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PERCEPÇÃO EMOCIONAL E TRAÇOS DE PERSONALIDADE

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Academic year: 2021

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Revista de Psicologia Vol. 16, Nº. 24, Ano 2013

Fabiano Koich Miguel

Universidade Estadual de Londrina - UEL

fabiano@avalpsi.com.br

Bruno Aurélio da Silva Finoto

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE

bruno_finoto@hotmail.com

Bárbara Dias Miras

Universidade Estadual de Londrina - UEL

barbara__miras@hotmail.com

TRAÇOS DE PERSONALIDADE

Estudo de validade divergente

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi estudar a relação entre percepção de emoções, uma subárea da inteligência emocional, e traços de personalidade. Para tanto, 223 pessoas (78,5% feminino), com média de idade 26,31 anos, responderam ao Teste Informatizado de Percepção de Emoções Primárias e ao Inventário Dimensional Clínico da Personalidade. Foram analisadas as pontuações pela teoria clássica e pela teoria de resposta ao item. Das 96 correlações realizadas, apenas 10 foram significativas, e ainda assim muito baixas, todas inferiores a 0,20. Os resultados corroboraram estudos anteriores na área de inteligência emocional, sugerindo divergência entre essa capacidade cognitiva e traços de personalidade.

Palavras-Chave: inteligência emocional; avaliação psicológica; testagem informatizada.

ABSTRACT

The present study’s goal was to study the relationship between perception of emotions, a branch of emotional intelligence, and personality traits. For that, 223 people (78.5% female), with average age of 26.31 years, answered the Computerized Test of Primary Emotions Perception and the Personality Disorders Dimensional Inventory. The scores were analyzed based on the classical theory and the item response theory. Out of a total of 96 correlations, only 10 were significant, and still with very low magnitudes, all below .20. The results corroborate previous studies in the field of emotional intelligence, suggesting divergence between this cognitive ability and personality traits.

Keywords: emotional intelligence; psychological assessment; computerized tests.

Anhanguera Educacional Ltda.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@anhanguera.com Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

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1. INTRODUÇÃO

Inteligência e emoção são construtos discutidos ao longo dos séculos, e encontram-se entre os primeiros a serem estudados na história da Psicologia (GOODWIN, 2005; SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). De maneira geral, costumava-se entender que ambos se apresentavam em sentidos opostos, não possuindo relação entre si. No início da década de 1990, foi proposto um novo construto que integra inteligência e emoção chamado inteligência emocional, ampliando-se o campo de estudo da inteligência e objetivando pesquisas sobre as interações entre o raciocínio e as respostas dos indivíduos frente aos estímulos afetivos (DALGALARRONDO, 2000; DEYOUNG, 2011; MAYER; SALOVEY; CARUSO; CHERKASSKIY, 2011; PRIMI, 2003; SALOVEY; MAYER, 1990).

Os estudos que abordam a inteligência comumente referem-se a como os indivíduos usam a cognição para resolução de tarefas, enquanto as emoções referem-se às reações psicológicas, fisiológicas, cognitivas e motivacionais emitidas pelo indivíduo frente a estímulos internos ou externos. Desse modo, a inteligência emocional foi definida como a capacidade de empregar o raciocínio sobre as emoções, ou seja, ter percepções objetivas, saber compreender, expressar e avaliar os sentimentos ou reações emocionais de forma coerente e de maneira adaptada à situação (MAYER; ROBERTS; BARSADE, 2008; MAYER; SALOVEY; CARUSO, 2008; MAYER et al., 2011; SALOVEY; DETWEILER-BEDELL; DETWEILER-DETWEILER-BEDELL; MAYER, 2008). Essa inteligência se apoia na capacidade de perceber adequadamente as emoções, que pode ser entendida como o reconhecimento de diferentes emoções em si e nos outros.

Atualmente, no Brasil, não há testes psicológicos disponíveis comercialmente que mensurem o construto inteligência emocional, sendo encontrados apenas em pesquisas (por exemplo, BUENO, 2008; MAYER; SALOVEY; CARUSO, 2002; MIGUEL et al., 2010; SIQUEIRA; BARBOSA; ALVES, 1999). Nos estudos, diversos procedimentos podem ser realizados na análise das características psicométricas de um instrumento, a fim de verificar sua adequação para utilização. Um desses procedimentos foi chamado de validade discriminante, sendo utilizado no sentido de que testes que medem construtos distintos devem apresentar correlações nulas ou próximas disso (ANASTASI; URBINA, 2000; CAMPBELL; FISKE, 1959). Em publicações mais recentes, esse procedimento tem sido incluído no grupo de evidências de validade baseadas nas relações com outras variáveis, entendendo-se como validade divergente (AERA; APA; NCME, 1999; URBINA, 2007).

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No que diz respeito à inteligência emocional, costuma-se entender que esta deva ser um construto divergente de personalidade. Ou seja, uma maior ou menor capacidade cognitiva não deveria estar relacionada à presença de traços de personalidade mais ou menos intensos. Estudos já foram conduzidos na tentativa de verificar essa hipótese. De maneira geral, pesquisas demonstram que, quando se mede inteligência emocional por meio de um instrumento de autorrelato como um inventário, encontram-se correlações significativamente elevadas com traços de personalidade e poucas com outras medidas de raciocínio (CHOI; KLUEMPER; SAULEY, 2011; FIORI, 2009; MAYER et al., 2011; MIGUEL, 2010; RIVERS; BRACKETT; SALOVEY, 2008; ROBERTS; MACCANN; MATTHEWS; ZEIDNER, 2010; VAN ROOY; VISWESVARAN; PLUTA, 2005; WOYCIEKOSKI; HUTZ, 2010).

Por esse motivo, tem sido recomendada a avaliação da inteligência emocional por meio de instrumentos de desempenho, ou seja, da mesma forma que outras capacidades intelectuais. Nesse cenário, pesquisas demonstram que a relação desses testes com traços de personalidade costuma ser baixa ou próxima de nula, e ainda com apenas alguns traços. Alguns exemplos podem ser apresentados: as correlações com o traço de abertura a novas experiências costumam ser até r=0,25; com o traço de agradabilidade, entre r=0,13 e r=0,28; com estabilidade emocional, r=0,19 e r=0,26; e com o traço extroversão, entre r=0,04 e r=0,13 (BRACKETT; MAYER, 2003; COBÊRO; PRIMI; MUNIZ, 2006; DANTAS; NORONHA, 2006; JOSEPH; NEWMAN, 2010; O’CONNOR JR.; LITTLE, 2003; VAN ROOY; VISWESVARAN, 2004). Deve-se ressaltar que nem sempre os dados de uma pesquisa são replicados em outra. Por exemplo, uma pode encontrar correlação significativa com o traço extroversão, e em outras a correlação não é significativa. Portanto, pelos motivos expostos, costuma-se considerar a divergência entre inteligência emocional e traços de personalidade.

O presente trabalho teve como objetivo estudar as propriedades psicométricas de um instrumento de avaliação da percepção de emoções, uma subárea da inteligência emocional. O teste foi correlacionado com um inventário de personalidade, a fim de avaliar a divergência entre ambos.

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2. MÉTODO

2.1. Participantes

Participaram desta pesquisa 223 pessoas que responderam ao PEP e ao IDCP. A média de idade foi 26,31 anos (DP=9,86) com mínimo de 18 e máximo de 66, sendo que 80% possuía idade inferior a 31 anos. Foram 175 (78,5%) participantes do sexo feminino.

No que diz respeito à escolaridade, 1,3% relatou ter concluído até o 2º ano do ensino médio, 17,5% relatou conclusão do 3º ano do ensino médio, 64,1% relatou curso superior (concluído ou em curso) e 16,1% relatou pós-graduação. Houve tendência dos participantes se concentrarem nos estados do Paraná e São Paulo, embora alguns fossem de outros estados também. A Tabela 1 apresenta a distribuição por estados daqueles que cederam essa informação.

Tabela 1. Distribuição por estado dos participantes.

Estados N Porcentagem PR 93 42,66% SP 81 37,16% CE, PB, PE 23 10,55% MG, RJ 10 4,59% DF, GO 5 2,29% RS, SC 3 1,38% AM, PA, TO 3 1,38%

Foram 161 (72,20%) que relataram estarem cursando ou terem algum curso superior. Daqueles que informaram, 95 (59,01%) eram Psicologia, 7 (4,35%) Administração, 4 (2,48%) para cada curso de Arquitetura, Biologia, Jornalismo e Engenharia elétrica. Os outros 26,71% se distribuíram em Agronomia, Arquivologia, Arte visual, Design, Direito, Economia, Educação física, Engenharia, Engenharia civil, Engenharia mecânica, Engenharia química, Estatística, Farmácia, Filosofia, Fonoaudiologia, História, Informática, Letras, Medicina, Odontologia, Pedagogia, Publicidade, Química, Radiologia, Secretariado e Serviço social.

2.2. Material

Para avaliação da capacidade de perceber emoções, foi utilizado o Teste Informatizado de Percepção de Emoções Primárias (PEP). Respondido via computador, o instrumento apresenta 35 trechos de vídeos de pessoas expressando emoções. O participante deve assinalar qual ou quais das seguintes emoções estão presentes em cada vídeo: alegria,

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amor, medo, tristeza, surpresa, nojo, raiva e curiosidade. As pontuações podem ser divididas em três fatores – percepção de emoções positivas, negativas, e apreciativas ou contemplativas – e também agrupadas para produzir uma pontuação geral. O teste se encontra em fase de estudos quanto a sua validade e ao construto que avalia, e tem demonstrado características psicométricas adequadas (MIGUEL et al., 2007; MIGUEL; PRIMI, 2010; 2011; 2012).

Para avaliação das características de personalidade, foi utilizado o Inventário Dimensional Clínico da Personalidade (IDCP). O instrumento está baseado na teoria de Millon de transtornos de personalidade, e pode ser pontuado em 12 fatores, conforme descritos na Tabela 2. São 215 itens com afirmativas do tipo “Gosto de usar roupas que chamam a atenção”, e pontuados em uma escala Likert de quatro pontos de acordo com o quanto elas são verdadeiras para o participante, variando de “Nada” (1) a “Muito” (4). Estudos com o inventário também demonstraram adequadas propriedades psicométricas (CARVALHO; PRIMI, 2012; CARVALHO; PRIMI; STONE, 2012).

Tabela 2. Descrição dos fatores do IDCP.

Fator Descrição

Dependência Crença na incapacidade em tomar decisões por si próprio

Agressividade Falta de consideração do outro nas reações para obter o que deseja Inst. humor Tendência a humor triste e irritável ou oscilações

Excentricidade Expressões idiossincráticas de comportamentos Nec. atenção Busca exagerada por atenção dos outros

Desconfiança Preocupação em ser enganado e que os outros têm segundas intenções Grandiosidade Necessidade exagerada de admiração pelos outros

Isolamento Preferência por ficar sozinho e evitar contatos sociais Evit. crítica Crenças em ser humilhado pelos outros por ser incapaz Autossacrifício Auxílio exagerado dos outros em detrimento de si próprio Conscienciosidad

e Preocupação em fazer as coisas da maneira mais organizada possível Impulsividade Reações impulsivas e inconsequentes

2.3. Procedimento

A presente pesquisa foi cadastrada no SISNEP e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (protocolo 0159.0.268.000-10). Foi feito contato inicial com os participantes nas salas de aula dos cursos de graduação, com explicação da pesquisa e divulgação do link para responder a pesquisa online. O sistema online onde a pesquisa foi realizada seguiu as recomendações internacionais para uso da informática em pesquisas de Psicologia (ITC, 2005). O participante cadastrou-se no sistema criando um

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usuário baseado em seu CPF e senha própria. As informações sociodemográficas e os resultados dos testes foram registrados em um banco de dados criptografado, que apenas os pesquisadores tinham acesso.

Os dados dos testes foram transferidos para um banco em SPSS versão 15. Quatro tipos de escores foram calculados para o PEP, de acordo com as especificações de Miguel e Primi (2012): um escore geral (Fg) com a média das pontuações em 34 itens levando em conta suas cargas fatoriais, e escores para os fatores que agrupam os itens de emoções positivas (F3.1), emoções negativas (F3.2) e emoções apreciativas (F3.3). Para o IDCP, foram utilizadas as médias das pontuações brutas para cada um dos seus 12 fatores.

Também foram feitas análises pelo modelo de Rasch, utilizando-se o software Winsteps versão 3.69.1.7. As mesmas quantidades de escores para os testes foram calculadas, ou seja, uma pontuação geral e três fatoriais para o PEP, e 12 fatoriais para o IDCP. Quando foram realizadas as análises estatísticas, os resultados do PEP calculados pela teoria clássica foram comparados com os resultados do IDCP calculados da mesma maneira, assim como os resultados do PEP calculados pelo modelo de Rasch foram comparados com os do IDCP da mesma maneira.

3. RESULTADOS

Inicialmente foi realizada análise estatística descritiva dos resultados no PEP e IDCP. A Tabela 3 informa os dados referentes à pontuação geral do PEP e seus três fatores, e também as pontuações dos 12 fatores do IDCP, tanto para a pontuação bruta quanto para a pontuação Rasch.

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Tabela 3. Estatísticas descritivas das pontuações. Pontuação Bruta Rasch Média DP Mínim o Máxim o Média DP Mínim o Máxim o Fg 0,38 0,04 0,25 0,55 0,84 0,60 -0,97 4,09 F3.1 0,40 0,04 0,24 0,54 1,78 1,26 -1,42 6,76 F3.2 0,32 0,06 0,08 0,51 0,32 0,84 -2,82 4,29 F3.3 0,41 0,06 0,25 0,57 0,76 0,81 -1,20 3,37 Dependência 1,95 0,58 1,00 3,45 -0,96 1,17 -5,48 1,47 Agressividade 1,55 0,44 1,04 3,78 -1,40 0,89 -3,83 1,97 Inst. humor 2,19 0,60 1,11 3,78 -0,40 0,88 -3,10 2,19 Excentricidade 1,69 0,53 1,00 3,70 -1,26 1,13 -4,68 1,71 Nec. atenção 2,26 0,60 1,13 3,81 -0,41 1,09 -3,37 2,85 Desconfiança 2,08 0,55 1,08 3,77 -0,68 1,04 -3,90 2,50 Grandiosidade 1,89 0,52 1,08 3,50 -1,06 1,10 -4,11 1,67 Isolamento 2,12 0,61 1,09 4,00 -0,61 1,12 -3,56 4,73 Evit. crítica 1,57 0,58 1,00 3,57 -1,99 1,61 -4,42 1,62 Autossacrifício 2,17 0,70 1,00 4,00 -0,76 1,87 -5,54 5,10 Conscienciosidad e 2,38 0,48 1,09 3,55 -0,17 0,79 -3,61 1,78 Impulsividade 1,78 0,64 1,00 4,00 -1,33 1,48 -4,04 3,56

Em seguida foram realizadas correlações de Pearson entre as pontuações do PEP e as pontuações do IDCP. Os resultados encontram-se na Tabela 4, onde são mostrados dois grupos. O grupo à esquerda apresenta as correlações entre as pontuações brutas do PEP e IDCP; o grupo à direita apresenta as correlações entre as pontuações Rasch do PEP e IDCP.

Pode-se perceber que as correlações tenderam a ser semelhantes entre as pontuações brutas e as pontuações Rasch. Houve poucas correlações significativas. No caso das pontuações brutas, as correlações significativas encontradas foram: fator Dependência com Fg, F3.2 e F3.3; Excentricidade com F3.2; e Impulsividade com F3.1. Já no caso das pontuações Rasch, as correlações significativas foram: fator Dependência com Fg e F3.2; Excentricidade com F3.2; Isolamento com F3.2; e Impulsividade com F3.1.

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Tabela 4. Correlações de Pearson entre PEP e IDCP (N=223) Bruta Rasch Fg F3.1 F3.2 F3.3 Fg F3.1 F3.2 F3.3 Dependência r 0,15* 0,08 0,19** 0,14* 0,14* 0,11 0,15* 0,07 p 0,030 0,208 0,005 0,037 0,032 0,116 0,025 0,300 Agressividade r 0,07 0,07 0,06 0,03 0,07 0,07 0,07 0,03 p 0,299 0,291 0,341 0,613 0,309 0,287 0,269 0,674 Inst. humor r 0,06 0,07 0,06 0,08 0,05 0,08 0,06 -0,01 p 0,361 0,280 0,364 0,239 0,448 0,231 0,347 0,929 Excentricidade r 0,11 0,05 0,16* 0,11 0,12 0,08 0,14* 0,08 p 0,095 0,444 0,020 0,109 0,079 0,247 0,039 0,222 Nec. atenção r -0,03 0,02 -0,03 -0,06 -0,03 0,01 -0,03 -0,02 p 0,673 0,815 0,643 0,337 0,609 0,907 0,633 0,785 Desconfiança r 0,02 0,05 0,05 0,00 0,04 0,08 0,05 -0,01 p 0,767 0,449 0,435 0,965 0,524 0,215 0,451 0,910 Grandiosidade r -0,05 0,07 -0,02 -0,06 -0,03 0,06 -0,02 -0,11 p 0,489 0,321 0,807 0,401 0,700 0,362 0,721 0,095 Isolamento r 0,05 0,02 0,12 0,08 0,12 0,07 0,16* 0,02 p 0,448 0,775 0,065 0,257 0,081 0,312 0,017 0,712 Evit. crítica r 0,06 0,06 0,05 0,10 0,03 0,06 0,01 0,00 p 0,376 0,393 0,471 0,148 0,616 0,396 0,929 0,943 Autossacrifício r 0,00 0,04 -0,07 0,08 0,02 0,06 -0,05 0,07 p 0,953 0,586 0,322 0,249 0,799 0,366 0,467 0,274 Conscienciosidad e r 0,00 -0,01 0,02 0,04 0,03 0,02 0,04 0,00 p 0,958 0,909 0,719 0,594 0,663 0,725 0,555 0,978 Impulsividade r 0,10 0,18* 0,02 0,03 0,06 0,14* 0,06 -0,03 p 0,150 0,009 0,743 0,633 0,344 0,035 0,378 0,709 Dependência r 0,15* 0,08 0,19** 0,14* 0,14* 0,11 0,15* 0,07 p 0,030 0,208 0,005 0,037 0,032 0,116 0,025 0,300 Agressividade r 0,07 0,07 0,06 0,03 0,07 0,07 0,07 0,03 p 0,299 0,291 0,341 0,613 0,309 0,287 0,269 0,674

** Correlação significativa no nível p<0,01 * Correlação significativa no nível p<0,05

4. DISCUSSÃO

Levando-se em conta que o software utilizado para cálculo das medidas Rasch fixa a média das dificuldades dos itens em 0,00, foi possível perceber que os participantes da presente pesquisa podem ter encontrado uma quantidade maior de itens considerados fáceis do que difíceis no PEP, uma vez que a média de suas pontuações ficou acima da média das dificuldades. Contudo, a quantidade de pessoas que alcançou a pontuação

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máxima possível no teste foi nula, tanto para a pontuação geral quanto as pontuações dos três fatores, indicando que não houve falta de representação do construto por ausência de itens difíceis.

Já em relação ao IDCP, a situação foi contrária. Pode-se perceber que as médias dos participantes em todos os fatores foram abaixo das médias das dificuldades, sugerindo que os participantes tenderam a endossar os itens utilizando pontuações mais baixas. Houve participantes que obtiveram a pontuação mínima possível nos fatores dependência (0,9% do total), excentricidade (3,6%), evitar crítica (19,7%), autossacrifício (0,9%) e impulsividade (11,7%) do IDCP. Isso pode ser considerado esperado, uma vez que o inventário foi construído focando-se em amostras clínicas, enquanto que os participantes desta pesquisa não tinham essa característica. Não obstante, também houve pessoas com a pontuação máxima de 4,00 nos fatores isolamento (0,4% do total), autossacrifício (0,9%) e impulsividade (0,9%). Embora a porcentagem de pessoas que obtiveram tanto pontuação mínima quanto máxima tenha sido de maneira geral baixa, percebeu-se uma concentração expressiva nos fatores evitar crítica e impulsividade. Esses resultados sugerem que esses dois fatores podem não ter tido uma representação do construto suficiente, havendo necessidade de itens mais fáceis para adequadamente capturarem aquilo que o fator avalia. Portanto, a variância desses escores pode ter sido prejudicada e as correlações encontradas, não completamente representativas da relação entre os construtos.

Independentemente do nível de significância, as magnitudes das correlações entre as pontuações brutas tenderam a ser semelhantes às correlações entre as pontuações Rasch. Nesse sentido, ao se correlacionar com traços de personalidade, considera-se indiferente a escolha de qualquer uma das formas de pontuação para o PEP.

Houve correlação significativa entre a capacidade de perceber emoções negativas e o fator de excentricidade (r=0,16 para pontuações brutas; r=0,14 para pontuações Rasch). Isso demonstra uma associação muito leve nesses participantes entre a capacidade de identificar corretamente expressões de tristeza, nojo e raiva, e a necessidade de demonstrar comportamentos excêntricos e idiossincráticos. Segundo Carvalho e Primi(2012), a crença de ser diferente, medida por esse fator, está relacionada à ausência de prazer em estar com outras pessoas, o que poderia explicar a preferência pela atenção em expressões emocionais negativas e, portanto, melhor capacidade de identificá-las.

A relação entre a capacidade de perceber emoções positivas e o fator de impulsividade (r=0,18 brutas; r=0,14 Rasch) sugere também uma associação muito leve entre o reconhecimento de expressões de alegria e amor, e comportamentos impulsivos e

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inconsequentes. Uma possível explicação para esse resultado pode ser que a facilidade em reconhecer expressões emocionais positivas esteja associada à percepção de um ambiente mais favorável a respostas espontâneas. Por outro lado, como discutido anteriormente, o fator de impulsividade pode não ter tido uma adequada representação do construto, o que poderia ter resultado em uma correlação espúria.

Houve também relação muito leve entre a capacidade de perceber emoções negativas (r=0,19 bruta; r=0,15 Rasch), junto da capacidade geral de percepção emocional (r=0,15 bruta; r=0,14 Rasch) e capacidade de perceber emoções apreciativas (apenas r=0,14 bruta), com o fator de dependência. Como esse fator está relacionado a depender dos outros para tomar as decisões, possivelmente exista uma preocupação maior com as expressões negativas ou avaliativas dos outros, fazendo com que a capacidade de perceber tais expressões seja um pouco mais desenvolvida.

Por outro lado, a capacidade de perceber emoções negativas também se mostrou muito levemente correlacionada com o fator isolamento (apenas r=0,16 Rasch), que diz respeito a pessoas menos interessadas no contato social e preferência por ficar sozinhas. Embora também seja possível levantar a hipótese de uma relação entre a preferência por perceber emoções negativas e esse comportamento, parece discrepante que essa mesma capacidade esteja relacionada ao mesmo tempo a pessoas dependentes e pessoas evitativas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo realizar um estudo de validade divergente entre um instrumento de avaliação da capacidade de perceber emoções (PEP), uma subárea de inteligência, e traços de personalidade (IDCP). As correlações significativas encontradas apontaram para associações muito leves – inferiores a 0,20 – entre os traços de dependência, excentricidade, isolamento e impulsividade com a capacidade de reconhecer certas classes de expressões emocionais. Embora seja possível propor hipóteses explicativas dessas associações, em alguns casos a explicação parece forçada.

Levando essa informação em consideração, e observando as magnitudes das correlações significativas, que foram muito leves ou próximas de zero, além de serem em baixa quantidade, considera-se que o mais provável é que as correlações encontradas representem características aleatórias da amostra e não uma associação autêntica entre os construtos avaliados. Nesse sentido, pode-se dizer que foi demonstrada independência dos construtos avaliados pelo PEP e pelo IDCP. Essa informação corrobora o corpo de

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pesquisas que encontra uma relação baixa ou nula entre inteligência emocional e traços de personalidade.

É importante ressaltar que, embora esta e outras pesquisas corroborem a proposta de que capacidades cognitivas e traços de personalidade sejam independentes, esses resultados tratam da relação em um nível mais geral. No nível individual, pode ser possível encontrar relação entre os construtos, dependendo do histórico de vida de cada um. Por exemplo, um indivíduo excessivamente tímido e introvertido, como forma de compensar essas características, poderia se engajar mais em atividades intelectuais que acabem por desenvolver sua capacidade cognitiva.

Deve-se levar em conta, também, que o IDCP tem foco em transtornos de personalidade, possivelmente não medindo pessoas com níveis mais baixos nos seus fatores com a devida representação. Portanto, sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas utilizando outros instrumentos de avaliação da personalidade, como contribuição aos estudos de validade do PEP. No que diz respeito a testes de personalidade, a literatura também vem discutindo que as relações entre instrumentos de autorrelato e de desempenho são modestas, sugerindo que o construto de um teste que mede, por exemplo, extroversão por autorrelato não é idêntico a um teste que mede extroversão por desempenho (BORNSTEIN, 2002; MEYER; KURTZ, 2006). Como o PEP se trata de um instrumento de avaliação de uma capacidade cognitiva por meio do desempenho, sugere-se a comparação com outros testes de personalidade por desempenho.

REFERÊNCIAS

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PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION; NCME, NATIONAL COUNCIL ON MEASUREMENT IN EDUCATION. Standards for educational and psychological testing. Washington: American Educational Research Association, 1999.

ANASTASI, A.; URBINA, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

BORNSTEIN, R. F. A process dissociation approach to objective-projective test score interrelationships. Journal of Personality Assessment, v. 78, n. 1, p. 47-68, 2002. BRACKETT, M. A.; MAYER, J. D. Convergent, discriminant, and incremental validity of

competing measures of emotional intelligence. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 29, p. 1-12, 2003.

BUENO, J. M. H. Construção de um instrumento para avaliação da inteligência emocional em crianças. 2008. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba.

CAMPBELL, D. T.; FISKE, D. W. Convergent and discriminant validation by the multitrait-multimethod matrix. Psychological Bulletin, v. 56, n. 2, p. 81-105, 1959.

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Fabiano Koich Miguel

Graduação em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2002) e especialização em Psicologia do Trânsito pela Universidade Cruzeiro do Sul (2003). Concluiu mestrado (2006) e doutorado (2010) em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco, com doutorado-sanduíche na Universidade de Évora (Portugal) e na University of Toledo (EUA), desde então colaborando no Rorschach Performance Assessment System (R-PAS). Tem experiência em clínica e na área acadêmica, atuando principalmente com os seguintes temas: construção de instrumentos, emoções e inteligência emocional, testagem adaptativa informatizada, inteligência e personalidade. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Membro da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica do Conselho Federal de Psicologia.

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Graduação em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (2011), com interesse pelas áreas de Avaliação Psicológica, Psicologia Institucional e Psicologia Clínica. Interessado em Psicanálise Clássica e Contemporânea.

Bárbara Dias Miras

Curso de Psicologia - licenciatura, bacharelado e formação de psicólogo - na Universidade Estadual de Londrina - UEL.

Referências

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