• Nenhum resultado encontrado

A territorialização turística no município de Urubici-SC

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A territorialização turística no município de Urubici-SC"

Copied!
188
0
0

Texto

(1)

Helen Cristina Machado

A TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA NO MUNICÍPIO DE URUBICI – SC.

Dissertação de mestrado apresentada à banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Clécio Azevedo da Silva

Florianópolis 2016

(2)
(3)

A TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA NO MUNICÍPIO DE URUBICI – SC.

Este (a) Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “mestre”, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós Graduação em Geografia.

Florianópolis, 03 de maio de 2016.

________________________ Prof. Dr. Aloysio Marthins de Araújo Junior

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

________________________ Prof. Dr. Clécio Azevedo da Silva Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof. Dr. Nazareno José de Campos Universidade Federal Santa Catarina

___________________________ Prof. Dr. Fernando Goulart Rocha Instituto Federal de Santa Catarina

(4)
(5)

Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio incondicional, carinho e amor.

(6)
(7)

AGRADECIMENTOS

É difícil traduzir em palavras o sentimento de gratidão a todos os familiares, amigos, colegas e colaboradores que, de alguma maneira, me apoiaram neste período. Contudo, não posso deixar de escrever algumas palavras de agradecimento a determinadas pessoas que foram fundamentais na elaboração dessa dissertação.

Agradeço inicialmente a Deus pela oportunidade de vivenciar este obstáculo e ter me dado forças para concluí-lo.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFSC, pelos aportes fundamentais, em especial ao meu orientador, Professor Dr. Clécio Azevedo da Silva, que antes de me orientar foi meu professor, tornando-se um amigo, que sempre com muita paciência me ouviu e ajudou.

Aos professores Ewerton, Nazareno e Fernando por terem aceitado o convite de participação para a banca de defesa.

Agradeço carinhosamente:

À minha família, ao meu companheiro, José Luiz, pela força, paciência, incentivo, carinho e cuidado;

À minha mãe, Rosângela, pelo exemplo de força, que mesmo a distância sempre dedicou amor e apoio, me encorajando a encarar às dificuldades; e ao meu pai, Ademir (in memorian), pela vida e por me proteger e guiar meus passos;

À minha irmã, Anne, e a família do coração, minha sogra Elizabeth e cunhada, Marina, pela ajuda e apoio neste trabalho;

As minhas amigas Jéssica, Bruna, Luiza, Maria Eduarda, Natalia, Tatiane e Camila, pela paciência e apoio;

Aos colegas do LabRural, pelos encontros, conversas e saídas de campo.

Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram na elaboração desta dissertação, meu sincero obrigada.

(8)
(9)

RESUMO

A presente dissertação analisa o processo de territorialização do turismo no município de Urubici/SC. Dessa forma, tem como objetivo apresentar a estrutura da cadeia produtiva, identificando os bens e serviços tangíveis e intangíveis da atividade turística; analisar o processo de governança; e a relação entre o território e o turismo. Esse município tem se destacado em escala nacional no que se refere ao frio e à expectativa de neve. No entanto a importância da função turística na estrutura produtiva tem se ampliado para além da estação invernal atraindo turistas durante o ano todo. Nessa pesquisa, serão abordados os aspectos históricos, geográficos e econômicos que propiciam o desenvolvimento da atividade turística no município. Será realçada a importância da Região “Serra Catarinense”, na inserção desta atividade. Para alcançar os objetivos propostos, optamos pelo estudo do turismo como atividade econômica, analisando as seguintes dimensões: a estrutura da cadeia produtiva, o alcance geográfico e a governança. Por fim, apresentaremos a relação entre o território e o turismo, tratando sobre o território oferece a atividade turística, e de como esta atividade influência o território. Considerando que o espaço se define pelas relações sociais que se dão sobre ele, sendo elas heterogêneas, variáveis e complexas, essa pesquisa emprega o método de formação socioespacial.

Palavras chave: Territorialização do turismo; Urubici; Cadeia produtiva do turismo.

(10)
(11)

ABSTRACT

This thesis analyzes the process of territorial tourism in the town of Urubici/SC. As such, it aims to show the structure of the production chain, identifying the assets, tangible and intangible services of tourism and to analyze the governance process and the relationship between territory and tourism. The selected city has gained importance in the entire country because of the cold and the expectation of snow. However, the importance of the tourism in the productive structure grew beyond the winter season attracting a high amount of tourists throughout the year. In this research, we will address the historical, geographic and economic factors that favored the development of tourism in the municipality. It will highlight the importance of the sierra of Santa Catarina to this activity. To achieve the proposed goals, we opted for the study of tourism as an economic activity, analyzing the following dimensions: the structure of the production chain, the geographical scope and governance. Finally, we present the relationship between the territory and tourism, talking about what the territory offers to the tourist activity, and how this activity influences the territory. Considering that the space is defined by all social relations that take place on it, which are heterogeneous, and complex variables, this research is based on the socio-spatial method.

(12)
(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Sistema proposto por Molina (1991) ... 38

Figura 2. Fluxo de um produto turístico ... 43

Figura 3. Cadeia Produtiva do Turismo elaborada pelo SEBRAE ... 47

Figura 4. Cadeia Produtiva do Turismo de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2003) ... 49

Figura 5. Esquema de comercialização do turismo segundo Acerenza (2002) ... 50

Figura 6. Órgãos agenciadores da integração do trade turístico ... 55

Figura 7. Tipologias de turismo ... 61

Figura 8. Mapa de localização da área de estudo ... 73

Figura 9. Formações vegetais e área antropizada do município de Urubici ... 75

Figura 10. Inscrições rupestres no Morro do Avencal ... 77

Figura 11. Esquema dos segmentos turísticos explorados no município de Urubici... 85

Figura 12. Registro da neve que ocorreu em Urubici, no ano de 2013 . 86 Figura 13. Diagrama representando as passagens da tipologia de Benko e Pecqueur (2001) aplicadas à atividade turística ... 100

Figura 14. Pedra Furada no Parque nacional de São Joaquim ... 102

Figura 15. Meios de transportes utilizados ... 110

Figura 16. Estrutura da cadeia produtiva do turismo no município de Urubici... 111

Figura 17. Folder de divulgação destacando o trecho a ser asfaltado da Rota Caminhos da Neve, os objetivos desta rota e o caráter prioritário para a Copa do Mundo de 2014 ... 125 Figura 18. Agentes da governança públicos e privados, e entidades que atuam na governança na atividade turística no município de Urubici . 130

(14)
(15)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Tipologia dos fatores de concorrência espacial. ... 51 Quadro 2. Segmentação de mercado por modalidade e critérios. ... 59 Quadro 3. Valor da produção em porcentagem da agricultura, pecuária e extração vegetal no município de Urubici. ... 78 Quadro 4. Calendário de eventos culturais do município de Urubici. ... 93 Quadro 5. Ativos turísticos e visitação. ... 101 Quadro 6. Ativos Turísticos de Urubici. ... 102 Quadro 7. Equipamentos turísticos disponíveis no município de Urubici. ... 104 Quadro 8. Perfil dos turistas que visitam Urubici segundo o núcleo de pesquisas Fecomércio/SC. ... 105 Quadro 9. Grupos de viagem que visitaram Urubici entre os anos de 2012 a 2014 de acordo com a Fecomércio/SC. ... 106 Quadro 10. Meios de hospedagem mais utilizados entre os meses de Julho e Agosto de acordo com o levantamento realizado pela Fecomércio/SC no ano de 2014. ... 106 Quadro 11. Meios de hospedagem mais utilizados entre os meses de Fevereiro e Março de acordo com o levantamento realizado pela SANTUR no ano de 2014. ... 107 Quadro 12. Motivação da viagem. ... 107 Quadro 13. Municípios de Santa Catarina que mais visitam Urubici. 108 Quadro 14. Estados emissores segundo a SANTUR (2014). ... 108 Quadro 15. Estados emissores segundo a Fecomércio/SC (2014). ... 109 Quadro 16. Aspectos Comuns as Abordagens de Sistemas Produtivos Locais: redes, clusters, arranjos produtivos locais, distritos industriais e redes de empresas. ... 117 Quadro 17. Classificação do porte da empresa, segundo número de funcionários. ... 147

(16)
(17)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABRATURR - Associação Brasileira de Turismo Rural

ACAVITIS - Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude

ADR´s- Agências de Desenvolvimento Regional

AGRECO - Associação dos Agricultores Agroecológicos das Encostas da Serra Geral

AMURES - Associação de municípios da região Serrana APL - Arranjos Produtivos Locais

BESC - Banco do Estado de Santa Catarina BIRD - Banco Mundial

BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento

CAT – Centro de Atendimento ao Turista do Município de Urubici CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura em Grupo CDL – Clube de Diretores Lojistas

CITUR - Companhia de Turismo e Empreendimentos de Santa Catarina CTG – Centros de Tradições Gaúchas

CVC - Carlos Vicente Cerchiari – Agência de Viagens CONSERRA - Conselho de Turismo Serra Catarinense

COOPERVITIS - Cooperativa Dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude de Santa Catarina

DeaTur - Departamento Autônomo de Turismo

EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo, (anteriormente denominado Empresa Brasileira de Turismo).

ECOSERRA - Cooperativa de Agricultores e Agricultoras Familiares Agroecológicos da Serra Catarinense

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

FATMA - FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

FECOMÉRCIO/SC – Federação do comércio do estado de Santa Catarina FENAHORT - Festa das Hortaliças

FIESC - Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina FGV - Fundação Getúlio Vargas

FUNTURISMO - Fundo de Incentivo ao Turismo

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICBC - Instituto Casa Brasil de Cultura

(18)

ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

ME - Microempresas

MTUR - Ministério do Turismo

OMT - Organização Mundial do Turismo ONG – Organização não Governamental PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PDIL - Plano de Desenvolvimento Integrado do Lazer

PLATS - Planejamento - Ação do Turismo Sustentável de Urubici PNAE - Programa Nacional da Alimentação Escolar

PNMT - Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNRT- Programa Nacional de Regionalização do Turismo POUSERRA - Associação de Pousadas e Hotéis de Urubici PRODETUR - Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PROTUR - Pró turismo RBS – Rede Brasil Sul

SANTUR - Secretaria de Turismo de Santa Catarina

SCC&VB – Convention & Visitors Bureau da Serra Catarinense

SDS/SC - Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina

SDR/SC – Secretaria de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SERRATUR - Associação de Turismo da Região Serrana SESC - Serviço Social do Comércio de Santa Catarina SIE - Secretaria de Infraestrutura

SISTUR - Sistema de Turismo

SOL - Secretaria de Organização do Lazer

(19)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 23

CAPÍTULO 1 – RELAÇÕES SOBRE A GEOGRAFIA E O TURISMO ... 31

1.1 A ATIVIDADE TURÍSTICA NA GEOGRAFIA ... 31

1.2 A TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA ... 35

1.2.1 A “atividade” turística x O “fenômeno” turístico ... 36

1.3 A CADEIA PRODUTIVA NO ESTUDO DA TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA ... 41

1.3.1. As diferentes abordagens sobre as cadeias produtivas do turismo ... 44

1.3.2 As dimensões de análise das cadeias produtivas ... 50

1.3.2.1 A Estrutura da Cadeia Produtiva ... 51

1.3.2.2 A Configuração Geográfica... 53

1.3.2.3 A Governança na Cadeia Produtiva ... 54

1.4 SEGMENTAÇÕES E DESACERTOS DAS TIPOLOGIAS DO TURISMO ... 57

1.4.1 Segmentos do Turismo ... 58

CAPÍTULO 2 – A EMERGÊNCIA DO TURISMO EM URUBICI SOB O CONTEXTO REGIONAL DA SERRA CATARINENSE . 69 2.1 A GÊNESE DA OCUPAÇÃO DA SERRA CATARINENSE ... 69

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 71

2.2.1 A colonização do município de Urubici ... 76

2.3 A EMERGÊNCIA DA ATIVIDADE TURÍSTICA ... 80

2.4 A atividade turística e suas segmentações no município de Urubici ... 83

2.4.1 O Turismo de Inverno ... 85

2.4.2 Turismo Rural ... 86

2.4.3 Ecoturismo ... 88

2.4.4 Turismo de base comunitária – “O Agroturismo” ... 89

2.4.5 Turismo Cultural... 91

2.4.6 Enogastronomia ... 93

2.5 O TURISMO ALTERNATIVO ... 94

2.6 A INDISSOCIABILIDADE DO TURISMO NOS MEIOS RURAL E URBANO ... 95

CAPÍTULO 3 – A TERRITORIALIZAÇÃO DO TURISMO EM URUBICI: A RELAÇÃO ENTRE O TERRITÓRIO E A ATIVIDADE TURÍSTICA ... 99

3.1 A ESTRUTURA DA CADEIA PRODUTIVA ... 99

(20)

3.1.2 Os equipamentos turísticos do município de Urubici ... 103

3.1.3 Caracterização do consumo ... 104

3.1.3.1 O perfil dos turistas ... 105

3.1.3.2 A motivação da viagem ... 107

3.2 A CONFIGURAÇÃO GEOGRÁFICA: AGLOMERAÇÃO TERRITORIAL E REDES ... 115

3.2.1 Aglomeração Territorial ... 115

3.2.1.1 A POUSERRA ... 115

3.2.1.2 Os roteiros turísticos segundo o APL “Turismo na Serra Catarinense” ... 118

3.2.1.3 O APL: Vinhos Finos de Altitude do Planalto Catarinense .... 119

3.2.2 Redes ... 121

3.2.2.1 Urubici e os Circuitos Turísticos... 122

3.2.2.2 Caminhos da Neve ... 123

3.2.2.3 Os Destinos Indutores ... 126

3.3 A GOVERNANÇA ... 128

3.3.1 A Governança Híbrida ... 129

3.3.2 Políticas e Estratégias da Governança ... 132

3.3.2.1 Escala Nacional ... 132

3.3.2.1.1 Ministério do Turismo – MTur ... 132

3.3.2.1.2 PRONAF ... 133 3.3.2.2 Escala Estadual ... 135 3.3.2.2.1 PDIL ... 135 3.3.2.2.2 SANTUR ... 136 3.3.2.2.3 Programa SC Rural ... 138 3.3.2.3 Escala Regional ... 139 3.3.2.3.1 Viva Serra ... 139 3.3.2.3.2 Cooperativa Ecoserra ... 139

3.3.2.3.3 Convention & Visitor Bureau... 139

3.3.2.4 Escala Local ... 141

3.3.2.4.1 Fortalecimento do Agroturismo ... 141

3.3.3 Órgãos e entidades da governança ... 142

3.3.3.1 Prefeitura de Urubici ... 142 3.3.3.1.1 PLATS ... 143 3.3.3.2 Hotel e Pousadas ... 144 3.3.3.3 Agências de turismo ... 147 3.3.3.4 POUSERRA ... 149 3.3.3.5 CONSERRA ... 149

3.3.3.6 Sindicato Rural de Urubici ... 151

(21)

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 155 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 161 APÊNDICES ... 179

(22)
(23)

23

INTRODUÇÃO

Localizado na Serra Catarinense, o município de Urubici se destaca em escala nacional como referência de um “lugar frio”, com atrativos naturais e belas paisagens, que o tornam atraente aos turistas que buscam na natureza e no frio, motivos para fazer turismo. Dessa forma, o município teve o início da exploração da atividade turística atrelado ao inverno, às baixas temperaturas, e às expectativas de precipitação de neve. No entanto, recentemente com a introdução de diversas possibilidades de lazer ofertados pelos empreendimentos que se dedicam a esta atividade, observa-se uma quebra na sazonalidade do turismo. Com isso, outras atividades relacionadas ao turismo passaram a se desenvolver no município, entre as quais o Ecoturismo e o Agroturismo que têm incentivado os turistas a visitarem Urubici em outras estações, diminuindo a sazonalidade e contribuindo com o desenvolvimento da atividade turística. Nesse contexto, para atender a esta demanda, surgem novas opções de hospedagem, gastronomia e lazer.

As redes de informações, o marketing que explora a imagem do campo, das paisagens naturais, relacionando-as a concepções que rementem a qualidade de vida, são fatores que possibilitam a mercantilização destes lugares - associados ao “fetiche” pelo espaço rural. Nota-se que tais fatores contribuem para a expansão do turismo nesse meio, onde, se atribui novos significados à natureza, as paisagens, por exemplo, passam a ser (re)conhecidas como um meio para o consumo dos produtos e serviços que são ofertados aos turistas.

Diante da crescente demanda turística, o município de Urubici tem recebido investimentos de empreendimentos ligados aos serviços relacionados à atividade turística, tais como, pousadas, fazendas-hotéis, restaurantes e infraestrutura para o lazer. Nesse contexto observa-se que Urubici vem se configurando como “território turístico”.

Quando empreendimentos turísticos se instalam em determinados lugares, inicia-se um processo de “territorialização turística” ou “turistificação”. Esse processo consiste na introdução de objetos e de ações em torno de serviços de recepção e lazer, e da promoção de uma organização espacial específica. Desta forma, a relação entre a atividade turística e o território adquire características específicas, que se projetam além do espaço produtivo para articular a seu serviço outros fatores sociais e econômicos que, por sua vez, manifestam sua particularidade sobre o território. Este contexto permite a criação de um novo espaço social denominado “território turístico”. O processo de territorialização turística leva então a criação dos “territórios turísticos”.

(24)

A categoria “território” é fundamental para compreender a produção do espaço geográfico, pois, se refere às relações de poder entre indivíduos, grupos sociais, instituições públicas e privadas, que se apresentam como os principais agentes no processo de transformação do espaço. De acordo com Santos, (2001), o uso do território define-se pela implantação de infraestruturas e também pelo dinamismo da sociedade e da economia. No município de Urubici a produção de um “destino turístico” está estreitamente ligada à implantação destas infraestruturas, o que torna a formação deste território um objeto a ser estudado.

Nessa pesquisa será analisada a cadeia produtiva do turismo no município de Urubici, pois, conhecê-la implica identificar o funcionamento de cada serviço envolvido na dinâmica da atividade turística, bem como os efeitos das políticas públicas no desenvolvimento desta. Para analisá-la é preciso, primeiramente, elencar o que é um “produto turístico”. De acordo com Kotler (2000) estes produtos são qualquer oferta, (bens, serviços, experiências, eventos, lugares, propriedades, organizações e informações), que satisfaça a um desejo ou necessidade. Esses bens e serviços são produzidos nas diversas unidades econômicas, e se somam ao longo da cadeia até serem postos em destaque entre os atrativos turísticos para o consumidor final, ou seja, o turista. O produto turístico é então resultado da exploração de recursos naturais e culturais e dos serviços produzidos. Após reconhecer sobre formas de analisar uma cadeia produtiva, optamos por estudar as seguintes dimensões da cadeia produtiva do turismo em Urubici: a “estrutura da cadeia”, que se refere aos recursos e ativos genéricos e específicos, ou seja, aos bens tangíveis e intangíveis disponíveis no território; a “configuração geográfica” que trata da espacialidade, esta dimensão implica diferentes aspectos, como por exemplo, na formação de aglomerações territoriais e de redes; e por fim, a “governança”, que permite compreender como uma cadeia produtiva é coordenada e controlada.

Na década de 1990 no município de Urubici se iniciava a preocupação em criar infraestrutura para receber os turistas, principalmente entre os anos de 1992 e 1996. Nesse período foi implantado o Posto de Informações Turísticas. Em 1997, ano em que foi estruturada a Secretaria de Turismo do município, existiam somente duas pousadas.

No decorrer da primeira década de 2000, principalmente na segunda metade, o município tornou-se alvo de projetos e roteiros turísticos tanto de caráter local e estadual, como nacional. Atualmente, de acordo com a Secretaria de Turismo, o município conta com 58 pousadas

(25)

25

registradas e 20 formas de hospedagem alternativa, totalizando aproximadamente 2.000 leitos.

Devido ao processo de turistificação pelo qual o município vem passando, há a inserção de um trade turístico. Este se refere ao mercado que envolve e interfere direta ou indiretamente na atividade turística, e é composto pelos setores público e privado, além das entidades. Diante dessa conjuntura, justifica-se o interesse em entender a territorialização da atividade turística no município de Urubici, analisando o processo de produção deste “destino turístico”, desde a década de 1990 aos dias atuais. Dessa forma, essa pesquisa é orientada pela seguinte questão: Como vem se territorializando a atividade turística no município de Urubici?

Nesse contexto, essa pesquisa tem como objetivo geral: Descrever e analisar o processo de territorialização da atividade turística no município de Urubici.

Quanto aos objetivos específicos buscou-se:

1. Identificar os bens e serviços tangíveis e intangíveis da atividade turística neste município;

2. Apresentar a estrutura da cadeia produtiva do turismo; 3. Analisar o processo de governança na atividade turística; 4. Apresentar a relação entre o território e o turismo.

A pesquisa foi organizada com a seguinte estrutura: introdução; capítulos um; dois; três; e considerações finais. No primeiro capítulo são apresentadas algumas reflexões sobre a relação entre a Geografia e o Turismo. Discutiremos no capítulo o conceito da cadeia produtiva do turismo, e as diferentes formas de abordagens desta cadeia através das seguintes dimensões de análise: estrutura da cadeia, a configuração geográfica e governança. Neste capítulo serão apresentados também, os diferentes segmentos turísticos.

O segundo capítulo aborda a gênese da ocupação da Serra Catarinense, trata-se de um apanhado histórico sobre os colonizadores e a inserção das primeiras economias, principalmente no município de Urubici. Neste capítulo é abordada a emergência da atividade turística no contexto da formação socioespacial da Serra Catarinense, ou seja, o surgimento, a configuração do turismo rural e os fatores que contribuíram para este novo uso do território. Para finalizar este capítulo, são apresentados os segmentos turísticos ofertados neste município, refletindo sobre a coexistência desta atividade nos meios rural e urbano.

(26)

No terceiro capítulo é analisada a territorialização turística em Urubici através da cadeia produtiva, sob as seguintes dimensões: a estrutura da cadeia; a configuração geográfica; e as formas de governança. No que tange à estrutura, são apresentados os bens tangíveis e intangíveis do território, e os aspectos referentes aos turistas, tais como: perfil, fatores que motivam a viagem e formas de acesso ao lugar. Sobre a configuração geográfica são abordados os seguintes aspectos: a aglomeração territorial com a formação dos APL´s referentes a atividade turística, e a formação das redes e dos circuitos turísticos. Por fim, tratamos das formas de governança quem existem no município e se relacionam a esta atividade analisando os diferentes órgãos que contribuem para o desenvolvimento do turismo, ou seja, os agentes ligados a economia: o setor público e privado, e as entidades.

Ainda no terceiro capítulo é apresentada a relação entre o território e o turismo, tratando do que o território oferece a atividade turística, e de como esta atividade influência o território. Esta relação exige uma análise no que se refere aos atributos naturais do município que são convertidos em ativos pela atividade turística através da implantação de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento desta atividade.

Nas considerações finais, buscou-se fazer uma abordagem das análises tratadas nos capítulos anteriores, e apontamentos acerca dos avanços e das dificuldades do município de Urubici enquanto formação de um território turístico.

Considerações teórico-metodológicas

Consideramos que o espaço se define pelas relações sociais que se dão sobre ele, sendo estas heterogêneas, variáveis e complexas, desta forma, essa pesquisa baseia-se no método de formação socioespacial. Santos (1996) utiliza este método fundamentado no conceito de formação econômica e social para referir-se ao processo de constituição de territórios nacionais. Nesse sentido, a formação socioespacial pressupõe uma análise geográfica da escala nacional, sendo a mediadora entre o mundo e o lugar nas suas especificidades.

Santos, (1982) propõe a utilização do conceito de “formação social” como base para pensar a sociedade considerando a relação dialética entre os elementos naturais e humanos. O método dialético permite contemplar as relações entre estes elementos em múltiplas escalas, seja local, regional, nacional e até mesmo mundial. Entende-se que uma análise espacial ampla é fundamental para compreender as

(27)

27

combinações resultantes da totalidade destes elementos que atuam sobre o espaço em questão.

Esta pesquisa parte então do método de abordagem crítico. Optou-se por uma metodologia monográfica, que este visa examinar o tema escolhido de modo a observar os fatores que o influenciam, analisando-o em todos os seus aspectos. Este método foi criado por Lê Play (1830), que o empregou para estudar famílias operárias na Europa (PRODANOV e FREITAS, 2013).

Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa configura-se como um “estudo de caso”. Yin (2005) afirma que o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que procura analisar um fenômeno contemporâneo, a partir de seu contexto e que pode ser considerado como uma abordagem qualitativa. Conforme Gil (2010), este procedimento é uma estratégia que envolve levantamento bibliográfico, análise documental e entrevistas semiestruturadas, e consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou mais objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento com o objetivo de examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto.

Essa pesquisa qualifica-se como “exploratória” e “descritiva”. Exploratória por ter como objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta seu significado e o contexto em que se insere. E descritiva, pois, de acordo com Triviños (1987), objetiva descrever as características de um dado fenômeno, ou seja, conhecer sua natureza, sua composição e seus processos que o constituem ou nele se realizam.

Nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles; os fenômenos são estudados, mas, não são manipulados. A pesquisa exploratória possui planejamento flexível, o que permite o estudo do tema sob diversos ângulos e aspectos. Em geral, envolve: levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e análise de exemplos que estimulem a compreensão (PRODANOV e FREITAS, 2013).

No que diz respeito aos levantamentos realizados em campo, utilizou-se de uma abordagem qualitativa, que, de acordo com Richardson (1985) é capaz de descrever a complexidade de determinado problema e analisar a interação de certas variáveis. Esta forma de abordagem considera a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido apenas em números. Na abordagem qualitativa, a pesquisa tem o ambiente natural como fonte direta para coleta de dados.

(28)

Como ferramenta para a coleta de dados primários foi utilizada a "entrevista", considerada como uma técnica de levantamento que dá grande importância à descrição oral dos informantes (TRIVIÑOS, 1994). As entrevistas foram orientadas por um roteiro de perguntas de forma semiestruturada a partir de questionamentos básicos, apoiados em teorias que interessam a pesquisa e que abrem campo para novas interrogativas à medida que recebem as respostas do informante.

Nos casos em que não foi possível realizar a entrevista pessoalmente, aplicou-se questionários via e-mail, compostos por uma série de perguntas abertas, ordenadas e respondidas pelo informante. Considera-se o questionário um instrumento ou programa de coleta de dados, que funciona como um facilitador durante a fase do levantamento dos dados. Foram utilizados também dados secundários. Estes dados foram coletados nas leituras de documentos de associações e órgãos que atuam na atividade turística.

Foram realizadas as seguintes ações:

Levantamento bibliográfico: esta etapa orientou a busca pela gênese e evolução do município de Urubici, suas características físicas e econômicas e os indícios da inserção da atividade turística. Tais informações foram fundamentais ao apoio teórico-metodológico que serviu como base na transcrição desta temática. As fontes consultadas incluem livros, artigos em periódicos, monografias, dissertações, e páginas da Internet.

Estudo bibliográfico e coleta de dados secundários: esta etapa consistiu no estudo do material levantado. Estes dados foram obtidos através dos órgãos públicos.

Levantamento em campo: foram realizadas duas atividades de campo no município de Urubici, e uma no município de São Joaquim, onde foram visitadas entidades responsáveis pelo turismo na Serra Catarinense. Como ferramenta para a execução desta etapa foram realizadas entrevistas semiestruturadas e pré-agendadas com os grupos relacionados a esta pesquisa.

Anteriormente ao levantamento feito em campo, foi realizada uma pesquisa externa ao município. Nessa etapa foram consultadas as agências e operadoras de turismo de Florianópolis que oferecem pacotes turísticos a Urubici. Foi também realizada uma pesquisa em sites de venda e divulgação dos serviços ofertados neste município pela internet.

Interpretação: esta etapa compreendeu a organização dos dados obtidos em campo, a fim de organizar as informações e facilitar a compreensão da importância e da intervenção da atividade turística neste

(29)

29

município, estes dados foram sistematizados através de quadros e gráficos.

Análise dos resultados e redação final do trabalho: esta etapa correspondeu à análise final dos resultados obtidos. Com o intuito de verificar as formas de adaptação do município de Urubici na atividade turística, foi elaborado um levantamento dos recursos, equipamentos e serviços turísticos disponíveis.

De acordo com Souza e Kliemann Neto (2002), a metodologia utilizada para analisar uma cadeia produtiva do turismo parte da sua estruturação genérica inicial, passando pela subdivisão em cadeia principal e cadeia auxiliar, até o detalhamento de cada um dos elos que a compõe. Segundo estes autores, a cadeia principal é composta por todos os elos que contribuem diretamente para obtenção do produto final, o que nesta pesquisa representa desde a implementação do negócio até o “consumo” pelos turistas. Ainda de acordo com Souza e Kliemann Neto (2002), a cadeia auxiliar é formada pelos elos que servem de suporte, apoio e sustentação à cadeia principal.

No que diz respeito à análise e descrição de uma cadeia produtiva, há diversas metodologias que auxiliam na obtenção de um modelo adequado, que traduz a dinâmica de pesquisa conforme o contexto que a envolve. Nesse sentido, valendo-se dos autores relacionados a seguir, optamos por analisar as propostas apresentadas a fim de evidenciar as dimensões que cabem a esta pesquisa.

Fuini (2010) aponta a proximidade, as instituições, as organizações, as convenções, o capital social e os recursos e ativos. Para este autor estas categorias compreendem uma cadeia produtiva, e devem ser analisadas quando se pretende descrever uma cadeia.

Dicken (2007) destaca três dimensões de análise: governança; espacialidade, ou configuração geográfica da cadeia; e inserção territorial, analisando a extensão com que as redes produtivas estão conectadas e integradas a determinados contextos sociais, institucionais e políticos.

Gereffi e Fernandez-Stark (2011) se baseiam na análise de quatro dimensões: a estrutura de insumos e produtos (o processo de transformação de matérias-primas em produtos finais), uma territorialidade, a configuração geográfica, uma estrutura de governança, e um contexto institucional.

Com base nestas três metodologias, consideramos pertinente selecionar as seguintes dimensões para o estudo da cadeia produtiva do turismo no município de Urubici: a estrutura da cadeia, a configuração geográfica, e a governança. A “estrutura da cadeia” refere-se aos recursos

(30)

e ativos genéricos e específicos, aos bens, tangíveis e intangíveis disponíveis no território.

A “configuração geográfica” trata da espacialidade. Ao analisar uma cadeia produtiva em escala local, certos elos da cadeia podem estar conectados a outros locais, aumentando sua configuração geográfica. Esta dimensão implica diferentes aspectos, por exemplo: a formação de aglomerações territoriais e de redes.

Com relação à “governança”, esta dimensão permite compreender como uma cadeia produtiva é coordenada e controlada. A partir do levantamento dos serviços disponíveis no município pode-se reconhecer os agentes que compreendem tal governança.

Foram contactadas 10 operadoras de turismo e 21 agências de turismo de Florianópolis (Apêndice VII). Ainda nesta etapa foi realizada uma busca pela internet com o intuito de descobrir quais são os meios de promoção e venda dos serviços turísticos do município. Procuramos pelas ofertas disponíveis nos seguintes sites: Booking, Decolar, Trivago,

TripAdvisor e Facebook.

Na segunda etapa, in loco, foram realizadas as seguintes entrevistas: em Lages com a responsável pela Fazenda – Hotel Pedras Brancas, sendo este o primeiro estabelecimento registrado como “turismo rural” no Brasil (Apêndice I); uma entrevista com um guia de turismo de Urubici (Apêndice II); entrevista com a Secretaria de Turismo do município de Urubici (Apêndice V); 3 agências de turismo de Urubici e uma de São Joaquim (Apêndice VI); e 34 meios de hospedagem em Urubici (Apêndice VIII).

Foram pesquisadas também sete organizações que atuam no turismo da Serra Catarinense e do município de Urubici: o Sindicato Rural de Urubici; o SESC; a POUSERRA (Apêndice III); o Convention

& Visitor Bureau (Apêndice IV); o CONSERRA (Apêndice IX); e a

(31)

31

CAPÍTULO 1 – RELAÇÕES SOBRE A GEOGRAFIA E O TURISMO

1.1 A ATIVIDADE TURÍSTICA NA GEOGRAFIA

Para muitos geógrafos tudo que existe na superfície terrestre, toda herança de história natural e todo resultado de ação humana objetivada são objetos de análise da ciência geográfica (SANTOS, 2009). O turismo é uma atividade que demanda intensa ação do homem no espaço, sendo capaz de construir e reconstruir territórios, logo, é objeto de estudo da geografia. No entanto, o estudo do turismo é multidisciplinar, constitui um conjunto de objetos de outras ciências e de técnicas comuns a atividades de outros campos ou especialidades, que se expressa em várias esferas: econômica, política, social, e cultural, necessitando, portanto, de diferentes elementos para que se analise a complexidade que envolve direta e indiretamente o seu desenvolvimento.

De acordo com Albach e Gândara (2011), desde o século XIX o turismo desperta interesse para os geógrafos. No Brasil, as décadas de 1970 e 1980 marcaram as primeiras reflexões teóricas voltadas para o olhar do pesquisador geógrafo em turismo. Coriolano, Mello e Silva (2005, p. 21) afirmam que: “há que se estudar Geografia para melhor compreender o turismo. A geografia é a ciência do espaço e o turismo concretiza-se nos espaços geográficos. O espaço geográfico é transformado em espaço turístico”.

Diante desse debate, tem-se a geografia como uma disciplina que contribui para os estudos do turismo, pois, por meio desta é possível entender a singularidade dos lugares onde o turismo se manifesta, compreendendo as relações socioespaciais e as diferentes maneiras que a sociedade interage com a natureza pelo uso do território.

Para Coriolano, Mello e Silva, (2005), a emergência do turismo responde ao aumento do poder econômico da burguesia e à expansão do assalariamento urbano, na Europa do século XIX No decorrer dos anos, o turismo se difunde chegando a todos os continentes, e muitos lugares periféricos. Estes autores consideram que o turismo decorre da expansão e acumulação do capital, da evolução do modo de vida da civilização, que criou técnicas, comércio, propaganda, serviços e formas de lazer.

Ainda de acordo com aqueles autores, o surgimento do turismo teve como base, a crescente necessidade de recuperação da força de trabalho e a descoberta do lazer como forma de recomposição desta força; a valorização e a apreciação de belezas cênicas; o avanço do

(32)

desenvolvimento da sociedade humana; do comércio; da indústria; dos transportes; das comunicações e do mercado.

Nesse sentido, viagens sempre existiram, mas o turismo configura-se com uma forma específica de viagem, uma invenção do capitalismo, que aproveita o tempo livre para maximizar lucros, que “transformam” o lazer em consumo, em negócio, como sinônimo de negação do ócio. Para isso, os agentes do turismo inserem o tempo livre no mercado através de ofertas, como por exemplo, através de excursões, festas e gastronomia típicas, monumentos, cidades históricas e modernas (Silveira, 1997).

Mas afinal, o que é turismo? De acordo com Barreto (2003), o conceito de turismo surgiu no século XVII na Inglaterra, referindo-se a um tipo especial de viagem. A palavra tour é de origem francesa, significa: volta, tem seu equivalente no inglês turn, e no latim tornare, remetendo-se a ideia de voltar. De acordo com a autora: “(...) turismo é o conceito que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, permanência e na saída dos turistas de uma determinada cidade, país ou estado” (BARRETO, 2003, p. 9).

Segundo Beni o turismo é:

(...) um conjunto de recursos naturais e culturais que, em sua essência, constituem a matéria-prima da atividade turística porque, na realidade, são esses recursos que provocam a afluência de turistas. A esse conjunto agrega-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu consumo, os quais compõem os elementos que integram a oferta no seu sentido amplo, numa estrutura de mercado (BENI, 2003, p.153).

Ainda de acordo com este autor, o turismo tem como diferencial o fato de ser “produzido” e “consumido” no mesmo local, ou seja, in situ, o que faz com que o consumidor se desloque para o local de consumo Beni (2003).

Para a Organização Mundial do Turismo – OMT (2003), o conceito de turismo compreende: “Uma atividade de pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente habitual por menos de um ano ou até um ano consecutivo, objetivando lazer, negócios e outras motivações” (OMT, 2003, p. 18). De acordo com esta organização é necessário regressar em até 12 meses ou permanecer por pelo menos 24 horas no local visitado para caracterizar uma viagem como “turística”.

(33)

33

De acordo com Machado (1985, p.14), a atividade turística deve ser vista como: “(...) uma mercadoria, pois está produzida a partir de variáveis do meio geográfico, com finalidade de consumo em valores variados, a partir das necessidades de consumo de cada ser humano”.

Conforme Rodrigues (1997) o turismo ocorre em lugares ditos “turísticos”, e que estão condicionados a existência de alguns elementos, entre os quais:

(...) oferta turística, demanda, serviços, transportes, infraestrutura, poder de decisão e de informação, sistema de promoção e de comercialização. É evidente que esses elementos se encontram em ação e interação recíprocas, não podendo ser compreendidos separadamente (RODRIGUES, 1997, p.45).

O turismo cria e recria formas espaciais, através de um processo de reestruturação, aposta nas diferenças locais e regionais criando novos objetos e novas ações que interagem com objetos e ações já existentes, de modo que o espaço seja organizado de acordo com uma nova lógica que visa à prática turística. Dessa forma, articula áreas de dispersão ou emissão, áreas de deslocamento, desenvolve dinâmicas entre fixos e fluxos, revelando suas tendências em várias escalas espaciais, produzindo o “espaço turístico” e reorganizando o espaço anteriormente ocupado, possibilitando o “consumo turístico” deste espaço (CÔRREA, 2007).

A partir da definição de Santos (1982), de que o espaço representa uma totalidade, entende-se a atividade turística como um meio de consumo do espaço que é apropriado pelo valor paisagístico que oferece, e pelas condições ambientais específicas que prevalecem em cada localidade.

Entre as tentativas de determinações e enquadramentos do que é o “turismo”, o mesmo já foi denominado como “indústria”, porém, configura-se como um prestador de serviço à própria indústria, uma atividade ligada ao setor terciário. Os serviços servem de apoio à produção, pois são derivados desta. A rotulação “indústria do turismo” indica então um equívoco conceitual, pois reduz a dimensão do turismo ao âmbito econômico (CORIOLANO, SILVA e MELLO, 2005).

Ainda de acordo com estes autores o turismo é, contudo, uma abstração, pois, o que existe são lugares e o que eles possuem transformados em atrativos turísticos naturais e culturais a serem

(34)

usufruídos pelos turistas a partir dos serviços ofertados na atividade turística. O turismo é resultante da interação entre os turistas e um conjunto de prestadores de serviços diretos e indiretos.

O desenvolvimento tecnológico nos meios de transporte e comunicação propicia as viagens turísticas. Desta forma, o turismo liga-se ao deliga-senvolvimento que apreliga-senta os mecanismos necessários à realização das viagens. As inovações tecnológicas configuram um novo período1 denominado por Santos (2001) como Meio

Técnico-Científico-Informacional composto pela tecnoesfera e a psicosfera2, estas são

indutoras do movimento que comanda o desenvolvimento deste novo período sendo a nova base material da sociedade e resultando na expressão geográfica da globalização. Para este autor, este meio faz com que determinados lugares se tornem mundiais.

Neste atual período, novas formas de circulação de bens e novas formas de consumo acabam por gerar também novas formas de produção (SILVEIRA, 1997). As formas de consumo não material e, entre elas, o lazer, aumentam e se disseminam no território. Para Santos (1991) esse parece ser o contexto da produção de turismo. Há então uma produção de lugares turísticos, alicerçada, em grande parte, na elaboração de um discurso, que contribui para uma fetichização de certos pontos do território que propiciam a produção do turismo.

Desta forma, a atividade turística acontece e se expande atualmente devido à globalização, a qual é responsável pela criação e pelo acesso às novas mercadorias e aos novos mercados, onde “tudo se pode vender” e “tudo se pode comprar” (CÔRREA, 2007). Cruz (2000) trata a dimensão escalar do turismo; para a autora, nas escalas mundiais e regionais o turismo implica a ampliação da produção e constituição de um mercado mundial e a transformação do espaço em mercadoria, movimento que vai do espaço de consumo ao consumo do espaço gerando a mercantilização destes; na escala local, o turismo implica o aprofundamento da separação entre espaço público e espaço privado, ou seja, a fragmentação do espaço.

1 Para Santos (2001, p.24): “Períodos são pedaços de tempo definidos por características que interagem e asseguram o movimento todo. A falência desmantela a harmonia do conjunto, determina a ruptura e permite um novo período”.

2 A psicosfera é reino das ideias, crenças, paixões e lugar da produção de um sentido, também faz parte desse meio ambiente, desse entorno da vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário (SANTOS, 2006, p. 173).

(35)

35

Neste contexto há inserção do espaço na esfera da produção, onde os lugares, enquanto dimensões do espaço geográfico são constantemente produzidos e reproduzidos, visando atender as necessidades criadas por e para uma sociedade que visa o consumo. Este processo leva a criação de “espaços de consumo”, criados para o “consumo do espaço”, em que o lazer e o turismo se apresentam como extensões das atividades produtivas, um novo ramo econômico, que se manifesta em diferentes condições (CÔRREA, 2007).

1.2 A TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA

Quando empreendimentos turísticos se instalam em determinados lugares, tende a iniciar um processo de “territorialização turística” ou “turistificação”. Esse consiste na introdução de objetos e de ações em torno de serviços de recepção e lazer, e da promoção de uma organização espacial específica. Para que a atividade turística se torne efetiva, os territórios se ajustam às suas necessidades. Novos objetos e novas ações; objetos antigos e novas ações: essa é a lógica da organização socioespacial promovida pela prática do turismo (CRUZ, 2000).

A relação entre a atividade turística e o território adquire características específicas, que se projetam além do próprio espaço produtivo, em sentido estrito, para articular a seu serviço outros fatores sociais e econômicos que, por sua vez, manifestam sua particularidade sobre o território. Este contexto permite a criação de um novo espaço social denominado “território turístico”.

O processo de territorialização turística leva então a criação dos “territórios turísticos”, nestes espaços se efetivam também as relações de poder entre os agentes envolvidos. Estes agentes são em sua maioria: os turistas; operadores turísticos; redes hoteleiras; empresas aéreas; restaurantes; hotéis e pousadas; e agências de viagens locais e externas que comercializam pacotes turísticos.

De acordo com Candiotto (2007), a territorialização turística é uma forma de territorialização do capital e corresponde à entrada de novos objetos técnicos em função do turismo, de novos agentes sociais, das ações desses e suas intencionalidades, de atividades econômicas, usos do solo, dos recursos naturais, da idealização do rural, da cultura e da natureza.

Esses novos elementos se inserem no lugar e modificam a dinâmica espacial local. Isso conduz

(36)

a novas relações culturais, isto é, a novas territorialidades, seja para a população local (direta e indiretamente ligada ao turismo), para os empreendedores, e para os turistas (em menor proporção) (CANDIOTTO, (2007, p.162).

A territorialização corresponde então ao processo de formação de um território, e depende do conjunto de objetos e de ações de diversos agentes, sejam firmas, órgãos públicos ou indivíduos. É física e material, e está vinculada aos aspectos políticos e econômicos. A territorialidade, por sua vez, está direcionada à área de influência de indivíduos e grupos sociais, sendo eminentemente vinculada à esfera social.

De acordo com Teti (2010), a turistificação de determinado território opera a expansão da atividade turística na condição de uma “indústria de lazer e entretenimento” e tem função estratégica na sociedade. A estruturação de um destino turístico é também um dispositivo de controle-dominação, pois, sanadas as urgências referentes à infraestrutura e acomodação turística, um destino turistificado torna-se meio de controle e regulação do fluxo turístico. Como efeito da criação desses territórios turísticos, há o controle e regulação da massa populacional da localidade em que atua, o que acaba por determinar novas formas de relações sociais, e novas formas de configurações locais. No processo de inserção da atividade turística em determinado território, o turismo pode ocorrer em dois âmbitos concomitantemente: como atividade econômica e como fenômeno.

1.2.1 A “atividade” turística x O “fenômeno” turístico

Nos estudos sobre o turismo é comum se deparar com diferentes formas de abordagem. Muitos autores o tratam como um fenômeno social, outros como um setor ou atividade econômica. Logo, para compreender a territorialização turística ou turistificação, vale refletir sobre estas duas abordagens.

Munõz de Escalona (1991) aborda o turismo como uma atividade: (...) que tem por finalidade satisfazer necessidades humanas destinando para tal fim recursos escassos suscetíveis de usos alternativos. O turismo não pode ser considerado como uma única atividade produtiva e sim um heterogêneo e complexo grupo de atividades produtivas, tal assertividade é uma consequência direta da consideração do turismo

(37)

37

como atividade consultiva, derivada de sua concepção como fenômeno social [...] (MUNÕZ DE ESCALONA, 1991, p. 278)

Para Ouriques (2005), o turismo constitui-se como um fenômeno socioespacial complexo, de grande valor simbólico-cultural aos sujeitos que o praticam e aos sujeitos que vivem nos lugares onde o turismo é praticado. De acordo com este autor, o turismo se manifesta no sistema capitalista:

(...) como uma forma de fetichismo. As paisagens naturais e socialmente construídas tornam-se objetos de consumo turístico, como se isso fosse uma característica a elas inerente. Dessa forma, por meio da valorização de lugares onde os atributos paisagísticos deliciam os sentidos humanos, é produzido o fetichismo espacial (OURIQUES, 2005, p.20).

Molina (1991) propõe o modelo fenomenológico para substituir o econômico de turismo e afirma que:

A relevância contemporânea do fenômeno turístico não pode ser explicada a partir do pressuposto econômico. Isso implica decompor o objeto reduzindo-o a um dos seus elementos simples. O modelo indústria turística não é turismo, é uma elaboração conceitual econômica tangível, cuja essência está delineada por uma cosmovisão materialista, mecanicista e reducionista da experiência humana (MOLINA 1991, p. 106). Este autor discute a elaboração de teorias do “funcionamento” do fenômeno turístico defendendo a teoria dos sistemas, e associa esta teoria com a cibernética, elaborando um modelo através do qual o sistema de turismo compõe-se de subsistemas que estão diretamente relacionados a um “supersistema” sociocultural. De acordo com Molina (19991), são seis os subsistemas: superestrutura organizacional (empresas oficiais e particulares do turismo), e conceitual (leis e programas); demanda; atrativos; equipamentos tais como os meios de hospedagem, rede gastronômica, de agências), e instalações (piscinas, marinas, teleféricos, quadras desportivas); infraestrutura interna (rede de água, esgoto,

(38)

telefones), e externa (aeroportos, estradas, tudo que permite conexão com outros locais); e a comunidade local, comunidade receptora. Estes seis subsistemas estão interligados e contidos no supersistema sociocultural ao qual se reportam.

Este modelo fenomenológico proposto por Molina (1991) baseia-se no processo de auto realização humana, tanto para o turista como para o receptor, cuja troca de experiências, conduz a uma perspectiva do mundo social. Segundo Barreto (2003), o fenômeno do turismo está ainda em formação, parte dele consiste na elaboração de teorias sobre o funcionamento deste fenômeno e de modelos explicativos.

No Brasil, a teoria dos sistemas aplicada às atividades turísticas foi difundida por Beni (2002). Este autor apresenta o modelo empírico do Sistema de Turismo - SISTUR, formado por três conjuntos: das relações ambientais; das ações operacionais e da organização estrutural da oferta; e da demanda turística.

O campo teórico metodológico estabelecido pelas categorias analíticas exploradas pelos estudos geográficos oscila entre a compreensão da inserção do turismo em determinado lugar como fenômeno e como atividade. A categoria “paisagem”, por exemplo, pode ser analisada como fenômeno e como atividade, visto que pode ser considerada como elemento central na atratividade dos fluxos turísticos. Figura 1. Sistema proposto por Molina (1991). Fonte: Barreto (2003).

(39)

39

A paisagem é uma categoria importante para estabelecer identidades e geograficidades de determinados grupos sociais. É por meio do trabalho humano que a paisagem é transformada em objetos culturais. De acordo com Santos (2004, p. 103) a paisagem é:

(...) o conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas, entre homem e natureza. A paisagem nada tem de fixo ou imóvel, cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade.

Nesta perspectiva, a paisagem torna-se relevante aos estudos do turismo, pois reúne atrativos físicos e humanos, apresentando, sua identidade cultural e fornecendo subsídios para o estabelecimento dos segmentos turísticos. Em determinadas localidades, pode-se entender a paisagem como um recurso da atividade turística.

De acordo com Silva e Gelbecke (2004), a paisagem serve como um meio para o consumo de produtos e serviços que são ofertados aos turistas. Sob esta perspectiva, “o diferencial paisagístico é importante não como uma mercadoria em si, mas para atrair o interesse do turista em, por exemplo, hospedar-se na propriedade ou na região” (SILVA e GELBECKE 2004, p.6).

A categoria “espaço” está também intimamente ligada a estes dois âmbitos do turismo – atividade e fenômeno, pois o espaço é construído, transformado e adaptado mediante o usufruto da atividade turística, do ócio e do lazer, da implementação das tecnologias, estradas, visando o deslocamento, o acesso aos lugares. Sánchez (1991) trata da existência do “espaço do ócio”, para o autor a incorporação deste espaço ao processo econômico implica a configuração de uma atividade produtiva que o transforma em mercadoria. Ainda de acordo com Sanchéz o espaço natural é tido como um recurso primário e inesgotável, ou seja, quando há atividade turística em determinado lugar, se ocupa o espaço, mas não se consome o recurso.

(40)

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. (...)

Para este autor, os objetos têm substituído a natureza selvagem e condicionado as ações da mesma forma. Essas ações levam à criação de novos objetos, ou seja, o espaço renova sua dinâmica e se transforma. Esta transformação deve-se às intervenções do homem, às quais o espaço se adapta, seja para o bem local ou para atrair pessoas de outras localidades, como por exemplo, os turistas.

Rodrigues (1997), no âmbito do turismo, faz uma interpretação dos cinco elementos do espaço: os Homens, as Firmas, as Instituições, as Infraestruturas e o Meio ecológico, descritos por Santos (1985). Nesta interpretação, os Homens correspondem à demanda turística e população residente; as Firmas, à produção de serviços, tais como, hospedagem, alimentação, agências; as Instituições correspondem às normas estatais, as ordens, legitimações, por exemplo, a OMT, EMBRATUR, ou seja, as políticas do turismo; as Infraestruturas contemplam as redes de água, saneamento básico, segurança, saúde, comunicação; e o Meio ecológico representa o conjunto de complexos territoriais que constitui a base física do trabalho humano, é também resultante das ações humanas. Este meio é cada vez mais modificado pela técnica, ou seja, a tecnosfera, denominada por Santos (2006) como a artificialização crescente do meio como o grau que o espaço se submete à técnica. No âmbito do turismo, a tecnosfera se expressa através da produção das infraestruturas necessárias ao lazer de determinado lugar.

A autora faz também uma leitura das categorias de análise espacial propostas por Santos (1985): Forma, Função, Estrutura e Processo relacionando-as ao turismo. Para Rodrigues (1997) a Forma: remete à paisagem, notável recurso turístico, explorado pelo marketing turístico em folders promocionais; a Função significa abordar a função dos elementos da oferta e da demanda no diagnóstico que antecede intervenções do planejamento; a Estrutura trata do dinamismo espacial, da rede de relações; e o Processo trata das ações e interações de todos os elementos, contemplando as categorias forma, função e estrutura num

(41)

41

movimento diacrônico. Logo, o espaço é fruto da relação dialética de distintos agentes, que possuem diferentes interesses, os quais são manifestados na sua organização.

Os espaços produzidos ou adaptados, transformados pelo turismo e para o turismo, são criados sobre uma base paisagística que, associada aos aspectos culturais, históricos sociais e ambientais, se constitui como matéria-prima para o contínuo processo de produção e reprodução das mercadorias (CÔRREA, 2007).

A categoria “lugar” na Geografia tomou inúmeras interpretações, em síntese, é associado ao cotidiano, ao espaço vivido, familiar. É no lugar que se manifestam as identidades dos grupos sociais e das pessoas. De acordo com Santos (1999), o lugar é resultado de ações locais e extra locais do passado e do presente. Para Silveira (1997, p.43) “É no lugar que o mosaico de culturas floresce, mostrando diversidade e contradição de tradições, costumes, formas de lazer e de dizer regionais”. A autora trata da produtividade espacial dos lugares afirmando que esta produtividade se dá através do calendário turístico, das festas típicas, das formas de turismo ofertadas, e dos pontos denominados “turísticos”. Estas manifestações indicam as formas potenciais da produtividade espacial.

Benko (1994) identifica estas manifestações como “meios regionais inovadores”, caracterizados por uma dada criatividade socioeconômica, um conjunto de habilidades coletivas no lugar que se manifesta por meio da cultura. Esse autor considera este conjunto como um dado fundamental na análise da produção local do turismo.

De acordo com Candiotto (2007): o território criado para fins de lazer e/ou do turismo é um “território turístico”, e corresponde ao espaço onde se efetivam as relações de poder entre os agentes sociais envolvidos com a atividade turística. Logo, quando determinado projeto, circuito ou empreendimento turístico se instala em um lugar, inicia-se um processo de territorialização turística – ou turistificação – desse lugar, criando um novo território turístico.

Portanto, o processo de turistificação de um território, municipal ou regional, acaba por implicar a organização e articulação de mais agentes e estratégias para gestão e produção deste território. Esta prática de turistificação impõe o uso de dispositivos e estratégias para articulação dos elementos constituintes da infraestrutura turística.

1.3 A CADEIA PRODUTIVA NO ESTUDO DA

(42)

Ao tratarmos o turismo como uma atividade econômica, o conjunto de produtos e serviços ofertados na atividade turística pode ser estudado através da análise da cadeia produtiva. Segundo a OMT (2006) e a

Comisión Europea (2003), a economia do turismo compreende as

empresas ligadas direta e indiretamente às atividades turísticas através de seus efeitos transversais produzidos por 55 setores econômicos, (empresas de impressos, bancos, saneamentos, imobiliárias, indústria automobilística e aeronáutica, informática, alimentação, lavanderias, combustíveis, construção, entre outros), que de alguma maneira são influenciados pela atividade turística.

Esta atividade compreende os “produtos e serviços turísticos”. Com relação aos produtos Kotler (2000) conceitua-os como qualquer oferta (bens, serviços, experiências, eventos, lugares, propriedades, organizações e informações) que satisfaça um desejo ou necessidade. O autor classifica os produtos de acordo com a sua durabilidade e tangibilidade. Desta forma, estes produtos podem ser bens não-duráveis, que são bens tangíveis e normalmente consumidos ou usados uma ou poucas vezes; bens duráveis, que são bens tangíveis e geralmente usados em um período de tempo; e serviços que são produtos intangíveis, inseparáveis, invariáveis e perecíveis fisicamente.

De acordo com Beni (2002):

O produto turístico é o resultado da soma de recursos naturais e culturais e serviços produzidos por uma pluralidade de empresas, algumas das quais operam a transformação da matéria-prima em produto acabado, enquanto outras oferecem seus bens e serviços já existentes [...]. No caso do turismo, há uma característica ainda mais marcante: o produto turístico é produzido e consumido no mesmo local e o consumidor é que se desloca para a área de consumo [...]. O momento de produção coincide com a distribuição e muitas vezes com o de consumo [...]. (BENI, 2002, p. 26).

(43)

43

Lage e Milone (1996) definem o produto turístico como um conjunto de bens e serviços referentes a toda atividade de turismo, sendo um composto constituído por acomodação, alimentação, transporte e entretenimento. Para Vaz (2001), o produto turístico é um complexo de benefícios que o consumidor procura em determinada localidade e que são usufruídos tendo como base estrutural um conjunto de serviços disponibilizados por diversas organizações. Na Figura 2, é possível compreender como ocorre o fluxo de um produto turístico:

Na Figura 2 é possível ter dimensão da complexidade na formação e no fluxo de um produto que compreenda os diversos elos, tais como, operadoras, agências, e que atenda o consumidor final, o turista. De acordo com Gereffi e Korzeniewicz, (1994), a cadeia produtiva refere-se à ampla gama de atividades envolvidas na concepção, produção e comercialização de um produto. É um conjunto constituído por agentes e atividades inter-relacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação, comercialização e consumo em determinado entorno.

Com relação aos serviços turísticos Kotler (2000), afirma que qualquer ato ou desempenho essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer para outra, é um serviço. Para Beni (2002) a classificação dos serviços turísticos, destinados a satisfação das motivações, necessidades e preferências do turista, determina-se a partir dos seguintes

(44)

aspectos: serviços receptivos (atividades hoteleiras e extra-hoteleiras); serviços de alimentação; serviços de transporte (da residência à destinação turística e no centro receptor); serviços públicos (administração turística e postos de informações); e serviços de recreação e entretenimento na área receptora.

Com relação à análise de uma cadeia produtiva, Gereffi e Korzeniewicz, (1994), afirmam que uma das primeiras etapas realizadas consiste na identificação e caracterização de seus elos e segmentos. A cadeia representa todo o conjunto de atividades que se articulam progressivamente desde o início da elaboração de um produto, até que ele chegue ao consumidor final. Esta caracterização inicial da cadeia produtiva envolve bens e serviços, além de setores de apoio.

Para Van der Heyden e Camacho (2006, p.14): "a cadeia produtiva é um sistema composto de atores interconectados e uma sucessão de operações de produção, transformação e comercialização de um produto ou grupo de produtos em um determinado ambiente”. As cadeias produtivas refletem então as relações entre agentes em um sistema de produção, comercialização e acesso ao mercado. Logo, a estrutura e dinâmica deste conjunto de agentes, ações, relações, transformações e produtos resulta em uma cadeia produtiva.

Segundo Selmany (1993), cada cadeia produtiva constitui uma sequência de atividades que se completam e se ligam por operações de compra ou de venda. Esta sequência é decomposta em segmentos, desde a “extração” da matéria-prima e a “fabricação de bens e equipamentos” até a distribuição e os serviços ligados ao produto em si. Uma cadeia produtiva é constituída pela cadeia principal e pela auxiliar, possui elos, os quais podem ser classificados em: fontes de matéria-prima, processadores, distribuidores ou prestadores de serviços.

Em relação a estes elos, Batalha (1997) afirma que a análise de uma cadeia produtiva deve ser definida a partir da cadeia principal, das atividades diretas e vinculadas ao objetivo principal da cadeia; e das cadeias auxiliares, que correspondem às atividades indiretas e de apoio ao objetivo da cadeia principal. Esta cadeia objetiva a satisfação das necessidades humanas, como por exemplo: alimentação, vestuário e moradia, enquanto as cadeias auxiliares são atreladas a principal, fornecendo elementos necessários ao cumprimento de suas funções e produzindo os meios utilizados por esta, contribuindo, de forma indireta à satisfação das necessidades humanas.

1.3.1. As diferentes abordagens sobre as cadeias produtivas do turismo

Referências

Documentos relacionados

O fato de a porcentagem de mulheres no sistema prisional ser baixa (6,3% no Brasil e entre 0% e 29,7% no mundo) faz com que suas necessidades não sejam consideradas

Assim como a amostra da escola privada, foi possível obser- var que na amostra da escola pública, Figura 4, os maiores valores encontrados no estado nutricional de obesidade, foi

A conceituação do que vem a ser Convenção Coletiva encontra-se no artigo 611 da CLT, (Brasil, 2017): que em síntese define ser a Convenção Coletiva de Trabalho um acordo de

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados

A teoria das filas de espera agrega o c,onjunto de modelos nntc;máti- cos estocásticos construídos para o estudo dos fenómenos de espera que surgem correntemente na

A cirurgia, como etapa mais drástica do tratamento, é indicada quando medidas não invasivas como dietas restritivas e a prática regular de exercícios físicos

As análises serão aplicadas em chapas de aços de alta resistência (22MnB5) de 1 mm de espessura e não esperados são a realização de um mapeamento do processo

Quanto às suas desvantagens, com este modelo, não é possível o aluno rever perguntas ou imagens sendo o tempo de visualização e de resposta fixo e limitado;