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Uma reflexão sobre a música na educação infantil

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Academic year: 2021

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INTERLÚDIO - ANO 3, N. 4- 2015 74

Uma reflexão sobre a música na educação infantil

Maria Angélica Calderano angelicafone@gmail.com Resumo: O presente artigo visa realizar uma reflexão sobre a música na Educação Infantil

através de uma revisão bibliográfica. Busca-se entender como ela se insere na educação básica, qual o perfil do educador musical, como é realizada a escolha do repertório e as práticas mais comuns neste ambiente. Pode-se observar que a música é capaz promover o desenvolvimento infantil, estando alicerçada no apoio dos pais, familiares e da escola, sobre a direção de um profissional capacitado, com uma abordagem musical consciente e efetiva para as crianças.

Palavras-chave: Educação infantil. Música. Educador Musical.

Introdução

A utilização da música como recurso ao desenvolvimento infantil já vem sendo abordada há algum tempo quando pesquisadores começaram a apontar seus benefícios no que se refere à melhoria do bem-estar físico, emocional, mental e social de cada indivíduo.

Desta forma, ter um educador musical nas escolas de educação infantil, incentivando esta prática de forma séria e consciente pode ser um grande diferencial para o desenvolvimento geral e musical das crianças.

Objetivos

Este artigo busca fazer uma revisão da literatura sobre como a música se insere na educação básica, em especial na educação infantil.

Será analisado como a música se enquadra no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil no Brasil (RCNEI), como pode ser feita a escolha do repertório, a utilização da voz, dentre outros aspectos destacados por Maura Penna, Teca Alencar de Brito e Adriana Didier.

Metodologia

A elaboração deste artigo foi embasada por meio de uma revisão bibliográfica realizada através de pesquisas em revistas científicas, livros e consultas à internet, atrelada a comentários referentes à experiência da autora.

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Discussão

Para iniciar a discussão sobre a música na perspectiva da educação básica focando a educação infantil, o documento de Música do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), valorizando a presença dos brinquedos musicais no cotidiano das crianças, afirma que:

Em todas as culturas as crianças brincam com música. Jogos e brinquedos musicais são transmitidos por tradição oral, persistindo nas sociedades urbanas, nas quais a força da cultura de massa é muito intensa, pois são fontes de vivências e desenvolvimento expressivo e musical. Envolvendo o gesto, o movimento, o canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e brincadeiras são legítimas expressões da infância. Brincar de roda, ciranda, pular corda, amarelinha, etc, são maneiras de estabelecer contato consigo próprio e com o outro, de sentir único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar com as estruturas e formas musicais que se apresentam em cada canção e em cada brinquedo. Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as advinhas; os contos; os romances, etc. (RCNEI, vol. 3, 1998, p.71 apud BRITO, 2003, p.96).

No dia a dia da educação infantil brasileira, a música vem atendendo a propósitos diversos, segundo concepções pedagógicas presentes no nosso país ao longo do tempo. Ainda há fortes resquícios de uma visão de ensino de música como suporte para a aquisição de conhecimentos gerais, para a formação de hábitos e atitudes, disciplina, condicionamento da rotina, comemoração de datas diversas, etc.

Os cantos, em muitas escolas, quase sempre são acompanhados de gestos e movimentos repetitivos, mecânicos e estereotipados. Nesse contexto, a música é “[...] apenas um meio para atingir objetivos considerados adequados à instrução e a formação infantis” (BRITO, 2003, p.51).

É preciso quebrar esses paradigmas e entender que a capacidade da criança em se apropriar da diversidade do conteúdo musical é muito grande. Assim, Penna (2012) afirma que a musicalização infantil não pode ser entendida apenas como um procedimento da pedagogia musical ou uma etapa preparatória para um estudo de música mais amplo e aprofundado (como o estudo da teoria musical e/ou de um instrumento). É uma atitude que vai além.

A proposta de musicalização, a partir da realidade musical vivenciada pelo aluno é inseparável de sua abordagem crítica, direcionada para a compreensão de suas riquezas e limites, passo necessário para se criar o desejo e a possibilidade real de expandir o próprio

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INTERLÚDIO - ANO 3, N. 4- 2015 76 universo da vida. Para que o aluno possa sair do gueto musical em que vive, é preciso construir pontes sobre o fosso que o cerca, levando-o o mais longe possível. (PENNA, 2012, p. 46).

Desta forma, o processo musicalizador é uma porta que se abre na vivência artística/musical de cada aluno. Por isso, é necessário que esta introdução à música seja feita da melhor forma possível e de preferência por um profissional qualificado.

Outra perspectiva diante da abordagem musical na educação infantil é a exploração das experiências sensoriais e do diálogo. Estes são fatores primordiais no desenvolvimento da linguagem musical dos alunos.

Em termos simples: só aprendemos fazendo. Estimular a criança a se expressar livremente, apresentando-lhe uma novidade, uma brincadeira, uma música, gravações, debatendo passeios a museus e a concertos didáticos, tudo isso serve para desenvolver a linguagem musical dos alunos (DIDIER; NOGUEIRA; FERNANDES, 2000, p.18).

Neste sentido, Brito (2003, p.53) concorda que “[...] música é linguagem cujo conhecimento se constrói com base em vivências e reflexões orientadas”, de forma que o mais importante é o processo educacional e não simplesmente o produto final. Assim, todos deverão ter o direito de cantar, mesmo que desafinando, e de tocar um instrumento, ainda que não tenham, naturalmente, um senso rítmico fluente e equilibrado.

É sabido que as competências musicais se desenvolvem com a prática regular, sendo orientada em contextos de respeito, valorizando e estimulando cada aluno. Assim, o modelo positivo do professor e de alguma criança que tenha as noções de ritmo e afinação mais aguçadas, poderá incentivar aqueles que ainda não se apropriaram destes quesitos.

Para tal, a musicalização, na maioria dos casos, é destinada às crianças, porque quanto mais cedo essa prática for inserida na vida dos alunos, mais possibilidades eles terão para fazer do conhecimento musical algo natural ao seu desenvolvimento, difundindo assim que a arte não é um privilégio só das elites.

Diante das inúmeras formas de se trabalhar a musicalização infantil, Ermelinda Paz (2013) alerta sobre a importância em se escolher uma metodologia.

A escolha de uma metodologia de ensino é sempre motivo de grande preocupação para o professor, porém, estamos cada vez mais convencidos de que não há um método completo. O método não pode ser uma coisa rígida, mas precisa comportar uma flexibilidade tal que permita a quem faça uso dele, obter o máximo de rendimento com um mínimo de esforço, sem a preocupação de encontrar o definitivo e, acima de tudo, trabalhando com satisfação. A escolha do método, em suma, depende da realidade local e humana. Quanto mais métodos e técnicas dominar o professor, maiores serão suas condições e possibilidades de

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INTERLÚDIO - ANO 3, N. 4- 2015 77 ajudar o aluno a encontrar, musicalmente, o seu caminho. (PAZ, 2013, p.14).

A capacidade de encaminhar cada aluno à sua direção própria de aprendizado dentro da música é característica própria da formação do professor de música. Quando o mesmo se insere em uma faculdade de licenciatura, tem acesso aos principais educadores musicais com seus métodos e planos de aula. Assim, sua bagagem de conhecimento e prática vai aumentando e essa variedade de abordagens pode ser usada em suas aulas.

Diante das possibilidades de didática apresentadas ao ensino da música, Didier, Nogueira e Fernandes (2000, p.41) preconizam que “[...] as atividades musicais devem ser realizadas, sempre que possível, com todos sentados ou em pé em círculo, para que se possam ver e ouvir o que todos estão fazendo”, de maneira que não haja hierarquia e que os alunos se sintam acolhidos e iguais diante daquela aula.

Uma forma prática e funcional do trabalho com a Educação Infantil é feita através do emprego da voz e do canto. Brito (2003) sugere que sejam trabalhados também os sons vocais da seguinte forma:

É possível sonorizar histórias, conto de fadas, livros com imagens e paisagens sonoras diversas e desenhos de animais. Também podemos inventar, junto com as crianças, composições que utilizem diferentes sons vocais, sonorizando vocalmente diferentes formas gráficas, etc. (BRITO, 2003, p.89).

Com a contribuição do lúdico proposto acima, os alunos irão sentir prazer em fazer tais atividades, pois as mesmas fazem parte do seu cotidiano e de certa forma, incentivam a criatividade e a exploração da voz diante do grupo.

O vínculo entre professor e aluno também é algo de suma importância na Educação Infantil. Através de uma relação de trocas e espontaneidade, independente da diferença de idade e de domínios do conhecimento de cada um, esta relação se torna saudável e instigadora de novos interesses, de aprofundamentos e questionamentos.

Desta forma, com as trocas de opiniões diante da escolha do repertório e dos conhecimentos, as aulas passam a apresentar resultados musicais evidentes, e como consequência, as crianças adquirem confiança e competência com os instrumentos, cantam e tocam, ouvindo cuidadosamente, trabalhando junto e valorizando o fazer musical.

Concordando com a importância deste vínculo e do prazer vivenciado nas aulas de música, Didier, Nogueira e Fernandes (2000) afirmam:

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INTERLÚDIO - ANO 3, N. 4- 2015 78 amar a música por toda a vida e relacionar-se melhor com o mundo. O prazer compartilhado de um jogo musical coletivo, o risco de se expor, cantar na frente dos outros, usar a criatividade em primeiro lugar, fazer ligações entre a música e as outras atividades são inúmeras aberturas que a música proporciona [...] Deve-se oferecer-lhe música de qualidade para que ela se enriqueça, e como “música de qualidade” estamos aqui referindo à música que mobiliza o emocional e o intelectual da criança, além do natural efeito do movimento corporal resultante (DIDIER; NOGUEIRA; FERNANDES, 2000, p.13-14). Neste sentido, a dinâmica das aulas, as propostas pedagógicas, os jogos musicais, a criatividade e um repertório diversificado e com “música de qualidade” darão os subsídios necessários para que a música contemple o desenvolvimento infantil como um todo e incentive o prazer vinculado a esta arte.

Para o sucesso desse trabalho com a Educação Infantil, Beyer (2003) reforça que:

É fundamental para o aluno ter no professor alguém em que ele possa confiar, que acredita em suas possibilidades, que gosta de seus alunos. Piaget (1978) menciona o afeto como o motor da ação e, portanto, como a chave para a construção do conhecimento. Damásio (1996) aponta, à luz de vários estudos neurológicos realizados por ele e por outros colegas, que o erro de Descartes teria sido exatamente este: considerar apenas a razão como fonte do conhecimento desprezando nossas emoções (BEYER, 2003, p.106-107).

Tamanha é verdade tal citação, que podemos afirmar que aprendemos as coisas quando há afeto envolvido. Afeto não no sentido de beijos e palavras doces, mas no sentido de afetar. Ter como compromisso transformar o outro, desafiando, abrindo caminhos e dando sustentação. Para isso acontecer, este processo se inicia na preparação das aulas e nas escolhas pedagógicas e metodológicas de cada um, assim como em pequenos aspectos como o tom de voz, o carinho e as conversas informais. Assim, se percebe que transformamos o outro e somos transformados nas miudezas que vão além de toda a tecnologia pedagógica atual.

Conclusões

Durante o percurso de formulação deste trabalho, muitas questões e pensamentos foram levantados sobre a importância da música na escola básica principalmente na educação infantil. Porém, é preciso deixar claro que cada educador tem a liberdade em concordar ou não com os apontamentos feitos e buscar aquilo que mais lhe agrada e representa como o correto para se vivenciar em sala de aula, não sendo apresentada aqui uma verdade absoluta inquestionável.

Após esta revisão da bibliografia e dos pontos de vista da autora, pode-se afirmar que a música é capaz de ser uma grande parceira no desenvolvimento infantil, sendo importante que

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INTERLÚDIO - ANO 3, N. 4- 2015 79 os pais, familiares e a escola apoiem tal pensamento de modo que haja uma abordagem musical consciente e efetiva para as crianças.

Para tal, um repertório amplo, com manipulação de instrumentos, uso correto das nomenclaturas musicais, atividades concretas de criatividade e percepção, atitudes de respeito diante dos colegas, etc., quando relacionadas ao envolvimento com um profissional qualificado, fazem desta prática os diferenciais necessários para a certeza do sucesso da música na Educação Infantil.

Referências

BEYER, Esther. Reflexões sobre as práticas musicais na educação infantil. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. (orgs). Ensino de Música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 101-112.

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.

DIDIER, Adriana Rodrigues; NOGUEIRA, Marcos; FERNANDES, José Nunes. O Uso da

Voz. 1. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio, 2000.

PAZ. Ermelinda A. Pedagogia Musical Brasileira no século XX. Metodologias e Tendências. 2. ed. Brasília: Editora MusiMed, 2013.

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