Índice
13 Prólogo 17 Introdução
A grande história das origens
Os mitos fundadores e a ciência, 18; Uma linguagem complicada, 21; Uma viagem perigosa, 23; As duas vias da sabedoria, 25; Abandonai todo o preconceito, vós que entrais, 29
33 No início, era o vazio
Um Universo gigantesco e em expansão, 34; O Big Bang, 39; Um Universo nascido do vazio, 43; Vazio ou nada?, 49; Vazio e caos, 54
57 Dia 1
Um sopro imparável produz a primeira maravilha
Um estranho campo primordial, 58; Uma expansão irrefreável, 61; O sucesso da teoria inflacionária, 65; À procura da arma do crime, 69; Na era mítica da Grande Unificação, 72
77 Dia 2
O delicado toque de um bosão muda tudo, para sempre
O encantamento de Narciso, 79; A beleza da simetria quebrada, 84; A descoberta do bosão de Higgs, 89; Quem desfez a simetria entre matéria e antimatéria?, 92; A mais profunda das simetrias, 96; Os aceleradores do futuro, 99
105 Dia 3
Nascimento dos imortais
O mais perfeito dos líquidos, 107; Os protões são eternos, 109;
Leves e, todavia, indispensáveis, 113; Os mais tímidos e gentis desaparecem primeiro, 115; Constituirão o coração das estrelas, 118
121 Dia 4
E, finalmente, fez-se luz
Um mundo sem luz e povoado por entidades escuras, 123; Chega a hora da matéria, 128; As mensagens secretas escondidas no muro, 130; Uma história muito pormenorizada, 133
139 Dia 5
Acende-se a primeira estrela
E, por fim, saímos para reencontrar as estrelas, 141; A era épica das megaestrelas, 145; Um inacreditável fogo‑de‑artifício cósmico, 149; O fascínio das estrelas negras, 153; A singularidade dos buracos negros, 155; Uma fusão que vale ouro, 158
161 Dia 6
E o caos trasveste-se de ordem
Spira mirabilis, 162; Galáxias, aglomerados e colisões, 164; O coração das trevas da nossa Via Láctea, 166; Não acordem o dragão adormecido, 170; As subtis flechas de Oríon, 175
181 Dia 7
Um fervilhar de formas complexas
O Sol e os seus vagabundos, 184; Ainda bem que a Theia nos devastou, 187; O berço da complexidade, 191; Exoplanetas, 197
203 Aquilo que nos torna humanos
A construção do simbólico, 203; No início, era o Thauma, 209; O poder da imaginação, 213
217 Epílogo
O massacre da Assunção 221 Agradecimentos
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Prólogo
«Professor, como está? Posso fazer-lhe uma pergunta? Terei eu percebido que ainda está vazio? Isto é, todo o Uni-verso que nos rodeia? Incluindo Donald Trump e os accionis-tas da FCA, que me estão a enlouquecer. Isso é extraordinário. Genial. Sempre soube que deveria estudar física e pôr de lado todos estes disparates de que me ocupo há quarenta anos.»
Sergio Marchionne liga-me dos Estados Unidos no final da sua diabólica rotina semanal: alguns dias em Maranello, segue de helicóptero para Turim e depois apanha um voo para Detroit, termina a semana para recomeçar tudo novamente. Monotonia permanente, sem pausas nem períodos de des-canso.
Tudo começou em 2016, no final de Julho, quando me convidaram a visitar a fábrica da Ferrari para uma entrevista. Para mim, foi uma oportunidade de ver pessoalmente aquelas pequenas jóias da tecnologia e conversar com os jovens técni-cos e engenheiros que dedicam aos novos modelos a atenção quase obsessiva dos velhos artesãos. A manhã decorreu num ápice e já estamos sentados à mesa do restaurante onde almo-çava Enzo Ferrari. Por todo o lado, as fotos do «patriarca» e as recordações dos inúmeros triunfos. Enquanto conversamos sobre a Fórmula 1 e sobre os carros eléctricos da Ferrari, recebo um telefonema completamente inesperado: é o Sergio Marchionne, que me pergunta se posso passar pelo seu escri-tório para o cumprimentar.
G U I D O T O N E L L I
Subo aos andares superiores, convencido de que receberei umas breves boas-vindas de cortesia. Em vez disso, sem sequer ter tempo para me sentar, é-me disparada à queima-roupa a menos óbvia das perguntas: «Professor, acredita em Deus?»
Com um início destes, não restavam dúvidas de que estas não seriam umas breves e formais boas-vindas. Passámos a hora que se seguiu a falar de como nasceu o Universo, a dis-cutir o que é o vazio e a interrogar-nos sobre o nascimento do espaço-tempo e sobre o seu fim. Marchionne acende cigarros sucessivamente, enquanto pede explicações sobre tudo. Leio nos seus olhos uma sincera curiosidade e fascínio. «Estas são as coisas que gostaria de ter estudado enquanto jovem. Nunca estive à altura de enfrentar as matérias científicas. Foi por isso que tirei uma licenciatura em Filosofia. Depois, a vida levou-me numa direcção completamente diferente.» E fala-me da sua adolescência canadiana, nada simples, e das circunstâncias, algumas fortuitas, que o levaram a comandar uma das empresas mais importantes do mundo.
Quando a secretária nos informa de que o motorista que me acompanhará ao aeroporto estava bastante preocupado, porque eu corria o risco de perder o voo de regresso, tivemos de nos despedir. Antes de partir, Marchionne pediu-me que fizesse uma dedicatória no livro O Nascimento Imperfeito das
Coisas, e avisei-o de que o interrogaria para verificar se o havia
lido. Quando recebo a primeira chamada, passadas algumas semanas, compreendi que ele não tinha perdido tempo.
Daqui nasceu um contacto assíduo que me leva de volta a Modena meses depois, por ocasião do encontro anual que a Ferrari organiza com os gestores dos parceiros mais importantes. Ao jantar, continuámos o nosso jogo de per-guntas e respostas, desta vez com a participação dos outros comensais. E passámos a noite a discutir buracos negros, Stephen Hawking e ondas gravitacionais. Pouco antes de a sobremesa ser servida, Marchionne interrompe tudo e todos
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G É N E S I S : A H I S T Ó R I A D O U N I V E R S O E M S E T E D I A S
e convida-me a usar da palavra. Pede-me que fale do nasci-mento do Universo e da descoberta do bosão de Higgs sem piedade alguma: «Dê-nos com tudo o que tem, professor. Quero que este pessoal entenda quais são as coisas verdadei-ramente importantes no mundo.»
No final da noite, agarrando-me pelo braço, diz-me: «Daqui a alguns anos, deixo tudo isto e volto a estudar física novamente. Prometa-me que me preparará uma pequena lista de textos, explicativos quanto baste, sobre a mecânica quântica e as partículas elementares, que me permita obter uma melhor compreensão.»
Costumo dizer que as grandes questões analisadas pela física estão dentro de cada um de nós e que aquela curiosi-dade primordial continua a arder no âmago de todos. Prometo enviar-lhe a bibliografia, mas não consigo esconder um certo cepticismo no meu olhar. «Professor, acredite em mim, irei fazê-lo.» Nenhum dos dois, naquele momento, podia imaginar quão rapidamente estes projectos levariam uma reviravolta.