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As comissões parlamentares de inquérito como instrumento de combate à corrupção

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RICARDO BERGMANN MOTYCZKA

AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À CORRUPÇÃO

Ijuí (RS) 2013

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RICARDO BERGMANN MOTYCZKA

AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À CORRUPÇÃO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2013

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Dedico este trabalho aos meus pais pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda esta jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, por sempre acreditar e investir em mim. Mãe, seu carinho e dedicação me dão forças para seguir em frente. Pai, seu apoio incondicional me dá certeza de que não estou sozinho nessa caminhada.

À todos os professores que me acompanharam durante a graduação, em especial ao Professor Marcelo Loeblein dos Santos, pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.

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De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise da efetividade das Comissões Parlamentares de Inquérito, especialmente no tocante ao combate à corrupção. Analisa a questão do descrédito da população em relação as investigações parlamentares, contextualizando algumas das principais investigações do país, através da análise dos relatórios finais das investigações. Aborda, primeiramente, as noções gerais sobre o tema passando pelo seu conceito, origem histórica, o modo de criação, suas funções, os poderes de investigação inerentes, bem como suas limitações, até a sua conclusão por meio do relatório final. Analisa, em um segundo momento, algumas das principais investigações parlamentares já realizadas no país, contextualizando-as historicamente, e apontando quais foram os resultados alcançados e como eles impactaram a sociedade e o país como um todo. Faz uma breve análise do motivo que leva a população em geral a desacreditar nas

investigações parlamentares. Finaliza concluindo que as investigações

parlamentares são importantes ferramentas políticas, que têm se mostrado capazes de causar grandes mudanças no cenário nacional.

Palavras-Chave: Noções sobre Comissões Parlamentares. Investigação parlamentar. Corrupção. Efetividade.

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RESUMEN

Esta conclusión de curso de estudio analiza la eficacia de las comisiones parlamentarias de investigación , sobre todo en lo que respecta a la lucha contra la corrupción. Examina la cuestión de desacreditar a la población sobre las investigaciones del Congreso , contextualizar algunas investigaciones importantes del país , a través del análisis de los informes finales de las investigaciones . Discute , en primer lugar , las nociones generales sobre el tema que pasa por su concepto, origen histórico , el modo de creación , sus funciones , los poderes inherentes a la investigación , así como sus limitaciones, hasta el final a través del informe final. Analiza , en una segunda etapa , algunas de las principales investigaciones del Congreso ya se llevó a cabo en el país, contextualizándolos históricamente , y señalando cuáles fueron los resultados y cómo afectaron la sociedad y el país en su conjunto . Un breve análisis de los fundamentos de la población en general para desacreditar las investigaciones del Congreso . Termina los concluyendo que las investigaciones del Congreso son importantes herramientas políticas , que se han demostrado para causar cambios importantes en la escena nacional.

Palabras clave : Entender las comisiones parlamentarias . Investigación parlamentaria . Corrupción. Eficacia .

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 NOÇÕES GERAIS SOBRE AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO ... 11

1.1ORIGEM HISTÓRICA ... 11

1.2CRIAÇÃO E FUNÇÕES ... 14

1.2.1 Requerimento de criação ... 14

1.2.2 Fato determinado ... 16

1.2.3 Tempo determinado ... 16

1.3PODERES DE INVESTIGAÇÃO E SEUS LIMITES ... 17

1.4PODERES DE INSTRUÇÃO ... 21

1.4.1 Inquirição de testemunhas ... 21

1.4.2 Busca e apreensão ... 22

1.4.3 Quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico ... 23

1.4.4 Interceptação telefônica ... 23

1.4.5 Indisponibilidade de bens ... 24

1.4.6 Decretação de prisão ... 24

1.5DO RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO PARLAMENTAR ... 24

2 ANÁLISES E CONCLUSÕES ACERCA DAS CPIS MAIS MARCANTES DO BRASIL ... 27

2.1CPMI DO PCFARIAS ... 27

2.1.1 Contexto Histórico ... 27

2.1.2 Investigações ... 29

2.1.3 Conclusões e Resultados ... 30

2.2CPI DOS CORREIOS ... 31

2.2.1 Contexto Histórico ... 31

2.2.2 Conclusões e Resultados ... 33

2.3CPMI DA COMPRA DE VOTOS (MENSALÃO) ... 34

2.3.1 Contexto Histórico ... 34 2.3.2. Investigações ... 35 2.3.3 Conclusões e Resultados ... 36 2.4CPI DA KISS... 37 2.4.1 Contexto Histórico ... 37 2.4.2 Investigações ... 38 2.4.3 Conclusões e Resultados ... 39 2.5CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 40 CONCLUSÃO... 42 REFERÊNCIAS ... 44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca das principais noções sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito, a fim de permitir um maior entendimento do tema. Essas noções gerais se fazem necessárias para que se possa passar para a análise das Comissões Parlamentares que já ocorreram no país.

Para a realização deste trabalho serão efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando especialmente os relatórios finais das investigações parlamentares, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo das investigações parlamentares, demonstrando a importância deste instrumento dentro de um estado democrático.

Este trabalho tem por objetivo proporcionar um maior entendimento acerca das Comissões Parlamentares de Inquérito, especialmente no que tange a sua aplicação como instrumento de combate à corrupção. Em um país como o Brasil que, infelizmente, ainda é assolado por diversos escândalos de corrupção na esfera pública, todos os instrumentos capazes de coibir a corrupção são bem vindos.

Inicialmente, no primeiro capítulo, pretende-se fazer um estudo sobre a teoria das investigações parlamentares. Passando por uma análise de sua evolução ao longo da história em diversos países. Também são analisados os métodos e requisitos para sua criação, bem como suas limitações e objetivos. É um estudo importante, pois fornece as ferramentas para que se possa entender como as investigações parlamentares funcional no Brasil.

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No segundo capítulo analisar-se-á a questão da efetividade das investigações parlamentares, que nos últimos tempos andam em constante descrédito tanto pela mídia, quanto pelo povo. Para isso será feito uma análise de algumas das principais Comissões Parlamentares de Inquérito já realizadas no país. Com base em seus relatórios finais será realizada uma análise crítica para determinar se as investigações cumpriram ou não o que se propunham a fazer.

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1 NOÇÕES GERAIS SOBRE AS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO

As Comissões Parlamentares de Inquérito, se utilizadas corretamente, podem se configurar como um importante meio de aprimoramento e consolidação da democracia pela preservação dos direitos constitucionais.

A Constituição de 1988 foi o documento que consolidou a inserção dos direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse novo sistema constitucional as Comissões Parlamentares de Inquérito passaram a ser encaradas como importante meio de aprimoramento e consolidação da democracia, visando salvaguardar os direitos constitucionais.

1.1 Origem histórica

A primeira Comissão Parlamentar de Inquérito foi instituída em 1689, na Inglaterra, para investigar fatos de interesse do Parlamento. Interessante ressaltar, que as comissões tiveram sua origem em Estado, tradicionalmente, de regime parlamentarista de governo. Destaca-se também o fato de a Inglaterra não possuir uma Constituição escrita, logo, não havia qualquer texto legal para regular as Comissões Parlamentares de Inquérito, conforme aponta Ovídio Rocha Barros Sandoval (2001).

O referido autor assevera ainda que na França, também não havia qualquer preceito constitucional ou legal para normatizar a criação e atuação das Comissões

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Parlamentares de Inquérito. Ainda assim, os inquéritos parlamentares eram instaurados. Apenas em 1914 foi votada lei para regularizar tais comissões.

Na Itália, também, apesar da ausência de disposição legal escrita, haviam os inquéritos parlamentares como processos de controle das câmaras sobre o governo.

A primeira previsão em texto constitucional das Comissões Parlamentares de Inquérito se deu na Alemanha com a Constituição de Weimar de 1919, autorizando comissões de investigação, com o direito de examinar, em sessão pública, as provas por elas colhidas ou consideradas necessárias, mediante a votação secreta de dois terços de seus membros.

Na Áustria foi fixado o direito de investigar em sua Constituição de 1920, na Bélgica e na Albânia em 1946, na Bulgária em 1947, na Hungria em 1949 e na Itália em 1948, conforme bem aponta Sandoval (2001).

Segundo Sandoval (2001), tratando-se da América, na Argentina a partir de 1872 surgiram as comisiones parlamentarias de investigación, de forma costumeira, sem previsão constitucional. No Uruguai as comissões foram elevadas à categoria de instituição constitucional em 1918.

As comissões parlamentares de inquérito têm uma vasta aplicação nos Estados Unidos da América, porém sem qualquer referência a elas em sua Constituição. Sendo assim, semelhante à França e a Inglaterra.

No Brasil, a Constituição imperial de 1824 era omissa a respeito das Comissões Parlamentares de Inquérito, mesmo porque o regime de governo monarquista, então vigorante, não permitia que o Legislativo exercesse qualquer controle sobre o Executivo.

A Constituição de 1891 também não trouxe previsão das Comissões Parlamentares de Inquérito. No entanto, várias comissões foram instituídas no período de vigência da Constituição de 1891, mas nenhuma foi concluída, pois os parlamentares ainda não tinham plena consciência da função delas.

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Somente com a Constituição de 1934 vem a previsão expressa das comissões de inquérito, permitindo que sejam instituídas somente pela Câmara dos Deputados, e não pelo Senado.

Durante o curto período de vigência da Constituição de 1934 apenas três comissões de inquérito foram criadas, mas não chegaram a concluir seus trabalhos, em virtude do golpe ditatorial de 1937.

A Constituição de 1937 nada dispunha sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito, devido ao seu cunho ditatorial.

A Constituição democrática de 1946 traz novamente a previsão das Comissões Parlamentares, e desta vez, inclui o Senado Federal como competente para de propô-las.

A Constituição de 1967 mantem a previsão legal das comissões parlamentares e especifica melhor as suas funções e modo de criação.

Por fim, tem-se a Constituição de 1988 que dispõe em seu artigo 58, parágrafo 3º que:

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento interno ou no ato de que resultar sua criação. [...]

§ 3º. As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Com essa previsão constitucional as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI – se efetivam no ordenamento jurídico brasileiro, representando um grande

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avanço político-democrático. E é nesse ponto histórico que se encontram as investigações parlamentares hoje no Brasil.

1.2 Criação e funções

Para que uma CPI seja criada, é necessário o cumprimento de certos requisitos, dentre os quais: requerimento de criação, fato determinado e tempo determinado.

1.2.1 Requerimento de criação

É necessário o requerimento de um terço dos membros da Casa Legislativa ou um terço dos membros da Câmara mais um terço dos membros do Senado, no caso de comissão mista. Desse modo, um terço dos deputados ou um terço dos senadores pode assinar requerimento de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito. Neste caso, teremos uma CPI da Câmara de Deputados ou do Senado Federal.

É possível, todavia, que tanto a Câmara quanto o Senado tenham interesse em criar uma CPI sobre o mesmo assunto. Assim, a comissão será composta de deputados e senadores. Se a comissão for mista, o requerimento deve ser assinado por um terço de deputados mais um terço de senadores.

Segue, a título de exemplo, o requerimento de criação da CPI da CPMF (Pompeo de Mattos, 2000, p. 8-9):

CÂMARA DOS DEPUTADOS

REQUERIMENTO DE CPI Nº 8, DE 2000 (Do Sr. Pompeo de Mattos e outros)

Requer a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito, com a finalidade de investigar o destino dado aos recursos angariados com o recolhimento da Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF).

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Requeiro a Vossa Excelência, nos termos do § 3º do art. 58 da Constituição Federal e na forma do art. 35 do Regimento Interno, a instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a destinação dada aos recursos angariados com o recolhimento da Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF).

JUSTIFICAÇÃO

A imprensa tem noticiado com muita ênfase e insistência o caos verificado na saúde em todo o Brasil. Diariamente vemos entrar em nossos lares imagens chocantes de pessoas submetendo-se a esperas intermináveis em hospitais e postos de saúde, na busca de atendimento. Mais grave é a tragédia instalada em grande parte dos hospitais, onde falta pessoal para atender a demanda de doentes que a eles recorrem, onde a ausência de equipamentos vitais inviabiliza procedimentos primários de urgência, ou, onde existem, não recebem manutenção adequada, provocando perdas de vidas humanas.

[...]

Resta indagar o destino da CPMF... Tornar transparentes a aplicação desses recursos, apontando os benefícios que a sociedade obtém com a contribuição. Caso contrário, agravamos o quadro de descrédito que se acentua sobre a classe política e os serviços públicos prestados. Precisamos mais do que a retórica, de discursos em favor da saúde e da importância da cobrança da CPMF.

É dever do Parlamento, na sua tarefa constitucional de exercer a fiscalização e controle da aplicação dos recursos públicos, investigar para aonde estão indo os milhões arrecadados mensalmente. Não podemos nos omitir, sob pena de sermos cúmplices em cada vida perdida nos hospitais e postos de saúde do Brasil.

Pelo exposto, requeiro a instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar a CPMF.

Sala das Sessões, 24 de janeiro de 2000. Pompeo de Mattos

Deputado Federal

Tanto as Comissões Parlamentares de Inquérito, quanto as Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito – CPMI – estão previstas no artigo 58 da Constituição, e a ambas são conferidos os mesmos poderes.

Apesar de ter a mesma competência que uma Comissão Parlamentar de Inquérito, as Comissões Mistas apresentam vantagens no sentido de que reduzem a possibilidade de confronto entre as Casas do Congresso. Marcos André Moraes (2005) aponta como exemplo, quando um deputado atua em uma CPI ele fica mais suscetível a pressões dos senadores de seu partido e do governo federal, o que não ocorre nas Comissões Mistas de Inquérito, pois eles atuam em conjunto, tendo assim, mais força política.

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No entanto, conforme aponta Soares (2009), a formação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito requer o voto de, pelo menos, um terço do Congresso (Câmara e Senado), o que é muito mais difícil de obter do que um terço apenas dos membros de uma das Casas. Por esse motivo apenas em casos de grande comoção nacional é que se propõe a criação de uma CPMI.

1.2.2 Fato determinado

Nas palavras de José de Ribamar Barreiros Soares (2009), para que uma CPI seja criada, é preciso demonstrar qual o fato que será objeto de investigação. Este fato determinado consiste em acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e social do país.

No requerimento de criação é necessária a determinação do fato a ser investigado, as comissões parlamentares não podem ter por objeto da investigação fatos genéricos. Para Soares (2009), não seria possível, por exemplo, requerer a criação de uma CPI para investigar genericamente a situação das escolas públicas no Brasil, sem indicar qual irregularidade concreta serve de base para este inquérito.

Contudo, após a sua criação, a comissão tem a possiblidade de ampliar o leque de investigação, mas somente a fatos relacionados ao fato determinado objeto da investigação.

Além disso, o fato determinado deve ser de relevante interesse para o país. Um fato isolado, de interesse apenas local, de uma comunidade específica, de um grupo em particular, que não afete a vida pública e ordem constitucional, legal, econômica e social do país, não pode ser investigado por uma CPI.

1.2.3 Tempo determinado

A importância de um prazo determinado para a duração da investigação também é observada por Soares (2009), de modo que a CPI é criada para funcionar pelo período de cento e vinte dias, podendo ser prorrogada por mais sessenta dias.

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Entretanto, no que diz respeito à sua prorrogação, Siqueira Jr. (2007) aponta que o Supremo Tribunal Federal, com base na Lei nº 1.579/52 (Lei das Comissões Parlamentares de Inquérito), já entendeu que essas prorrogações podem ir até o final da legislatura, divididas em períodos de sessenta dias cada uma, para atender à exigência regimental.

A prorrogação depende de requerimento do presidente da CPI dirigido ao presidente da Câmara dos Deputados, que o submeterá ao Plenário da Casa Legislativa.

Se todos esses requisitos estiverem presentes, o requerimento de criação será encaminhado à Presidência da Câmara, e o presidente, se considerar que todos os requisitos foram obedecidos, aprovará o requerimento e produzirá um ato da Presidência criando a comissão.

Se já houver cinco comissões em funcionamento, somente por meio de projeto de resolução poderá ser criada nova Comissão Parlamentar de Inquérito.

Em seguida a comissão será instalada, com a indicação de seus membros pelos partidos. Instalada, será eleitos os membros que comporão a Mesa Diretora da comissão. Nesse momento, a comissão estará pronta para funcionar e realizar suas investigações.

1.3 Poderes de investigação e seus limites

A Constituição de 1988, em seu artigo 58, parágrafo 3º, dá as Comissões Parlamentares de Inquérito “os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais ou outros previstos nos regimentos internos”.

Segundo o raciocínio de Paulo Hamilton Siqueira Júnior (2007), o processo, de modo geral, tem por finalidade a pacificação social. A finalidade do Estado é o

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bem comum, buscado em três esferas distintas: política, jurídica e social. Na esfera política, o Estado deve manter a segurança dos cidadãos. Na esfera jurídica, o bem comum traduz-se no ideal de justiça. Na esfera social, o objetivo do Estado se realiza pelo atendimento às necessidades do povo (saúde, educação, seguridade social, etc.). Para alcançar esse objetivo desenvolvem-se várias atividades, entre elas a prestação jurisdicional, que reafirma a vontade da lei e consagra o bem comum.

O artigo 58, § 3º da Constituição Federal deixa claro que o legislador constituinte equiparou as Comissões Parlamentares de Inquérito ao Poder Judiciário, no que tange aos poderes de investigação. Deste modo, entende-se que a maioria dos poderes do juiz na investigação da verdade são estendidos às Comissões Parlamentares de Inquérito.

A Comissão Parlamentar de Inquérito pode determinar qualquer ato probatório, como, por exemplo, a quebra de sigilo, e, como ocorre com a Magistratura, o controle da legalidade dessa atividade se dá por meio dos remédios constitucionais.

Cabe ressaltar que não são todos os poderes da Magistratura que são estendidos às Comissões Parlamentares de Inquérito, há de se considerar a existência de dois princípios: o Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário; e o Princípio da Reserva de Jurisdição.

Pelo primeiro princípio, nenhuma lesão de direito pode ser afastada da apreciação do Poder Judiciário. Pelo segundo, a apreciação do Poder Judiciário sempre ocorrerá a priori.

Quanto ao Princípio da Reserva da Jurisdição tem-se a lição de Gomes Canotilho (1998, p. 580-581):

A independência aponta também, e de uma forma decisiva, para a exigência da separação e exclusividade da função de julgar por parte dos juízes. Não basta, porém, ao contrário do que muitas vezes se julga, um poder judicial separado de outros poderes. A

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independência judicial postula o reconhecimento de uma reserva de jurisdição entendida como reserva de um conteúdo material funcional típico da função jurisdicional. Esta reserva de jurisdição actua simultaneamente como limite de actos legislativos e de decisões administrativas, tornando-os inconstitucionais quando tenham um conteúdo materialmente jurisdicional. A idéia de reserva de jurisdição implica a reserva de um juiz (Richtervorbehalt) relativamente a determinados assuntos. Em sentido rigoroso, reserva de juiz significa que em determinadas matérias cabe ao juiz não apenas a última mas também a primeira palavra. É o que se passa, desde logo, no domínio tradicional das penas restritivas da liberdade e das penas de natureza criminal na sua globalidade. Os tribunais “guardiões da liberdade”, e daí a consagração do princípio de nulla poena sine judicio. Da reserva de juiz em sentido restrito, deve distinguir-se a reserva de tribunal ou reserva da via judiciária (Gerichtvorbehalt). Pretende-se aqui exprimir a idéia de que relativamente a algumas situações é legítima a intervenção de outros

poderes (designadamente administrativos) desde que seja

assegurado depois o direito de acesso aos tribunais. Na reserva de juiz, o tribunal intervém logo no início; na reserva de tribunal o apelo aos juízes ocorre, na maior parte das vezes, sob a forma de recurso. Dito por outras palavras: na reserva de juiz verifica-se uma reserva total da função jurisdicional quanto à decisão de certas questões; na reserva de tribunal, a reserva é parcial, as mais das vezes porque não existiu uma intervenção inicial do juiz.

A prática de determinados atos é de competência única dos magistrados, tendo em vista a discriminação material de competência jurisdicional fixada pelo texto constitucional. Por isso, certas decisões somente podem emanar de juiz de Direito, e não de outros órgãos, inclusive das Comissões Parlamentares de Inquérito.

A finalidade da equiparação aos poderes de investigação próprios aos do Poder Judiciário é dotar a investigação realizada pelo Parlamento de um mínimo de eficácia. Ainda com as restrições aplicadas, é um vasto poder de investigação.

Nesse sentido, o Ministro Paulo Brossard afirma que (2000, p. 159):

Se a Comissão Parlamentar de Inquérito não tivesse meios compulsórios para o desempenho de suas atribuições, ela não teria como levar a termo seus trabalhos, pois ficaria à mercê da boa vontade ou, quiçá, da complacência de pessoas das quais dependesse em seu trabalho. Esses poderes são inerentes à Comissão Parlamentar de Inquérito e são implícitos em sua constitucional existência. Não fora assim e ela não poderia funcionar senão amparada nas muletas que lhe fornecesse outro Poder, o que contraria a lógica das instituições.

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A Constituição de 1988 equiparou a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Poder Judiciário somente no que se refere aos poderes de investigação. Outras atividades inerentes ao Poder Judiciário não são alcançadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito, como por exemplo, não podem formular acusações e punir delitos, e nem decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto nas hipóteses de flagrância, nem ainda, expedir decreto de indisponibilidade de bens.

As Comissões Parlamentares de Inquérito também não possuem o poder geral de cautela, conforme bem lembra Siqueira Jr. (2007), que só pode ser tomado por autoridade judiciária, como bloqueio de bens, decretação de prisão preventiva, entre outras. Cabe salientar que buscas e apreensões, quebra de sigilo bancário ou telefônico são medidas investigativas e não cautelares.

Luiz Carlos dos Santos Gonçalves (2001, p. 61) diferencia a investigação do controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário, afirmando que:

buscas e apreensões e interceptações telefônicas são, efetivamente, medidas investigatórias. Todavia, quando o juiz as determina, ele não está investigando, mas controlando a legalidade da investigação de outros autores, o Ministério Público e a polícia (...). A investigação, ao contrário do controle de legalidade, envolve apreciação subjetiva do mérito dos fatos investigados, opções de atuação, valoração e escolha das provas obtidas quanto à sua suficiência e possibilidade de êxito, abandono de linhas de pesquisa e eleição de outras.

Do mesmo modo que as Comissões Parlamentares de Inquérito possuem os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, possuem também os deveres, obrigações e limites.

Todas as decisões das Comissões Parlamentares de Inquérito devem ser fundamentadas e motivadas, nos termos do artigo 93, inciso IX da Constituição Federal de 1988 que dita “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade [...]”.

As decisões das Comissões Parlamentares devem ser motivadas e fundamentadas, ou seja, devem dar as razões, de fato e de direito, que justificam a

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decisão. Não se trata de mera formalidade, mas de exigência do processo no Estado de Direito que determina que deve ser exteriorizado o fundamento da decisão.

1.4 Poderes de instrução

É importante ressaltar, novamente, que a CPI apenas investiga. Ela não tem poderes para julgar nem para aplicar penas.

As Comissões têm, no entanto, amplos poderes de investigação, necessários para um bom andamento dos trabalhos e para que alcance um resultado satisfatório. Neste sentido, algumas regras da legislação processual penal, referentes à investigação, também se aplicam às Comissões Parlamentares de Inquérito.

1.4.1 Inquirição de testemunhas

De acordo com Soares (2009), qualquer pessoa pode ser intimada na qualidade de testemunha, prestando o compromisso de dizer a verdade do que souber ou lhe for perguntado. As testemunhas deverão ser inquiridas em separado, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das outras.

A testemunha prestará compromisso de dizer a verdade do que souber ou lhe for perguntado, sendo advertida das penas cominadas ao falso testemunho, nos termos do artigo 210 do Código de Processo Penal.

Recusando-se a testemunha a depor, salvo as hipóteses permitidas em lei, a Comissão poderá efetuar a prisão em flagrante por crime de desobediência, nos termos do artigo 330 do Código de Processo Penal.

A comissão poderá requisitar à autoridade policial a apresentação da testemunha que regularmente intimada, deixar de comparecer sem motivo justificado (condução coercitiva), nos termos do artigo 218 do Código de Processo Penal.

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Ainda, segundo Soares (2009), à testemunha faltosa poderá ser aplicada multa, bem como poderá ser condenada ao pagamento das custas da diligência. Neste caso, faz-se necessária a interferência judicial, por se tratar de medida de caráter condenatório, fugindo da alçada de poderes da CPI, que se limitam à esfera investigatória.

Senadores e deputados federais não são obrigados a testemunhar sobre informações recebidas no exercício da função, nos termos do artigo 53, parágrafo 5º da Constituição Federal.

Isso não impede, porém, que tais autoridades compareçam perante a comissão na qualidade de testemunhas. Apenas terão a prerrogativa de se eximirem de falar acerca desses fatos.

De acordo com Siqueira Jr. (2007), quando as testemunhas discordam sobre os mesmos fatos, prestando informações conflitantes, a comissão pode realizar a acareação, que consiste em tomar os depoimentos conjuntamente, colocando-se uma testemunha de frente para a outra.

A acareação, no entanto, só será feita entre pessoas que já tenham sido ouvidas pela comissão. Não há acareação entre uma testemunha que já falou e outra que ainda não foi ouvida.

1.4.2 Busca e apreensão

A busca e apreensão domiciliar só pode ser feita pelo juiz, na forma que dispõe a Constituição (artigo 5º, inciso XI), sendo vedada à CPI, conforme entendimento do STF.

E ainda, segundo o entendimento do STF serão considerados como residência o escritório, oficina ou qualquer lugar em que regularmente efetue seu trabalho.

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1.4.3 Quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico

A comissão tem poderes para proceder à quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico dos investigados.

De acordo com Soares (2009), os fundamentos adotados pela comissão para a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico são os mesmos usados pelo juiz, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Para a tomada dessa medida, a CPI deve demonstrar a necessidade de tal instrumento. Não basta apenas a argumentação de indícios da prática do crime.

Além disso, deve-se demonstrar que a medida é essencial às investigações, ou seja, que sem a quebra do sigilo é impossível atingir os objetivos investigatórios.

Cabe destacar, ainda, que o sigilo telefônico, conforme aponta Fernando Capez (2012) diz respeito apenas à lista de ligações feitas e recebidas por determinado aparelho telefônico, o teor das conversas não será revelado pela mera quebra do sigilo telefônico. Para se ter acesso as conversas é necessária a interceptação telefônica, que será tratada a seguir.

1.4.4 Interceptação telefônica

A quebra de sigilo telefônico diz respeito à identificação das chamadas feitas, já a interceptação telefônica interfere na própria conversa entre os interlocutores, o chamado “grampeamento”.

Segundo Fernando Capez (2012), a interceptação telefônica ocorre quando um terceiro viola a conversa telefônica de duas ou mais pessoas, registrando ou não os diálogos mantidos, sem que nenhum dos interlocutores saiba.

A CPI não tem competência para determinar diretamente tal providência, uma vez que, nos termos da Constituição Federal, tal decisão, nas palavras de

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Soares (2009), compete à autoridade judiciária, com exclusividade, e se dará somente nos casos de investigação criminal, visando fundamentar ação penal em curso ou a ser proposta.

1.4.5 Indisponibilidade de bens

O bloqueio de bens pela CPI só poderá ocorrer se estritamente ligado às investigações. No entanto, de acordo com Soares (2009), se a medida for acautelatória do julgamento, fugirá do âmbito de atuação da comissão, que somente possui poderes próprios de autoridade judicial para efeitos de investigação.

1.4.6 Decretação de prisão

De acordo com os apontamentos de Soares (2009), a comissão só poderá decretar prisão em flagrante nos casos de crimes cometidos perante a comissão, como, por exemplo, desobediência, desacato e falso testemunho. Ainda, referente ao tema temos o entendimento de Sandoval (2001), a comissão não tem poderes para decretar prisão preventiva ou provisória, já que se trata de medidas acautelatórias do poder de julgar e condenar, exclusivo da autoridade judiciária.

1.5 Do relatório final da Comissão Parlamentar

Com a apresentação do relatório, a Comissão conclui e encerra os seus trabalhos. É o ato final da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Quanto ao seu aspecto formal, o relatório deve ser detalhado, sendo explicitadas, em minúcias, todas as diligências realizadas na pesquisa referente ao fato determinado objeto da investigação.

(25)

Ainda, conforme aponta Siqueira Jr. (2007), se houve a investigação de outros fatos, decorrentes do fato determinado, o relatório deverá individualizá-los, em apartado, com a abordagem de cada um deles em separado.

O relatório deverá ser aprovado pela Comissão Parlamentar de Inquérito, e ser assinado por todos os seus membros. Após, será publicado no Diário da Casa Legislativa.

É vedado ao relatório tomar a natureza de peça semelhante às sentenças judiciais ou de uma denúncia, que são atos privativos do Poder Judiciário e do Ministério Público.

Cabe reiterar que a Comissão de Inquérito não julga, ela apenas investiga e, em consequência disso, seu relatório deve conter, apenas, os resultados das investigações e debates realizados nos trabalhos da comissão, podendo acrescentar projeto de resolução para o aprimoramento das leis. Segundo João de Oliveira Filho (1954, p. 63):

não pode concluir pela existência ou pela caracterização de algum crime, pois essa não é a sua função, invadindo, caso o faça, a competência de outro poder, o Poder Judiciário. Somente a Polícia ex officio, ou o Ministério Público, é que pode, baseado no relatório publicado, iniciar procedimento criminal contra os indiciados de qualquer crime na forma constante do inquérito.

O relatório final da Comissão apenas relata os fatos detectados durante os seus trabalhos e as provas de sua ocorrência. Se dos fatos apurados houver indícios de ilícito penal, o relatório poderá ser encaminhado diretamente ao Ministério Público competente para a apreciação e tomada de diligências que entender cabíveis.

Por meio dessa análise teórica acerca das Comissões Parlamentares de Inquérito foi possível obtermos um maior entendimento acerca de seu funcionamento e de seus objetivos, bem como suas prerrogativas e limitações.

(26)

Com o conhecimento adquirido passaremos, no próximo capítulo, à uma análise das principais Comissões Parlamentares de Inquérito da história do Brasil. Observando atentamente aos resultados a que chegaram, para assim, determinar a eficácia das CPIs no Brasil.

(27)

2 ANÁLISES E CONCLUSÕES ACERCA DAS CPIs MAIS MARCANTES DO BRASIL

Neste capítulo será realizada uma análise de algumas das Comissões Parlamentares de Inquérito que marcaram a história do Brasil.

Serão apontados os acontecimentos que levaram a sua criação, um breve relato descrevendo como decorreram as investigações e, por fim as conclusões a que a Comissão chegou e os resultados que dela derivaram, bem como o impacto disto para a sociedade.

2.1 CPMI do PC Farias

2.1.1 Contexto Histórico

Logo após a posse de Fernando Collor de Mello como Presidente da República em 1990 começaram a surgir as primeiras denúncias de corrupção. Em pouco tempo as acusações recaíram sobre a pessoa de Paulo César Cavalcante Farias, conhecido como PC Farias.

PC Farias foi o tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor e de Itamar Franco nas eleições de 1989, e após a vitória tornou-se um dos braços direitos do Presidente.

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A denúncia mais impactante foi, sem dúvidas, feita pelo próprio irmão do então Presidente, Pedro Collor de Mello, publicada em reportagem de capa pela revista Veja em maio de 1992, da qual cabem destacar alguns trechos (Pedro Collor de Mello, 1992, p. 18-22):

O empresário PAULO CÉSAR FARIAS montou, em nome do Presidente da República, um verdadeiro ministério paralelo, para cobrar ‘pedágio’, ou participação irregular sobre a liberação de verbas públicas.

[...] Como o dinheiro utilizado pelo PC foi roubado, extorquido, levantado fraudulentamente, não há como evitar que recaia sobre o Presidente a suspeita de conivência, responsabilidade, ou, no mínimo, omissão. Afinal, ele está junto com o PC nessa empreitada.

A denúncia de Pedro Collor de Mello apontou PC Farias como “testa de ferro” em diversos esquemas de corrupção, que foram divulgados de 1992 em diante. Devido a sua proximidade com o Presidente Collor, PC teve acesso facilitado e com isso participou em diversas áreas do governo, do Palácio do Planalto ao Banco Central, além de controlar quase todos os ministérios. De acordo com a notícia do Portal Terra (Terra, Veja como estão hoje os personagens do esquema montado por PC Farias).1

Comandou um esquema de poder paralelo e tráfico de influências, bem como o desvio de recursos públicos, no que ficou conhecido como “esquema PC”.

Com o poder que detinha PC indicava funcionários de sua confiança para criarem documentos falsos e contas fantasmas para onde iriam as verbas públicas desviadas. Foram desviadas verbas que estavam destinadas as áreas da saúde, da educação, da previdência social e da segurança.

1 Disponível em: <

http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/veja-como-estao-hoje-os-personagens-do-esquema-montado-por-pc-farias,487675ee8909e310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html>. Acesso em 13 set. 2013.

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2.1.2 Investigações

O presente capítulo consiste de uma síntese feita com base na leitura do relatório final da CPMI do PC Farias de 1992, que teve como relator o Senador Amir Lando.

A investigação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito se deu através de depoimentos de vinte e cinco pessoas, bem como na quebra do sigilo bancário de PC Farias.

O requerimento de criação da CPMI apresentou como justificativa para a investigação parlamentar principalmente as sucessivas entrevistas a jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão concedidas pelo Sr. Pedro Collor de Mello.

Aponta como justificativa também a grande discrepância constatada ao se analisar as declarações de Imposto de Renda de PC Farias, de modo que era evidente que a renda e os bens declarados não condiziam com o seu sofisticado padrão de vida e sinais externos de riqueza.

Chama atenção também o fato de duas de suas empresas, a Floray e a EPC, que permaneceram praticamente inativas no período de 1986 a 1988, surgirem com centenas de dólares de lucros oficiais em 1989.

Um ponto crucial para o avanço das investigações foi a descoberta de um automóvel Fiat Elba, dirigido pelo motorista do Presidente, que havia sido comprado com um cheque fantasma proveniente do esquema PC.

A compra desse veículo com o cheque fantasma foi fundamental para comprovar que o esquema PC utilizava cheques fantasmas para pagar as contas do Presidente da República e de seus familiares.

Foram ouvidos os depoimentos de vinte e cinco pessoas, foi realizado um estudo sobre o esquema PC, as empresas no nome de PC Farias foram

(30)

investigadas e os aspectos tributários do esquema foram analisados. A investigação durou 118 dias.

2.1.3 Conclusões e Resultados

Ao final das investigações restou comprovado que quantias enormes foram depositadas por correntistas “fantasmas” – pessoas inexistentes, com CPFs falsos – na conta particular do Presidente da República.

Cabe destacar trecho do relatório final da CPMI (Congresso Nacional, 1992, p. 366):

PAULO CÉSAR CAVALCANTE FARIAS[...] 2. Levou o Sr. Presidente da República, pelo suprimento de largas somas nas contas de Ana Acioli, da primeira-dama e de sua secretária, seja por meio da EPC, seja pelos correntistas “fantasmas”, a omitir-se no cumprimento do dever funcional consistente em zelar pela moralidade pública, em impedir a utilização do seu nome, para obstar a prática de crimes – de que ele tinha ciência pelas quantias depositadas nas contas utilizadas em seu proveito e de seus familiares – continuassem a ser cometidos.

Portanto, a conclusão obtida pela CPMI levou a instauração de processo penal em face de PC Farias, que culminou em sua fuga para Buenos Aires em um bimotor, e posterior localização em Londres pela justiça inglesa, onde fugiu novamente, desta vez para Bangcoc, na Tailândia. Sendo finalmente capturado pela polícia Tailandesa e enviado para Brasília, onde foi preso. De acordo com a notícia no Portal G1 (G1, Relembre casos do governo Collor que envolveram PC Farias).2

PC Farias foi julgado e condenado a quatro anos de prisão por sonegação fiscal e a sete anos por falsidade ideológica. Após cumprir um terço da pena recebeu liberdade condicional. Seis meses após receber sua liberdade condicional foi encontrado morto, ao lado de sua namorada.

2 Disponível em:

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A investigação parlamentar, juntamente com a onda de manifestações por todo o país (movimento cara pintada), fizeram com que o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa e o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil

apresentassem pedido de impeachment3 à Câmara dos Deputados.

Interessante apontar a frase com que o Senador Amir Lando encerra o relatório da CPMI (Amir Lando, 1992, p. 371):

Sr. Presidente, iniciamos este trabalho citando: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Getúlio Vargas também, em um certo momento disse: “Quase sempre é fácil encontrar a verdade; difícil é, uma vez encontrada, não fugir dela”. Espero que a Nação não fuja dessas verdades. Muito obrigado.

O processo de impeachment foi instaurado com 441 votos a favor e 33 contra. Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo, mas como o processo de impeachment já estava em andamento, teve seus direitos políticos suspensos por oito anos, tornando-se inelegível até o ano de 2000. Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente da América Latina a sofrer um impeachment.

2.2 CPI dos Correios

2.2.1 Contexto Histórico

Em 2005, após denúncias de irregularidades praticadas na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, surgiu o chamado Escândalo dos Correios.

Conforme aponta notícia do Portal R7 (R7, Entenda o escândalo do mensalão)4, a crise teve início quando uma negociação de propina entre o então

funcionário dos Correios, Maurício Marinho, e um empresário interessado em

3 Cassação do mandato do chefe do Poder Executivo pelo Congresso Nacional, geralmente motivado por crime

de responsabilidade.

4 Disponível em: < http://noticias.r7.com/brasil/noticias/entenda-o-escandalo-do-mensalao-20101007.html>.

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participar de uma licitação foi gravada em vídeo. No vídeo é mencionado que a negociação tinha o aval do Deputado Federal Roberto Jefferson.

A gravação foi feita pelo advogado Joel Santos Filho, a mando do bicheiro Carlinhos Cachoeira, com o objetivo de desmantelar a corrupção e acabar com o esquema de propina, apenas para implantar outro, sob seu comando.

No vídeo, Joel Santos Filho se passa por empresário interessado em participar de licitação dos Correios e acaba por flagrar Maurício Marinho não apenas recebendo dinheiro para fraudar licitações, mas ainda descrevendo um elaborado esquema de corrupção.

O Deputado Federal Roberto Jefferson inicialmente negou seu envolvimento na corrupção praticada nos Correios. No entanto, quando sentiu-se pressionado concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo em que denunciou outro esquema de corrupção ainda mais grave, o esquema do Mensalão.

A seguir, trecho da entrevista concedida à Folha de São Paulo (Roberto Jefferson, 2005, p. 22):

Um pouco antes de o Martinez morrer, ele me procurou e disse: “Roberto, o Delúbio [Soares, tesoureiro do PT] está fazendo um esquema de mesada, um “mensalão”, para os parlamentares de base. O PP, o PL, e quer que o PTB também receba. R$ 30 mil para cada deputado. O que você me diz disso?”

Foi essa entrevista que impulsionou todos os acontecimentos que culminaram na Ação Penal 470 (julgamento do Mensalão pelo STF).

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que tinha como fato determinado investigar as denúncias de corrupção nos Correios passou a investigar também as denúncias feitas por Roberto Jefferson. Como se tratava de um esquema de largas proporções, após muito debate, foi criada uma nova Comissão pelo Congresso para fim de investigar especificamente o Mensalão e, assim, permitir que a CPMI dos

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Correios voltasse a investigar a corrupção na Empresa de Correios e Telégrafos. Conforme aponta a notícia no Portal R7 (R7, Entenda o escândalo do mensalão).5

2.2.2 Conclusões e Resultados

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito acabou por indiciar Roberto Jefferson por crime eleitoral, crime contra a ordem tributária e por corrupção passiva. O funcionário dos Correios, Maurício Marinho foi indiciado por corrupção passiva.

Além disso, a Comissão requereu ao Ministério Público que avaliasse as condutas de outras 19 pessoas envolvidas no esquema, a fim de decidir pelo seu indiciamento.

Foram ainda indiciados 22 funcionários dos Correios, inclusive presidentes, diretores e chefes de departamento, em razão do descumprimento de disposições da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92).

Mas o principal resultado alcançado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios foi, sem sombra de dúvidas, a exposição do esquema do Mensalão (que teve a sua própria Investigação Parlamentar e será tratado em seguida).

A seguir um trecho do relatório final da CPMI dos Correios sobre o “Valerioduto” (Osmar Serraglio, 2006, p. 1606):

Ao nosso sentir, os recursos que escoaram pelo Valerioduto têm origem ilícita, razão pela qual não se pode caracterizar os crimes praticados pelos operadores desse esquema como mero “caixa dois”. Trata-se de dinheiro proveniente de crimes contra a Administração Pública, de forma que o crime é, mesmo, de lavagem de dinheiro. Há, obviamente, concurso material com o crime de corrupção ativa, por parte de todos os que participaram do esquema, ou seja, não somente os idealizadores, mas aqueles que tiveram colaboração, ainda que secundária.

5 Disponível em: < http://noticias.r7.com/brasil/noticias/entenda-o-escandalo-do-mensalao-20101007.html>.

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Devido à gravidade das acusações de Roberto Jefferson a CPMI dos Correios praticamente deixou de lado a investigação da corrupção nos Correios, que era o seu fato determinado. Isso fez com que a Câmara e o Senado chegassem a um acordo para a instalação de outra CPMI com o fim de investigar o escândalo do mensalão, desafogando assim a CPMI dos Correios.

2.3 CPMI da Compra de Votos (Mensalão)

2.3.1 Contexto Histórico

O Escândalo do Mensalão está intimamente ligado ao Escândalo dos Correios, tratado no item anterior. Ao ter o seu envolvimento nos esquemas de corrupção nos Correios questionado o deputado Roberto Jefferson concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo em que, pela primeira vez, foi mencionado o Mensalão.

O escândalo do mensalão não pode ser compreendido como isolado pois, assim como o escândalo dos correios teve como fim angariar fundos de arrecadação financeira para o Partido dos Trabalhadores. Cabe ressaltar que inicialmente, a investigação acerca do mensalão foi feita pela CPMI dos Correios, somente depois é que foi criada a CPMI da Compra de Votos.

A denúncia feita por Roberto Jefferson afirmava que parlamentares da chamada base aliada, recebiam do Partido dos Trabalhadores recursos financeiros, em troca de seu apoio ao governo federal. Ainda na denúncia, Roberto Jefferson acusou José Dirceu, que há época era Ministro da Casa Civil, de ser o mentor do esquema.

Há época das denúncias outros parlamentares também se manifestaram no sentido que boatos acerca da compra de votos já circulavam no Congresso a mais tempo, mas ninguém teria coragem de fazer nada. Nesse sentido temos o

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comentário da jornalista Lúcia Hippólito, contido no Relatório Final da CPMI dos Correios (CONGRESSO, 2005, p. 746):

Na Câmara dos Deputados, volta e meia circulam histórias sobre deputados que teriam vendido o voto por tantos mil reais. Ninguém conta a história até o fim, ninguém apura direito. As coisas ficam por isso mesmo, mas vai se cristalizando a imagem do Congresso como um mercado persa, onde tudo se compra e tudo se vende. Desde a semana passada, circulam boatos de que vários deputados teriam recebido dinheiro para engordar bancadas partidárias na Câmara. Por conta do troca-troca desenfreado que aconteceu nos últimos dias do ao legislativo, criou-se até a figura do deputado pré-pago. (grifo nosso)

Devido à gravidade das denúncias foi instaura da Comissão Parlamentar de Inquérito, com a finalidade de averiguar as irregularidades na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

2.3.2. Investigações

O presente capítulo consiste de uma síntese feita com base na leitura do relatório parcial da CPMI da Compra de Votos de 2005, que teve como relator o Deputado Ibrahim Abi-Ackel.

O início das investigações se deu com foco nos pagamentos e recebimentos feitos pelas empresas de Marcos Valério (em especial a SMP&B e a DNA), pois, segundo as denúncias ele era o responsável por “movimentar” o dinheiro usado para as compras de votos, daí o termo valerioduto.

Também houve um foco em contratos públicos e licitações, apontadas pelo Tribunal de Contas da União – TCU como contendo irregularidades ou impropriedades, dentre elas cabe destacar a Empresa de Correios e Telégrafos – ECT, o Banco do Brasil e a Petrobras. Nesse sentido temos o apontamento feito pelo Ministro Relator Ibrahim Abi-Ackel (CONGRESSO, 2005, p. 29):

Não obstante a realização, constante e reiterada, de saques na boca do caixa pelas empresas em que atuava o Sr. Marcos Valério, ou por intermédio de prepostos por ele indicados, com o fito de fazer chegar

(36)

os recursos parlamentares, direta ou indiretamente – o que pressupõe e confirma o transito de dinheiro em espécie (as malas de dinheiro) –, há que se investigar, no que diz respeito à geração de recursos neste capítulo examinada – geração de recursos por meio de contratações públicas – os fluxos de entradas e saídas de recursos pela via de saques ou de transferências para outros beneficiários do esquema em apuração, diretamente ou com o auxílio de outros operadores.

Para conseguir explicar o nexo causal entre a geração ilícita desses recursos e a sua utilização para a compra de votos a CPMI fez uso de seus poderes de investigação, quebrando sigilos bancários, telefônicos e fiscais das trinta e duas pessoas investigadas por esta CPMI.

2.3.3 Conclusões e Resultados

O escândalo fez com que diversos deputados fossem julgados pelo Conselho de Ética da Câmara Federal, onde foram feitos pedidos de cassação. No entanto, apenas José Dirceu e Roberto Jefferson perderam seus mandatos, ficando inelegíveis até 2015 (10 anos).

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito entendeu como ilícitas as

movimentações financeiras feitas pelas empresas de Marcos Valério

(CONGRESSO, 2005, p. 63-64):

A SMP&B e a DNA, em conjunto, não possuíam patrimônio nem contas bancárias nem reservas financeiras para garantirem os empréstimos, à semelhança dos avalistas, ainda menos abonados. O Sr. Marcos Valério Fernandes de Souza nem sequer mantinha, em seu nome, conta bancária em quaisquer desses bancos [...] Não há nada mais estranho, nestes empréstimos, à solenidade da operação bancária, nada que tão enfaticamente a desclassifique. As citadas operações e os seu consequentes processos de pagamento, bem como seus meios de entrega, tudo, enfim, que a eles se prende, tem indubitável caráter de marginalidade, por si só demonstrativo de sua ilicitude. (grifos do autor)

Segundo Marco Antônio Villa (2012), em abril de 2006, quarenta nomes foram denunciados pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato, evasão de divisas, formação de

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quadrilha e corrupção ativa. Praticamente todas as denúncias foram recebidas pelo STF.

Dos quarenta nomes indicados dois faleceram, de modo que trinta e oito são os réus da Ação Penal 470, o julgamento pelo STF teve início em agosto de 2012. Vinte e cinco dos réus foram condenados, no entanto doze deverão ter novo julgamento, em virtude do acolhimento dos embargos infringentes pelo STF.

2.4 CPI da Kiss

2.4.1 Contexto Histórico

No dia 27 de janeiro de 2013 foi realizada uma festa na boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria.

Segundo matéria do Jornal Zero Hora (Zero Hora, Tragédia em Santa Maria)6, a festa contava com duas bandas, a Pimenta e Seus Comparsas e a

Gurizada Fandangueira. A apresentação da banda de abertura (Pimenta e Seus Comparsas) ocorreu normalmente, sem qualquer imprevisto.

No entanto, por volta das 3h e 20min, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, um sinalizador de uso externo foi acendido no palco, pelo vocalista da banda. O sinalizador soltou faíscas que atingiram o teto da boate, que era coberto com espuma de isolamento acústico, sem qualquer proteção contra fogo. Seguranças e integrantes da banda tentaram conter as chamas com extintores de incêndio, sem sucesso.

6 Disponível em: < http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/pagina/tragedia-em-santa-maria.html>. Acesso em

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Devido a falhas na comunicação, os seguranças que estavam na saída não foram avisados do incêndio e por isso impediram as pessoas de saírem, por acreditar que estava tentando sair sem pagar as comandas.

A boate tinha capacidade para 691 pessoas, no entanto, havia entre 1.000 e 1.500 pessoas na festa na noite do incêndio. Havia apenas uma saída que também servia de entrada, e nenhuma saída de emergência. Muitas vítimas forçaram a entrada pelas portas dos banheiros, pensando que se tratavam de portas de emergência.

Esse fatídico incidente resultou na morte de 242 pessoas e em 623 feridos. É considerada a quinta maior tragédia na história do Brasil, a maior do Rio Grande do Sul, a de maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil e o terceiro maior desastre em casas noturnas do mundo.

2.4.2 Investigações

O presente capítulo consiste de uma síntese feita com base na leitura do relatório final da CPI da Kiss de 2013, que teve como relatora a Vereadora Sandra Rebelato.

Em 13 de fevereiro de 2013 a Assembleia Legislativa de Santa Maria instaurou duas Comissões Parlamentares de Inquérito. A primeira comissão tinha como objetivo apurar as informações sobre a responsabilização dos envolvidos. A segunda buscava analisar as legislações estaduais e municipais no tocante à prevenção de incêndios.

Familiares das vítimas ocuparam a Câmara de Vereadores após surgirem gravações de conversas telefônicas entre dois vereadores da Comissão Parlamentar de Inquérito. Em referidas conversas os vereadores demonstravam receio de que as investigações chegassem ao Secretário Municipal de Relações de Governo e Comunicação e atingisse o Prefeito.

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A ocupação durou quase uma semana, com cerca de 70 pessoas lotando a Câmara de Vereadores de Santa Maria. A ocupação só chegou ao fim devido a exoneração do Secretário Municipal e o presidente da Câmara se comprometendo a afastar da Comissão Parlamentar de Inquérito os vereadores envolvidos na gravação telefônica.

2.4.3 Conclusões e Resultados

O inquérito policial e o processo criminal estiveram em tramitação concomitantemente com as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito. Portanto, a Comissão serviu basicamente para auxiliar ao Poder Judiciário, complementarmente.

O relatório final da Comissão tratou da responsabilização das diversas pessoas e entidades envolvidas na tragédia, especialmente no tocante aos empresários e músicos, ao Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de Santa Maria.

A Comissão Parlamentar foi bastante enfática na responsabilização dos empresários e da banda, conforme trecho a seguir (Câmara de Vereadores de Santa Maria, 2013, p.26):

A irrazoabilidade de participantes da banda Gurizada Fandangueira (emprego de material incandescente em lugar impróprio), somam-se procedimentos totalmente inadequados da parte de empresários, que macularam o bom senso apostando na sorte.

O Corpo de Bombeiros também foi responsabilizado pela Comissão, pela concessão do Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) sendo que a boate não atendia aos requisitos mínimos, como por exemplo, saídas de emergência. Nesse sentido temos o trecho abaixo (Câmara de Vereadores de Santa Maria, 2013, p. 54):

A existência do Inquérito Civil Militar, que deverá ter a sua competente tramitação junto ao Ministério Público e a Justiça Militar, bem assim a inaptidão jurisdicional desta CPI impõem que esta

(40)

Comissão se mantenha na sua competência restrita do encaminhamento deste Relatório aos Poderes Executivo e Legislativo Estaduais para deliberarem sobre as medidas que entenderem cabíveis.

Quanto à Prefeitura de Santa Maria a Comissão foi mais amena em suas críticas, pois entendeu que o alvará de localização estava de acordo com todas as exigências legais. No entanto, admitiu que as exigências legais municipais e estaduais são muito brandas, sugerindo uma reforma administrativa na prefeitura, com o fim de melhorar o controle sobre os estabelecimentos da cidade.

2.5 Considerações Finais

Após a análise das investigações parlamentares acima fica claro que as Comissões Parlamentares de Inquérito cumprem sim o que se propõem. É uma concepção errada da mídia e da população que dá a impressão de que investigações desse tipo sempre acabam em “pizza” e nunca condenam ninguém.

É claro que ninguém será condenado por uma Comissão Parlamentar, essa não é, e nunca foi uma de suas funções. As Comissões buscam apenas, como o seu nome indica, investigar, averiguar os fatos.

É uma investigação que corre muitas vezes em paralelo com as investigações de outros Poderes, e serve muitas vezes como fonte subsidiária para um eventual julgamento.

Nesse sentido temos o entendimento de Marcos André Moraes (2005, p. 9):

Diante de tantas irregularidades, é perfeitamente natural que a credibilidade da classe política e das próprias instituições democráticas fique abalada. Assim, a mesma democracia que permite aos brasileiros tomarem conhecimento do que ocorre nas entranhas do poder, também oferece instrumentos para a correção destas deformações, e as CPIs são um instrumento de grande valia nesta batalha, num regime de liberdades é exatamente este instrumento jurídico constitucional que oferece os melhores mecanismos para a correção de imoralidades.

(41)

As investigações parlamentares representam um importante instrumento democrático. O instituto das Comissões Parlamentares de Inquérito se apresenta como uma importante ferramenta no aperfeiçoamento da democracia e da moralidade na condução de assuntos públicos, demonstra que as instituições funcionam e podem purificar-se.

(42)

CONCLUSÃO

As Comissões Parlamentares têm um componente político inerente ao processo democrático, porém como são instrumentos fundamentais da democracia não podem ser banalizadas. A importância das Comissões Parlamentares de Inquérito reside no seu poder de fiscalização e investigação sobre a administração e o governo, visando defender os interesses da sociedade e auxiliar a função legislativa.

A Comissão Parlamentar de Inquérito tem a função de fiscalizar os atos do governo com a finalidade do aprimoramento da democracia e preservação do Estado de Direito. O aprimoramento da democracia se dá visto que se trata de instrumento da minoria parlamentar, de modo a estimular o jogo político. Já a preservação do Estado de Direito deriva da própria investigação, que estimula o debate e a própria ação governamental.

Em sua missão de investigar, a Comissão Parlamentar deve efetuar um fato determinado e respeitar certos limites, que são a independência entre os Poderes, a forma federativa de estado e os direitos e garantias fundamentais. Não deve invadir a esfera dos tribunais, nem tomar a forma de um inquérito policial, mas servir de instrumento de informação da opinião pública e corresponder aos anseios da coletividade, na defesa dos interesses desta.

O texto constitucional de 1988 conferiu às Comissões Parlamentares de Inquérito um papel fundamental na fiscalização da administração e na defesa dos

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interesses da coletividade. Sua importância foi resgatada em relação ao autoritarismo da ordem constitucional anterior, sendo esta, talvez, a fase de maior desenvolvimento em toda a história do Brasil, sendo cada vez mais frequente e destacada a sua atuação no cenário político nacional.

As investigações parlamentares tem natureza inquisitiva, de modo que os membros do Poder Legislativo investigam e colhem provas para, se for o caso, encaminhar suas conclusões ao Ministério Público e este, como órgão acusador, promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

As Comissões Parlamentares de Inquérito representam hoje, no Brasil, um poderoso meio de controle e de fiscalização da administração pública, com as funções de ouvidoria, porta-voz e fiscal, representando os interesses do povo e defendendo seus direitos. As Comissões Parlamentares permitem ao povo o exercício do poder através de seus representantes, participando de forma direta e indireta no controle do Poder Público e influenciando suas decisões administrativas e políticas.

Ao analisar-se algumas das mais importantes investigações parlamentares da história recente do país é possível chegarmos à conclusão de que, de modo geral, as Comissões Parlamentares de Inquérito cumprem o que se propõem a fazer, ou seja, quando há interesse da coletividade sobre determinada matéria que diga respeito a moralidade dos administradores públicos elas atuam de modo a apontar e, se for o caso, sanar tais irregularidades.

Conclui-se que as Comissões Parlamentares de Inquérito constituem um importantíssimo instrumento de combate à corrupção. Pois se apresentam como o meio mais adequado de fazê-lo, tendo a sua disposição os poderes investigatórios e de instrução necessários. A inclusão das investigações parlamentares no texto constitucional representa um avanço gigantesco no que tange a preservação moralidade administrativa.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Código de Processo Penal. Colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

BRASIL, Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

CÂMARA. Câmara de Deputados. Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a “Investigar o destino dado aos recursos angariados com o recolhimento da Contribuição sobre Movimentação Financeira” (CPI – CPMF), de 11 de dezembro de

2002. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/parlamentar-de-inquerito/51-legislatura/cpicpmf/relatoriofinal.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2013.

CÂMARA. Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria – RS. Comissão Parlamentar de Inquérito, de 03 de julho de 2013. Disponível em: <http://www.camara-sm.rs.gov.br/arquivos/Relatorio_Final.pdf>. Acesso em: 27 set. 2013.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998.

CAPEZ, Fernando. Processo Penal Simplificado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Referências

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