CICLOS DE CINEMA HISTÓRICO - ANO VIII
Lucas Loch Moreira1
Diorge Alceno Konrad2
Introdução
O projeto de extensão Ciclos de Cinema Histórico vem desde 2005 redescobrindo e revisitando muitos filmes, que interpretam e representam temas pertinentes para o conhecimento histórico e cinematográfico, proporcionando diversos olhares, debates e vivências. A realização de um evento desta natureza atingiu uma excelência acadêmica, seja por sua legitimidade alcançada junto à comunidade universitária e à população de Santa Maria, durante estes oito anos de atividades, seja pelos contínuos esforços acadêmicos de entrecruzamento do Cinema com a História
Como um aberto e gratuito espaço cultural, social e acadêmico, vem expandir as fronteiras da pesquisa e do conhecimento da relação Cinema-História, em suas interfaces sociais, políticas, artísticas e científicas. Na UFSM, assim como no Brasil de um modo geral, tais iniciativas ainda estão em vias de desenvolvimento, vislumbrando cada vez mais estudos acerca da compreensão da História e da sociedade através das imagens cinematográficas. Assim, os Ciclos de Cinema Histórico, com seus debates em formato cineclubístico e suas diversificadas mostras, vem a ser uma alternativa de entretenimento para o público e, ao mesmo passo, de fomento e democratização dos debates e estudos histórico-cinematográficos, num exercício que une a pesquisa e o ensino à extensão.
Objetivos
O objetivo geral do projeto é relacionar o Cinema e a História a partir de ciclos temáticos e debates dirigidos, através de análises que se ocupam de suas aproximações e distanciamentos, da dicotomia entre arte e ciência e de sua relação com outros campos do conhecimento humano. Para desenvolver estes propósitos, tem como objetivos específicos proporcionar aos acadêmicos, aos professores e a comunidade de Santa Maria o acesso a obras cinematográficas sublinhadas em seu caráter sócio-histórico. Soma-se a isso, como
1 Autor, acadêmico do Curso de História – Licenciatura Plena e Bacharelado da Universidade Federal de Santa
Maria (PPGH-UFSM). Bolsista FIEX. Endereço Eletrônico: loch.lucas@gmail.com.
2 Orientador, professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em História – PPGH, do Departamento de
História da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Doutor em História Social do Trabalho pela UNICAMP. Endereço Eletrônico: gdkonrad@uol.com.br.
complementação: oferecer instrumentos que permitam aos participantes conhecer a História através de imagens; exibir obras cinematográficas consideradas “raras”, “clássicas” e/ou que pouco circulam pelo grande mercado de cinematografias; compreender o que é e como procede ao caráter dicotômico entre a arte e a ciência; desenvolver o senso crítico de História a partir do Cinema, e vice-versa; relacionar historicamente os anos de produção cinematográfica com os acontecimentos de sua época e sua projeção sobre outros períodos históricos; indagar sobre o caráter ideológico das produções do cinema, seja no filme que se coloca declaradamente como filme de propaganda ou em obras que mascaram sua perspectiva política; reconhecer e avaliar os elementos estéticos de cada filme e sua correlação com a História; Dispor de informações variadas sobre o Cinema, como fontes bibliográficas, críticas cinematográficas publicadas ou até mesmo músicas; estabelecer diferenças e semelhanças entre uma obra de ficção e uma obra de documentário; valorizar as produções cinematográficas do cinema brasileiro e latino-americano, assim como obras da Ásia, África, Oriente Médio e Extremo Oriente; dialogar com outros campos do conhecimento social e humano e; fomentar a produção de conhecimento e a pesquisa do Cinema e da História a partir da realização do livro Uma história a cada filme.
Metodologia
As atividades do projeto já se iniciam com a elaboração das curadorias e dos filmes que serão exibidos anualmente. A escolha temática dos ciclos leva em consideração aspectos como a relevância histórica de tal assunto para o ano, a conjuntura mundial e latino-americana da história do presente e os próprios debates histórico-cinematográficos instigantes de se abordar. Realizadas tais escolhas, cabe decidir a quantidade e as obras a serem exibidas – segundo uma ordem cronológica em cada ciclo – e a época de realização das mostras. O convite para os palestrantes é feito com antecedência e leva em conta a disponibilidade e o interesse dos convidados. Para as sessões de cinema, o espaço será o mini-auditório do CCSH, antiga sala 303 do MILA, e o próprio Auditório do CCSH no Centro de Santa Maria, além de um bairro de Santa Maria, serão os espaços para as atividades dos Ciclos.
Os materiais utilizados para a divulgação completa da programação incluem confecção de folders e de cartazes, além da colaboração de outros meios de comunicação, como sítios, correspondências eletrônicas, aparições em rádio, televisão e jornais impressos de Santa Maria. Após o término da sessão de cinema, o palestrante responsável por comentar o filme do dia tem o tempo de quinze a trinta e cinco minutos para tecer suas apreciações, que são
seguidas pela abertura do espaço para o debate com o público. Os ouvintes que participarem de pelo menos três quartos da programação da curadoria, os integrantes do projeto e os palestrantes e têm direito a receber certificação.
Neste ano, serão desenvolvidas quatro mostras, com um total de vinte e três (23) obras cinematográficas a serem exibidas. São produções realizadas entre os anos de 1949 e 2011, em preto e branco e coloridas, originárias de diversos países.
Resultados
A grande novidade para 2012 será a introdução, pela primeira vez, de uma série televisa, mas de fundo histórica, Roma, produzida pelas redes de televisão BBC, HBO e a própria emissora local, RAI da Itália, local onde foram feitas as gravações, com ênfase na construção do cenário no cinecittà, sendo a série mais dispendiosa da televisão, averbando cerca de cem milhões de dólares. O que torna curioso é que a série não durou mais do que duas temporadas, além de ter oferecido pouco retorno financeiro. O que implica curiosidade nesse argumento é que Roma é uma série que não procurou privilegiar as respostas hollywoodianas ao público em geral e sim elaborar um série que comportasse as perspectivas mais próximas do que seria o episódio da crise da República Romana em meados do século I a.C. Para isso, comportou um grupo vasto e muito bem selecionado de Produtores, redatores, artistas, Historiadores e profissionais empregados nas diversas necessidades que uma serie épica comporta.
A ideia de transmitir essa serie de televisão ao público acadêmico, faz-se um exercício ousado e diferenciado, pois a exposição de episódios seriados tratando de um conteúdo histórico é um empreendimento nunca antes aplicado. No entanto, há um caráter inovador, levando-se em conta que a série Roma desassemelha-se em diversos aspectos de outras produções voltadas a história do mundo antigo. Mas de que forma destoa? Numa mesma produção seriada de televisão foram utilizados roteiristas diferentes nos variados episódios, com isso, agregam-se peculiaridades e técnicas diferentes no mesmo problema, a fim de gerar conflitos e visões distintas partindo da própria fonte(os roteiristas). Pode-se perceber que no mesmo assunto abordam-se temas sobre a aristocracia romana, a história dos grandes personagens em sincronia com história do grupo social menos abastada de Roma. É uma oportunidade única de ter um contato áudio visual daquela que já foi a cidade mais importante do mundo ocidental por quase um milênio. E perceber esta Urbe numa perspectiva das relações de poder, das disputas de governo, no seu auge da crise, tratando minuciosamente da
vida cotidiana, das vestimentas, dos amores, das atividades cotidianas, das relações dos grupos sociais que a comportam, juntamente com um trabalho posterior de interpretação e desenvolvimento do conhecimento.
Portanto, o desenvolvimento desta atividade faz-se iminentemente necessária para o segundo semestre do ano acadêmico de 2012 da Universidade Federal de Santa Maria, para assim haver uma simultaneidade dos estudos da disciplina de Antiguidade Ocidental, e propiciar uma disponibilidade de tempo necessária para elaboração da tarefa. Desta forma, e de acordo com o que cima foi exposto, o projeto de extensão Ciclos de Cinema Histórico vem a ser uma alternativa pública de estudo e reflexão crítica do cinema e da história em Santa Maria, inserido na comunidade acadêmica e não-acadêmica, dinamizando o conhecimento através da pesquisa e do ensino na extensão. Ao final de cada ano, são lançados em livro os esforços teórico-metodológicos e os debates de cinema e de história no Uma História a Cada Filme, que reúne em seus volumes artigos dos palestrantes sobre as obras comentadas. Também é produzido um relatório final sobre as atividades do projeto, o que demonstra o seu comprometimento com a UFSM, com CCSH e com o órgão financiador FIEX. A mesma preocupação é mantida junto à Direção do CCSH, em relação à conservação do auditório, a manutenção de seus equipamentos e o cumprimento dos horários estabelecidos para seu uso. Conclusão
O Brasil é um dos países no mundo que mais consome produtos audiovisuais, especialmente os oriundos da televisão, veículo e meio de comunicação de massa que também exibe filmes. Entretanto, a produção e a difusão de conhecimento acerca do audiovisual, principalmente no campo da História, ainda demandam empreendimentos acadêmicos mais sistemáticos. Os Ciclos de Cinema Histórico dialogam com esta lacuna, a fim de potencializar os debates e as produções científicas concernentes ao estudo do Cinema pela História, num entrecruzamento. Santa Maria, inserida neste processo, testemunha um duplo problema: as poucas salas de exibição comercial de cinema, que até pouco tempo não existiam, além da pequena diversidade e circularidade de obras cinematográficas mesmo em estabelecimentos de vídeos-locadoras; e o meio acadêmico aquém de estudos, pesquisas e debates no que tange o conhecimento do Cinema e da História e sua relação com os acadêmicos e com os consumidores de cinematografias. A cidade dispõe de empreendimentos e festivais do audiovisual, como o Santa Maria Vídeo-Cinema. Mas ainda assim necessita de um espaço onde a “Sétima Arte” seja debatida nas esferas de suas produções, segundo o caráter social,
histórico, político e artístico de suas obras, discussões sobre o tempo e a História no Cinema. Reflexões que se dirijam para todos os meios que dele se utilizam, entre estudantes, professores e comunidade em geral.
Assim, o projeto traz para si uma responsabilidade acadêmica, social e cultural, já que transita tanto pelo meio da produção de conhecimento universitário quanto pela inserção de suas atividades entre a população santa-mariense, além de ser uma alternativa aberta e gratuita de entretenimento, com o diferencial dos debates públicos e a circulação de idéias entre a Universidade e a Sociedade. Esta relação é fundamental para colocar em pauta questões que perpassam o exercício do olhar crítico ao assistir a um filme: sua historicidade e seu sentido histórico; os aspectos culturais envolvidos em sua produção, assim como suas visões políticas; a dicotomia entre arte e ciência; seus olhares sobre a vida humana. Desta forma, e de acordo com o que fora supracitado, o projeto de extensão Ciclos de Cinema Histórico vem a ser uma alternativa pública de estudo e reflexão crítica do Cinema e da História em Santa Maria, inserido na comunidade acadêmica e não-acadêmica, dinamizando o conhecimento via um projeto de extensão.
Referências Bibliográficas
CARDOSO, Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e imagem: os exemplos da fotografia e do cinema. In: CARDOSO, Ciro F. S.; VAINFAS, Ronaldo (org.) Domínios da História. Rio de Janeiro: Contexto, 1997.
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KORNIS, Mônica Almeida. Cinema, televisão e história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.
FERREIRA, Alexandre Maccari; KOFF, Rogério Ferrer; KONRAD, Diorge Alceno (orgs.). Uma história a cada filme. Vol. 1. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2006.
KONRAD, Diorge Alceno. A Hipnose Cinematográfica nos Ciclos de Cinema Histórico da UFSM. In. ALVES, Giovanni; MACEDO, Felipe (orgs.). Cineclube, cinema & educação. Londrina: Práxis, Bauru: Canal 6, 2010, p. 175-192.
ROSSINI, Miriam de Souza. Cinema e história: uma abordagem historiográfica. In: História UNISINOS/Centro de Ciências Humanas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – número especial – São Leopoldo: Unisinos, 2001, p. 117-136.