Servindo aos Pastores e Líderes

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Descrição Página

Figura 1 - Apóstolo Agenor Duque parabenizando o candidato eleito a

prefeito de São Paulo. 130

Figura 2 - Apóstolo Agenor Duque parabenizando os candidatos apoiados

pela IAPTD. 130

Fonte: Instagram. Perfil pessoal do Apóstolo Agenor Duque

Figura 3 - Programa Televisivo da IAPTD da campanha “Reconstrução na fé de Neemias”.

130

Figura 4 - Evento da IAPTD para os empresários.Erro! Fonte de referência

não encontrada. 131

Figura 5 - Campanha da Bispa Ingrid Duque realizada às terças-feiras. 131 Figura 6 - Campanha do Apóstolo Agenor Duque realizada às sextas-feiras. 132 Figura 7 - Campanha do Apóstolo Agenor Duque realizada às quartas-feiras 132 Figura 8 - 5ª Edição do Congresso Fogo de Avivamento, realizado pela IAPTD

- Pela aparição de Benny Hinn com Agenor Duque. 133 Figura 9 - 7ª Edição do Congresso Fogo de Avivamento, com acesso à área

VIP. 133

Figura 10 - 8ª Edição do Congresso Fogo de Avivamento, realizado pela

IAPTD. 134

Figura 11 - 9ª Edição do Congresso Fogo de Avivamento para o Brasil, da

IAPTD. 134

Figura 12 - 10ª Edição do Congresso Fogo de Avivamento para o Brasil, da

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LISTA DE TABELAS

Descrição Página

Tabela 1- Comparativo da pesquisa do Censo 1980 e 1991. 25 Tabela 2 - Tipologia Pentecostal empregada até 1991. 27

Tabela 3 - Tipologia proposta por Paul Freston. 28

Tabela 4 - Breve tabela das tipologias abordadas neste trabalho. 30 Tabela 5 - Distribuição das IAPTD pelos Estados Brasileiros. 33 Tabela 6 - Quantidade de Igrejas na região do Brás/SP. 35 Tabela 7 - Evento Congresso de Avivamento – Parte 1 – 2009 a 2013. 44 Tabela 8 - Evento Congresso de Avivamento – Parte 2 – 2014 a 2018. 44 Tabela 9 - Principais acontecimentos do Apóstolo Agenor Duque 88 Tabela 10 - Análise Comparativa da Bispa Sônia Hernandes e Bispa Ingrid

Duque 95

Tabela 11 - Lista de Emissoras evangélicas. 108

Tabela 12 - Número de Seguidores de diversos líderes (neo) pentecostais na

Rede Social Instagram. 116

Tabela 13 - Número de seguidores de diversos líderes (neo) pentecostais na

rede social Facebook. 118

Tabela 14 - Número de Seguidores das esposas dos diversos líderes (neo)

pentecostais na Rede Social Instagram. 118

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LISTA DE GRÁFICOS

Descrição Página

Gráfico 1 - Crescimento dos pentecostais. 26

Gráfico 2 - Comparativo de Crescimento dos líderes (neo) pentecostais - Rede

Social Instagram. 117

Gráfico 3 - Comparativo de Crescimento das esposas dos líderes (neo)

pentecostais - Rede Social Instagram. 120

DIAGRAMA

Descrição Página

Diagrama 1 - Lista de Empresas ligadas à Igreja Apostólica Plenitude do

Trono de Deus. 41

ANEXO

Descrição Página

ANEXO - Apêndice 1 - Comitê de Ética em Pesquisa do Mackenzie. 136 ANEXO - Apêndice 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Sujeito

de Pesquisa. 137

ANEXO - Apêndice 3 - Plataforma Brasil - Folha de Rosto para Pesquisa

Envolvimento Seres Humanos. 138

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...16

METODOLOGIA DA PESQUISA ...17

A ENTREVISTA ...18

APRESENTAÇÃO DOS CAPÍTULOS ...21

CAPÍTULO I – TIPOLOGIAS DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO ...23

O CRESCIMENTO DO PENTECOSTALISMO...23

TIPOLOGIAS DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO ...26

UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DA PENTECOSTALIDADE...30

CAPÍTULO II – A HIPÉRBOLE DO NEOPENTECOSTALISMO BRASILEIRO ...32

IGREJA APOSTÓLICA PLENITUDE DO TRONO DE DEUS ...33

“O CORREDOR DA FÉ” ...35

EMPRESAS LIGADA A IGREJA - “HOLDING DA FÉ” ...38

CONGRESSO FOGO DE AVIVAMENTO ...42

TEOLOGIA DA PLENITUDE ...45

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE ...46

ASPECTOS POSITIVOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE ...47

“REMASTERIZAÇÃO” DA PLENITUDE ...50

O SAGRADO NO COTIDIANO DAS CAMPANHAS ...51

ORIGEM DA IGREJA APOSTÓLICA PLENITUDE DO TRONO DE DEUS ...53

IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS ...54

IGREJA EVANGÉLICA O BRASIL PARA CRISTO ...55

IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS ...56

IGREJA MUNDIAL DO PODER DE DEUS ...58

CAPÍTULO III – APÓSTOLO AGENOR DUQUE ...60

UMA LEITURA DE AGENOR DUQUE A PARTIR DE WEBER E BOURDIEU ...61

ORIGEM E HISTÓRIA DO APÓSTOLO AGENOR DUQUE ...63

DA PERÍFERIA DA ZONA LESTE AOS DEMÔNIOS DA LAPA ...64

DA UNIVERSAL A ISRAEL, DA ASCENÇÃO AO DESÂNIMO ...65

DE VOLTA ÀS ORIGENS, ONDE TUDO COMEÇOU - AD SÃO MATEUS ...68

A PARCERIA DUQUE-SANTIAGO ...69

A INFLUÊNCIA DOS SERMÕES ASSEMBLEIANOS – PR. ALDERY ROCHA ...70

NO “BURAQUINHO” ONDE TUDO COMEÇOU ...71

BREVE INTRODUÇÃO AO CAMINHO DO APOSTOLADO...72

UM HISTÓRICO DA UNÇÃO APOSTÓLICA DE DUQUE - APÓSTOLO WIGGINS ...73

“DEUS MANDOU UNGIR VOCÊ A APÓSTOLO” - APÓSTOLO MARCOS SARDINHA ...74

BREVE REFLEXÃO DE BOURDIEU PARA A UNÇÃO APOSTÓLICA ...75

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A ORIGEM DO PANO DE SACO, A APARIÇÃO NO “PROGRAMA DO RATINHO” E OS

GRANDES MILAGRES ...80

AGENOR DUQUE E A NECESSIDADE DA POLÍTICA ...84

TABELA DE ACONTECIMENTOS DO APÓSTOLO AGENOR DUQUE ...88

“O LUGAR DA MULHER” E A BISPA DO AMOR ...90

CAPÍTULO IV – MÍDIA E A INSERÇÃO DA PLENITUDE ...97

MEIOS DE COMUNICAÇÃO É REALMENTE IMPORTANTE PARA A IGREJA? ...98

O RÁDIO OU TELEVISÃO? ...100

O PENTECOSTALISMO RADIOFÔNICO ...101

O USO RADIOFÔNICO DA IGREJA APOSTÓLICA PLENITUDE DO TRONO DE DEUS ...104

“IGREJA ELETRÔNICA” ...105

A APROXIMAÇÃO DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO COM A TELEVISÃO ...106

O NOVO PANORAMA MIDIÁTICO NEOPENTECOSTAL ...109

O USO TELEVISIVO DA IGREJA APOSTÓLICA PLENITUDE DO TRONO DE DEUS ...112

A TELEVISÃO E A EFICÁCIA PROSELITISTA ...113

REDES SOCIAIS ...114

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...122

BIBLIOGRAFIA BÁSICA...126

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...126

(16)

INTRODUÇÃO

A presente dissertação pretende analisar a Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus e o seu líder Apóstolo Agenor Duque. O objetivo é ler e interpretar, dentro do campo de estudos das Ciências da Religião, a trajetória desta instituição estabelecida na mídia, bem como a sua presença no movimento (neo) pentecostal, que se destaca por meio de sua liderança carismática.

Em uma busca na internet sobre a igreja e assuntos relacionados, observa-se inúmeras reportagens e vídeos que aparecem de uma maneira dispersa e desorganizada. Podemos, contudo, destilar dela preciosas informações para compreendermos a relevância para pesquisas contínuas. Portanto, esta obra demandou um trabalho animado na busca por extrair informações das redes sociais de maneira minuciosa, além de assistir por horas os vídeos postados na internet, as programações de televisão e uma dezena de visitas à sede da instituição no Brás em São Paulo.

As informações encontradas sobre a igreja e seu líder eram contraditórias. Pouco se sabia sobre a biografia e a trajetória ministerial percorrida por Agenor Duque. Não havia consenso acerca de sua conversão. Alguns pesquisadores afirmavam que Duque se converteu aos nove anos, enquanto outros estudiosos diziam ter acontecido aos doze anos de idade. Havia também observadores que declaravam que Duque não possuía formação acadêmica alguma, o que não é uma informação autêntica e tampouco verídica.

A partir do momento que percebemos que as informações não eram sistematizadas, claras e não havia informações fidedignas, procuramos então o contato da igreja para realizar uma entrevista com Agenor Duque. Foram longos sete meses de contatos para que a entrevista fosse realizada, com diversas tentativas frustradas. Haviam informações de pessoas que disseram não haver o mínimo de esperança para uma entrevista acadêmica. As chances eram remotas, pois o líder da instituição não dava mais entrevistas para jornais, revistas e emissoras de televisão, talvez porque não houvesse seriedade das matérias que eram publicadas e o interesse das mídias em criticá-lo era cada vez maior, o que dificultava ainda mais o andamento da pesquisa.

Quando de fato houve a informação chegou até ele, Agenor Duque demonstrou interesse em cooperar com o projeto e em nenhum momento apresentou contrapartida de que gostaria de ler o trabalho antes de publicá-lo, ou corrigir supostos trechos da pesquisa.

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Mas antes de começar a ler esta dissertação é preciso que se pergunte: Por que será que Agenor Duque concedeu a entrevista? Podemos aqui supor duas hipóteses: 1 – Agenor Duque procurou desmistificar e esclarecer a sua história por tudo o que se especulava até os atuais dias sobre a sua vida; 2 – Um outro caminho que podemos pressupor esta ligado ao prestígio social, liderança transdenominacional, além disso podemos acrescentar à legitimação sociopolítica, que gira em torno de sua imagem.

É possível que as duas respostas sejam o real desejo de Duque. Afinal, não basta estar em evidência somente no rádio, na televisão ou em revistas, é preciso também estar na academia. Respondeu todas as perguntas e, com o seu jeito, procurou envolver todos com suas histórias. Em determinado momento da entrevista, quando chamado em sua sala, Agenor Duque respondeu que estava sendo entrevistado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, isso corroborá para a tese do mundo moderno, em que a dominação precisa ser legitimada cientificamente. Nos atuais dias quem atribui o prestígio é sem dúvida alguma o prestígio científico. A ciência hoje, mais que a religião quem pode decidir o que é verdadeiro ou falso no mundo. Além disso, Duque sabia que a partir daquela entrevista, seria feito um trabalho com todo o aparato ético desejável.

Agenor Duque reconhece que tem a sua versão da verdade, e nem sempre essa versão é compartilhada por todos. Ele é propenso a fazer comentários verborrágicos, o que às vezes demanda a sua aparição para se desculpar quando as coisas passam do limite, como foi o caso em que num culto transmitido pela Televisão1, Duque compara a santa católica Nossa Senhora Aparecida a uma garrafa de Coca-cola. Dias após a repercussão e os protestos, Duque apareceu em uma rede social pedindo desculpas juntamente com o deputado federal católico Flavinho pelo que disse2. Contudo, parece estar acostumado com tal situação e sabe percorrer tal caminho com facilidade.

METODOLOGIA DA PESQUISA

Desenvolvemos esta pesquisa à luz dos métodos e técnicas do referencial qualitativo, que possibilita uma compreensão particular dos fenômenos sociais abordados, construídos ao longo do texto e analisados a partir de entrevista, sendo fundamentada a partir de tais

1 Disponível em: Youtube - Pastor compara Nossa Senhora a garrafa de Coca-Cola e revolta católicos

<https://www.youtube.com/watch?v=GlXbXosJat0> Acesso em 05 maio 2018.

2 Disponível em: Youtube - Agenor Duque pede perdão a católicos por críticas a Nossa Senhora

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fenômenos. É nesse momento que o pesquisador tem a oportunidade de interagir com o entrevistado envolvido na investigação. Portanto, o que se pretende é participar, compreender e interpretar.

Em termos de princípios metodológicos, optou-se por recortes da entrevista para a elaboração da dissertação, utilizando a técnica de entrevista semiestruturada, de maneira que as perguntas fossem complementares entre si, em vez de ter como objetivo analisar as contradições e conflitos. Além disso, utilizamos estudos produzidos a partir das primeiras décadas do século XX, em que se destacam os trabalhos de Max Weber e Pierre Bourdieu, pois foi naquele momento que a religião passou a ser um discurso histórico, sempre sendo condicionado às continuidades e rupturas sociais, políticas, culturais e não menos importantes, econômicas.

A análise do material gravado com permissão do entrevistado foi esquematizada da seguinte maneira: 1 – Transcrição de todo o material na literalidade e organização dos relatos. 2 – Leituras repetidas e exaustivas do material coletado, inclusive de algumas fotos que foram realizadas no local, bem como a fundamentação teórica e dos pressupostos da investigação e, por fim, a identificação das estruturas relevantes do projeto de maneira empírica. Com isso, obtivemos um plano geral de todo o material que nos permitiu, após as leituras, construir um esboço sobre o trabalho. 3 – Para concluirmos, a construção do texto com a articulação entre os dados e referenciais teóricos da pesquisa, com o objetivo de responder às perguntas da pesquisa com base em seus objetivos.

A ENTREVISTA

A IAPTD não é o objeto de pesquisa recente do pesquisador. Os estudos a respeito da instituição surgiram ainda na graduação e naquele ano (2015), a igreja já contava com espaços midiáticos. Neste mesmo ano a IAPTD começava uma feroz disputa de espaços na televisão com a IMPD do Apóstolo Valdemiro Santiago3. Emergiu então o desejo do pesquisador e um compromisso acadêmico de continuar as pesquisas no Programa de Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. O grande objetivo era uma entrevista com o líder da instituição, o Apóstolo Agenor Duque.

Para uma aproximação, fez-se necessário a apresentação de pelo menos um trabalho acadêmico que o pesquisador tivesse produzido acerca da instituição. Posteriormente, foi

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encaminhado um artigo publicado em uma revista acadêmica4 que tratava da relação midiática e a influência da igreja no cenário religioso brasileiro.

No início de maio de 2017, recebemos a notícia pelo pastor auxiliar do Apóstolo Agenor Duque de que deveríamos comparecer em um certo dia da semana às dez horas da manhã. Haveria um período de conversa de somente dez minutos, pois seria o intervalo entre um programa de rádio e outro. O tempo seria muito escasso para perguntas sobre a história dele e da igreja.

O contato com o escritório do apóstolo5 localizado na sede da igreja foi muito custoso. Identificamo-nos como pesquisadores e dissemos que tínhamos um horário agendado para uma entrevista. Porém, aguardamos duas horas no corredor de acesso ao templo principal da igreja. Após esse período de espera, fomos informados que a reunião não iria ocorrer e que houve um imprevisto com Agenor Duque.

Naquele dia, uma cena bem atípica foi vivida por este pesquisador. Estávamos na entrada da igreja, ao lado do estacionamento que dava acesso ao corredor do templo. Por um rápido momento, observamos funcionários fechando subitamente aquele acesso. Fomos informados por um dos funcionários da igreja que a esposa do Apóstolo Agenor Duque, estava chegando e por isso fecharam o acesso como medida protetiva. Os fiéis e frequentadores que ali passavam nem se deram conta da presença da Bispa Ingrid Duque no estacionamento.

No tabuleiro do jogo Banco Imobiliário existe uma casa chamada “sorte ou revés”, que pode mudar o rumo do jogador para melhor ou pior. Quando parecia que as coisas não se encaminhariam para uma entrevista e que o futuro entrevistado estaria no Monte Olímpio e não poderia nos atender, fomos agraciados por uma pessoa do programa de pós-graduação que no mesmo dia se prontificou a nos ajudar. No período da tarde, fez o contato direto com o apóstolo agendando a entrevista para o dia seguinte.

Chegamos antecipadamente no horário agendado, por volta das dez e trinta da manhã. O encontro ocorreu meia hora depois. Fomos levados até o prédio comercial da igreja, que fica no mesmo endereço no primeiro andar. Dessa vez, o atendimento até o prédio comercial ocorreu de forma rápida e muito atenciosa, uma vez que o apóstolo deixou todos da recepção cientes de

4 Ver mais: Revista Âncora <revistaancora.com.br> – Volume 11 – agosto 2017.

5 Os pastores e funcionários da instituição referem-se ao Apóstolo Agenor Duque informalmente

(20)

que o encontro aconteceria. A entrevista ocorreu com aproximadamente uma hora de atraso. Fomos informados que o apóstolo ainda não estava nas dependências da instituição, mas que logo chegaria. Ficamos na recepção tomando um café. Nossos olhares eram aguçados, a fim de observar tudo o que aconteceria naquele momento. A sala de espera era uma espécie de corredor com dois sofás e uma televisão que passava a programação da igreja a todo instante. Haviam técnicos de TV, sonoplastas e pastores, que passavam sempre com muita pressa.

A Bispa Ingrid Duque, sua esposa, é a segunda pessoa mais importante da instituição e nos recepcionou muito educadamente e pediu para que aguardássemos. De repente, a porta abriu rapidamente e entrou o Apóstolo Agenor Duque acompanhado de três homens, possivelmente seguranças ou pastores. Ele nos cumprimentou cordialmente com um enorme sorriso dotado de um grande carisma. Pediu mais alguns minutos, pois tinha uma outra reunião.

A entrevista ocorreu por quase duas horas. Foi uma excelente oportunidade de conhecê-lo. Fizemos poucas perguntas, pois ele dominava toda a sala com suas histórias e interpretações de voz e gestos. Às vezes, levantava e sentava ao explicar determinadas situações. Ele envolvia seus ouvintes da academia com histórias empolgantes. A entrevista tomou rumos e proporções maiores do que a proposta inicial previa.

Em uma de nossas abordagens, perguntamos a que se deve o crescimento da igreja e, prontamente, o Apóstolo Agenor Duque respondeu que seu contato com os fiéis continuou o mesmo durante todos esses anos de igreja. Seu diálogo com os membros era parte do seu cotidiano e isso nos deixou tomados de curiosidade, pois o que percebemos em horas de espera, tanto no primeiro agendamento quanto no segundo, foram horas de espera para que ele nos atendesse. Na primeira visita frustrada, foi possível observar o olhar das pessoas quando informamos sobre a reunião com o apóstolo, além das medidas protetivas da chegada de sua esposa ao estacionamento da igreja.

Sua sala era muito bem decorada, com enormes quadros trazidos de fora do país, além de diplomas e certificados que preenchiam duas paredes. O destaque era um quadro pintado a óleo de enormes proporções, medindo mais de dois metros de altura. Aparentemente, era um retrato do Rei Salomão, assentado em uma linda cadeira com leões de ouro em cada lado e uma coroa em sua cabeça, fazendo alusão à passagem bíblica6. Em reflexão posterior, aquele quadro

6 Ver mais em: “Tinha este trono seis degraus, e era o alto do trono por detrás redondo, e de ambos os

lados tinha encostos até ao assento; e dois leões, em pé, juntos aos encostos.” 1 Reis 10:19 (grifo do autor) – Bíblia Sagrada, Edição Almeida Corrigida e Revisada.

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em seu escritório fez lembrar a sua sala, muito bem decorada com mármore e abundantes detalhes dourados, como os sofás em que nos sentamos e sua cadeira vermelha com detalhes em ouro, remetendo a ideia de um trono.

O Apóstolo Agenor Duque se apresentou com correntes e pulseiras de ouro e um relógio da marca rolex também dourado, combinando com os detalhes de sua sala. Usava um terno risca de giz azul, que confirma o que o São Mateus (6:29) disse: “nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como ele”.

Contudo, é preciso ainda dizer que sua educação e simpatia realmente chamou a atenção. Muito bem articulado e muito prestativo, nos cedeu horas de conversa e pudemos ser excelentes ouvintes. Após a entrevista, nos deu livros autografados, tirou fotos e realizou um vídeo, que mais tarde foi publicado em sua rede social Instagram.

APRESENTAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O texto está estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo, realizamos uma abordagem histórica do movimento pentecostal brasileiro e seu crescimento nas últimas décadas, um fenômeno global deflagrado no Brasil e que aos poucos foi sucumbindo pelas raízes católicas, ora se reinventando e se transformando para ganhar espaço e hegemonia. Apresentamos alguns dados estatísticos de orgãos competentes para mostrar o crescimento do movimento. Em seguida, mostramos as tipologias empregadas para o pentecostalismo brasileiro, passando pelas clássicas e chegando até as mais recentes além de um breve ensaio sobre o futuro do pentecostalismo.

No segundo capítulo procuramos apresentar as raízes da instituição estudada, que passa por quatro grandes igrejas pentecostais. Neste capítulo, mostramos também a localização privilegiada da igreja sede, uma espécie de meca pentecostal, empresas do grupo ligadas à igreja, a organização de um dos maiores eventos pentecostais, organizado pela denominação pesquisada e a sua teologia. Veremos que a igreja é um mix das quatro maiores igrejas pentecostais do país, que é justamente a raiz do seu líder.

No terceiro capítulo, abordaremos uma breve historiografia do líder máximo da instituição, o Apóstolo Agenor Duque. Parte deste capítulo valeu-se de uma entrevista concedida em seu escritório na sede da igreja em São Paulo. A partir desse encontro, realizamos novas pesquisas sobre seu caminho ao apostolado, o encontro com o canadense Benny Hinn,

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sua aparição em programas televisivos seculares, a influência política que exerce, e breves comentários do seu braço direito, a sua esposa Bispa Ingrid Duque. Também foram realizadas pesquisas e entrevistas com algumas pessoas de maneira não nominal a respeito da instituição.

No quarto e último capítulo, abordamos o contexto comunicacional no que tange ao midiatismo pentecostal, passando pelo saudoso rádio que ainda marca e legitima a instituição, posteriormente a inserção pentecostal na televisão, que segundo a Agência Nacional de Cinema (ANCINE) o gênero religioso ocupa 21.1% do total de programação veiculada na televisão aberta brasileira. Partindo desse pressuposto, a TV tem muito para dizer sobre o crescimento dos evangélicos, em especial os neopentecostais. Sabendo muito bem disto, a Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, doravante IAPTD, corrobora tal feito. O texto procura mostrar suas constantes disputas, as quais parecem gerar grandes consequências, lutando publicamente pelo dinheiro para o financiamento desse recurso comunicacional. Outro dispositivo comunicacional que ganha espaço nesta pesquisa são as redes sociais, que a liderança utiliza de forma massiva com chamadas para eventos, projetos e pedidos de recursos financeiros.

(23)

CAPÍTULO I – TIPOLOGIAS DO PENTECOSTALISMO

BRASILEIRO

Neste capítulo, queremos aqui retraçar os contornos históricos do movimento pentecostal brasileiro, não procuramos realçar as reviravoltas e disputas de igrejas que ocorreram ao longo do útlimo século, mas preparo aqui um caminho para um enfoque mais construtivo. Pretendo aqui determinar os principais contornos de teorias tipológicas propostas por alguns eruditos das ciências sociais que olharam atentamente para o pentecostalismo, numa história que, de qualquer modo, não está terminada.

O movimento pentecostal no mundo é um grande fenômeno de diversas áreas de ensino que procuram entender o motivo do crescimento. Pesquisas apontam 600 milhões de adeptos no movimento no mundo. No brasil trata-se da maior comunidade pentecostal do planeta, isso significa dizer que é praticamente uma a cada sete pessoas no país. No Brasil foi o que mais cresceu nas últimas décadas, provocando enorme incômodo aos católicos e protestantes tradicionais.

O pentecostalismo foi um movimento que começou debaixo com intensas disputas ao longo de décadas, avançou em lutas para o seu espaço no urbano e industrial. Um movimento que se recusou ser a religião dos pobres, oprimidos e alienados. Apesar disso, não se pode eliminar a pobreza como um tema central para entendimento do movimento e tal antinomia “riqueza-pobreza” ainda responde grande parte das análises da pentecostalidade. (CAMPOS, 1997, p.36).

O CRESCIMENTO DO PENTECOSTALISMO

Não há dúvidas de que o pentecostalismo trabalha com o empreendedorismo, participação, adaptabilidade e entusiasmo de toda a igreja com os seus estilhaços e cismas que ocorreram dia após dia. O movimento foi o que mais cresceu nas últimas décadas, tendo se adaptado por ninharias à cultura secularizada a cada nova igreja, demonstrando ser uma metamorfose constante. Mendonça (2002) afirma que o pentecostalismo tem uma característica muito forte, um movimento que rompeu com o campo protestante tradicional, e iniciou luta contra o catolicismo romano com o objetivo de ocupar espaços e ganhar hegemonia.

O impacto do pentecostalismo foi um movimento de grande expressão no Brasil. Mendonça (2002) destaca pelo menos quatros pontos do pentecostalismo que sucumbiram com o catolocismo romano: 1 - O pentecostalismo aproveitou-se do êxodo rural, procurando assim populações urbanas compostas por funcionários e prestadores de serviços; 2 - Procurou leigos

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(fiéis) que eram descomprometidos com o sistema da Igreja Católica Romana7; 3 - Com a finalidade de ofertar algo mais simples, com produtos religiosos com menor complexidade de aquisição, cultos não sacramentais; 4 - Estruturou mensagens religiosas em torno de ideias messiânicas e milenaristas. Em suma, o movimento soube aproveitar o vácuo deixado, ajustou as expectativas não satisfeitas daquela camada social.

O movimento pentecostal utilizou-se dos meios de comunicação para a sua eficácia proselistista. O uso dessa ferramenta não foi um desafio para o movimento pentecostal, mas a solução. A midiatização foi considerada uma forma de ampliar a voz da igreja com o intuito de obter mais fiéis, bem como propagar a eficácia de milagres e prodígios que somente aquela instituição é capaz de oferecer. A utilização do rádio na década de 1960 foi o grande propulsor do movimento. Mais tarde, o neopentecostalismo acompanhou o desenvolvimento tecnológico juntamente com a ascensão social, política e econômica do país.

Inicialmente, os neopentecostais começaram comprando horários nas emissoras de televisão, os quais naquela época eram considerados “horas mortas”. Campos (2008) ainda acrescenta que nesse cenário, os pentecostais brasileiros começaram a se fazer frequentes na televisão e isso ajudou a projetar o movimento, deixando-o em destaque até os dias atuais.

Talvez o motivo de tanta complexidade em entender o pentecostalismo brasileiro seja sua pluralidade, que é uma característica cultural do Brasil. Para Freston (1993, p. 35) “não só cresce rapidamente, mas se fragmenta cada vez mais em centenas de grupos autônomos ou ‘denominações’. Ele acrescenta que “Se no mundo católico todos os caminhos levam a Roma, no mundo protestante, muitos terminam onde começam: em algum morro carioca ou subúrbio paulistano”.

Seguindo o que fora dito por Bitun (2007), o pentecostalismo é um movimento de “rompimentos e continuidades”, ou seja, desde a sua chegada, o pentecostalismo vem em sua

7 Ainda que de forma sucinta, é preciso abordar o decréscimo da grande instituição Católica. Faustino

Teixeira (2012) relata que a cada Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística), a Igreja Católica Romana perde fiéis para novos movimentos, perdendo assim seu caráter definidor hegemônico de identidade no campo religioso brasileiro. Seguindo na mesma direção, Renata de Castro Menezes (2012) também aponta para a baixa do catolicismo.

A Igreja Católica Romana seguiu por muitos anos como filha única que não disputa nenhuma concorrência com nenhum irmão, chegando a ser profunda e coesa na sociedade brasileira. Movimentos afro-brasileiros não apresentavam riscos à Igreja Católica Romana. Podemos arriscar que essas religiões ainda não apresentam riscos ao catolicismo, embora por vezes, elas se pluralizam com o catolicismo e vice-versa.

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alomorfia constante com novas igrejas, buscando ascensão e espaço, pois a cada líder de uma instituição (ou se preferir podemos utilizar os conceitos propostos por Weber e também por Bourdieu de “sacerdote”), surge uma nova instituição com características que ora se assemelha às anteriores, ora se reinventa. Assim, o pentecostalismo quebra paradigmas a todo momento.

Numa perspectiva semelhante, Mendonça (2008, p. 129) afirma que a religião “é uma cultura, ao penetrar em outra, tem de fazer concessões; caso contrário, a nova cultura poderá formar bolsões culturais”, ou seja, começa a haver um ajustamento de várias religiões entre si em relação à cultura.

A tabela abaixo nos permite observar o crescimento do pentecostalismo brasileiro que cresceu nos últimos anos, embora nas primeiras décadas. Utilizaremos como referencial o Censo dos anos 1980 e 1991:

Tabela 1- Comparativo da pesquisa do Censo 1980 e 1991

Descrição Num. Absolutos Censo de 19808 Num. absolutos Censo de 1991 Crescimento % de

Total – Evangélicos (Protestantes) 7.885.846 13.189.282 67%

Tradicionais 4.022.343 4.388.310 9%

Pentecostais 3.863.503 8.179.666 112%

Não determinada 621.306

Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 1980 e 1991. Observa-se que dentre os grupos protestantes, o que mais cresceu foi o de pentecostais, atingindo o dobro de membros comparando com o censo de 1980 e 1991. Na década de 1910, logo após o Censo do IBGE em 1991, o crescimento dos pentecostais chamou a atenção de várias pesquisas para entender o fenômeno:

Pesquisadores do ISER (Instituto de Estudos da Religião), em recente estudo, indicam que na área metropolitana do Rio de Janeiro foram fundadas 710 igrejas entre 1990 e 1992, ou seja, cinco igrejas por semana, uma por dia útil, dentre elas a maioria de linha pentecostal. (BITUN, 2007, p. 18).

Na década posterior, no Censo de 2000 o crescimento foi ainda maior, e segundo a pesquisa, 48% da população evangélica eram de origem pentecostal. Pode-se destacar do Censo 2000 para o Censo 2010, que a AD foi o grupo pentecostal que mais cresceu em números absolutos: de 8,4 milhões para 12,3 milhões. Fajardo (2015, p. 94) destacou algumas quedas, como a Igreja Congregação Cristã no Brasil, doravante CCB, e a IURD, “que perderam, cada um com cerca de 200 mil membros” em seguintes números absolutos “a Igreja Congregação

8 Como bem destacou Ricardo Bitun (2007, p. 17) o Censo de 1980 foi o primeiro a separar

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Cristã no Brasil passou de 2,4 para 2,2 milhões de membros, enquanto a IURD passou de 2,1 milhões para 1,8 milhões”.

Outro destaque no Censo de 2010 foi “outras igrejas evangélicas de origem pentecostal", que passou de 1,8 para incríveis 5,2 milhões. Este grupo definido pelo Censo acolhe dezenas de instituições pentecostais recentes, como a IMPD e a IAPTD que ainda não são opções do Censo, mas que urgem entre as grandes instituições.

O gráfico a seguir objetiva exemplificar o tamanho do crescimento dos pentecostais:

Gráfico 1 - Crescimento dos pentecostais.

Elaborado pelo autor – Fonte: Censo 1980; 1991; 2000 e 2010

TIPOLOGIAS DO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO

Esta seção apoia-se nos erúditos que se debruçaram sobre esse assunto para denominar o pentecostalismo brasileiro, uma tarefa com o objetivo de esclarecer aspectos sociais e teológicos das igrejas ligada ao movimento pentecostal e para que isso ocorra, veremos os importantes tipologias empregadas nesse campo religioso brasileiro. Isso porque o pentecostalismo não é todo uniforme, mas possui diversas ramificações e aspirações.

É possível observar que a tarefa de conceituação se torna complicada a partir da década de 1950 com o surgimento de novas igrejas, conforme veremos a seguir. Para Bitun (2014), são várias as classificações e tudo depende do critério daquele que está observando o objeto.

7.885.846 13.189.282 26.184.941 42.275.440 3.863.503 8.179.666 17.617.307 25.370.484 0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000 35.000.000 40.000.000 45.000.000 1980 1991 2000 2010

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As tipologias mais empregadas são as que classificam o pentecostalismo na sua chegada pelos emissários ao Brasil, como os trabalhos realizados pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação - CEDI, (1991), Brandão (1996), Mendonça (1989), Freston (1993) e Mariano (1995). Utilizaremos o quadro a seguir para exemplificar as tipologias proposta por alguns estudiosos sobre o tema em questão até o ano de 1991:

Tabela 2 - Tipologia Pentecostal empregada até 1991

CEDI (1991) Mendonça (1989) Brandão (1980)

Pentecostalismo clássico Pentecostalismo clássico Igrejas de Mediação Pentecostalismo autônomo Cura Divina Pequenas Seitas

Fonte: Freston (1993, p. 39).

Em 1993, Paul Freston propôs outro critério em sua tese de doutorado. Para o autor, o aguiamento adotado até aquele período tinha algumas limitações, embora sua proposta não fosse criar uma nova tipologia. Ainda segundo o autor, o Brasil era muito dividido, com diversas segmentações. (FRESTON, 1993, p. 39). Na nova tipologia que abordaremos a seguir, o autor considera cortes histórico-institucionais que trazem à tona as atualizações culturais do protestantismo popular na sociedade brasileira. Os critérios utilizados por ele são:

i) Os tipos ideais de igreja-denominação-seita, ii) modo de transplante para o Brasil: iii) a antiguidade no contexto brasileiro; iv) critérios teológicos como o posicionamento frente aos "dons do Espírito Santo"; v) uma árvore genealógica de "famílias eclesiásticas"; vi) origem social dos fiéis; e vii) raio (local, regional ou nacional) de ação. (FRESTON, 1993, p. 40).

Para Bitun (2014, p.58), a divisão proposta por Freston ajuda a detalhar um pouco mais o campo pentecostal e facilita a visualização de uma evolução sociológica e teológica do movimento no Brasil. Mariano (2014) afirma que o grande segredo nessa divisão estava nas igrejas fundadas a partir dos anos 1950 em dois blocos, anteriormente juntas num mesmo grupo. A seguir, o autor apresenta a divisão das três ondas:

O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido com a história de três ondas de implantação de igrejas. A Primeira onda é a década de 1910, com a chegada da Congregação Cristã (1910) e da Assembleia de Deus (1911) (...). A segunda onda pentecostal é dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade e três grandes grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: a Quadrangular (1951), Brasil Para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). O contexto dessa pulverização é paulista. A terceira onda começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80. Suas principais representantes são a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) (...) O contexto é fundamentalmente carioca. (FRESTON, 1993, p. 63).

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Tabela 3 - Tipologia proposta por Paul Freston.

Primeira Onda Segunda Onda Terceira Onda

1910 – 1950 1950-1960 Final dos anos 1970

Igreja Congregação Cristã no Brasil (1910)

Igreja do Evagelho Quadrangular (1951)

Igreja Universal do Reino de Deus (1977)

Igreja Evangélica

Assembleia de Deus (1911) Igreja O Brasil para Cristo (1955)

Igreja Internacional da Graça de Deus (1980)

Igreja Pentecostal Deus é Amor

(1963) Demais...

Outras Menores

Elaborado pelo autor – Fonte: FRESTON, 1993.

A Igreja CCB faz parte das igrejas pioneiras, sendo a primeira a chegar no Brasil. Seu fundador foi um italiano de origem católica que foi marcado por uma experiência e se converteu ao protestantismo quando ainda jovem. Chegou na América do Sul em 1909 e no Brasil em 1910. Um ano após a Igreja AD, foi a segunda igreja pentecostal a ser instalada no Brasil pelos missionários Daniel Berg e Guunar Vingren, ambos de igrejas batistas americanas e com experiências pessoais. (BITUN, 2014).

Mariano (2014, p. 28-29) afirma que as duas instituições eram caracterizadas por um “ferrenho anticatolicismo”, justamente por “enfatizar o dom de línguas (xenolalia, glossolalia9), a crença na volta iminente de Cristo e na salvação paradisíaca e pelo comportamento de radical sectarismo e ascetismo de rejeição do mundo exterior”.

A segunda onda teve início nos anos 1950, com a cruzada americana da Igreja do Evangelho Quadrangular (São Paulo, 1953). A mensagem estava centrada na cura divina e o proselitismo utilizado pela instituição era via rádio10. Em seguida, surgiram novas igrejas, como O Brasil Para Cristo (São Paulo, 1955), Igreja Pentecostal Deus é Amor, doravante IPDA (São Paulo, 1962), Igreja Casa da Benção (Belo Horizonte, 1964), dentre outras com menor expressão. (MARIANO, 2014, p. 30-31).

9 A Glossolalia é o ato de falar em línguas desconhecidas e inexistentes. Tratam-se de sons que não

encontram qualquer referência em outro idioma. Nos círculos pentecostais, a glossolalia também pode ser chamada de “língua dos anjos”, expressão que aparece no livro de I Coríntios. Por sua vez, a Xenolalia diz respeito ao falar em idiomas existentes, mas desconhecidos para quem fala (ALMEIDA e SOUZA, 2013 Apud FAJARDO, 2015, p. 46).

10 Mariano (2014) destaca que naquele período, o rádio foi considerado pela Igreja Assembleia e pela

Igreja Congregação Cristã um veículo de comunicação mundano, condenando os seus fiéis caso ouvissem.

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As duas ondas não possuem grandes diferenças teológicas. Sabe-se que a Igreja CCB possui uma crença predestinacionista de origem teológica calvinista11. As demais possuem um

viés teológico arminiano12. É possível observar também que após 40 anos do início da primeira

onda, com a segunda onda, o uso de comunicação em massa como o rádio, cultos ao ar livres, como em praças, estádios e apresentações em cinemas foi determinante para o seu crescimento. É diante desse horizonte que se descortina a tipologia “terceira onda”, empregada por Freston (1993), e cunhada por Mendonça (1993) e Mariano (199513) com outro termo: “neopentecostalismo”, pois, enquanto o CEDI continuava com a tipologia “pentecostalismo autônomo” para igrejas iniciadas a partir da década de 1950, Mendonça adotou o prefixo “neo”. O termo é utilizado por Mendonça (1992), Oro (1992, 1996), Azevedo Junior (1994), Mariano (1995) e Campos (1996), sendo aceito até mesmo pela própria IURD.

Outro grande contribuidor é Paulo D. Siepierski (1997, p.49-51) que cooperou para uma nova tipologia para o pentecostalismo brasileiro. Interessou-se em discorrer a respeito da terceira onda, substituindo o termo neopentecostalismo e utilizando o termo pós-pentecostalismo. Para ele, significava dizer um afastamento do pentecostalismo tendo como “cerne a teologia da prosperidade e o conceito de guerra espiritual. Os traços característicos incluem uma mistura deliberada de religiosidade popular”.

Siepierski afirma que a grande progenitora do pós-pentecostalismo é a IURD e que em 1997 já “tinha um fluxo de caixa estimado em 1 bilhão de reais”. De acordo com o autor, a centralidade da teologia da prosperidade e a ênfase na guerra espiritual constituem o caráter definidor do distanciamento do pentecostalismo. Siepierski (1997, p. 52) concordou com o que Thomas Fodor, que era reitor do seminário teólogico pentecostal do Nordeste, afirmou ao dizer

11 O termo Calvinista refere-se a um movimento religioso protestante quanto um sistema teológico

bíblico com raízes na Reforma iniciada por João Calvino em Genebra no século XVI, o calvinismo pressupõe que o poder de Deus tem um alcance total de atividade e resulta da convicção de que Deus trabalha em todos os domínios da existência, incluindo o espiritual, físico, intelectual, quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou na terra. De acordo com este ponto de vista, qualquer ocorrência é o resultado do plano de Deus, que é o criador, preservador, e governador de todas as coisas, sem exceção, e que é a causa última de tudo (KUYPER, Abbraham. Calvinismo. Editora Cultura Cristã, 2002).

12 O Arminianismo é uma escola de pensamento soteriológico (doutrina da salvação), baseada sobre

ideias do holandês Jacobus Arminius (1560 - 1609) e seus seguidores históricos. O ponto crucial do arminianismo Remonstrantes reside na afirmação de que a dignidade humana requer a liberdade perfeita do arbítrio. GONZALEZ, Justo L. The Story of Christianity, Vol. Two: The Reformation to the Present

Day (New York: Harpercollins Publishers, 1985)

13 Ricardo Mariano defendeu sua dissertação em 1995, em 1999 publicou a edição do seu livro:

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que a IURD possui “alguns princípios pentecostais, mas acrescentaram ao seu credo várias práticas e doutrinas (...) e que não têm base bíblica”.

A tabela abaixo objetiva mostrar o modelo até então proposto por Brandão, Mendonça e o CEDI, acrescentando a contribuição de Freston, que trabalha a teoria das ondas e Siepierski com o pós-pentecostalismo.

Tabela 4 - Breve tabela das tipologias abordadas neste trabalho.

Período Igrejas Brandão (1980) Mendonça (1989) CEDI (1991) Mendonça (1992) Mariano (1996) Freston (1993) Siepierski (1997)

1910 Congregação Cristã Igrejas de

Mediação Pentecostalismo Clássico

Pentecostalismo Clássico 1ª Onda 1911 Assembleia de Deus 1951 Quadrangular Pequenas

Seitas Cura Divina

Pentecostalismo

Autônomo Neopentecostalismo 2ª Onda 1955 Brasil para Cristo

1963 Deus é Amor 196X Outras Menores 1970 Igreja Universal 3ª Onda Pentecostalismo Pós-1980 Internacional da Graça Em diante Demais...

Elaborado pelo autor - Fontes: Bitun (2007); Freston (1993) e Siepierski (1997). O objetivo desta seção foi apresentar as tipologias empregadas para o pentecostalismo brasileiro ao longo dos anos por pesquisadores do tema. No entanto, para além disso, de acordo com Freston, o objetivo principal das tipologias é esclarecer as igrejas dentro do movimento pentecostal que não é uniforme e continua a crescer.

UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE O FUTURO DA PENTECOSTALIDADE

Não é possível prever quais serão os próximos passos do movimento evangélico, em especial, do pentecostalismo no Brasil. Não há dúvida de que os últimos censos mostraram um crescimento acelerado. Existem estudos paralelos de entidades que apontam para estagnação e outros que sinalizam dados estastísticos do crescimento de evangélicos no Brasil. Por exemplo, o estudo realizado pela SEPAL14, que concluiu que mais da metade da população do país será evangélica até 2020.

14 Sepal – Servindo aos Pastores e Líderes realizou uma pesquisa no ano de 2011, com base nos dados

do IBGE e DataFolha. Disponível em: <http://sepal.org.br/blog-sepal/noticias/pesquisa-confirma-tendencia-de-crescimento-dos-evangelicos-no-brasil/> Acesso em 29 de maio de 2017. Ainda sobre esse tema, em 2010, a revista Época divulgou dados de estudos sobre o crescimento evangélico. Os entrevistados incluíram teólogos e antropólogos, que concordaram unanimemente que os evangélicos estavam influenciando cada vez mais todas as esferas da vida brasileira. A pesquisa divulgada pela Sepal em no jornal Christian Post Correspondent em 20 de fevereiro de 2011 também veiculou a pesquisa

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Freston (2016) acredita que o pentecostalismo é prisioneiro do mercado religioso assim como todos os outros são socialmente “produzidos e mutáveis”. Ele acredita que, no Brasil, a demanda por alguns dos produtos (aspectos sociológicos) do pentecostalismo está diminuindo, isso porque essas necessidades estão sendo encontradas de outras maneiras, melhora na economia, saúde, educação. Soma-se a isso também o secularismo, em que os milagres do pentecostalismo são colocados cada vez mais em dúvida. Além disso, podemos acrescentar estudos a respeito da nova classe média que relevam que há uma menor tolerância à corrupção na vida pública, o que por consequência pode refletir-se em menor tolerância à corrupção na vida da igreja.

Freston (2013) acredita que os evangélicos e nesse caso, inclui-se os pentecostais, não serão de maioria evangélica. Para o autor, “há sinais de que o pentecostalismo está encontrando dificuldades em fazer uma transição para uma nova identidade na sociedade brasileira”. Ele destaca algumas dificuldades de crescimento dos pentecostais, como por exemplo:

A chegada iminente da estabilização numérica; a entrada no seu segundo século de história (já não é um movimento novo, já carrega um certo peso histórico); e as mudanças sociais e educacionais no perfil dos seus membros, junto com a ascensão econômica do país como um todo. Algumas de suas feridas (os escândalos, a liderança autoritária e o pífio desempenho político que afetam negativamente a sua imagem pública) são auto-infringidas e talvez haja tempo ainda de curá-las. Mas outros problemas talvez sejam decorrentes de limitações mais profundas e inerentes, que levem a longo prazo ou a um declínio, ou a uma mutação pessoal ou institucional para algo que não seja mais o pentecostalismo. (FRESTON, 2013, p. 3-4).

Em tempo, gostaríamos de elucidar que os apontamentos até aqui apresentados nada mais são do que uma tentativa de pensar sobre o futuro do pentecostalismo no Brasil. Os estudos apontados pela SEPAL e por Freston são antagônicos, porém o último apresenta uma reflexão mais profunda e reflexiva, não sendo utilizadas apenas previsões com base em estastísticas do passado para projetar o futuro.

<http://www.christianpost.com/news/half-of-brazils-population-to-be-evangelical-christian-by-2020-49071/> Acesso em 29 de maio de 2017.

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CAPÍTULO II – A HIPÉRBOLE DO

NEOPENTECOSTALISMO BRASILEIRO

A palavra hipérbole é uma figura de linguagem que expressa o engrandecimento de uma ideia, que tem por objetivo ser intencional. Logo, a proposição do tema desta dissertação pretende expressar essa percepção de engrandecimento, que permeia as perspectivas da IAPTD, e que irá se destacar em diversos aspectos, tais como a localização da sua sede nacional, os arrendamentos de concessões de rádios e emissoras de televisão para a sua programação exclusiva, o grande apelo e apoio de parlamentares e lideranças políticas, a capacidade de travar acirradas disputas entre grandes instituições.

A figura de linguagem hipérbole foi utilizada como título deste trabalho como metáfora, para expressar a grandeza, mas ao mesmo tempo para dizer que é uma instituição com tamanhos modestos quando comparada a grandes igrejas (neo) pentecostais que veremos no desenrolar desta pesquisa. A entrada da igreja nos meios de comunicação de massa pode passar a percepção que a igreja tem grandes proporções e pode dar a falsa sensação de comparar com as gigantes instituições do pentecostalismo brasileiro. De fato, o radio e a televisão tem o poder de destacar a figura carismática. Fonseca (2003) destacou uma entrevista do pastor assembleiano Silas Malafaia a respeito do poder da televisão.

A televisão tem um poder de velocidade. Por exemplo, o Takayama [famoso pregador da AD] para ser conhecido no Brasil, esse país grandão, como pregador demorou quinze anos. Os dez, quinze anos que ele levou, eu fiz a mesma coisa em dois anos. Por quê? Porque o Takayama tem o poder de levar você aonde você nem imagina...Você fica conhecido pessoalmente. (Entrevista 12/04/1997 – FONSECA 2003, p. 118).

Quando confrontada com as grandes instituições com décadas à frente e com um capital simbólico muito maior, é possível observar que a instituição estudada possui tamanho modestos. Busca a consolidação e o crescimento, para. Isso busca e tenta quebrar algumas barreiras e paradigmas. Como frase de expressão, a igreja não procura “inventar a roda”, mas sim, aplicar as mesmas ferramentas já utilizadas por outros líderes, bem como as mesmas técnicas de outras denominações, como por exemplo, o carisma (sentido sociológico) e a participação do líder para continuar competindo com as grandes igrejas dentro do mercado religioso.

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É justamente a presença dos líderes da igreja nos meios comunicacionais que causa o exagero, ou se preferir o recurso estilístico hipérbole. É por meio do rádio e televisão (veremos mais no capítulo 3) que a IAPTD se agiganta e paragona com as denominações evangélicas. A expressão e título da dissertação “hipérbole do neopentecostalismo” não deve ser entendida como um “exagero do neopentecostalismo” nos ritos e práticas, mas sim, a ideia de que é uma igreja inserida no bojo neopentecostal que carrega a mensagem de ser tão grande, mas que ainda não é. Também não podemos cometer o equivoco de que uma igreja pequena, percorreremos melhor neste capítulo a respeito da instituição.

IGREJA APOSTÓLICA PLENITUDE DO TRONO DE DEUS

A instituição foi fundada em setembro de 2006 e nove anos após a inauguração já chamava atenção nas mídias. A revista época em dezembro de 2015 realizou uma reportagem com o seu líder Apóstolo Agenor Duque e sua esposa Bispa Ingrid Duque, destacando o seu crescimento no cenário religioso brasileiro. A revista contabilizou 20 igrejas espalhadas pelos estados de São Paulo, Amazonas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal. Em setembro de 2016, foi realizada uma detalhada pesquisa para esta dissertação, a fim de contabilizar todas as igrejas da IAPTD, uma vez que os endereços da igreja não estão disponíveis de maneira acessível em seu site. Para se obter os endereços, é necessário entrar em contato com uma central de telefone informada pela igreja ou verificar nos programas de televisão nos quais exibem constantemente no rodapé da tela.

Entre a reportagem da revista Época e o início da pesquisa desta dissertação, passaram-se dez mepassaram-ses. Foi contabilizado um crescimento de 500%, passaram-sendo o principal objetivo da igreja o Estado de São Paulo, com 71 igrejas e o restante nos demais estados como Rio Grande do Sul (7), Rio de Janeiro (5), Espírito Santo (4), Amazonas (3), Distrito Federal (3), Minas Gerais (3), Goiás (2), Paraná (1), Mato Grosso (1), somando 100 igrejas, conforme demonstra a tabela a seguir:

Tabela 5 - Distribuição das IAPTD pelos Estados Brasileiros.

Estado Total % SP 71 71% RS 7 7% RJ 5 5% ES 4 4% AM 3 3% DF 3 3%

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MG 3 3%

GO 2 2%

PR 1 1%

MT 1 1%

Total de Igrejas 100 100%

Fonte: Elaborado pelo autor A tabela acima nos permite observar o crescimento colossal da instituição, e, por conseguinte, sua alta concentração no Estado de São Paulo, que representa mais de 70% das igrejas filiais. Outra questão que chama a atenção é a sua ausência na região Nordeste do país. Olhando por esse prisma, tudo indica que o crescimento da IAPTD no Estado de São Paulo se deve a uma estratégia do uso radiofônico massivo da instituição, o que será abordado adiante neste trabalho.

Em sua entrevista, o Apóstolo Agenor Duque informou que a igreja conta agora com 124 igrejas espalhadas pelo Brasil. Comparado com o último número, a igreja cresceu mais 24% em relação ao número de igrejas filiais no país. Além disso, diferente do ano passado, quando a igreja era ausente nos estados nordestinos, agora têm filiais em Salvador-BA e Recife-PE, começando a se mostrar presente no Nordeste.

Em um vídeo no Youtube15 disponibilizado em setembro de 2017, uma pastora da igreja, Cleide Pontes, que inclusive realiza programas de televisão e rádio da IAPTD, informou que a instituição conta com mais de 170 igrejas espalhadas pelo Brasil. Sabe-se que esse número de templos pode variar de forma significativa em pouco espaço de tempo, isso porque as igrejas filiais são geralmente locadas e funcionam por demanda.

É preciso lembrar que em 2016, o Apóstolo Agenor Duque comunicou a internacionalização da instituição e o país escolhido foi o Paraguai, o que foi intensamente comemorado pelo seu líder e constantemente repetido nos programas televisivos da instituição. Ao que parece, foi uma tentativa frustrada da instituição nesse processo de internacionalização, pelo menos naquele ano, pois não existem mais comentários da igreja no Paraguai e nem notícias sobre tal fato.

A globalização de instituições pentecostais é uma característica do movimento brasileiro Igrejas como IPDA, IMPD e IURD são grandes igrejas que se aventuram no mercado religioso internacional. Com bastante amparo bíblico para a expansão do “reino de Deus”, tais igrejas

15 Ver mais em: <https://www.youtube.com/watch?v=MV1nSjsO_0I> Acesso em 24 de março de

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utilizam-se do conceito de evangelismo internacional para projetarem suas igrejas sedes no Brasil, ganhando cada vez mais a legitimação da comunidade local.

“O CORREDOR DA FÉ”

A igreja que realmente chama a atenção nas imediações é sem dúvida alguma, o Templo de Salomão da IURD, que é considerado o maior espaço religioso do Brasil. Uma obra gigantesca com medidas e arte que chamam atenção e tem repercussão mundial, sendo mais um cartão postal da cidade de São Paulo. Por esse ângulo, é possível ver uma grande ironia da história, ou seja, o grande templo de Salomão de origem judaica, era orgulho máximo do povo judeu, foi destruído e saqueado pelos babilônicos e o Rei Nabucodonosor em 586 anos antes de Cristo (a.C.), mas que agora foi reconstruido não pelos judeus, não pelos católicos, não em Jerusálem, Israel ou Nova York nos Estados Unidos, mas inaugurado em 2014 (d.C.), pelos neopentecostais em uma cidade que foi homenageada pelo nome do Apóstolo São Paulo, um romano com identidade judaica que abandonou a militância judaica.

No trabalho apresentado por Silva (2014, p. 14), foi cunhada a expressão “Corredor da Fé” e foram contabilizadas 25 igrejas no eixo Rangel Pestana-Celso Garcia sem contar igrejas localizadas no bairro Brás. A procura por igrejas evangélicas no local é cada vez maior devido ao grande de fluxo de pessoas na região16. Todo o percurso das avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia compreendem uma extensão de aproximadamente 8 km. Segundo Silva (2014, p. 100), há muito tempo, a região tem uma grande visibilidade religiosa e desde o Brasil Colônia, esse corredor serviu de romarias entre duas igrejas católicas romanas. Ademais, são vários os fatores ao longo dos últimos anos que contribuíram para formação do “corredor da fé” como por exemplo malha metroviária e ferroviária bem organizada para suprir a necessidade de locomoção dos fiéis que moram nos subúrbios da Cidade de São Paulo.

É preciso ressaltar que a pesquisa em questão foi realizada em 2014, por isso os números podem conter variações tanto para mais quanto para menos. A partir do quadro a seguir, é possível dimensionar o tamanho dos pentecostais naquela região.

Tabela 6 - Quantidade de Igrejas na região do Brás/SP.

Denominações Religiosas Templos ou salões

Igreja Católica 5

Igreja Protestante Histórica 3

16

(36)

Igreja Evangélica Pentecostal 40

Espírita 4

Islâmica 1

Judaica 1

Afro-brasileira 1

Elaborado por Silva (2014, p. 49). Mas é ali, no quarteirão ao lado do Templo de Salomão da IURD, do Bispo Edir Macedo, que a IAPTD tem sua sede nacional na Av. Celso Garcia, 899, Brás – SP, sendo que Silva (2014, p. 97) reproduziu o Slogan17 do Apóstolo Agenor Duque que era dito na emissora de rádio: “Vem pra cá São Paulo, vem pra cá Brasil, o milagre tá aqui no Brás, na Av. Celso Garcia, 899”. E como se pode observar, a região é disputada por igrejas evangélicas de todo o Brasil. A avenida é sem dúvida, uma meca18. Estar bem posicionado pode significar grandes batalhas com outras instituições, mas também pode colocar a igreja em evidência, e não é à toa que atualmente a instituição tem sido referenciada como uma das maiores igrejas emergentes da região.

Na entrevista o Apóstolo Agenor Duque informou que adquiriu o prédio (não mencionou o período da compra) da Avenida Celso Garcia, 899, endereço que pertencia há alguns anos atrás à IMPD. O que era a igreja de Valdemiro Santiago tornou-se somente o estacionamento e escritório comercial, juntamente com os estúdios de rádio e televisão de Agenor Duque. O templo, ou ‘nave da igreja’, que fica na rua ao lado e tem acesso pela avenida principal, ainda é alugado, com capacidade para 5.90019 pessoas.

É ali, na Av. Celso Garcia que existe um enorme livro com folhas em branco em que qualquer pessoa que estiver passando no assim chamado “corredor da fé”, poderá escrever o seu nome para a oração que será realizada pelos pastores da IAPTD. Escrever o nome não compromete a pessoa a entrar para assistir o culto. Assim, essa é uma maneira cativante e discreta de chamar pessoas para participar dos cultos.

17 Segundo Silva (2014, p. 97) este era o Slogan proferido pelo Apóstolo Agenor Duque veiculado no

programa de rádio que era reproduzido todos os dias à noite na Emissora - FM 105,7, das 22h00 às 00h00.

18 Meca é uma cidade da Arábia Saudita considerada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos.

Situada na província homônima, é considerada a cidade mais sagrada para a religião islâmica, mas aqui, o termo foi utilizado em outro sentido. No dicionário Michaelis, o significado é: “Centro de atividades ou local de convergência de interesses ou atenções por parte de um grupo de pessoas que têm motivos específicos ou comuns”.

Referências

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