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CONDIÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS EM FRANCA (SP) E SUA RELAÇÃO COM

O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL1

Judite de Azevedo do Carmo Pós-Graduação em Geografia

Unesp/Rio Claro E-mail: juditedo@bol.com.br

Resumo

Os Arranjos Produtivos Locais têm sido recentemente abordados em diversos estudos, principalmente naqueles que têm por objetivo a análise do desenvolvimento local e regional, uma vez que houve o entendimento, por parte dos estudiosos e de representantes políticos, de que as empresas estruturadas em aglomerados produtivos, principalmente as micro e pequenas empresas, são fortalecidas. Assim sendo, a atuação dessas empresas no mercado nacional, e até mesmo no internacional, ocorre de maneira mais eficaz. Os APLs, sendo um fator de grande importância para o desenvolvimento econômico, local e regional, devem ser considerados também como um agente atuante nas condições sócio-espaciais do município onde está inserido. É desta questão que procuramos tratar neste artigo e o faremos adotando o município de Franca (SP) como universo espacial empírico. Para tanto, fizemos uma coleta de dados de órgãos oficiais e a análise bibliográfica como meio de comprovar que as condições sócio-espaciais do município são, em grande parte, reflexo da dinâmica apresentada pelo Arranjo Produtivo Local de calçados masculinos.

Palavras-chave: Arranjo Produtivo Local - Desenvolvimento Local e Regional -

Condições Sócio-Espaciais - Franca. Introdução

A valorização do local é percebida em diversos estudos acadêmicos na atualidade e isto vem ocorrendo porque há o entendimento de que é na esfera local que as verdadeiras mudanças são efetivadas. Portanto, verificamos que em muitos estudos que visam uma promoção, tanto do desenvolvimento local como do regional há a intenção de analisar os atributos locais para atuar sobre eles de forma a potencializá-los ou até mesmo, em havendo interesse dos dirigentes locais, criar novos atributos. Neste contexto, surgiu no Brasil a discussão sobre a importância dos APLs para o desenvolvimento local e regional, na medida em que as empresas assim organizadas são fortalecidas, apresentando aumento de competitividade no mercado.

Tal forma de organização das empresas industriais constitui uma estratégia para o fortalecimento das indústrias, principalmente das micro e pequenas, pois seu aglomerado possibilita o aumento de sinergia, de eficiência coletiva, de economias de aglomeração e, para completar, há o aumento da aprendizagem por meio da interação entre os agentes, sejam eles institucionais ou empresariais.

Organizadas em APL, as micro e pequenas empresas são fortalecidas, de modo a

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passarem a atuar no mercado nacional e, em alguns casos, até no internacional, com maior eficácia. Diante de tal constatação, houve o reconhecimento da necessidade de adoção de novas estratégias para o desenvolvimento local e regional. Os representantes do poder público procuraram então atuar sobre os APLs por meio de implementações das políticas públicas, tecnológicas e industriais, de forma a promover cooperação entre as empresas.

De acordo com o Sebrae, a partir de 2002 houve a inserção dos APLs no Plano Plurianual de Ações do Governo Federal. Fuini (2006) cita um artigo da revista Indústria Brasileira, do ano de 2003, que traz a seguinte informação:

O SEBRAE já tem em seu cadastro quase 350 aglomerados, alguns com baixo nível de articulação interna, outros tão eficientes e competitivos quanto poderosas companhias. Instituições e entidades que atuam com micro e pequenas empresas, como o Sebrae, o BNDES e a Finep descobriram esse potencial e passaram a estabelecer programas específicos para APLs a partir de 1999. O primeiro estado a atuar neste sentido foi Minas, através da Federação das Indústrias e do IEL. O Governo federal incluiu um programa específico no Plano Plurianual aprovado para 2004-2007 e montou um grupo interministerial para coordenar todas as ações federais voltadas para APLs, reunindo 11 ministérios, sob coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria (MDIC), além de representantes do BNDES, Finep, CNPq, Sebrae, APEX, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e dos Bancos do Nordeste e da Amazônia. (p. 59)

A atuação do governo com o intuito de tornar as empresas mais competitivas é de grande importância, pois de acordo com Porter (1999, p. 25) “em uma economia globalizada, muitas vantagens competitivas dependem de fatores locais; por isso ganham importância as concentrações geográficas de empresa.”

As concentrações geográficas ou aglomerações produtivas geralmente integram empresas de portes variados, porém com maior número de micro e pequenas empresas, desenvolvendo atividades produtivas relacionadas ou afins, não necessariamente integradas verticalmente. A denominação dada a esses aglomerados de Arranjo Produtivo Local foi obra de um grupo de pesquisadores ligados a REDESIST2, coordenado por Cassiolato e Lastres, que justificaram tal denominação pelas especificidades apresentadas pelos aglomerados de empresas formados em países em

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RedeSist – Rede de Pesquisa em sistema e arranjos produtivos Locais e Inovativos Locais – é uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil, além de manter parcerias com outras instituições da América Latina, Europa e Ásia. Disponível em http://www.redesist.ie.ufrj.br/

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desenvolvimento, os quais se diferenciam dos Distritos Industrias italianos bem como dos Clusters.

De acordo com Cassiolato (2003, p. 7), a REDESIST possui como principal argumento sobre o enfoque conceitual e analítico de Arranjo Produtivo o seguinte: ele se forma em torno de onde ocorre a produção de qualquer bem ou serviço, pois para a produção faz-se necessário o envolvimento de atividades e de atores no que se refere à comercialização, à aquisição de matérias-primas, máquinas e demais insumos, sendo que tais arranjos variam desde aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados.

Essas colocações de Cassiolato são de suma importância para o entendimento do APL como grande propulsor do desenvolvimento local e regional, porque ele envolve várias instituições, desde públicas a privadas, não se tratando somente das firmas integradas ao processo de produção em si, mas também das fornecedoras, assim como das empresas de comercialização, etc. Sendo o APL um fator de grande importância para o desenvolvimento econômico local e regional, deve ser considerado então como um agente atuante nas condições sócio-espaciais do município onde está inserido. Esta é a questão sobre a qual procuramos tratar neste artigo. Para tanto, utilizamos dados sociais, econômicos e espaciais do município de Franca (SP), de diversos órgãos oficiais e bibliografia de cunho teórico e empírico para fundamentar nossas reflexões iniciais, pois essa questão será aprofundada em nossa tese de doutorado que está sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unesp de Rio Claro.

O Dinamismo do APL e Seus Reflexos nas Condições Sócio-Espaciais de Franca (SP)

De acordo com o Termo de Referência (SEBRAE, 2003), Arranjo Produtivo Local é a denominação dada às aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, as quais apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa, etc. Cassiolato e Lastres (2000), coordenadores da REDESIST definem Arranjo Produtivo Local de uma forma mais complexa, qual seja:

Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e

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interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultorias e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros, e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para formação e capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e universidades), pesquisa, desenvolvimento, engenharia, política, promoção e financiamento. (p.15)

Nesse contexto é que encontramos o Arranjo Produtivo Local de calçados masculinos, localizado em Franca, município do interior paulista, com uma população de 318.640 habitantes (IBGE, sinopse do censo demográfico de 2010), posicionado na região nordeste do estado de São Paulo, distante 400 Km da capital. É a 14ª. região do estado, com 23 municípios; constitui-se em um centro sub-regional, subordinado a Ribeirão Preto. (figura 1)

Figura 1- Localização do município de Franca- SP

Fonte: Prefeitura Municipal de Franca Disponível em: http://www.franca.sp.gov.br

O APL de Franca destaca-se por ter importância tanto para a região quanto para todo o Estado. Em 2009, segundo o IEMI (2011), Instituto de Estudos e Marketing Industrial, as 1015 indústrias do setor coureiro-calçadista do município geraram 32,3 milhões de empregos diretos e indiretos, com uma produção em torno de 25,9 milhões de pares, o equivalente a 3,2% da produção nacional de calçados. Se considerarmos apenas os calçados de couro, o percentual sobe para 9,3%. A importância da produção desse polo calçadista fez com que a cidade ficasse conhecida nacional e

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internacionalmente como a capital do calçado masculino.

Encontra-se no APL de Franca empresas de variados portes; porém, como é característico do setor calçadista, há uma predominância de micro-empresas. O gráfico (1) apresenta o número de estabelecimentos coureiro-calçadista por porte.

Gráfico 1- Número de Empresas do APL de Franca (SP) em 2009 por Porte

Fonte: IEMI- Instituto de Estudos e Marketing Industrial ( 2011) Org: Carmo J. A.

Os dados apresentados no gráfico (1) indicam que no APL de Franca as micro e as pequenas empresas aparecem com maior destaque em relação ao número de estabelecimentos, assim podemos dizer que a estrutura do Arranjo é formada por um número elevado de micro e pequenas empresas.

Os calçados produzidos em Franca são sapatos de couros (masculino, feminino, adulto e infantil), botas de couro (masculino, feminino, adulto e infantil), tênis de couro, de lona e de náilon. Verificamos que há certa diversificação do tipo de calçado aí produzido; porém, a porcentagem da produção de sapatos masculinos de couro é bem maior em relação aos outros modelos.

A produção de sapato no APL de Franca é realizada com a adoção de uma intensa divisão do trabalho, o que possibilita a contratação de outras empresas para a realização de algumas etapas da produção (terceirização). Esse processo explica em parte a presença de elevado número de micro e pequenas empresas no APL, as quais são geralmente especializadas em apenas uma ou duas etapas da produção do sapato. É importante ressaltar que as etapas de produção terceirizadas são exatamente aquelas em que há o maior emprego de mão-de-obra, como por exemplo, pesponto e costura manual. Em Franca, muitas empresas que prestam serviços de forma terceirizada às grandes e médias empresas acabam repassando o serviço a outras, sendo que muitas delas trabalham de forma irregular, sem a formalização de contrato de trabalho de seus

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funcionários. Há ainda o repasse de serviço para costureiras, que realizam o trabalho em casa, sem vínculo empregatício, o que provoca, cada vez mais, a precarização do trabalho. Algumas das grandes e médias empresas preferem manter suas próprias bancas de pesponto (local onde são realizados os serviços de costura manual e pesponto), mesmo em instalações separadas, para evitar o problema da informalidade e do trabalho infantil.

A partir dessas constatações já é possível inferir que há uma intensa relação entre o dinamismo do APL e as condições sócio-econômicas de Franca (SP). Vejamos então os dados sociais e econômicos referentes ao município.

O IDH de Franca é de 0,820 e do Estado de São Paulo é de 0,814 (SEADE- Perfil Municipal), portanto, esse índice revela que o Desenvolvimento Humano do Município é superior ao do Estado. Com o intuito de detalhar as condições de desenvolvimento do município, decidimos utilizar o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS). Este foi criado pela Fundação SEADE e pela ALesp. Os indicadores adotados são expressos em escala de 0 a 100. Dessa forma, os 645 municípios paulistas são agrupados de acordo com os resultados obtidos em cada uma das dimensões (riqueza, saúde e educação). Na tabela (1) temos os resultados alcançados por Franca e pelo Estado de São Paulo.

Tabela 1 – Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) de Franca e do Estado de São Paulo em 2008

Franca Estado de São Paulo

IPRS- Dimensão Riqueza 45 58 IPRS- Dimensão Longevidade 75 73 IPRS- Dimensão Escolaridade 69 68

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Org.: CARMO, J. A.

Como é possível verificar nesta tabela (1), Franca, na dimensão riqueza, apresentou em 2008, resultado inferior ao do Estado; porém, nas dimensões longevidade e escolaridade, ela atingiu índice superior ao do Estado. De acordo com o IPRS, o

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município integra o grupo 3, com nível de riqueza baixo, mas com bons indicadores em outras dimensões. Para detalhar a situação de Franca, nas dimensões contempladas na tabela (1), as quais compõem o IPRS, procuramos dados específicos de cada uma delas na Fundação SEADE (Perfil Municipal), verifique a tabela (2).

Tabela 2 – Renda Per Capita por Domicílio de Franca (SP), Região de Governo e Estado de São Paulo em 2000

Franca Região de Governo Estado de São Paulo

Domicílios com renda per capita de até ¼ de salário mínimo

2,16% 2,99% 5,16%

Domicílios com renda per capita até ½ salário mínimo

6,46% 9,27% 11,19%

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Org.: CARMO, J. A.

Como pode ser observado na tabela (2), há no município menor número de domicílios com renda até ¼ do salário mínimo, já na região de governo e no estado, tal número é superado. Quanto ao número de domicílios com renda até ½ salário mínimo, ele é maior na região de governo e no Estado. Esses números permitem-nos inferir que no município, a quantidade de domicílios com renda superior a ½ salário mínimo é maior do que na região de governo e do que no Estado de São Paulo. Porém, pela tabela (1) conseguimos verificar que na dimensão riqueza, o município está abaixo da média do Estado; então, é possível dizer que a renda, no geral, em Franca, deve-se manter pouco acima do salário mínimo e que no Estado, a média geral da renda deve ser bem mais acima do salário mínimo.

A dimensão longevidade foi verificada por meio de dados referentes à mortalidade da população com 60 anos e mais. A tabela (3) contempla esses dados em Franca, na região de governo e no Estado de São Paulo.

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Tabela 3 – Taxa de Mortalidade da População com 60 Anos e Mais de Franca (SP), Região de Governo e Estado de São Paulo em 2009

Franca Região de

Governo

Estado de São Paulo

Taxa de mortalidade da população com 60 anos e mais (por cem mil habitantes nesta faixa etária)

3.721,06 3.670,82 3.709,39

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Org. CARMO, J.A.

De acordo com a tabela (3), em 2009, em Franca, o número de mortes entre as pessoas com 60 anos e mais, num grupo de cem mil habitantes nessa faixa etária, foi superior ao número apresentado pela região de governo e Pelo Estado de São Paulo. Na dimensão escolaridade, de acordo com o IBGE (2005), em Franca, foi registrada uma taxa de alfabetização de 96,37%, ou seja, menos de 4% da população é considerada analfabeta.

Para realizarmos uma comparação da dimensão escolaridade com a região de governo e com o estado de São Paulo, utilizamos dados de 2000, da fundação SEADE. Observe a tabela (4).

Tabela 4 – Educação em Franca (SP) em 2000

Franca Região de Governo Estado de São

Paulo Taxa de analfabetismo (população de 15 anos e Mais) 5,63% 7,63% 6,64% Média de anos de estudos (população de 15 a 64 anos)

7,42 anos 7,07 anos 7,64 anos

População de 25 anos e Mais com menos de 8 anos de estudo

60,39% 63,90% 55,55%

População de 18 a 24 anos com ensino médio completo

40,61% 37,50% 41,88%

Fonte: SEADE (Perfil dos Municípios) Org.: CARMO, J. A.

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Por meio da observação da tabela (4) é possível verificar que Franca, em 2000, no que se refere à educação, apresentou em todos os itens analisados resultados melhores que a região de governo; já em relação à média do Estado de São Paulo, apresentou em dois itens valores inferiores, porém a taxa de analfabetismo entre a população de quinze anos e mais, no ano de análise, foi inferior também em relação ao Estado de São Paulo; no item referente ao Ensino Médio, os valores de Franca estão bem próximos à média do Estado.

A análise dos dados apresentados em tabelas possibilitou-nos a constatação de que em relação à renda per capita por domicílio e à taxa de mortalidade da população com 60 anos e mais, Franca apresentou um desempenho inferior, tanto na região de governo quanto em relação ao Estado. Já no quesito educação, obteve dados superiores à região de governo e ao Estado; porém, em alguns itens referentes à educação, seus números estiveram abaixo do Estado.

Para a verificação das condições espaciais de Franca utilizamos dados da Fundação SEADE e site da Prefeitura Municipal. Constatamos que em Franca há leis e códigos que possuem como objetivo regulamentar e ordenar a ocupação do solo, como por exemplo, o Plano Diretor, o Código de Obras e de Posturas. Essas leis são importantes para a localidade, mesmo sendo em grande parte negligenciadas, pois contribuíram, juntamente com outros fatores, é claro, para o não surgimento de loteamento clandestino e de favelas no município. Vejamos então dados relacionados à infra-estrutura urbana de Franca. Devido à ausência de dados mais atualizados sobre essa questão, utilizamos dados de 2000, como pode ser observado na tabela (5).

Tabela 5 – Habitação e Infra-Estrutura Urbana em Franca (SP), Região de Governo e Estado de São Paulo em 2000

Franca Região de Governo Estado de São Paulo

Domicílios com espaço suficiente

87,97% 89,26% 83,16%

Domicílios com espaço interno adequado

98,47% 97,31% 89,29%

Coleta de lixo 99,80% 99,51% 98,90%

Abastecimento de água 99,54%, 99,06% 97,38%

Esgoto sanitário 99,03%. 98,60 85,72%

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Or.: CARMO, J. A.

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Os dados da tabela (5) revelam-nos que em Franca, em 2000, as condições de habitação e de infra-estrutura urbana eram melhores que na região de governo e que no Estado de São Paulo. Acreditamos que a realidade encontrada em 2000 não se difere muito da atualidade, pois observando o espaço urbano de Franca e os dados referentes à habitação, verificamos que não há favelas no município.

Até aqui, vimos como se apresenta as condições sócio-espaciais de Franca. A partir de agora passaremos a verificar a relação entre o dinamismo do APL e as condições sócio-espaciais do município em questão. Para tanto, utilizamos alguns dados referentes à indústria de transformação, de modo geral, porque neste município, os estabelecimentos da indústria de calçados representam, de acordo com análise da RAIS/MTE, aproximadamente 70% do total da indústria de transformação; portanto, quando utilizamos dados da indústria de modo geral, grande parte deles é composta por informação da indústria calçadista.

Esses dados da indústria foram incorporados na análise por acreditarmos que os rendimentos obtidos pelo emprego nesse setor, apesar de baixos, contribuem para que as condições sócio-espaciais em Franca se apresentem com um índice razoável. Observe a tabela (6) que apresenta dados sobre os vínculos empregatícios de acordo com os setores de atividades no município em 2009.

Tabela 6 – Vínculo Empregatício Segundo Atividade em 2009 em Franca (SP), Região de Governo e Estado de São Paulo

No total de vínculos Franca Região de Governo Estado de São Paulo

vínculos empregatícios na agropecuária 1,63% 8,19% 3,08% vínculos empregatícios na indústria 39,59% 33,78% 22,47% vínculos empregatícios na construção civil 2,90% 3,24% 4,69% vínculos empregatícios no comércio 25,93% 22,69% 19,23% vínculos empregatícios nos serviços 29,96% 32,11% 50,53%

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Org.: CARMO, J. A.

Observando a tabela (6) é possível identificarmos a importância da indústria no município, pois ela compõe o setor de atividade que mais emprega em Franca e o

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número de vínculos desse setor é mais expressivo no município do que na região de governo e no Estado. Os vínculos empregatícios na agricultura são menos expressivos em todas as espacialidades; em Franca, esse setor é menos expressivo ainda. O setor de serviços apresenta vínculos empregatícios bem superiores em relação aos outros setores de atividades no Estado de São Paulo; já na região de governo, os vínculos empregatícios do mesmo setor apresentam números bem equivalentes ao da indústria. Porém em Franca, esse setor apresenta 10% a menos de vínculos em relação ao setor da indústria.

A análise dos números apresentados na tabela (6) leva-nos ao entendimento de que a indústria promove contribuições para as questões sócio-espaciais em Franca, pois além dos empregos diretos, ela também é responsável de forma indireta pelos vínculos empregatícios, tanto no setor de comércio quanto no de serviço, e ainda através do desenvolvimento do processo produtivo, ela gera demandas a esses setores. Há que se considerar também que é por meio dos rendimentos da população, obtidos pelos empregos disponibilizados pelos setores de atividade, principalmente o da indústria, no município, que ela pode participar do consumo de bens e serviços oferecidos, melhorando as condições sócio-espaciais de Franca. A próxima tabela contém dados relacionados ao rendimento médio de acordo com setor de atividade em 2009.

Tabela 7 – Rendimento Médio Segundo Atividade em Franca (SP), Região de Governo e Estado de São Paulo em 2009

Em Reais Correntes Franca Região de Governo Estado de São

Paulo

Rendimento médio na agropecuária 659,26 833,75 930,66

Rendimento médio na indústria 975,04 1.128,22 2.076,16

Rendimento médio na construção civil 873,79 986,48 1.400,71

Rendimento médio no comércio 1.033,41 980,69 1.296,69

Rendimento médio nos serviços 1.460,10 1.376,25 1885,02

Rendimento médio no total dos vínculos empregatícios do total de setores de atividade

1.127,44 1.145,68 1.762,71

Fonte: SEADE (Perfil Municipal) Org. CARMO, J. A.

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Os dados da tabela (7) indicam-nos que o setor de serviços, tanto em Franca quanto na região de governo, gera melhor rendimento aos funcionários; já no Estado, o que gera um melhor rendimento é o setor da indústria. A agricultura é o que gera menor renda aos funcionários em todas as instâncias analisadas. Todos os setores de atividades analisados geram remuneração inferior em Franca quando comparados com o Estado. Comparando-os com a região de governo, apenas o setor de comércio gera remuneração mais elevada. Percebemos, então, que apesar da indústria ser o setor que mais gera emprego em Franca, sua remuneração é inferior tanto à da região de governo quanto à do Estado de São Paulo.

Uma das explicações possíveis para a baixa remuneração verificada em Franca é a de que muitas das etapas da produção de sapato não exigem mão-de-obra com alto grau de especialização, pois são trabalhos manuais, sendo que os salários pagos por esse tipo de serviço são baixos, além do quê, muitos empresários de Franca utilizam a remuneração indireta, que são os benefícios sociais como cestas básicas, transporte, convênios médicos, etc., apesar dos gastos despendidos com esses benefícios serem posteriormente revertidos para a empresa por meio de incentivos fiscais.

Apesar da baixa remuneração e do IPRS médio verificado em Franca, identificamos alguns fatores que possivelmente contribuem para que as condições sócio-espaciais sejam razoáveis. O primeiro deles é o número elevado de emprego gerado pela indústria calçadista, pois não há registros de sérios problemas de desemprego no município. Portanto a maioria da população possui uma renda mínima para sua sobrevivência e muitos trabalhadores preferem um emprego nessas condições a fazer parte das estatísticas do desemprego, pois a garantia do trabalho é, na atualidade, uma forma do trabalhador não ficar à margem da sociedade, o quê, devido às suas características atuais, nos leva ao que Lefebvre (1991) denominou de “sociedade burocrática de consumo dirigido”. “As pessoas são levadas a acreditar que somente através do consumo poderão estar incluídas num modo de vida mundial” CARMO (2006, 26).

O segundo trata do envolvimento dos empresários das indústrias calçadistas em projetos sociais. Como exemplo, podemos citar o Pró-Criança – Instituto de Apoio à Formação da Criança e do Adolescente –, cujo objetivo principal é promover o combate ao trabalho infantil. Para tanto, há o oferecimento de aulas de idiomas, de danças, cursos de mecânica, de gráfica rápida e fotografia. Para poderem participar das aulas oferecidas sem comprometer a renda da família, o instituto concede, por meio de seus parceiros,

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bolsas de estudos; em contrapartida, os pais devem garantir a frequência dos filhos nos cursos e na escola regular de ensino obrigatório.

O terceiro refere-se à atuação da Secretaria da Cidadania e das entidades sociais que procuram, por meio das unidades de serviço social nos bairros (ao todo cinco unidades), realizar triagem das famílias carentes e, na medida do possível, encaminhá-las ao programa social que mais se enquadra a sua realidade. Dentre os programas sociais em vigor no município, tanto os de competência municipal quanto os de competência estadual e federal, podemos citar: Renda Mínima, Renda Cidadã; Bolsa Família; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Programa de Geração de Renda; Cursos de Capacitação Profissional; Programa família acolhedora, Programa de Atenção Integrada à Família, etc. (Francasite)

É claro que não são apenas esses três fatores os responsáveis pelas condições sócio-espaciais do município de Franca; porém, no limite das fontes e dos dados obtidos, a análise que desenvolvemos sobre as contribuições do APL para essas condições nos possibilitou a identificação desses fatores como principais contribuintes. Outras análises que forem desenvolvidas por meio de outro prisma e com o levantamento de novos dados sobre o APL e sobre as condições sócio-espaciais poderão apresentar outros fatores.

Considerações Finais

Ciente dos limites da análise desenvolvida e de que a pesquisa nunca está acabada, que sempre haverá algo novo a ser acrescentado, as palavras expostas neste momento serão apenas conclusões preliminares, haja vista esta questão ser retomada e aprofundada em nossa tese de doutorado ora em desenvolvimento.

Os dados apresentados neste artigo indicam que os Arranjos Produtivos Locais (aglomerados industriais) constituem-se em poderosos agentes que atuam na produção do espaço urbano. Na cidade de Franca, a atividade econômica mais importante é a fabricação de calçados, sendo o setor da indústria que mais gera empregos. Nos dizeres de Silva (1998, p. 91) “Franca pode ser vista como uma grande oficina de calçados, tamanha é a importância dessa atividade no município”. Dessa forma, as condições sócio-espaciais de Franca foram sendo condicionadas, cada vez mais, pela atuação das indústrias do APL.

A importância da indústria calçadista no município levou a sociedade francana a tornar-se, em grande parte, dependente dela, sendo o desenvolvimento econômico local

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alavancado pelas contribuições advindas desse setor. Tal dependência, em relação à atividade calçadista, de certa forma preocupa alguns representantes locais e, de acordo com Campanhol (2000), os impactos das crises oriundas do setor são amenizados com as atividades relacionadas ao café, diamante e leite, assim como as atividades assistenciais, que são características em Franca. A autora coloca ainda que são muitas as parcerias firmadas entre diversos órgãos públicos e privados, as quais possuem como objetivo promover as ações sociais.

Os representantes políticos, cientes da dependência em relação ao setor calçadista, tomam medidas que beneficiam as indústrias do APL e a população consente com essas medidas por entender que o fortalecimento do setor é importante para o desenvolvimento econômico local e para a melhoria das condições sociais do município. A população entende que se beneficia do desenvolvimento apresentado pelas indústrias, uma vez que elas, estando fortalecidas, geram mais empregos, mesmo que a remuneração não seja aquela dos padrões desejáveis. Em outras palavras, a população contenta-se com as “migalhas de pão”.

Referência Bibliográfica

CAMPANHOL, E. M. As relações Sócio-Econômicas em Franca em Face do

Processo de Globalização. 2000.308 f. Dissertação (Mestrado em História) –

Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2000.

CARMO, J. A. Dinâmicas Sócio-Espaciais na Cidade de Rio Claro (SP): As Estratégias Econômicas, Políticas e Sociais na Produção do Espaço. 2006. 202 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro. 2006.

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FUINI, L. L. A Nova Dimensão dos Territórios: Competitividade e Arranjos Produtivos Locais (APL). In: Estudos Geográficos: Revista Eletrônica de Geografia. Vol. 4 n. 1, Rio Claro, 2006. pp.53-65.

INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL. Estudo Sobre o Setor

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