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NOTA INFORMATIVA A RESOLUÇÃO EM BENEFÍCIO DA MASSA INSOLVENTE

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A RESOLUÇÃO EM BENEFÍCIO DA MASSA INSOLVENTE

NOTA INFORMATIVA

INFORMATIVA

1. Generalidades

A resolução de actos em benefício da massa insolvente é um mecanismo que visa dar ao administrador da insolvência o poder de, com celeridade e eficácia, fazer reingressar naquela bens ou direitos que lhe tenham sido subtraídos por actos que prejudiquem a satisfação dos credores que vieram reclamar os seus créditos na insolvência.

Como bem se esclarece no preâmbulo do DL nº 53/2004, de 18 de Março, que aprovou o Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), na sua nota 41, “ a finalidade precípua do processo de insolvência — o pagamento, na maior medida possível, dos credores da insolvência— poderia ser facilmente frustrada através da prática pelo devedor, anteriormente ao processo ou no decurso deste, de actos de dissipação da garantia comum dos credores: o património do devedor ou, uma vez declarada a insolvência, a massa insolvente. Importa, portanto, apreender para a massa insolvente não só aqueles bens que se mantenham ainda na titularidade do insolvente, como aqueles que nela se manteriam caso não houvessem sido por ele praticados ou omitidos aqueles actos, que se mostram prejudiciais para a massa”.

Tal faculdade de resolução foi concedida ao abrigo de duas modalidades fundamentais: a resolução condicional (art. 120.º do CIRE) e incondicional (art. 121.º do CIRE). Os requisitos da resolução variam de acordo com os actos/modalidades.

2. Requisitos

2.1 Resolução Condicional

Nos termos do n.º 1 do art. 120.º do CIRE, “podem ser resolvidos em benefício da massa insolvente os atos prejudiciais à massa praticados dentro dos dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência”, acrescentando o n.º 4 do mesmo artigo que a resolução pressupõe a má-fé do terceiro.

São, assim, requisitos para que um determinado negócio/acto possa ser resolvido em benefício da massa:

i) Temporalidade

ii) Prejudicialidade para a massa iii) Má-fé do terceiro

O legislador fez questão de delinear o alcance dos referidos requisitos:

Quanto à temporalidade, o n.º 1 refere o prazo de “dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência” como limite máximo até onde se pode recuar na avaliação da prejudicialidade do acto para a massa insolvente, justificativa da sua resolução. De salientar que, nos termos do art. 4.º, n.º 2 do CIRE, “todos os prazos que neste Código têm como termo final o início do processo de insolvência abrangem igualmente o período compreendido entre esta data e a da declaração de insolvência”.

Quanto ao requisito da prejudicialidade, diz-nos o n.º 2 do art. 120.º que se consideram prejudiciais à massa os actos que i) diminuam, ii) frustrem, iii) dificultem, iv) ponham em perigo ou v) retardem a satisfação dos credores da insolvência.

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No fundo, para além dos actos que impliquem diminuição do valor da massa insolvente, são prejudiciais todos os que tornem a satisfação do interesse dos credores mais difícil ou mais demorada.

No apuramento deste requisito foi contemplada uma presunção inilidível. Nos termos do nº 3 do mesmo preceito legal, presumem-se prejudiciais à massa, sem admissão de prova em contrário, os actos de qualquer dos tipos referidos no artigo 121.º (resolução incondicional), ainda que praticados ou omitidos fora dos prazos aí contemplados (mas, naturalmente, até aos dois anos anteriores ao inicio do processo de insolvência).

Quanto à má-fé, nos termos do n.º 5, o legislador fez corresponde-la ao conhecimento, à data do acto, pela pessoa com quem o mesmo foi praticado, de qualquer das seguintes circunstâncias: i) de que o devedor se encontrava em situação de insolvência; ii) do carácter prejudicial do acto e de que o devedor se encontrava à data em situação de insolvência iminente; iii) do início do processo de insolvência.

Também quanto a este requisito foi estabelecida uma presunção. Prevê o n.º 4 do art. 120.º que se presume a má-fé de terceiro “quanto a actos cuja prática ou omissão tenha ocorrido dentro dos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência e em que tenha participado ou de que tenha aproveitado pessoa especialmente relacionada com o insolvente, ainda que a relação especial não existisse a essa data”, sendo havidos como especialmente relacionados com o devedor, nos termos do art. 49.º do CIRE, quando o devedor é uma pessoa singular, i) o seu cônjuge e as pessoas de quem se tenha divorciado nos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência; ii) os ascendentes, descendentes ou irmãos do devedor ou de qualquer das pessoas antes referidas, iii) os cônjuges dos ascendentes, descendentes ou irmãos do devedor, iv) as pessoas que tenham vivido

habitualmente com o devedor em economia comum em período situado dentro dos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência. Quando o devedor é uma pessoa colectiva, i) os sócios, associados ou membros que respondam legalmente pelas suas dívidas, e as pessoas que tenham tido esse estatuto nos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência; ii) as pessoas que, se for o caso, tenham estado com a sociedade insolvente em relação de domínio ou de grupo, nos termos do artigo 21.º do Código dos Valores Mobiliários, em período situado dentro dos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência; iii) os administradores, de direito ou de facto, do devedor e aqueles que o tenham sido em algum momento nos dois anos anteriores ao início do processo de insolvência; iv) as pessoas relacionadas com alguma das mencionadas nas alíneas anteriores por qualquer das formas supra referidas para quando o devedor é uma pessoa singular.

A referida presunção, ao contrário da presunção estabelecida no n.º 3, é uma presunção iuris tantum, admitindo, por isso, prova em contrário.

Quando não se verifique a presunção do n.º 4, o n.º 5 exige, assim, que o terceiro conheça uma de três circunstâncias:

i. A situação de insolvência actual;

ii. A prejudicialidade do acto e a situação de insolvência iminente;

iii. O início do processo de insolvência.

A Lei 16/2012, de 20 de Abril, veio aditar o n.º 6 ao artigo 120.º do CIRE, excluindo do regime de resolução os negócios celebrados i) no âmbito de um processo especial de revitalização, ii) de providência de recuperação, saneamento ou resolução de instituição de crédito ou sociedade financeira previsto no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras ou de iii) procedimento equivalente, cuja finalidade seja prover o devedor com meios de financiamento suficientes para viabilizar a sua recuperação

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2.1 Resolução Incondicional

O regime do que se designa como resolução incondicional é estabelecido pelo art. 121.º do CIRE, sendo a incondicionalidade da resolução manifestada no corpo do n.º 1 do artigo, quando é referido que os actos aí indicados são resolúveis em benefício da massa insolvente “sem dependência de quaisquer outros requisitos”.

Recorde-se, todavia, que nos termos do n.º 3 do art. 120.º, antes analisado, presumem-se prejudiciais à massa, sem admissão de prova em contrário, os actos de qualquer dos tipos referidos no artigo 121.º. Por outro lado, quanto ao requisito da temporalidade, também aqui se aplica o limite máximo de dois anos previsto no n.º 1 do art. 120.º para que um determinado negócio possa ser objecto de resolução. Assim, o requisito de que, efectivamente, se abdica é da má-fé do terceiro, mas, ainda assim, relativamente aos actos previstos no n.º 1 do art. 121.º, é aplicável a presunção (ilidível) de má fé prevista no n.º 4 do art. 120.º quando praticados em data que não permita a aplicação do art. 121.º (resolução incondicional). Podem, assim, nos termos do n.º 1 do art. 121.º do CIRE, ser resolvidos em benefício da massa insolvente, sem dependência de quaisquer outros requisitos, os seguintes actos:

a) Partilha celebrada menos de um ano antes da data do início do processo de insolvência em que o quinhão do insolvente haja sido essencialmente preenchido com bens de fácil sonegação, cabendo aos co-interessados a generalidade dos imóveis e dos valores nominativos;

b) Actos celebrados pelo devedor a título gratuito dentro dos dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência, incluindo o repúdio de herança ou legado, com excepção dos donativos conformes aos usos sociais;

c) Constituição pelo devedor de garantias reais relativas a obrigações preexistentes ou de outras que as substituam nos seis meses

anteriores à data de início do processo de insolvência;

d) Fiança, subfiança, aval e mandatos de crédito, em que o insolvente haja outorgado no período referido na alínea anterior e que não respeitem a operações negociais com real interesse para ele; e) Constituição pelo devedor de garantias

reais em simultâneo com a criação das obrigações garantidas, dentro dos 60 dias anteriores à data do início do processo de insolvência;

f) Pagamento ou outros actos de extinção de obrigações cujo vencimento fosse posterior à data do início do processo de insolvência, ocorridos nos seis meses anteriores à data do início do processo de insolvência, ou depois desta mas anteriormente ao vencimento;

g) Pagamento ou outra forma de extinção de obrigações efectuados dentro dos seis meses anteriores à data do início do processo de insolvência em termos não usuais no comércio jurídico e que o credor não pudesse exigir;

h) Actos a título oneroso realizados pelo insolvente dentro do ano anterior à data do início do processo de insolvência em que as obrigações por ele assumidas excedam manifestamente as da contraparte;

i) Reembolso de suprimentos, quando tenha lugar dentro do mesmo período referido na alínea anterior.

Trata-se de uma enumeração taxativa que, de todo o modo, poderá ceder perante normas legais que excepcionalmente exijam sempre a má-fé ou a verificação de outros requisitos (conforme previsto no n.º 2 do art. 121.º).

3. Forma de Resolução

Nos termos do art. 123.º do CIRE:

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“1 - A resolução pode ser efectuada pelo administrador da insolvência por carta registada com aviso de recepção nos seis meses seguintes ao conhecimento do acto, mas nunca depois de decorridos dois anos sobre a data da declaração de insolvência.

2 - Enquanto, porém, o negócio não estiver cumprido, pode a resolução ser declarada, sem dependência de prazo, por via de excepção”.

A resolução concretiza-se, assim, por declaração emitida pelo administrador da insolvência, nos seis meses seguintes ao conhecimento do acto, mas nunca depois de dois anos sobre a data da declaração da insolvência.

A declaração de resolução é uma declaração negocial recipienda que, no caso, é fundada na lei e, para ser eficaz, tem de chegar ao conhecimento do destinatário, produzindo o seu efeito logo que recebida/conhecida por este. Por se tratar de declaração receptícia e por estarem em causa factos constitutivos do direito que a massa insolvente, através do Administrador da Insolvência, exercita, a Jurisprudência maioritária tem entendido que a missiva pela qual ele procede à resolução em benefício da massa deve, nos casos do art. 120.º, conter a fundamentação factual que a determina, estando o administrador da insolvência, nos casos previstos no n.º 1 do art. 121.º, dispensado da alegação de tais fundamentos – da prejudicialidade e da má-fé do terceiro, que se presumem «juris et de jure», bastando-lhe, nesses casos, a indicação precisa do negócio que é objecto do acto resolutivo, de modo a que o destinatário da respectiva missiva possa aperceber-se de que está em causa uma situação compreendida em tal preceito legal.

A este propósito, assinalamos o Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães, de 26/03/2009 donde resulta o seguinte “( …)Na verdade, a menos que a resolução assente numa das situações previstas no artigo 121º do CIRE, nos demais casos cumpre ao Administrador alegar os factos que traduzem a prejudicialidade dos actos

por ele visados e bem assim os que caracterizam a má fé do adquirente, pois só assim ele pode vir a juízo deduzir impugnação de modo relevante (…)”.

4. Impugnação da Resolução

Nos termos do art. 125.º do CIRE, “o direito de impugnar a resolução caduca no prazo de três meses, correndo a ação correspondente, proposta contra a massa insolvente, como dependência do processo de insolvência”.

É, assim, de 3 meses o prazo para impugnar a resolução.

A Jurisprudência vem sustentando, por larga maioria, que a acção de impugnação da resolução prevista no art. 125º do CIRE é uma acção de simples apreciação negativa, visando a demonstração da inexistência ou a não verificação dos pressupostos legais da resolução declarada pelo AI na carta resolutiva, cabendo, por isso, à massa insolvente o ónus da prova da verificação dos pressupostos da resolução operada pelo AI e não ao impugnante a prova de que tais pressupostos não se verificam, em consonância com plasmado no nº 1 do art. 343º do Código Civil. 5. Efeitos da Resolução

Conforme previsto no art. 126.º do CIRE, a resolução tem efeitos retroactivos e produz a reconstituição da situação que existiria se o acto não tivesse sido praticado ou omitido.

A contraparte, tem assim, a obrigação de restituir o que lhe tiver sido prestado, sob pena de o administrador da insolvência poder recorrer a uma acção judicial para a restituição coerciva - conforme previsto no n.º 2 daquele artigo, e/ou, bem assim, lhe poderem ser aplicadas as sanções previstas na lei de processo para o depositário de bens penhorados que falte à oportuna entrega deles – conforme previsto no n.º 3.

De salientar que a obrigação de restituir tem as limitações decorrentes do n.º6, ou seja, na aquisição

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a título oneroso o terceiro tem de restituir tudo o que lhe tenha sido prestado pelo insolvente mas, se a aquisição for a título gratuito e o terceiro estiver de boa-fé só tem de restituir na medida do seu enriquecimento, só tendo a obrigação de restituir tudo o que recebeu se estiver de má-fé.

Os nrs. 4 e 5 do art. 126.º do CIRE estabelecem o regime da obrigação de restituição a cargo da massa insolvente e de que o terceiro é credor.

Liliana Figueiredo

Janeiro 2014

A informação contida na presente Nota é prestada de forma geral e abstracta, pelo que não deverá sustentar qualquer tomada de decisão concreta sem a necessária assistência profissional.

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