• Nenhum resultado encontrado

A competência da Justiça do Trabalho no julgamento de ações penais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A competência da Justiça do Trabalho no julgamento de ações penais"

Copied!
37
0
0

Texto

(1)

UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

TÁSSIA MORGANA GUIMARÃES PORTOLAN

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO NO JULGAMENTO DE AÇÕES PENAIS

Ijuí (RS) 2013

(2)

TÁSSIA MORGANA GUIMARÃES PORTOLAN

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO NO JULGAMENTO DE AÇÕES PENAIS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Tobias Damião Corrêa

Ijuí (RS) 2013

(3)

Dedico este trabalho à minha família e ao meu noivo, pelo apoio e compreensão.

(4)

“A base da sociedade é a justiça; o

julgamento constitui a ordem da

sociedade: ora o julgamento é a aplicação da justiça.” Aristóteles.

(5)

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso busca uma análise sobre a possibilidade de a Justiça do Trabalho julgar ações de cunho penal. Analisa a história da competência penal, e sua evolução. Aborda as modificações que a Emenda Constitucional 45/2004 trouxe a jurisdição e competência Trabalhista. Analisa e conhece a competência material da Justiça do Trabalho. Estuda a possibilidade do julgamento da ação penal por magistrado trabalhista, e compara a competência penal e trabalhista, avalia a igualdade entre os juízes e suas competências. Verifica o possível julgamento de ação penal pela Justiça do Trabalho, tanto em um âmbito geral, como na área específica. Coloca em questão o julgamento de ações de matéria penal por parte do magistrado trabalhista. E por fim, analisa a Ementa do STF que indeferiu o julgamento de ações penais por parte da Justiça do Trabalho, e propõe a possibilidade contrária dada pelo STF.

Palavras-Chave: Competência Trabalhista. Emenda 45/04 e sua ampliação. Competência no julgamento de ações penais. Possibilidade de julgar ações penais.

(6)

RESUMEN

El presente trabajo de conclusión de curso busca un análisis sobre la posibilidad de la Justicia del Trabajo juzgar acciones de cuño penal. Analiza la historia de la competencia penal y su evolución. Aborda las modificaciones que la Enmienda Constitucional 45/2004 trajo a jurisdicción y competencia del trabajo. Analiza y conoce la competencia material de la Justicia del Trabajo. Estudia la posibilidad del juzgamiento de la acción penal por magistrado del trabajo, y compara la competencia penal y del trabajo, evalúa la igualdad entre los jueces y sus competencias. Verifica el posible juzgamiento de la acción penal por la Justicia del Trabajo, tanto en un ámbito general, como en el área específica. Pon en cuestión el juzgamiento de acciones de materia penal por parte del magistrado del trabajo. Y por fin, analiza la Enmienda del STF que no defiró el juzgamiento de acciones penales por parte de la Justicia del Trabajo, y propone la posibilidad contraria dada por el STF.

Palabras-Claves: Competencia del Trabajo. Enmienda 45/04 y su ampliación. Competencia en el juzgamiento de acciones penales. Posibilidad de juzgar acciones penales.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1 A HISTÓRIA DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO ... 9

1.1 A evolução da competência da Justiça do Trabalho ... 10

1.2 A Emenda 45 e suas implicações na Justiça do Trabalho ... 12

1.3 A competência material da Justiça do Trabalho ... 16

2 A JUSTIÇA DO TRABALHO NO JULGAMENTO DE AÇÕES PENAIS ... 20

2.1 A competência para processar e julgar ações penais ... 23

2.2 Possibilidades da Justiça do Trabalho processar e julgar questões de matéria penal ... 25

2.3 Ação Direta de Inconstitucionalidade 3684-0 do STF ... 27

CONCLUSÃO ... 33

(8)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da Competência da Justiça do Trabalho, a fim de verificar a ampliação da sua competência e se diante de tais mudanças pode julgar ações penais. Essa pesquisa se faz necessária, pois frente à modificação que a Emenda Constitucional 45/2004 trouxe é viável analisar a sua ampliação e se esta tem, ou não, a competência para processar e julgar ações de cunho penal, já que muito foi discutido sobre tal possibilidade.

Para a concretização e realização deste trabalho foram necessárias pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico em sites jurídicos, legislações trabalhistas, penais e constitucionais, para complementar e asseverar a pesquisa permitindo dessa forma, o enriquecimento e aprofundamento do tema abordado.

No primeiro capítulo foi abordado o contexto histórico da competência da Justiça do Trabalho, desde seu surgimento e sua evolução, e como esta se portou frente às novas tendências da Constituição Federal.

Diante do contexto histórico foi analisada a ampliação que a Emenda Constitucional nº 45 de 2004 trouxe à Justiça trabalhista, demonstrando sua nova abrangência. Neste sentido é feita a verificação do que ampliou na competência e quais implicações trouxeram ao magistrado frente ao processamento e julgamento das ações trabalhistas. Posteriormente, seguiu-se uma análise da competência material Trabalhista, delineando a jurisdição e competência da Justiça do Trabalho.

No segundo capítulo, é feita análise da competência da Justiça do Trabalho no julgamento de ações penais, e de que forma pode ser efetuada tal competência e

(9)

se há possibilidade da Justiça do Trabalho executar procedimentos penais. Em seguida, é feita uma comparação entre a Justiça Penal e a Justiça Trabalhista, passando a analisar ambas as competências e conhecimentos para que se comprove a possibilidade da competência da Justiça do Trabalho nas resoluções de ações de cunho penal. Para finalizar o capítulo, é analisada a Ementa do Supremo Tribunal Federal que julgou improcedente a possibilidade de julgamento de ações penais por parte da Justiça do Trabalho, dizendo que se isso ocorresse estaria ferindo o princípio do juiz natural.

Ao final, mesmo diante de muitas negações articulando a não competência da Justiça do Trabalho para julgar ações penais, constata-se que o magistrado trabalhista tem tanto conhecimento como os demais magistrados cíveis e penais, e que este tem competência para conhecer, processar e julgar ações de escopo penal, e principalmente julgar ações penais contra a organização da Justiça do Trabalho, pois é de fato coerente o julgamento por parte desta, tendo conhecimento aprofundado das matérias englobadas nos crimes trabalhistas.

Mesmo o magistrado fazendo parte de uma justiça especializada não significa que seu conhecimento da ciência do direito seja menor, pois para o magistrado julgar direitos deve-se ter um amplo conhecimento do mesmo, não só no que tange a sua organização jurisdicional, mas um conhecimento geral, pois frente à evolução constante da sociedade deve-se estar preparado para receber procedimentos nascidos de outras áreas processuais.

(10)

1 A HISTÓRIA DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Para explanar a história da competência da Justiça do Trabalho, se faz necessário dispor o conceito de competência. Neste sentido, Sergio Pinto Martins conceitua (2012 p. 93-94):

Competência vem do latim competentia, de competere (estar no gozo

ou no uso de, ser capaz, pertencer ou ser próprio).

A competência é uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz. É a parte da jurisdição atribuída a cada juiz, ou seja, a área geográfica e o setor do Direito em que vai atuar, podendo emitir suas decisões. Consiste a competência na delimitação do poder jurisdicional. É, portanto, o limite da jurisdição, a medida da jurisdição, a quantidade da jurisdição.

Deste modo, se verifica que a competência do magistrado refere-se a uma fatia que é dada a ele para processar e julgar o direito dos litigantes, em sua jurisdição.

Complementando, Wagner D. Giglio e Claudia Giglio Veltri Corrêa (2007, p. 25), escrevem:

“Jurisdição” é a palavra composta pela justaposição de duas outras, de origem latina: jus, júris, que quer dizer direito, e dictio, do verbo

dicere, que significam, respectivamente, dicção e dizer. Jurisdição

tem, portanto, o sentido de dicção do direito, e consiste no poder de que todo juiz está investido, pelo Estado, de dizer o direito nos casos concretos submetidos a sua decisão.

Segundo Amauri Mascaro Nascimento (2012, p. 59), exerce a jurisdição no Brasil:

A jurisdição trabalhista é exercida pela Justiça do Trabalho (CF, art. 111), ramo especial do Poder Judiciário com atribuições constitucionais para decidir as ações oriundas da relação de trabalho por meio de órgãos integrados por juízes togados especialistas em direito do trabalho. Nas comarcas onde não há a jurisdição especial as questões trabalhistas são decididas pelo juiz de direito (art. 112).

Analisando o entendimento dos doutrinadores citados, percebe-se que a competência dos magistrados se instala dentro de suas jurisdições para dirimir conflitos entre os litigantes que à Justiça recorrem.

(11)

1.1 A evolução da competência da justiça do trabalho

Diante da evolução da competência da Justiça do Trabalho, pode-se dizer que esta foi crescendo e se implantando no ordenamento jurídico gradativamente em meio ao tempo.

Deste modo, Martins (2012) coloca que houve uma constante evolução da Justiça do Trabalho e sua competência ao longo do tempo. Pode-se analisar sobre tal assunto nas Constituições Federais anteriores, que conceituavam a competência trabalhista, sua jurisdição e abrangência.

Para dar início ao conhecimento da evolução, é essencial referir algumas Constituições que tiveram grande relevância para história da Justiça do Trabalho, tal como a Constituição de 1934 que instituiu a Justiça do Trabalho para dirimir conflitos entre empregados e empregadores, não sendo aplicada na parte que tratava do Poder Judiciário, deixando visível que a Justiça do Trabalho não fazia parte do Poder Judiciário.

Art 122 - Para dirimir questões entre empregadores e empregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho, à qual não se aplica o disposto no Capítulo IV do Título I.

Parágrafo único - A constituição dos Tribunais do Trabalho e das Comissões de Conciliação obedecerá sempre ao princípio da eleição de membros, metade pelas associações representativas dos empregados, e metade pelas dos empregadores, sendo o presidente de livre nomeação do Governo, escolhido entre pessoas de experiência e notória capacidade moral e intelectual.

Posteriormente a Constituição Federal de 1937, repetiu em algumas feições os ditames da Lei Maior anterior, corroborando que a Justiça do Trabalho visava dirimir os conflitos advindos das relações entre empregados e empregadores geridos na legislação social.

No ano de 1.940 a Justiça do Trabalho se tornou independente, mediante o Decreto Lei nº 1.237/39 que foi regulamentado pelo Decreto nº 6.596/40, segundo Martins (2012) tal decreto organizou a Justiça do Trabalho, que desse ano em diante passou a ser um órgão autônomo, não somente referente ao Poder Executivo, mas

(12)

também perante a Justiça Comum, não pertencendo ainda ao Poder Judiciário, mesmo exercendo a função jurisdicional. Escreve Martins (2012), “a partir desta data as decisões da Justiça do Trabalho poderiam ser executadas no próprio processo, sem necessidade de ingresso na Justiça Comum.”

Em 1946, entrou em vigor uma nova Constituição que veio esclarecer que os tribunais e juízes do trabalho passavam naquele momento a pertencer ao Poder Judiciário da União. Escrevem Giglio e Corrêa (2007, p. 05):

Em 9 de setembro de 1946, alguns dias antes de entrar em vigor a constituição, cujo teor já era conhecido, o Decreto-Lei nº 9.797 veio integrar a Justiça do Trabalho, definitivamente, entre os órgãos do Poder Judiciário, organizando a carreira de Juiz do Trabalho, com ingresso mediante concurso público de títulos e provas, promoções pelos critérios alternados de antiguidade e merecimento, e assegurando-lhes, ainda, as garantias inerentes à magistratura. Os conselhos Regionais passaram a ser denominados Tribunais Regionais do Trabalho, e o Conselho Nacional, Tribunal Superior do Trabalho.

Naquele momento nasceu o Direito Processual Trabalhista, que conforme expõe Martins (2012, p. 18), “é um conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução de dissídios, individuais ou coletivos, sobre relação de trabalho.”

Nascimento (2012, p. 85) escreve sobre o tema, “a integração da Justiça do Trabalho no Poder Judiciário é consequência da evolução histórica dos acontecimentos.”

Já na Constituição de 1967, a competência da Justiça do Trabalho, era estabelecida em seu artigo 134:

(13)

Art 134 - Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e as demais controvérsias oriundas de relações de trabalho regidas por lei especial.

§ 1 º - A lei especificará as hipóteses em que as decisões nos dissídios coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho.

§ 2 º - Os dissídios relativos a acidentes do trabalho são da competência da Justiça ordinária.

Por fim, vigorou a Constituição Federal de 1988, vigente, que dispôs em seu artigo 114 a competência da Justiça do Trabalho de forma geral, onde estabelecia que a competência da Justiça do Trabalho era de conciliar e julgar dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, nesse sentido ficava restrito somente as pessoas que tinham seus empregos estatuídos pela legislação trabalhista.

Posteriormente vigorou a Emenda 24/99 que criou as Varas do Trabalho, conforme Martins (2012, p. 17):

A Emenda Constitucional nº 24, de 9-12-99, extinguiu a representação classista em todas as instâncias, transformando as Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho. A competência e demais questões da organização da Justiça do Trabalho passaram a ser previstas nos arts. 111 a 116.

Mais tarde foi criada a Emenda Constitucional 45/04 que ampliou a competência da Justiça do Trabalho, dando uma nova redação ao artigo 114.

1.2 A emenda 45 e suas implicações na competência da justiça do trabalho

Diante de um novo período, a Justiça do Trabalho passou a enfrentar novas situações como a grande procura da Justiça trabalhista e a ampliação trazida pela Emenda Constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004, publicada em 31 de dezembro de 2004, sobre o exposto Nascimento (2012, p 86) se posiciona:

(14)

Além do crescente número de processos submetidos à sua apreciação, a Justiça do Trabalho sofre o impacto das transformações na realidade econômica, do desemprego, da globalização, das terceirizações, das fusões de empresas, da multiplicação de sindicatos, da livre negociação dos salários e reflexos e da passagem de uma economia de inflação para uma economia de estabilidade resultante no Plano Real.

A Emenda Constitucional nº 45/04, trouxe grandes transformações e ampliou a competência da Justiça do Trabalho, com a nova redação do artigo 114, e mais claramente em seu inciso I, caracterizada como um amoldamento da Justiça do Trabalho com a evolução dos contratos trabalhistas. Uma das mudanças mais significativas da Emenda 45 foi o termo relações de trabalho que veio substituir o que antes era previsto como relações de emprego.

Anteriormente a Constituição trazia em seu texto, a competência da Justiça do Trabalho frente às relações entre trabalhadores e empregadores, como se verifica no texto original do caput do artigo 114, da Constituição Federal de 1988:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas.

A Emenda 45 quando editou o artigo 114 trouxe nove incisos estes dispondo da nova competência da Justiça do Trabalho, além de modificar o texto do caput, bem como o parágrafo 2º, e a inclusão do parágrafo 3º. E como já referido, a modificação mais representativa foi a do inciso I, que passou a expressar o termo “relação de trabalho” ao substituir “relação de emprego”, como se apresentava anteriormente. Colaciona-se o novo artigo 114, após a Emenda 45:

(15)

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o ;

VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

§ 1º ...

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Neste condão, pode-se citar o entendimento de Martins (2012, p. 93) que corrobora:

A redação original do art. 114 da Constituição tratava da competência da Justiça do Trabalho em razão das pessoas. Agora, na redação determinada pela Emenda Constitucional nº 45, nos incisos I e seguintes do art. 114 da Lei Maior há um arrolamento de matérias: relação de trabalho, exercício de direito de greve, habeas

corpus, habeas data, mandado de segurança, execução de

contribuição previdenciária etc. A relação de trabalho era um critério secundário, dependendo da previsão da lei para estabelecer a competência da Justiça do Trabalho. Agora, com a Emenda Constitucional nº 45, passou a ser o critério principal.

Verifica-se desta forma, que o intuito do legislador frente a grande mudança trazida pela Emenda 45 foi de ampliar a competência da Justiça do Trabalho trazendo o contexto “relação de trabalho”, acolhendo assim, aqueles trabalhadores

(16)

que antes não eram abrigados pela Justiça Trabalhista, já que a legislação anterior era focalizada apenas nas questões de cunho originário da relação de emprego o que detinha apenas os trabalhadores que eram regidos pela CLT.

A Emenda 45 trouxe com ela nesta nova competência do artigo em questão, uma solução ao que muito vinha se discutindo, pois como a competência se estendeu veio por pacificar os debates controversos dos tribunais, sendo que muito se discutia sobre as relações de trabalhadores avulsos, eventuais, autônomos, ou ainda acidentes de trabalho, dano moral, direito de greve, entre outros, e se estes também podiam se valer dos direitos descritos na CLT, e sanar o questionamento de se podiam ter seus problemas solucionados pela Justiça Trabalhista.

Com esta evolução na competência trabalhista, além de dirimir os conflitos citados, ainda auxiliou para que a Justiça do Trabalho se tornasse um órgão mais célere, solucionando conflitos com mais clareza e segurança, evitando controvérsias e discussão sobre a competência ou não, de processar e julgar trabalhadores que não constavam na legislação.

Cabe ressaltar, que diante de tal progresso, houve muita polêmica e repercussão diante do texto da Reforma do Poder Judiciário.

Diante de tal fato, Viviann Rodriguez Mattos, José Eduardo de Resende Chaves Júnior, Marcelo José Ferlin D'Ambroso e João Humberto Cesário, destacam em seu artigo publicado em Março de 2006, no site Jus Navigandi que:

Em 09 de março de 2006, ajuizou o Procurador-Geral da República, atendendo a pedido da Associação Nacional dos Procuradores da República – ANPR, sem a oitiva do Ministério Público do Trabalho e da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho – ANPT, ação declaratória de inconstitucionalidade (ADI 3684) dos incisos I, IV e IX do artigo 114 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (Reforma do Judiciário), apontando a violação aos artigos 60, parágrafos 2º e 4º, inciso IV, e 5º, caput e inciso LIII, todas da Constituição.

A nova competência da Justiça do Trabalho trouxe o julgamento de mandado de segurança, habeas corpus e habeas data, essa alteração gerou questionamentos

(17)

se esta matéria não seria de exclusividade da esfera penal, o que constata-se que não necessariamente são de matéria penal tais aplicações, pois o mandado e os

habeas podem ser aplicados em outras ações que não de crivo penal. O que não

quer dizer que o magistrado não tenha competência e conhecimento para processar e julgar ações criminais.

Isto leva a reflexão de que os juízes têm conhecimento de todas as esferas do direito, mesmo que a Justiça do Trabalho seja de uma área especializada que trata apenas de ações originárias da relação de trabalho. Neste sentido acredita-se que o juiz trabalhista tem discernimento suficiente para julgar ações da esfera penal.

1.3 A competência material da justiça do trabalho

O texto Constitucional anterior à Emenda nº 45/2004, não instituía a competência da Justiça do Trabalho em razão da matéria, apenas dispunha sobre os litígios entre trabalhadores e empregadores, sendo assim, só se falava na competência em razão das pessoas o que não bastava para dirimir os conflitos, pois nem sempre os problemas entre trabalhadores e empregadores advinham de relações de emprego. Neste caso, quando os conflitos eram sobre acidente de trabalho ou crime praticado na relação de emprego, eram de competência da Justiça Ordinária, não da Justiça Trabalhista.

Neste sentido, a Emenda alterou expressivamente a competência material da Justiça do Trabalho, expandindo a sua competência para processar e julgar litígios nascidos da relação laboral. Disserta sobre o assunto Martins (2012, p. 107), “a competência em razão da matéria (ex ratione materiae) vai dizer respeito aos tipos de questões que podem ser suscitadas na Justiça Laboral, compreendendo a apreciação de determinada matéria trabalhista.”

Dando continuidade, cabe comentar sobre a competência material que o novo texto Constitucional trouxe. No inciso I, do artigo 114 da Emenda, assim como os demais incisos fala-se em “ações oriundas da relação de trabalho”, diante de tal contexto pode-se afirmar que a relação de trabalho é um vínculo que resulta da

(18)

prestação pessoal de serviços em beneficio de outro, pessoa física ou jurídica, que diante disso os remunera. Assim escreve Giglio e Corrêa (2007, p. 38):

Sendo assim, a relação de trabalho é um vinculo necessariamente oneroso e estabelecido intuitu personae, em relação ao prestador de serviço. Entretanto, a exemplo do contrato de emprego, o liame de trabalho não exige forma especial. Mas, como todo ajuste jurídico pressupõe agente capaz, objeto lícito, ou não vedado por lei, e autenticidade de vontade, manifestada sem vício.

Neste sentido, se afirma que as relações de trabalho se conceituam da forma descrita pelo autor de forma onerosa sendo assim, a competência material se rege neste sentido quando se fala em relação de trabalho.

Já no inciso II, do artigo Constitucional em questão, dispõe sobre as ações que envolvam o exercício do direito de greve cabendo destacar que no texto do inciso não se usa o termo “relação de trabalho”, cabendo então, ser usado em qualquer ação, incluindo o dissídio coletivo. Escreve sobre o assunto Martins (2012, p. 127):

Como o inciso II do art. 114 da Lei Maior é amplo, ao mencionar ações que envolvam o exercício do direito de greve, a Justiça do Trabalho tem competência para examinar questões que digam respeito à manutenção ou reintegração de posse (art. 926 do CPC) do estabelecimento durante a greve, o interdito proibitório (art. 932 do CPC), que também decorre da relação de trabalho, pois a Lei Magna não faz qualquer ressalva.

Afirma-se deste modo que a Justiça do Trabalho no que diz respeito às ações de greve é competente para solucionar e dirimir os conflitos advindos desta questão.

O inciso III aborda ações de cunho sindical, ou seja, representação sindical entre sindicatos, sindicatos e trabalhadores, e sindicatos e empregadores. Sendo que o sindicato sempre teve uma grande atuação perante a Justiça do Trabalho defendendo os interesses das categorias que representavam. Após a Emenda 45, expandiu a inclusão do sindicato para atuar nos processos que tiver interesse próprio ou ainda, em conflitos contra outras entidades sindicais sobre filiação ou a

(19)

representações da classe, e também sobre a maior representação sindical frente à negociação com a empresa.

O inciso IV, traz os mandados de segurança e os habeas corpus e habeas

data, Giglio e Corrêa (2007, p 46), escrevem sobre o assunto explanando que “o conhecimento e a decisão desses processos sempre levantaram celeuma sobre a competência da Justiça do Trabalho, por se tratar de figura de nítida origem penal”. Sendo que, como já disposto anteriormente tais aplicações podem ser feitas em outras esferas, como disposto no próprio inciso quando dispõe que poderá ser aplicado quando se tratar da jurisdição trabalhista.

Posteriormente, é trazido pelo inciso VI as ações de danos morais e patrimoniais quando decorrer da relação de trabalho, neste contexto observa-se que há correntes que dizem que a Justiça do Trabalho pode julgar ações deste cunho, como há correntes que dizem que a competência seria da Justiça Comum. Para corroborar o que já demonstra no inciso VI da Lei Maior, Martins (2012, p. 124), escreve:

O inciso VI do art. 114 da Constituição, de acordo com a redação da Emenda Constitucional nº 45/2004, dirimiu a dúvida, ao estabelecer que as ações de indenização por dano moral ou patrimonial são da competência da Justiça do Trabalho, desde que decorrentes da relação do trabalho. Assim, a Justiça do Trabalho tem competência para examinar não só questões que digam respeito a dano moral ao trabalhador, mas também dano ao seu patrimônio. Exige-se como requisito que a questão decorra da relação de trabalho, que abrange a relação de emprego. Dessa forma, nas questões de empreitada envolvendo dano moral ou material também serão da competência da Justiça do Trabalho, pois decorrem da relação de trabalho.

Dessa forma, é visível a competência da Justiça do Trabalho no que tange a danos morais e patrimoniais advindos da relação de trabalho, conforme disposto na Constituição Federal, sempre que o empregado se sentir lesado ou vice versa.

O inciso VII, descreve sobre as penalidades administrativas sofridas pelos empregadores e pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho. Escreve como exemplo sobre penalidades administrativas Martins (2012, p. 120), “a Justiça do Trabalho é competente para analisar a cobrança de multa por infração à

(20)

legislação do FGTS, em razão da fiscalização feita pelo auditor fiscal do Ministério do Trabalho.”

As penalidades impostas pelo fiscal referente irregularidade da empresa não quer dizer de um todo, que o fiscal tem pleno poder sobre a penalidade e a multa, ele tem competência para fiscalizar, mas quem tem a competência Constitucional de dizer se existe ou não vínculo empregatício entre a empresa e o trabalhador é a Justiça do Trabalho.

A matéria que discorre no inciso VIII da Constituição, diz respeito à incidência e a não incidência da contribuição. A Justiça do Trabalho no que tange matéria de execução tem competência para exigir acréscimos legais, quando não for recolhida a contribuição no prazo estipulado, cobrando juros, correção monetária e multa. Contudo, a Justiça do Trabalho, colabora com o Poder Executivo na verificação de uma determinação de ordem pública, cabendo a União executar a contribuição.

Por fim, o inciso IX, estabelece a questão de outras controvérsias provenientes da relação de trabalho definida em lei. Giglio e Corrêa (2007, p 47) escrevem que o escopo de tal inciso foi autorizar o legislador ordinário a incluir, e não deixar dúvidas ao incluir outras matérias na competência da Justiça do Trabalho, desde que elas tenham o conteúdo e contexto da relação de trabalho como outorga de competência penal e de execução do imposto de renda, e nas afeições de contribuições previdenciárias.

(21)

2 A JUSTIÇA DO TRABALHO NO JULGAMENTO DE AÇÕES PENAIS

Pra explanar a respeito da possibilidade de Julgamento de Ações Penais pela Justiça do Trabalho cabe indicar quais tipos de ação a Justiça do Trabalho costuma em sua competência, habitualmente julgar.

Sendo assim, como já explicitado anteriormente, a Justiça do Trabalho julga ações provenientes das relações trabalhistas, assim como tem uma organização autônoma dentro do Judiciário, conforme expõe Nascimento (2012, p. 152-153), que diz:

É uma justiça especial, com organização própria no Poder Judiciário, competente para conhecer de questões trabalhistas, mas também com juízes especializados em questões trabalhistas integrados na

organização judiciária comum, e, igualmente, estruturas

administrativas que funcionam nos moldes jurisdicionais por força de lei que lhes confere poderes decisórios para lides trabalhistas.

Diante do exposto, a Justiça do Trabalho é uma justiça especializada no âmbito do Poder Judiciário como também é integrada a organização comum do Judiciário tendo a alçada para a resolução de conflitos trabalhistas, o que nada mais é, que sua real competência até então.

Dando continuidade a tal questão, se verifica que a competência da Justiça do Trabalho no que se refere aos tipos de ações trazidas a sua apreciação são verdadeiramente de cunho específico da relação trabalhista, como explana José Cairo Júnior (2008, p. 123), que escreve:

A relação de trabalho é espécie do gênero das relações jurídicas obrigacionais, mais especificamente daquelas derivadas de um negócio jurídico (contrato e declaração unilateral de vontade), onde um dos contratantes obriga-se a fazer (executar) determinado serviço.

Sendo assim, é compreendido que as relações de trabalho caracterizam-se, quando um cidadão presta serviço a outro, tornando-se um vínculo. Assim, é definida a relação trabalhista, englobando todas as responsabilidades que dela decorrer.

(22)

Houve uma grande crescente da competência da Justiça do Trabalhando a partir da Emenda Constitucional 45/2004, ampliando o processamento da Justiça Trabalhista. Sendo que, como já exposto, a competência da Justiça do Trabalho passou a julgar “ações oriundas da relação do trabalho”. Dessa forma, o magistrado trabalhista passa a processar e julgar qualquer ação proveniente de relação trabalhista, dirimindo os conflitos vindos de administração empresarial, ou até mesmo de uma demissão sem causa, dentre vários outros conflitos trabalhistas.

A partir desse alargamento, destaca-se a discussão de que a Justiça do Trabalho tenha competência para processar e julgar ações de matéria penal, ou seja, que o magistrado trabalhista também tenha a competência de um magistrado da Justiça Comum, como exemplo, pode-se citar os juízes de direito que atuam nas áreas cíveis e penais, esses julgam todos os tipos de ações muitas vezes em substituição de um e de outro. Um juiz criminal pode analisar, processar e julgar ações de cunho cível que julga ações de direito de família, sucessões, direito de propriedade dentre tantos outros assuntos.

Neste contexto, se reflete: por que o juiz trabalhista não pode gozar dessas mesmas condições de competência? Se pensando pela lógica o conhecimento de ambos é o mesmo. Nesse sentido, sobre a Justiça especializada Nascimento (2012, p. 58-59) descreve:

A jurisdição é especial ou comum, aquela quando há um setor do Poder Judiciário ou, embora não havendo uma justiça própria, quando determinados juízos, da justiça comum, com o nome de

salas, como na Espanha, ou outros, são designados

permanentemente para dirimir as controvérsias trabalhistas; e comum quando não há especialização e cabe ao juiz de direito que aprecia as questões de direito civil, comercial etc. decidi-las.

Conforme exposto pelo autor, verifica-se que quando não houver uma justiça especializada em determinada comarca a Justiça Comum irá processar e julgar os conflitos a ela expostos. Neste caso, usamos os juízes de comarcas pequenas onde há apenas uma vara para propor todas as ações do município, ou seja, um juiz processa e julga ações cíveis e penais.

(23)

Sobre o tema dispõe a Constituição Federal que diz que o magistrado da Justiça Comum pode julgar ação da esfera trabalhista, em seu artigo 112 da CF/88: “art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.”

Conforme disposto na própria Carta Magna se o juiz da Justiça Comum pode fazer esta substituição na falta da Justiça especializada, da mesma forma pode-se aplicar ao magistrado trabalhista a igual competência, podendo o juiz do trabalho em caso de necessidade substituir magistrados das esferas cíveis e penais, já que estudaram a mesma ciência jurídica.

.

Então, há de se analisar que o magistrado trabalhista tem em sua jurisdição e competência um amplo conhecimento, transmitindo segurança para que se necessário a utilize.

Para corroborar tal afirmação, nada melhor que expor a opinião de um juiz que tem vivência e experiência em tal caso, como o juiz Guilherme Guimarães Feliciano, que dispõe em seu artigo no site da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – ANAMATRA, publicado em 04 de Abril de 2006:

Afirmar que a competência material da Justiça do Trabalho cinge-se às “ações trabalhistas”, assim entendidas as ações que manifestam conflitos de interesses qualificados por pretensão resistida de observância de direitos trabalhistas (item n. 09 da ADIn n. 3684/2006) é, “concessa venia”, um equívoco notável.

Nesse contexto continua sua reflexão no que diz respeito à Competência da Justiça do Trabalho na esfera penal:

(24)

Tampouco se pode afirmar, em bom Direito, que a Justiça do Trabalho não detém competência penal estrita. Possui-a, por expresso comando constitucional, ut artigo 114, IV, da CRFB. Como é sabido, o “habeas corpus” nada mais é que uma ação penal popular. É essa a sua matriz ontológica, ainda que o constrangimento subjacente admita as mais diversas morfologias: cumprimento de pena (em sede de execução penal), prisão cautelar (em sede processual penal), inadimplemento de deveres familiares

jusfundamentais (alimentos), inadimplemento de obrigações

contratuais estritas (infelidelidade depositária), etc.

Contudo, verifica-se que a Justiça do Trabalho tem competência para julgar ações de cunho penal, pois como visto o Magistrado Trabalhista tem a mesma ciência de um Magistrado da esfera penal ou cível que julgam e dominam ambas as áreas, ou ainda se comparado com um Juiz de uma cidade interiorana que processa e julga as ações que lhe são oferecidas de diversificadas matérias. Sendo assim, corrobora-se mais uma vez que a Justiça do Trabalho tem a mesma competência e conhecimento para analisar ações de matéria penal, até porque como se vislumbra na afirmativa acima exposta, existe crimes provenientes nas relações trabalhistas.

2.1 A competência para processar e julgar ações penais

Para iniciar este tópico, é necessário destacar a competência da justiça penal para que se possa entender qual é a jurisdição desta, e como ela pode ser aplicada por um magistrado trabalhista.

Neste sentido, pode-se analisar o conceito de competência penal de Aury Lopes Júnior (2012, p. 451) que dispõe, “a competência é um conjunto de regras que asseguram a eficácia da garantia da jurisdição e, especialmente do juiz natural. Delimitando a jurisdição, condicionada seu exercício.”

Corroborando, Paulo Rangel (2009, p. 319) descreve, “competência, assim, é o espaço, legislativamente delimitado, dentro do qual o órgão estatal, investido do poder de julgar, exerce sua jurisdição. Surge, assim, a competência em matéria cível, a competência em matéria penal, militar, trabalhista, eleitoral etc.”

(25)

Conforme o exposto pelo autor, o conceito de competência penal mostra que esta pode ser aplicada em âmbito geral, não caracterizando uma competência específica no que diz respeito ao juiz penalista. Dessa forma, não caracteriza que somente o juiz criminal poderá julgar as ações desta área.

O que se entende com as afirmações, é que o juiz natural, ou seja, todo e qualquer magistrado, pode processar e julgar ações penais até porque é um assunto amplo, em que, por vezes, envolve outras áreas.

Ademais, para clarear a visão da competência penal, pode-se citar o artigo 69 do Código de Processo Penal que dispõe:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração:

II - o domicílio ou residência do réu; III - a natureza da infração;

IV - a distribuição;

V - a conexão ou continência; VI - a prevenção;

VII - a prerrogativa de função.

Como examinado no artigo citado, a competência penal no que se refere ao crime propriamente dito, será de acordo com o lugar da infração, domicílio do réu, e tipo de infração cometida. É desta forma que se caracteriza a competência jurisdicional para o julgamento de ações penais. No que se refere à competência do juiz natural, perante as ações penais, Aury Lopes Júnior (2012, p. 177), escreve:

O fundamento da legitimidade da jurisdição e da independência do Poder Judiciário está no reconhecimento de sua função de garantidor dos direitos fundamentais inseridos ou resultantes da Constituição. Nesse contexto, a função do juiz é atuar como garantidor da eficácia do sistema de direitos e garantias fundamentais do acusado no processo penal.

O juiz passa a assumir uma relevante função de garantidor, não devendo julgar conforme deseja a maioria e, não podendo, fica inerte diante de violações ou ameaças de lesão aos direitos fundamentais, constitucionalmente consagrados ou que brotem dos tratados e convenções firmados pelo Brasil.

Diante do que dispõe o autor se verifica que o juiz competente que analisa, processa e julga as ações penais deve se abster em garantir as funções

(26)

constitucionais estabelecidas e, se preocupar nos direitos fundamentais de cada indivíduo. Deste modo, o juiz é um garantidor de direitos que não deve ficar alheio a danos que prejudiquem tais garantias fundamentais no direito penal.

2.2 Possibilidades da Justiça do Trabalho processar e julgar questões de matéria penal

Nesta sessão o trabalho se direciona ao seu real motivo, isto é, uma resposta relevante para que se afirme se a justiça do trabalho tem possibilidade dentro de sua competência para processar e julgar ações de matéria penal.

Sendo assim, analisando o exposto até aqui, no que diz respeito ao que seria de real competência do magistrado trabalhista, mesmo este tendo capacidade para incrementar seu conhecimento acaba se limitando a um pequeno processo, apenas aquele da relação trabalhista. No entanto, verifica-se que há possibilidade de o magistrado trabalhista processar e julgar ações de cunho penal, pois existem crimes cometidos na relação trabalhista como também contra a sua organização.

Ocorre ainda, que os crimes contra a Organização do Trabalho estão todos elencados no Código Penal do artigo 197 ao 207, todos por óbvio, julgados pela Justiça Penal. Isto leva ao questionamento de que são crimes contra a Justiça do Trabalho, então deveriam ser julgados por tal, sendo que a justiça trabalhista tem ampla competência para praticar tal ato, dessa forma, a justiça trabalhista poderia julgar tais ações que são de seu exclusivo interesse.

Cabe salientar neste momento que, doutrinadores tratam a incompetência da Justiça do Trabalho, dentre elas o acidente de trabalho que é julgado pela Justiça Estadual contra o INSS, assim como contribuições previdenciárias, e todas as ações que podem ocorrer da relação trabalhista, como dispõe Martins (2012), tais como, falso testemunho, falsa perícia, fraude processual, crimes contra funcionários públicos da Justiça do Trabalho.

Neste sentido, Nascimento (2012, p. 359), disserta sobre os Crimes contra a organização do trabalho:

(27)

Pela competência da Justiça do Trabalho pesam os seguintes argumentos: a) as ações de infortunística decorrentes das relações de trabalho, e, como a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações decorrentes da relação do trabalho (EC n.45), no conceito estariam compreendidos os crimes contra a organização do trabalho;

b) a unidade de jurisdição trabalhista é base suficiente para essa

delimitação; c) os maiores conhecimentos do juiz do trabalho sobre irregularidades trabalhistas facilitaria a compreensão dos casos.

Demonstra com clareza diante de tal afirmativa, que o juiz trabalhista tem a competência de julgar ações penais provenientes de sua organização, pois além de nascer de sua instância, a Justiça do Trabalho tem maior discernimento nos assuntos de cunho trabalhista e de sua organização, assim facilitando sua compreensão e um julgamento justo do caso. Deste modo o magistrado trabalhista não deve se limitar apenas na justiça especializada, que é o que ocorre hoje na Justiça do Trabalho, pois resta demonstrado que a Justiça trabalhista podendo julgar ações penais contra sua organização, as resoluções das mesmas seria de forma segura e acertada.

Do mesmo modo salienta Martins (2012, p. 131):

Entretanto, depreende-se do artigo que a competência não é da Justiça do Trabalho, pois do contrário não seria necessário ressalvar as questões de acidente do trabalho, pois bastaria fazer referencia à Justiça do trabalho e o acidente do trabalho estaria na competência desse órgão do Poder Judiciário. Não haveria necessidade de excepcionar competência relativa a acidente do trabalho e da Justiça do Trabalho. Logo, por exclusão, a competência é da Justiça Comum estadual.

Esclarece aqui, que nem mesmo o acidente do trabalho proveniente da relação de trabalhista é julgado pela Justiça do Trabalho, o que não é lógico, pois seria visivelmente mais fácil e coerente se a própria justiça trabalhista pudesse julgar matéria que é de seu escopo, vista que o julgamento seria mais célere e justo.

Diante da relevância do assunto, Rodolfo Pamplona Filho e Sérgio Waly Pirajá Bispo, escrevem em seu artigo no site fiscosoft, publicado em 08 de Novembro de 2010:

(28)

Para ser juiz, o juiz do trabalho, como todos os outros, forma-se em Direito e presta concurso público no qual é avaliado também sobre a matéria penal.

Claro e lógico que, conforme se ocupa de um ramo especializado do Direito, torna-se um especialista e, como se sabe, a especialização limita e aprofunda. O juiz do trabalho é especialista em sua matéria, não resta dúvida. Mas isso não impede que possa aumentar os limites de sua competência, nem de que lhe sejam exigidos, em concursos vindouros, novos e aprofundados conhecimentos.

Conforme o exposto pelos autores, que somente corrobora o que já foi dito a respeito, de que a justiça do trabalho é uma justiça especializada, isso não se discute, mas assim como qualquer outro magistrado, o juiz trabalhista tem o discernimento para que se possa julgar uma ação penal advinda, ou não, de sua organização. Deste modo, o que vale lembrar é que o juiz seja de qual área for deve ministrar as ações de forma justa e que garanta os direitos dos cidadãos, cumprindo assim seu dever de juiz natural.

O que se constata é que, não é visível e nem concreto uma impossibilidade da não competência para juízes trabalhistas julgarem ações penais, mesmo sendo esta uma justiça especializada e limitada, pois o conhecimento das ciências do direito é similar, a parte processual também se segue o mesmo, sendo o diferencial, unicamente os prazos. Deste modo, constata-se que não há fato concreto que implique a impossibilidade de um juiz trabalhista ministrar, analisar, processar julgar, como qualquer outro juiz nas outras esferas do direito tal como o Direito Penal.

2.3 Ementa do Supremo Tribunal Federal

Depois de publicada a Emenda 45/2004, muito se discutiu sobre a nova competência trabalhista, e que a ampliação dela de alguma forma trouxe uma interpretação, de que a Justiça do Trabalho a partir desta mudança poderia julgar lides penais.

Diante de tal fato, a pedido da Procuradoria Geral da Republica, foi criada a Ação Direta de Inconstitucionalidade dos incisos I, IV e IX do artigo 114 da Constituição Federal, a ADI 3.684-0. Tal ação tem o escopo de que a mudança do

(29)

artigo 114, retificado pela Emenda 45/2004, fere o artigo 60, parágrafos 2º e 4º, o inciso IV, e o artigo 5º, caput, e ainda o inciso LIII, da Constituição Federal.

Pode-se verificar no corpo da ADI 3.684-0, a Ementa que trata sobre a inconformidade alegada pela Procuradoria Geral da República:

EMENTA: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processos e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida com efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais.

Corroborando colaciona-se também uma parte do relatório do Ministro Cézar Peluso, conforme descrito na ADI:

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO – (Relator): 1.

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de liminar, movida pelo Procurador-Geral da República, que impugna as normas constantes do art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, introduzidas pelo art. 1º da Emenda Constitucional nº 45/2004 (fls. 02/16).

Diante de tais colocações acima expostas, o Ministro Cezar Peluso, em seu relatório, dispôs que a Procuradoria Geral requereu tal reforma, pois se entendeu que o artigo 114 incisos, I, IV e IX, da Emenda 45/04, teria dado por tal redação à Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar infrações penais, ferindo assim, a garantia constitucional do juiz natural, estabelecido no artigo 5º, inciso LIII.

Antes de ser aprovada a Emenda 45/04, teve uma PEC no ano de 2000 para que fosse dada a Justiça do Trabalho a competência para julgar infrações penais, conforme disposto no voto do Ministro:

(30)

Durante o trâmite da PEC nº 29/2000 no Senado Federal, foi sugerida a inserção, no art. 114 da Constituição da República, de regra tendente a cometer à Justiça do Trabalho competência para o julgamento de “infrações penais praticadas contra a organização do

trabalho ou contra a administração da própria Justiça do Trabalho”.

Rejeitada pelo constituinte derivado, a proposta não se converteu em norma. E tal elemento histórico, conquanto de valor exegético relativo, já pesa contra a interpretação impugnada.

Diante do exposto, averigua-se que anteriormente foi sugerida a hipótese da competência da Justiça do Trabalho conter a competência penal, ao menos quando fosse ferida diretamente a própria Justiça Trabalhista, mas esta foi rejeitada.

Ainda no voto da ADI, o Ministro manifestou a sua opinião no que diz respeito à competência da Justiça do Trabalho no cabimento de a mesma poder processar e julgar ações penais.

[...] ao prever a competência da Justiça do Trabalho para o processo e julgamento de “ações oriundas da relação de trabalho”, o disposto no art. 114, inc. I, da Constituição da República, introduzido pela EC nº 45/2004, não compreende outorga de jurisdição sobre matéria penal, até porque, quando os enunciados da legislação constitucional e subalterna aludem, na distribuição de competências, a “ações”, sem o qualificativo de “penais” ou “criminais”, a interpretação sempre exclui de seu alcance teórico as ações que tenham caráter penal ou criminal. Perante essa técnica de redação, a qual não constitui mera tradição estilística, mas metódica calculada que responde a uma rigorosa racionalidade jurídica, o sentido normativo emergente é de que, no âmbito da respectiva competência, entram apenas as ações destituídas de natureza penal.

Insta destacar que o Ministro coloca em seu voto que, a Emenda 45 não concede a competência penal à Justiça do Trabalho, sem rotular que as “ações” ditas na Emenda, se referem a ações de cunho penal, estas, segundo o Ministro não condiz à natureza criminal.

Sobre o inciso IV, do artigo 114 da EC 45/04, que dispõe sobre o habeas

corpus, o Ministro comenta em seu voto, que este é um remédio processual, que

pode ser impetrado em qualquer natureza, em vezes, até no âmbito particular, não somente em ações provenientes da ação penal, pois seu remédio é constitucional. Assim:

(31)

Mais do que natural, portanto, era de boa lógica jurídico-normativa fosse explicitada ou reconhecida à Justiça do Trabalho competência acessória para conhecer e julgar habeas corpus impetrado contra ato praticado por seus próprios órgãos, no exercício das competências não penais que lhe reservou a Constituição, ou a pretexto de exercê-las, segundo vem, aliás, da literalidade da cláusula final do mesmo inc. IV do art. 114 (“quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição”).

Neste sentido, o relator descreveu que o habeas corpus não provém apenas da esfera penal, mas que engloba outras áreas, sendo assim, ele intitula “natural” o fato de a Justiça Trabalhista ter a competência de conhecer e julgar habeas corpus impetrado contra a própria organização. O relator ainda corrobora em seu voto:

[...] a Constituição da República não dá à Justiça do Trabalho competência para o processo e julgamento de outras ações penais. Deveras, se, em preceito específico, ilha atribui para julgar habeas

corpus, é óbvio que lha negou para o julgamento de todos os outros

remédios e ações penais, pela razão manifestíssima de que, se a Constituição houvera outorgado à Justiça do Trabalho competência criminal ampla e inespecífica, de todo em todo fora ocioso e escusado que, em cláusula textual, lhe previsse competência para apreciar habeas corpus.

O relator expõe nesta parte de seu voto que a Justiça do Trabalho não é agraciada pela Constituição da Repúbica com a competência criminal, e que não seria necessário tal feito. Disposto no voto também, o relator destaca no que a Carta Magna prevê a respeito de tais assuntos, da legalidade e do juiz natural, sendo que este último previsto no inciso LII, da Carta Magna diz que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Com tal colocação deste inciso, o ministro, assegura que seguindo a Constituição da República no que diz respeito às ações julgadas pelo juiz natural conforme suas competências é dizer seguradamente que as garantias constitucionais impostas estão asseveradas.

Dessa forma ao final da ADI 3684-0, o ministro Cezar Peluso, deferiu a liminar de antecipação de tutela à época, com efeito, ex tunc que a Justiça do Trabalho não configura ter competência penal. Conforme se verifica:

(32)

Do exposto, defiro a liminar, para, com efeito ex tunc, atribuir interpretação conforme à Constituição da República a seu art. 114, incs. I. IV e IX, declarando, nos termos já enunciados, que, no âmbito de jurisdição da Justiça do Trabalho, não entra competência para processar e julgar ações penais.

Posterior ao voto do Ministro Cezar Peluso, o Ministro Ricardo Lewandowski, seguiu o voto do relator, e concordou com a limiar em desfavor da Justiça do Trabalho, dizendo que, a competência penal nunca foi cogitada a fazer parte da competência da justiça especializada trabalhista. O terceiro voto foi do Ministro Carlos Britto, que em sede de liminar, como justificou, acompanhou o voto dos demais.

O voto do Ministro Marco Aurélio veio para questionar, esclarecer e discordar dos demais, colocando sua opinião sobre o assunto em tela, pois o relator meramente discutiu os incisos I e IV do art. 114, deixando de lado inciso IX, que trata sobre “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”, dizendo que sobre esse tema, nada foi levantado, sendo que neste ultimo inciso, poderia se englobar a competência penal para a Justiça do Trabalho. Colaciona-se parte de seu voto:

Explico melhor: o que se pretendeu, mediante propostas, foi justamente deslocar para o grande âmbito da competência da Justiça do Trabalho o que estabelecido quanto à Justiça Federal stricto

sensu, sob o ângulo dos serviços prestados os processos

envolvendo crimes perpetrados contra serviços prestados pela Justiça do Trabalho e crimes contra a organização do trabalho.

O Ministro destaca também que, em nenhuma parte do artigo 114 e seus incisos na Emenda 45/04, retrata a competência penal, dizendo que, não dispunha nada sobre tal tema no artigo. Sendo assim, a opinião dada pelo Ministro Marco Aurélio em seu voto na época, é que na ADI foi discutido algo que ainda nem se quer existe e tem legislação para tal, sendo desnecessário o debate postulado pela Procuradoria Geral da República. Deste modo, segue uma parte de seu voto:

(33)

Essa cláusula é quase em branco, porque, de qualquer forma, deve haver o elo com a relação de trabalho, e pode ensejar - já adianto o ponto de vista, julgando processo inexistente, contra uma lei prevendo essa competência criminal da Justiça do Trabalho – deliberação dos representantes do povo e dos representantes dos Estados, com a sanção do Senhor Presidente da República, no sentido de autorizar a Justiça do Trabalho, que é uma Justiça Federal especializada, a apreciar processo criminal.

Peço vênia para indeferir a medida acauteladora.

Diante de tal embate incansável, o Ministro Sepúlveda Pertence, concordou com o relator em seu voto, e o questionamento diante da competência penal, ficando então, para ser agraciada mais tarde em momento oportuno sobre a ampliação da competência da Justiça do Trabalho. Colaciona-se uma parte do voto do Ministro Sepúlveda Pertence:

Parece que a divergência entre os dois votos, e eu estou de acordo com ambos, é o seguinte: o texto da Constituição, artigo 114 e seus diversos incisos, especificamente os três que são objeto da ação direta, não dão competência criminal à Justiça do Trabalho. Se a lei poderá ou não vir a dar, não é o momento realmente de anteciparmos numa interpretação conforme.

Frente ao estudo da ADI 3684-0, verifica-se que diante de todos os votos e por maioria, foi deferido que a Justiça do Trabalho não tem competência para o processamento e julgamento de ações penais. A Justiça do Trabalho é uma justiça especializada e limitada, mas não por tal justificativa que seus magistrados entendam menos que os demais, e sim, entende-se, que estes têm possibilidades e conhecimento para processar e julgar ações provenientes da justiça criminal. A ADI foi uma decisão tomada pelo STF, impossibilitando que se amplie a competência da Justiça trabalhista a deixando extremamente restrita à “relação de trabalho”.

Não há de se deixar falar em uma competência criminal para a Justiça do Trabalho, tanto no sentido amplo, julgando qualquer ação penal, como também, um julgamento de um crime no âmbito da própria matéria trabalhista, pois na relação de trabalho, não se esta livre da ocorrência de crimes, ou ainda, crimes que afrontam diretamente a organização e administração da Justiça do Trabalho.

(34)

CONCLUSÃO

A competência da Justiça do Trabalho evoluiu gradativamente em suas várias formas que as Constituições Federais traziam em seus textos. Mas cada vez mais, a competência foi se moldando e crescendo, conforme as necessidades dos trabalhadores. Até que a Emenda Constitucional 45/04, trouxe a nova competência das atribuições desta Justiça especializada.

A competência da Justiça do Trabalho sofreu uma modificação e ampliação depois que a Emenda Constitucional 45/2004 entrou em vigor. A Justiça do Trabalho deixou de apreciar apenas as ações de “relações de emprego” e passou a processar e julgar ações provenientes da “relação de trabalho”, essa foi a grande alteração trazida pela Emenda, ampliando assim, a competência da Justiça do Trabalho, pois esta deixou de julgar somente o aspecto subjetivo, ou seja, as partes da relação de emprego, para julgar o aspecto objetivo, que advém da relação de trabalho.

No sentido da ampliação da competência trabalhista, surgiu o questionamento de competência penal por parte da Justiça do Trabalho, trazendo a reflexão da possibilidade de o magistrado trabalhista analisar, processar e julgar ações de cunho penal, não apenas aquelas que nascem do direito trabalhista, mas também ações de pura e simples matéria penal.

Nesse contexto, se analisa e se reflete sobre o tema abordado, pois os magistrados trabalhistas tem o mesmo conhecimento, discernimento e preparo que os juízes das demais áreas. Reflete-se que, um juiz penal pode normalmente substituir um juiz de direito cível em seus atos perante as ações que tramitam em

(35)

sua jurisdição. O juiz penal pode processar e julgar ações cíveis, isso se conclui rapidamente, pois é visto em diversas comarcas acontecer tal fato.

Deste modo, logicamente se percebe que um juiz trabalhista, que é especializado nesta área há de ter a mesma competência que os outros juízes, pois este teve o mesmo preparo da ciência do direito. A Justiça do Trabalho é limitada e especializada, mas tal fato não é sinônimo de incapacidade para julgar ações de outras áreas.

A Justiça Trabalhista deve ter a competência para julgar as ações contra a organização da Justiça do Trabalho, estas elencadas no Código Penal, mas que são de relevante interesse da Justiça Trabalhista. Se estendida a competência para julgar as ações de crimes trabalhistas terá um julgamento justo, pois nada mais coerente que a Justiça Trabalhista julgue ações que são de sua jurisdição, mesmo sendo de matéria penal.

O que se tem de definido diante de tal tema, é a Ementa do STF, que julgou improcedente a competência penal para a Justiça do Trabalho, com a justificativa de ferir o principio do juiz natural, impossibilitando desta forma, a ampliação da competência trabalhista, e deixando sua limitação de competência apenas frente à relação de trabalho. Diante da ementa, é pontuado pelos Ministros que a Justiça do Trabalho nunca teve competência penal, aos olhos do STF o que teria caráter penal seria o habeas corpus, que como dito, não tem é de absoluta matéria penal, pois é usado em diversas áreas. Sendo assim, é concluído perante a ementa que neste momento não há de se falar de competência penal para a Justiça do Trabalho.

(36)

REFERÊNCIAS

BRASIL Constituição de 1934. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao34.htm>. Acesso em 03 de dez. 2012.

CAIRO Jr., José. Curso de direito do trabalho: direito individual e coletivo do trabalho. 2. Ed. Salvador: JusPODIVM, 2008.

______.Constituição de 1967. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao67.htm> Acesso em 03 de dez. 2012.

______. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. ______.Emenda 45 disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm> Acesso em 03 de dez. 2012.

FELICIANO, Guilherme Guimarães. Da competência penal da justiça do trabalho. 04 de abril de 2006. Disponível em:

<http://www.anamatra.org.br/index.php/artigos/da-competencia-penal-da-justica-do-trabalho>. Acesso em: 08 de maio 2013.

GIGLIO, Wagner; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito processual do trabalho. 16. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

LOPES Jr., Aury. Direito processual penal. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho: Doutrina e Prática Forense. 33. Ed, São Paulo: Atlas 2012.

(37)

MATTOS, Viviann Rodriguez; CHAVES JR, José Eduardo de Resende; D’AMBROSO, Marcelo José Ferlin; CESÁRIO, João Humberto. Comentários à ADI nº 3684. Diponivel em: <http://jus.com.br/revista/texto/8238/comentarios-a-adi-no-3684>. Acesso em 02 de maio 2013.

______. Medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade 3684-0 distrito federal, 01 de fevereiro de 2007.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 27. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo; BISPO, Sérgio Waly Pirajá. Justiça do trabalho e competência penal. Disponível em: <http://www.fiscosoft.com.br/a/54tm/justica-do-trabalho-e-competencia-penal-rodolfo-pamplona-filho-sergio-waly-piraja-bispo>. Acesso em: 15 de maio 2013.

______.Texto original da CF/88 Disponível em:

<http://crfb20anos.net84.net/1_14_Texto-Original-1988-.html> Acessado em 03 de dez. 2012.

Referências

Documentos relacionados

Concebe-se que mesmo diante dos benefícios para a parturiente, o companheiro pode não querer compartilhar esse momento com a mulher, contrariando assim o

Organizadora Editora Moderna; obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.. Projeto Buriti:

de contribuição previdenciária o u retenção de imposto de renda, silen- te o título exeqüendo (CLT, art.. Fato gerador ou base de cáiculo. 158, in Suplemento Trabalhista

Feitas essas observações, que me parecem importantes para que tenhamos a consciência do alcance dos problemas de ordem jurídica e filosófica de que estamos tratando, é possível

Oportunidades de Negócios no RN Oportunidades de Negócios no RN Serviços (março 2004) Valor RN SERVIÇOS DE EXPLORAÇÃO, PERFURAÇÃO E PRODUÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO

As inscrições serão feitas na Comissão Permanente de Vestibular da UFMG (COPEVE), situada no Prédio da Reitoria da UFMG, à Av. Presidente Antônio Carlos, 6627 – Campus da

Este trabalho versa sobre a importância da definição da competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização por danos materiais e/ou morais decorrentes de

Em (a), prega vocal controle (30-50 anos), notando-se na lâmina própria fibras colágenas dispostas em rede frouxa entre alguns fibroblastos e vasos (H&amp;E, 40x); em (b), prega