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2 O ENSINO DA SEGURANÇA EM ELETRICIDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA

2.2 A CONCEPÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA

Em tempos atuais, a formação do trabalhador não deve ser apenas regulada por tarefas relativas a postos de trabalho. O mundo do trabalho exige, cada vez mais, um profissional que domine não apenas o conteúdo técnico específico da sua atividade, mas que, igualmente, detenha capacidade crítica, autonomia para gerir seu próprio trabalho, habilidade para atuar em equipe e solucionar criativamente situações desafiadoras em sua área profissional.

A Metodologia de Ensino com Base em Competências considera métodos e técnicas para serem aplicadas desde a criação de um curso ao planejamento das situações de aprendizagem, incluindo as estratégias de ensino e os critérios de avaliação que serão elaborados pelos

docentes, no desenvolvimento das aulas, de modo que há um alinhamento no modo de pensar entre a criação do curso e o seu desenvolvimento, potencializando a eficiência na relação ensino/aprendizagem.

Na década de 50 e 60, prevaleceu na forma de organização do trabalho o modelo taylorista- fordista de produção que se caracterizava por uma visão de administração que legitimava a separação entre concepção e execução. Nesse modelo, uma enorme parcela dos trabalhadores, dedicados a execução, não necessitava, para o eficiente desempenho de suas respectivas tarefas, qualquer conhecimento que extrapolasse a rotina dos atos para os quais estavam sendo treinados.

O panorama mundial, contudo, modificou-se a partir da década de 70. As transformações no campo da tecnologia e do processo de trabalho redundaram em radicais reorganizações na dinâmica social. Mudanças tecnológicas vieram como resposta à exigência de qualidade em face do novo contexto econômico. Observou-se, assim, a passagem do antigo modelo taylorista-

fordista para o modelo de produção flexível, conhecido como toyotista, (SENAI, 2013).

A partir de 1990, as estratégias de produção flexível chegaram ao seu limite natural e o problema para as empresas, conforme Mertens (1996), passou a ser o seguinte: como as empresas podem se diferenciar em um mercado tendente a globalizar-se e que facilita a difusão rápida e massiva de melhores práticas organizativas e das inovações tecnológicas?

Nesse contexto um novo perfil de profissional passa a ser demandado pelas empresas, não sendo mais suficiente o trabalhador executor de tarefas. Há a necessidade de novas competências comportamentais atreladas as competências técnicas, potencializando a contribuição do indivíduo no alcance dos objetivos organizacionais.

Assim as instituições de ensino precisariam acompanhar essas mudanças e então surge o modelo de ensino baseado na metodologia de ensino com base em competências.

O desenvolvimento dos cursos pautados nesta metodologia, considera sempre o contexto do trabalho do referido profissional e isso favorece o desenvolvimento de capacidades técnicas e comportamentais relacionadas a segurança do trabalho, pois estas capacidades estão presentes no contexto das profissões.

Na avaliação apresentada pela proposta de diretrizes para o curso de engenharia (ABENGE, 2018) é ressaltado a importância da relação do curso com outras organizações, citando o Estado e as Organizações como locais de aplicação da engenharia, sugerindo a aplicação do chamado “Triple Helix” ou no Triângulo de Sabato.

No site “Triple Helix Research Group – Brazil” (http://www.triple-helix.uff.br) encontra-se a seguinte definição:

“A abordagem da Hélice Tríplice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, é baseada na perspectiva da Universidade como indutora das relações com as Empresas (setor produtivo de bens e serviços) e o Governo (setor regulador e fomentador da atividade econômica), visando à produção de novos conhecimentos, a inovação tecnológica e ao desenvolvimento econômico. A inovação é compreendida como resultante de um processo complexo e dinâmico de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, nas empresas e nos governos, em uma espiral de transições sem fim”.

No site do SCIELO (http://www.scielo.br/pdf/cebape/v3nspe/v3nspea03.pdf) encontra-se o caderno EBAPE. BR da FGV, texto de Enrique Saravia, a seguinte definição para o Triângulo de Sábato.

“O modelo demonstra a necessidade de um relacionamento harmônico, em cada país, entre o setor produtivo, o de infraestrutura científico-tecnológica e o Estado. Ao governo caberia adotar um papel de liderança na promoção de projetos de alta tecnologia, contribuindo com recursos. Às universidades e aos centros de pesquisa caberia apoiar, fornecendo pessoal treinado para trabalhar nos projetos e nas empresas privadas e entidades públicas envolvidas. Segundo Sábato, a aplicação do modelo possibilitaria maior eficiência na assimilação de tecnologia e na exportação de bens com maior valor agregado, permitindo que a conjugação ciência/tecnologia funcionasse como catalisadora da mudança social. ”

Essa análise é perfeitamente pertinente e adequada e deve ser aplicada inclusive na concepção do Perfil Profissional do egresso do curso de engenharia, explorando outros atores relevantes para o processo.

É fundamental que o descritivo do Perfil Profissional do Egresso do curso de engenharia seja definido em conjunto com os atores demandantes deste profissional através de comitê técnico da referida modalidade de engenharia e que o comitê possa ter representatividade adequada e ser formado com membros que possuam visão sistêmica da atuação do perfil do Engenheiro em análise, de modo a definir as competências profissionais exigidas para o egresso deste curso abrangendo as possibilidades do mercado de atuação.

A definição do perfil profissional poderia inclusive considerar as particularidades regionais dos demandantes de profissionais formados por determinada Universidade. Ora, pode ser que o Engenheiro Eletricista formado em determinada região do Amazonas tenha em seu perfil profissional de egresso, competências profissionais que possam divergir do Engenheiro Eletricista formado em São Paulo em função do mercado profissional de atuação ser diferente. Nesse sentido, porque não haver a possibilidade de flexibilizar a definição das competências profissionais considerando esses aspectos?

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