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Psicodinâmica da vida mental coletiva: o ego que desvanece na massa

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Academic year: 2021

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JULIANE MITTELSTADT BOAVENTURA

PSICODINÂMICA DA VIDA MENTAL COLETIVA: O EGO QUE DESVANECE NA MASSA

Santa Rosa 2016

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PSICODINÂMICA DA VIDA MENTAL COLETIVA: O EGO QUE DESVANECE NA MASSA

Monografia apresentada como requisito para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Prof. Ms. Iris Fátima Alves Campos

Santa Rosa 2016

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Dedico este trabalho a todas aquelas pessoas que questionam e não se contentam com as respostas, em especial àquelas que deixaram seu legado de conhecimento e nos possibilitaram ver mais longe.

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Não desejo suscitar convicções, o que desejo é estimular o pensamento e derrubar preconceitos. Sigmund Freud

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INTRODUÇÃO...7

1. OS FENÔMENOS DE MASSA...8

1.1. CARACTERIZAÇÃO DA MASSA...9

1.2. O VÍNCULO LIBIDINAL...11

1.3. ID, EGO E SUPEREGO...13

1.4. RENÚNCIA PULSIONAL E O PRINCÍPIO DE REALIDADE...15

1.5. A ECONOMIA PSÍQUICA E SUAS TRÊS INSTÂNCIAS...17

2. FENÔMENO DE MASSA E O LÍDER...20

2.1. SINOPSE DO FILME A ONDA (DIE WELLE) ...20

2.1.1. A identificação...21

2.1.2. A violência manifesta...22

2.1.3. A queda do líder...23

2.2. O LÍDER E A HISTÓRIA COMO A CONHECEMOS...25

2.3. MÍDIAS E DIFUSÃO DE IDEIAS...29

CONSIDERAÇÕES FINAIS...31

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O sujeito inserido na massa apresenta características diferente daquelas que mostra na sua individualidade. A análise do funcionamento das massas e como o sujeito apresenta alterações no seu comportamento é o objeto de estudo deste trabalho. Os conceitos de massa, instâncias psíquicas do aparelho mental, identificação, entre outros, serão trabalhados a fim de elucidar a questão problema. No primeiro capítulo será trabalhado as principais características e fenômenos inconscientes presentes na massa, e no segundo capítulo será apresentado o papel e influência do líder. Com esse estudo é possível relacionar a dominação que o id possui sobre o ego, pois o superego está enfraquecido ao estar na coletividade, os bloqueios desvanecem e então o sujeito age conforme o ideal de ego que encontra na massa.

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The subject inserted in the mass presents characteristics different from those that show in its individuality. The analysis of the functioning of the masses and how the subject presents changes in its behavior is the object of study of this work. The concepts of mass, psychic instances of the mental apparatus, identification, among others, it will be worked out in order to elucidate the problem question. In the first chapter will be worked out the main characteristics and unconscious phenomena present in the mass, and in the second chapter will be presented the role and influence of the leader. With this study it is possible to relate the domination that the id has over the ego, because the superego is weakened by being in the collective, the blockades fade and then the subject acts according to the ego ideal that it finds in the mass.

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INTRODUÇÃO

O estudo das massas é responsável por clarear algumas ideias a respeito da agressividade de uns sujeitos contra os outros enquanto formação grupal e principalmente das mudanças vividas enquanto pertencentes da massa. Esses fenômenos estão presentes em cada cultura, século e civilização.

O agrupamento das massas acontece como algo provisório sem necessariamente possuir alguma finalidade. O sujeito inserido então nessa coletividade perde e ganha muitas características que não apareciam na sua individualidade.

Neste trabalho elenco dois pontos principais apresentando-os em dois capítulos. O primeiro ponto é sobre como funciona essa vida mental coletiva e quais são os processos psíquicos e inconscientes que estão presentes. O segundo ponto é a parte mais prática do fenômeno de massa, como ele acontece na sociedade e para que ele aconteça o que a figura do líder representa e qual o seu papel.

O conceito de massa está para além de uma mera aglomeração de pessoas em uma estação de metrô, engloba um grupo de pessoas reunidas sem necessariamente ter um propósito, mas que ao serem estimuladas por um agente externo agem de maneira impulsiva e incoerente com as normas impostas pela sociedade.

No primeiro capítulo serão trabalhadas as características principais da massa, e realizada uma explanação sobre a vida mental coletiva, como e porque ela ocorre de forma tão impulsiva. Os autores principais a qual é buscado subsídio para tais explicações são Sigmund Freud, Gustave Le Bon, Herbert Marcuse, entre outros. O objetivo desse capítulo é a busca por respostas do funcionamento mental coletivo e quais processos subjetivos estão relacionados ao fenômeno grupal.

No segundo capítulo serão trabalhadas duas questões, primeiramente a análise de um filme que apresenta características presentes na massa e por segundo sobre o papel do líder. Por apresentar um marco fundamental na nossa história, será elencado como figura de líder Adolf Hitler, que foi capaz de liderar uma nação através de seu discurso e da exploração dos recursos midiáticos presentes na sua época. Utilizou-se desses meios para entusiasmar e liderar uma grande massa. Aspectos dos fenômenos inconscientes serão explorados a fim de

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1. OS FENÔMENOS DE MASSA

Os seres humanos fazem parte da categoria mais complexa da evolução, pensam, possuem sentimentos e se expressam de diversas maneiras, seja ela na sua individualidade ou em um coletivo que lhe representa em algum aspecto. São indivíduos instáveis e que se modificam a partir dos estimuladores que são encontrados em seu meio. Essa afirmativa um tanto quanto Behaviorista sobre os reforçadores e estímulos provenientes do meio externo abre espaço para algumas interrogativas sobre o que acontece para além do que é observável em fenômenos sociais.

Essa instabilidade e incerteza de um comportamento civilizadamente esperado se mostra presente nos fenômenos de massa, para Ávila (1991, p.288) “ [...] a massa seria um tipo de grupo no qual a ação de um indivíduo pode ter uma influência imediata sobre o comportamento do conjunto, contrariamente ao que acontece com os coletivos abstratos. ” O autor ainda comenta que:

“A massa é diferente do grupo, que denota uma certa estabilidade de estrutura e organização. As massas são facilmente empolgadas e conduzidas a atos de violência e a explosões irracionais. Provocar a emocionalidade e a irracionalidade das massas é manifestação de baixos sentimentos morais. ” (ÁVILA, 1991, p.288)

O estudo das massas e também da individualidade dos sujeitos é um dos principais objetos de pesquisa para vários estudiosos e apresenta diversas interpretações de acordo com cada teoria. Segundo a teoria psicanalítica o indivíduo cercado de um cenário social, político e cultural interage com o que lhe é apresentado de acordo com o seu sustento constitucional, ou seja, interage com o meio e com si mesmo a partir das experiências e constituição subjetiva que lhe foram conferidas no decorrer da sua vida.

Para esse estudo o objeto é a mudança comportamental e moral de indivíduos considerados sadios mentalmente frente a situações de massa. O indivíduo sem nenhuma patologia que interfira no seu senso crítico e moral é responsável por suas ações e deve entender seus atos como algo que possa causar várias reações e a partir disso, implicar-se na sua decisão. Pensar, refletir e agir a partir de uma análise das consequências que as atitudes podem gerar, é considerado um processo normal e de suma importância na sociedade atual. Na individualidade isso é considerado um processo fundamental para se viver no coletivo,

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mas na massa isso ocorre da mesma maneira? Várias pessoas unidas por um elo coletivo pensam nas consequências de seus atos ou apenas deixam-se seduzir por uma ideia?

Com essas questões, inicio a pesquisa para entender quais são os processos fundamentais por trás dos fenômenos de massa. Para dar conta deste propósito é preciso entender o sujeito como objeto de estudo central na Psicanálise, concebido como portador de um inconsciente que o determina, ou com as palavras de Freud, “o eu não é mais senhor em sua própria casa” (Freud, [1917] 1944: 295), seus atos dão prova de uma determinação inconsciente, sua constituição subjetiva engloba vários fatores inconscientes de renúncia pulsional frente aos impulsoslibidinais.

Cada sujeito possui sua trajetória constitutiva singular e a partir da mesma reage aos estímulos do meio da sua maneira. Inserido em uma massa composta por diversas outras pessoas que também tem sua subjetividade e singularidade próprias, sendo provocados por estímulos externos que transmitem ideias, ideologias e pensamentos satisfatórios, vemos um agir em sintonia, cumplicidade. O que faz esses diferentes sujeitos apresentarem o mesmo comportamento e impulsividade?

1.1.Caracterização da massa

Nos processos sociais, a massa está para além do agrupamento de muitas pessoas, é um fenômeno que envolve várias questões subjetivas de caráter comportamental e moral. A área do comportamento contempla as ações de agressividade e destrutividade para com o outro e objetos externos, e a moral é envolta de ações dirigidas a essa agressividade comportamental. Ambas se complementam e acabam por formar um modelo de ser que molda os diversos sujeitos e os torna em um só. Na massa não existe mais o impossível, todos ganham uma força indestrutível e capaz de enfrentar qualquer coisa que se oponha contra a sua busca. Freud contempla a massa como:

Um grupo impressiona um indivíduo como sendo um poder ilimitado e um perigo insuperável. Momentaneamente, ele substitui toda a sociedade humana, que é a detentora da autoridade, cujos castigos o indivíduo teme e em cujo benefício se submeteu a tantas inibições. É-lhe claramente perigoso colocar-se em oposição a ele, e será mais seguro seguir o exemplo dos que o cercam, e talvez mesmo ‘caçar com a matilha’. Em obediência à nova autoridade, pode colocar sua antiga ‘consciência’ fora de ação e entregar-se à atração do prazer aumentado, que é certamente obtido com o afastamento das inibições. (FREUD, [1921] 1996:53)

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Cada um dos sujeitos ao existir no novo ser, desprende-se de suas abdicações libidinais e da severidade do superego para com seus atos e agem como um corpo livre, forte e que precisa alcançar a sua satisfação pulsional.

Gustave Le Bon (2000) apresenta que as massas precisam de um estímulo externo para se compor como tal. Para o autor, as principais características de uma massa são o desaparecimento da personalidade consciente e a orientação dos pensamentos e sentimentos em uma só direção. Para o autor “El alma de las masas [...] su organización varía, no

solamente con arreglo a la raza y la raza y la composición de las colectividades sino también según la natureza y el grado de las excitaciones a que está sometida.” (2000, p.28). Le Bon

nos apresenta a massa seja qual for formada, possuinte de uma alma comum e sobre isso escreve que:

Este alma les hace sentir, pensar y actuar de un modo completamente distinto de como lo haría cada uno de ellos por separado. Determinadas ideas, ciertos sentimientos no surgen e no se transforman en actos más que en los individuos que forman una masa. La masa psicológica es un ser provisional, compuesto por elementos heterogéneos soldados de forma momentánea, de un modo absolutamente igual a como las células de un cuerpo vivo forman, por su reunión, un ser nuevo que manifiesta características muy diferentes de las que posee cada una de las células que lo componen. (2000, p.29)

Ainda que Le Bon apresente uma ideia mais abstrata sobre alma comum, ela se aproxima da ideia de Freud do ideal do ego. Como se nas massas todos buscassem esse ego/alma comum. As atitudes conscientes passam a ser superadas por atos impulsivos e sem juízo moral, que para Le Bon (2000, p.13) “En la alma colectiva se borran las aptitudes

intelectuales de los hombres y, en consecuencia, su individualidad. Lo heterogéneo queda anegado por lo homogéneo y predominan las cualidades inconscientes.”

Algumas das características comuns que a massa apresenta e é um ponto de relevância para o estudo de Le Bon (2000, p.35) é “[...] la impulsividad, irritabilidad, incapacidad de

razonar, ausencia de juicio y de espíritu crítico, exageración de los sentimientos, etc., pueden observar se también en seres pertenecientes a formas inferiores de evolución, como son el salvaje y el niño.” Para estar inserido na cultura é necessário a renúncia pulsional e em

consequência a isso há a repressão libidinal dos desejos inconscientes. “A aceitação da neurose coletiva é o preço a pagar para sair do reino da violência cega”. (Enriquez, 1990,

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p.36). Essa ideia de retrocesso na evolução complementa-se com o pensamento de Marcuse (1998, p.96) de que os indivíduos inseridos na massa “pertencem a uma forma enfraquecida e empobrecida do ego e representam assim uma regressão a estágios primitivos de desenvolvimento, em última instância a horda primitiva”.

Podemos constatar um enfraquecimento do ego e assim o inconsciente emerge e passa a responder quase que completamente pelas massas. A voz correspondente a massa sai do processo consciente e moral, e passa a ser conduzida por uma corrente livre da repressão do superego, agindo de forma mais instintual e primitiva. Sobre esse estudo Enriquez apresenta que:

“Efetivamente, os indivíduos projetam seus desejos fora deles mesmos e os reencontram em sua totalidade no mundo exterior. Assim, ao se reconhecerem forçosamente nele, tem ainda menos dificuldade para aceitá-lo, interiorizá-lo e submeter-se a ele”. (ENRIQUEZ, 1990, p.75)

A busca por um ego comum, uma imagem a qual se usa como referência e o sujeito inserido na massa que pode de forma inconsciente estar seguindo a uma ideia comum a todos, um dos elementos principais para entender esse fenômeno é o papel e a influência que a figura de um líder exerce em cada ideologia, ideia ou mesmo ato de uma massa.

1.2.O vínculo libidinal

Segundo Laplache & Pontalis (1991, p. 266) em Freud o termo libido “é uma expressão tirada da teoria da afetividade. Chamamos assim à energia, considerada como uma grandeza quantitativa-embora não seja efetivamente mensurável-, das pulsões que se referem a tudo o que podemos incluir sob o nome de amor”.Para Freud ([1921] 1996), na fundação de um grupo é o amor o ponto chave que liga o chefe aos demais integrantes do grupo. Enriquez (1990, p.62) complementa com a ideia de que “Este amor vincula os indivíduos a dois seres diferentes (o chefe e os semelhantes) e explica igualmente ‘a falta de liberdade’ que caracteriza os indivíduos que formam a massa. O amor é então o vínculo, mas vínculo opressor”. O autor ainda ressalta que para que o grupo se constitua é necessária a presença de um chefe e uma estrutura libidinal que una os membros, sendo que “O chefe favorece em cada um o refúgio na ilusão, ao invés da tensão da busca da verdade; o desejo de se acreditar

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amado, a manutenção de ídolos e o narcisismo” (p.65). O líder apresenta essa suposição entre os membros de um grupo, de amar a todos de maneira igualitária.

Os membros do grupo são ligados pelo vínculo libidinal que ao ser quebrado provoca a extinção. Quando o líder deixa de existir ou perde essa posição de respeito para com seus membros, o discurso de amor e proteção frente ao desamparo de cada sujeito, acaba com essa condição que sustentava o grupo.

Eugène Enriquez (1990) menciona o funcionamento da massa como o inverso do funcionamento do indivíduo racional, ela apresenta uma vastidão maior e faz com que nas massas haja uma ampliação da neurose individual de cada sujeito. Para o autor o que une os homens é a linguagem e quem domina esse poder é o chefe, sendo que a apropriação da linguagem significa a onipotência do pensamento. É através da linguagem que é decidido quem tem o direito de expressar a vontade coletiva, por isso o chefe mantém o poder a partir dessa onipotência. Para o autor:

“[...] a partir do momento em que a linguagem é compartilhada, ela, inicialmente, só poderá ser a expressão da culpa e da interdição, na própria medida das condições assassinadas de sua apropriação. Assim, pela primeira vez ele poderão reconhecer no chefe a fisionomia do pai e, simultaneamente, se reconhecer como irmãos: o que implica se nomearem e viverem juntos o medo e veneração em relação ao pai. (ENRIQUEZ, 1990, p.42)

Um dos processos fundamentais para entender a formação dos grupos é a identificação. A identificação para Freud (1996) se constitui como sendo o laço emocional mais primitivo presente na constituição do sujeito, sendo que “[...] a identificação esforça-se por moldar o próprio ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo”. (p.110).

Enriquez (1990, p.72) a respeito das massas complementa que “A identificação acontece entre seres semelhantes, numa situação de igualdade. ‘Muitos iguais, que podem identificar-se uns com os outros, e uma pessoa isolada, superior a todos eles’”. Portanto, muitos egos diferentes possuem ao menos um traço que pode ser consciente ou não, que faz com que haja essa identificação que unifica a todos e que é guiada por uma voz superior a eles, porque os membros da massa se encontram em posição de igualdade.

Estamos cientes de que aquilo com que pudemos contribuir para a explicação da estrutura libidinal dos grupos, reconduz à distinção entre o ego e o ideal do ego e à

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dupla espécie de vínculo que isso possibilita: a identificação e a colocação do objeto no lugar do ideal do ego. A pressuposição dessa espécie de gradação diferenciadora no ego como um primeiro passo para a análise do ego deve gradualmente estabelecer sua justificativa nas quais diversas regiões da psicologia (FREUD, [1921] 1996: 133).

Com Freud é possível entender o funcionamento do aparelho psíquico do sujeito quando o mesmo se encontra em um grupo. O ideal do ego torna-se um objeto ou uma ideia capaz de moldar o ego do sujeito momentaneamente e capaz de surgir aquilo que de mais íntimo havia escondido no inconsciente.

1.3.Id, Ego e Superego

Para entender sobre o funcionamento dessa singularidade constitucional e sobre os sistemas consciente, pré-consciente e inconsciente, Freud apresenta o aparelho psíquico como composto de três instâncias fundamentais: o Ego, o Id e o Superego. Cada qual possui sua particularidade e função de regular o sujeito. Sobre o id o autor escreve que ([1923] 1996):

O poder do id expressa o verdadeiro propósito da vida do organismo do indivíduo. Isto consiste na satisfação de suas necessidades inatas. Nenhum intuito tal como o de manter-se vivo ou de proteger-se dos perigos por meio da ansiedade pode ser atribuído ao id. Essa é a tarefa do ego, cuja missão é também descobrir o método mais favorável e menos perigoso de obter a satisfação, levando em conta o mundo externo. O superego pode colocar novas necessidades em evidência, mas sua função principal permanece sendo a limitação das satisfações. (p.93)

O id é tudo aquilo que abarca nosso sistema inconsciente e pulsões, o ego possui grande parte inconsciente, mas ainda é a parte mais consciente. Para Freud:

[...] o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo, [...]procura aplicar a influência do mundo externo ao id e às tendências deste, e esforça-se por substituir o princípio de prazer, que reina irrestritamente no id, pelo princípio de realidade. Para o ego, a percepção desempenha o papel que no id cabe o instinto. O ego representa o que pode ser chamado de razão e senso comum, em contraste com o id, que contém as paixões. (FREUD, [1923] 1996: 39)

Seguindo a ideia do autor de um ego moldado por um fator externo, o superego é o regulador da satisfação pulsional e aquele que interdita o que passa a ser consciente ou não.

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As três instâncias estão interligadas e o superego seria a instância da Lei. Para melhor compreensão Freud diz que:

O superego retém o caráter do pai, enquanto que quanto mais poderoso o complexo de Édipo e mais rapidamente sucumbir à repressão (sob a influência da autoridade do ensino religioso, da educação escolar e da leitura), mais severa será posteriormente a dominação do superego sobre o ego, sob a forma de consciência (conscience) ou, talvez, de um sentimento inconsciente de culpa. ([1923]1996: 49)

A ação humana é regulada por essas três instâncias, sendo uma a fonte das pulsões, a outra a que regula o que será satisfeito ou não e a outra que sente e vive os efeitos das demais. Apresentado as três formas que regulam o sistema consciente, cabe pensar sobre como esses mecanismos atuam quando vários egos estão reunidos e cegos a seguir uma mesma direção, pois na massa o homem encontra-se envolto e aceito por aqueles que considera semelhante.

No processo de constituição do ego, os primeiros ideais são as figuras parentais, que se desenrolam na dissolução do Complexo de Édipo, tornando-se aquilo que quero ser ou que quero ter. A procura por um semelhante que possa lhe retribuir todo o investimento libidinal e narcísico que todo tipo de relação implica, é uma das características que influencia na escolha por uma identificação grupal. Para Freud:

[...] no início do desenvolvimento do indivíduo, toda a sua libido (todas as tendências eróticas, toda a sua capacidade de amar) está vinculada a si mesma - ou, como dizemos, catexiza o seu próprio ego. É somente mais tarde que, ligando-se à satisfação das principais necessidades vitais, a libido flui do ego para os objetos externos. Até então, não conseguimos reconhecer os instintos libidinais como tais e distingui-los dos instintos do ego. Para a libido, é possível desvincular-se desses objetos e regressar outra vez ao ego. A condição em que o ego retém a libido é por nós denominada ‘narcisismo’, em referência à lenda grega do jovem Narciso, que se apaixonou pelo seu próprio reflexo. Assim, na nossa concepção, o indivíduo progride do narcisismo para o amor objetal. Não cremos, porém, que toda a sua libido passe do ego para os objetos. Determinada quantidade de libido é sempre retida pelo ego; mesmo quando o amor objetal é altamente desenvolvido, persiste determinada quantidade de narcisismo. O ego é um grande reservatório, do qual flui a libido destinada aos objetos e para o qual regressa, vinda dos objetos. A libido objetal era inicialmente libido do ego e pode ser outra vez convertida em tal. Para a completa sanidade, é essencial que a libido não perca essa mobilidade plena. ([1917] 1996: 85)

O que une um grupo é o vínculo de cada um com a figura do líder e com cada membro. Esse vínculo é libidinal e implica a renúncia de parte da personalidade consciente para aderir às características impostas no coletivo. O amor então, é o que une, a ilusão do

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amor igualitário do chefe ou líder para com cada membro é o que permite a união entre os membros como irmãos, filhos de um mesmo pai.

No grupo há a presença de um ideal, que pode ser uma ideia, ideologia ou mesmo figura de um líder, que remonta a busca inicial do homem por aceitação e vínculos libidinais que possam lhe dar suporte frente a seu desamparo existencial.

O ideal do ego, portanto, é o herdeiro do complexo de Édipo, e, assim, constitui também a expressão dos mais poderosos impulsos e das mais importantes vicissitudes libidinais do id. Erigindo esse ideal do ego, o ego dominou o complexo de Édipo e, ao mesmo tempo, colocou-se em sujeição ao id. Enquanto que o ego é essencialmente o representante do mundo externo, da realidade, o superego coloca-se, em contraste com ele, como representante do mundo interno, do id. (FREUD, [1923]1996: 50)

Essa busca por identificações e pelo ideal do ego é o que move a procura por inserções e relacionamentos de qualquer tipo.

1.4.A renúncia pulsional e o princípio de realidade

A civilização surgiu a partir da renúncia pulsional dos sujeitos frente a seus instintos mais primitivos. Estar em sociedade significa a abdicação dos desejos mais íntimos e que não tem aceitação na moral coletiva. Na massa, o sujeito apresenta comportamentos que se contradizem com as restrições que o ato civilizatório faz às reivindicações pulsionais, dentre essas restrições destaca-se o deslocamento do princípio de prazer para o princípio de realidade. Freud ([1920] 1996) destaca a necessidade da estabilização dessa energia pulsional que é voltada para a satisfação do prazer, pois quase toda a energia que o aparelho mental se supre, é voltada para essa fuga contra o desprazer. Para Freud:

“Sabemos que o princípio de prazer é próprio de um método primário de funcionamento do aparelho mental, mas que do ponto de vista da autopreservação do organismo entre as dificuldades do mundo externo ele é desde o início, ineficaz e até mesmo perigoso. Sob a influência dos instintos de autopreservação do ego, o princípio de prazer é substituído pelo princípio de realidade”. ([1920] 1996: 20)

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A renúncia pulsional frente às necessidades arcaicas do funcionamento humano são então transformadas em algo aceitável para se viver em sociedade. Para Marcuse (1999), ao superar o princípio de prazer, com o princípio de realidade o homem aprende a renunciar o prazer momentâneo, substituindo-o pelo prazer adiado. Para o autor “A civilização começa quando o objetivo primário – isto é, a satisfação integral de necessidades - é abandonado” (p.33). Dentre as questões que podem aparecer no processo civilizatório do homem, o recalcamento de parte da carga biológica humana, a autopreservação está presente. Há controvérsias a respeito da diferenciação entre os instintos1 do ego e os instintos sexuais, para Freud ([1920] 1996: 61) “[...] parte dos instintos do ego era libidinal e que instintos sexuais (provavelmente ao lado de outros) operavam no ego”. Para o autor:

Sob a influência dos instintos de autopreservação do ego, o princípio de prazer é substituído pelo princípio de realidade. Esse último princípio não abandona a intenção de fundamentalmente obter prazer; não obstante, exige e efetua o adiamento da satisfação, o abandono de uma série de possibilidades de obtê-la, e a tolerância temporária do desprazer como uma etapa no longo e indireto caminho para o prazer. Contudo, o princípio de prazer persiste por longo tempo como o método de funcionamento empregado pelos instintos sexuais, que são difíceis de ‘educar’, e, partindo desses instintos, ou do próprio ego, com freqüência consegue vencer o princípio de realidade, em detrimento do organismo como um todo. (FREUD, [1921] 1996: 20)

Marcuse (1999, p.35) complementa que “Com o estabelecimento do princípio de realidade, o ser humano que, sob o princípio de prazer, dificilmente pouco mais seria do que um feixe de impulsos animais, converte-se num ego organizado”.

Freud ([1921] 1996) parte da ideia de que as formações sociais podem não fazer parte apenas do instinto primitivo do homem, como meramente um instinto gregário, mas que talvez seja possível descobrir os primórdios da evolução dos grupos através da análise dos mesmos. No campo psicanalítico, há a ideia de um sujeito com destaque na sua individualidade e na sua constituição subjetiva. O sujeito para além dos modelos iniciais da sua vida se vê imerso em uma cultura e uma rede de significantes, para tanto é preciso pensar no mesmo como pertencente a um meio social e que também pode estar inserido em uma massa.

Para constituir- se como um sujeito social e imerso em uma cultura, na linguagem e estar em uma rede de significantes que o identifica como tal, é necessário todo um processo

1 O Termo Trieb que Freud usou originalmente aparece, na tradução do inglês para o português, como Instinto.

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de apresentação ao mundo, entrada e saída do Complexo do Édipo, e os demais processos implicados na constituição. Ao nascer, o indivíduo é inserido em um grupo familiar e que passa a ser sua primeira referência. Durante sua vida vai se inserindo em novos grupos e se filiando naqueles onde se identifica.

1.5.A economia psíquica e suas três instâncias

Partimos da noção freudiana de economia psíquica que aqui trazemos a partir de Laplanche & Pontalis (1991, p. 122):

“O aparelho psíquico recebe excitações de origem externa e interna, sendo que estas últimas, ou seja, as pulsões, exercem uma pressão constante que constitui uma exigência de trabalho. De modo geral, todo o funcionamento do aparelho psíquico pode ser descrito em termos econômicos como jogo de investimentos, desinvestimentos, contra-investimentos, sobre-investimentos”.

Desde o modelo freudiano, Enriquez (1990, p.57) apresenta a problematização sobre a economia psíquica no funcionamento grupal. Para o autor “É comum constatar-se que a economia psíquica do indivíduo é posta em questão quando ele é confrontado por fenômenos de massa”. Para tais fenômenos a hipótese de diminuição da repressão do superego para com o ego é uma possibilidade aceitável, pois como na massa os impulsos libidinais se encontram efervescidos devido aos estímulos externos e a possibilidade de proximidade ao estado de nirvana, há o predomínio do id sob as demais instâncias psíquicas. O autor complementa que “A massa se comportaria como um indivíduo em estado onírico’. A oposição indivíduo-massa vem da oposição de estado de vigília-estado onírico”.

Desde Freud já há a ideia de domínio do inconsciente na vida onírica; as produções são acerca dos desejos reprimidos e se apresentam de forma que são recalcadas pelo ego. Enriquez fundamenta seu pensar pela possível falta de consciência que o sujeito apresenta na situação grupal quando o superego está fora de cena e para tanto não há culpa, nada recai sobre o ego, apenas há a ligação direta entre o id e o ego, caem as barreiras repressivas. Como dito anteriormente, o superego é o sistema que regula a moral egóica e é o responsável pelas punições severas ao ego. Estar em um estado de dominação do id, implica em não punições e

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então para o ego não há represália, pode agir como agiria em seus sonhos, de forma livre e sem repressões.

O que mantêm o sujeito na massa parece ser essa possibilidade de libertação pulsional, poder sentir e agir de maneira não repressiva, sem a culpa do social caindo sobre seus atos e pensamentos. As massas apresentam então, como característica principal o empobrecimento do ego sobre as ações conscientes.

A questão do Édipo não é mais uma questão colocada no desenvolvimento do psiquismo individual; ela é a questão à qual todo corpo social deve responder para alcançar o estado de cultura, isto é, para viver em relações estabilizadas e simbolizadas. A única resposta possível consiste na edificação de uma proibição, na construção de uma instância repressora. A civilização nasce com e pela repressão. Não pode existir corpo social (instituições, organizações) sem a instauração de um

sistema de repressão coletivo. (ENRIQUEZ, 1990, p.35)

É reconhecendo que o assassinato do pai da Horda Primitiva faz nascer a culpa presente no processo civilizatório que torna possível, nesse estudo, relacionar os fenômenos da civilização com o fenômeno das massas onde vigora a dominação do Id sobre o Ego.

A culpa pelo assassinato do pai que originou a civilização parte do mito Freudiano da Horda Primordial. O mito conta como o pai que dominava todas as mulheres e privava seus filhos da realização dos seus prazeres, acabou sendo assassinado pelos mesmos. Marcuse ao analisar o mito, expressa a seguinte ideia:

A revolta contra o pai primordial eliminou uma pessoa individual que podia ser (e foi) substituída por outras pessoas; mas quando o domínio do pai se expandiu, tornando-se o domínio da sociedade, tal substituição não parece ser possível, e a culpa torna-se fatal. A racionalidade do sentimento de culpa foi completada. O pai, limitado na família e na sua autoridade biológica individual, ressurge, muito mais poderoso, na administração que preserva a vida da sociedade e nas leis que salvaguardam a administração. Essas encarnações finais e mais sublimes do pai não podem ser superadas ‘simbolicamente’, pela emancipação: não há libertação possível em face da administração e de suas leis, pois se apresentam como fiadoras supremas da liberdade. A revolta contra elas seria uma repetição do crime supremo – desta vez, não contra o animal-déspota que proíbe a gratificação, mas contra a ordem sábia que garante os bens e serviços para a progressiva satisfação das necessidades humanas. A rebelião aparece agora como o crime contra a sociedade humana, em seu todo: portanto, está além dos limites de recompensa e além da redenção. (1999, p. 93)

Com essa afirmação de Marcuse, fica mais claro o entendimento da massa como a possível revolta contra a sociedade e os modelos repressivos impostos. Ao estar inserido na

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massa a possibilidade de deixar-se dominar por um ideal que foge ao modelo inicial de constituição que reprime e incapacita a realização dos prazeres momentâneos, possibilitando assim a predominância do id sobre o que o sujeito constituiu como seus alicerces normativos através do superego. O autor ainda comenta que:

[...]dentro do sistema de controles unificados e intensificados, mudanças estão ocorrendo. Afetam a estrutura do superego, assim como o conteúdo e manifestação do sentimento de culpa. Além disso, tendem para um estado em que o mundo completamente alienado, despendendo todo seu poder, parece preparar o material e o conteúdo para um novo princípio de realidade. (MARCUSE, [1966] 1999: 96)

Fica em aberto a possibilidade de que com as mudanças sociais que vem ocorrendo em nossa sociedade, o princípio de realidade que nos norteia mude, e possa surgir novos modelos normativos de civilização.

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2. FENÔMENO DE MASSA E O LÍDER

Os fenômenos de massa estão presentes em vários momentos na vida de um sujeito, seja no convívio com sua família, com os colegas de trabalho ou amigos. É um movimento espontâneo e que tem como característica principal a diminuição da racionalidade e perda das características subjetivas. Neste capítulo apresento fragmentos do filme “A onda” (Die Welle) e por seu meio pretendo trabalhar os fatores subjetivos que se complexificam na massa.

A ideia do filme partiu de um livro elaborado por Todd Strasser em 1981, que posteriormente foi transformado em filme. A primeira versão foi produzida nos Estados Unidos e a segunda versão, que será apresentada nesse capítulo, foi produzida na Alemanha no ano de 2008.

O filme se apresenta como uma metáfora para com a adoração causada durante o sistema nazista adotado por Adolf Hitler. No andamento do filme é possível perceber os elementos presentes para um grupo se manter e também o quanto um líder carismático e que sabe usar as palavras para encantar a massa é talvez a peça mais importante para entender esse fenômeno.

2.1.Sinopse do filme A Onda (Die Welle)

O cenário principal do filme é a escola onde um professor precisa lecionar aulas sobre autocracia. A turma está cheia de alunos desinteressados no conteúdo e para reverter essa situação o professor decide pôr em prática o sistema autocrático, remetendo ao método adotado pelo movimento nazista. As características principais que o professor adota e que repete aquilo que foi feito no passado são o slogan, o uniforme, a ordem e o desejo de criar e manter a superioridade.

O professor usava artimanhas capazes de encantar e mascarar o que estava por trás de cada ato que ordenava para a classe de alunos. Os alunos fascinados com tudo acabaram confiando naquele sujeito e abraçando a ideia de grupo denominado A Onda. Começaram então a disseminar sua ideologia, sendo que o uniforme que identificava os seus membros era a camisa branca, símbolo o qual decidiram adotar.

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Em uma semana de aula a ideia de invencibilidade e poder por estar pertencendo a um grupo cresce de uma forma implacável. Ao mesmo tempo em que a massa de alunos torna-se forte e começa a querer impor suas ideias para as demais pessoas da escola, o professor não tem conhecimento de tais fatos, e se o tem, vê como produtivo para o aprendizado e também para sua vaidade pessoal.

No decorrer do filme acontecem vários fatos que remetem ao fenômeno de massa, como a exclusão daqueles que não se encaixam no ideal esperado, e aqueles que literalmente não vestem a camisa são tidos como potenciais inimigos.

Quando o professor percebe a dimensão que esse grupo estava tomando decide reunir a todos e para mostrar como realmente é a ditadura fascista, solicita que tragam um dos alunos que foi considerado traidor por querer ir contra o movimento, e pergunta se eles matariam esse aluno como punição. Os mesmos ficam sem reação e assim o professor faz suas considerações de que é desse modo que funciona a ditadura. Ao encerrar seu trabalho e acabar com a Onda, os alunos ficam perdidos e um deles acaba se suicidando por não aceitar esse fim.

2.1.1. A identificação

A identificação como mencionada anteriormente, é entendida como um dos processos mais primários no funcionamento do psiquismo humano. Para Freud “Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar-se essa identificação parcial, podendo representar o início de um novo laço. ( [1921] 1996: 111)

Freud apresenta a ideia de ‘infecção mental’ tomando como exemplo a identificação de jovens garotas em uma histeria coletiva. Não muito diferente ocorre no filme, pois os adolescentes em processo de construção de sua identidade, buscam por suas identificações e ao encontrar na figura do professor a Lei que barra o desejo, encontram ali a possibilidade de satisfação dessa falta de imposição que parecem não ter em seus laços familiares. As famílias de alguns dos personagens adolescentes carecem de funcionalidade e imposição de limites. Isso aparece como uma alternativa para esse desejo cego de participar do grupo. A onda surge como uma possibilidade de manter a ordem, causada por essa falta, no grupo encontram então o ideal que os abriga.

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O líder da Onda direciona e mantém a ordem, sendo que os adolescentes o admiram e o tem como modelo. A identificação entre eles também vai surgindo quando se encontram ordenados por uma pessoa comum e os traços que vão identificando o grupo, como o nome, a camisa branca e os símbolos vão dando uma identidade. Para Freud ([1921] 1996: 111) “[...]o laço mútuo existente entre os membros de um grupo é da natureza de uma identificação desse tipo, baseada numa importante qualidade emocional comum, [...] essa qualidade comum reside na natureza do laço com o líder”. Fechamos então com essa ideia do autor, na qual o aspecto no qual os adolescentes se identificam com o líder são introjetados pelo ideal do ego, ou seja, são incorporados para si, tornam-se parte daquele sujeito.

No filme, os alunos possuíam características diferenciadas e eram divididos em subgrupos dentro da sala de aula. Ao serem convocados a participar do grupo, o professor adotou a mudança dos lugares nas classes para que os alunos se misturassem e se conhecessem, isso começou a disseminar a homogeneidade entre eles. Quando a ideologia do grupo conseguiu alcançar a todos os interessados, mesmo que não houvesse uma ideia central, o que os mantinha unidos era o líder e o querer ser mais fortes e melhores ao estarem unidos.

2.1.2. A violência manifesta

A violência aparece em diversos momentos no filme. Ao se sentirem ameaçados por outras pessoas frente a sua existência enquanto vida grupal, o ato da violência esteve como resposta imediata. Se formos pensar no que gera essa violência ao estar inserido em uma massa, existem vários estudiosos que possuem pontos de vista diferenciados. Freud ([1921] 1996: 85) nos diz que “[...] quando indivíduos se reúnem num grupo, todas sua inibições individuais caem e os instintos cruéis, brutais e destrutivos, que neles jaziam adormecidos, como relíquias de uma época primitiva, são despertados para encontrar gratificação livre.”

Freud ao falar da violência volta-se para a agressividade instintual humana, há a ideia de algo inato ao homem, e por ser de caráter primitivo faz parte da estruturação do inconsciente. Costa (2003) ao analisar Freud conclui que a causa da violência seria a satisfação dos impulsos e desejos destrutivos do homem. O autor apresenta a distinção entre a violência dos humanos e a agressividade instintual dos animais:

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“ A violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos. Esse desejo pode ser inconsciente, involuntário e irracional. A existência destes predicados não altera a qualidade especificamente humana da violência, pois o animal não deseja, o animal necessita. E é porque o animal não deseja que seu objeto é fixo, biologicamente predeterminado, assim como é a presa para a fera.” (COSTA, 2003, p. 39).

Para Costa (2003, p.40) “[...] só existe violência no contexto de interação humana, onde a agressividade é instrumento de um desejo de destruição”. O autor salienta que sem o desejo de destruição não há violência, é uma característica humana e não uma propriedade instintual.

A violência é então considerada por uns como instintual e por outros como uma característica humana relacionada ao desejo e aos processos inconscientes, para esses últimos a violência não pode ser justicada como um ato instintivo como nos animais, só há violência se há o desejo.

Em algumas cenas do filme, a violência aparece como resposta à luta pela sobrevivência do grupo. Pessoas que pudessem ameaçar a existência do grupo, colocando notícias contrárias sobre eles no jornal e passando uma imagem negativa para os demais alunos, precisavam ser barrados e destruídos. Sendo esse desejo de destruição uma característica humana que deve ser reprimida para o sujeito estar na civilização, mas como o fenômeno das massas é o inverso da neurose e do ato civilizatório, há espaço para que aquilo que estava latente se manifeste. Como em grupo as repressões do superego estão enfraquecidas, vários egos com o desejo de sobrevivência ganham força e a diminuição de impossibilidade diminui, se sou fraco, em grupo eu tenho mais força.

2.1.3. A queda do líder

O que uniu os alunos e os manteve unidos foi o líder e sua firmeza como tal. O líder supostamente amava a todos e através do seu discurso possibilitou o encantamento por suas ideias de controle e ordem. Ao se identificarem com o líder, acabaram por se identificar com a ideia de se tornarem um só como um grande grupo unido.

Ao se sentirem amados pelo líder de forma igualitária, se tornaram irmãos e passaram a se amar e a se identificar uns com os outros, por mais que existissem as diferenças anteriormente. No imaginário da massa, para que se sintam abraçados e protegidos precisam

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dessa figura paterna que gera a ambivalência emocional, o Pai temido que proteja e imponha as normas e o Pai amado, isso os sustenta enquanto grupo.

Quando a figura do líder não se sustenta mais, seja porque seus seguidores estão desacreditados ou porque o líder deixa de existir, o fenômeno do pânico se manifesta. Esse fenômeno acontece quando “Os laços mútuos deixaram de existir e libera-se um medo gigantesco e insensato” (FREUD, [1921]1996: 101). Para o autor:

[...] o medo pânico pressupõe relaxamento na estrutura libidinal do grupo e reage a esse relaxamento de maneira justificável, e que a conceituação contrária, ou seja, a de que os laços libidinais do grupo são destruídos devido ao medo em face do perigo, pode ser refutada. [...] No indivíduo o medo é provocado seja pela magnitude de um perigo, seja pela cessação dos laços emocionais (catexias libidinais); este último é o caso do medo neurótico ou ansiedade. Exatamente da mesma maneira, o pânico surge, seja devido a um aumento do perigo comum, seja ao desaparecimento dos laços emocionais que mantêm unido o grupo, e esse último caso é análogo ao da ansiedade neurótica. [...] É impossível duvidar de que o pânico signifique a desintegração de um grupo; ele envolve a cessação de todos os sentimentos de consideração que os membros do grupo, sob outros aspectos, mostram uns para com os outros. (FREUD, [1921]1996: 102-103)

Seguindo a ideia, quando o líder que era o professor, termina com o grupo, eles perdem seus laços libidinais e cada um fica por si. Instaura-se então o fenômeno do pânico.

Na cena final do filme é interessante notar como os alunos se voltam contra um dos seus membros que estava vendo as atrocidades que o grupo estava realizando. Quando o professor pede para que ele seja escoltado pelos alunos que cuidavam da segurança e questiona os alunos se eles desejam a morte desse colega, todos se calam, mas não protestam. Há o desejo de destruição daquele que se opôs e também há consentimento para com as ordens do líder, porque eles se calam e não protestam contra tal ordem. É de suma importância a influência que o líder tem nas decisões da massa, pois ao mesmo tempo que ordena a ação, os impede e os faz refletir sobre o que estavam fazendo, os traz à consciência.

Calligaris (2010) nos lembra dos tempos remotos da Alemanha nazista e da obediência cega que os alemães tiveram para com seu líder e que pode ser complementado com essa cena final do filme.

Cheguei a esta resposta inquietante: qualquer um (ou quase) pode se esquecer de sua humanidade não por convicção nem por crueldade ou por medo, mas, simplesmente, pelo descanso que ele encontra na obediência, no sentimento de fazer parte de uma máquina da qual ele pode ser uma pequena engrenagem. Desejar, pensar e agir como indivíduo é penoso; muito mais fácil é renunciar à subjetividade (sempre atormentada) para transformar-se em burocrata do mal. (CALLIGARIS, 2010, p. 42)

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O poder de alienação e renúncia a subjetividade mostrou-se aparente no movimento nazista, portanto no próximo capítulo será trabalhado os aspectos presentes nesse fenômeno.

2.2. O líder e a história como a conhecemos

Na história da humanidade, vários acontecimentos denotam a uma variedade de nomes que chegaram a controlar uma grande massa, sendo Adolf Hitler o nome aludido até os dias atuais devido aos crimes cometidos contra a humanidade. Elias (1991) destaca o pensamento ideológico nazista que circulava na raça germânica, no qual eles eram chamados pela natureza e também pela história “[...] a constituir um escol de senhores, uma espécie de aristocracia da humanidade. As outras raças, sobretudo os Judeus e os Negros, eram inferiores e, por isso, inimigos naturais. O melhor seria exterminá-los.” (1991, p.49).

Enriquez (1990) parte da ideia que para que os grupos se mantenham organizados como tal é preciso construir um inimigo, no caso nazista os judeus, negros, ciganos, homossexuais, comunistas e doentes mentais foram considerados inferiores e indignos de serem tratadas como seres humanos. O povo alemão ao fazer parte do discurso nazista foi induzido a uma ilusão coletiva, na qual para Elias:

Em íntima ligação com a embriaguez hegemônica que, numa situação determinada, se pode propagar a vastas camadas de um povo encontram-se, normalmente, fantasias colectivas, segundo as quais o povo a que se pertence e, assim, o próprio indivíduo estão destinados à grandeza - o que significa, habitualmente, à dominação de todos os outros povos à sua volta -, seja por ordem divina, seja pela história ou pela natureza. (ELIAS, 1991, p.45)

A massa é um ser provisório e que precisa ser alimentado com aquilo que busca naquela situação. Freud a partir das ideias de Le Bon destaca que:

Inclinado como é a todos os extremos, um grupo só pode ser excitado por um estímulo excessivo. Quem quer que deseje produzir efeito sobre ele, não necessita de nenhuma ordem lógica em seus argumentos; deve pintar nas cores mais fortes, deve exagerar e repetir a mesma coisa diversas vezes. ” (FREUD, [1921] 1996: 85)

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No nazismo as ideias precisavam se propagar e alcançar mais pessoas, para isso, Hitler criou de forma institucional o Ministério de Informação Popular e da Propaganda dirigido por Joseph Goebbels. Com a criação do Ministério responsável por disseminar suas ideias, a estratégia adotada foi utilizar todos os meios de comunicação disponível na época para atingir toda a população. A mídia então, serviu como elemento chave para que a voz do líder fosse ouvida, sua imagem fosse olhada e seus pensamentos e ideias admirados. Sobre a propaganda nazista, Capelato (1999) ressalta que:

[...] uso de insinuações indiretas, veladas e ameaçadoras; simplificação das idéias para atingir as massas incultas; apelo emocional; repetições; promessas de benefícios materiais ao povo (emprego, aumento de salários, barateamento dos gêneros de primeira necessidade); promessas de unificação e fortalecimento nacional. ( p. 167)

Seguindo a ideia de Capelato (1999), para a realização da propaganda nazi-fascista era necessária uma unidade de todas as atividades e ideologias “A moral e a educação estavam subordinadas a ela. Sua linguagem simples, imagética e agressiva visava a provocar paixões para atingir diretamente as massas” (p.159). O discurso então perpassava por uma dimensão moral que incitava as emoções mais primitivas no público alvo. O papel do líder nesse caso era o de fazer emergir esses sentimentos profundos de patriotismo. Para a autora, a propaganda ou mesmo o discurso apresentado tem o poder de suscitar as emoções. A mesma cita que:

Os sentimentos, fenômenos de longa duração, são manipulados de forma intensa pelas técnicas de propaganda com o objetivo de produzir forte emoção. Mas os móveis das paixões variam conforme o momento histórico (honra, riqueza, igualdade, liberdade, pátria, nação etc.), e, no caso das experiências totalitárias, alguns móveis são comuns (por exemplo, o amor ao chefe, à pátria/nação), e outros, específicos (como o anti-semitismo). (1999, p. 160)

O poder dessa voz que lidera e comanda as pessoas em uma grande massa é capaz de sugestionar e incitar sentimentos que remetam a configurações arcaicas da nossa sociedade. Freud ([1921] 1996: 131) associa a sugestão nos grupos à horda primeva, “O líder do grupo ainda é o temido pai primevo; o grupo ainda deseja ser governado pela força irrestrita e possui uma paixão extrema pela autoridade [...] O pai primevo é o ideal do grupo, que dirige o ego no ideal do ego. ”

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Uma das estratégias seguidas por Hitler e Goebbels (o responsável pela propaganda nazista) foi a de intensificar o acesso das massas aos seus informativos, usando assim megafones, aviões e diversos outros meios, para assegurar que todos ouviriam a voz de seu líder. Capelato complementa que:

As águias, as bandeiras, a cruz gamada de fundo vermelho e branco, os cantos e hinos, os uniformes marrons, as paradas das SAs desfilando em colunas em ordem impecável ao som de fanfarras e à luz de tochas, os SeigHeil ou Heil Hitler repetidos em coro pela multidão não só asseguravam a coesão das massas, impressionando os indecisos e aterrorizando os adversários, mas também suscitavam êxtase e devotamento (1999, p.169).

Para Elias (1991) a figura de Hitler foi capaz de determinar um ideal de raça germânica que se espalhou de forma viral na população. O autor cita a sua figura como sendo um mito vivo que pairava sobre a Alemanha com seu discurso mágico de que o povo alemão estaria predestinado a se tornar os senhores da Europa.

Hitler vivia, mais do que talvez se tenha notado, num mundo semimítico. Um raro talento para ver com realismo as correlações de poder entre os Estados e no interior do Estado ligava-se, nele, a um receio mágico de inimigos internos, que, muitas vezes, exagerava hiperbolicamente o perigo real. Uma organização e uma vigilância extremamente eficazes e, como dantes se dizia, altamente racional e realista da totalidade do povo encontrou a sua legitimação na certeza mágica de que este povo estaria predestinado por um destino indefinido — pela natureza? — a ser o Povo de Senhores da Europa, se não do mundo inteiro. (ELIAS, 1991, p.48)

Esta pretensão de superioridade, a ponto de despertar o desejo de triunfar sobre toda a Europa, aparece para Elias como uma forma de superar o trauma proveniente da perda da Primeira Guerra Mundial. Elias (1991) ainda complementa que existem provas documentais que comprovam que Hitler ficaria satisfeito se conseguisse alcançar na Europa uma posição hegemônica para a Alemanha sem recorrer à guerra, mas era evidente que isso não aconteceria, então, ele “[...] não hesitaria em declarar a guerra, fazendo entrar em acção o novo exército alemão entretanto fortalecido, a qualquer Estado que se atravessasse no caminho da Alemanha para a posição de grande potência. ” ( p.48). Para o autor:

Já falei do choque que representou a derrota de 1918. Muitos alemães, sobretudo jovens oficiais e estudantes, sentiram a capitulação como um atleta que, em plena corrida, embate subitamente num muro. Eles estavam absolutamente convencidos de que a Alemanha se achava predestinada para a guerra. Esta crença tinha para muitos

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alemães a mesma certeza que para outros tem uma fé religiosa. Até ao último momento, eles não duvidaram da vitória final. De súbito, tudo acabou. Nesta situação, a idéia de que só uma traição, uma punhalada pelas costas, podia explicar a derrota da Alemanha era redentora. Assim armados, podiam dedicar-se de novo a conduzi-la ao seu destino histórico, à sua grandeza, enquanto potência hegemonia natural da Europa. [...] Estava em jogo libertarem-se das cadeias deste acordo, procederem ao rearmamento, repararem a derrota da Alemanha, provocada pela traição, através de uma vitória definitiva e, assim, reconduzi-la ao seu destino histórico. (1991, p.47)

Como já expusemos anteriormente a partir de Capelato temos que a disseminação das ideias de Hitler alcançou tanta amplitude por ter um alto investimento em propagandas. A autora cita que a estratégia da propaganda nazista serviu como um dos pilares para se manterem no poder. Para ela:

[...] não se pode exagerar sua importância no que se refere ao controle das consciências. As teses que insistem na onipotência da propaganda política não levam em conta o fato de que ela só reforça tendências já existentes na sociedade e que a eficácia de sua atuação depende da capacidade de captar e explorar os anseios e interesses predominantes num dado momento (1999, p.178)

A partir dessa ideia infere-se que a mensagem entregue as massas em si só não é suficiente para propagar uma ideologia, se por trás dessa estratégia não exista um gerenciamento tático e preciso que afete as emoções de toda uma população alvo. Ademais, para que tudo seja disseminado nas massas, a figura do líder é aquela que dá um corpo e uma voz a um discurso que perpassa de forma silenciosa na sociedade e que precisa dessa personagem para dar vida a uma ideologia ou aquilo que cause movimentação as massas.

Na condição de estar inserido em um grupo e pertencer a esse corpo provisório, o sujeito identifica-se com um ideal que possui algo de similar com o seu ego, a fim de assumir um novo ideal comum e coletivo para assim, ganhar mais força. Dentre as características comportamentais vivenciadas pela massa, está presente a onipotência de pensamentos, na qual os membros do grupo por estarem em posição de igualdade frente a um líder e inseridos em uma mesma frequência da linguagem, acabam por seguir um ideal comum.

Um dos elementos presentes no fenômeno das massas aparece na ideia de Le Bon, que seria a sugestão e o contágio. Para ele:

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Así pues, la desaparición de la personalidad consciente, el predominio de la personalidad inconsciente, la orientación de los sentimientos y las ideas en un mismo sentido, a través de la sugestión y del contagio, la tendencia a transformar inmediatamente en actos las ideas sugeridas, son las principales características del individuo dentro de la masa. Ya no es él mismo, sino un autómata cuya voluntad no puede ejercer do mismo sobre nada. Por el mero hecho de formar parte de la masa, el hombre desciende varios peldaños en la escala de la civilización. Aislado era quizá un individuo cultivado, en la masa es un instintivo y, en consecuencia, un bárbaro. (2000, p.33)

Frente a essa sugestão, o sujeito está submerso no discurso do outro e deixa-se levar de acordo com as vontades do outro.

2.3.Mídias e difusão de ideias

Os meios de comunicação abrem espaço para um processo de sugestão e propagação de ideias que percorre todos os locais do mundo que possuem acesso à comunicação. Com as mídias sociais a expansão das ideologias consegue um alcance ainda maior que a mídia televisiva e de rádio, por dependerem apenas de uma conexão com a internet.

Tanto em outras localidades do mundo quanto aqui no Brasil acontecem manifestos e fenômenos de massa que merecem atenção e necessitam de interpretação frente as mudanças sociais que vem ocorrendo nos últimos anos. Em especial no Brasil, em junho de 2013 houveram manifestações em diversos lugares do país, o ponto inicial dos protestos foi o aumento do preço das passagens na cidade de São Paulo. Os slogans mais usados eram “Vem! Vem pra rua! Vem!”, “O Gigante Acordou.” e “Não é por 20 centavos.” A última frase é justificada pela luta dos brasileiros por melhores condições de saúde, educação e dignidade de vida. Outro ponto que abriu mais espaço para a discussão sobre os gastos públicos foi a abertura dos jogos da Copa do Mundo no Brasil. A população ficou indignada e saiu para as ruas protestar contra sediar os jogos da Copa e usar esse dinheiro para melhorar a infraestrutura de hospitais e escolas.

A circulação das ideias e encontros foram organizados basicamente pelas redes sociais, um meio de propagação das massas que tende a aumentar e alienar cada vez mais pessoas e grupos. A mídia disponível desde a época da Alemanha nazista já mostrou seu poder de alienação. Hoje, no ano de 2016 o que envolve e circula por todas as comunidades

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são as mídias sociais. As mídias em si não são responsáveis pelas ideias circulantes, mas sim seus usuários, elas em si são o meio.

Com o avanço das tecnologias e acesso de público diversificado, não fica difícil conectar pessoas de diferentes lugares do mundo, tudo tornou-se mais prático, a informação tornou-se acessível e capaz de ser exposta em qualquer lugar. O que antes era preciso ouvir no rádio ou ler no jornal, hoje perdeu essa característica de exclusividade, veracidade e congruência, as informações ou melhor, opiniões se espalham de forma momentânea e viral. Discursos de ódio e de generosidade são levados a todos os cantos, campanhas são realizadas e manifestos também.

As redes sociais são responsáveis por levar a informação e agir de forma tendenciosa também. As pessoas perdem seus limites morais e tornam-se juízes de tudo aquilo que se torna público. Enquanto meio de propagação de ideias e ideais, as massas organizam-se em torno dessas informações passadas por todos, e enquanto estão conectados tornam-se parte daquilo que acreditam momentaneamente.

A mídia televisiva e jornalística tem como característica principal a de ser o meio mais alienador e ideológico na história. As pessoas depois de uma jornada diária de trabalho, chegam em casa e ligam o aparelho televisor, esse foi o cenário desde a invenção da televisão. As novas gerações nasceram em um cenário tecnológico em ascensão e com muitas possibilidades de alcance global.

As mídias sociais estão tendo uma aceitabilidade e inserção na vida das pessoas, de modo que é quase que impossível em sociedade viver sem elas. Ideias e discriminação são presentes e capaz de atacar qualquer um que discorde de sua opinião. O fenômeno de massa encontra-se ai presente e possui amplitudes incapazes de serem previstas por enquanto, tudo é uma questão de tempo para compreender os efeitos causados por essas novas formas de manifestações da massa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como uma forma de finalizar e tentar entender os fenômenos grupais, várias questões precisaram ser pensadas, como a condição do sujeito na sua singularidade e o quê e por quais modificações o mesmo passa ao estar inserido na massa.

A pressão social de estar inserido em um meio que lhe possibilite alcançar seus objetivos e status quo impulsiona à busca de identificações, sejam elas provisórias ou permanentes. A massa age de maneira que todos sigam a uma mesma direção e a partir de então, para estarem inseridos e aceitos pelo amor do chefe e dos “irmãos” deixa de responder moralmente por seus atos conscientes e passa a dominar-se pela sugestão que contagia a todos.

Dentro da Psicologia como ciência e profissão o estudo dos grupos, massas, ou qualquer que seja a denominação utilizada, é um dos temas que necessita ser aprofundado e discutido com um olhar atento e pronto para intervir frente as demandas sociais. Todos pertencemos pelo menos a um grupo e estar inserido e ter de responder por ele é o que implica nas renúncias pulsionais que não é encontrada nas massas. A sistematização deste trabalho serviu como um alicerce para que a partir de agora, eu possa questionar de forma crítica e científica os processos de massa que ocorrem na nossa sociedade. Considero de extrema importância esse ato de reflexão que precisei fazer para expor os conceitos centrais e de que forma eles acontecem.

No ano de 2016 estamos vivendo essa cena na qual a realidade virtual tem ganhado mais espaço e tem sido a maior forma de expressão das massas. Tanto nas manifestações que acontecem nas ruas quanto nas que se propagam nas redes sociais, ambas apresentam as características descritas há décadas atrás por Le Bon, a impulsividade e diminuição do seu senso crítico. A predominância do Id sobre os processos conscientes e do Superego aparecem de forma indiscriminada nesses fenômenos de massa.

As massas ainda hoje apresentam a característica primordial a qual Freud descrevia como um processo primário e de liberação das energias libidinais. Cabe a nós pensarmos que envoltos de tantas tecnologias, meios de comunicação e pessoas altamente qualificadas para a manipulação das massas, qual o nosso papel como psicólogos e futuros psicólogos na análise e intervenção desses fenômenos que vem tomando grande amplitude em todas as partes do mundo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CALLIGARIS, Contardo. A vida dos outros. In: ______. Ato e Transgressão; 2010. p. 41- 43. Correio APPOA nº189; Porto Alegre.

CAPELATO, Maria Helena. Propaganda política e controle dos meios de comunicação. In: _______. REPENSANDO o Estado Novo. Organizadora: Dulce Pandolfi. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999. 345 p. Disponibilizado em: http://www.cpdoc.fgv.br. ELIAS, Norbert. A condição humana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.

ENRIQUEZ, Eugène. Da Horda ao estado: Psicanálise do vínculo social; Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1990.

FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer, 1920. In: ______. Além do princípio de prazer. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-75. (Edição standard brasileira das obras

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FREUD, Sigmund. Conferências introdutórias sobre Psicanálise (Parte III), 1917. Rio de Janeiro: Imago, 1994. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 16).

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LE BON, Gustave. Psicologia da Multidões.4ª edição. Edições Roger Delraux,198O. LAPLANCHE, Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. Martins Fontes, 1991.

MARCUSE, Herbert. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de

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