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Academic year: 2021

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29/03/2021

Número: 0601043-20.2020.6.09.0144

Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL

Órgão julgador: 141ª ZONA ELEITORAL DE ANÁPOLIS GO

Última distribuição : 03/12/2020

Valor da causa: R$ 0,00

Assuntos: Abuso - De Poder Político/Autoridade

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO

Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

#-Ministério Público Eleitoral 03 Anapolis (REQUERENTE)

DOMINGOS PAULA DE SOUZA (REPRESENTADO) VICTOR LISBOA CAMPOS (ADVOGADO) WANDIR ALLAN DE OLIVEIRA (ADVOGADO) PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE GOIÁS (FISCAL

DA LEI) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 83698 929 29/03/2021 13:38

Sentença

Sentença

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS

JUÍZO DA 141ª ZONA ELEITORAL DE ANÁPOLIS GO

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (11527)

PROCESSO Nº 0601043-20.2020.6.09.0144

REQUERENTE: #-Ministério Público Eleitoral 03 Anapolis

REPRESENTADO: DOMINGOS PAULA DE SOUZA

ADVOGADO: VICTOR LISBOA CAMPOS - OAB/GO37795

ADVOGADO: WANDIR ALLAN DE OLIVEIRA - OAB/GO27673

FISCAL DA LEI: PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE GOIÁS

SENTENÇA

Versam os autos sobre Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE, proposta pelo Ministério Público Eleitoral, em desfavor de DOMINGOS PAULA DE SOUZA, candidato ao cargo de vereador nas Eleições 2020, com fulcro no artigo 73, inciso I, § 12 º, da Lei nº 9.504/97, artigo 22, caput, inciso XIV c/c artigo 24, ambos da Lei complementar nº 64/90, para apuração de suposto crime eleitoral consistente na prática de abuso de poder político e conduta vedada, durante a campanha eleitoral.

Em suma, narra a inicial que o investigado, na condição de vereador e candidato à reeleição, estaria utilizando-se de aparelho celular pertencente à Câmara Municipal de Anápolis para promover sua campanha eleitoral através do aplicativo de mensagens Whatsapp; Que os documentos que instruem o pedido comprovam que a linha telefônica nº (62) 99234-4399 pertence, de fato, à Câmara Municipal, está ativa e em uso pelo investigado;

Que após a apreensão do referido celular, por via judicial (0600437-98.2020.6.09.0141), o mesmo foi submetido à perícia pela Polícia Federal, permitindo-se inferir que o investigado efetivamente utilizou-se de bem público em sua campanha de reeleição, conforme Laudo nº 755/2020 – SETEC/SR/PR/GO;

Aduz ainda que tal conduta, além de atentar contra a igualdade e legitimidade das eleições, evidencia abuso de poder político e prática de conduta vedada, com potencial para influir no resultado da eleição;

Ao final, requereu a procedência do pedido para que seja determinada a cassação do registro de candidatura ou do diploma do investigado; declarada sua inelegibilidade para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à de 2020 e aplicação de multa, nos termos da legislação.

Devidamente notificado, o investigado apresentou defesa acompanhada de documento, argumentando, em síntese, nulidade de provas (preliminar), por entender não ser cabível a realização de perícia criminal em procedimento cível/eleitoral de busca e apreensão;

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de campanha eleitoral; Que em razão da natureza jurídica do contrato, o aparelho telefônico em questão não pertence à Câmara Municipal, mas à empresa telefônica CLARO, não subsistindo a tese de uso indevido de bem público; Que o celular apreendido é modelo Iphone, enquanto aquele constante no contrato de comodato, que estaria afeto ao interesse público, é da marca Samsung;

Finalizando, requereu a improcedência de todos os pedidos.

Audiência de instrução realizada em 04/03/2021, na qual foram ouvidos, o representado (por meio de videoconferência) e as testemunhas arroladas pelas partes (de forma presencial).

Encerrada a dilação probatória e, como não houve diligências ou requerimentos a serem cumpridos, abriu-se prazo comum de 02 (dois) dias para alegações finais pelas partes, as quais foram apresentadas, basicamente repisando os termos da inicial e da contestação.

Brevemente relatado, decido.

O processo está em ordem, não se vislumbrando irregularidades a serem sanadas. As condições da ação e os pressupostos processuais de existência e validade encontram-se presentes. O rito previsto em lei para o caso em comento foi observado, assim, o feito encontra-se pronto para receber sentença.

Quanto à preliminar de nulidade de provas - Diante dos indícios da prática de ilícito eleitoral, foi deferida, em procedimento cautelar, a apreensão do telefone celular em poder o investigado, bem como, a realização de perícia pela Polícia Federal, para e extração dos dados armazenados no aludido aparelho.

Tal medida se fez necessária para que, diante da gravidade das alegações do fato delitivo, da dinâmica de ocorrência e, principalmente, por estar em pauta o interesse público, consubstanciado na lisura do processo eleitoral, fossem dirimidas dúvidas acerca de pontos relevantes e urgentes, que corriam o risco de perderem-se com o passar do tempo.

Para comprovação da existência do fato, com vistas a elucidá-lo e, assim, possibilitar ao julgador que profira uma decisão justa, foi realizada perícia essencialmente técnica, que resultou na elaboração do Laudo nº 755/2020 –

SETEC/SR/PF/GO, cujo documento o investigado teve pleno conhecimento e acesso, em absoluto respeito aos

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, nada sendo questionado naquela oportunidade.

Ressalto que, na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo, a teor do que dispõe o artigo 219 do Código Eleitoral.

Assim, por entender que a perícia realizada pela Polícia Federal é essencial como meio de prova para a elucidação do caso e, como não houve qualquer prejuízo ao investigado, NÃO ACOLHO a preliminar de nulidade de provas.

Superada a arguição preliminar, passo à análise das razões de mérito.

Após minuciosa leitura da peça de defesa e documentos que a instruem, vejo que o investigado contradiz os motivos que ensejaram a presente ação, alicerçando seus argumentos em três pilares: 1) que não houve utilização de bem público para fins de promoção de campanha eleitoral; 2) que o aparelho telefônico em questão não pertence à Câmara Municipal, mas à empresa telefônica CLARO; 3) que o celular apreendido é modelo Iphone, enquanto o que estaria afeto ao interesse público é da marca Samsung, inexistindo, portanto, a prática de conduta vedada ou ilícito eleitoral que

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dê azo à cassação do mandato e demais efeitos.

Sobre o primeiro argumento - “que não houve utilização de bem público para fins de promoção de campanha

eleitoral” - Nesse aspecto, o deslinde da questão não deve ater-se simplesmente à materialidade física do bem público

em si, conforme disciplinado no Código Civil. O cerne da questão é saber se o investigado utilizou-se do serviço de

telefonia disponibilizado pela Câmara Municipal (exclusivamente para o exercício das atividades parlamentares), para promoção pessoal e de sua campanha à reeleição.

Ora, o aparelho celular (bem material) é apenas e tão somente um instrumento pelo qual a pessoa vai fazer uso do que é o mais importante: o serviço de telefonia. Em outras palavras, o telefone é o meio e não o fim. Sem a prestação do aludido serviço, o telefone celular perde totalmente a sua utilidade, sobretudo em tempos de predominância da internet e das redes sociais.

Ainda que o serviço de telefonia não seja corpóreo, ele goza de status de bem público, segundo lição do saudoso Professor Hely Lopes:

Bens públicos são todas as coisas corpóreas ou incorpóreas, imóveis, móveis ou semoventes, créditos, direitos e ações que pertençam, a qualquer título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e paraestatais”.

Nessa linha de raciocínio, o bem público que merece proteção contra o uso indevido e/ou abusivo não é o aparelho celular, mas o serviço de telefonia contratado pela Câmara Municipal, pago pelos cofres públicos e

disponibilizado ao edil para uso apenas e tão somente em suas funções públicas.

No caso em questão, em 19/10/2020, foi apreendido em poder e uso pelo investigado, um aparelho celular com o chip

da linha telefônica nº (62) 99234-4399 (Pós-Pago 3G), ativo desde: 30/04/2011, pertencente à Câmara Municipal de Anápolis, de onde pode ser extraído, após a realização de perícia técnica, o disparo em massa de mensagens

através do aplicativo Whatsapp, de propaganda eleitoral com expresso pedido de votos, conforme abaixo transcrito:

Pessoal, boa tarde! Tô passando aqui, tô fazendo uma lista de transmissão para todos os contatos nossos, que tem no nosso telefone...já que o nosso telefone foi clonado, nosso telefone de whatsapp. Esse é o nosso novo número. E aproveitar a oportunidade e pedir aí o seu voto para Vereador e para Prefeito! Se você não tiver o seu candidato nem a Vereador e nem a Prefeito, vote DOMINGUINHOS DO CEDRO: 43051; e, para Prefeito, ROBERTO: 11”

A título de exemplo, entre os dias 13/10/2020 e 18/10/2020, foram enviadas, com o fito propósito de alavancar e promover a campanha de reeleição do investigado, aproximadamente mil e setecentas mensagens pelo aplicativo Whatsapp, contendo vídeos, áudios e farta propaganda eleitoral através da linha telefônica mantida pela Câmara Municipal de Anápolis.

Dessa forma, não há como negar dois fatos: que o serviço de telefonia mantido pela Câmara Municipal é um bem público e, como tal, deve ser utilizado para o exercício da função pública; que o aludido bem público, consubstanciado na linha telefônica nº (62) 99234-4399, foi indevida e ilegalmente colocado a serviço da campanha eleitoral do investigado, motivo pelo qual, REJEITO o primeiro argumento.

Vamos à análise do segundo argumento - “que o aparelho telefônico em questão não pertence à Câmara

Municipal, mas à empresa telefônica CLARO” - Conforme demonstrado no item anterior, a propriedade do aparelho

telefônico colocado à disposição do parlamentar é irrelevante, sobretudo, num cenário em que se busca a apuração do uso indevido de um bem público incorpóreo, no caso, o serviço de telefonia e não o equipamento eletrônico, em si.

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Em nenhum momento o investigado contestou a utilização do serviço de telefonia mantido pelo legislativo municipal, através da linha telefônica nº (62) 99234-4399, quando da apreensão do celular, mas apenas a propriedade do equipamento.

Ora, indiferente de quem exercesse a “propriedade legal do aparelho”, o serviço de telefonia continuaria inteiramente à disposição do investigado com a simples troca do chip, o que de fato, ocorreu na prática. Portanto, tal alegação não invalida a prova pericial, da qual se extraiu o uso indevido do bem público, razão pela qual, REJEITO o segundo argumento

Quanto ao terceiro e último argumento da defesa - “que o celular apreendido é modelo Iphone, enquanto o que

estaria afeto ao interesse público é da marca Samsung” - Tal argumento confunde-se com o segundo e, igualmente,

não merece ser acolhido. Não interessa ao desfecho da questão se o aparelho era da marca “A” ou “B”. O fato é que, com o investigado foi apreendido um celular e nele encontrava-se ativo e em pleno uso o chip da linha telefônica (62)

99234-4399 (bem público) vinculada à Câmara Municipal de Anápolis, sendo comprovado posteriormente, por meio de

perícia técnica, que o investigado a utilizava para fins de promoção pessoal e impulsionamento de sua campanha à reeleição.

No tocante à prova testemunhal produzida pelo investigado, entendo que tais depoimentos não acrescentaram nenhum elemento capaz demonstrar a inexistência da conduta delitiva ou desconstituição da prova técnica.

Concluída a análise da tese defensiva, passo à ponderação da conduta do investigado.

Nos termos do artigo 22, XVI, da LC nº 64/90, para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizaram.

Assim, é impossível não levar em consideração a gravidade da conduta do investigado, materializada no disparo em massa de propaganda eleitoral, via Whatsapp, valendo-se de linha telefônica mantida pela Câmara Municipal, para atividade legislativa.

Inegável, portanto, que o investigado, na condição de vereador eleito e detentor de mandato, fez uso da estrutura da Câmara Municipal para influenciar os eleitores e angariar votos, colocando o interesse particular acima do interesse público, de modo que sua conduta atenta contra à liberdade do voto, probidade administrativa e moralidade para o

exercício do mandato, evidenciando ABUSO DE PODER POLÍTICO.

Em um estado democrático, a ocupação de cargos eletivos deve ser precedida por um processo de disputa que proporcione igualdade de condições a todos. Portanto, não há mais espaço para a “velha política” em que o detentor do mandato sentia-se o “senhor” da coisa pública, dela se servindo para manter-se no cargo, a qualquer custo.

O exercício da vereança é, antes de tudo, um “múnus público”, que não se limita apenas às funções de legislar e fiscalizar, mas se reveste de uma dimensão social, em defesa do interesse e do bem estar da coletividade, jamais um

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privilégio individual, utilizado para satisfação de objetivos pessoais.

Pelas razões amplamente discorridas e, sobretudo, pelo conjunto fático-probatório que emerge dos autos, tenho a plena convicção de que as ações do investigado configuram a prática de conduta vedada aos agentes públicos em campanha eleitoral, nos termos do artigo 73, II, da Lei nº 9.504/97, consistente no uso de materiais ou serviços, custeados

pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas e normas dos órgãos que o integram.

Face ao exposto, julgo PROCEDENTE o pedido e, amparado no artigo 22, XIV, da Lei Complementar nº 64/90, determino a CASSAÇÃO DO DIPLOMA DE VEREADOR, concedido ao investigado DOMINGOS PAULA DE SOUZA, declarando-o INELEGÍVEL para as eleições a realizar-se nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição municipal de 2020.

Como consectário legal da prática de conduta vedada, CONDENO o investigado ao PAGAMENTO DE MULTA no valor corresponde a 10.000 (dez mil) UFIR, nos termos do artigo 73, § 4º, da Lei nº 9.504/97.

Transitada em julgado a presente decisão, notifique-se a Câmara Municipal de Anápolis, para dar posse imediata ao primeiro suplente, observadas as normas regimentais da casa.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Transitado em julgado, arquivem-se os autos.

ANÁPOLIS, 26 de março de 2021

CARLOS JOSE LIMONGI STERSE

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