• Nenhum resultado encontrado

revista-violao-mais-no-2.pdf

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "revista-violao-mais-no-2.pdf"

Copied!
68
0
0

Texto

(1)

Siqueira

Lima

A parceria vitalícia que rende ótimos frutos

E mais:

Conheça o Cuatro porto-riquenho

O cururu na viola caipira

El Abanico: o leque do flamenco

A posição correta da mão esquerda

Repertório de vihuela de mano

Exclusivo!

Curso de violão

popular

com vídeoaulas

Ano 1 - Número 2 - Outubro 2015 www.violaomais.com.br

Chico Saraiva

Cuidado de erudito, expressividade de popular

(2)

editorial

Editor-técnico

Luis Stelzer

editor@violaomais.com.br

Colaboraram nesta edição

Alex Lameira, Breno Chaves, Fabio Miranda, Flavio Rodrigues, Luisa Fernanda Hinojosa Streber, Reinaldo Garrido Russo, Renato Candro,

Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado

Ano 1 - N° 02 - Outubro 2015

VIOLAO

+

É essa a sensação que estou sentindo, agora, no fechamento da nova edição de Violão+. Passou muito rápido! Nem deu tempo para curtir toda a repercussão da estreia e lá vamos nós outra vez, colhendo entrevistas com grandes nomes do violão e trazendo feras na arte de tocar o instrumento em suas mais diversas vertentes para nossas colunas. É uma alegria. E muito trabalho. Conseguimos uma entrevista sensacional com o Duo Siqueira Lima que nos contou ótimas histórias, de como se conheceram, a rotina de estudos, como é tocar em duo, com direito a uma palhinha exclusiva que você pode acompanhar em vídeo. Também pudemos ter contato com o trabalho e a sensibilidade de Chico Saraiva, grande compositor e violonista, que nos conta de suas pesquisas atuais, fruto de seu mestrado na USP, chamado Violão-canção. Um cara sensível, que trata da sua música com muito estudo e vive no limiar entre o instrumento acústico e o elétrico, uma coisa bem comum no século XXI, mas que, nem por isso, deixa de ser complicada. A seção Onde O Meu Violão Toca traz uma entrevista com Isadora Canto, idealizadora e fundadora do Instituto Acalanto, que trabalha com música e gestantes. Onde o violão entra nisso? É o que você verá em nossas páginas. Inauguramos nesta edição de Violão+ uma coluna para aquelas pessoas que tem o

violão em casa - ou pelo menos a vontade de tocar um –, com primeiros passos, a fim de acolher quem está começando. Mãos à obra, violonistas! Trazemos também teste de instrumento, agenda, crônica, um pouco de tudo. E a oportunidade de abertura para a visibilidade de um grande talento, na seção Você na Violão+. Continuamos nossa luta, porque a revista é uma bandeira: a de integração do violão e dos violonistas. Mais do que informativa, ela é provocadora. Venha para esse debate. Converse com a gente. Um abraço.

Luis Stelzer Editor-técnico

(3)

índice

Foto de capa Matheus do Val Publicidade/anúncios comercial@violaomais.com.br Contato contato@violaomais.com.br

Publisher e jornalista responsável

Nilton Corazza (MTb 43.958) publisher@violaomais.com.br

Gerente Financeiro

Regina Sobral

financeiro@violaomais.com.br

Diagramação Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34Jardim Previdência - São Paulo - SP

56

De ouvido

60

Iniciantes

65

Improvisação

66

Coda

4

Você na V+

7

Acontece

8

Em pauta

10

Retrato

18

Onde meu

violão toca

20

Em mãos

24

Duo

Siqueira Lima

34

Mundo

36

História

41

Violão

brasileiro

44

Viola

Caipira

48

Flamenco

50

Siderurgia

53

Como

estudar

(4)

você na violão+

Primeira edição

A revista está excelente! Parabéns! (Jose Jorge Pinheiro, em nossa página no Facebook)

Prezados responsáveis pela revista

Violão+, escrevo para agradecer

e parabenizá-los por essa iniciativa maravilhosa de criar essa revista. Estávamos muito carentes de uma publicação voltada ao violão e à sua música. Adorei a revista, estou encantado com ela. Contribuirá muito com nosso instrumento querido! Sou de Barra Mansa/RJ e soube pelo forum violao. org. (João Paulo Oliveira, por e-mail) Acabei de ler a revista, que legal! Fiquei feliz por ver novamente uma publicação dedicada ao violão, e a Violão+ está bem profissional mesmo, parabéns! Gostei de tudo: as seções,

os textos e o design gráfico! Sucesso, e obrigado! (Conrado Paulino, em nossa página no Facebook)

Parabéns! A revista que faltava. (Eliana Quaglio, por e-mail)

Muito bom, parabéns! Estávamos precisando de algo assim. A lacuna era infinita sobre o assunto. (Jorge Albino, em nossa página no Facebook)

Como estudar

Excelente essa iniciativa, tanto para professores quanto para alunos. Vamos em frente. (Maestro Eduardo, em nosso canal no Youtube)

Guitarra flamenca

Valeu! Flavio, um show de aula! E que venham mais! Abraços. (Osaias Saraiva, em nosso canal no Youtube)

Parabéns a toda a equipe da Violão+! Timaço de primeira! E aprender sobre guitarra flamenca com o excepcional Flavio Rodrigues é um privilégio! (Nelson Rodrigo, em nosso canal no Youtube)

(5)

Mostre todo seu talento!

Os violonistas do Brasil têm espaço garantido em nossa revista. Como participar:

1. Grave um vídeo de sua performance.

2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.com.br 4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com direito a entrevista e publicação de release e contato.

Violão+ quer conhecer melhor você, saber sua

opinião e manter comunicação constante, trocando experiências e informações. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse,

curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@violaomais.com.br

você na violão+

Obrigado

V+: Agradecemos todas as mensagens de apoio e elogios que recebemos, das

quais essas acima são uma pequena amostra. Nosso time de colaboradores foi escolhido e convidado a participar tendo como critérios o conhecimento profundo sobre o assunto a ser abordado e a facilidade de transmitir esse conhecimento. Acreditamos que acertamos na escolha! Toda a equipe está unida em torno de um mesmo ideal: a formação de novos violonistas e o desenvolvimento de quem já toca o instrumento. Esperamos com essa iniciativa contribuir para a valorização do violão e dos músicos que se dedicam a ele e nos esforçamos para levar informação de qualidade a um público que não tinha onde buscá-la. Temos a certeza de que podemos contar com esse público para nos auxiliar.

Assinatura

A revista vai para as bancas de todo país? Sou do RN, então gostaria de saber se sim quando ela chegará por aqui. (Ronildo Freire, por e-mail)

V+: A revista Violão+ é digital e pode ser acessada e baixada pelo site www.violaomais.com.br. Não há versão impressa, mas, se você quiser, pode baixar a versão PDF e imprimir as páginas que desejar.

(6)

Natural de Teresina, no Piauí, Emanuel Nunes é o primeiro escolhido entre nossos leitores violonistas para ter seu trabalho apresentado em Violão+. Os destaques do vídeo são a composição, o toque preciso e a iniciativa do estilo de composição baseado em festas populares. Graduado em Educação Artística e Música pela UFPI e Mestre em Música pela UFG, Nunes foi premiado no Festival Dilermando Reis em Guaratinguetá, São Paulo, e no Festival Nacional de Violão do Piauí, ambos em 2004. Como solista e camerista, apresentou-se em diversas cidades do Piauí e também em Fortaleza, Brasília, São Luís e Rio de Janeiro. Atualmente é professor efetivo de música no Instituto Federal do Piauí onde atua principalmente nas disciplinas de prática instrumental, harmonia e percepção. Tem se dedicado ao arranjo e composição de peças para violão-solo, com ênfase na música brasileira. Em 2015, publicou “25 Pequenos Estudos Populares para Violão”, livro de partituras destinado a violonistas iniciantes ou iniciados que já leiam musica, com peças para violão-solo baseadas e inspiradas em ritmos populares.

você na violão+

(7)

acontece

Dias 7 e 8 de novembro, o Conservatório Souza Lima, em São Paulo, realiza o XXVI Concurso de Violão. A coordenação geral é do diretor Antônio Mario da Silva Cunha e a coordenação artística do violonista Sidney Molina. Os participantes podem concorrer na categoria solo, divididos por idades (até 11 anos, de 12 a 14, de 15 a 17 e acima de 18) ou grupos. Demais informações podem ser obtidas no site do conservatório (www.souzalima.com.br). As inscrições devem ser feitas até o dia 25 de outubro e o valor da taxa é de R$ 70,00.

Estão abertas as inscrições para o 10º Encontro de Músicas e Danças do Mundo, que acontece de 25 a 31 de janeiro de 2016 em Imbassaí, na Bahia. Sob o tema “Por uma cultura de paz”, o evento traz artistas ao Brasil para oficinas de arte e de músicas e danças étnicas, práticas corporais e meditativas, shows gratuitos e fóruns culturais. Dentre as presenças internacionais, o destaque fica para o músico Goran Kamil (foto), o premiado grupo feminino marroquino de música sufi Rhoum El Bakkali Ensemble, e o Egypt Folk Ensemble. As inscrições podem ser feitas aqui.

(8)

EM PAUTA

O TRIO E A DÉCADA DE OURO

O Trio Opus 12 de violões, reconhecido como um dos mais importantes

agrupamentos violonísticos brasileiros da atualidade, lança seu novo álbum, de nome Divertimentos. Formado por Paulo Porto Alegre, Daniel Murray e Chrystian Dozza, o grupo interpreta obras de uma geração excepcional de violonistas compositores brasileiros nascidos no início da década de 1950. Esses compositores tiveram em comum uma formação musical popular e erudita que os notabilizou como os mais importantes de sua geração, e trouxeram uma nova ótica para a música instrumental brasileira: Paulo Porto Alegre,

Paulo Bellinati, Sergio Assad e Marco Pereira. “Funk Fuga” é o título de uma das faixas e mistura o estilo norte-americano (funk) com a forma barroca (fuga), em uma clara proposta de ultrapassar a fronteira entre a música popular e a erudita. Esse, inclusive, é o conceito de todo o álbum, que traz ainda “Maracatu de Pipa”, de Paulo Bellinati - peça arquitetada em duas formas diferentes de maracatu, nação e rural -, e “Bate-coxa”, de Marco Pereira, obra para violão-solo que o Trio divide e onde os membros se desafiam.

(9)

EM PAUTA

Django Reinhardt é o grande homenageado da terceira edição do Festival de Jazz Manouche, que ocorre em 31 de outubro na cidade paulista de Piracicaba e em 2 de novembro na capital do Estado. O evento conta com artistas e grupos nacionais e estrangeiros, entre eles Paul Mehling, Robin Nolan, Bina Coquet e Três Tigres Tristes. Reinhardt, banjoista cigano belga radicado em Paris no começo do século XX, tornou-se um virtuose do violão e consagrou na Europa um estilo de jazz original a partir da musicalidade cigana. O grupo que celebrizou o estilo nos anos 30 foi o Hot Club de France, quinteto que marcou seu encontro com o violinista Stéphane Grappelli, em uma parceria que definiria o estilo conhecido como jazz manouche. Mais informações sobre o evento podem ser obtidas aqui.

O violonista Jonathas Ferreira, que utiliza a técnica conhecida mundialmente como Fingerstyle Guitar, acaba de gravar um DVD instrumental e, para finalização do projeto, capta recursos por meio da plataforma de financiamento coletivo Partio. A campanha vai até o dia 18 de outubro, quando o trabalho será lançado no Rio Grande do Sul. O músico, com formação em violão erudito, estudou Fingerstyle com músicos como Pierre Bensusan (França), Antoine Dufour (Canadá), Billy McLaughlin, Stephen Bennett e Andy McKee (EUA). O Fingerstyle é uma linguagem que permite usar o violão de forma percussiva, harmônica e melódica simultaneamente, caracterizando-se também pelo uso de afinações alternativas. Para participar, clique aqui!

JAZZ MANOUCHE NO BRASIL

(10)

Chico Saraiva

(11)

Chico Saraiva, músico carioca, criado

em Santa Catarina e radicado em São

Paulo, cedeu uma entrevista à Violão+,

contando um pouco sobre seu trabalho,

suas composições e embates com esse

instrumento maravilhoso e difícil de

ser domado, o violão. Seus trabalhos

envolvem, ao mesmo tempo, o cuidado de

um músico erudito com a expressividade

da canção popular

A relação

violão-canção

RETRATO

Violão+: Em que ponto considera que está sua carreira?

Olha, está em um momento interessante no sentido de eu já perceber os desdobramentos de um período que aconteceu há uns três ou quatro anos, quando dei uma parada para refletir sobre o que eu vinha fazendo. Usei o espaço do mestrado que desenvolvi na USP em uma linha que se chama “processos composicionais”, o que muito me inspirou porque, para um compositor, é realmente gostoso estudar isso.

Violão+: O que você achou que tinha que mudar? Você já era um compositor de sucesso...

Naquele momento, em 2012 e 2013, fiquei pensando, refletindo e estudando

mesmo, em um pêndulo entre uma coisa mais do violão e voz, e uma coisa mais ligada ao violão solista, a uma tradição escrita, erudita, com sonoridade de concerto que, de uma maneira ou de outra, sempre se fez presente no que faço, dialogando com a canção popular. Tento muito fazer música que se baseie nisso. Então, refleti muito nesse tempo sobre esses pontos de conexão, nessas maneiras de fazer uma música que revele essa intimidade que o violão traz. Para isso, fiz um processo longo de entrevistas, com três mestres do violão ligados à canção popular - João Bosco, Paulo Cesar Pinheiro e Luiz Tatit - e três ligados à tradição escrita - Sérgio Assad, Paulo Bellinati e Marco Pereira. E o Guinga, que é a pessoa que

(12)

Introspecção: a busca pela vibração ideal

há mais tempo me serve de referencial no sentido de estabelecer uma conexão entre essas duas esferas na música que desenvolve. Ele oferece um caminho que me serve de referência, que gosto muito. Os reflexos desse momento de balanço já vêm acontecendo. Fiz vários discos antes disso e agora novos projetos estão nascendo.

Violão+: Você está citando esse período de balanço como divisor de águas. O que sente de diferença, com você compositor, intérprete das suas obras e acompanhante de cantores e cantoras, participando de prêmios e festivais de música que existiam na época, como o prêmio Visa, e essa nova fase, após esse momento de balanço?

Eu ainda não tenho muito claro, pois não faz muito tempo. Neste projeto, sinto uma coisa interessante: o filme resultante, que se chama Violão-Canção, o mesmo nome de meu mestrado que, inclusive, está para ser publicado. É como um

painel que investiga muitos pontos que são pouco visitados, pouco comentados. No filme, que já está em fase final de produção, tento fazer uma conexão como artista, que pergunta aos artistas mais velhos sobre essas questões. Isso me parece que pode estabelecer uma comunicação e apresentar um sentido em coisas que aparentemente são desconexas.

Violão+: É como se você fizesse muitas coisas diferentes, simultaneamente, com a canção e o violão?

Você vai lá e grava um disco instrumental. O som é bem delicado. Depois, participa da Barca, que tem várias percussões, piano, baixo, vozes... Comecei assim: foi um disco com violão, músicas do Paulo Bellinati, muitas das minhas primeiras músicas, baixo e bateria, e, ao mesmo tempo, ia pro interior com A Barca, tocar em uma situação em que o violão mal era escutado, porque ele vinha no meio de muita informação, em um diálogo que tem muitas coisas diferentes do instrumento. Também acompanhei grandes cantoras, como a Verônica Ferriani e a Suzana Travassos, na maioria das vezes cantando músicas minhas. Sobre tudo isso, como tirar belezas dessas diferenças, aproximar esses universos, conversei com as pessoas. Então, desde o início, isso estava muito presente, essa coisa um pouco cindida, por isso esse hífen violão-canção é muito significativo para mim. Procuro passar por essa ponte o tempo inteiro e morar em cima dela, no melhor sentido. Não em cima do muro, mas em cima de uma ponte muito bem pavimentada, com saídas e acessos,

RETRATO

(13)

que dê em encontros com pessoas. E é um lugar difícil de se construir.

Violão+: E a pesquisa do violão tem um trabalho fundamental aí...

O processo de aprofundamento, que se dá quando você desenvolve uma estrutura musical, encaixa a voz e aquilo ganha um todo, é muito difícil de fazer com outra pessoa. A relação é diferente. O jeito que se sente a música internamente faz você chegar a um resultado bem diferente, na verdade. Veja como João Bosco vai aprofundando a interpretação cada vez mais, a cada execução, ao longo dos anos, em uma mesma trama rítmica, melódica e harmônica, musical, com a voz em cima daquilo, e aquilo vai ganhando uma

expressão também em função desse esmerar, desse polir, desse trabalho de ourives que vai acontecendo. E é muito diferente de uma adequação que se faz, às vezes com muito menos tempo, para acompanhar uma cantora que, eventualmente, estará em outro tom que já não é mais aquilo. Isso é muito importante para o trabalho baseado no violão. Tudo aquilo vai ganhar uma inflexão com o tempo, o gesto musical vai se depurando. Então, basicamente, fui para os dois lados, mas, no momento, a coisa da voz me invadiu muito. Estou deixando isso acontecer. Deixei a palavra e a voz entrarem mais em mim, coisa que, talvez, estabeleça um outro tipo de relação com as pessoas, com o público em geral. Espero que sim.

Banda: fazer o violão ser ouvido

RETRATO

(14)

Violão+: Como é atualmente a sua relação com a voz?

A minha história sempre foi a de um violonista. Sempre fui uma figura dedicada ao instrumento. Me formei na Unicamp, em 1995, em violão popular, com o Ulisses Rocha, meu professor na época. Nunca achei que fosse cantar, não tinha isso comigo, mas foi acontecendo. Sempre usei a voz como um parâmetro para perceber os contornos que tem uma vontade maior de existir. O melódico vinha pelo violão. Eu traçava umas coisas ali, mas era a voz que servia de parâmetro para sentir: “não, essa música é assim!”. Quando eu cantava, memorizava em um patamar diferente. Então, tudo é muito por conta do que vem da voz, que sempre gerou a música que fiz. Em 2003, ganhei um prêmio muito importante para mim, o Prêmio Visa de Música. Até então, me considerava mais violonista do que compositor, mas aquele prêmio era mesmo um prêmio de composição. Era dividido em versão instrumental, compositor e voz e, de repente, esse reconhecimento... Na

época, foi uma exposição grande, muito mobilizadora e transformadora para mim. Eu era novo ainda. Aí veio toda a coisa da composição, então, muito atrelado ao lance da canção. Quando eles diziam composição, na verdade, queriam dizer canção, não outra coisa. A composição popular, que eu mostrei e que foi reconhecida, portanto na qual eu devia investir, já era um equilíbrio entre violão e voz; músicas nascidas no instrumento e com um fio só de voz, ajudando, como instrumento de composição, mais do que qualquer coisa. Acredito que foi assim que comecei, de fato, a cantar. Com o tempo, tive oportunidade de me aproximar do canto. Lá pelas tantas, tive a oportunidade de gravar um disco chamado Saraivada, no qual passei a assumir mais o lado de cantor. Mas demorou para isso amadurecer. Fui fazer outros discos com outras cantoras: o disco Sobre Palavras, com a Verônica (Ferriani) cantando e música autoral minha, e com a Suzana Travassos, curtindo mais tocar, cantando só um pouco.

Violão+: E quando a sua voz se intensificou?

Recentemente tive uma experiência muito importante: assim que terminei o mestrado, passei um tempo no teatro Oficina. Lá havia um cotidiano de trabalho vocal. Tem esse lance muscular, mesmo, até para falar. Dá para explorar mais as ressonâncias. Comecei a sentir a vibração da caixa craniana, e isso eu não conhecia. E, se há uma coisa que dá a sensação de que está tudo bem é sentir a máscara vibrando e o violão vibrando no peito. Comecei a fazer muito isso. Há também o contato com os vídeos do Violão e voz: linguagem múltipla

(15)

João Bosco, além da observação das grandes cantoras que acompanhei e de tantos colegas que fazem isso desde sempre. Mas tenho fazer que essa origem da minha história com o violão seja o meu jeito de fazer música. O jeito de abrir o acorde e a maneira do arranjo acontecer no violão vem antes disso. Só que agora, com essa ressonância que descobri, com essa vibração que, finalmente, senti, aí, sim. Depois dessa experiência no teatro, retomei as aulas de canto, a própria sensação está me trazendo a isso. É muito importante a gente perceber a hora de fazer as coisas, a hora que aquilo te visita e agora sinto que faço uma coisa bem diferente que aquele violonista solista fazia, que era baixar a cabeça e procurar a vibração que vinha do violão, procurar tudo vindo dele. Agora é sentir o frontal, a troca com o público, no olho, isso é muito diferente, um outro tipo de artista. E eu tento fazer que essa descoberta alimente a minha vida e vice-versa.

Violão+: Você tem experiência de tocar em vários lugares diferentes. Como você faz com os seus equipamentos? O que mais você utiliza? E as diferenças entre lugares pequenos, médios e grandes?

Esse é um dos assuntos prediletos. Sempre que a gente sai do palco, parece que traz mais informação para um arcabouço que já é grande nesse sentido. Já parte de um conflito, que é aquele primeiro que falei: entre aquela coisa de fazer um violão-solo, mais som camerístico, seja em música popular ou clássica. Você está procurando fazer o som natural do instrumento chegar às

pessoas em um extremo e, no outro, com bastante percussão ou com baixo elétrico e outros instrumentos, com sopros... Na banda nova, por exemplo, tem percussões, trompete, trombone ou sax barítono, o que tem sido a minha solução de arranjo para o grave, para as invenções do polegar, que vão se cristalizando nesse processo, ganharem uma bitola maior para sustentar a minha própria voz e as vozes das duas backing vocals que estão me ajudando. Então, sem essa raiz do grave - que a percussão dá, a zabumba, mas também o baixo que o acorde precisa ter -, o violão não tem capacidade de segurar

Opções: acústico ou elétrico?

RETRATO

(16)

uma band. Em geral, a gente usa o contrabaixo para isso.

Violão+: E os equipamentos, dão conta do que você deseja?

Hoje em dia, já existem equipamentos que buscam o som mais próximo do acústico. Estou testando até pré-amplificadores

e boosters, que contribuem para uma sensibilidade maior do toque, porque o sofrimento do violonista quando vai tocar no meio de uma banda é que, numa sala, algo que soa muito poderoso, de repente - do lado de um baterista que toque com mais energia o bumbo e de um baixista que aumente um pouquinho mais o Inovação: repertório e preformance

RETRATO

(17)

volume numa caixa que, normalmente, já é bem grande – se torna muito diferente, se perde. É muito perigoso, inclusive, que você perca completamente a sua técnica. Aconteceu isso comigo, o que me custou muitas horas de trabalho com o professor Edelton Gloeden, mestre no violão erudito. São experiências muito diferentes, contrastantes mesmo, porque você corre o risco de começar a perder a sua técnica assim, embora tenha desenvolvido muitas coisas de pegada rítmica em situações limite desse tipo.

Violão+: Há como se precaver desses problemas?

Na minha dissertação, existe um capítulo chamado: a sala, o banheiro e a praça: a sala é onde a gente estava conversando; o banheiro da casa da irmã, reza a lenda, é onde João Gilberto descobriu a sonoridade que lhe encantava, por causa mesmo da reverberação, e passou o resto da vida musical tentando reproduzir aquilo, não sem algumas dificuldades com técnicos e lendas e tudo mais. Mas ele é um cara que sabia bem o que queria, que era ouvir a reverberação mais plena do instrumento, para poder ter um equilíbrio entre voz e instrumento, acorde, cada uma das notas; e a praça, como eu falei com João Bosco, que é um artista popular e tem muita consciência

de que quando vai fazer uma coisa mais acústica, na praça, lidando com a expectativa das pessoas, que é outra, diz ele, então parece que existem duas condutas: uma é fazer o que ele faz, pegar um instrumento elétrico, que muitos dos violonistas preferem não usar. Já o Marco Pereira é um exemplo de violonista que, como eu, procura trazer essa mesma sonoridade do violão de madeira, tanto quanto possível, para o palco. Para isso já existe tecnologia, mas o que sinto é que se depende, no mínimo, de umas três horas de passagem de som para chegar perto do ideal. Então, seriam dois caminhos: assumir o violão elétrico e trabalhar do som da linha, que nunca vai ser um som de violão, mas outro; e procurar, o que já fiz tantas vezes, conseguir um blend de uma boa captação (agora temos o Carlos Juan, o RMC, que são muito bons) com uma microfonação. A dificuldade disso é que não pode haver instrumento nenhum com volume alto perto de você. Quando você está sozinho, não há dúvidas do que fazer. É claro que a opção é a primeira. A opção do microfone é a boa, mas depende ainda do palco, do técnico e de muitas outras coisas. É muito difícil esse cotidiano. Muitas vezes é melhor levar os dois instrumentos e perceber na hora o que fazer.

(18)

onde meu violão toca

Auxiliar na construção de uma relação ainda mais forte da mãe

com seu bebê, o violão é utilizado como ferramenta de produção de experiências e sensações já na gestação

Gestação

O projeto Acalanto, em São Paulo, visa fortalecer o vínculo afetivo mãe-bebê e facilitar a comunicação entre eles ainda na barriga ou após o nascimento por meio de jogos musicais, composição de canções, visualizações, estimulação instrumental, canto, relaxamento e outras atividades musicais. O Acalanto ajuda a mãe a vivenciar de modo mais profundo sua experiência de maternidade e a aproximar-se do universo infantil ainda distante e imaginário. Conversamos com Isadora Canto - cantora, compositora, violonista, doula e idealizadora do projeto - sobre sua formação e a importância do instrumento em suas atividades.

Por Luis Stelzer

Violão+: Como foi sua formação musical? Qual a sua proximidade com o violão?

Venho de uma família extremamente musical, em que meu pai tocava piano popular todas as noites em casa. Cresci ouvindo jazz, bossa nova e samba e fui muito influenciada. Durante toda a vida fiz aulas de música em escolas até ingressar na Faculdade Santa Marcelina. Me formei em música, bacharel em canto popular. Toco violão desde os 12 anos. Comecei com um professor particular e fui me especializando.

Violão+: Você atuou bastante com shows em bares, aqui em São Paulo e em Paraty. Continua fazendo isso? Como foi essa vivência e quais os dilemas e as alegrias de ser músico da noite?

Trabalhei muito em Paraty como cantora, sempre com grandes violonistas. Aprendi muito na noite, principalmente quando acompanhada por músicos fantásticos. Adorava apenas falar o tom e ver no que dava. Tenho prazer na surpresa que a música nos possibilita quando não ensaiamos. Acho a noite rica em sua linguagem misteriosa. Sinto falta...

Violão+: E como foi sua experiência como professora de canto. Como o violão participa de sua aula?

(19)

onde meu violão toca

O violão é muito usado em minhas aulas. Como toco melhor violão do que piano, sinto que por meio dele o aluno consegue se identificar dentro da canção e se sentir no cenário musical real. Uso em minhas aulas e com o Acalanto, meu Projeto fundado em 2001 que fortifica o vínculo da mãe com seu bebê por meio da música.

Violão+: Como surgiu o Projeto Acalanto? Como você transformou essa ideia em realidade e quais os frutos desta iniciativa?

O Acalanto nasceu da minha própria experiência como gestante que canta. Percebi que havia uma linguagem muito forte entre eu e meu bebê quando cantava e tocava violão. Depois dele nascido, percebi que as músicas que tocava durante a gestação instigavam uma reação linda no meu bebê. Fui estudar e passei anos pesquisando a influência da música nesse processo.

Fundei o Acalanto. Sou Acalantadora há 14 anos e muitas mães já passaram por esse lindo vínculo e fortificaram sua comunicação e amor com seu bebê antes mesmo dele nascer, por meio do canto, da música e toda sua linguagem

Violão+: Você é doula, uma assistente de parto. Como ser musicista, cantora e violonista te ajuda a desenvolver esse trabalho?

Amo ver os bebês nascendo de maneira natural e respeitosa. É uma emoção indizível. Todas as gestantes que acompanho no parto passaram pelo Acalanto, cantaram, tocaram, tiveram contato com a música, com o violão, que leva o som de maneira muito sadia para o bebê ainda no ventre. Por terem passado pelo Acalanto antes do parto, sinto que esse processo acaba sendo ainda mais natural e sem medo, pois o vínculo já foi formado e mãe e bebê simplesmente se reconhecem no nascimento.

(20)

EM MÃOS

Fomos convidados pela Tokai Brasil para conhecer os violões da Tokai Gakki, fabricante japonesa que se notabilizou nas décadas de 1970 e 1980 por produzir réplicas extremamente perfeitas – que se traduziam em instrumentos muitas vezes melhores – de guitarras e violões de marcas famosas à época. A Tokai

A Tokai Gakki Co., Ltd. foi fundada em 1947 como fabricantes de gaitas e, em 1965, começou a produzir violões acústicos. Três anos mais tarde, iniciou a fabricação de guitarras elétricas com o modelo Humming Bird, baseado nas Mosrite Mark I e II. Em 1970, lançou seu modelo de violão acústico Humming Bird Custom. Dois anos depois, estabeleceu uma

joint venture com a Martin para fornecer partes de violões acústicos e fabricar guitarras elétricas e, no ano seguinte, iniciou a produção de réplicas do modelo "Cat's Eyes" da parceira. No segmento

de guitarras elétricas, a Tokai passou a fabricar réplicas de modelos Fender e Gibson, chegando

a incomodar essas marcas pela qualidade dos instrumentos, e a utilizar a figura

de Stevie Ray Vaughan como principal entusiasta da fábrica japonesa.

Atualmente, a Tokai fabrica violões, guitarras e baixos trazidos ao Brasil pela homônima nacional, que estabeleceu com ela uma parceria mundial na comercialização de produtos de ambas. Para Juliano Hayashida, diretor da Tokai do Brasil, a chegada da marca por aqui é uma oportunidade para os músicos terem

TOKAI TEA95 SBL

Instrumento eletroacústico de rara beleza, o modelo da fabricante japonesa mostrou-se bem mais que um rostinho bonito

(21)

EM MÃOS

contato com um instrumento de qualidade comprovada

e uma opção de compra muito interessante.

Conhecendo alguns modelos de violões de cordas de aço disponíveis já no Brasil, pudemos comprovar a qualidade dos instrumentos e o cuidado tanto com a sonoridade e a tocabilidade quanto com o acabamento. Tokai TEA95 SBL

O violão Tokai modelo TEA95 SBL impressiona pela aparência e acabamento. A cor azul, que poderia afastar os mais tradicionalistas aficionados pelo tom de madeira, exerce uma espécie de hipnose pela beleza. Realmente, acertaram no tom! Os filetes e a roseta, com detalhes em madrepérola, mostram o incrível cuidado na produção. Embora a Tokai seja japonesa, os violões são produzidos na China, o que, a princípio, pode causar certa preocupação, pois temos uma ideia preconceituosa sobre como os instrumentos, pelo menos os de produção mais barata, são feitos lá. O que ocorre é que a Tokai japonesa supervisiona a produção. O resultado desse cuidado salta aos olhos. O acabamento desse violão é um dos melhores que já vi, tanto externamente quanto internamente.

No momento do teste, o instrumento, recentemente importado, chegou dentro de uma capa acolchoada. É um violão de cordas de aço, pensado para tal (muitos violonistas amadores devem compreender isso: o

Tampo - Maple Lateral - Maple Fundo - Maple Braço - Maple Escala - Rosewood Ponte - Rosewood Marcas - Pontos EQ - Fishman Classic Acabamento - Polyester Cor - SBL

Tokai TEA95 SBL

(22)

violão “nasce” de nylon ou de aço! Seus projetos de construção internos são diferentes e não devemos trocar o tipo de corda). Não foi trabalhado pela Tokai do Brasil para o teste, que foi surpresa, portanto, não sabemos dizer quais cordas de aço estavam nele, mas percebemos que eram de tensão alta, o que poderia deixar sua tocabilidade prejudicada. Pois bem, essas cordas de aço soaram maravilhosamente (não sou de exagerar, é sério).

O timbre é equilibrado, com graves, médios e agudos em igual proporção. Mesmo para mim, nascido e criado com violões de nylon, a adaptação foi muito fácil. É um prazer tocá-lo. Tem a pegada firme e a afinação é perfeita. As tarraxas, blindadas, são suaves, de muito fácil manuseio. O braço tem medida perfeita, com boa distância entre cordas. O design cutaway é praticamente obrigatório nos instrumentos de aço. A altura entre as cordas e a escala estava bem regulada, para uma pegada que traz sonoridade, o que poderia deixar o violão muito duro de tocar. Não foi o caso: achei tranquilo. Em cinco minutos, estava acostumado.

A captação, Fishman Presys Blend 301, com afinador digital, é muito confiável. Então, além de lindo, tivemos em mãos um potente instrumento, de grande qualidade, digno de competir com marcas mais famosas do mercado. Se você está a procura de um instrumento deste nível, vale a pena investir.

EM MÃOS

Aparência Acabamento Tocabilidade Braço/escala Sonoridade Afinação Captação

Tokai TEA95 SBL

Importador: Tokai do Brasil Preço sugerido: sob consulta

(23)
(24)

matéria de capa

Por Luis Stelzer

Parceria

vitalícia

(25)

O Duo Siqueira-Lima, com

seu repertório variado e suas

interpretações fortes, é uma das

grandes referências atuais no

cenário camerístico brasileiro

e internacional. Os concursos

de violão e a rotina de estudos

colocaram os músicos lado a lado

no palco e na vida: além de tocar

em duo, se casaram!

(26)

duo siqueira lima

Ganhador do Prêmio Profissionais da Música 2015 no Brasil e do International Press Award 2014 nos Estados Unidos, o Duo Siqueira Lima é um dos grupos de música de câmara de maior prestígio da atualidade. Cecilia Siqueira e Fernando de Lima são reconhecidos mundialmente tanto pelo virtuosismo técnico e carisma, quanto pelo perfeito entrosamento e por seus ousados e originais arranjos para dois violões. Desde 2003, percorrem o mundo realizando concertos nas principais capitais europeias e muitas cidades na América do Norte, bem como pela África e Rússia, já tendo se apresentado em salas de grande prestígio como Lincoln Center (Nova Iorque), New World Center (Miami) e Concertgebouw (Amsterdam), entre outros. Conheça um pouco mais da história da uruguaia e do mineiro, nesta entrevista exclusiva para Violão+.

Violão+: Como o duo Siqueira-Lima

começou?

Cecília: Nos conhecemos no II Concurso

Internacional de Violão Pro-Música/ SESC, em Caxias do Sul (RS) do qual participamos. Era um concurso de violão-solo e nós dois passamos para a final. Depois, empatamos no primeiro prêmio. E gostamos demais do jeito de tocar um do outro. O Fernando, como premiação, foi para a Europa. Eu, para os Estados Unidos, além de um concerto aqui em São Paulo. Nesse reencontro, no Conservatório Souza Lima, em janeiro de 2002, começamos a conversar sobre fazer alguma coisa juntos, tocar algumas peças. Já no final desse ano, gravamos um CD em duo, mas o disco se chama Cecília Siqueira e Fernando Lima, porque não tínhamos ainda a pretensão de formarmos um duo fixo.

(27)

duo siqueira lima

Fernando: Não era nossa pretensão

fazer uma carreira em duo. A gente ainda tinha aquela coisa voltada para o solo, estávamos estudando para isso, concursos e tal, com o repertório de violão tradicional erudito. Queríamos fazer o trabalho do duo principalmente para estarmos mais juntos.

Cecília: Eu no Uruguai, ele no Brasil... Fernando: Depois, virou casamento (risos).

Violão+: Isso leva um tempo...

Fernando: Falando assim, parece que é fácil (risos). Mas começou dessa maneira, com outras pretensões, não uma coisa de uma carreira, mas de se reunir e ficar junto. Demorou talvez uns três anos, de 2002 a 2005, para acharmos que era esse mesmo o caminho, que valia a pena realmente investir, levar mais a sério. O que estávamos fazendo começou a ter repercussão, até porque, desde o início, tivemos a ideia de não fazer as mesmas obras tocadas pelos irmãos Abreu, pelos irmãos Assad. Também nem sonhávamos em querer competir com esses dois, então, pensamos em fazer alguma coisa nossa. E comecei, nessa época, a fazer arranjos. O João Luiz, grande amigo, também escreveu arranjos para nós. Acho que por esse motivo começamos a ter um retorno positivo, porque era já um trabalho diferente.

Violão+: Quais os critérios para escolher repertório? Como vocês pensam um disco? Ele nasce simplesmente, ou ele vai tendo uma concepção anterior?

Cecília: Vai depender um pouco do repertório que estamos tocando. Não somos de ficar parados com um mesmo repertório, estamos sempre pensando

em coisas novas. Em todo esse tempo, já 12 anos de duo, conseguimos juntar um repertório bastante amplo. Dentre essas músicas, tem aquelas que se encaixam melhor. Por exemplo, agora, estamos trabalhando um disco novo, que deve sair até o fim do ano. Achamos que o repertório combinou perfeitamente, conseguimos juntar muito bem. Fizemos, ano passado, um disco só de música barroca. Não tínhamos pensado em gravar um disco de música barroca, fomos juntando sonatas...

Fernando: Em concertos, geralmente, a gente faz um repertório variado, não tocamos apenas um compositor. Então, por isso, temos um repertório grande. Mas, na hora de gravar um CD, é diferente. Você quer montar um álbum, isso combina com aquilo... Então já gravamos Repertório: erudito e popular

(28)

dois discos só de música brasileira, com arranjos nossos. Fomos fazendo um grupo de músicas, e de repente: “ah, isso dá pra fazer um disco, vamos fazer mais algumas coisas, que completa”. E assim, vão surgindo os repertórios.

Cecília: Neste último, só há uma música pensada para fechar o disco. Esse disco vai ter as Bachianas 4 (Villa-Lobos) completa, os quatro movimentos. Nós tocávamos o primeiro, o terceiro e o quarto movimentos, não tínhamos feito o segundo. Pensamos: “para um disco, seria tão bom se pudéssemos fazê-la completa...”. O Fernando fez o arranjo e funcionou. Então gravamos!

Violão+: Há alguns anos, vocês tocaram um concerto maravilhoso, no Festival Leo Brouwer, no Masp, em São Paulo. Todos

na plateia ficaram muito emocionados, foi fantástico. Como foi essa experiência para vocês?

Fernando: É uma pergunta muito interessante. Já se passaram quatro anos e a gente nunca falou muito sobre isso. Foi um momento muito especial na nossa carreira, aconteceu de maneira meio doida. A gente foi convidado para fazer o concerto no festival, para tocar com a Orquestra, mas que concerto vamos fazer? Na época, se sugeriu que fizéssemos o Concerto Madrigal, do Joaquin Rodrigo, que tínhamos tocado fazia pouco tempo, mas pediram outra coisa. Surgiu um concerto do Radamés (Gnattali). Ele tem um concerto para dois violões e orquestra, original, que fez para os Assad. Esse concerto que nós tocamos é o Concerto de Copacabana para violão-solo, e o

duo siqueira lima

Admiração mútua: gatilho para a parceria

© Ma

theus do V

(29)

Radamés o reescreveu para dois violões. Reescreveu tudo, até a parte da orquestra. Reformulou o concerto pensando em dois violões. Ele fez essa adaptação para os Assad, mas eles nunca chegaram a tocar no Brasil. Tocaram na Europa, há uns vinte anos. E a partitura? Ninguém tem a partitura. Na época, por sorte, estávamos em contato com os Assad. Fomos descobrir essa partitura. Os originais estavam em Bruxelas, na casa do Odair Assad. Daí, foram escanear isso, mandar pra gente, chegou um calhamaço enorme, da grade do concerto...

Cecília: E a grade chegou uns dois meses antes do concerto. Não dava para entender...

Fernando: Uma cópia, de onde a gente teve que tirar da grade os violões, estava muito ruim de ler. A gente teve que adivinhar e reescrever muita coisa. O Radamés, na época, escreveu trechos grandes em uníssono. Em violinos, você tocaria e ficaria bonito: há um trecho grande aqui e vamos colocar em uníssono. No violão, isso não funciona muito bem. Então, a gente praticamente recriou muita coisa. Sei que a cópia ficou pronta um mês antes do concerto.

Cecília: Nós pensávamos assim: há o concerto de Copacabana editado para violão-solo. Então combinamos: “Vamos estudar o violão-solo, depois a gente pega o segundo violão”.

Fernando: Dividimos: estuda você dois movimentos, eu estudo esse, depois a gente pega o segundo violão. Deu errado. Na verdade, o Radamés reescreveu, era tudo diferente, redistribuiu tudo.

Cecília: Então, estudamos dois concertos (risos).

Fernando: Uma loucura! Mas então,

quando começaram os ensaios com o maestro Gil Jardim, foi maravilhoso.

Cecília: Foi uma experiência fantástica tocar com ele regendo!

Fernando: Ele rege muito bem, ensaiou muito com a Orquestra.

Violão+: Era possível ver que vocês estavam muito felizes, isso exalava no ar... Fernando: E é raro acontecer de tocar com orquestra dessa forma. Porque quando o músico vai tocar com Orquestra, ele chega dois dias antes, tem duas passadas (ensaios) - isso quando há esse tempo - uma antes da hora de tocar. Eu lembro que, nesse, a gente ensaiou uns quatro, cinco dias seguidos. Por sorte, foi desse

duo siqueira lima

(30)

jeito, porque quando a gente foi entrar para tocar, estavam na plateia o Leo Brouwer, o Sergio Abreu (que era o homenageado do dia), estava o (Paulo) Bellinati, o (Fabio) Zanon, o Manuel Barrueco, o Marcelo Kayath, o Paulo Porto Alegre e muitos outros. Nem dá para citar todos. Amigos, mas que eram nossos ídolos quando começamos a estudar violão. Então, ainda bem que a gente teve tempo para preparar tudo e ensaiar bem com a orquestra...

Cecília: Até o Eduardo Fernandez estava lá também. Era muita gente, não vamos nem conseguir lembrar de todos os nomes, deste festival excelente. A sociedade do violão estava lá.

Fernando: foi um momento muito especial mesmo. A homenagem ao Sergio (Abreu)

foi um momento muito emocionante. Levaremos para o resto da vida com muito carinho.

Violão+: Quais instrumentos usam?

Fernando: Praticamente desde o começo, a gente usa os violões do Sérgio Abreu. Começamos com dois violões antigos dele, que adquirimos do Henrique Pinto (grande mestre do violão, falecido em 2011), que foi generosíssimo com a gente. Aliás, não dá para falar na criação do duo Siqueira-Lima sem falar no nome do Henrique, porque ele nos acompanhou desde o começo. Foi o nosso maior incentivador, acompanhou todas as etapas até a gente realmente conseguir alguma posição dentro do

duo siqueira lima

(31)

cenário musical. A gente deve isso tudo a ele. Os dois instrumentos da coleção íntima dele, passou para a gente. Usamos esses violões até recentemente. Encomendamos dois violões para o Sérgio Abreu em 2011. Ele demorou uns três anos para fazer, mas fez com o maior cuidado possível. Os violões ficaram prontos entre o fim de 2013 e o meio de 2014. São novos. A gente está dando um descanso para os outros, que a gente malhou muito. O duo se criou, apareceu, naqueles violões.

Violão+: Vocês são um casal, tocam juntos, ensaiam juntos, qual é a rotina de vocês? E como é a manutenção da técnica nessa rotina?

Fernando: Acaba sendo algo flexível, por causa dessa coisa mesmo, de fazermos tudo praticamente juntos. Existe uma dependência um do outro, que, incrivelmente, acaba dando certa liberdade. Por exemplo: estamos editando esse disco, separando material de edição. Então, a gente combina: “Ah, então essa semana a gente vai ficar editando? Vamos ficar o dia todo trabalhando nisso?”. Aí o outro fala: “Não, tem concerto mês que vem...vamos cuidando juntos de tudo” (risos). Quanto à técnica, geralmente, a agenda não deixa a gente perder a técnica. A gente acaba mantendo, até porque tem repertórios diferentes. E além da agenda, há a gravação de discos. A gente gravou um disco no ano passado, outro este ano, e isso exige muito. São coisas muito específicas, mas a gente acaba se direcionando. Por exemplo: pré-gravação. Vamos ficar um mês trabalhando na preparação dos repertórios. Aí a gente acorda, escova os

dentes e vai.

Cecília: Trabalhar juntos ajuda a nos deixar focados no que for fazer, porque é 24 horas. Nós gostamos do que fazemos, então não é nenhum peso acordar e ter que estudar ou editar o disco. A gente fica feliz com isso. É muito prazeroso, então só acrescentou para o bem o fato de estarmos juntos.

Fernando: A carreira é uma coisa

duo siqueira lima

Cumplicidade: equlíbrio sonoro

© Ma

theus do V

(32)

só, mas que envolve várias outras. No duo, você tem coisas individuais, tudo precisa ser trabalhado. Então, às vezes, a gente combina de trabalhar algo separado, principalmente quando há coisa nova. Ou mesmo as coisas que a gente toca há tempos... Vai ter concerto essa semana? Vou dar uma

“trabalhadinha” na memorização,

porque a gente toca tudo decor. Entre as várias vantagens de tocar em duo: enquanto eu vou ficar estudando, você vai adiantando essa coisa da edição, ou, melhor ainda, você cozinha? Então, são muitas as vantagens de tocar em duo. Até para viajar, fazer o check-in... em suma, um ajuda muito o outro.

Violão+: E quando há uma discordância?

Fernando: Olha só que interessante: nós falamos das mil vantagens de tocar em duo, agora, entra a parte complicada. Quando você toca sozinho, resolve as coisas do seu jeito. Não há problema

algum. Se na hora você quer mudar, não se preocupa com ninguém. Agora, tocar em dois é chegar a um ponto comum. Às vezes, é fácil, está na cara. Às vezes não. Cada um tem a sua opinião, fica daquele jeito, diz não me diz, na hora cada um faz do seu jeito mesmo (risos). Quem falou isso foi o Odair Assad: “O Sérgio fica falando para mim... No ensaio, até faço, mas na hora de tocar, faço do meu jeito” (risos). Tirando a brincadeira, a gente sabe que é trabalhoso mesmo.

Violão+: Mas vocês consultam

referências externas?

Fernando: Muitas! O Henrique Pinto, por exemplo, era o nosso padrinho, a primeira pessoa para quem a gente mostrava. Começávamos a ler um negócio, mostrávamos para ele.

Violão+: Os violões são iguais, as cordas são as mesmas, mas a compleição física de vocês é completamente diferente. Deve

duo siqueira lima

(33)

duo siqueira lima

haver uma série de diferenças, quanto à

sonoridade, por exemplo. Então, como fazem para equilibrar isso?

Fernando: O Henrique também ajudou muito no equilíbrio do duo. Nossos toques são muito diferentes. No violão, o toque é muito pessoal. Tem muito a ver mesmo com a compleição física, com a anatomia, o jeito da unha, tamanho dos dedos... Isso, à princípio, foi um problema. Eu sempre tocava muito forte. Quando você faz a coisa sozinho, faz do seu jeito. Então começamos a buscar uma sonoridade de duo, e o Henrique trabalhou muito isso com a gente. Agora, continuamos utilizando essa individualidade para enriquecer o trabalho camerístico. Mas é preciso estar se ouvindo o tempo todo, se encaixar.

Cecília: Foi muito trabalhoso, mas coisas boas aconteceram: eu gostava demais de como ele tocava e ele gostava de

como eu tocava. Eu percebia coisas nele, no som, ele tocava forte, esse som me atraía muito. E eu era bastante flexível, isso o atraiu. São coisas diferentes, que geraram admiração. Então, para juntar, fica muito mais fácil. Eu, por exemplo, queria ter um som forte como o dele. Então, agora, toco mais forte.

Fernando: E eu queria ter a flexibilidade que ela tem. Acho que hoje, depois de mais de dez anos, tenho o toque muito mais parecido com o dela, e ela com o meu. É a convivência. Isso foi mudando o nosso trabalho.

Cecília: Com certeza. E é muito difícil mesmo conseguir chegar a um consenso 100%, quando há algum conflito. Mas é muito gostoso, as alegrias quando a gente vai tocar em duo se multiplicam e as tristezas se dividem. E a coisa boa é multiplicar.

(34)

mundo

A sonoridade das noites e das festas caribenhas, imortalizada pela orquestra típica, tem este

como um dos instrumentos mais destacados e característicos

Típico de Porto Rico, o “cuatro” faz parte da grande família de instrumentos crioulos derivados dos alaúdes trazidos pelos espanhóis ao Novo Mundo nos séculos XVI e XVII. Sempre foi um instrumento utilizado pelos campesinos, na Ilha de Jíbaros, e por muitos séculos guardou seu formato original, que curiosamente tinha aparência de uma fechadura e contava só com quatro cordas de tripa, tocadas com uma pua ou paleta.

História

Os espanhóis introduziram os instrumentos musicais para ritos religiosos e o povo, rapidamente, adaptou grupos musicais para festividades mundanas, como início e fim de colheitas, assim como bailes e serenatas acompanhadas ao compasso dos cantos das afamadas rãs coquis, próprias da Ilha, e da lua clara nas noites caribenhas.

Em meados do século XIX é que a orquestra típica porto-riquenha toma forma, com cuatro, bordonúa (parecido a um violão grande), tiple (menor que o cuatro), guiro e maraca. Entre o fim do século XIX e o princípio do século XX que o instrumento se transforma para sua modalidade atual, tomado a forma de um violino com cinco cordas duplas.

Grande nomes

No ano de 1910, o grande cuatrista Joaquin Rivera Gandia (o Canhoto da Isabela) gravou, pela primeira vez, o cuatro - na cidade de San Juan, sob o selo Columbia -,

(35)

mundo

imortalizando e presenteando o mundo com o som de tão singular instrumento. Em 1922, o cuatrista e compositor Ladislao Martínez, considerado o maior exponente moderno desse instrumento, toca pela primeira vez na rádio (WKAQ). Nas décadas seguintes, o cuatro

Yomo Toro (Victor Guillermo Toro)

Maestro Ladi (Ladislao Martinez) Como afinar

Curiosamente o cuatro atual tem 10 cordas (cinco duplas), porém muito provavelmente guardou seu nome original também por ser afinado em intervalos de quartas Sol4, Ré4, La3, Mi3, Si2 (de agudos a graves). As duas ordens superiores estão oitavadas - ou seja, dão a mesma nota com uma oitava de diferença - por isso seu som é tão característico, similar ao Tries Cubano.

invadiu os Estados Unidos. Nos anos 1970, Yomo Toro (aluno do Maestro Ladi) o introduz na salsa na orquestra do renomeado Willie Colón, o que o levou à época de ouro do instrumento, nos anos 1980, chegando até nossos dias como o xodó do Caribe.

(36)

história

Apesar das semelhanças entre o violão e a vihuela de mano quanto ao formato do corpo e número de ordens – violão seis cordas simples e vihuela seis cordas em pares - há diferenças que geram abordagem técnica e musical distintas

Semelhanças e

diferenças

Por Rosimary Parra

O repertório para vihuela de mano (séc. XVI) é normalmente muito interpretado ao violão na forma de transcrições. Para tocar com o dedilhado mais próximo da tablatura original, utiliza-se a terceira corda do violão afinada em Fa#, de forma a obter a mesma relação de intervalos entre as cordas encontrada na vihuela. Pode-se ainda usar, além da mudança da afinação, um capotasto (ou capotraste) na terceira casa do violão, o que permite trabalhar na tessitura original da obra.

Postura

Normalmente, para tocar violão na forma tradicional, utiliza-se o apoio de pé ou algum tipo de suporte para apoiar o instrumento na perna esquerda. No caso da vihuela, por ser um instrumento de corpo menor, é necessário algo que o deixe mais firme ao corpo do instrumentista. Para os instrumentos antigos de cordas dedilhadas, geralmente utiliza-se uma faixa de tecido amarrada ao cravelhame, com a outra ponta presa a um botão inserido na base do corpo do instrumento. Vihuela de mano: cópia de instrumento do século XVI, luthier

(37)

Dessa forma, é como se “vestíssemos” o instrumento, colocando a faixa ao pescoço e abraçando seu corpo, da mesma forma que músicos fazem com as guitarras elétricas. Pode-se usar também o apoio de pé para manter a coluna mais alinhada e sustentar melhor o corpo do instrumento em passagens mais complexas da mão esquerda. Há ainda aqueles que optam por tocar com o instrumento apoiado sobre as pernas cruzadas.

Mão esquerda

No violão, quando as notas são pressionadas com a mão esquerda, busca-se trabalhar com a ponta do dedo na corda, evitando a quebra entre as falanges do meio e da ponta, exceto em meias pestanas. Nos instrumentos com cordas duplas, usa-se a falange da ponta do dedo um pouquinho mais solta para que se consiga pressionar as duas cordas. Essa mecânica pode variar de um instrumento para outro, já que alguns apresentam espaçamentos um pouco maiores ou menores entre as cordas duplas. Cabe ao instrumentista perceber a diferença e adaptar o uso da falange.

Outros aspectos técnicos da mão esquerda seguem os mesmos mecanismos que costumam ser trabalhados ao violão.

Afinação

A vihuela tem seis ordens, mas cada ordem tem duas cordas - exceção à primeira ordem, com uma única corda. A afinação segue o padrão do alaúde renascentista: da corda mais grave para mais aguda, os intervalos são: 4ª, 4ª, 3ª, 4ª e 4ª. As cordas em pares são afinadas em uníssono. Considerando uma vihuela em Sol, por exemplo, teremos as seguintes ordens do grave para o agudo:

história

(38)

6ª - Sol-Sol

5ª - Dó-Dó

4ª - Fa-Fa

3ª - La-La

2ª - Ré-Ré

1ª - Sol

Tal diferença de afinação entre os dois instrumentos implica também na formação dos acordes. Os acordes que se conhece no violão são formados com outros desenhos no braço da vihuela. Pode-se dizer que para quem toca alaúde renascentista, a transição para tocar vihuela é mais simples no que diz respeito à afinação. No entanto, para quem toca violão, é necessário compreender o braço do instrumento naquela afinação.

Não se está considerando aqui uma mera transposição da mecânica de execução de uma transcrição já tocada ao violão para a vihuela, ou seja, tocar uma música na vihuela pensando no braço do violão – nomes de notas e acordes. Esta maneira poderá funcionar em um primeiro momento para um deleite com o instrumento, mas limita o estudo mais aprofundado do repertório e também a

história

Acorde de Sol maior no violão Acorde de Sol maior na vihuela inserção do instrumento em formações camerísticas com cantores ou outros instrumentos.

Bibliografia

COELHO, V.A. Performance on lute, guitar and vihuela: Historical Practice and Modern Interpretation. New York: Cambridge University Press, 1997.

DAMIANI, Andrea. Metodo per liuto rinascimentale. Bologna: UT ORPHEUS EDIZIONI, 1998

Frontispício do livro de músicas de vihuela de mano intitulado

(39)

Em parceria com a Tokai Japan, a Tokai do

Brasil traz para o país a linha de violões

mais surpreendente de todos os tempos

Junte-se

ao time de

apaixonados

(40)

classif icados

Aulas • Escolas • Estúdios • Acessórios

Luthieria • Livros • Métodos • Serviços

Anuncie aqui!

Divulgue seu produto ou serviço para

um público qualificado!

comercial@violaomais.com.br

VIOLAO

+

(41)

VIOLAO BRASILEIRO

“Dindi”

Nesta edição, vamos estudar um arranjo simples para a canção “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Eu pensava, e acredito que muitas pessoas também, que essa música havia sido composta especialmente para Sylvinha Telles, mulher de Aloysio, cujo apelido seria Dindi e que foi a primeira cantora a gravar a canção no LP Amor de Gente Moça, de 1959, com participação da grande violonista Rosinha de Valença. Mas, pesquisando, encontrei a seguinte citação do livro Antônio Carlos Jobim, Um homem iluminado (Ed. Nova Fronteira), onde Helena Jobim narra o seguinte: “Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem, começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. ‘Dindi’ não era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim toda aquela vasta natureza e seus segredos”.

Tenha sido escrita para Sylvinha Telles ou não, essa canção é muito conhecida ao redor do mundo e foi regravada inúmeras vezes. De Maria Bethania a Ella Fitzgerald, de Quarteto em Cy a Wayne Shorter, você pode ouvir muitas versões diferentes no YouTube.

O arranjo é simples, mas gostaria de chamar a atenção para dois pontos. Primeiro: há muitas tercinas na melodia que vêm depois de ritmos baseados na fórmula de compasso simples. Por exemplo, no primeiro compasso há uma semínima pontuada, uma colcheia e logo em seguida uma tercina de semínimas. Tenha cuidado para diferenciar esses ritmos corretamente. Segundo: no compasso 20, escrevi a melodia adicionando uma voz uma sexta abaixo. Aqui a questão é técnica. Pode ser um pouco difícil conseguir a fluência necessária para executar essa parte a contento. Estude com calma prestando atenção ao dedo guia (dedo 2) que é de grande ajuda sempre que precisamos tocar melodias em sextas.

No mais, deixe-se levar pelas águas desse rio fecundo que é a música brasileira. Navegue pelos rios de águas fortes e explore cada igarapé (do Tupi, caminho de canoa). Há muito mais entre a seresta e a bossa nova do que julga nossa vã filosofia. Bons estudos!

Renato Candro

www.renatocandro.com www.learningbrazilianguitar.com

(42)

“Dindi”

VIOLAO BRASILEIRO

~

Tom Jobim/Aloysio de Oliveira Arranjo: Renato Candro

(43)
(44)

VIOLA caipira

Na carreira do

Cururu

São vários os ritmos que podem ser feitos na viola caipira. Cateretê, cururu, toada, recortado, pagode caipira, batidão, rasta-pé e cana verde são alguns dos inúmeros toques que o violeiro pode executar no pinho de dez cordas.

Mas, como diz o “caipirólogo” José de Souza Martins, a “música caipira nunca aparece só, enquanto música”, ou seja, devemos lembrar que cada um desses ritmos está inserido dentro de contextos maiores que envolvem manifestações lúdico-religiosas ligadas à cultura do caipira.

O cururu, por exemplo, é muito mais do que um toque feito com a mão que fere as cordas da viola. Trata-se de uma das mais antigas manifestações dramáticas brasileiras, criada na mistura de rituais indígenas tupi com os rituais católicos trazidos pelos padres jesuítas durante os séculos XVI e XVII, ou seja, há mais de 400 anos! Ainda podemos ver continuações dessas práticas nas danças de São Gonçalo e de Santa Cruz, praticadas no estado de São Paulo, além de outras manifestações religiosas em Goiás e Mato Grosso envolvendo danças, desafios de versos, coreografias circulares e música!

O nome “cururu” faz referência ao sapo (em tupi) que está presente nas narrativas mitológicas de vários grupos tupis como uma espécie de guardião do fogo.

Fábio Miranda

(45)

VIOLA caipira

No interior de São Paulo, o cururu tornou-se uma modalidade

de desafio de versos semelhante ao repente nordestino. Nesse caso, os cururueiros escolhem o tipo de carreira a ser usada como rima para os versos. Por exemplo, na carreira do “a” os versos têm que terminar em “a”, na carreira do Divino, os versos devem terminar em “ino”, além da carreira de São João, de São José, e a do Sagrado, esta última exemplificada na peleja entre Nhô Chico e Parafuso (gravação realizada pelo selo Discos Marcus Pereira em 1974).

Em alguns cururus, a levada feita pela viola caipira (ou violão) apresenta um rasgueado de mão cheia, que traz um padrão rítmico bem marcante, ligado à tradição antiga da dança em roda.

Já no contexto da música sertaneja - quando a musicalidade caipira começou a ser formatada para o disco - as modas perderam as características do improviso e da religiosidade. Passaram também a elaborar o romance como narrativa nas letras, contando histórias com início, meio e fim, como alguns cururus famosos gravados, como “Menino da Porteira”, “Caçador”, “Peito Sadio”, “Canoeiro” e tantas outras.

(46)

Muitas dessas modas, porém, ainda trazem nas letras as referências ao cotidiano indígena, como a caça e a pesca. Um dos primeiros cururus formatados para o disco foi “Canoeiro” (Zé Carreiro / Alocin - 1950) que narra a saída de dois companheiros para uma pescaria na lagoa. Nesse cururu, percebe-se que todos os versos terminam em “oa”, como se fosse uma “carreira da canoa”. Essa música possui apenas dois acordes, que são alternados durante o ritmo do cururu na viola.

Ouça a gravação de Zé Carreiro e Carreirinho (em Eb) atentando para o ritmo de acompanhamento que intercala os acordes das duas posições, Tônica (I) e Dominante (V7). O uso dos graus I e V7 para mencionar os acordes possibilita tocarmos a música na viola afinada tanto em cebolão em Ré (D) como em Mi (E) e Mi bemol (Eb). Experimente:

(47)

Deu certo? Lembrem-se que o espaço entre as setas grandes para baixo (tempo forte) é onde acontece o toque do cururu. Nesse exemplo, a troca de acordes acontece sempre na “cabeça” do tempo, ou seja, na execução da seta maior, iniciando cada compasso. Experimente também inventar outros versos para incrementar o passeio de pescaria na canoa... E por que não inventar uma carreira para rimar? Pula, violeirada!

REFERÊNCIAS:

CÂNDIDO, Antônio. Cururu. Disponível em < http://revistas.iel.unicamp.br/ index.php/remate/article/view/3555/3002> Acesso em 07/10/2015.

MARTINS, José de Souza. Capitalismo e tradicionalismo: estudos sobre as contradições da sociedade agrária no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1975.

(48)

f lamenco

“El Abanico”

Neste segundo número, referente à técnica, falaremos de outro tipo de “rasgueado” para guitarra flamenca. Este em questão, talvez seja o mais famoso de todos os seus “irmãos”, de toda a família. Se trata do “rasgueo” de pulso, ou mais popularmente conhecido na Espanha como “El Abanico” (tradução: O Leque).

Este nome popular se deve ao fato de termos, obrigatoriamente, que girar a munheca para executá-lo, abrindo e movimentando os dedos simultaneamente, de forma sutil. Se repararmos bem, faz muito sentido, pois é o mesmo movimento que se utiliza para se abanar com um leque, só que com os dedos levemente abertos (giro de munheca, acompanhando os dedos que seriam uma espécie de leque, como prolongação da própria mão). Curiosidades à parte, vejam a ordem dos dedos a seguir, e confiram no vídeo como executar, utilizando o giro de munheca.

Flavio Rodrigues

www.flaviorodrigues-flamenco.eu

Referente ao repertório, vamos aplicar a nova técnica aprendida nesse número, para introduzir o nosso toque por Tientos, somando e sequencia a seguir com a métrica do compasso, que iniciamos no número anterior de nossa Violão+.

Utilizaremos apenas os seguintes acordes*:

F C/G Bb6(4+) A9b

(49)

#FicaAdica

f lamenco

Para finalizarmos, vamos introduzir um novo quadro dentro da nossa coluna, visando ampliar nossas referências dentro do universo flamenco, com alguns dos grandes nomes da guitarra flamenca de todos os tempos, além dos novos talentos que surgem dia a dia.

Tauromagia (1988) Manolo Sanlúcar

Obra-prima indispensável do maestro de maestros, Manolo Sanlúcar, que marca um antes e um depois dentro do universo violonístico, em toda a sua amplitude, em vários

aspectos: novas técnicas (trêmulo contínuo, por exemplo), arranjos combinados com cordas, metais, bateria, baixo etc., aberturas harmônica e melódica inovadoras dentro da estética da música flamenca/andaluza, e introdução de elementos jazzísticos, além de outros estilos.

Referências

Documentos relacionados

O Museu Digital dos Ex-votos, projeto acadêmico que objetiva apresentar os ex- votos do Brasil, não terá, evidentemente, a mesma dinâmica da sala de milagres, mas em

nhece a pretensão de Aristóteles de que haja uma ligação direta entre o dictum de omni et nullo e a validade dos silogismos perfeitos, mas a julga improcedente. Um dos

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Tratando-se de uma revisão de literatura, o presente trabalho utilizou-se das principais publicações sobre as modificações de parâmetros técnicos observados em corredores,

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

*-XXXX-(sobrenome) *-XXXX-MARTINEZ Sobrenome feito por qualquer sucursal a que se tenha acesso.. Uma reserva cancelada ainda possuirá os dados do cliente, porém, não terá