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Projeto inovador. Por Renata Nogueira Capeto Tupicanskas e Valquiria Ribeiro Barbosa

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Academic year: 2021

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Autismo

SHUTTERSTOCK

Projeto

inovador

A aplicabilidade teórica e prática da integração

sensorial e da ampliação de ofertas de atendimento

para as crianças com transtorno do espectro autista

tem sido um sucesso no tratamento continuado

Por Renata Nogueira Capeto Tupicanskas e Valquiria Ribeiro Barbosa

Renata Nogueira Capeto Tupicanskas é pós-graduada em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica aplicada à neurologia; pós-graduada em Tecnologia Assistiva, curso completo pela Artevidade de Intervenções no Processamento Sensorial e Integração Sensorial. Possui experiência na área de educação há 10 anos, como membro de equipe no Serviço de Apoio à Inclusão Escolar, no Atendimento Educacional Especializado (AEE) de alunos com deficiência intelectual da APAE DE SÃO PAULO.

Valquiria Ribeiro Barbosa é psicóloga e psicopedagoga formada pela

Universidade Metodista de Ensino Superior. Com atuação há mais de 25 anos no terceiro setor, em programas de inclusão da pessoa com deficiência nas áreas de Educação, Capacitação e Inclusão Profissional. Atualmente gerencia a área de Inclusão da APAE DE SÃO PAULO.

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Autismo

Em cada

interação com o

meio,

a criança

recebe inúmeras

informações que

são

encaminhadas

para o sistema

nervoso,

onde são

discriminadas e

correlacionadas

para que

possam

fazer sentido

e de movimento, e organizá-las em um plano de ação. É assim que ocorre o aprendizado. dependendo do tipo de experiência que esse estímulo propor-ciona, que vai do prazer ao medo ou desconforto, a criança responde de for-ma compatível ou incompatível com a situação (dionisio, 2013).

Portanto, a integração sensorial é a organização das sensações para uso no dia a dia. Quando nosso cérebro envia informações organizadas e adequadas, somos capazes de realizar qualquer tarefa de forma eficaz, porém quando essas informações chegam de forma desorganizada, temos dificuldades de sentir e ordenar nossas sensações.

Para Serrano (2016), essa desorga-nização pode produzir vários graus de comprometimento no desenvolvimen-to, no processamento da informação, no planejamento, no comportamen-to e na aprendizagem, tancomportamen-to mocomportamen-tora quanto conceitual, causando, assim, grandes impactos e prejuízos na vida cotidiana das crianças e adolescentes. essas dificuldades são nomeadas de disfunção de processamento sensorial (associação, 2016).

em meados da década de 1950, a terapeuta ocupacional e psicóloga

edu-o

objetivo do trabalho é apresentar os concei-tos da abordagem de integração sensorial de anna jean ayres, utilizados como base para a abertura de uma sala de atendimento na aPae de SÃo PaULo, que amplia seu panorama de atendimento à criança com transtorno do espectro autista e síndrome de down, e, por fim, a aplicação da abordagem.

desde 1961, a aPae de SÃo PaULo possui a missão de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com deficiência intelectual, produzindo e di-fundindo conhecimento. a organização atua do diagnóstico no nascimento, por meio do teste do Pezinho, até o enve-lhecimento, propiciando o desenvolvi-mento de habilidades e potencialidades que favoreçam a escolaridade, a empre-gabilidade, a inclusão social e a defesa de direitos. além disso, está sempre em busca de formas de atuação que possam contribuir com a prática.

assim, diante do interesse pela apli-cabilidade teórica e prática da integra-ção sensorial e da ampliaintegra-ção de ofertas de atendimento para as crianças com transtorno do espectro autista, implan-tou-se o recurso.

Para compreendermos o que é a abordagem da integração sensorial pre-cisamos, inicialmente, entender alguns aspectos do desenvolvimento infantil. desde a vida intrauterina, recebemos muitos estímulos advindos do mundo externo em que a primeira descoberta inconsciente é a sensação, que vai des-de o toque no ventre da mãe até o som da batida do coração (Serrano, 2016;

durão, 2014).

após o nascimento, o bebê conti-nua recebendo novos e variados estí-mulos motores e sensoriais por todos os canais receptores como tato, visão, audição, paladar e olfato, e essas sen-sações vão se aprimorando ao longo de seu desenvolvimento e maturação do sistema nervoso. Com isso, o bebê

vai aprendendo a regular as sensações

e consequentemente dando respostas adaptativas aos estímulos recebidos (Serrano, 2016).

Segundo Serrano (2016), em cada interação com o meio a criança rece-be inúmeras informações que são en-caminhadas para o sistema nervoso, onde são discriminadas e correlacio-nadas para que possam fazer sentido. o sistema nervoso é responsável em organizar as informações visuais, au-ditivas, táteis, olfativas, gravitacionais

Na vida intrauterina, há estímulos externos, em que a primeira descoberta inconsciente é a sensação, que vai desde o toque no ventre da mãe ao som do coração

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é responsável

em

organizar

as informações

visuais, auditivas,

táteis, olfativas,

gravitacionais e de

movimento,

e organizá-las em

um plano de ação.

É assim que ocorre

o aprendizado

cacional dra. anna jean ayres iniciou seus estudos na especialidade de inte-gração sensorial. durante toda sua tra-jetória profissional pesquisou um novo paradigma para a explicação de uma variedade de problemas neurológicos e de aprendizagem em crianças e adoles-centes que até então não eram compre-endidos (associação, 2016).

a teoria da integração sensorial trata da relação entre o cérebro e o comportamento em um processo que ocorre no sistema nervoso central, ou seja, é um processo neurobiológico que promove a capacidade de processar, or-ganizar, interpretar sensações e

respon-to ativas morespon-toramente, que parecem es-tar em constante procura por estímulos intensos ou outras modalidades senso-riais... que desafiam o perigo; hiper-rea-ção a estímulos – as manifestações mais comuns são defensividade tátil, insegu-rança gravitacional e resposta aversiva ou intolerância a movimentos (p. 1).

a disfunção, ou transtorno, de processamento sensorial, como é co-mumente nomeada por estudiosos da área de integração sensorial, pode ocorrer em qualquer período do desen-volvimento e não está necessariamente associada a outra patologia ou defici-ência, mas invade o desenvolvimento e incapacita a aquisição de diversas ha-bilidades necessárias à aprendizagem (Momo, 2011).

originalmente, a abordagem de in-tegração sensorial descrita por ayres é destinada a crianças em idade pré-esco-lar e escopré-esco-lar, mas em estudos atuais os conceitos podem ser aplicáveis em ado-lescentes e adultos (associação, 2016).

Quanto ao diagnóstico clínico, a abordagem é destinada a pessoas com transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, dificuldade de

apren-Após o nascimento, o bebê continua recebendo novos e variados estímulos motores e sensoriais por todos os canais receptores, como tato, visão, audição, paladar e olfato

A sala deve oferecer equipamentos que permitem diferentes direções e movimentos, plataformas para subir, redes, trapézio, rampas, cilindros, túneis etc.

der de maneira apropriada ao ambiente (associação, 2016).

diante dos sinais sugestivos de mau processamento sensorial (ver Pílula), dionisio (2013) enfatiza a existência de três respostas adaptativas inadequadas na disfunção do processa-mento sensorial.

Falha no registro sensorial – a crian-ça parece não prestar atenção a estímulos relevantes no ambiente, nem sempre rea-gindo à dor, movimentos, som, cheiros, sabores ou estímulos visuais; tendência à procura de estímulos – são crianças

mui-IMAGENS: SHUTTERSTOCK E d Iv Ul GA çã O

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Autismo

A disfunção, ou transtorno, de processamento

sensorial

pode ocorrer em qualquer

período do desenvolvimento e não está

necessariamente associada a outra patologia,

mas invade o desenvolvimento e incapacita a

aquisição de diversas habilidades

dizado, distúrbios de fala e linguagem, desordens neuromotoras, síndrome de down e deficiência intelectual (Wata-nabe, 2007).

Para a aplicação dessa abordagem, o setting terapêutico deve ocorrer em uma sala ampla, com a existência de equi-pamentos suspensos, que permitem diferentes direções e movimentos, pla-taformas para subir, redes, trapézio para balançar, rampas, cilindros, túneis para passar, skate, lycra, cordas, almofadas, brinquedos e matérias atraentes (asso-ciação, 2016).

a promoção de uma oferta senso-rial adequada às possibilidades e neces-sidades da criança é o principal objetivo de uma sala de integração sensorial, que estimula os sistemas sensoriais, os refle-xos e o sistema vestibular e propriocep-tivo (Carvalho, 2015).

Como o objetivo da sala é intervir nas atividades de vida diária, acadêmi-ca e social e estamos falando de

inter-Estruturação

a

sala de integração sensorial na aPae de SÃo PaULo foi inau-gurada em 2016. os critérios para avaliação e realização da terapia de in-tegração sensorial na organização con-templam a faixa etária dos 3 aos 12 anos de idade e os seguintes diagnósticos: transtorno do espectro autista, síndro-me de down, desordens neuromotoras, além de crianças sem diagnóstico pré-vio que apresentem transtornos senso-riais e que estejam interferindo no de-sempenho das atividades de vida diária, escolar e no convívio social.

3 a 4 anos 4 5 a 6 anos 2 7 a 8 anos 3 9 a 10 anos 4 11 a 12 anos 3 TOTAL 16 FAIXA ETÁRIA NÚMERO DE

CRIANÇAS ATENDIDAS

atualmente a sala de integração sensorial está realizando atendimento com 15 crianças dentro da faixa etária estabelecida.

MASCULINO FEMININO 12 3

Como critério de avaliação, é uti-lizada a Classificação estatística in-ternacional de doenças e Problemas relacionados com a Saúde,

frequente-A prescrição de uma dieta sensorial por parte do terapeuta diz respeito a um programa de atividades, para que a família ou a escola possam realizar com a criança

venção com crianças, isso nos remete à reflexão quanto ao brincar e ao desem-penho ocupacional das atividades do cotidiano. o terapeuta ocupacional é um profissional qualificado que detém os conhecimentos teóricos e práticos de análise das atividades para promoção da autonomia e brincar.

o terapeuta ocupacional que atua com a abordagem da integração sen-sorial deve ter qualificação técnica e utilizar avaliações padronizadas para favorecer intervenções de acordo com a medida de fidelidade de intervenção de integração sensorial de ayres. exis-te atualmenexis-te no Brasil o Programa de Certificação internacional em integra-ção Sensorial, autorizado e reconhecido pela University of Southern California department of occupational Science (USC) e Western Psychological Servi-ces (WPS). vale ressaltar que esse curso é oferecido exclusivamente para tera-peutas ocupacionais (Carvalho, 2015).

Criança atendida na sala de integração sensorial utilizando o rolo, com o objetivo de trabalhar o sistema vestibular (estabilização do olhar e ajuste postural)

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E d Iv Ul GA çã O

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Originalmente, a

abordagem de

integração sensorial

descrita por Ayres

é destinada a

crianças em idade

pré-escolar e

escolar,

mas em

estudos atuais os

conceitos podem

ser aplicáveis em

adolescentes

e adultos

avaliação é realizado pela área de ambu-latório da aPae de SÃo PaULo.

NÚMERO DIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS 7 F84.0 - autismo infantil 1 Q90 - síndrome de Down 1 F83 - transtornos específicos mistos do desenvolvimento 1 Q851 - esclerose tuberosa e F84.0 - autismo infantil 5 Em investigação diagnóstica

os atendimentos na sala de inte-gração sensorial na aPae de SÃo PaULo ocorrem semanalmente, com

a presença da terapeuta ocupacional. É feita uma entrevista inicial com a família e há preenchimento de um questionário padronizado chamado de “perfil sensorial” e “observação clí-nica”. em seguida, são traçado o perfil das respostas sensoriais e verificado se existe a presença de transtorno do pro-cessamento sensorial. após essa ava-liação inicial, são estabelecidas metas e estratégias de intervenção e inicia-se a terapia. o questionário é reaplicado anualmente, pois é um instrumental que ajuda a mensurar as evoluções.

Importância da família

v

ale ressaltar que o papel da famí-lia é fundamental em todo esse processo. o terapeuta ocupacional rea-liza muitas intervenções e a prescrição de uma dieta sensorial, que nesse caso não está associada à restrição de deter-minados alimentos ou calorias, mas diz respeito a um programa de atividades planejadas para que a família ou a escola possam realizar com a criança.

Uma criança com transtorno de processamento sensorial, mesmo com o tratamento adequado, precisa continuar um acompanhamento periódico para

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Integração Sensorial – ABIS. O que é integração sensorial, 2016. Disponível em: <https://www.integracaosensorialbrasil.com.br/integracao-sensorial> Acesso em: 21 nov. 2017. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Integração Sensorial – ABIS. Quem precisa, 2016. Disponível em: <https:// www.integracaosensorialbrasil.com.br/quem-precisa avaliacao-e-intervenca> Acesso em: 21 nov. 2017. BERLIN, l. Dieta sensorial para transtorno de processamento sensorial, 2017. Disponível em: < http:// superspectro.com.br/noticia/dieta-sensorial-para-transtorno-de-processamento-sensorial> Acesso em: 21 nov. 2017.

CARVALHO, T. Integração sensorial de Ayres: história e teoria, 2015. Disponível em: <http:// integracaosensorial.com.br/clinicaludens/blog-ludens/2015/07/terapia-ocupacional-com-base-na-integracao-sensorial> Acesso em: 22 nov. 2017.

DIONISIO et al. Brincar e integração sensorial: possibilidades de intervenção da terapia ocupacional. Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/enex/

Quando o cérebro envia informações organizadas, todos podem realizar tarefas, mas quando são desorganizadas, surgem dificuldades de sentir e ordenar as sensações

cional planeja uma combinação de ativi-dades lúdicas com estímulos que podem acalmar ou acionar o sinal de alerta, de acordo com a necessidade específica de cada criança. essas atividades têm efeito direto no sistema nervoso por um perío-do de tempo limitaperío-do e, portanto, devem ser repetidas diariamente. a cada evolu-ção, essas práticas vão se adequando às novas necessidades (Berlin, 2017).

Planejamento e evolução

d

e acordo com o planejamento dos atendimentos, a organização tem como meta para 2018 a reavaliação de

100% das crianças que estão em aten-dimento. Serão utilizados os mesmos protocolos iniciais, nomeados de “perfil sensorial” e “observação clínica”, objeti-vando a comparação dos resultados e as evoluções alcançadas.

Com essa reavaliação, espera-se atingir 60% de evolução com dados quantitativos e qualitativos na melhora significativa em relação ao transtorno de processamento sensorial, interação com o meio, organização, planejamen-to e respostas adaptativas adequadas quanto ao aprendizado e desenvolvi-mento. Sabe-se que essa abordagem é eficaz, porém no Brasil existem poucas publicações sobre a temática.

Referências

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