A RECEPTIVIDADE DOS ESTUDANTES DA ESCOLA SINHÁ
SABÓIA, FRENTE ÀS ATIVIDADES INTERDISCIPLINARES DO
PIBID/UVA/MATEMÁTICA.
AUTORES
Luana de Sousa Sales, UVA, luanadesousasales@gmail.com Miguel Jocélio Alves Silva, UVA, migel.silva@gmail.com
Verônica de Souza Tabosa, UVA, veronicatabosa@gmail.com
RESUMO
O subprojeto PIBID/UVA/Matemática na Escola Sinhá Sabóia, que fica localizada em Sobral – Ce, teve o propósito de ir além das fronteiras matemáticas, através de práticas interdisciplinares. Mas é sabido que ao se trabalhar com atividades das quais os estudantes não estão habituados corre-se o risco de não haver a aceitação imediata. Para isto é necessário que se tenha convicção pedagógica e didática do trabalho e persistência na sua realização. Aqui trataremos dos desafios e das possibilidades deste trabalho nesta escola, a partir da receptividade dos estudantes.
Palavras-chave: Matemática, investigação, pesquisa, interdisciplinaridade.
ABSTRACT
The subproject PIBID/UVA/Mathematics School Sinhá Sabóia, which is located in Sobral - Ce, aimed to go beyond the boundaries of mathematics through interdisciplinary practices. But it is known that when working with activities that students are not accustomed runs the risk of not having the immediate acceptance. For this it is necessary to have convinced the pedagogical and didactic work and persistence in their performance. Here we shall address the challenges and possibilities of this work in this school, from the receptivity of the students.
Keywords: Mathematics, research, research, interdisciplinarity.
1 Introdução
O Programa de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, a partir do subprojeto de matemática teve atuação no segundo semestre de 2011 na Escola Sinhá Sabóia, localizada no bairro Dom Expedito, na cidade Sobral – Ce. As atividades deste programa tiveram inicio em agosto de 2011, mas em função da greve dos professores da rede estadual de ensino, somente nos meses de novembro e dezembro ocorreu de fato o
desenvolvimento das atividades de forma mais sistemática, apesar da constante infrequência dos estudantes, fato que o programa ainda está debruçado em diagnosticar as suas razões e solucionar este empecilho.
As atividades do PIBID/UVA/Matemática desenvolvidas neste período na Escola Sinhá Sabóia, buscaram apresentar uma nova proposta educacional, a partir do atendimento dos estudantes com maior dificuldade na aprendizagem da matemática, realizado no contra turno escolar. Estas atividades foram realizadas uma vez por semana num espaço físico da escola e tinham como referência o protagonismo estudantil no processo de aquisição do conhecimento matemático e a investigação e a pesquisa como elementos didáticos, na busca de uma aprendizagem interdisciplinar e que pudesse romper fronteiras, obstáculos e preconceitos em relação à matemática como conteúdo curricular.
2 Objetivos
As atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID/UVA/Matemática no âmbito da Escola Sinhá Sabóia tiveram como objetivo romper as fronteiras entre as disciplinas e garantir a construção do conhecimento matemático, inserindo desta forma as práticas interdisciplinares na sala de aula, a partir da pesquisa e investigação como elemento didático. Buscou-se com estas atividades também, que a escola pudesse refletir sobre seu papel como um espaço de questionamento, discussão e reflexão dos conteúdos curriculares, além de discutir o papel fundamental do professor no processo de aprendizado dos estudantes, pois é este, em boa medida, o responsável pela motivação dos estudantes e dos resultados de aprendizagem destes, através de metodologias, práticas e didáticas que possibilitem ao educando instigar-se na busca do saber e da sua validade.
3 Metodologia
Desde o inicio das ações desenvolvidas na Escola Sinhá Sabóia, sempre houve uma preocupação em se trabalhar com os estudantes, a partir de práticas inovadoras. A partir disto foi feito todo um planejamento para as atividades, desde o primeiro contato com os estudantes da escola. Neste primeiro contato com a direção e professores da escola, foi feita uma apresentação do
PIBID/UVA/Matemática, onde a escola também fez uma apresentação do seu trabalho de gestão e pedagógico. Foi feita também uma sondagem de conteúdos matemáticos com os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. Esta sondagem queria saber dos estudantes, quais os conteúdos curriculares de matemática que eles tinham maior dificuldade, para com base nisto, poder-se fazer um planejamento das atividades com o conteúdo matemático a ser trabalhado. Ficou decidido em reunião com a direção e coordenação da escola, que esta organizaria as turmas a serem atendidas pelo programa e que este atendimento seria às quintas-feiras, no contra turno escolar. Para realizar a atividade de interdisciplinaridade primeiramente houve a apresentação de uma lista de situações problemas envolvendo apenas as quatros operações, as quais os estudantes deveriam resolvê-las. Logo após esta etapa os estudantes escolheriam apenas uma das situações-problema e elaborariam novas situações-problema de matemática, com base na situação escolhida. Depois da concretização desta etapa os estudantes elaboraram outras situações-problema, mas agora envolvendo outras áreas do conhecimento curricular que tivessem relação com a primeira situação-problema trabalhada.
Todo o trabalho do PIBID/UVA/matemática desenvolvido na Escola Sinhá Sabóia, teve como referência o protagonismo dos estudantes no processo de educação-aprendizagem da matemática, a partir das atividades de pesquisa e investigação, numa perspectiva interdisciplinar.
4. Discussão dos resultados
Na busca do rompimento das fronteiras entre as disciplinas, o planejamento das atividades é algo fundamental, pois garante a construção do conhecimento, buscando atitudes e condutas interdisciplinares. Para o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar na sala de aula, há muitos desafios e dúvidas, pois não há um caminho pronto e acabado, nem único para estas atividades, mas é necessário que se trabalhe com metodologias científicas inovadoras, buscando-se uma articulação refinada entre teoria e prática.
Nesse sentido Pedro Demo (2006) nos ajuda a compreender melhor a relação entre teoria e prática, entre o planejamento das atividades e a sua execução, quando afirma
Toda prática deve ter a sua elaboração teórica, para realizar em plenitude o confronto da teoria com a realidade histórica; jamais trata-se de prática dispersa, intermitente, esporádica, sem rumo,sem método, sem compromisso com resultado; para tanto, é mister reconstruir teoricamente a prática, no que se garante também que a prática é fonte de conhecimento e não só aplicação decorrente. (DEMO, 2006, p.101)
A partir desta perspectiva, foram desenvolvidas atividades interdisciplinares relacionadas aos conteúdos curriculares de matemática, mas também abrangendo conteúdos de outras áreas do conhecimento curricular, com a finalidade de romper com a concepção fragmentada entre as disciplinas e possibilitar o protagonismo do educando na busca do saber matemático, referenciado socialmente, a partir dos conceitos da matemática e da realidade objetiva em que vivem os estudantes da Escola Sinhá Sabóia. As pesquisas e busca de respostas sobre as novas questões levantadas foram inicialmente pesquisadas na biblioteca da escola. Esgotando esta fonte de pesquisa, buscou-se a sala de multimeios e o laboratório de informática, onde havia acesso a internet.
Uma parte do que foi feito pode ser visto, a partir desta atividade proposta, em que os estudantes teriam que resolver a situação-problema de matemática e a partir dai desenvolverem outras atividades.
Observe na tabela informações sobre a utilização do cinto de segurança pelos condutores de veículos envolvidos em acidentes de trânsito no ano de 2004.
MÊS COM CINTO SEM CINTO NÃO DETECTADO (1)
JANEIRO 1.425 16 399
FEVEREIRO 1.439 18 550
MARÇO 1.977 8 586
ABRIL 1.872 3 534
FONTE:www.pr.gov.br/bptran/estatísticas/ano2004
(1) Acidentes em que o envolvido é encaminhado ao hospital ou evadiu-se do local do acidente.
O mês em que foi detectado o maior número de pessoas envolvidas em acidentes que usavam cinto de segurança foi
(A) Janeiro (B) Fevereiro (C) Março (D) Abril
Como primeira tarefa os estudantes teriam que resolver a questão que está posta. Depois de resolvida, corrigida e validada a resposta, os estudantes foram estimulados a elaborar novas questões matemáticas, a partir dos dados da tabela apresentada. Nesta atividade apresentamos o que um grupo de 03 estudantes da
Escola Sinhá Sabóia conseguiu formular:
1) Durante os meses de janeiro, fevereiro, março e abril, quantas pessoas se envolveram em acidentes no trânsito com cinto de segurança? E sem cinto de segurança? 2) Em que mês ocorreu menos acidente sem cinto de segurança?
3) Quantas pessoas se envolveram em acidentes durante o ano de 2004, que não foram detectadas se estavam fazendo o uso ou não do cinto?
4) No mês de fevereiro quantas pessoas se envolveram em acidentes sem o uso de cinto de segurança?
5) No mês de janeiro e abril quantas pessoas se envolveram em acidentes utilizando o cinto de segurança?
As questões elaboradas inicialmente pelos estudantes foram discutidas e validadas pelo grupo, sendo reformuladas no sentido de que pudessem ficar mais claras e objetivas, mas já demonstram uma capacidade importante dos estudantes em elaborar novas situações-problema.
Após esta atividade os estudantes foram estimulados a elaborar novas questões sobre o assunto, agora de forma mais livre, mas de acordo com o tema. As questões elaboradas sobre o tema foram:
1) Onde surgiu o primeiro automóvel com cinto de segurança? 2) É permitido dirigir sem o cinto de segurança?
3) Quantos metros tem um cinto de segurança?
4) Qual o objetivo do cinto de segurança? Será que ele realmente garante segurança ou não? 5) De que material é feito o cinto de segurança?
6) Em que ano surgiu o cinto de segurança?
7) O que fazer para diminuir o índice de acidentes no trânsito? 8) O que não é permitido no trânsito?
9) O que é mais seguro, utilizar cinto ou não?
Estas questões elaboradas, discutidas e validadas teriam que ser respondidas. Para isto primeiro usamos a biblioteca para a busca das respostas para estas questões. Não encontrando todas as respostas na bilbioteca, buscamos na sala de multimeios, através do acesso a internet, buscar as respostas para as questões levantadas e validá-las, uma vez que na internet, nem tudo é veridico. Então buscamos informações nos sitios oficiais.
5 Considerações finais
Essa atividade interdisciplinar demonstrou que a escola ainda está ancorada nos antigos métodos de ensino tradicionais, que não trabalha a construção do conhecimento no educando, o que torna difícil a aceitação e motivação para se trabalhar com instrumentos inovadores que façam com que o estudante busque a construção do seu próprio. Dessa forma o professor precisa se tornar um investigador em sala de aula para encontrar maneiras de trazer às práticas
interdisciplinares para esse ambiente escolar e saber identificar o problema de aprendizagem. Afirma PONTE (2005) que “Pode mesmo dizer-se que o primeiro grande passo de qualquer investigação é identificar claramente o problema a resolver”. Nessa concepção o estudante deve ser levado a protagonizar seu aprendizado, ou seja, o professor deve instigá-los à pesquisa, pois só se constrói conhecimento através do estudo aprofundado. Sendo assim, o professor tem presença fundamental tanto no que diz respeito a inserir novas práticas na sala de aula, como incentivar os seus estudantes a buscar o conhecimento em suas mais diversas formas. O conhecimento absorvido precisa trazer satisfação e motivação ao estudante, em querer saber mais, buscar novas possibilidades e horizontes e se tornar ator do seu processo educativo, muito mais do que objeto que recebe passivamente o conhecimento do professor.
A atividade interdisciplinar realizada na escola Sinhá Sabóia, nos despertou para a realidade ainda vivida no ambiente escolar, onde os professores ainda não superaram a cultura escolar tradicional, simplesmente trabalham as disciplinas de maneira ainda fragmentada; ancorada unicamente no livro didático, levando os estudantes à imitação, à copia, à reprodução, sem que haja uma ação e reflexão sobre o conhecimento apresentado, buscando questioná-lo e validá-lo. A ação mecânica e repetitiva torna o pensamento do estudante restrito, sem construção própria. Do trabalho que foi realizado há uma clara percepção de que trabalhar com atividades com as quais os estudantes ainda não estão habituados, tem em princípio uma resistência destes, uma participação acanhada, mas isto só será rompido com forte convicção dos conhecimentos da matéria, da suas possibilidades de relações, das metodologias e didáticas referenciadas na prática docente, a partir de uma nova perspectiva do ensinar e aprender.
Referências
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez Editora, 2006.
PONTE, João. P. & BROCARDO, Joana. & OLIVEIRA, Hélia. Investigações matemáticas na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
