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Contribuições para segurança na utilização da energia elétrica

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Academic year: 2021

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WILSON ROGÉRIO CARNEIRO

CONTRIBUIÇÕES PARA SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA

CAMPINAS 2020

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WILSON ROGÉRIO CARNEIRO

CONTRIBUIÇÕES PARA SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA

Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Elétrica, na área de Energia Elétrica

Orientador: Prof. Dr. GILMAR BARRETO

Este trabalho corresponde à versão final da dissertação defendida pelo aluno Wilson Rogério Carneiro, orientada pelo Prof. Dr. Gilmar Barreto.

Assinatura do Orientador

CAMPINAS 2020

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura

Rose Meire da Silva - CRB 8/5974 Carneiro, Wilson Rogério, 1986-

C215c Contribuições para segurança na utilização da energia elétrica / Wilson Rogério Carneiro. – Campinas, SP : [s.n.], 2020.

Orientador: Gilmar Barreto.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.

1. Eletricidade - Medidas de segurança. 2. Choque elétrico. 3. Acidentes. 4. Engenharia elétrica - Estudo e ensino. I. Barreto, Gilmar, 1958-. II.

Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Contributions to safety in the use of eletricity Palavras-chave em inglês:

Electricity - Safety measures Electric shock

Accidents

Electricity Culture

Electrical engineering - Study and teaching Área de concentração: Energia Elétrica Titulação: Mestre em Engenharia Elétrica Banca examinadora:

Gilmar Barreto [Orientador] Madson Cortes de Almeida José Tarcísio Franco de Camargo Data de defesa: 19-06-2020

Programa de Pós-Graduação: Engenharia Elétrica Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-3554-9744 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/8728730836979359

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COMISSÃO JULGADORA – DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Candidato: Wilson Rogério Carneiro RA: 107477 Data da Defesa: 19 de junhode 2020

Título da Tese: “Contribuições para segurança na utilização da energia elétrica”

Prof. Dr. Gilmar Barreto(Presidente) Prof. Dr. Madson Cortes de Almeida Prof. Dr. José Tarcísio Franco de Camargo

A ata de defesa, com as respectivas assinaturas dos membros da Comissão Julgadora, encontra-se no SIGA (Sistema de Fluxo de Disencontra-sertação/Teencontra-se) e na Secretaria de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente ao meu orientador, Prof. Gilmar Barreto, que não mediu esforços para me apoiar na conclusão desse trabalho, seja nas revisões que prontamente fez a cada envio ou no incentivo em diversos trabalhos que publicamos juntos. Registro aqui o meu reconhecimento a esse grande professor.

Agradeço também ao SENAI Jandira por todo apoio em viabilizar a minha participação nos eventos demandados por esse trabalho.

Em especial quero deixar meu agradecimento a algumas pessoas que foram fundamentais durante todo esse trajeto, minha mãe Dona Maria meu norte de valores humanos, minha amiga Cibele que por anos me motivou a concluir a pesquisa, minha amiga Gabriela Pardim pelo apoio e revisão no trabalho, meus irmãos Carlos, Paulo, Luis, Clóvis, Roberta Rosângela, Ângela e Mazza que sempre me incentivaram a progredir.

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“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha. ”

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RESUMO

Esse trabalho traz contribuições para a segurança em eletricidade, para os profissionais que já atuam na área, os futuros profissionais ainda em processo de formação como alunos em Instituições de Ensino e para a população em geral como usuários dos benefícios da eletricidade. Um tema que é um desafio para as instituições de ensino, governo e empresas envolvidas, que enfrentam a desvalorização do assunto por parte dos indivíduos expostos a estes riscos, refletindo em índices elevados de acidentes no Brasil.

Nele é realizado uma análise sob três pontos de vistas acerca do desenvolvimento da cultura da segurança em eletricidade, sendo o primeiro avaliando o desenvolvimento de competências profissionais relacionadas à segurança em eletricidade no ponto de vista das instituições de ensino, seja na formação profissional técnica ou no ensino superior. O segundo avaliando o desenvolvimento de competências profissionais relacionadas à segurança em eletricidade nos profissionais que já atuam na área e o terceiro uma avaliação acerca da conscientização da população em geral que é usuária desse recurso quanto aos riscos relacionados a eletricidade.

A partir desta análise, propõe-se métodos e programas com potencial para mitigar os índices de acidentes envolvendo eletricidade. Inclusive na produção de uma bancada didática, concebida como estratégia de ensino para demonstrar as causas e consequências dos principais acidentes envolvendo eletricidade. Esta bancada é de fácil construção e concentra em pouco espaço físico toda uma instalação elétrica residencial e pode ser utilizada nos cursos de engenharia em disciplinas direcionadas a instalações elétricas.

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ABSTRACT

This work brings contributions to the safety of electricity, for professionals who already work in the area, for professionals still in the process of training as students in Educational Institutions and for the population in general, as users of the benefits of electricity. A topic that is a challenge for the educational institutions, government and companies involved, which face the devaluation of the subject by individuals exposed to these risks, reflected in the accident rates in Brazil.

An analysis is carried out under three points of view on the development of the safety culture in electricity, being the first to assess the development of professional skills related to safety in electricity from the point of view of educational institutions, whether in technical professional training or in University education. The second evaluates the development of professional skills related to electricity safety in professionals who already work in the area and the third evaluation on the awareness of the general population that is used by users regarding risks related to electricity.

From this analysis, use methods and programs with the potential to mitigate the accident rates caused by electricity. Including the production of a didactic bench, conceived as a teaching strategy to demonstrate the causes and consequences of the main accidents involving electricity. This operation is easy to build and focuses on little physical space, an entire residential electrical installation and can be used in engineering courses in disciplines aimed at electrical installations.

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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - Gráfico de acidentes de trabalho no Brasil. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB. ... 15

Figura 2 - Estoque de empregos formais no Brasil. Fonte: CAGED ... 16

Figura 3 - Estoque de empregos formais no período de 2015 a 2017. Fonte: CAGED ... 16

Figura 4 - Quantidade de óbitos por acidentes de trabalho por ano no Brasil. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB ... 19

Figura 5 - Gráfico de acidentes envolvendo eletricidade. Fonte: ABRACOPEL ... 22

Figura 6 Acidentes de Origem Elétrica - Real e Estimado em 5X. Fonte: ABRACOPEL ... 24

Figura 7 - Incêndio atinge o CT Ninho do Urubu, alojamento do Flamengo localizado na Vargem Grande, zona oeste do Rio de Janeiro - 08/02/2019 Reginaldo Pimenta/Raw Image/Folhapress . 25 Figura 8 - Incêndio matou ao menos 11 pessoas na noite desta quinta-feira. Perícia começou nesta sexta e continua no sábado. Policiais agora querem saber se houve falha mecânica ou humana na operação do gerador Foto: PILAR OLIVARES / REUTERS ... 28

Figura 9 - Matheus Jasson morreu após levar um choque — Foto: Reprodução/Facebook ... 29

Figura 10 - Unidade Curricular de Instalações Elétricas Prediais. Fonte: Plano de Curso - Técnico de Eletroeletrônica adotado no SENAI. ... 37

Figura 11 - Diferentes Capacidades Exigidas no Modelo taylorista-fordista e no Modelo toyotista. Fonte: SENAI,2013. ... 38

Figura 12 - Composição do Comitê Técnico (Fonte própria) ... 41

Figura 13 - Acidentes fatais ocasionados pelo contato com a rede de energia em 7 conjuntos de análise. Fonte: EQUATORIAL Alagoas ... 70

Figura 14 - Histórico de Acidentes ocasionados pelo contato com a rede de energia. Fonte: EQUATORIAL Alagoas ... 71

Figura 15 – Bancada didática para simulação de instalação elétrica residencial. Fonte própria. ... 74

Figura 16 - Distribuição dos tipos de acidentes Elétricos. Fonte: ABRACOPEL ... 74

Figura 17 – Bancada didática montada para ensaio de curto-circuito. Fonte: Própria. ... 76

Figura 18 - Detalhe da madeira com fio de níquel cromo. Fonte Própria. ... 76

Figura 19 - Imagem térmica do quadro de disjuntores. Fonte Própria. ... 76

Figura 20 - Imagem térmica do curto-circuito. Fonte: Própria. ... 76

Figura 21 - Imagem térmica de superaquecimento na carga. Fonte: Própria ... 77

Figura 22 - Imagem térmica de superaquecimento no quadro geral. Fonte: Própria ... 77

Figura 23 - Ensaio de sobrecarga. Fonte: Própria ... 77

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Figura 25 - Gráfico efeito da corrente elétrica no corpo humano tempo x intensidade. Fonte:

SIEMENS, 2005... 79

Figura 26 - Caminho da corrente elétrica no corpo humano. Fonte: https://www.junglescoutsgoias.com/choque-eletrico ... 79

Figura 27 - Tabela de resistência elétrica do corpo humano - NBR 5410 ... 81

Figura 28 - Classificação do contato das pessoas com o potencial de terra NBR 5410 ... 82

Figura 29 - Tabela de Classificação de Situações NBR 5410 ... 83

Figura 30 - Valores da tensão de contato limite UL (V) NBR 5410 ... 84

Figura 31 - Circuito com DR. Fonte: Própria ... 85

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Comparativo taxa de empregos x taxa de acidentes de trabalho ... 17 Tabela 2 -Quantidade de acidentes de trabalho por ano, no Brasil 2013-2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB. ... 18 Tabela 3 - Quantidade de acidentes de trabalho, por situação do registro e motivo, no Brasil 2013-2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB. ... 18 Tabela 4 - Quantidade de acidentes do trabalho típico com CAT registrada por CBO no Brasil em 2018, somente as 6 que possuem maiores índices. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB. ... 20 Tabela 5 - Quantidade de acidentes do trabalho, por situação de registro e motivo, segundo os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) no Brasil – 2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB. ... 21 Tabela 6 - Óbitos em função da Dengue. Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) - março de 2020 ... 23

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 INCÊNDIO NO CENTRO DE TREINAMENTO DO FLAMENGO DEIXA 10 MORTOS E 3 FERIDOS ... 25

1.2 CELULARES JÁ MATARAM 23 NO BRASIL ... 26

1.3 PERÍCIA CONFIRMA QUE INCÊNDIO NO BADIM COMEÇOU NO GERADOR DO HOSPITAL. ... 27

1.4 ADOLESCENTE MORRE ELETROCUTADO EM ACAMPAMENTO EVANGÉLICO EM HORTOLÂNDIA. ... 28

1.5 CRIANÇA DE 3 ANOS MORRE APÓS CHOQUE E BEBÊ FICA FERIDO NO RECIFE ... 29

2 O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA ... 33

2.1 A ESTRUTURAÇÃO DE CURSOS E A RELAÇÃO COM O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA ... 33

2.2 A CONCEPÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA ... 37

2.3 O PERFIL PROFISSIONAL DO EGRESSO DO CURSO DE ENGENHARIA ... 41

2.4 A ESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS ... 42

2.5 O PLANEJAMENTO DO ENSINO ... 43

2.6 A SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM DESAFIADORA ... 44

2.7 ESTRATÉGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM ... 46

2.8 A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ALUNO E A “NOTA” ... 46

2.9 RELACIONANDO COM O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE ... 47

2.9.1 CULTURA DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA ... 49

2.9.2 RESULTADO DA PERCEPÇÃO DO INSTRUTOR ... 50

3 O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFISSIONAIS DA ÁREA ... 62

(13)

3.2 HISTÓRICO DA NR10 ... 64

3.3 O CURSO DE NR-10 ... 65

3.4 ANÁLISE DO ENSINO DA SEGURANÇA ATRAVÉS DO CURSO DE NR10 ... 67

3.5 METODOLOGIA DE ENSINO ... 68

4 A CULTURA DE SEGURANÇA EM ELETRICIDADE PARA A POPULAÇÃO ... 70

4.1 MEDIDAS EXISTENTES ... 72

4.1.1 CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ... 72

4.1.2 ASSOCIAÇÕES ... 72

4.2 BANCADA DIDÁTICA PARA SIMULAÇÃO DE ACIDENTES COM ELETRICIDADE ... 73

4.2.1 ENSAIO 1 – CURTO-CIRCUITO... 75

4.2.2 ENSAIO 2 – SOBRECARGA ... 76

4.2.3 ENSAIO 3 – CHOQUE ELÉTRICO ... 78

5 CONCLUSÕES ... 87

5.1 OPORTUNIDADES DE PESQUISAS FUTURAS ... 88

6 REFERÊNCIAS ... 90

7 ANEXO A – PESQUISA COM PROFESSORES ... 94

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TRABALHOS PUBLICADOS

Foram publicados diversos trabalhos sobre o assunto durante o período de pesquisa, o que possibilitou ampliar a discussão sobre o tema e enriquecer o conteúdo do trabalho. Em 2017, foi publicado um estudo sobre a “A Importância do Ensino da Segurança do Trabalho em Eletricidade nos Cursos de Formação Profissional e Acadêmica” no XLV Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia em Joinville, SC, inclusive com a produção de um vídeo sobre a pesquisa (veja: https://www.youtube.com/watch?v=joSxT58Utt8). Ainda em 2017, participamos do 9º SENSE Seminário Nacional de Segurança e Saúde no Setor Elétrico Brasileiro com propósito de entender os impactos do e-Social na segurança em eletricidade; no mesmo ano publicamos outro estudo a partir de apontamentos realizados no COBENGE, tratando do tema “A Metodologia de Ensino com Base em Competências no Desenvolvimento de Capacidades Técnicas de Segurança em Eletricidade”, apresentado uma palestra para todos os presentes no VIII IEEE ESW-Brasil 2017 - A Engenharia Elétrica na Segurança do Trabalho, que ocorreu em Itu-SP. Em 2018 “O Ensino Da Engenharia Com Base Em Competências” foi publicado no XLVI Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia em Salvador-BA. Ainda em 2018 foi publicado um artigo da Revista Lumière com o tema “O Ensino da Segurança do Trabalho para Profissionais da Área de Eletricidade”, ano também em que os autores concederam uma entrevista para a mesma revista tratando sobre o tema. Por fim em 2019, o tema “Bancada Didática para Simulação de Acidentes com Eletricidade” foi apresentado no XLVIII Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia em Fortaleza-CE fechando o ciclo de análise das 3 dimensões de estudo.

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1 INTRODUÇÃO

Entre os anos de 2015 e 2017, figura 1, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social, foram contabilizados um milhão setecentos e cinquenta e sete mil, quatrocentos e dez (1.757.410) acidentes de trabalho no Brasil, incluindo os acidentes típicos no ambiente de trabalho, os acidentes de trajeto e as doenças do trabalho. (CARNEIRO & BARRETO, 2019)

Figura 1 - Gráfico de acidentes de trabalho no Brasil. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB.

No mesmo período houve também redução no estoque de empregos formais no País, influenciando na redução do índice de acidentes, conforme é possível identificar nos gráficos abaixo.

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Figura 2 - Estoque de empregos formais no Brasil. Fonte: CAGED

(17)

Analisando os dados e comparando a redução de acidentes de trabalho no País com o indicador de estoque de empregos, no período de 2015 a 2017, é possível relacionar que apesar de haver redução no número de empregos formais, a redução da taxa de acidentes de trabalho é superior a redução da taxa de estoque de empregos, inclusive havendo redução significativa em 2017 quando comparado a 2016. Ou seja, segundo esse indicador, houve redução no número de acidentes de trabalho no período, mesmo considerando a redução de empregos formais.

Tabela 1 - Comparativo taxa de empregos x taxa de acidentes de trabalho

2016 em relação a 2015 2017 em relação a 2016

Taxa de empregos formais -3,47% -0,13%

Taxa de acidentes de trabalho -5,91% -6,19%

Para o Ministério da Saúde, a prevenção ao acidente de trabalho é um assunto que deve ser tratado com muita importância. "Acidentes de trabalho impõe um custo alto à Saúde e à Previdência, já que muitos desses trabalhadores não conseguem retomar a atividade produtiva”, (CARNEIRO & BARRETO 2017)

Segundo o artigo 19 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991:

“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou de empregador doméstico, ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou permanente”.

Pode causar desde um simples afastamento, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho, até mesmo a morte do segurado.

Para o Ministério do Trabalho, "A consolidação de uma cultura de prevenção depende de cada um de nós. É essencial que o cidadão brasileiro perceba que, quando acontece um acidente do trabalho, toda a sociedade é impactada". "Ocorrem no Brasil, em média, mais de 2.800 mortes de trabalhadores por ano, oito por dia, uma a cada três horas. Cada acidente de trabalho que acontece é catastrófico em termos individuais, familiares e sociais", (BONDE, 2017).

(18)

Informações sobre acidentes de trabalho são prestadas pelos estabelecimentos e, quando confrontadas com as obtidas pelos órgãos competentes, apresentam uma subestimação que pode ser explicada pela omissão, intencional ou não, dos declarantes. Apesar desta fragilidade, tais informações são utilizadas como balizadoras dos dados oficiais que tratam sobre a segurança e saúde do trabalhador (VERAS, PINTO, & SANTOS, 2011). Essa afirmação considera os dados disponibilizados pelo Governo Federal por meio do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho, que toma como fonte os dados das CAT’s (Comunicação de Acidente de Trabalho) registradas pelas empresas no Brasil. Essa subnotificação dos acidentes de trabalho prejudica o mapeamento da real situação de acidentes no País.

Aqui cabe observar que existe subnotificação de acidentes em duas situações: dos acidentes ocorridos com trabalhadores no setor informal que não são reportados, e dos acidentes com trabalhadores do setor formal que também não são informados por meio da CAT. Tratamos aqui da segunda situação, uma vez que esta ocorre no universo dos trabalhadores que têm direito aos benefícios previdenciários. (VERAS, PINTO, & SANTOS, 2011)

Comparando o índice de acidentes de trabalho no ano de 2013 com o ano de 2018 houve redução de 148.713 acidentes no ano, aproximadamente 20,5%, um resultado significativo.

Tabela 2 -Quantidade de acidentes de trabalho por ano, no Brasil 2013-2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB.

2013 2014 2015 2016 2017 2018

725.664 712.302 612.632 585.626 557.626 576.951

Tabela 3 - Quantidade de acidentes de trabalho, por situação do registro e motivo, no Brasil 2013-2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB.

COM CAT REGISTRADA SEM CAT

MOTIVO REGISTRADA

TÍPICO TRAJETO DOENÇA

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018 434. 3 39 430. 4 54 383. 6 63 355. 5 60 341. 7 00 360. 3 20 112. 1 83 116. 2 30 106. 0 39 108. 5 52 101. 1 56 107. 7 08 17. 18 2 17. 59 9 13. 24 0 13. 92 7 10. 98 3 9. 387 161. 9 60 148. 0 19 109. 6 90 107. 5 87 103. 7 87 99. 53 6

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No mesmo período houve também redução no número de óbitos, como observado abaixo.

A tabela abaixo apresenta dados de acidentes de trabalho por família da CBO, não é possível analisar quais são realmente as funções correspondentes em função desse agrupamento, há diversos profissionais que podem ou não estar ligados à área de eletricidade na família dos trabalhadores dos serviços e mesmo que sejam profissionais da área, o acidente registrado não necessariamente está relacionado com a eletricidade, mas torna-se um importante indicador.

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Tabela 4 - Quantidade de acidentes do trabalho típico com CAT registrada por CBO no Brasil em 2018, somente as 6 que possuem maiores índices. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB.

CBO ACIDENTES

Trabalhadores dos serviços 87.662

Trabalhadores de funções transversais 62.607

Escriturários 41.988

Técnicos de nível médio das ciências biológicas, bioquímicas, da saúde e afins 40.208 Trabalhadores da transformação de metais e de compósitos 27.974 Trabalhadores da Indústria extrativa e da construção civil 26.331

Os acidentes de trabalho são registrados também com o código CID-10 (Classificação Internacional de Doenças CID-10), portanto, é possível categorizar os acidentes por CID e identificar por qual doença foi realizado o registro, o CID com maior número de acidentes

CID 10

QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO

TOT

AL

COM CAT REGISTRADA

SEM CA T REG IS TRA DA MOTIVO TÍ PIC O TRA JET O DOEN ÇA TOTAL 576.951 360.320 107.708 9.387 99.536

S61 - Ferimento do punho e da mão 55.084 52.033 1.388 59 1.604 S62 - Fratura ao nível do punho e da mão 35.339 23.201 5.237 78 6.823 S93 – Luxação, entorse e distensão das Articulações

e dos ligamentos ao nível do tornozelo e do pé 28.025 17.538 8.565 44 1.878 S60 - Traumatismo superficial do punho e da mão 26.199 22.361 3.267 39 532

M54 – Dorsalgia 21.335 7.987 1.690 608 11.050

S82 - Fratura da perna, incluindo tornozelo 19.604 6.240 7.840 29 5.495

S92 - Fratura do pé 18.612 9.663 4.692 35 4.222

S80 – Traumatismo superficial da perna 16.742 9.657 6.464 39 582 S90 - Traumatismo superficial do tornozelo e pé 15.515 11.479 3.590 14 432

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registrado é o S61 referente a ferimento do punho e da mão com 55.084 acidentes em 2018 e o CID referente a exposição a corrente elétrica não especificada (W87) é de 523 no mesmo ano.

Tabela 5 - Quantidade de acidentes do trabalho, por situação de registro e motivo, segundo os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) no Brasil – 2018. Fonte: DATAPREV, CAT, SUB.

Isso leva a algumas hipóteses, a primeira é de que o número de acidentes envolvendo eletricidade é de fato reduzido quando comparado aos demais. A segunda é a subnotificação dos casos de acidentes envolvendo eletricidade que é um fato já apontado neste tópico e a terceira possibilidade é a falta de compreensão dos estabelecimentos para o registro adequado da CAT “mascarando” assim o real indicador de acidentes envolvendo eletricidade.

Ocorre que a metodologia de coleta dessas informações possui diversas deficiências:  Omissão no registro dos acidentes de trabalho por parte dos estabelecimentos;  Registro incorreto da CID-10 referente ao acidente;

 O registro da CID-10 nem sempre permite identificar a origem do acidente, por exemplo: O trabalhador sofreu traumatismo craniano devido a um choque que recebeu sobre um andaime, caindo e batendo a cabeça, a CID-10 referente a esse acidente será registrada referente ao traumatismo craniano, entretanto a origem do acidente foi elétrica;

 Complexidade do registro da CAT, fragilizando a informação.

Agora, analisando os casos de acidentes envolvendo eletricidade, independentemente de estar relacionado ao trabalho, entre 2013 e 2019 houveram mais de nove mil (9.301) casos de acidentes envolvendo eletricidade, destas foram 4909 mortes, podendo essa quantidade ser até 5 vezes mais, ou seja, aproximadamente 45 mil casos de acidentes sendo 25 mil mortes, conforme figura abaixo. (ABRACOPEL, 2020)

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Observa-se nesse cenário que o índice de acidentes de origem elétrica aumentou com o passar dos anos.

Para ter um parâmetro da relevância do assunto, o índice de mortes causadas por acidentes de origem elétrica é muito próximo aquelas causadas pela dengue por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde organizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde por meio do Sistema de Informações sobre mortalidade (SIM) se somar o índice de óbitos entre 2013 e 2017 onde a causa registrada foi com o CID-10 relacionado a dengue totaliza-se 3093 mortes e em função de acidentes de origem elétrica segundo a ABRACOPEL no mesmo período são 3367 óbitos, ou seja, no mesmo período houve um índice maior de morte por acidentes de origem elétrica do que em função da dengue.

Impende destacar que, segundo a ABRACOPEL, o índice de acidentes de origem elétrica pode ainda ser até 5 vezes maior.

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Tabela 6 - Óbitos em função da Dengue. Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) - março de 2020

Óbitos em função da Dengue

Causa classificada Número de óbitos

2013 2014 2015 2016 2017

A-90 - DENGUE (DENGUE CLÁSSICO) 330 245 570 554 112

A-91 - FEBRE HEMORRÁGICA DEVIDA AO VÍRUS DO DENGUE 312 213 360 299 98

TOTAL 642 458 930 853 210

A ABRACOPEL – Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade nasceu em 2005 por iniciativa de seu fundador o Engenheiro Eletricista Edson Martinho como missão “Promover mudança de cultura sobre a segurança com eletricidade, a partir da conscientização da população e da capacitação de profissionais”. (ABRACOPEL, 2017)

Em virtude de não haver uma fonte estatística de dados oficial de acidentes de origem elétrica a ABRACOPEL adotou uma metodologia diferenciada de coleta dessas informações.

A partir de 2008 a ABRACOPEL iniciou uma coleta própria de dados utilizando o Google que possui um aplicativo de busca de notícias por meio de palavras chaves que o usuário define. Assim, quando uma notícia que contenha estas palavras caia na rede, ela automaticamente entra no e-mail da ABRACOPEL por meio de um alerta. (ABRACOPEL, 2017)

Estas notícias são depuradas uma a uma: lidas e verificadas sua veracidade. A partir daí elas são segmentadas utilizando um documento de base de dados com os detalhes que a entidade considera importantes, como: data, estado, cidade, gênero, faixa etária, ocupação, tipo de acidente, fatal ou não, dentre outros. (ABRACOPEL, 2017)

A partir do ano de 2013, a ABRACOPEL percebeu que precisaria ampliar sua base de dados de consulta, ou seja, não apenas grandes sites, mas também as redes sociais, blogs, vlogs e todo tipo de mídias eletrônicas que cresciam exponencialmente. A partir deste ano, com este aumento na base de dados, os números, como previstos, também cresceram. (ABRACOPEL, 2017)

Mesmo assim, acredita-se que são um recorte da realidade brasileira. A ABRACOPEL estima que o número real esteja em torno de 3 a 5 vezes o total levantando, (ABRACOPEL, 2017).

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Na figura abaixo temos uma visão geral do número de mortes por acidentes de origem elétrica (choque elétrico, incêndios por curto circuito e descargas atmosféricas) em uma análise do Real e o Estimado em 5 vezes maior.

Figura 6 Acidentes de Origem Elétrica - Real e Estimado em 5X. Fonte: ABRACOPEL

Muitos acidentes não são relatados ou auferidos a outras causas que não a eletricidade. Exemplo: ao manusear a rede elétrica em um poste, a pessoa recebe a descarga elétrica e cai, vindo a falecer. Provavelmente, na certidão de óbito a causa será traumatismo craniano devido à queda e não a eletrocussão que gerou a queda. Ou ainda, tomando banho, a pessoa recebe uma descarga elétrica do chuveiro e tem uma parada cardíaca. Esta será a ‘causa mortis’ na certidão, porém a parada foi causada pelo choque elétrico.

Entretanto, é com esta realidade que trabalhamos. Enquanto o governo não abraçar esta causa e aplicar recursos para que tenhamos um levantamento estatístico muito mais apurado,

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estes números levantados com muita luta pela ABRACOPEL representam um recorte muito real do que acontece nas instalações elétricas de nosso país, (ABRACOPEL, 2017).

Em 2019, foram registrados 1.662 casos envolvendo choques, incêndios e descargas elétricas no país, desse total, tivemos: 909 acidentes com choques (55%): sendo 697 fatais; 656 incêndios (39%): sendo 74 mortes; 85 ocorreram por conta de raios (5%): sendo 50 mortes; e ainda 12 acidentes por sobrecarga, mas sem incêndio (ABRACOPEL, 2020).

Os impactos desses acidentes são grandes para as famílias, governo e empresas.

1.1 INCÊNDIO NO CENTRO DE TREINAMENTO DO FLAMENGO DEIXA 10 MORTOS E 3 FERIDOS Reportagem da revista veja em 11/02/2019:

https://veja.abril.com.br/brasil/o-que-se-sabe-sobre-o-incendio-no-ct-do-flamengo/

“Fogo atingiu alojamento de atletas das categorias de base do clube na madrugada desta sexta-feira. Dez morreram e três estão feridos”

Figura 7 - Incêndio atinge o CT Ninho do Urubu, alojamento do Flamengo localizado na Vargem Grande, zona oeste do Rio de Janeiro - 08/02/2019 Reginaldo Pimenta/Raw Image/Folhapress

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(...)

“Jogadores da base do Flamengo que sobreviveram relataram que, minutos antes de o fogo começar, houve uma explosão em um aparelho de ar-condicionado. Também segundo esses relatos, o fogo se alastrou muito rapidamente. “O ar-condicionado pegou fogo, daí foi gerando um curto-circuito em todos os ar-condicionados, pegando tudo. Foi muito rápido, muito rápido. Não deu para conseguir chamar quase ninguém”, relatou Samuel Barbosa, piauiense de 16 anos que joga como zagueiro.

A perícia inicial feita pela Polícia Civil corrobora a tese. Um sobrevivente da tragédia afirmou ao programa Fantástico, da TV Globo, que havia uma “gambiarra” no equipamento alocado no alojamento.”

Nesse caso houveram mortes de jovens de 14 a 16 anos, 10 jovens e famílias que investiram em um sonho com o futebol e outros 3 gravemente feridos com queimaduras e sequelas que irão levar para a vida toda, jovens que deixaram famílias em várias regiões do País e se deslocaram para viver esse sonho no Rio de Janeiro. Em virtude do acidente o Flamengo e a empresa NHJ do Brasil responsável pela estrutura tiveram de prestar esclarecimentos, órgãos como a Prefeitura, Corpo de Bombeiros, Ministério Público do RJ, Ministério público do Trabalho, Policia Civil, Defesa Civil foram mobilizados afim de apurar as responsabilidades no caso considerando a repercussão que houve na mídia por se tratar da envergadura do time de futebol envolvido. Entretanto, a vida deles se foi e nada mais pode ser feito agora para ter a vida de volta.

Ilustro esse cenário para demonstrar os desdobramentos que um curto-circuito causa na sociedade, inúmeras circunstâncias podem ter ocorrido seja técnica ou não.

Mas o que pode ser feito para mitigar esse tipo de situação?

1.2 CELULARES JÁ MATARAM 23 NO BRASIL

Reportagem do jornal Estado de Minas em 01/10/2019:

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/10/01/interna_gerais,1089322/especialistas-apontam-principais-viloes-na-hora-de-recarregar-celular.shtml

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“A morte de uma adolescente de 14 anos no Cazaquistão por causa da explosão da bateria de um celular, que ela deixou embaixo do travesseiro, chamou a atenção dos brasileiros por causa dos riscos envolvendo os aparelhos. Em 2018, 23 pessoas morreram no país em 41 acidentes envolvendo carregadores. Os números são da Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos de Eletricidade (Abracopel). Em Minas Gerais, foram registrados dois incêndios, mas sem mortes. Especialistas alertam que as pessoas precisam estar atentas a uma série de fatores na hora de carregar os smartphones e apontam quais são os maiores riscos.”

Reportagem do jornal Estado de Minas em 07/12/2019:

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/12/07/interna_gerais,1106562/adolescente-morre-eletrocutado-colocar-celular-carregar-montes-claros.shtml

“Adolescente morre eletrocutado ao colocar o celular para carregar em Montes Claros”

“A vítima chegou a ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu”

“Um garoto, de 13 anos, morreu após receber um choque elétrico ao colocar um telefone celular para carregar em Montes Claros, no Norte de Minas. O fato aconteceu na noite de sexta-feira, no Bairro Santa Rita 2, próximo ao Décimo Batalhão da Polícia Militar (BPM). ”

Em maio de 2019, segundo a Pesquisa Anual do Uso de TI nas Empresas realizada pela FGV, o Brasil registrava 260 milhões de aparelhos de celular e EUA 538 milhões de aparelhos e com tendências de crescimento, ou seja, boa parte da população mundial possui ou irá possuir aparelho de celular, consequentemente fatalidades como essas podem aumentar.

Considerando esse cenário, o que pode ser feito?

1.3 PERÍCIA CONFIRMA QUE INCÊNDIO NO BADIM COMEÇOU NO GERADOR DO HOSPITAL.

Reportagem da O GLOBO em 13/09/2019:

https://oglobo.globo.com/rio/pericia-confirma-que-incendio-no-hospital-badim-comecou-no-gerador-brigadistas-do-hospital-serao-ouvidos-23947877

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“Trabalho da Polícia Civil precisou ser suspenso devido a alagamento no subsolo, onde fica a máquina. Eletricistas foram à delegacia nesta sexta-feira auxiliar a polícia “

Figura 8 - Incêndio matou ao menos 11 pessoas na noite desta quinta-feira. Perícia começou nesta sexta e continua no sábado. Policiais agora querem saber se houve falha mecânica ou humana na operação do gerador Foto: PILAR OLIVARES / REUTERS

“RIO — Após o trabalho de perícia realizado nesta sexta-feira, e análise de imagens de câmeras de segurança, a Polícia Civil já acredita que o incêndio no Hospital Badim, na noite desta quinta-feira, que deixou pelo menos 11 mortos, tenha de fato começado após um curto-circuito no gerador. A perícia, no entanto, ainda não foi concluída: os trabalhos dos investigadores precisou ser suspenso devido à grande quantidade de água no subsolo, onde fica a máquina. “

1.4 ADOLESCENTE MORRE ELETROCUTADO EM ACAMPAMENTO EVANGÉLICO EM HORTOLÂNDIA.

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https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2019/03/04/adolescente-morre-eletrocutado-em-acampamento-evangelico-em-hortolandia.ghtml

“Matheus Jasson teria levado o choque ao tocar em um aparelho de som. Jovem completaria 18 anos no próximo dia 14 de março. “

Figura 9 - Matheus Jasson morreu após levar um choque — Foto: Reprodução/Facebook

1.5 CRIANÇA DE 3 ANOS MORRE APÓS CHOQUE E BEBÊ FICA FERIDO NO RECIFE

Reportagem da TV Jornal UOL em 01/04/2019:

https://tvuol.uol.com.br/video/crianca-de-3-anos-morreapos-choque-e-bebe-fica-ferido-no-recife-04020D1C3062CCB16326

“Uma criança de 3 anos morreu vítima de choque elétrico, nesta segunda-feira (01), vítima de choque elétrico, quando brincava no quintal de casa, na Zona Norte do Recife. Uma vizinha, que

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tentou ajudar, correu com o filho de 2 meses nos braços e acabou também recebendo a descarga elétrica. A tragédia aconteceu, por volta das 11, na Rua Elza, na Bomba do Hemetério.”

“Um adolescente de 17 anos morreu eletrocutado durante um acampamento evangélico em Hortolândia (SP), no domingo (3). Matheus Jasson Crescente da Silva Araújo, de 17 anos, completaria 18 anos no próximo dia 14 de março.

Segundo informações da Polícia Civil, o jovem estava em um acampamento da Igreja Batista Boas Novas, no Jardim Rosolém. Matheus teria levado o choque ao tocar em um aparelho de som. “

Em pesquisa realizada pela Abracopel e PROCOBRE – Instituto Brasileiro do Cobre, quase todas as casas pesquisadas no Brasil (1100) possuem, ao menos, um item que não atende à norma técnica. As instalações elétricas, no Brasil, não são fiscalizadas de forma incisiva e também não há exigência legal de projetos elétricos aprovados por Engenheiros responsáveis, levando as instalações elétricas a um patamar perigoso. Acidentes ocorrem por descuido, descaso ou desconhecimento. Uma instalação elétrica irregular, certamente é um potencial risco para seus usuários.

A pesquisa em casas realizada em 2016 mostra, por exemplo, que em menos de 30% das instalações pesquisadas houve um projeto elétrico e dentro deste cenário somente 34% foi realizado por profissional habilitado para tal, cerca de 21% possuem DR – Dispositivo Diferencial Residual que atua na proteção contrachoques elétricos. (ABRACOPEL, 2017)

Os dados apresentados pela ABRACOPEL auxiliam na estimativa do número de acidentes envolvendo eletricidade, porém como salientado pela própria entidade a variação desses números pode ser grande em função da metodologia de captação dos dados. Assim, o crescimento do número de acidentes apontados pelo gráfico pode significar um aumento real de acidentes ou somente um aumento nas notícias referentes aos acidentes. Ou seja, a análise dos dados requer parcimônia e consideração de que a metodologia de aquisição pode ser influenciada pela tecnologia de comunicação dos tempos atuais.

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Nas atividades profissionais ocorre o fenômeno de subvalorizarão da cultura da segurança e, nesse caso, implantar ou seguir os procedimentos de segurança do trabalho muitas vezes está associado a perda de produtividade ou a gastos “desnecessários”, ficando em segundo plano por parte das gerencias das empresas e consequentemente desvalorizada pelo trabalhador, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

O tema “Saúde e Segurança do Trabalho (SST) ” também é subvalorizado no ensino em diversos cursos de formação profissional e acadêmica, que tomam como foco as disciplinas técnicas. Muito embora seja compreensível que a maior parte da carga horária desses cursos sejam dedicadas ao ensino de disciplinas técnicas, ocorre que os aspectos relacionados a SST tornam-se secundários no desenvolvimento destas. Este assunto acaba sendo apartado em disciplinas isoladas com a pretensão de cobrir todo o ensino do tema no curso, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

A premissa de que o ensino da segurança do trabalho deva acontecer de modo dissociado, em uma disciplina separada, pode ser um fator que contribui para a desvalorização desse assunto. Isolar esse tema e acreditar que dessa forma toda a cultura de saúde e segurança do trabalho será adquirida pelo aluno, pode ser um erro grave, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

O momento da formação profissional e acadêmica é de grande influência na formação do perfil do profissional, no desenvolvimento das capacidades técnicas, sociais, organizativas e metodológicas buscadas pelas Universidade e Colégios Técnicos nesses estudantes. A etapa da formação profissional é talvez a mais apropriada para desenvolver o comportamento preventivo do futuro profissional, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

Além das dificuldades no desenvolvimento de uma cultura de segurança em eletricidade no contexto do trabalho e do ensino, ainda há um elevado índice de acidentes envolvendo eletricidade com o usuário final, acidentes domésticos que não são fielmente computados.

Diante disso, esse trabalho analisa estes cenários e propõe iniciativas para desenvolver a cultura da segurança em eletricidade de forma aderente, seja no mercado de trabalho, no ensino ou para o usuário final.

A pesquisa foi organizada propondo três dimensões de estudo com o propósito de contribuir com toda a cadeia que envolve os atores com alguma relação com a eletricidade, seja como

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usuário, estudante ou como profissional. No capítulo 2 o foco é o Ensino da Segurança em Eletricidade na Formação Profissional e Acadêmica, analisando como esse processo é conduzido em tempos atuais e propondo novos meios de potencializar a cultura da segurança em eletricidade nessa fase tendo em vista metodologias atuais de concepção e condução de cursos, como a metodologia de ensino com base em competências. No Capítulo 3 o foco é o profissional que já atua no mercado, a análise reflete sobre as ferramentas atuais de reciclagem desses profissionais avaliando sua eficiência, as dificuldades enfrentadas pelas empresas e propõe-se medidas com potencial de implantação. Por fim, no capítulo 4 o olhar é direcionado para o usuário final, que é leigo quando o assunto é a eletricidade e vitima ao manusear equipamentos ou manter instalações inapropriadas, propõe-se estratégias para contribuir com as medidas de mitigação de acidentes envolvendo esse público.

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2 O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E

ACADÊMICA

Nesse capitulo é analisado a aplicação da metodologia de ensino com base em competências na elaboração e desenvolvimento dos cursos de engenharia no Brasil, buscando complementar os estudos atuais sobre esse assunto, bem como propor métodos de estruturação de cursos nessa abordagem que complementam, inclusive, as diretrizes propostas pela ABENGE (associação Brasileira de Educação em Engenharia) no sentido do “como operacionalizar” algumas etapas desse processo. Por fim, relacionar com o ensino da segurança em eletricidade e demonstrar a pertinência de incluir o ensino da segurança em eletricidade como uma competência profissional, ou parte desta, a ser desenvolvida na maioria das disciplinas como exemplo uma competência profissional de “Realizar instalação elétrica predial” pode ser reescrita como “Realizar instalação elétrica predial seguindo procedimentos técnicos e de segurança no trabalho”.

2.1 A ESTRUTURAÇÃO DE CURSOS E A RELAÇÃO COM O ENSINO DA SEGURANÇA

EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA

Sempre houve, em países desenvolvidos, forte relação entre necessidades da sociedade e boas universidades. Desde o surgimento desta, sua função foi preparar estudantes para os papeis necessários para a época, como pessoas letradas para conduzir os negócios da alma ou do Estado, na Europa Medieval, ou, mais recentemente, profissões demandadas pelo mercado de trabalho, (CLÁUDIA COSTIN, 2018).

Da mesma forma couberam as instituições de ensino superior produzir conhecimento que permitisse avanços no enfrentamento dos desafios e no estabelecimento de novas fronteiras, (CLÁUDIA COSTIN, 2018).

Não é novidade os movimentos de mudanças conceituais quanto ao foco do ensino de engenharia deixar de ser centrado em conhecimentos e passar a ser centrado em competências profissionais, no ano 2000 já haviam publicações a esse respeito.

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Os objetivos do ensino de engenharia, têm deixado de priorizar apenas a aquisição de conhecimentos formais, traduzidos pelo conteúdo das diversas disciplinas que compõem a sua grade curricular, para enfatizar também a necessidade do desenvolvimento de várias habilidades e competências, (ROMPELMAN, 2000; MCNALLY apud HUXHAM e LAND, 2000).

Competências profissionais são tidas como sendo cada vez mais importantes, pois se entende que o sucesso na área de engenharia requer, além de um bom domínio dos conteúdos de engenharia, por exemplo, a capacidade de identificar, formular e resolver problemas de engenharia, muitas vezes lidando com incertezas e ambiguidades, (BUCCIARELLI et al, 2000; SMITH JR, 1999).

Novas habilidades e competências (não técnicas) têm sido exigidas tanto pela sociedade como pelo mercado de trabalho, para que um engenheiro possa exercer sua profissão, (Sanchez, 2003).

Apesar de conceitos tratados há mais de duas décadas, pouco avançamos em ações concretas no ensino superior de engenharia no Brasil, refletindo em consequências no ensino de nossas Universidades.

O estudante precisa que a universidade ofereça formação de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, (CZEKSTER & COSTA, 2014).

Conforme relatório apresentado na minuta da proposta da ABENGE, o Brasil enfrenta dificuldade de competir no mercado internacional. Como mostra o Índice Global de Inovação (IGI), elaborado pela Universidade de Cornell, INSEAD e Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o país caiu 22 posições entre 2011 e 2016, colocando-se em 69º entre 128 países avaliados, posição que manteve em 2017. Segundo o IGI, o fraco desempenho brasileiro deve-se, entre outros fatores, à baixa pontuação obtida no indicador relacionado aos recursos humanos e pesquisa, em especial, aos graduados em Ciências e Engenharia, (ABENGE, 2018).

O mesmo relatório aponta o número de engenheiros por habitantes, observa-se que o país ocupa uma das piores posições, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2016). Em 2014, enquanto a Coreia, a Rússia, a Finlândia e a Áustria contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes, e países como

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Portugal e Chile dispunham de cerca de 16, o Brasil registrava somente 4,8 graduados em Engenharia para o mesmo universo de pessoas.

Ainda segundo o relatório, embora exista propostas nas Diretrizes Curriculares Nacionais atuais que admitam a necessidade de se considerar as competências profissionais como centro do ensino apoiadas com toda infraestrutura técnica e pedagógica que possibilitem o desenvolvimento destas, não foi possível colher os avanços esperados com o texto em vigor. Seu embasamento em núcleos de conteúdo, acabou por determinar currículos com foco principalmente no desenvolvimento de conteúdos e práticas muitas vezes restritas a laboratórios, em disciplinas estanques e geralmente descontextualizadas. Este formato curricular não mais atende ao que se espera de um recém-formado em Engenharia na atualidade. Não por acaso, seguimos apresentando níveis alarmantes de evasão nos cursos de Engenharia e acumulando recorrentes reclamações sobre o despreparo dos jovens para atender aos desafios da sociedade e do mundo do trabalho.

No Brasil, os profissionais da área tecnológica, em especial os engenheiros, atuam em um largo espectro de atividades que vão desde o chamado chão de fábrica (onde resolvem problemas cotidianos e estão sempre procurando aprimorar os produtos, ou aumentar a eficiência dos processos) até as funções gerenciais para as quais a formação tecnológica - com base matemática e capacidade de análises quantitativas, que associa formação científica e visão pragmática dos problemas à uma grande capacidade de construir e analisar modelos matemáticos - é requisito que faz dos engenheiros administradores requisitados, (ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, 2012).

É recorrente a discussão sobre as possibilidades de aperfeiçoamento da estruturação e condução dos cursos de engenharia nas universidades brasileiras visando alcançar um perfil profissional de conclusão mais aderente a realidade nacional e com isso potencializar a competividade do mercado brasileiro.

Diante desse cenário, em março de 2018, a ABENGE elaborou uma proposta encaminhada ao CES (Câmara de Educação Superior) e CNE (Conselho Nacional de Educação) colocando em pauta essa demanda, apresentando novas diretrizes para a elaboração do Projeto de Curso das Engenharias, tanto em termos de definir os componentes fundamentais do mesmo, como

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também, estabelecer que além da previsão dos componentes, é necessário explicitar como serão executados no dia a dia do curso, ou seja, além do Projeto do Curso estabelecendo o que será feito, é necessário que seja elaborado um Projeto Executivo para o Curso estabelecendo como será feito o “prometido" no Projeto do Curso, (ABENGE, 2018).

A proposta ainda define que a formação em engenharia altere de formação com base em conteúdo, para formação por competências, tal como vem ocorrendo nos cursos que são referências internacionais em outros países. Isto significa que o mais importante não é apenas saber (conteúdo), mas saber fazer com atitudes e comportamentos éticos, exigindo que para que tal ocorra, sejam trocadas as salas de aulas tradicionais por ambientes de aprendizagem, nos quais sejam desenvolvidas atividades contextualizadas e baseadas em aprendizagem ativa principalmente, (ABENGE, 2018).

Essa contextualização é fundamental para ampliarmos a visão sobre a definição das competências profissionais que são exigidas desses profissionais, cada vez mais complexas, demandando inclusive softskills. Impende ressaltar que nesse cenário de mudança no modelo de estruturação dos cursos, a inclusão de competências relacionadas a segurança em eletricidade é muito favorecida, tendo em vista ser totalmente aderente ao perfil do profissional da área de eletricidade.

Entende-se, na metodologia de ensino com base em competências, que o conhecimento ou conteúdo são subsídios para o desenvolvimento das competências profissionais e que estas são os objetivos do ensino. Isto potencializa estratégias de ensino que buscam refletir situações reais do cotidiano do profissional, desse modo, os aspectos relacionados a segurança em eletricidade, que estão intrínsecos na atividade deste profissional, ficam evidentes no olhar do professor, que deve obrigatoriamente considerar esses aspectos no planejamento do ensino.

Abaixo um exemplo do fortalecimento da relação entre a segurança em eletricidade com as competências profissionais prevista para uma unidade curricular:

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Figura 10 - Unidade Curricular de Instalações Elétricas Prediais. Fonte: Plano de Curso - Técnico de Eletroeletrônica adotado no SENAI.

2.2 A CONCEPÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA

Em tempos atuais, a formação do trabalhador não deve ser apenas regulada por tarefas relativas a postos de trabalho. O mundo do trabalho exige, cada vez mais, um profissional que domine não apenas o conteúdo técnico específico da sua atividade, mas que, igualmente, detenha capacidade crítica, autonomia para gerir seu próprio trabalho, habilidade para atuar em equipe e solucionar criativamente situações desafiadoras em sua área profissional.

A Metodologia de Ensino com Base em Competências considera métodos e técnicas para serem aplicadas desde a criação de um curso ao planejamento das situações de aprendizagem, incluindo as estratégias de ensino e os critérios de avaliação que serão elaborados pelos

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docentes, no desenvolvimento das aulas, de modo que há um alinhamento no modo de pensar entre a criação do curso e o seu desenvolvimento, potencializando a eficiência na relação ensino/aprendizagem.

Na década de 50 e 60, prevaleceu na forma de organização do trabalho o modelo taylorista-fordista de produção que se caracterizava por uma visão de administração que legitimava a separação entre concepção e execução. Nesse modelo, uma enorme parcela dos trabalhadores, dedicados a execução, não necessitava, para o eficiente desempenho de suas respectivas tarefas, qualquer conhecimento que extrapolasse a rotina dos atos para os quais estavam sendo treinados.

O panorama mundial, contudo, modificou-se a partir da década de 70. As transformações no campo da tecnologia e do processo de trabalho redundaram em radicais reorganizações na dinâmica social. Mudanças tecnológicas vieram como resposta à exigência de qualidade em face do novo contexto econômico. Observou-se, assim, a passagem do antigo modelo

taylorista-fordista para o modelo de produção flexível, conhecido como toyotista, (SENAI, 2013).

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A partir de 1990, as estratégias de produção flexível chegaram ao seu limite natural e o problema para as empresas, conforme Mertens (1996), passou a ser o seguinte: como as empresas podem se diferenciar em um mercado tendente a globalizar-se e que facilita a difusão rápida e massiva de melhores práticas organizativas e das inovações tecnológicas?

Nesse contexto um novo perfil de profissional passa a ser demandado pelas empresas, não sendo mais suficiente o trabalhador executor de tarefas. Há a necessidade de novas competências comportamentais atreladas as competências técnicas, potencializando a contribuição do indivíduo no alcance dos objetivos organizacionais.

Assim as instituições de ensino precisariam acompanhar essas mudanças e então surge o modelo de ensino baseado na metodologia de ensino com base em competências.

O desenvolvimento dos cursos pautados nesta metodologia, considera sempre o contexto do trabalho do referido profissional e isso favorece o desenvolvimento de capacidades técnicas e comportamentais relacionadas a segurança do trabalho, pois estas capacidades estão presentes no contexto das profissões.

Na avaliação apresentada pela proposta de diretrizes para o curso de engenharia (ABENGE, 2018) é ressaltado a importância da relação do curso com outras organizações, citando o Estado e as Organizações como locais de aplicação da engenharia, sugerindo a aplicação do chamado “Triple Helix” ou no Triângulo de Sabato.

No site “Triple Helix Research Group – Brazil” (http://www.triple-helix.uff.br) encontra-se a seguinte definição:

“A abordagem da Hélice Tríplice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, é baseada na perspectiva da Universidade como indutora das relações com as Empresas (setor produtivo de bens e serviços) e o Governo (setor regulador e fomentador da atividade econômica), visando à produção de novos conhecimentos, a inovação tecnológica e ao desenvolvimento econômico. A inovação é compreendida como resultante de um processo complexo e dinâmico de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, nas empresas e nos governos, em uma espiral de transições sem fim”.

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No site do SCIELO (http://www.scielo.br/pdf/cebape/v3nspe/v3nspea03.pdf) encontra-se o caderno EBAPE. BR da FGV, texto de Enrique Saravia, a seguinte definição para o Triângulo de Sábato.

“O modelo demonstra a necessidade de um relacionamento harmônico, em cada país, entre o setor produtivo, o de infraestrutura científico-tecnológica e o Estado. Ao governo caberia adotar um papel de liderança na promoção de projetos de alta tecnologia, contribuindo com recursos. Às universidades e aos centros de pesquisa caberia apoiar, fornecendo pessoal treinado para trabalhar nos projetos e nas empresas privadas e entidades públicas envolvidas. Segundo Sábato, a aplicação do modelo possibilitaria maior eficiência na assimilação de tecnologia e na exportação de bens com maior valor agregado, permitindo que a conjugação ciência/tecnologia funcionasse como catalisadora da mudança social. ”

Essa análise é perfeitamente pertinente e adequada e deve ser aplicada inclusive na concepção do Perfil Profissional do egresso do curso de engenharia, explorando outros atores relevantes para o processo.

É fundamental que o descritivo do Perfil Profissional do Egresso do curso de engenharia seja definido em conjunto com os atores demandantes deste profissional através de comitê técnico da referida modalidade de engenharia e que o comitê possa ter representatividade adequada e ser formado com membros que possuam visão sistêmica da atuação do perfil do Engenheiro em análise, de modo a definir as competências profissionais exigidas para o egresso deste curso abrangendo as possibilidades do mercado de atuação.

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A definição do perfil profissional poderia inclusive considerar as particularidades regionais dos demandantes de profissionais formados por determinada Universidade. Ora, pode ser que o Engenheiro Eletricista formado em determinada região do Amazonas tenha em seu perfil profissional de egresso, competências profissionais que possam divergir do Engenheiro Eletricista formado em São Paulo em função do mercado profissional de atuação ser diferente. Nesse sentido, porque não haver a possibilidade de flexibilizar a definição das competências profissionais considerando esses aspectos?

2.3 O PERFIL PROFISSIONAL DO EGRESSO DO CURSO DE ENGENHARIA

O Perfil Profissional é a descrição do que idealmente o trabalhador deve ser capaz de realizar no campo profissional correspondente à ocupação. Expressa o nível de desempenho que se espera que o trabalhador alcance, indicando o que assegura que ele será competente ou o

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que o torna apto a atuar, com qualidade, no contexto de trabalho da ocupação. É constituído pelas competências profissionais e pelo contexto de trabalho da ocupação, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

O Perfil Profissional do Egresso do curso de Engenharia deve considerar as competências profissionais possíveis de alcançar no âmbito da formação superior, ou seja, deve-se ter em vista que determinadas competências profissionais somente serão possíveis de serem alcançadas em sua totalidade quando do exercício da referida profissão.

O Comitê Técnico é responsável pela definição do Perfil Profissional do Egresso, tendo a responsabilidade de determinar todas as competências profissionais requeridas dessa modalidade de Engenharia, sejam elas técnicas ou comportamentais, além de fornecer informações precisas a respeito do contexto de trabalho da ocupação, como jornadas de trabalho mais comuns, equipamentos, necessidade de viagens, etc, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

A definição do Perfil Profissional do Egresso é, talvez, o momento crucial da criação de um curso, pois irá direcionar toda a estruturação do curso, inclusive toda a infraestrutura (equipamentos e laboratórios) necessária para sua realização, (CARNEIRO & BARRETO, 2017).

O produto final do comitê é a descrição do “perfil profissional” do projeto de curso, que é o documento norteador de toda a estruturação do curso pelos professores especialistas e também pelos professores que irão planejar as suas aulas quando do andamento do curso.

Impende destacar a figura do mediador do comitê, profundo conhecedor da metodologia que deve conduzir o processo de concepção do perfil do egresso, lançando mão de estratégias inclusive de gerenciamento de conflitos.

2.4 A ESTRUTURAÇÃO DOS CURSOS

A etapa de estruturação de qualquer curso é extremamente importante, pois além de definir a infraestrutura técnica e humana necessária para o desenvolvimento do referido curso, também estrutura as disciplinas e define os conhecimentos. Por ser tão importante, também é muito

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perigosa, pois é nesse momento que o curso pode ser desenhado diferente de sua proposta inicial.

Os membros do comitê técnico da referida modalidade de engenharia não possuem competência para organizar o curso em disciplinas e tampouco considerar o “modos operandi” da instituição de ensino, esse papel é do corpo técnico pedagógico da Universidade, contudo para que essa etapa ocorra em sinergia com a concepção do perfil profissional do egresso do curso de engenharia é fundamental que seus membros sejam guiados segundo a metodologia apropriada para estruturação de cursos com base em competências.

Nessa metodologia o olhar não está centralizado em disciplinas isoladas e tampouco nos conhecimentos, mas sim nas competências profissionais apontadas no perfil do egresso e nos desempenhos esperados dos concluintes, de modo que as disciplinas são organizadas segundo esses critérios e devem possuir relação intima com o perfil do egresso. Esse movimento estabelece significado às disciplinas, pois são definidas para alcançar determinado conjunto de competências profissionais.

Algumas estratégias podem ser aplicadas para potencializar a fidelidade da estruturação do curso em sinergia com o perfil do egresso, como por exemplo a participação da equipe técnico-pedagógica que irá estruturar o curso como atores passivos (apenas ouvintes) na etapa de concepção do curso, essa estratégia possibilita contextualizar a equipe sobre como o curso foi concebido e tem potencial para mitigar possíveis divergências de interpretação no texto do perfil do egresso.

Com objetivo de conduzir as discussões e promover unicidade metodológica na estruturação do curso, é importante que a figura do mediador permaneça presente durante esta etapa de estruturação, garantindo que esse processo ocorra sob a luz da metodologia de formação com base em competências.

2.5 O PLANEJAMENTO DO ENSINO

No desenvolvimento das atividades em sala de aula ou laboratório, se observa que o mundo escolar nem sempre reflete a realidade da vida profissional. Ora, se um curso forma Engenheiro

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Eletricista, espera-se que este curso prepare o futuro profissional simulando situações reais da profissão. Essa análise pode ser estendida para a Educação Profissional Técnica ou outro curso de qualificação. Partindo desse prisma é sensato pensar que poderia ser eficiente que no desenvolvimento das aulas em laboratório se adotasse o contexto profissional da referida profissão. (CARNEIRO & BARRETO, 2017)

A partir do Projeto Pedagógico do Curso estruturado conforme a metodologia, a etapa de planejamento do ensino é onde o professor da disciplina atua diretamente e este deve estar devidamente preparado com o “olhar” da metodologia, para conceber o processo ensino e aprendizagem em sinergia com a metodologia. A metodologia privilegia o uso de situações de aprendizagem que possam refletir as situações reais da profissão, de modo a aproximar a realidade da ocupação no contexto das situações de aprendizagem.

Assim, o professor deve analisar a disciplina, as competências técnicas e comportamentais, bem como os conhecimentos listados, além de analisar o perfil profissional descrito pelo comitê técnico afim de elaborar situações de aprendizagem em sinergia com o previsto para a disciplina.

Considerando as competências, conhecimentos e perfil profissional, o docente prevê situações de aprendizagem contextualizadas a partir de situações reais da ocupação e para isso pode escolher dentre algumas estratégias de ensino desafiadoras que potencializam o ensino, como por exemplo a Situação Problema, A Pesquisa, O Projeto e O Estudo de Caso.

O Professor, após definir qual estratégia de ensino desafiadora irá adotar tendo em vista a pertinência desta para com o desenvolvimento da disciplina, deve elaborar o texto da situação de aprendizagem desafiadora a partir da seleção das capacidades e conhecimentos correlacionados.

2.6 A SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM DESAFIADORA

Segundo Perrenoud (1999, 2000), a formação com base em competências deve priorizar o processo de ensino e aprendizagem centrado no aluno por meio da proposição de estratégias desafiadoras que promovam a resolução de problemas e o desenvolvimento de projetos. Tal enfoque favorece para que os conhecimentos sejam trabalhados de forma contextualizada,

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permitindo uma relação entre os conhecimentos e a sua utilização em contextos diversos, (SENAI, 2013).

Ao iniciar o planejamento do ensino e da aprendizagem, é fundamental que o professor busque situações próximas da realidade do engenheiro, contextualizando o aluno na condição real de sua função, dando significado ao conteúdo quando aplicado nessas circunstâncias.

Contextualização significa vincular o conhecimento à sua aplicação e, consequentemente, conferir sentido a fatos, fenômenos, conteúdos e práticas. O conhecimento contextualizado favorece para que o aluno desenvolva e mobilize capacidades para solucionar problemas em contextos apropriados, de maneira a ser capaz de transferir essa capacidade futuramente para os contextos reais do mundo do trabalho, (SENAI, 2013).

Na etapa de estruturação, o curso é organizado em Unidades Curriculares ou disciplinas que concentram um conjunto relevante e significativo de competências e conhecimentos relacionados. Em sua estrutura, uma Unidade Curricular ou Disciplina possui:

- Um Objetivo Geral

- Conjunto de competências técnicas e de gestão a serem desenvolvidas - Conjunto de conhecimentos

Ao analisar o projeto pedagógico do curso e agora com o olhar focado na disciplina, o professor pode raciocinar da seguinte forma:

- Qual conjunto de competências técnicas e de gestão são possíveis selecionar tendo em vista a solução de um problema real da ocupação, no contexto desta disciplina, englobando determinado conjunto de conhecimentos descritos nesta disciplina como subsidio para conduzir os alunos no alcance destas competências?

Ao responder essa pergunta o professor irá “sintetizar” a disciplina à uma situação real de trabalho que, para ser resolvida, será necessário mobilizar todas as competências e conhecimentos previstos na disciplina ou até mesmo com potencial para envolver outra disciplina em uma ação de interdisciplinaridade. Contudo, é possível também que somente uma situação de aprendizagem não seja suficiente para contemplar todas as competências e conhecimentos previstos na referida disciplina, nesse caso, podendo ser definida mais de uma situação de aprendizagem.

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O número de situações de aprendizagem desafiadoras deve ser suficiente para contemplar todas as competências e conhecimentos previstos na referida disciplina.

2.7 ESTRATÉGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

As estratégias de ensino e de aprendizagem não se confundem com as estratégias de ensino desafiadoras.

As estratégias de ensino desafiadoras são “macro” e consideram para sua definição o conjunto de competências e conhecimentos descritos na disciplina.

As estratégias de ensino e de aprendizagem são aquelas que o professor irá definir e planejar para levar o aluno a solução da situação de aprendizagem desafiadora. Tratam-se de estratégias “micro”, como aula expositiva dialogada, seminários, demonstrações, atividades práticas, pesquisa, painel integrado, etc.

É fundamental que o professor planeje o desenvolvimento da disciplina, desde a apresentação da situação de aprendizagem desafiadora, as diversas estratégias de ensino e aprendizagem considerando inclusive técnicas de mediação e, por fim, a solução da situação de aprendizagem desafiadora após ter preparado o aluno para o alcance das competências profissionais selecionadas a fim de possibilitar que o aluno possa demonstra-las na solução da situação de aprendizagem desafiadora.

2.8 A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ALUNO E A “NOTA”

O processo de avaliação, já há tempos, vem sendo discutido no meio acadêmico. Será que o modo tradicional de avaliar (nota) é eficiente?

A avaliação é aplicada segundo sua função no processo de ensino aprendizagem, na função diagnóstica, formativa e somativa.

A função diagnóstica da avaliação acontece no início do processo e permite identificar características gerais do aluno, seus conhecimentos prévios, interesses, possibilidades e

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