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Diagnosis of solid waste pickers Limoeiro do Norte (CE)

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Diagnóstico dos catadores de resíduos sólidos de Limoeiro do Norte

(CE)

Virgínia Gurgel

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (vi.gurgel@yahoo.com.br) Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar as condições socioeconômicas de catadores de resíduos sólidos que trabalham no lixão do município de Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará. A pesquisa contou com trabalho de campo, entrevistas com os agentes públicos municipais, responsáveis pela temática; com a diretoria da Associação dos Catadores da Cidade Alta e com técnicos das organizações não-governamentais, além da aplicação de questionário junto aos catadores. O uso do lixão como alternativa para disposição final dos resíduos sólidos vem trazendo diversos problemas não só ambientais, mas também sociais. A carência de políticas públicas para o gerenciamento adequado dos resíduos e inserção dos catadores nos processos de coleta formal é um fator que agrava ainda mais o processo de exclusão sofrido por essas pessoas.

Palavras-chave: Cadeia produtiva. Catadores. Resíduos sólidos. Área Temática: Tema 1 – Resíduos Sólidos

Diagnosis of solid waste pickers Limoeiro do Norte (CE)

Abstract

This article aims to analyze the socioeconomic conditions of recyclable solid waste landfill working in the city of Limoeiro do Norte, in the state of Ceará. The research involved fieldwork, interviews with municipal officials, responsible for the theme, with the board of the Associação dos Catadores da Cidade Alta with technical and non-governmental organizations, and a questionnaire together with collectors. The use as an alternative to landfill disposal of solid waste has brought many problems not only environmental, but also social. The lack of public policies for the proper management of waste pickers and insertion of the collection process is a formal factor that exacerbates the process of exclusion suffered by these people.

Key words: Production chain. Scavengers. Solid waste. Theme Area: Theme 1 - Solid Waste

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1 Introdução

O período vivenciado pela sociedade após a Segunda Guerra Mundial consolidou uma nova cultura, pois parte da tecnologia usada exclusivamente pelos militares passou a ser inserida no cotidiano da população. Nessa nova cultura a produção e o consumo foram o foco para o desenvolvimento da indústria (SOUZA, 2006).

Essa modernização trouxe benefícios e malefícios para a sociedade, pois dissemina um estilo de vida calcado no consumismo exagerado e na acumulação de bens, o que “nos leva a viver um mundo no qual vale mais o „ter‟, o desperdício e a ostentação, do que o „ser‟ e a preservação dos bens naturais” (FREIRE, 2003, p.77).

O modo de produção capitalista tem como essência uma produção em massa de bens para consumo humano não considerando o desperdício e os impactos socioambientais, pois busca a sua autoexpansão, em busca da reprodução ampliada do capital, sem considerar os impactos que essas atividades vão causar, sejam eles ambientais ou sociais. Grande parte desses bens não possui vida útil prolongada fazendo com que sejam rapidamente descartados, levando a população a comprar cada vez mais, criando dessa forma uma sociedade cada vez mais consumista e aumentando a quantidade de resíduos.

Dentro desse ciclo capitalista não é disseminada a idéia da redução do consumo, nem o conhecimento da quantidade de resíduos que são gerados, não só após o descarte desses produtos, mas também na sua fabricação.

A reciclagem, que poderia ser um “paliativo” é muito mais vista como um negócio do que como uma alternativa para minorar os impactos que o processo de produção e consumo causa ao gerarem grande quantidade de resíduos. Tal atividade tem efeitos positivos e negativos para sociedade e meio ambiente. Como efeito positivo tem-se, por exemplo, a reutilização de materiais que seriam descartados para produção de novos bens, dessa forma, há uma redução da extração dos recursos naturais. Como efeito negativo há a inserção de maneira subordinada dos catadores dentro desse processo, pois eles são os menos favorecidos, visto que a disputa entre os mesmos, as empresas recicladoras e os atravessadores é acirrada.

A indústria da reciclagem é alimentada pelo fenômeno da produção de lixo e do desperdício oriundo da taxa decrescente de utilização da mercadoria que abrevia a vida útil dos bens de consumo e, além disso, desvaloriza a força de trabalho que passa a ser tão descartável quanto o que é produzido, uma vez que o potencial criativo humano é usado na produção de algo que será descartado rapidamente (MONTENEGRO, 2010).

A cadeia produtiva da reciclagem é constituída por quatro etapas, sendo elas: (1) coleta dos materiais recicláveis em residências, comércios e grandes geradores, nessa etapa há o envolvimento de empresas privadas, prefeitura, catadores individuais e cooperativas ou catadores organizados; (2) triagem ou separação por tipo de material feita por catadores individuais, empresas de triagem, sucateiros informais e cooperativas ou catadores organizados; (3) entreposto comercial onde se realiza o beneficiamento dos materiais triados envolvendo atravessadores, centrais de venda e cooperativas de segundo grau; (4) reciclagem que é realizada por indústrias geradoras hetero-gestionárias e indústrias recicladoras auto-gestionárias (WIRTH E FRAGA, 2012)

Dentro dessas etapas há o envolvimento de prefeituras, grandes empresas privadas, catadores individuais ou organizados, sucateiros, atravessadores, coletoras e empresas recicladoras. Enquanto há grande capital concentrado na coleta e reciclagem, empresas privadas de coleta de lixo e indústrias recicladoras respectivamente, os catadores ocupam as etapas de menor valor agregado como a coleta e a triagem (WIRTH E FRAGA, 2012).

Quem arca com as conseqüências desse processo vicioso e dominante entre sociedade, economia e indústria são os catadores, sujeitos invisíveis dentro desse ciclo que tiram seu sustento do que é tido como lixo pela sociedade, desempenhando seu trabalho em condições

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desumanas. A estimativa é que no Brasil haja aproximadamente 500.000 catadores de materiais recicláveis (MEDEIROS E MACÊDO, 2006). O crescimento do número de catadores está relacionado com as exigências cada vez maiores para o acesso ao mercado formal de trabalho e ao aumento do desemprego (IPT, 2003).

Grande parte das cidades brasileiras faz a disposição final dos resíduos sólidos em depósitos a céu aberto (MOTA, 2003). O lixão, como é denominada tal alternativa, é o local onde se faz a descarga desses resíduos sobre o solo sem nenhuma medida de proteção à saúde pública e ao meio ambiente (ALVES ET AL, 2006).

A problemática acerca dos lixões não é somente ambiental e sanitária, mas também social, pois o trabalho da catação é executado por homens, mulheres e crianças intensificando o processo de exclusão social (ABREU, 2001). A falta de estrutura para realizar a catação dos rejeitos expõe essas pessoas a riscos de saúde, pois no lixão é depositado todo e qualquer tipo de resíduo.

A existência do lixão aliado a falta de conhecimento da comunidade são fatores que determinam as condições de trabalho dos catadores, pois é nesse meio, com todos esses resíduos juntos e dispostos de forma inadequada, que ele vai selecionar o que pode ser reaproveitado.

Dentro desse contexto, o presente trabalho analisará as condições socioeconômicas de catadores do município de Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará, que trabalham no lixão da cidade, na localidade de Maria Dias.

2 Metodologia

O lixão do município de Limoeiro do Norte funciona em um terreno de 17 hectares na localidade de Maria Dias, distante 10 quilômetros do centro da cidade, e recebe 100% dos resíduos coletados na cidade. No local, que é a fonte de renda para cerca de 30 catadores, o lixo é disposto sem planejamento, é possível encontrar resíduos de saúde, vetores transmissores de doenças, o odor exalado pelos rejeitos em decomposição é forte além do lixo ser queimado constantemente.

A presente pesquisa tem caráter de estudo de caso e contou com trabalhos de campo para avançar no entendimento da gestão dos resíduos sólidos do município de Limoeiro do Norte e da situação dos catadores de materiais recicláveis do município de Limoeiro do Norte. Para tal realizamos entrevistas com os agentes públicos municipais, responsáveis pela temática; com a diretoria da Associação dos Catadores (as) Bom Jesus Sul de Limoeiro do Norte e com técnicos das organizações não-governamentais que desenvolvem ações com os catadores, com o objetivo de compreender a problemática dos catadores e suas principais demandas. Utilizamos, também, a aplicação de questionário. As perguntas foram elaboradas levando em consideração a facilidade de compreensão do entrevistado, o tempo de aplicação, a facilidade na tabulação dos dados e contemplaram as seguintes variáveis: renda, escolaridade, saúde, organização do trabalho comercialização e organização da produção.

Através de duas visitas, realizadas em maio de 2013, realizamos o cadastro (nome e endereço) dos catadores que trabalhavam no lixo, totalizando um total de 30 trabalhadores. Todos residem no bairro Cidade Alta. Dos 30 catadores cadastrados, 5 se recusaram a participar da pesquisa, totalizando a aplicação de 25 questionários. Os questionários foram aplicados, em junho de 2013, durante uma semana, na casa dos sujeitos pesquisados. As respostas foram tabuladas em um software específico, posteriormente, realizamos o tratamento dos dados, através dos procedimentos de estatística descritiva, com produção de gráficos e tabelas, e, por fim, procedemos a sua análise.

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3 Resultados

Os resultados obtidos com os questionários foram de fundamental importância para compreender a dinâmica de trabalho e as condições de sobrevivência dos catadores. Os dados extraídos do questionário tornaram possível a elaboração de uma análise a respeito da precariedade do trabalho e da vida dos catadores de materiais recicláveis do município de Limoeiro do Norte.

Dos 25 catadores entrevistados 56% são mulheres com idade entre 20 e 65 anos, sendo apenas uma menor de idade. Os homens estão na faixa etária entre 20 e 50 anos e não há nenhum menor de idade. Quanto ao nível de escolaridade os dados coletados revelam que 24% dos entrevistados não chegaram sequer a ser alfabetizados, 44% não concluíram o ensino fundamental, 4% possuem somente o ensino fundamental completo, 4% foi apenas alfabetizado e 24% não chegou a concluir o ensino médio, como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1. Nível de escolaridade

ESCOLARIDADE %

Ens. Fund. Completo 1 4

Ens. Fund. Incompleto 11 44

Ens. Médio Completo 0 0

Ens. Médio Incompleto 6 24

Alfabetizado 1 4

Não alfabetizado 6 24

Fonte – Pesquisa direta.

88% dos catadores vivem no município a mais 10 anos. 76% das casas são próprias e 24% alugadas. Quanto ao número de pessoas por domicílio, em 4% das residências mora uma pessoa, 12% moram duas pessoas, 20% moram três pessoas, 20% moram quatro pessoas, 24% moram cinco pessoas e 20% moram seis pessoas, como é mostrado na tabela abaixo.

Tabela 2. Número de pessoas por domicilio Número de pessoas por

domicílio % 1 pessoa 1 4 2 pessoas 3 12 3 pessoas 5 20 4 pessoas 5 20 5 pessoas 6 24 6 pessoas 5 20

Fonte – Pesquisa direta.

Quanto à estrutura física da casa 96% dos moradores moram em casa de alvenaria. Todas as casas possuem piso de cimento e são cobertas por telhas, entretanto, 12% não possuem banheiro interno e o mesmo possui somente vaso sanitário. No que diz respeito ao acesso a sistema de abastecimento de água 96% dos domicílios possuem canalização interna abastecidos pela rede geral e 4% não possui, como pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 3.Acesso a sistema de abastecimento

Abastecimento de água Nº %

Com canalização 24 96

Sem canalização 1 4

Fonte – Pesquisa direta.

Quanto ao sistema de esgotamento sanitário, 100% das casas possuem fossa séptica. Questionados a respeito da água que consomem apenas 32% filtram antes de bebê-la e os outros 68% não fazem nenhum tratamento antes de consumir. Do lixo produzido pelas famílias, 44% é coletado e outros 56% são queimados, pois, segundo os moradores, o caminhão que faz a coleta dos resíduos não passa em todas as ruas.

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Na caracterização do trabalho realizado pelos catadores foram elaboradas perguntas que versam sobre o tipo de material vendido, a frequência, onde armazenam o material reciclável, carga horária diária de trabalho, há quanto tempo exercem essa atividade, renda obtida com a venda dos materiais, bem como problemas de saúde, violência ou preconceito sofridos durante o trabalho.

100% dos catadores vendem PET, papel/papelão e alumínio/ferro e apenas 12% vendem vidro, pois segundo eles é um material pouco rentável.

Questionados sobre o peso dos materiais 44% afirmaram ter conhecimento da quantidade de material repassada ao atravessador uma vez que acompanham o momento da pesagem, já os 56% restantes não souberam informar, pois também não são informados pelo atravessador a quantidade vendida e não acompanham a pesagem. 80% dos catadores realizam a venda dos materiais coletados quinzenalmente e afirmam que dessa forma o lucro é maior, enquanto 20% vendem mensalmente. Todos armazenam os materiais no lixão em um galpão improvisado e vendem somente a um único atravessador que faz o recolhimento no próprio lixão, conforme entrevistas realizadas com a Associação dos Catadores.

A tabela 4 mostra os dados com relação à renda obtida mensalmente com a venda dos materiais, 8% recebem até R$ 100 reais, 52% recebem entre R$ 100 e 200 reais por mês, 28% entre R$ 200 e 300 reais, 8% entre R$ 300 e 400 e apenas uma pessoa tem rendimento de mais de R$ 400 por mês. A baixa renda dos catadores se justifica pelo valor pago pelo atravessador por cada material que é ínfimo, o valor do papel/papelão por quilo é de dez centavos, o plástico custa trinta centavos, o ferro é vendido por treze centavos e o alumínio é vendido a um real por quilo.

Tabela 4. Renda obtida com a venda dos materiais mensalmente

Valor R$ Nº % 0 – 100 2 8 100 – 200 13 52 200 – 300 7 28 300 – 400 1 8 Mais de 400 1 4

Fonte – Pesquisa direta.

No que se refere à carga horária diária de trabalho, 52% responderam que trabalham de 6 a 8 horas por dia e 60% trabalha cinco dias por semana. 92% não acham justo o valor que é pago pelo atravessador na compra dos materiais e afirmam que a renda obtida éinsuficiente para uma vida digna, visto que, 40% precisam dividi-la com mais cinco pessoas da família.

Nos trabalhos de campo foi possível identificar um catador que coleta em média uma tonelada de lixo por mês, este é o que possui a maior renda e que, entre os entrevistados, cumpre a maior carga horária de trabalho. Mesmo trabalhando cerca de onze horas por dia e coletando uma tonelada de material, ainda não é suficiente para ter uma renda de um salário mínimo por mês. Essa situação demonstra claramente o processo de precarização da força de trabalho do catador que constitui a parte mais fraca, porém a que mais trabalha na cadeia da reciclagem.

80% dos catadores não apresentaram problemas de saúde em decorrência do trabalho. Porém, os 20% que já sofreram agravos à saúde informaram terem contraído micoses, que se acentuam em períodos de chuva, e frequentes dores na lombar, pela posição em que ficam ao desempenharem seu trabalho. 32% relataram terem sofrido violência verbal e 16% violência física por outros catadores dentro do ambiente de trabalho. 40% informaram terem sofrido preconceito algumas vezes por serem catadores. Ao serem questionados sobre se consideram a sua atividade uma profissão, 84% disseram que sim.

Com os dados obtidos através do questionário é possível constatar que os catadores, apesar de constituírem o elo mais importante do ciclo da reciclagem, são os menos

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beneficiados, pois a renda gerada com o trabalho não é suficiente para sustentar uma família com dignidade. Além disso, em muitas residências há mais de um catador o que revela a falta de oportunidade em outros empregos, situação que se agrava ainda mais por muitos não terem concluído o ensino fundamental e de não serem assistidos por políticas públicas de inclusão produtiva.

Todos os catadores fazem a venda do material para um único atravessador, o que aumenta consideravelmente a sua dependência. Não obstante, há o fato dos catadores não terem controle sobre o quanto produzem, o que nos faz questionar se o valor que eles recebem é realmente equivalente ao que eles produziram.

A carga horária de trabalho cumprida pelos catadores torna-se muito mais exaustiva pelo fato do lixão ser um local insalubre, a posição que eles ficam para coletar os materiais é desconfortável e, além disso, não possuem equipamentos de proteção individual, fazem alguns improvisos usando apenas roupas mais longas o que os expõe à riscos muito graves de infecção e perfuração com objetos infectados, pois o lixão do município recebe todo e qualquer resíduo da cidade.

De acordo com as entrevistas realizadas com a organização não governamental Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, que desde 2010 acompanha a luta dos catadores, entre as demandas mais urgentes para minimizar o quadro de precarização do trabalho dos catadores estão: a criação uma política municipal de resíduos sólidos que assegure o direcionamento dos materiais recicláveis, advindos da coleta seletiva, para os catadores; a implantação de um programa piloto de coleta seletiva no bairro Cidade Alta, onde habitam os trabalhares do lixão; a estruturação de centro de triagem próximo ao local de moradia dos catadores; a criação de creche para os filhos dos catadores. Ainda de acordo com as entrevistas, até o presente momento, a Prefeitura Municipal de Limoeiro do Norte, só se comprometeu em estruturar o centro de triagem, através da cessão de uso de um galpão, próximo ao bairro dos catadores.

Em entrevistas com a Prefeitura Municipal de Limoeiro do Norte, os responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos indicaram que o poder público elaborou, desde 2009, o Plano Municipal de Saneamento Básico. O referido plano propõe inúmeros projetos para o eixo resíduos sólidos, porém, até o momento, nenhum deles foi executado. O poder público não iniciou, sequer, o processo de sensibilização da população local quanto à separação correta dos resíduos para a coleta seletiva e redução do consumo, nem mesmo estruturou a logística de coleta do material reciclável. Percebe-se, assim, que as orientações da lei nº. 12.305, de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tais como: a eliminação dos lixões e a inclusão dos catadores na coleta seletiva são ações que ainda não fazem parte da lista de prioridades do poder público municipal, alargando a continuidade dos catadores no lixão.

4 Conclusão

A produção de bens materiais pouco duráveis que sustentam o consumismo exagerado disseminado pelo capitalismo gera consequências imensuráveis à sociedade. A indústria da reciclagem, que é alimentada por esse processo de consumo, vê na figura do catador o caminho ideal para o seu crescimento, pois precariza a força de trabalho a partir do momento em que não coloca o catador como sujeito principal nesse ciclo. Somado a isso e dando mais impulso para que esse processo tenha continuidade, a falta de políticas públicas que garantam direitos trabalhistas ao catador e conhecimento a respeito do seu papel impedem que ele avance na cadeia da reciclagem. A invisibilidade desses sujeitos se acentua ainda mais pelo fato de muitos não possuírem conhecimento o bastante para que entendam o seu lugar dentro desse ciclo e assim tenham base suficiente para, organizados, lutarem pelos seus direitos. As relações trabalhistas nesse meio são extremamente exploratórias, o catador despende todo o

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seu potencial produtivo em busca de uma renda que supra as suas necessidades básicas, entretanto, isso não ocorre, pois o grande lucro fica nas mãos dos atravessadores e dos donos das indústrias de beneficiamento dos materiais recicláveis.

A administração pública municipal deve desenvolver políticas públicas que assistam o catador, com um duplo objetivo: retirá-lo do lixão, espaço insalubre onde desenvolvem sua atividade e para incluí-lo numa nova dinâmica produtiva, ocupando um espaço central na cadeia produtiva de resíduos sólidos.

Para alcançarmos os objetivos propostos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e minimizarmos a situação de exclusão dos catadores, a prefeitura, como responsável pela coleta dos resíduos sólidos, deve: 1) implantar coleta seletiva dos resíduos sólidos no município; 2) incluir os catadores nos processos formais de coleta dos resíduos, alternando os dias da coleta convencional com os dias da coleta seletiva; 3) sensibilizar a população para a correta separação dos resíduos em sua residência, por meio de campanhas de educação ambiental; 4) implantar centro de triagens, configurando-se como o novo espaço de trabalho do catador, onde seria realizada a separação e beneficiamento dos resíduos; 5) promover a alfabetização dos catadores que não são escolarizados, assim como a capacitação para que eles possam gerir a associação de forma independente; 6) criar creches com período integral para que não haja a necessidade de levar os filhos para os galpões.

Tais propostas apresentam-se como os primeiros passos para a saída do catador do lixão e o seu fortalecimento na cadeia produtiva dos resíduos sólidos, contribuindo com a promoção da saúde dos catadores, ampliação da sua renda, minimizando a precarização do trabalho, com resultados diretos na sua qualidade de vida.

Referências

ABREU, M. de F. Do Lixo à Cidadania: estratégias para a ação. Brasília: Caixa, 2001. ALVES, C de B.; SANTOS, G. O.; OLIVEIRA SANTOS, G. BRASILEIRO FILHO, S. Resíduos Sólidos Urbanos Como Insumo à Produção de Energia. In: VIIII Seminário Nacional de Resíduos Sólidos. Maranhão: ABES, 2006. CD-ROM.

FREIRE DIAS, G. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8ª edição, Editora Gaia, São Paulo, 2003.

Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPT. Cooperativa de catadores de materiais recicláveis: guia para implantação. São Paulo: SEBRAE, 2003.

MEDEIROS, L. F. R.; MACÊDO, K. B. Catador de Material Reciclável: uma profissão para além da sobrevivência? Psicologia & Sociedade. 18(2): 62-71; mai/ago, 2006.

MONTENEGRO, D. (Re)ligando os fios invisíveis da expoliação: trabalhadores do lixo e a ativação dos limites da precariedade do trabalho. Dissertação de mestrado-Universidade Federal do Ceará, 2010.

MOTA, S. Introdução à Engenharia Ambiental. 3ª ed., Rio de Janeiro: ABES, 2003.

SOUZA, E.V, RODRIGUES, M.L.V, SOUZA NV. História da cirurgia da catarata. Medicina. Ribeirão Preto; n. v. 39, n. 4, p. 587-90. 2006.

WIRTH, I.; FRAGA, L. Tensões Tecnológicas na cadeia produtiva da reciclagem: o interesse do capital e a proposta dos catadores. In: RODRIGUES, F.; NOVAES, H.; BATISTA, E.

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Movimentos Sociais, Trabalho Associado e Educação para além do Capital. 1ª edição, Outras Expressões, São Paulo, 2012. p. 311-330.

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