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A EMERGÊNCIA DA ATIVIDADE TURÍSTICA

CAPÍTULO 2 – A EMERGÊNCIA DO TURISMO EM URUBIC

2.3 A EMERGÊNCIA DA ATIVIDADE TURÍSTICA

Conforme discutido anteriormente, o desenvolvimento econômico inicial da Serra Catarinense se deu através das atividades extrativistas e agrícolas. Contudo, a partir da década de 1990, o meio rural passou por transformações relacionadas a emergência de uma nova atividade econômica, o turismo. Esta atividade propiciou o surgimento de uma nova dinâmica ao lugar. Souza (2005) afirma que o espaço rural tem se ressignificando com o surgimento de novas formas de trabalho, menos desgastante quando comparadas à agricultura e rentáveis para as pessoas envolvidas19.

No contexto mundial, há várias hipóteses sobre o surgimento das primeiras experiências turísticas no meio rural. Contudo, de acordo com o Ministério do Turismo - MTUR (2010), o turismo rural despontou como atividade econômica na Europa e nos Estados Unidos em meados do século XX. A década de 1980 é considerada pelo MTUR o marco inicial desta atividade no Brasil.

O fator impulsionador da atividade turística na Serra Catarinense foi o frio. As baixas temperaturas, as geadas e a expectativa de neve compõem o conjunto de fatores que motiva a vinda de turistas, tal fato, incentiva a gestão pública e o setor privado a dedicar maiores investimentos em infraestrutura. A ocorrência de neve na Serra Catarinense é propagada por todo o país. Segundo Schmitz (2007) na década de 1990 foi incrementado o número de estudos de climatologia acerca do frio intenso e dos processos de ocorrência de neve. O autor destaca que:

(...) do ponto de vista quantitativo ou como etapa do ciclo hidrológico, a neve possui, evidentemente,

19 Os arquivos do Diário Catarinense, (2005, 2006, 2007a), mostram que parte das antigas fazendas de plantação de maçã e hortaliças passaram a incorporar o turismo rural na agenda de atividade a fim de diversificar a renda familiar.

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menos importância que a chuva no Brasil. Contudo, qualitativamente e, sobretudo com a crescente relevância do turismo, o conhecimento acerca da neve ganhou corpo e destaque ao longo dos últimos anos (SCHMITZ, 2007, p. 1).

No fim da década de 2000, além da neve outros importantes fatores passam a ser valorizados nesta região impulsionando o turismo para além da estação de inverno, são estes: as belezas naturais, os campos, as cachoeiras, e o modo de vida, a “identidade serrana”. Estes fatores colaboraram para que tais investimentos se dessem no meio rural. A partir da inserção da infraestrutura turística e dos serviços que passaram a ser oferecidos, as atividades ecológicas, as diferentes formas de lazer oferecidas no meio rural tornam-se importante foco turístico.

Na Serra Catarinense, durante a década de 1970, o município de Lages20 destacou-se como pioneiro na introdução da atividade turística no

meio rural. A inserção do município nesta atividade liga-se a um período de estagnação econômica. Os fazendeiros, produtores do município passavam por dificuldades devido à dependência econômica da pecuária. Desta forma, a atividade turística se desenvolveu por iniciativa de empreendedores familiares de fazendas – capital local, como nova alternativa econômica (TULIK, 2003).

De acordo com o Ministério do Turismo - MTur (2010):

No Brasil, o início do Turismo Rural como atividade econômica está relacionado ao município de Lages, em Santa Catarina, onde teriam surgido em 1985 as primeiras propriedades rurais abertas à visitação. A partir de então a atividade começou a ser caracterizada como Turismo Rural e encarada como oportunidade por seus realizadores, que buscavam alternativas às dificuldades que o setor agropecuário enfrentava (BRASIL, 2010, p. 13- 14).

20 O município de Lages continua sendo o centro dos principais eventos regionais, considerada a capital do turismo rural no Brasil, dentre os principais eventos se destaca a Festa Nacional do Pinhão, organizada pela prefeitura. O pinhão principal símbolo da festa é utilizado na confecção de pratos típicos, tais como a paçoca de pinhão e o entrevero. A festa também rememora o passado através da tradição do tropeirismo, com destaque para a incorporação das tradições gaúchas por meio dos Centros de Tradição Gaúchas – CTG´s.

A primeira experiência de destaque em turismo rural no município de Lages ocorreu na Fazenda Pedras Brancas. Em entrevista com a atual responsável pela fazenda, obtivemos a informação de que o lugar pertence à família Gamborgi, de origem italiana, que ao chegar ao Brasil se instalou inicialmente no Rio Grande do Sul e depois migrou para Lages. As primeiras atividades na fazenda foram a leitaria e a criação do gado de corte. Esta fazenda foi fundada em 1894, e passou a atender com serviços de Fazenda - Hotel em 1985.

No início da década de 1980 houve uma parceria entre a Fazenda Pedras Brancas e a Prefeitura de Lages, em que a prefeitura passou a subsidiar o serviço de almoço servido na fazenda aos turistas21 que

viajavam com a empresa de viagens CVC, e pernoitavam no município de Lages. Este foi o primeiro serviço turístico ofertado no meio rural aos visitantes. Logo, a gastronomia típica da região foi o primeiro atrativo turístico. Nestes almoços estavam presentes gaiteiros e casais apresentando danças típicas.

De acordo com Gamborgi:

Três meses após iniciar este serviço de almoço, o responsável da empresa CVC pelo trajeto, São Paulo - Rio Grande do Sul, foi até a nossa fazenda e a incluiu no roteiro turístico (informação oral).22 Após a inserção da fazenda no roteiro da CVC e a ampla divulgação da fazenda, os visitantes passaram a solicitar opções de hospedagem. Inicialmente alguns hóspedes foram recebidos na casa da família proprietária. Com o passar dos anos a família passou a investir na construção de cabanas23 para ampliar serviços e atender a demanda.

A fazenda Pedras Brancas serviu de modelo para outros empreendimentos no município, a exemplo das fazendas centenárias Boqueirão e Barreiro, bem como para a Serra Catarinense como um todo neste ramo de turismo rural. De acordo com a Associação de Turismo da Região Serrana – SERRATUR, estas fazendas encaixam-se na

21 Estes turistas tinham como origem o estado de São Paulo e destino ao Rio Grande do Sul.

22 Gamborgi, entrevista realizada na fazenda Pedras Brancas no dia 11/09/2014. 23 Atualmente a Fazenda-Hotel Pedras Brancas conta com quatro cabanas, 23 apartamentos totalizando 100 leitos e 20 funcionários fixos com contratação extra para os finais de semana.

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modalidade denominada “Fazendas-Hotéis”, pois seguem com atividades agropecuárias, gastronomia e cultura típicas da região.

Inicialmente estas fazendas-hotéis eram mais procuradas durante o inverno devido principalmente a expectativa de neve. Porém, de acordo com a proprietária da Fazenda Pedras Brancas, atualmente o turismo no meio rural não se enquadra mais na denominação “turismo de inverno”, pois há procura durante o ano todo. A mesma afirma que não há mais a baixa temporada, mas que existe a alta temporada, entre os meses de maio a agosto e a média temporada entre setembro e abril.

De acordo com a SERRATUR, a atividade turística se organizou e desenvolveu na região serrana a partir da década de 1990. Com o desenvolvimento desta atividade surgiram diferentes segmentos turísticos ligados principalmente ao turismo rural. De acordo com o Plano de Desenvolvimento Regional de Turismo do Estado de Santa Catarina 2010/2020, os segmentos turísticos priorizados pelos agentes regionais no Fórum de Regionalização ocorrido em 2008 na Serra Catarinense foram: Ecoturismo; Turismo Cultural; Turismo de Aventura; Turismo de Negócios e Eventos; Turismo Religioso; Turismo de Esporte; Turismo Rural: Agroturismo e Enogastronomia.

2.4 A atividade turística e suas segmentações no município de Urubici

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