CONTRIBUIÇÕES DO PIBID: SABERES EXPERIENCIAIS E A FORMAÇÃO DOCENTE
Larissa ESSER1, Aline Suelem MORATELLI1, Janaina BACK1, Maira Adriana HILLESHEIM1, Otávio BOCHECO2. 1Bolsista PIBID/CAPES; 2Orientador IFC - Campus Rio do Sul
Introdução
Os acadêmicos do curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Rio do Sul estão inseridos no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), uma parceria da Instituição com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
O IFC aprovou projeto remetido a CAPES por meio do edital nº 61/2013 e propôs nove subprojetos, subjacentes as licenciaturas ofertadas na Instituição.
O subprojeto da Física-Licenciatura do Campus Rio do Sul está implantado em duas escolas da rede pública estadual e uma da rede federal. A unidade de ensino referida neste trabalho é a Escola de Educação Básica Paulo Zimmermann, localizada no centro da cidade.
O programa oportuniza aos acadêmicos compreenderem, in loco, a prática docente sob a supervisão de um professor licenciado, que atua na educação básica, e sob a coordenação de um professor formador que atua em uma Instituição de Ensino Superior (IES).
Sobre a prática docente, Tardif (2012) identifica quatro tipos de saberes: os saberes da formação profissional; os saberes disciplinares; os saberes curriculares e, por fim, os saberes experienciais. Segundo o autor, estes últimos são conhecimentos atualizados, adquiridos e necessários para a prática docente. Não são oriundos das Instituições de formação nem dos currículos, são produzidos pelos docentes por meio da vivência de situações específicas relacionadas ao espaço da escola e às relações estabelecidas com alunos e colegas de profissão.
Um dos focos do PIBID, a iniciação a docência, é integrar os saberes da formação profissional, disciplinares e curriculares, desenvolvidos na formação acadêmica, com os saberes experienciais, instigados através de tarefas supervisionadas e/ou coordenadas por dois profissionais licenciados e com experiência de sala de aula.
Sendo assim, com o intuito de oportunizar aos licenciandos bolsistas a experiência prática de ministrar uma aula de física, criou-se, no contra turno das turmas regulares que os
mesmos acompanham e desenvolvem tarefas, um minicurso de física preparatório para o vestibular.
O principal objetivo do minicurso foi proporcionar aos licenciandos bolsistas o desenvolvimento de saberes experienciais, mediante o planejamento e execução de uma aula de física. Para isso, foram convidados os alunos dos terceiros anos do ensino médio que, segundo o supervisor do projeto, apresentavam alta deficiência quanto a conteúdos de Mecânica.
O curso experiencial ainda encontra-se em andamento e com a intenção de aperfeiçoá-lo solicitou-se uma pesquisa capaz de coletar depoimentos dos licenciandos bolsistas a respeito das suas impressões, aprendizados e sentimentos relacionados à experiência de preparar e ministrar uma aula de física para alunos do ensino médio.
Material e Métodos
A pesquisa desenvolveu-se no final do primeiro semestre de 2015, com os licenciandos bolsistas que ministraram aulas de física no pré-vestibular supracitado.
Procurou-se por um enfoque de pesquisa qualitativa, sendo que, o instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário contemplando três tópicos: 1) os saberes experienciais adquiridos na preparação e aplicação de uma aula de física; 2) as contribuições do PIBID para a formação docente e 3) a importância da integração entre a escola de educação básica e o curso superior de licenciatura.
As informações foram coletadas via e-mail e as respostas foram analisadas e fragmentadas de acordo com os tópicos que buscamos enfoque. Isso nos levou a categorizar os trechos das entrevistas que continham certa semelhança.
Resultados e discussão
Após analisar os depoimentos dos bolsistas, discutimos os seguintes tópicos:
1) Os saberes experienciais adquiridos na preparação e aplicação de uma aula de física;
Esta categoria enfatiza as experiências vivenciadas pelos bolsistas no decorrer do pré-vestibular, neste momento o estudante adquire um conhecimento que virá a nortear sua futura prática docente em sala de aula.
“Cada professor tem que desenvolver o seu jeito para dar uma boa aula, aprender sobre a docência é aprender a conviver com os alunos. O conteúdo necessita ser abordado de forma simples e dentro do contexto do aluno, foi então que percebi que é necessário transformar aquilo que eu estudei em uma linguagem que seja acessível a eles.” (A1)
“Na minha cabeça, inicialmente, tudo o que eu colocasse no papel, enquanto estivesse preparando minha aula eu passaria para os alunos em sala, mas isso não acontece na prática. Por isso é preciso estar preparado, se você chegar lá no improviso, vai passar vergonha.” (A2)
“Além de ser uma ótima oportunidade de estarmos em contato com a realidade do nosso futuro campo de atuação, estamos adquirindo experiências de docência, que nos proporciona subsídios para lidar com diferentes situações de sala de aula quando começarmos a lecionar.” (A3)
Conhecer a docência na prática é conduzir o conteúdo e a sala de aula, aprender a conviver com os alunos, movimentar e gesticular diante dos recursos didáticos, expor o conteúdo de forma simples e estar preparado para as situações que o contexto de uma sala de aula pode proporcionar. Dessa forma, é evidente o aprendizado dos bolsistas com relação aos saberes experienciais desenvolvidos.
2) As contribuições do PIBID para a formação docente;
Os relatos também evidenciam que o programa contribui de forma efetiva na formação docente, aliando conhecimento prático e teórico em prol de propiciar saberes experienciais aos licenciandos que participam do programa.
“Durante a elaboração do material, além de tomar cuidado para passar os conceitos de forma correta, outros cuidados foram tomados como, por exemplo, interação com os alunos, didática, linguagem, postura adequada, escrita, organização, dinâmica da aula e exposição clara do conteúdo. Acredito que os resultados venham sendo positivos pelo fato de sermos os responsáveis pela elaboração das aulas, cada bolsista faz do seu jeito, utilizando sua própria metodologia, sequência e recursos tecnológicos. Isto se tornou relevante pelo fato de que a maioria dos bolsistas não possui experiência docente.” (A4).
“Achei legal assistir as aulas dos meus colegas, aprendi bastante com isso também. Quando assisto à aula do outro, não estou lá para apontar defeitos no trabalho dele, mas para observar e procurar não repetir os mesmos erros, assim como, reproduzir o que deu certo.” (A2).
A importância das contribuições do PIBID para a formação docente pode ser confirmada no que apresenta Tardif:
Nenhum saber é por si mesmo formador. Os mestres não possuem mais saberes-mestres cuja posse venha garantir sua mestria: saber alguma coisa não é mais suficiente, é preciso também saber ensinar. O saber transmitido não possui, em si mesmo, nenhum valor formador; somente a atividade de transmissão lhe confere esse valor. Em outras palavras, os mestres assistem a uma mudança na natureza da sua mestria: ela se desloca dos saberes para os procedimentos de transmissão dos saberes (TARDIF, 2012, p.43).
3) A importância da integração entre a escola de educação básica e o curso superior de licenciatura;
A interação entre educação básica e ensino superior traz a escola para o centro do processo de formação dos licenciandos. Contando com a intervenção de um supervisor e um coordenador, ambos co-formadores de futuros professores, podem ser promovidas trocas e melhorias capazes de retroalimentar os processos tangentes à educação básica e formação docente no ensino superior.
“Este trabalho vem sendo positivo para nossa formação docente, pois proporciona vivenciarmos na prática muito do que estamos aprendendo em sala de aula no ensino superior. Assim como, nos possibilita testar diferentes metodologias de ensino, percebendo as que dão certo e originam resultados positivos, e outras que não funcionam como o esperado.” (A1).
A respeito dos depoimentos dos bolsistas, pode-se perceber a notável diferença entre o que se aprende na teoria e o que se aplica na prática. Deste modo, os saberes construídos na academia vão sendo lapidados ao longo da careira docente até que este (docente) encontre um equilíbrio entre teoria e prática e construa sua própria concepção de ensino.
Conclusão
Ao aproximar a IES da escola de educação básica, ambas se fundem gerando uma visão mais crítica do futuro docente, aliando teoria e prática.
O fato dos bolsistas se mostrarem apreensivos e preocupados na elaboração e aplicação da sua respectiva aula é um fator importante na construção do seu perfil docente, até porque, nem sempre o que o professor quer dizer é o que o aluno de fato entende, do mesmo modo que existem várias formas de ensinar, existem várias formas de aprender.
O PIBID além de proporcionar aos alunos e professores de escolas públicas um suporte, ainda prepara o bolsista para atuar futuramente, subsidiando a ele saberes experienciais. O PIBID é um programa que deve ser estimulado por políticas publicas e ser aderido por mais Instituições de ensino na educação básica e no ensino superior.
Referências
CARDOSO, A. A.; PINO, M. A. B. D.; DORNELES, C. L. Os Saberes Profissionais dos Professores na Perspectiva de Tardif e Gauhier: Contribuições Para o Campo de Pesquisa Sobre os Saberes Docentes no Brasil. In: IX ANPED Sul – Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 2012.
RICARDO, E. C.; FREIRE, J. C. A. A concepção dos alunos sobre a física do ensino médio: um estudo exploratório. In: Revista Brasileira de Ensino de Física, v.29, n. 2, p. 251-266, (2007).
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
