Presença de Spirocerca lupi
(Rudolphi, 1809) em Canino –
Relato de Caso
Presence of Spirocerca lupi (Rudolphi, 1809) in a dog – case report
Chiminazzo, Claudio - Médico Veterinário, MSc, Faculdade de
Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas.
Pereira, Rosecler A.- Médica Veterinária, MSc., Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo UPF/RS.
Esmeraldino, Anamaria Telles - Médica Veterinária, MSc., Doutora,
Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas.
Rodrigues, Norma Centeno - Médica Veterinária, MSc., Doutora,
Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas. Centro de Pesquisa Veterinária “Desidério Finamor”/FEPAGRO
Ceresér, Victor Hermes - Médico Veterinário, MSc., Faculdade de
Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas.
Queirolo, Maria Teresa Costa - Médica Veterinária, Esp. , Faculdade
de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas.
Fallavena, Luiz César Bello - Médico Veterinário, MSc., Doutor,
Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA/Canoas.
Data de recebimento: 14/07/04 Data de aprovação: 28/09/04
Endereço para correspondência: e-mail: chimi@terra.com.br
RESUMO
O trabalho descreve caso de espirocercose canina diagnosticado através de exame post mortem no Hospital Veterinário da ULBRA – Canoas, RS. O exame macroscópico revelou a presença de um nódulo na parede esofági-ca que, ao corte, apresentava-se cístico, contendo exemplares do parasita e ovos característicos de Spirocerca lupi .
ABSTRACT
This work describes a case of canine spirocercosis diagnosed at post
mor-tem examination at the Veterinary Hospital of Lutherana University of Brazil
(ULBRA)S. Macroscopic examination revealed the presence of an oeso-phageal tumor, that appeared cystic on section and presented parasites and eggs of Spirocerca lupi.
Key words: spirocercosis, oesophageal tumor, cinine.
INTRODUÇÃO
A espirocercose, também conhecida como verminose esofagiana, é uma infecção dos carnívoros causada pelo Spirocerca lupi (RUDOLPHI, 1809), afetando principalmente animais de países tropicais e do sul dos EUA (CARLTON, 1995). Os parasitas adultos geralmente são localizados em nódulos nas paredes do esôfago, estômago ou aorta, onde produzem cis-tos, aneurismas e granulomas, causando inflamação granulomatosa cís-tica, que se comunica com a luz do estômago através de fístula. Descar-gas de ovos embrionados passam através da fistula para a luz esofágica saindo nas fezes do hospedeiro. Estes são consumidos pelos hospedeiros intermediários (coleópteros) os quais, por sua vez, são ingeridos por rép-teis, roedores e aves (hospedeiros paratênicos) que servem de alimentos para os carnívoros. Os cães podem se infectar ingerindo tanto os hospe-deiros intermediários como os hospehospe-deiros paratênicos. A larva liberada no estômago penetra pela parede da mucosa gástrica e realiza uma mi-gração até a parede do esôfago. O período pré-patente é de aproximada-mente seis meses, conforme Soulsby (1982). Ainda, segundo o autor, muito raramente o parasita pode ser encontrado livre no estômago ou em ou-tros órgãos dos cães. Os sinais clínicos mais comumente observados, des-critos por Lobetti (2000), Mazaki-Tovi (2002) e Ranen (2004) são vômito, tosse, regurgitação de alimentos, perda de peso, febre e fraqueza. Entre-tanto, um percentual expressivo de animais pode não apresentar sinto-matologia clínica (LOBETTI, 2000). O diagnóstico pode ser realizado atra-vés de exame parasitológico de fezes (Técnica de Flutuação), endoscopia e por métodos radiológicos. Em pesquisa realizada por Mazaki-Tovi (2002), de 14 cães positivos para espirocercose, 13 apresentavam granulomas eso-fagianos, sendo que apenas um exibiu osteossarcoma esofagiano. Tam-bém foi descrita a presença de aneurisma de aorta em seis (43%) dos animais estudados. Costa(1990) realizou exames post mortem em 61 cães de rua, na cidade de Vitória/ES, tendo verificado prevalência de 14,7% em relação à espirocercose canina. Em recente trabalho sobre a prevalên-cia de parasitas intestinais de cães em São Paulo, Oliveira-Serqueira (2002) detectou, através de exames parasitológicos de fezes, Spirocerca lupi em 1,9 % das 271 amostras estudadas. No Rio Grande do Sul, Lara (1981), em trabalho realizado com 118 cães no município de Pelotas verificou,
através de exames de necropsia, uma prevalência de 0,85% para
Spiro-cerca lupi. Mattos Junior (1999) refere-se a um trabalho realizado na
ci-dade de Porto Alegre/RS no ano de 1947, no qual relata que 7% de 65 cães necropsiados apresentavam a doença.
RELATO DO CASO
Um canino, fêmea, SRD, de quatro anos de idade e quatro kg de peso, apresentando dificuldade de deglutição foi encaminhado ao Hospital Ve-terinário da Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas, RS para exame clínico e radiológico. Ao exame de RX, foi observado um cor-po estranho no esôfago, sendo então indicado procedimento cirúrgico. Durante a cirurgia (esofagotomia), na qual confirmou-se a presença de corpo estranho (osso de galinha) causando traumatismo à parede do ór-gão, o animal veio a óbito por parada cardíaca. Na necropsia, constatou-se espessamento do saco pericárdico com preconstatou-sença de fragmentos de os-sos no interior da cavidade pericárdica. Também foi observada a presença de um nódulo esofagiano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A anamnese e o exame clínico realizados, com o auxílio do RX, confirma-ram a suspeita da presença de corpo estranho no esôfago, o que justifica-ria a dificuldade de deglutição apresentada pelo animal. Ao exame ne-croscópico, foi constatado um nódulo medindo aproximadamente 20 mm na porção caudal da parede esofágica que, ao corte, parecia cístico e con-tinha parasitas morfologicamente semelhantes a Spirocerca lupi (Figuras 1 e 2) envoltos em secreção purulenta e comunicando-se com a luz esofá-gica através de uma fistula, sendo a localização e a lesão idênticas às descritas na literatura (CARLTON,1995).
O exame microscópico revelou a presença de parede esofágica apresen-tando cisto de parede fibrosa, com reação inflamatória granulomatosa crônica envolvendo estruturas parasitárias e ovos compatíveis coam os de
Spirocerca lupi. O granuloma esofagiano é considerado a lesão mais
fre-qüente nos casos de espirocercose canina (MAZAKI-TOVI, 2002). Exem-plares dos helmintos encontrados no nódulo foram encaminhados ao La-boratório de Parasitologia do Hospital Veterinário da ULBRA para exame e identificação. Os parasitas mediam aproximadamente 60-80 mm de comprimento por 1-1,2 mm de largura, à semelhança com o descrito por Soulsby (1992). Após clarificação, verificou-se a presença de ovos peque-nos, com casca espessa e embrionados, os quais foram característicos de
Spirocerca lupi.
No caso ora relatado, a relação entre o nódulo parasitário e os sinais clínicos apresentados pelo animal não é clara. Para Lobetti (2000), a dificuldade de deglutição corresponde a 20% dos sinais mais comuns na espirocercose. Ainda, segundo o mesmo autor, 14% dos cães com a doen-ça são assintomáticos. Embora a espirocercose seja considerada uma das principais verminoses dos cães, muitas vezes o diagnóstico da doença ocorre por ocasião da necropsia, quando a presença de nódulos contendo os pa-rasitos é constatada (MATTOS JUNIOR, 1999). No Rio Grande do Sul, existem poucos relatos sobre casos de espirocercose canina. Na rotina dos laboratórios de Patologia e de Parasitologia do Hospital Veterinário da ULBRA – Canoas, o caso ora descrito foi o único encontrado desde o ano de início das atividades dos mesmos (1998).
CONCLUSÃO
Com base na escassez de relatos de casos de espirocercose no Estado, as-sim como na raridade com que a doença é observada na rotina dos
ratórios de Patologia e de Parasitologia de um hospital veterinário que atende número expressivo de caninos, sugere-se que essa enfermidade não é comum no Rio Grande do Sul. A espirocercose canina pode ou não determinar dificuldade de deglutição, o que não ficou claro no caso des-crito, já que o animal apresentava concomitante esofagite traumática por corpo estranho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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