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Mulheres na Bahia seiscentista: novos agentes de poder no Brasil colônia (séculos 16-17)

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1 Mulheres na Bahia seiscentista: novos agentes de poder no Brasil colônia (séculos 16-17)

Irene María Vicente Martín European University Institute Maurithuis Museum

Introdução

Cônjuges indígenas, administradoras temporárias e órfãs da rainha. Essas têm sido as três categorias que nos últimos anos permitiram às mulheres aparecer nas análises históricas do Brasil seiscentista. O equivalente brasileiro da Malinche, Catarina Paraguaçu, observou recentemente ser-lhe reconhecido seu papel de ‘go-between’, isto é, de intermediária ativa na união inicial das populações nativas com os recém-chegados à Baía de Todos os Santos, resultado do seu casamento com o náufrago português Diogo Álvares Correia, ‘Caramuru’.1 Da mesma forma, Ana Pimentel e Brites de Albuquerque, têm a honra de serem vistas como as "primeiras governadoras do Brasil", pois na ausência de seus maridos, os capitães donatários Martim Afonso de Sousa e Jorge de Albuquerque Coelho, governaram por procuração São Vicente (c. 1534-6) e Pernambuco (1553-1560/ 1572-1584).2 Finalmente, não faltam estudos sobre as órfãs da Rainha, mulheres de nobre geração protegidas pela Coroa que, enviadas ao Brasil e casadas ‘com os homens da República’, contribuíram para a formação de um núcleo social cristão e nobre.3

Embora seja impossível negar o progresso feito nos estudos sobre a mulher no período colonial, as três categorias anteriores certamente reproduzem as interpretações tradicionais androcêntricas. De acordo com tais noções, as mulheres merecedoras de aparecer nos estudos eram apenas aquelas que conseguiam se inserir em práticas tipicamente masculinas. Por acaso, Catarina Paraguaçu e Brites de Almeida se destacaram, justamente, por ocupar dois espaços reservados aos homens, seja em uma posição predominante na Vila Velha do Pereira Coutinho ou como governadora de Pernambuco. Se olharmos de perto, enquanto a maioria da população feminina permaneceu ausente da historiografia geral, aquelas estudadas foram sempre

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2 consideradas como algo extraordinário, como uma anedota, como a exceção que confirma a regra.

No seu trabalho clássico sobre a sociedade da América espanhola, J. Lockhardt (1972) enunciou que

‘as mulheres não são apenas uma parte essencial de qualquer tratamento equilibrado da história social, mas é através de sua presença ou ausência, seus casamentos, dotes, atividades e propriedades, como são uma dimensão absolutamente indispensável da qualidade e velocidade do desenvolvimento social geral, assim como da posição, e afiliação de qualquer individuo do sexo masculino’4.

Esta constatação foi aceita no Brasil por dois autores de destaque, C. R. Boxer e A. J. R. Russell-Wood, quem com Women in the Iberian Expansion, 1415-1815 (1975) e Women and Society in Colonial Brazil (1977) iniciaram a mudança interpretativa. Porém, ambos estudos ainda mantinham a noção da sociedade como sendo patriarcal, assentada nos 1940s com Casa-Grande e Senzala (1943) e Formação do Brasil Contemporâneo (1946), noção também mantida por T. Coates quando, em seu Exiles and Orphans (1993), referiu às mulheres seiscentistas como prostitutas, órfãs ou exiladas.5 No entanto, foi este historiador quem realmente rompeu com a metodologia anterior. Através do estudo das órfãs como grupo, dotou-as de agência no processo de formação da sociedade colonial, possibilitando dotou-assim novdotou-as possibilidades de estudo.

Baseado no fato destas categorias não terem sido eficazes em valorizar a atividade das mulheres na sociedade colonial, este escrito procura demonstrar como a mudança no foco teórico dá acesso a novas informações sobre as mulheres e seu poder na Bahia seiscentista. Susan Schroeder (1997) declarou para o México colonial que ‘o verdadeiro poder das mulheres veio através da meticulosa execução dos seus papéis de gênero’6. Nessa linha, estudos mais recentes focados no caso do Brasil vêm enfatizando as mesmas conclusões, sendo exemplos as análises globais feitas por C. Sarmento (2008), Sara Owens e Jane Mangan (2012) e Douglass Catterall e Jodi Campbell (2012), que deram às mulheres um papel de liderança na configuração do Atlântico como cenário de intercâmbios sociais, culturais e políticos.7

Assim, as páginas que seguem não têm a intenção de contar uma história de gênero, ainda menos de esconder a realidade de que as mulheres desta época foram, em sua maioria,

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3 relegadas ao status de esposas, mães ou filhas. Pelo contrário, os dois casos aqui expostos, nomeadamente o de Felícia Lobo e Joana de Sá, mostrarão como o poder também foi feito dessas, suas duas grandes ferramentas: o matrimônio e a descendência. No final se confirmará que as mulheres com poder na Bahia colonial não foram apenas exceções, e também, através do estudo de suas trajetórias, se apontará como uma realidade mais completa do Brasil seiscentista pode ser acessada.

A presente comunicação é parte da minha pesquisa de Doutorado que estou a desenvolver no Instituto Universitário Europeu de Florença, cuja proposta é apontar às relações interpessoais como sendo o principal motor do exercício político na cidade de Salvador entre 1580 e 1640. Nela, a análise das assimetrias de gênero não aparece abordada de uma maneira específica. A inexistência da documentação notarial impede o acesso sistemático às mulheres, suas propriedades ou seus patrimônios. Mas é certo que sua atividade é bem visível em muitas outras fontes, geralmente consideradas indiretas pela história de gênero, tais como nomeações políticas, pedidos de mercê ou cartas de sesmaria. É através do método prosopográfico e de redes sociais, junto com a documentação da Torre do Tombo, do Arquivo Ultramarino, do Arquivo Público do Estado da Bahia e do Arquivo Histórico Municipal de Salvador, como os dois exemplos expostos têm sido identificados e, apesar de eles aparecem desfocados na minha pesquisa doutoral, aqui tomam uma posição de destaque.

As mulheres e suas escolhas

O caso de Felícia Lobo é interessante por se tratar de uma mulher não só com capacidade de escolha, mas com uma determinação de ter liberdade decisória que só conseguiu conquistar no decorrer dos seus quatro matrimônios. Conforme visto, sempre foi enfatizado que as competências de decisão da mulher eram substancialmente menores que as do seu parceiro masculino, uma inferioridade ainda mais pronunciada quando se tratou do planejamento do futuro familiar. Porém, Felícia Lobo mostra como o matrimônio e a descendência não foram as únicas metas da mulher e, embora fossem geralmente o meio dos homens para reproduzir seu status em seus filhos, no caso delas foi o motor principal do seu próprio avanço social, econômico e pessoal.

Felícia Lobo nasceu por volta da década dos 1580, sendo a quarta filha do casal formado por Gaspar Barros de Magalhães, contador da Bahia por provisão de Mem de Sá (1560)8 e

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4 Catarina Lobo, ‘uma das órfãs que a rainha D. Catarina mandou a este Estado [do Brasil]’ como ela mesma declarou em frente ao visitador Heitor Furtado em 1591.9 De acordo a E. de Mesquita Samara, a família de Felícia estava situada no topo da hierarquia social, formada pelos portugueses instalados na Bahia no começo da colonização, como Gaspar de Barros, fidalgo e dono de lavouras; e suas mulheres, fossem elas indígenas ou melhor ainda, portuguesas, como no caso de Catarina, enviada pela rainha ‘para casar com as pessoas principais da cidade’, de acordo ao seu status de órfã régia.10 Embora Felícia fosse a quarta filha deste casal, a dinâmica social fez dela a transmissora dos bens de seu pai já que, uma vez que ele morresse, as propriedades passariam para os filhos dela.11 Os irmãos de Felícia seguiram uma dinâmica familiar semelhante com suas esposas, recebendo em usufruto os bens dos seus sogros e fazendo de seus filhos os depositários finais, como evidenciado no caso de Gaspar de Barros (...-1628) que, tendo casado com a filha de Martim Afonso Moreira -familiar de Martim Afonso de Sousa12-, herdou suas fazendas em Passé13 e continuou sua carreira política, aparecendo em 1618 com a mesma posição de vereador que seu sogro tinha tido em 1604. 14 Dependia, portanto, a Felícia casar-se com alguém que, em troca de receber os bens de seu pai, contribuísse para o aumento da riqueza patrimonial da nova família, a qual acabaria recaindo nos filhos de ambos. O primeiro marido de Felícia Lobo foi Pedro Dias, ‘natural de Porto, cristão-velho, de idade de 50 anos, mercador e lavrador rico’, com quem casou em 1582 a pedido do seu pai, Gaspar Barros de Magalhães.15 O fidalgo já tinha aplicado a mesma estratégia nas irmãs de Felícia, Victoria e Paula de Barros, casadas com homens da mesma ocupação, nomeadamente o mercador Manoel de Freitas16 e Manoel de Paredes, que só abandonou os negócios para se dedicar à lavoura.17 A carreira de Pedro Dias, no entanto, não se mostrou favorável aos Barros: em 1591, o genro foi excomungado ‘por ter posto fogo as lavouras de Manoel Ferreira’18, parceiro do seu sogro, e, embora a data de sua morte não seja conhecida, esta condição significou sua queda da graça tanto social quanto familiar. Em 1600 Felícia já declarava ser viúva no mesmo ato em que jurava respeitar os votos de casamento diante do seu segundo marido, Paulo de Argolo (...1619). Este novo matrimônio trouxe diferentes resultados para Felícia, e é com ele que sua capacidade de escolha já está começando a se manifestar, atingindo seu ápice após a morte de Paulo.

No momento do casamento, o pai de Felícia já estava morto e Paulo de Argolo, embora tendo sesmarias em Passé19 e sendo vereador (1607) e provedor da Alfândega (1608), não

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5 representava um aumento significativo do status familiar. Os pais do novo esposo eram de uma condição muito semelhante aos de Felícia, tendo sido Rodrigo de Argolo (...-1563) parceiro de Tomé de Sousa e sua mãe, órfã da rainha e irmã da de Felícia.20 Casamentos entre primos, como este de Felícia e Paulo eram bem comuns no seiscentos, e suas causas podiam ser variadas. Nesse caso, de seu primeiro marido, Felícia havia tido 4 filhos21 -nada comparável aos 11 que teria com seu segundo companheiro22-, mas o descrédito público de Pedro Dias foi provavelmente o incentivo para o casamento de Felícia e Paulo, cujo claro objetivo foi evitar a desmembração do patrimônio original dos grandes fazendeiros, os seus respetivos pais, os sogros Gaspar de Barros y Rodrigo de Argolo. Resolvido o problema, bem mais familiar do que econômico, a morte de Paulo não deve ter causado grandes desagravos em Felícia, que apenas um ano mais tarde desposou a Vicente Coelho, cuja ausência na documentação baiana é claro indício de que seu casamento não foi uma estratégia de linhagem local.23 Embora o vazio documental impede fazer maiores afirmações, o que é claro é que uma vez que Felícia cumpriu com suas obrigações como filha, esposa e mãe, pouco restava para ela fazer em Salvador: em meados de 1620, foi morar no Rio de Janeiro, desta vez como esposa do seu quarto e último marido, o capitão de Espírito Santo24 Constantino Menelao, amigo pessoal do governador-geral Diogo de Meneses e militar ativo na expulsão dos franceses de Cabo Frio25, com quem não teve descendência, possivelmente por causa de sua idade ou porque essa, sua funcionalidade reprodutiva, já estava desempenhada.

As mulheres como motor individual de crescimento coletivo

Juntamente com as possibilidades que o estudo dos vínculos maritais oferece para a -mais que urgente- redefinição do poder, o exemplo de Felícia Lobo já aponta para a segunda via para exercê-lo que as mulheres tiveram no período colonial: a da transmissão dos bens familiares. Como mencionado, a primeira hierarquia baiana foi ordenada de acordo com a ocupação de cargos na administração inicial de Pereira Coutinho (1533-5) ou Tomé de Sousa (1549-52), e a consequente propriedade de terras ou fazendas obtidas através de sesmarias como pagamento por esses cargos. No caso de Felícia Lobo, primeiro o fato de pertencer a uma família com essas origens tão claras, e depois os casamentos mais ou menos vantajosos que conseguiu encadear, deram-lhe um alto status pessoal pronto traduzido em grande capacidade de decisão. É especialmente na última etapa de sua vida que isso se torna visível, quando com

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6 seu terceiro e quarto marido ela abandona toda reivindicação material e, de forma simples e clara, coloca sua individualidade antes da de sua família.

De uma forma ligeiramente diferente de Felícia Lobo, a atividade de Joana de Sá Bettencourt também se enquadra no âmbito das decisões individuais, mas desta vez com claros propósitos coletivos. O benefício pessoal não foi a prioridade para ela, e Joana formalmente optou por cooperar com sua família, estabelecendo como meta individual o crescimento da linhagem à qual pertencia. Joana de Sá procedia, como a Felícia Lobo, de uma linhagem ilustre, o que torna suas origens fáceis de rastrear nas fontes, mas ao concentrar o análise em suas ações e escolhas uma vez mas, pode-se ver que as propriedades e posições dos seus irmãos ou pais são relegados para segundo plano, revelando-se que foi ela, Joana, a contribuinte mais ativa para a perpetuação do status de sua família.

Joana de Sá Bettencourt era filha de Cristóvão de Sá Bettencourt, 'lavador' e Francisca Barbosa, bisneta de Diogo Álvares Correia, Caramuru e sua esposa Catarina Paraguaçu.26 O sobrenome francês Bettencourt não deve confundir ao/o leitor, pois foi Cristóvão 'cristão velho natural de Lisboa, filho de Francisco Álvares (...) e morador em Sergipe'27 que depois de passar algum tempo em Madeira provavelmente chegou em Salvador na comitiva do Governador Brito de Almeida (1572) sabendo que a sua armada parou na ilha, ou nalguma outra enviada do reino naquela década. A hierarquia da família é assim demonstrada, pois tanto Cristóvão quanto Francisca combinavam perfeitamente a fidalguia de Portugal e o linhagem baiano, tudo isso herdado pela única filha do casal, Joana de Sá.

Em meados dos 1580s aparece Joana casada com Jorge Antunes, cristão-novo e senhor de engenho. Não tem sido possível descobrir as verdadeiras razões deste matrimônio, mas é provável que seu status religioso fosse esquecido dada a pertença de Jorge Antunes à ‘gente de Matoim’, associada a Mem de Sá e proprietária de uma das maiores fazendas do período. Gabriel Soares, no seu Tratado Descritivo (1587), já dizia de Jorge Antunes que, em 1587, possuía ‘um engenho muito pertrechado (sic) de edifícios e casas’28. Entretanto, quatro anos depois, o bem-estar público do jovem casal se viu notavelmente perturbado: como uma das famílias mais perseguidas pela Inquisição de 1591, os de Matoim viram aos seus parentes serem degredados ou encadeados para Lisboa, e com isso, o engenho que os caracterizava, não mais lhes pertenceu. A documentação enche-se então de informações sobre o novo proprietário, aparentemente um advogado de Coimbra, Sebastião Cavalo de Carvalho, fidalgo e professo na

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7 Ordem de Cristo quem ao chegar à Bahia em 1582 tinha servido como ouvidor na cidade, só depois adquirindo os médios econômicos e os contatos necessários para empreender a atividade açucareira. Mas na documentação pessoal do letrado também aparece um detalhe esclarecedor: sua primeira esposa na colônia foi nada mais e nada menos que Joana de Sá, que através do letrado recuperava a propriedade da fazenda de seu primeiro marido.29

Que este casamento dependeu fortemente dela pode-se afirmar, dado que o descrédito dos Antunes também a afetou, fazendo-a casar-se com um burocrata recém-chegado que, no início, não oferecia um status tão elevado na Bahia quanto os de Matoim, que a povoaram em tempos de Mem de Sá. No entanto, o que não pode ser dito tão claramente é que fora o engenho a causa do casamento. Joana de Sá, é claro, nunca foi a proprietária, e Sebastião Cavalo o adquiriu quando já era casado com ela. Seja como for, o que não deixa dúvida é Joana de Sá combinou magistralmente suas origens familiares, seu primeiro matrimônio e sua decisão de casar-se com um letrado português o que fez, não só que três famílias inicialmente diferentes viram seus caminhos cruzados, senão que todos eles mantiveram o ampliaram sua posição social, já foram os Bettencourt-Barbosa, cuja filha casou com um senhor de engenho; os Antunes, que mantiveram a propriedade através da mulher dum deles; e os Cavalo de Carvalho, que logo depois de chegar na cidade já se integraram no topo da hierarquia política e latifundiária.

Considerações finais

Felícia Lobo e Joana de Sá são apenas dois dos inúmeros perfiles femininos que participaram e contribuíram para a formação das relações sociais e de decisão no Brasil seiscentista. Nenhuma delas foi administradora, nem possuiu engenho nem esteve ligada diretamente à Corte. Mas as duas alcançaram uma posição de destaque na sociedade baiana através de intrincadas estratégias relações que ultrapassaram as limitações e dificuldades impostas pela história e a historiografia nas mulheres do período moderno. Ao fazer pleno uso do matrimônio, da procriação, da descendência e a consequente transmissão de bens entre os filhos, Felícia e Joana adquiriram uma posição de renome social na Bahia e no Rio de Janeiro, comparável, além das diferenças, aos vereadores, lavradores, senhores de engenho ou soldados do monarca.

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8 Estudar o poder em términos políticos e econômicos é estudar o poder em termos deterministas, pois ofícios na municipalidade e, neste caso, propriedades no Recôncavo têm uma marcada orientação masculina, ao ser os homens os depositários de ambos no período moderno brasileiro. Se, por outro lado, o interesse radica em descobrir quem tinha o poder ou a capacidade de exercê-lo, é obrigatório abandonar as definições anteriores e, sem pretensões inclusivas ou deterministas, deixar as fontes falarem por si mesmas e mostrar os verdadeiros atores. É preciso, primeiramente, retomar a questão teórica do poder no Brasil colônia, para discutir seu escopo e limitações, as múltiplas formas de exercício e suas áreas de ação, com o fim único de eliminar ou, pelo menos, evitar, o determinismo pro masculino presente na historiografia tradicional.

Assim, além de ‘ter autoridade’, entendida como o comando ou como a faculdade de ter a capacidade de fazer algo, por atributos hierárquicos ou sociais, o poder foi também uma força que permeou as relações sociais nas sociedades humanas complexas. O poder expressava-se através da força, mas antes disso, foi também uma força em si: seu significado remete tanto à posse de capacidade ou faculdade de fazer algo, como à posse do mando para fazer esse algo, seja impondo-o aos outros, seja fazendo-o por um mesmo. Assim, não há dúvida de que mulheres como Felícia Lobo e Joana de Sá puderam escolher, dentro de seus cenários, como mulheres do século 16, como evidenciado por seus casamentos e suas estratégias individuais orientadas para o bem da família.

Citações

1 (METCALF, 2005, p. 236–237)

2 (BOLÉO; PEREIRA-MÜLLER, 2019; SCHUMAHER; VITAL BRAZIL, 1997)

3 (ANJOS MARTINS, 1961)

4

No inglese original ‘women are not only an essential part of any balanced treatment of social history, but through their presence or absence, their marriages, dowries, activities, and property owning, are an absolutely indispensable measure of the qulity and velocity of general social development, as well as of any individual male’s rank, position, and affiliation’. (LOCKHARDT, 1972, p. 39–40)

5 (BOXER, 1975; COATES, 1993; RUSSELL-WOOD, 1977)

6

No inglese original, ‘real power for women came in the meticulous execution of their gendered assingments’, em (SCHROEDER; WOOD; HASKETT, 1997, p. 9)

7

(CATTERALL; CAMPBELL, 2012; OWENS; MANGAN, 2012; SARMENTO, 2008) 8

(Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 1905, p. 264) 9

(CALMON, 1985, p. 368; MENDONÇA, 1925, p. 413) 10 (CALMON, 1985, p. 356; SAMARA, 1999, p. 15–17)

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11 Pouco se sabe da família direta de Felícia Lobo. Seus quatro irmãos podem ser identificados como sendo Jerónimo de Barros, que casou com a ‘india da terra F. de Aguiar’, Baltasar Lobo de Souza, casado com Ana de Gamboa e Gaspar de Barros Magalhães ‘o novo’, que morreu solteiro. (CALMON, 1985, p. 356–357)

12

(CALMON, 1985, p. 368) 13

Sobre as propriedades e cargos de Martim Afonso, ver a (Revista do Instituto Histórico y Geografico Brasileiro, 1901, p. 164). Sobre as de Baltasar Lobo de Sousa, ver os (Documentos Históricos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 1928, p. 366)

14 (SALVADO; MIRANDA, 2001, p. 264) 15 (MENDONÇA, 1925, p. 268) 16 (MENDONÇA, 1925, p. 270–271) 17 (MENDONÇA, 1925, p. 288–290) 18 (ABREU, 1935, p. 334, 387) 19

(Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 1908, p. 63) 20 (CALMON, 1985, p. 319) 21 (CALMON, 1985, p. 355) 22 (CALMON, 1985, p. 320–321) 23 (CALMON, 1985, p. 356) 24 (CALMON, 1985, p. 356) 25

ANTT, 1606 -Novembro- 23. Carta de Capitão e governador do Rio de Janeiro a Constantino de Menelau. Chancelaria de D. Filipe II, Doações, L. 11, fl. 267 v.

26

(CALMON, 1985, p. 212) 27

(ABREU, 1935, p. 100; CALMON, 1985, p. 228) 28

(GABRIEL SOARES DE SOUSA, 2010, p. 149) 29 (MENDONÇA, 1925, p. 251,545)

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11 SALVADO, J. P.; MIRANDA, S. M. (EDS.). Livro 1o do Governo do Brasil (1607-1633). [s.l.] Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001.

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