Teoremas de Hartman-Grobman, Variedade Est´
avel e Aplica¸c˜
oes
Marcus Vinicius de Oliveira
marcus.eletrica@hotmail.com
Universidade Federal de Minas Gerais
8 de setembro de 2012
1
Teorema de Hartman-Grobman
Sendo a classifica¸c˜ao de Sistemas Dinˆamicos um problema intrat´avel, ´e de particular interesse compreen-der o comportamento de Sistemas Dinˆamicos pr´oximo `a singularidades ou `a ´orbitas espec´ıficas. Como o comportamento de Sistemas Dinˆamicos Lineares ´e suficientemente bem compreendido, uma tentativa de estabelecer uma conjuga¸c˜ao topol´ogica entre um Sistema Dinˆamico e sua parte linear (Derivada) ´e bas-tante natural. ´E neste contexto que se insere o Teorema de Hartman-Grobman, segundo o qual campos de vetores, assim como difeomorfismos, s˜ao conjugados `a suas derivadas na vizinhan¸ca de uma singularidade hiperb´olica.
O objetivo desta se¸c˜ao ´e apresentar o enunciado e a demonstra¸c˜ao do Teorema de Hartman. H´a um interesse particular pela vers˜ao cont´ınua do teorema, sendo conveniente a apresenta¸c˜ao de sua vers˜ao para difeomorfismos (neste trabalho s˜ao sinˆonimos de Sistemas Dinˆamicos em tempo discreto), que ser´a utilizada na demonstra¸c˜ao da vers˜ao cont´ınua do teorema.
1.1
Conjuga¸
c˜
ao entre Difeomorfismos
Defini¸c˜ao 1.1 (Isomorfismo Linear Hiperb´olico). Seja E um espa¸co de Banach. Um Isomorfismo Linear A ∈ L(E) ´e dito hiperb´olico se o espectro de A n˜ao intercepta S1. Caso dim(E) < ∞ isso ´e equivalente ao
fato de A n˜ao possuir autovalor com norma 1.
Defini¸c˜ao 1.2 (Ponto Fixo Hiperb´olico). Seja f um difeomorfismo Ck, f : U ⊂ E → E. p ∈ U ´e um
ponto fixo hiperb´olico se a aplica¸c˜ao linear Df (p) ´e um isomorfismo linear hiperb´olico.
Considere A um isomorfismo linear hiperb´olico, A : E → E, Existe uma decomposi¸c˜ao de E como soma direta de dois subespa¸cos invariantes por A, E = Es⊕ Eu, segundo a qual existe α ≥ 0 talkA|
Esk ≤ α e (A|Eu) −1 ≤ α.
Baseando-se nessa decomposi¸c˜ao de E, considere a seguinte decomposi¸c˜ao do espa¸co das aplica¸c˜oes cont´ınuas e limitadas definidas em E que assumem valores em E,
Cb0(E, E) = Cb0(E, Es) ⊕ Cb0(E, Eu)
Esta decoomposi¸c˜ao ´e absolutamente natural tendo em vista as aplica¸c˜oes proje¸c˜ao, πs : E → Es e
πu : E → Eu, definidas por π(xs+ xu) = xs e πu(xs+ xu) = xu. Se f ∈ Cb0(E, E), defina fs: E → Es,
fu: E → Eu, dadas por fs= πs◦ f e fu= πu◦ f .
O Teorema de Hartman-Grobman ser´a enunciado para uma variedade diferenci´avel qualquer M. T Mp
representa o espa¸co tangente `a M no ponto p.
Teorema 1.1 (Hartman-Grobman para Difeomorfismos). Sejam, f : U ⊂ M → M de classe Ck e p ∈ U
um ponto fixo hiperb´olico de f . Seja A = Df (p) : T Mp→ T Mp. Ent˜ao existem V (p) uma vizinhan¸ca de p
em M, U (0) vizinhan¸ca de 0 em T Mp e h : U (0) → V (p) um homeomorfismo tais que:
O teorema ser´a demonstrado utilizando uma sequˆencia de lemas e proposi¸c˜oes, seguindo basicamente a trajet´oria apresentada em [1], tamb´em dispon´ıvel em [2].
Lema 1.1. Seja E um Espa¸co de Banach, f : U ⊂ E → E uma aplica¸c˜ao de classe Ck, k ≥ 1 definida no aberto U contendo a origem com f (0) = 0 e seja A = Df (0). Dado > 0, existe uma vizinhan¸ca U da origem tal que f |U ´e da forma A + ψ, onde ψ ´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua, limitada e Lipschitziana em E
com constante de Lipschitz limitada por .
Demonstra¸c˜ao. Permita, por simplicidade denotar tanto normas em E quanto valor absoluto por |.|, o contexto ser´a respons´avel por diferenciar as duas aplica¸c˜oes. Defina, inicialmente, uma fun¸c˜ao β : R → [0, 1] do tipo bump, ou seja, uma fun¸c˜ao C∞tal que:
β(t) = 0, se t ≥ 1
β(t) = 1, se t ≤ 1/2 |β0(t)| ≤ K, ∀t ∈ R K > 2
Existe uma aplica¸c˜ao φ tal que f = A + φ e φ(0) = 0, Dφ(0) = 0, pois Df (0) = A pela defini¸c˜ao de A. Considere ent˜ao uma bola de raio r centrada na origem, Br(0), tal que Dφ(x) < /2K, ∀x ∈ Br(0). A
bola que se pretende definir existe uma vez que φ ´e pelo menos C1, uma vez que f e A o s˜ao e Dφ(0) = 0. Defina
ψ(x) = β |x| r
.φ(x)
Da´ı, ψ(x) = 0 se |x| ≥ r, o que implica que ψ ´e limitada em E, uma vez que |ψ| ≤ |φ|, e devido a desigualdade do valor m´edio, a constante de Lipschitz de φ restrita `a Br´e menor que /(2K). Dessa forma
tem-se que:
|ψ(x)| ≤ |φ(x)| = |φ(x) − φ(0)| ≤
2K.|x − 0| ≤
2K.r, ∀x ∈ Br
Como ψ(x) = φ(x) se |x| ≤ r/2, segue que A + ψ ´e extens˜ao de f |Br/2. Al´em disso ψ ´e Lipschitziana. De
fato, sejam x1 e x2∈ Br. |ψ(x1) − ψ(x2)| = β |x1| r .φ(x1) − β |x2| r .φ(x2) = β |x2| r − β |x2| r φ (x1) − β |x2| r (φ (x2) − φ (x1)) ≤ β |x2| r − β |x2| r φ (x1) + β |x2| r (φ (x2) − φ (x1)) ≤ K |x1| − |x2| r ε 2K|x1| + ε 2K|x1− x2| ≤ |x1− x2| r . ε 2.r + ε 2. |x1− x2| = ε |x1− x2|
O argumento anterior ´e v´alido se x1∈ Br e x2∈ Br, caso x1∈ Br e x2 ∈ B/ r o mesmo racioc´ınio ser´a
aplicado. |ψ (x1) − ψ (x2)| = β |x1| r φ (x1) − β |x2| r φ (x2) ≤ β |x1| r − β |x2| r φ (x1) + β |x2| r (φ (x2) − φ (x1)) ≤ K |x1| − |x2| r ε 2K |x1| ≤ |x1− x2| r ε 2r ≤ ε |x1− x2| Para finalizar, ´e necess´ario abordar o caso em que x1∈ B/ r e x2∈ B/ r. Nesse caso,
Teorema 1.2. (da Perturba¸c˜ao da Identidade) Seja E um espa¸co vetorial normado completo, I : E → E a identidade em E. Seja φ : E → E uma contra¸c˜ao em E. Ent˜ao I + φ ´e um homeomorfismo sobre E
Demonstra¸c˜ao. Sejam x, y ∈ E e h = I + φ. Seja 0 < λ < 1 a constante de Lipschitz de φ. Assim, segue que:
||h(x) − h(y)|| = ||x + φ(x) − y − φ(y)|| ≥ ||x − y|| + ||φ(x) − φ(y)|| ≥ ||x − y|| − λ||x − y|| = (1 − λ)||x − y||
o que demonstra que h ´e injetiva e tamb´em a continuidade da inversa (caso exista). Para mostrar a sobrejetividade de h seja z ∈ E. Defina a aplica¸c˜ao fz: E → E, definida por fz(x) = z − φ(x).
||fz(x) − fz(y)|| ≥ ||z − φ(x) − z + φ(y)|| = ||φ(x) − φ(y)|| ≥ λ||x − y||
com λ < 1. Dessa forma como fz´e uma contra¸c˜ao existe um ´unico ponto fixo q para fz, tal que z − φ(q) = q
=⇒ (I + φ)(q) = z, provando a sobrejetividade de I + φ, como quer´ıamos. A continuidade ´e imediata, a continuidade da inversa j´a foi demonstrada, sendo portanto φ um homeomorfismo.
O Lema que ser´a demonstrado a seguir ´e de cunho t´ecnico, mas ´e extremamente ´util e ser´a utilizado para a obten¸c˜ao de resultados importantes. Recomenda-se o entendimento completo de seu conte´udo
Lema 1.2 (da Perturba¸c˜ao com Isomorfismos). Seja E um espa¸co de Banach, L ∈ L(E), satisfazendo ||L|| ≤ a < 1 e G ∈ L(E) isomorfismo com ||G−1|| ≤ a < 1 ent˜ao:
(a) (I + L) ´e um isomorfismo com ||(I + L)−1|| ≤ 1/(1 − a) (b) (I + G) ´e um isomorfismo com ||(I + G)−1|| ≤ a/(1 − a) Demonstra¸c˜ao. Seja y ∈ E fixado. Defina u : E → E por:
u(x) = y − L(x)
Dessa forma tem-se que:
||u(x1) − u(x2)|| = ||L(x1) − L(x2)|| ≤ a||x1− x2||
provando que u ´e uma contra¸c˜ao. Como E ´e um espa¸co de Banach vale o Teorema do Ponto fixo para contra¸c˜oes, de forma que u tem um ´unico ponto fixo, ou seja, ∃!z ∈ E tal que u(z) = z, isto ´e, y − L(z) = z, de onde vem que y = (I + L)(z), provando que I + L ´e sobrejetivo. Al´em disso, se (I + L)(x1) = (I + L)(x2),
x1+ L(x1) = x2+ L(x2) =⇒ x1− x2 = L(x2− x1), logo x1 = x2, pois caso contr´ario ||L|| ≥ 1, um
absurdo. Dessa forma I + L ´e um isomorfismo.
Seja y ∈ E com ||y|| = 1, e seja x ∈ E tal que x = (I + L)−1(y). Como x + L(x) = y, tem-se que x = y − L(x) e usando a desigualdade triangular e o fato de que ||L|| = a < 1 tem-se que:
||x|| ≤ 1 + a||x||
de onde conclui-se que ||x||(1 − a) ≤ 1, ou seja, ||x|| ≤ 1/(1 − a), o que completa a demonstra¸c˜ao do ´ıtem (a).
Para demonstrar o ´ıtem (b), basta ver que (I + G) = G(I + G−1). Como ||G−1|| ≤ a < 1 segue do ´ıtem (a) que I + G−1 ´e invers´ıvel. Como G ´e um isomorfismo por hip´otese, segue imediatamente que I + G ´e um isomorfismo (por ser composta de isomorfismos). Da´ı (I + G)−1= (I + G−1)−1G−1, de onde vem que:
||(I + G)−1|| ≤ ||(I + G−1)−1||.||G−1|| ≤ a 1 − a
Isso finaliza a demonstra¸c˜ao do lema.
Corol´ario 1.1 (da perturba¸c˜ao de isomorfismo). Sejam E, F espa¸cos de Banach e T : E → F um isomorfismo linear. Seja φ : E → F Lipschitz tal que Lip(φ) < (||T−1||)−1. Ent˜ao T + φ : E → F ´e um
Demonstra¸c˜ao. A demonstra¸c˜ao n˜ao ser´a apresentada neste texto. Uma boa referˆencia ´e [2]. Tente de-monstrar como consequˆencia do Teorema e do Lema apresentados.
Lema 1.3. Seja A : E → E um automorfismo hiperb´olico do espa¸co de Banach E, ent˜ao existe > 0 tal que se φ1 e φ2 s˜ao ambas fun¸c˜oes cont´ınuas e limitadas, φ1, φ2: E → E com constante de Lipschitz menor
ou igual a , ent˜ao A + φ1 e A + φ2 s˜ao conjugadas.
Demonstra¸c˜ao. Um procedimento muito comum em Sistemas Dinˆamicos quando se procura um homeo-morfismo que conjuga dois difeohomeo-morfismos ´e escrevˆe-lo como perturba¸c˜ao da identidade e resolver uma equa¸c˜ao (teoricamente), de modo a chegar `a conclus˜ao desejada. Vamos demonstrar portanto que existe um homeomorfismo h : E → E da forma:
h = I + w Em que w ∈ C0
b e que portanto est´a a uma distˆancia finita da identidade. Precisamos resolver a seguinte
equa¸c˜ao
h ◦ (A + φ1) = (A + φ2) ◦ h
Como h = I + w (nossa tentativa) segue que
(I + w) ◦ (A + φ1) = (A + φ2) ◦ (I + w)
A + φ1+ w ◦ (A + φ1) = A + φ2+ (A + φ2) ◦ w
Fazendo o cancelamento de A e reagrupando os termos temos que:
A ◦ w − w ◦ (A + φ1) = φ1− φ2(I + w)
Defina o operador L0 definido no espa¸co das aplica¸c˜oes cont´ınuas e limitadas C0 b(E, E)
L0(y) = A ◦ y − y ◦ (A + φ1)
Mostraremos que L0 ´e invers´ıvel e exibiremos uma cota para a norma operatorial de L0−1. Defina o operador A0 : C0
b(E, E) → Cb0(E, E) por A0(y) = A ◦ y. Dessa forma podemos escrever que
L0(y) = A0 y − A−1◦ y ◦ (A + φ1)
Defina portanto outro operador L : C0
b(E, E) → Cb0(E, E) por
L(y) = y − A−1◦ y ◦ (A + φ1)
Ou seja L0 = A ◦ L. Se provarmos que L e A0 possuem inversa ficar´a automaticamente demonstrado que L0 ´e invers´ıvel, sendo sua inversa igual a L−1◦ A0−1. ´E f´acil ver que A0 ´e invers´ıvel pois se u ∈ C0 b
temos que A0(A−1(u)) = u, logo A0 ´e sobrejetiva. Al´em disso se u, v ∈ Cb0 com A0(u) = A0(v) segue que A(u) = A(v) e como A ´e invers´ıvel, u = v, logo A0 ´e bije¸c˜ao. Falta ent˜ao provar que L ´e invert´ıvel.
Note que C0 b(E, E
s) e Cu b(E, E
u) s˜ao invariantes por L. De fato, como A ´e um isomorfismo que tem Es
e Eucomo subespa¸cos de E invariantes segue que tanto Esquanto Eu s˜ao invariantes por A−1e portanto
por como L(ys) = ys− A−1◦ ys◦ (A + φ1) e ys∈ Cb0(E, E
s) segue que a aplica¸c˜ao y
s◦ (A + φ1) toma valores
em Es, de onde conclui-se que L(y
s) ∈ Cb0(E, Es). Assim, pelo que foi observado anteriormente segue que
pode-se decompor L da seguinte forma:
L = Ls+ Lu em que Ls= L|C0 b(E,Es)e L u= L| C0 b(E,Eu)
Se for suficientemente pequeno, o lema de perturba¸c˜ao de isomorfismo garante que (A + φ1) ´e um
homeomorfismo. Vamos definir agora o operador G : Cb0(E, Es) → Cb0(E, Es) por: G(ys) = A−1◦ ys◦ (A + φ1)
Como G ´e composta de aplica¸c˜oes invers´ıvel, G ´e invers´ıvel. A inversa de G, G−1: C0 b(E, E s) → C0 b(E, E s) ´ e dada por: G−1(ys) = As◦ ys◦ (A + φ)−1
G−1´e uma contra¸c˜ao com norma limitada por a < 1. De fato, como ||G−1|| ≤ ||As||.||(A + φ
1)−1||, escreva
x = xs+xu. Se x
u6= 0 ´e f´acil ver que ´e uma contra¸c˜ao tomando suficientemente pequeno. Se xu= 0 segue
que Ax = As.x e como φ tem constante de Lipschitz que pode ser reduzida o quanto for necess´ario, A + φ s˜ao pr´oximo de A quanto for necess´ario. Como tanto ||As|| quanto ||(Au)−1|| tem norma limitada por δ < 1,
segue o resultado. Pelo lema 1.2 segue que Ls´e invers´ıvel e ||(Ls)−1|| ≤ a/(1 − a) e ||(Lu)−1|| ≤ 1/(1 − a).
Portanto, L0 ´e invers´ıvel com norma
||L0−1|| = ||L−1.A0−1|| ≤ ||A−1||
1 − a
Dessa forma tem-se que a equa¸c˜ao de deve ser resolvida ´e:
w = L0−1(φ1− φ2◦ (I + w))
Ou seja, w ser´a a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao se e somente se for ponto fixo do operador T , T : C0
b(E, E) → C 0 b(E, E),
definido por:
T (y) = L0−1(φ1− φ2◦ (I + y))
N˜ao h´a nada a fazer sen˜ao tentar provar que T ´e uma contra¸c˜ao para concluir via teorema do ponto fixo que existe um ´unico ponto fixo. De fato, sejam y1, y2∈ Cb0(E, E), tem-se que:
||T (y1) − T (y2)|| = ||L0−1(φ1) − L0−1(φs◦ (I + y1)) − L0−1(φ1) + L0−1(φ2◦ (I + y2))|| =
||L0−1(φ
2◦ (I + y2)) − L0−1(φ2◦ (I + y1))|| ≤ ||L0−1||.|φ2(I + y1) − φ2(I + y2)| ≤
||A−1
1 − a|y1− y2| Observe assim que para suficientemente pequeno T ´e uma contra¸c˜ao e existe um ´unico ponto fixo, w. Ent˜ao a equa¸c˜ao foi resolvida (de forma te´orica, provando a existˆencia de uma solu¸c˜ao). Resta provar ainda que (I +w) ´e de fato um homeomorfismo. A contru¸c˜ao da inversa de (I +w) tamb´em, ser´a te´orica. Iniciemos observando que os pap´eis desempenhados por φ1 e φ2 podem ser trocados, bastanto um intercˆambio de
´ındices. Assim, obtemos (da mesma forma com que obtivemos w) um ´unico v ∈ C0
b(E, E) tal que:
(I + v) ◦ (A + φ2) = (A + φ1) ◦ (I + v)
Vamos mostrar que (I + v) ´e a inversa de (I + w). De fato,
(I + w) ◦ (I + v) ◦ (A + φ2) = (I + w) ◦ (A + φ1) ◦ (I + v) = (A + φ2) ◦ (I + v)
. Temos portanto que (I + w) ◦ (I + v) semiconjuga(sobrejetiva) (A + φ2) com ele pr´oprio. Note que
(I + w) ◦ (I + v) est´a a uma distˆancia finita da identidade, pois
(I + w) ◦ (I + v) = I + v + w ◦ (I + v)
e v + w ◦ (I + v) ∈ Cb0(E, E). Mas a identidade tamb´em semiconjuga (A + φ2) com ele mesmo e portanto
pela unicidade da constru¸c˜ao de v (usando o fato de que a equa¸c˜ao tem apenas uma solu¸c˜ao, pois o ponto fixo ´e ´unico) segue que (I + w) ◦ (I + v) = I e o mesmo vale para (I + v) ◦ (I + w), bastanto para isso observar que (I + v) ◦ (I + w) semiconjuga (A + φ1) com ele pr´oprio. Dessa forma:
(I + w) ◦ (I + v) = (I + v) ◦ (I + w) = I
Isso completa a demonstra¸c˜ao.
Os resultados que foram demonstrados at´e o presente momento nos colocam em condi¸c˜oes de provar o Teorema de Hartman-Grobman para difeomorfismos, que ser´a posteriormente utilizado na demonstra¸c˜ao de sua vers˜ao para fluxos, que ´e o objetivo deste trabalho.
Demonstra¸c˜ao. (Teorema de Hartman-Grobmann)
Por tratar-se de resultado local, podemos, sem perda de generalidade, (usando cartas locais) supor f um difeomorfismo definido de uma vizinhan¸ca W para outra N de zero em E = TpM , com f (0) = 0 Seja
0> 0 tal que A + φ ´e globalmente conjugado a A em E, para todo A limitado com constante de Lipschitz
limitada por 0, conforme o lema 1.3. Para tal 0, podemos tomar uma vizinhan¸ca Br ⊂ W ∩ N tal que
(A + φ)|Br/2 = f |Br/2, (A + φ)|(Br)C = A, φ ´e limitada e tem constante de Lipschitz menor ou igual a 0.
Pelo lema 1.3, vale que (A + φ) ´e globalmente conjugado a A em E: existe um homeomorfismo h : E → E a uma distˆancia finita da identidade tal que da identidade tal que h ◦ A = (A + φ) ◦ h.
Note que como A ´e isomorfismo hiperb´olico, n˜ao possui outro ponto fixo exceto o zero (pois outro ponto fixo diferente de zero seria um autovetor do autovalor 1). Tal implica que (A + φ) possui um ´unico ponto fixo, pois se p ´e ponto fixo de (A + φ) temos
h ◦ A(h−1(p)) = (A + φ) ◦ h(h−1)
h ◦ A ◦ h−1(p) = (A + φ)(p) = p =⇒ A ◦ h−1(p) = h−1(p) Isso prova que h−1 ´e o ´unico ponto fixo de A, e portanto h(0) = 0.
Dessa forma, podemos restringir h a uma vizinhan¸ca U := U (0) ⊂ Br/2 tal que V := h(U (0)) ⊂ W .
temos ent˜ao que para todo x ∈ U ∩ A−1(U ) vale que:
h ◦ A(x) = f ◦ h(x) o que finalmente conclui a demonstra¸c˜ao.
1.2
Conjuga¸
c˜
ao entre Campos de Vetores
Defini¸c˜ao 1.3. (Singularidade Hiperb´olica) Seja X : V ⊂ Rm→ Rm um campo de vetores Ck, k ≥ 0. Um
ponto p ∈ V ´e uma singularidade hiperb´olica de X se o espectro do operador DXp : Rm → Rm n˜ao tem
parte imagin´aria nula.
Teorema 1.3 (Hartman-Grobman para Campos). Seja X : V ⊂ Rm → Rm um campo Ck (k ≥ 1) e p
uma singularidade hiperb´olica de X. Seja L = DXp. Ent˜ao X ´e localmente topologicamente conjugado a
L, em vizinhan¸cas de p e zero, respectivamente
Lema 1.4. Seja X : V ⊂ mathbbRm → Rm um campo de vetores de classe Ck, (k ≥ 1) com X(0) = 0.
Seja L = DX0. Dado > 0, existe um campo Y : Rm→ Rm com as seguintes propriedades:
(1) O campo Y tem constante de Lipschitz limitada por K e, portanto, o fluxo induzido por Y est´a definido em RxRm;
(2) Y = L fora de uma bola Br(0);
(3) Existe um aberto U ⊂ V contendo zero tal que Y = X em U ;
(4) Escrevendo Yt = Lt+ φt, existe M > 0 tal que |φt| ≤ M para todo t ∈ [−2, 2] e φ1 tem constante de
Lipschitz menor ou igual a .
Demonstra¸c˜ao. Como L = DX0, temos que X = L + ψ, onde ψ : V → Rm ´e Ck tal que ψ(0) = 0 e
Dψ0= 0. Seja β : R → R uma fun¸c˜ao C1tal que β(R) ⊂ [0, 1], β(t) = 1 se t ≤ r/2 e β(t) = 0 se t ≥ r. Seja
ρ : Rm→ Rm
definida por ρ(x) = β(|x|)ψ(x) se x ∈ V e ρ(x) = 0 se x ∈ Rm− V . Dado δ > 0, podemos escolher r > 0 de tal forma que ρ seja Ck e seja δ-Lipschitz. Da´ı, da defini¸c˜ao de ρ, ρ = ψ em B(0, r/2) e ρ = 0 fora de B(0, r). Seja Y : Rm→ Rmo campo de vetores definido por Y := L + ρ. Da´ı, Y = X em
B(0, r/2), Y = L fora de B(0, l) e Y satisfaz (1). Seja φt= Yt− Lt |φt(x) − φ (y) | = Z t 0 |ρ (Ys(x)) − ρ (Ys(y))| ds + Z t 0 L (φs(x) − φs(y)) ds |φt(x) − φ (y)| ≤ δ.e2K. |x − y| .2 + Z t 0 L (φs(x) − φs(y)) ds
δ.e2K. |x − y| .2 + Z t
0
kLk . |φs(x) − φs(y)| ds
usando a desigualdade de Gronwall, obtemos que:
|φt(x) − φt(y)| ≤ δ.e2K. |x − y| .2.ekLk Rt
0ds≤ δ.e2K. |x − y| .2.ekLk.2
Pelo lema 1.1 podemos tomar ρ de modo que a constante de Lipschitz δ seja menor que /(e2K.2.e||L||.2).
Isso implica, em particular que φ1 tem constante de Lipschiz menor que . Finalmente, |φt|, t ∈ [−2, 2] ´e
limitada: Se x ∈ B(0, r): |φt(x)| = |φt(x) − φt(0)| ≤ ε.r Se x /∈ B(0, r): |φt(x)| = |φt(x) − φt(0)| = Z t 0 [ρ (Ys(x)) − ρ (Ys(0))] ds + Z t 0 L (φs(x) − φs(0)) ds (Note que ρ(Ys(x)) = 0, se Ys(x) /∈ B(0, r))
Z t 0 ε.r.ds + Z t 0 L (φs(x) − φs(0)) ds ≤ 2.ε.r + kLk . Z t 0 |φs(x) − φs(0)| ds
o que implica novamente pela desigualdade de Gronwall que existe M > 0 tal que |φ(x)| ≤ M , ∀x ∈ Rm
e ∀t ∈ [−2, 2].
Lema 1.5. Seja X : U → Rm um campo de vetores, e φ
t o seu fluxo. Ent˜ao p ´e singularidade hiperb´olica
de X se e somente se p ´e ponto fixo hiperb´olico do difeomorfismo φ1, no tempo 1 de X.
Demonstra¸c˜ao. (⇐) Se p ´e ponto fixo do tempo 1 de X e ´e hiperb´olico, em particular, pelo Teorema de Hartman para difeomorfismos, ´e isolado. Note que p n˜ao pode pertencer a uma ´orbita peri´odica de per´ıodo 1, pois em tal situa¸c˜ao, os outros pontos da ´orbita peri´odica seriam pontos fixos para φ1, e p n˜ao seria ponto
fixo isolado. Isso ´e bastante intuitivo, basta seguir a trajet´oria do de um ponto arbitrariamente pr´oximo de p e o resultado ´e imediato. Logo, como φ(n, p) = p, ∀n ∈ N e φ(., p) n˜ao ´e peri´odica regular, segue-se da classifica¸c˜ao das trajet´orias de um campo que φ(t, p) = p, ∀t ∈ R =⇒ p ´e singularidade (isolada) de X. Mostremos que p ´e singularidade hiperb´olica, ou seja, que os elementos de Sp(DX(p)) tem parte
real n˜ao nula. Da dependˆencia diferenci´avel em rela¸c˜ao as condi¸c˜oes iniciais, temos que Dxφ ´e solu¸c˜ao de dZ
dt = DX(p)Z, Z0= I. Portanto, Dxφ(t, p) = e
t.DX(p) o que nos d´a:
Dfp = Dxφ(1, p) = eDX(p)
E portanto o espectro Sp(Dfp) = eSp(DX(p))implicando que |λ| 6= 1, ∀λ ∈ Sp(Dfp).
(⇒) Se p ´e singularidade hiperb´olica de X, ´e imediato que p ´e ponto fixo de f = φ1. Como vimos acima,
da dependˆencia diferenci´avel em rela¸c˜ao as condi¸c˜oes iniciais, temos que Dxφ ´e solu¸c˜ao de dZdt = DX(p)Z,
Z0= I. Portanto, Dxφ(t, p) = et.DX(p) o que nos d´a
Dfp = Dxφ(1, p) = eDX(p)
E portanto o espectro Sp(Dfp) = eSp(DX(p)) implicando que |λ| 6= 1, ∀λ ∈ Sp(Dfp), isto ´e, p ´e ponto fixo
hiperb´olico de f .
Demonstra¸c˜ao. (Do Teorema de Hartman-Grobman para Campos) Seja Y : Rm→ Rmum campo Ckcomo
no lema 1.4. Como Y = X em U , vizinhan¸ca de zero, temos que a aplica¸c˜ao identidade conjuga localmente Y e X em U . Como a conjuga¸c˜ao ´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia, portanto transitiva, s´o nos resta mostrar que os fluxos Yte Lt s˜ao conjugados ∀t ∈ R. Como DY0= L, da dependˆencia diferenci´avel em rela¸c˜ao `as
condi¸c˜oes iniciais, temos que a derivada (DY1)0do difeomorfismo induzido no tempo 1 ´e eL= L1. De fato,
dZ
dt = DY (φ (t, x)) Z
Z (0) = Im
Como x = 0 ´e uma singularidade, φ(t, 0) = 0, ∀t, e a equa¸c˜ao acima fica da forma:
dZ
dt = DY (0) Z = LZ
Z (0) = Im
Dessa forma (DYt)(0) = et.L, e em t = 1, (DY1)(0) = eL= L1.
Dessa forma, o difeomorfismo Y1= L1+ φ1tem a origem como ponto fixo hiperb´olico e φ1como o resto
de sua derivada L1 na origem. Dessa forma pelo lema 1.3 existe um ´unico homeomorfismo h : Rm→ Rm
a uma distˆancia finita da identidade que satisfaz f ◦ Y1= L1◦ h. Mostratemos que este mesmo h tamb´em
conjuga todos os outros tempos, isto ´e, que h ◦ Yt(x) = Lt◦ h(x), ∀t ∈ R, ∀x ∈ Rm, implicando no fato de
que Y ´e topologicamente conjugado a L, ou seja, Y ´e topologicamente conjugado `a sua parte linear. Definimos H : Rm→ Rmpor: H(x) = 1 Z 0 L−t◦ h ◦ Yt(x)dt
H ´e cont´ınua e est´a a uma distˆancia finita da identidade pelo lema 1.4. Mostratemos que para cada s ∈ R vale H ◦ Ys= Lz◦ H. Vamos reduzir o problema de mostrar que a express˜ao vale para todo s a mostrar
que vale para todo s ∈ [0, 1]. ´E preciso mostrar, no entanto, que estas condi¸c˜oes s˜ao equivalentes. De fato, seja q ∈ R+, podemos escrever q = n + s, com n ∈ mathbbN e s ∈ [0, 1]. Da´ı:
H ◦ Yq = H ◦ Y1◦ Y1◦ ... ◦ Y1 | {z } nvezes ◦Ys L1◦ H ◦ Y1◦ Y1◦ ... ◦ Y1 | {z } n−1vezes ◦Ys= Ln+s◦ H = Lq◦ H
Se q < 0 (e H ´e invers´ıvel), ent˜ao:
H ◦ Yq = Y−q◦ H−1
−1
= H−1◦ L−q
−1
− Lq◦ H
o que demonstra o afirmado. Dessa forma, seja s ∈ [0, 1]. Tem-se que:
L−s◦ H ◦ Ys= L−s◦ Z 1 0 (L−t◦ h ◦ Yt) dt ◦ Ys Z 1 0 (L−s◦ L−t◦ h ◦ Yt◦ Ys) dt = Z 1 0 L−(s+t)◦ h ◦ Yt+s dt Tomando u = t + s − 1 temos: Z 1 0 L−(s+t)◦ h ◦ Yt+s dt = Z s −1+s L−(u+1)◦ h ◦ Yu+1 du = Z 0 −1+s L−(u+1)◦ h ◦ Yu+1 du + Z s 0 L−(u+1)◦ h ◦ Yu+1 du
Fazendo v = u + 1 na primeira parcela:
L−s◦ H ◦ Ys= Z 1 s (L−v◦ h ◦ Yv) dv + Z s 0 L−u◦ (L−1◦ h ◦ Y1) | {z } h ◦Yu du = Z 1 0 (Lu◦ h ◦ Yu) du = H
Temos assim que H ´e cont´ınua e semiconjuga Y1 e L1. H est´a a uma distˆancia finita da identidade:
L−t◦ h ◦ Yt= L−t◦ (I + w) ◦ (Lt+ φt) = I + L−t◦ φt+ L−t◦ w ◦ Lt+ L−t◦ w ◦ φt Defina: ¯ wt= L−t◦ φt+ L−t◦ w ◦ Lt+ L−t◦ w ◦ φt ∃ ¯M > 0; | ¯wt(x)| ≤ ¯M , ∀t ∈ R [0, 1] , ∀x ∈ Rm H(x) = Z 1 0 (L−t◦ h ◦ Yt) dt = Z 1 0 (I + ¯wt) dt = I + Z 1 0 ¯ wtdt com R1 0 w¯t(x)dt ≤ ¯M . Como quer´ıamos.
2
Teorema da Variedade Est´
avel
Antes de enunciar o Teorema de Variedade Est´avel ´e necess´ario apresentar algumas defini¸c˜oes importantes que ser˜ao utilizadas no enunciado.
Teorema 2.1. (Variedade Est´avel para Singularidades Hiperb´olicas.) Seja X : U → Rm um campo de
classe Ck exibindo uma singularidade hiperb´olica p ∈ U . Designemos por φ fluxo de X. Ent˜ao o conjunto
est´avel de p
Ws(p) = {x ∈ U ; φ (t, x) → p, t → ∞} ´
e uma variedade de classe Ck de dimens˜ao igual ao ´ındice de p, e injetivamente imersa em Rm. Demonstra¸c˜ao. N˜ao ser´a apresentada neste texto, recomenda-se consultar [1]
O Teorema da Variedade Est´avel ´e um dos resultados mais importantes na teoria qualitativa local de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias. O teorema nos mostra que pr´oximo a um ponto de equil´ıbrio hiperb´olico, o sistema n˜ao-linear x = f (x) possui variedades est´aveis e inst´aveis, S e U respectivamente, que s˜ao tangentes, no ponto de equil´ıbrio hiperb´olico x0, aos subespa¸cos est´avel e inst´aveis, ES e EU respectivamente, do
sistema linearizado x = A(x) onde A = Df (x0). Al´em disso, S e U tem as mesmas dimens˜oes de ES e EU.
Teorema 2.2. (Variedade Est´avel para ´orbitas peri´odicas hiperb´olicas) Seja X : U → Rm um campo de
classe Ck e γ ⊂ U uma ´orbita peri´odica hiperb´olica. Ent˜ao o conjunto est´avel de γ
Ws(γ) = {x ∈ U ; d (φ (t, x) , γ) → 0, t → ∞}
´e uma variedade de classe Ck de dimens˜ao igual ao ´ındice de qualquer transforma¸c˜ao de Poincar´e π associada a γ mais 1, e injetivamente imersa em Rm.
Demonstra¸c˜ao. N˜ao ser´a apresentada neste texto, recomenda-se consultar [1]
3
An´
alise do Atrator de Lorenz
Nesta se¸c˜ao ser´a analisado o comportamento de uma equa¸c˜ao diferencial que para certos valores de parˆametros gera o conhecido Atrator de Lorenz. Para isso ser´a utilizado fortemente o Teorema de Hartman-Grobman.
3.1
Equa¸
c˜
ao de Lorenz
A equa¸c˜ao de Lorenz tem como parˆametros σ, ρ e β. Dependendo dos valores destes parˆametros o com-portamento da equa¸c˜ao varia qualitativamente.
dx dt = σ(y − x) dy dt = x(ρ − z) − y dz dt = xy − βz (1)
Para obter as singularidades do campo Calculando a matriz jacobiana (Matriz que representa a aplica¸c˜ao derivada na base canˆonica) tem-se que:
J = −σ σ 0 ρ −1 −x y x −β (2)
Sabemos que o fluxo da EDO ´e topologicamente conjugado ao de sua derivada em uma vizinhan¸ca de uma singularidade. ´E de particular interesse conhecer o comportamento da EDO numa vizinhan¸ca de um ponto estacion´ario. Para tanto, fazemos
dx dt dy dt dz dt = 0 0 0
Dessa forma, tem-se que as singularidades s˜ao dadas por:
x = y y = x (ρ − z) z = xyβ (3)
Como x = y, tem-se que x = x(ρ − z). Mas x = 0 =⇒ y = 0 e z = 0 (A origem ´e uma singularidade). Se x 6= 0 ent˜ao 1 = 1(ρ − z) =⇒ z = ρ − 1 Mas z = xyβ, logo z = xβ2 =⇒ x = y = ±pβ (ρ − 1). Assim, se ρ ≥ 1 existem trˆes singularidades (uma na origem e duas sim´etricas em rela¸c˜ao ao eixo z). Por outro lado se ρ < 1 a ´unica singularidade ´e a origem. Consideremos o caso ρ > 1. Neste caso, as singularidades s˜ao:
P1= (0, 0, 0) P2= ( p β (ρ − 1),pβ (ρ − 1), ρ − 1) P3= (− p β (ρ − 1), −pβ (ρ − 1), ρ − 1)
A figura 1 apresenta o retrato de fase da EDO para ρ = 28, σ = 10 e β = 83.
3.2
Bifurca¸
c˜
ao e o Atrator de Lorenz
Bifurca¸c˜ao ´e uma mudan¸ca qualitativa no comportamento das ´orbitas de um Sistema Dinˆamico. A repre-senta¸c˜ao do comportamento de ´orbitas em fun¸c˜ao dos parˆametros ´e chamado diagrama de bifurca¸c˜ao. Para o Sistema de Lorenz por exemplo, existe apenas uma singularidade para ρ ≤ 1, j´a para rho > 1 existem duas singularidades, que podem ser est´aveis ou inst´aveis dependendo do valor do parˆametro. Isso pode ser facilmente analisado utilizando o teorema de Hartman-Grobman, uma vez que nas vizinhan¸cas de um ponto estacion´ario hiperb´olico o fluxo do sistema n˜ao linear ´e topologicamente conjugado ao fluxo de sua derivada no ponto, segue que o ponto estacion´ario do sistema n˜ao linear ser´a est´avel se sua derivada naquele ponto tiver todos os seus autovalores no semiplano direito do plano complexo.
Para determinados valores de parˆametros uma ´orbita pode perder estabilidade e em contrapartida, uma ´
orbita de per´ıodo dois pode ganhar estabilidade, fenˆomeno denominado duplica¸c˜ao de per´ıodo, uma das principais rotas para o caos (o que pode ser claramente visto no atrator de Chua na figura 5).
Figura 2: Bifurca¸c˜ao do Sistema de Lorenz
O diagrama de bifurca¸c˜ao apresentado na figura 2 pertence ao sistema de Lorenz, quando ´e analisado o comportamento do sistema com rela¸c˜ao `a varia¸c˜ao do parˆametro ρ, mantendo-se fixo todos os demais. Observa-se que o atrator simulado e apresentado na figura 1 foi obtido com ρ = 28, ponto para o qual existem ´orbitas dos mais diversos per´ıodos configurando Caos (no sentido de Devaney).
3.3
Aplica¸
c˜
oes
As aplica¸c˜oes do Atrator de Lorenz se extendem `a diversas ciˆencias aplicadas. Em Engenharia El´etrica, a ´
area de Sincronismo de Sistemas Ca´oticos utiliza com frequˆencia as s´eries temporais deste sistema dinˆamico para aplica¸c˜oes em modula¸c˜ao digital ca´otica.
Uma grande quantidade de Sistemas Dinˆamicos ´e constantemente utilizada em sistemas dinˆamicos, basicamente como prot´otipos de sistemas complexos. As EDOs que descrevem estes sistemas s˜ao altamente n˜ao-lineares.
Figura 3: Atrator de R¨osseler
Uma delas ´e a que d´a origem ao atrator de Rosseler, cujo retrato de fase ´e apresentado na figura 3. Um circuito el´etrico muito simples pode dar origem a um atrator ca´otico, ´e o chamado circuito de Chua. Utilizando um elemento n˜ao linear (indutor n˜ao linear de Chua) ´e poss´ıvel construir um atrator. O circuito de chua est´a apresentado na figura 4 e o atrator gerado com uma combina¸c˜ao adequada de valores dos componentes na figura 5.
Figura 4: Circuito de Chua
O circuito de chua, figura 4 tem sido constantemente utilizado como sistema ca´otico fonte de s´eries temporais ca´oticas, com objetivo de obter espalhamento espectral e redu¸c˜ao de ru´ıdos em sistemas de comunica¸c˜ao criptografados caoticamente, principalmente por ser bastante simples e de f´acil implementa¸c˜ao em termos de circuito anal´ogico.
Figura 5: Atrator de Chua
A EDO que d´a origem ao comportamento apresentado na figura 5 ´e fun¸c˜ao dos componentes (natural-mente) descrita na equa¸c˜ao a seguir.
C1dvdt1 = R1 (v2− v1) − I(v1) C2dvdt2 = R1 (v1− v2) + iL LdiL dt = −v2 (4)
4
Conclus˜
oes
Alguns resultados fundamentais em Sistemas Dinˆamicos e Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias tem conduzido `a resultados atuais, mesmo que j´a obtidos `a bastante tempo. Os teoremas de Hartman-Grobman e Variedade Est´avel, juntamento com o λ-Lema e o Shadowing-Lema s˜ao exemplos deste fato. O objetivo central deste trabalho foi demonstrar o Teorema de Hartman-Grobman, citar o Teorema da Variedade Est´avel e apresentar id´eias de ´areas em que esta teoria ´e constantemente aplicada (sem aprofundamentos).
Referˆ
encias
[1] PALIS, J. e MELO, W.Introdu¸c˜ao aos Sistemas Dinˆamicos, IMPA, Rio de Janeiro, 1990
[2] J ´UNIOR, A. A.Curso de Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias - Apostila, IMPA, Rio de Janeiro, 2009
[3] ARNOLD, V. I.Ordinary Differential Equations, MIT Press, Massachusetts, 1973
[4] MONTEIRO, L. H. Sistemas Dinˆamicos, Ed. Livraria da F´ısica, S˜ao Paulo, 2006.
[5] AGUIRRE, L. A.Identifica¸c˜ao de Sistemas e Estima¸c˜ao de Parˆametros. T´ecnicas Lineares e N˜ao Lineares Aplicadas a Sistemas Reais, 2a ed.. Editora da UFMG. Belo Horizonte, 2001