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Integração, línguas e proximidade em jornais da fronteira Brasil-Argentina-Paraguai

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo V Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo

Campo Grande – UFMS – Novembro de 2015

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Integração, línguas e proximidade em jornais da fronteira

Brasil-Argentina-Paraguai

Maria Liz Benitez Almeida 1

Andréa Franciele Weber2

Resumo: Neste trabalho, realizamos um estudo sobre a integração, proximidade e

línguas por meio dos jornais de fronteira a partir da política editorial. Para isso, realizamos o levantamento de oito jornais locais das dez cidades-gêmeas selecionadas para realizar a pesquisa. Posteriormente, entrevistamos quatro proprietários/editores-chefes para indagar qual é a visão que norteia a política editorial de seus jornais. Os resultados mostram que, no discurso dos entrevistados, há uma visão integradora, assim como um jornalismo de proximidade que busca retratar a realidade local, por outro lado, manifestaram que o uso das línguas dos países vizinhos ainda está pouco presente nos espaços enunciativos desses jornais.

Palavras-chave: fronteira; jornais; jornalismo de proximidade; Mercosul, línguas.

1 Doutora em Letras; Professora Adjunta do Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM-FW.

Coordenadora do grupo de pesquisa: A política de línguas dos meios de comunicação no Mercosul: um

estudo com base em jornais de fronteira.

2 Mestranda do programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM). Participante do grupo de pesquisa A política de línguas dos meios de comunicação no

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Introdução

No presente artigo buscamos verificar a presença das línguas estrangeiras nos jornais de fronteira, assim como a visão que norteia sua política editorial em relação à diversidade linguística, à integração e ao jornalismo de proximidade. As fronteiras nacionais são caracterizadas por um constante fluxo de pessoas e trocas comerciais que desembocam em trocas e negociações culturais. Observamos que os delimitadores nacionais, como bandeiras, símbolos e línguas, são permeáveis às práticas locais que, muitas vezes, dispensam os demarcadores nacionais e constroem suas próprias identidades por meio do contato com o outro. A esses encontros socioculturais adicionam-se os encontros linguísticos apontados por Sturza (2005), fenômeno que acontece nas fronteiras entre Brasil com Paraguai e Brasil com Argentina. Desses encontros linguísticos surgem novos falares, tais como o portunhol – encontro entre as línguas portuguesa e espanhola – e o portuguaranhol – encontro entre as línguas portuguesa, espanhola e guarani (ALBUQUERQUE, 2006).

Desse modo, neste trabalho, realizamos um estudo para observar a visão que norteia a política editorial sobre as línguas estrangeiras nos jornais de fronteira. Para isso, buscamos amparo na Política de Línguas, cujo campo, conforme Eni Orlandi (2002), vai da

[...] tematização formal de uma política linguística explícita, planejada, assumida claramente como organizacional, até a observação de processos institucionais menos evidentes, presentes de forma implícita nos usos diferenciados (e que produzem diferenças) das línguas (ORLANDI, 2002, p. 95).

O trabalho também se ancora em pesquisas desenvolvidas por Karla Muller (2007), Vera Raddatz (2009), Eliana Sturza (2005), Andréa Weber (2013) e Lindomar Albuquerque (2006). Os estudos desenvolvidos por eles estão voltados para as práticas socioculturais, linguísticas e políticas nos espaços fronteiriços.

Para realizar o levantamento dos jornais, metodologicamente, escolhemos 10 cidades brasileiras, das 30 cidades consideradas gêmeas, localizadas na fronteira com Argentina e Paraguai. Em seguida: 1) verificamos os jornais de maior circulação

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produzidos nessas cidades; 2) coletamos edições do ano de 2014 e 3) realizamos entrevistas com os proprietários/editores chefes dos jornais das cidades de Barracão, Dionísio Cerqueira, Foz do Iguaçu e Ponta Porã. As entrevistas foram semiabertas (DUARTE, 2012). As entrevistas com os jornais Tribuna Regional e Jornal de

Fronteira foram realizadas no dia 13/05/2014, nas sedes dos jornais, tendo sido

gravadas e, posteriormente, transcritas. Já as entrevistas com os jornais A Gazeta do

Iguaçu e Jornal Regional foram realizadas via telefone no dia 16/06/2014.

Uma vez conformado nosso corpus, procedemos à interpretação dos dados a partir da perspectiva teórica dos autores adotados. Observamos: a) as línguas usadas pelos jornais das cidades geminadas; b) a perspectiva que os proprietários/editores têm sobre as línguas estrangeiras e nacional; c) sua visão sobre a integração regional e o jornalismo de proximidade na fronteira.

Desse modo, este artigo está dividido em dois tópicos. No tópico um, realizamos uma discussão teórica sobre jornalismo de fronteira entre Brasil - Paraguai, Brasil - Argentina, buscando entender de que maneira esses jornais fronteiriços contribuem para a (des)integração no espaço regional, assim como no espaço local. No tópico dois, procedemos à interpretação das entrevistas realizadas com os proprietários/editores dos jornais sob a luz desses aportes teóricos. Por fim, nas considerações finais, trazemos os resultados do estudo, assim como apontes sobre a necessidade de realizar uma análise sobre o uso das línguas estrangeiras nos espaços enunciativos desses jornais, assim como a necessidade sobre um estudo sobre o uso da língua guarani.

1. Jornalismo na fronteira Brasil-Paraguai-Argentina

O Brasil ocupa a terceira posição entre as nações com maior número de países vizinhos, ficando apenas atrás de China e Rússia (OTA, 2012). Conforme Ota (2012), uma das principais características desses espaços geográficos é o intercâmbio constante, o que, muitas vezes, remete à ideia de que, para os habitantes fronteiriços, não haveria uma linha divisória bem definida. No entanto, a autora menciona que há uma manutenção da nacionalidade. Esse fenômeno também é constatado por Albuquerque (2005), quando relata sua vivência na tríplice fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). O

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pesquisador observou que, embora pareça que os moradores dessas cidades não identifiquem claramente a qual dos três países pertencem, o nacionalismo emerge de uma maneira peculiar: é pelo encontro direto com o outro que, muitas vezes, se assume de maneira mais clara a nacionalidade a qual se pertence. Karla Muller (2007, p. 1) também sustenta que,

É neste sentido que podemos dizer que, numa primeira leitura, as fronteiras, isto é, os limites aqui tratados, estão presentes mais no imaginário do que nas práticas cotidianas. Com freqüência, estas divisas – ruas ou rios - passam despercebidas pelo olhar de um forasteiro.

Nesses espaços em que as fronteiras culturais não estão bem delimitadas, entendemos que a mídia cumpre um papel fundamental nesses intercâmbios culturais, pois, na fronteira, as culturas são difundidas, também, pelos meios de comunicação (RADDATZ, 2009). Raddatz e Froelich (2008) sustentam que, sendo a fronteira um espaço em que confluem diversidades e pelo seu caráter complexo, faz-se imprescindível lançar um olhar sobre as representações midiáticas dessas diversidades. Karla Muller (2007, p. 3) também sustenta que

Através de um exercício diário, o fronteiriço extrapola qualquer discurso que pregue a integração, coloca em prática ações surgidas de uma necessidade premente, descobre e inventa formas de ultrapassar barreiras, enfrentando dificuldades de modo a tornar viável a vida na fronteira. As trocas estabelecidas nestes pontos de contato alertam que as divisões geopolíticas estabelecidas por decorrência da criação dos Estados-Nacionais não são mais suficientes para atender às novas configurações, principalmente dos espaços urbanos.

É nesse sentido que é preciso ter presente o papel da mídia, pois esses lugares têm seus traços característicos mediados diariamente pelos meios de comunicação,

Rádios, jornais, emissoras de TV, revistas e sites da internet constituem essas mediações, que contribuem para formação da cultura local. Por intermédio de tais meios as audiências fazem não só uma leitura do mundo, mas principalmente daquilo que as cercam, ou seja, os meios traduzem também a cultura local. Muito das identidades que se formam vem dessa leitura. A partir das mídias há novas possibilidades de ação e interação (MULLER e RADDATZ, 178).

Ou seja, os discursos construídos pela mídia sobre as realidades locais, regionais, nacionais e mesmo internacionais passam a fazer parte do conhecimento que os indivíduos têm de seu espaço cotidiano. Segundo Ota (2012), das três funções básicas do jornalismo: informar, formar e entreter, as informações têm a capacidade de

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integrar, reintegrar ou desintegrar os habitantes da comunidade. Para que exista integração e até identificação entre a comunidade local e o discurso midiático, é preciso que exista um jornalismo de proximidade. Segundo esta perspectiva, “[...] implica pensar o jornalista como um agente social particular, e não apenas como uma simples testemunha ou um mediador colocado fora do jogo social” (CAMPONEZ, 2012, p. 41). Para que jornalismo seja mais próximo do cidadão, é preciso que os meios locais retratem as maneiras específicas de contar histórias, de utilizar as línguas (OTA, 2012).

Perante a demanda de um jornalismo que retrate as realidades locais, assim como os interesses de uma maneira mais próxima, a comunicação local começa a ganhar mais espaço (OTA, 2012) e a modificar a malha comunicacional fronteiriça.

Por outro lado, é pertinente mencionar que espaços fronteiriços, como é o caso da tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), têm suas características culturais à margem de um discurso polarizado entre contrabando e narcotráfico. Essa representação associada a atividades ilícitas e como lugar “sem lei” começou a ganhar força a partir de meados da década de 1990 e teve maior força após o atentado de 11 de setembro, principalmente, pela imprensa brasileira e argentina (ALBUQUERQUE, 2005). Silvia Montenegro (2007, p. 2) menciona que, depois de 2001, a tríplice fronteira começou a ganhar características próprias e o discurso jornalístico passou a representar esse espaço transnacional como “lugar sem lei” e que escapa aos tentáculos do controle estatal.

Essa representação, que tem como afã a exigência de uma maior presença do Estado, por parte do jornalismo regional ou nacional, também foi observada por Daniela Ota (2012) nas fronteiras sul-mato-grossenses entre Paraguai e Bolívia. Esse espaço limítrofe é constantemente associado a enchentes, tráfico de drogas e pistolagem:

[...] apesar da diversidade de situações que pode ser verificada na área, a região é pródiga em notícias sobre o narcotráfico, contrabando e crime organizado. Nos impressos, no rádio ou na televisão, as denúncias sobre atividades ilícitas também têm aspecto singular, entre comedido e controverso (OTA, 2012, p. 131-132).

Vemos que o jornalismo “[...] faz um permanente julgamento moral dos crimes de descaminho e contra a ordem tributária, reiterando a estigmatização das sociedades periféricas [...]” (SILVEIRA, 2013, p. 134).

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Por outro lado, Karla Muller (2007) também assinala a ação integradora no discurso da mídia fronteiriça. Hábitos e costumes diferentes de duas nações ou mais que dividem um mesmo espaço terminam formando um novo lugar que vai do local ao internacional de maneira permanente. Segundo a autora, temas tocantes ao meio ambiente, língua e imigrantes são abordados pela mídia com a finalidade de integração. Nesse panorama, é natural encontrar aspectos linguísticos característicos da região, mais ainda ao se ter presente que os sujeitos estão inseridos nesse contexto e, independentemente das técnicas utilizadas, no momento da produção, deixarão suas marcas culturais (MULLER e RADDATZ, 2009):

Ao ouvir com atenção uma emissora de rádio ou ler o jornal de uma região de fronteira, percebe-se que algumas expressões e elementos que aparecem no texto só se justificam ou são compreendidos dentro da cultura local. De certa forma, fazer rádio e fazer jornal dentro de um espaço binacional, como o da fronteira Brasil-Argentina, corresponde não apenas a trabalhar com as informações desse lugar por meio da linguagem padrão, mas também levar em conta que, em si mesmo, o conteúdo do rádio e do jornal mostra-se como um produto dessa cultura, além de representá-la por meio dos fatos que relata (MULLER e RADDATZ, 2009, p. 108).

Faz eco a essa observação Weber (2014), ao pesquisar nos jornais de fronteira com Uruguai e Argentina, nas cidades Uruguaiana e São Borja, menciona que a peculiaridade dos jornais dessa região a diferença de outras é uso contínuo ou esporádico das línguas nacionais dos países em que circulam em seus espaços enunciativos, seja em cadernos, seja em editorias específicas para cada língua.

Desse modo, os jornais passam a ser objetos que podem ser estudados para verificar de que maneira as línguas são neles utilizadas e se eles são ou não dispositivos que contribuem na delimitação ou integração das fronteiras. Assim, no próximo tópico, apresentaremos os jornais estudados e as interpretações das entrevistas realizadas com os proprietários/editores dos jornais.

2. As línguas dos jornais da fronteira Brasil, Paraguai e Argentina.

A pesquisa identificou, neste momento, as cidades-gêmeas da fronteira Brasil-Argentina e Brasil-Paraguai, ainda não mapeadas em estudos anteriores (Weber, 2011, 2013). Trata-se das cidades geminadas que se situam mais ao norte, em relação a esses

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estudos, nos limites dos estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, no Brasil, fazendo fronteira com a província de Misiones, na Argentina e com todos os departamentos orientais do Paraguai. Essa fronteira compreende uma área de presença das línguas portuguesa, espanhola e guarani, bem como do portunhol e do portuguaranhol, segundo os estudos de Sturza (2005), Albuquerque (2006) e Lipski (201-, 2012).

Nessa amostra de cidades, se destacam a fronteira trinacional Foz do Iguaçu (Brasil) - Ciudad del Este (Paraguai) - Puerto Iguazú (Argentina), a conurbação mais populosa (aproximadamente 600 mil habitantes) e símbolo da integração da Bacia do Prata, e a fronteira das cidades “trigêmeas” de Barracão (Brasil) - Dionísio Cerqueira (Brasil) - Bernardo de Irigoyen (Argentina) e, mais ao norte, de Guaíra (Brasil) - Mundo Novo (Brasil) - Saltos del Guairá (Paraguai). É importante mencionar que apenas os jornais impressos cujas empresas estavam sediadas do lado brasileiro da fronteira foram pesquisados.

O quadro a seguir (Quadro 1), apresenta as cidades brasileiras mobilizadas pelo estudo; a cidade-gêmea internacional correspondente, o jornal local de maior circulação de cada uma delas com o seu respectivo ano de fundação. As células assinaladas em azul indicam os jornais cujos proprietários/editores foram entrevistados.

Cidades Brasileiras Cidade-gêmea Jornal local Fundação

1 Barracão (PR) Bernardo de Irigoyen (Argentina) Jornal da Fronteira 1993 2

Dionísio Cerqueira (SC) Tribuna

Regional

2002 3

Foz do Iguaçu (PR)

Ciudad Del Este

(Paraguai) A Gazeta do

Iguaçu 1988

Puerto Iguazú (Argentina) 4

Guaíra (PR) Saltos Del Guairá

(Paraguai)

Jornal Rio Paranazão

1996

5 Mundo Novo (PR) O Liberal 1996

6 Ponta Porã (MS) Pedro Juan Caballero (Paraguai) Jornal Regional 2008 7

Bela Vista (MS) Bella Vista

(Paraguai)

Tribuna da Fronteira

1972 8

Porto Murtinho (MS) Puerto Palma

(Paraguai)

Tribuna Murtinhense

1977

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Coronel Sapucaia (MS) Capitán Bado

(Paraguai)

Não possui -

Quadro 1 - Cidades-gêmeas e seus jornais. Fonte: os autores.

Por se tratarem de cidades de pequeno porte populacional e econômico, nem todas possuem publicações jornalísticas impressas. É o caso dos municípios brasileiros de Paranhos, que faz divisa com Ype Jhu, e de Coronel Sapucaia, fronteira com Capitán Bado, ambas na divisa com o Paraguai, como podemos visualizar no Quadro 1. Os

demais municípios apresentam pelo menos uma publicação impressa de circulação na atualidade, sendo a mais longeva delas o jornal Tribuna da Fronteira, da cidade de Bela Vista, na fronteira com Bella Vista, no Paraguai, cuja fundação data de 1972, e a mais recente, o Jornal Regional, de Ponta Porã, limite com Pedro Juan Caballero, também no Paraguai.

Entre os jornais de maior tiragem estão A Gazeta do Iguaçu, de Foz do Iguaçu (fronteira Brasil-Argentina-Paraguai), e o Jornal da Fronteira, de Barracão (divisa com Argentina), com tiragem aproximada de, respectivamente, 10 mil e 3 mil exemplares.

A seguir, apresentamos os elementos encontrados nas falas dos proprietários/ editores dos jornais com os quais realizamos as entrevistas:

a) Integração como elemento que norteia o jornalismo local:

Na fala dos editores-chefes e proprietários dos jornais fronteiriços selecionados, encontramos que há uma visão integradora que norteia seus discursos sobre as dinâmicas jornalísticas na fronteira. Esse discurso dialoga com as observações realizadas por Karla Muller (2007), sobre a ação integradora dos jornais de fronteira. Desse modo, além da integração comercial, há uma integração cultural, como nos disse nosso entrevistado de A Gazeta do Iguaçu (Foz do Iguaçu, PR). Isso se dá, segundo ele, porque do outro lado da fronteira, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina): “têm rádios em língua portuguesa, mas não produzem notícias, então utilizam A Gazeta do Iguaçu como fonte de notícias”. O entrevistado também diz que jornal “[...] defende a harmonia da diversidade cultural”.

Já no Jornal da Fronteira (Barracão, PR), o entrevistado comenta: “A gente procura fazer um trabalho voltado exatamente para as pessoas de fronteira, é um trabalho diferenciado, porque você tem que estar de olho em duas nacionalidades, duas

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:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: culturas”. Esta fala converge com uma das funções do jornalismo, que é integrar (OTA, 2012). Nosso entrevistado do Jornal Regional (Ponta Porã, MS), ao ser questionado sobre o motivo pelo qual adotaram um formato bilíngue (português e espanhol), além de ter esporadicamente algumas notícias publicadas em guarani, também reforçou o fato de estarem localizados na fronteira, sendo que a adoção desses idiomas auxiliaria na integração com o público-alvo. Nesse sentido, o entrevistado do Jornal da Fronteira (Barracão, PR) menciona a importância de veicular notícias em espanhol, a fim de visar a integração regional, possibilitando o uso dos jornais para a complementação de estudos dos alunos da região da fronteira.

Podemos ver que, segundo as falas anteriores, nas políticas editoriais se instala uma visão que contempla os países vizinhos no processo de produção das notícias.

b) Fazer jornalismo de proximidade nas fronteiras.

Como mencionado, o jornalismo tem a capacidade de integrar ou desintegrar fronteiras/culturas por meio das representações discursivas, por meio da visão que norteia a política editorial, ou seja, por meio do posicionamento do jornalista no momento de enunciar sobre sua realidade local. Para nosso entrevistado de A Gazeta do

Iguaçu (Foz do Iguaçu, PR), é preciso fazer um jornalismo que escape da construção

discursiva de uma fronteira ligada à insegurança: “A gazeta tem como missão defender a fronteira”. Ao ser questionado sobre a adoção da língua espanhola em algumas notícias, nosso entrevistado do Jornal da Fronteira (Barracão, PR) nos disse: “[...] também temos essa questão cultural, essa questão de aproximação” que se desenvolveu “[...] ao longo do tempo, pela necessidade, pelo vínculo, pela amizade”. Isso dialoga com o sustentado por Camponez (2012) sobre a função social do jornalista ao retratar o ambiente sociocultural em que se encontra inserido. Também há a chamada de atenção sobre a característica geopolítica local:

É que, na verdade, tem bastantes notícias que acabam envolvendo a questão a interestadual e a questão internacional. Nós estamos aqui em uma divisa seca. Creio que é uma peculiaridade única no mundo, onde se pode, ao mesmo tempo, contemplar em um local geográfico três estados, três municípios e dois países unidos por um território urbano. Desconheço um outro local assim (TRIBUNA REGIONAL, DIONÍSIO CERQUEIRA, SC).

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Desse modo, encontramos nas falas de nossos entrevistados o que Camponez (2012) assinala: o jornalista não é somente um mediador ou testemunha dos fatos sociais, senão é alguém inserido nesse contexto social que, além de observar, sente as dinâmicas culturais a partir das quais se constrói a identidade.

c) As línguas nos jornais de fronteiras.

Umas das características encontradas nas mídias locais é o aspecto linguístico. Além de breves espaços dedicados aos idiomas espanhol e guarani nos jornais analisados, nossos entrevistados mencionaram os motivos pelos quais adotaram ou não outro/s idioma/s. A visão que têm nossos entrevistados sobre as línguas dialoga com o proposto por Sturza e Silva (2009) quando mencionam que, no contexto atual de globalização, a língua se constitui num elemento que pode oferecer novas oportunidades, assim como mobilidade ou, mesmo, integração. Nesse contexto, o entrevistado do Jornal Regional (Ponta Porã, MS) menciona que “O jornal possui uma página escrita em língua espanhola. As notícias sempre fazem referência ao Paraguai”, além de ter publicidades em língua espanhola dos comércios de Pedro Juan Caballero (Paraguai).

Também observamos que a inclusão da língua espanhola no currículo escolar brasileiro é contemplada, no momento da produção jornalística, conforme a fala de um de nossos entrevistados.

A gente tem uma situação que é muito interessante, por exemplo, nas escolas aqui da região de fronteira – Barracão e Dionísio Cerqueira – os alunos têm um idioma espanhol na escola. Então essas notícias a gente não pensa só nos leitores do lado de lá. A gente pensa os leitores do lado brasileiro. Esses alunos possam estar praticando espanhol em sala de aula e daí eles encontram no jornal nosso, um jornal brasileiro, um jornal com uma matéria em espanhol (JORNAL DA FRONTEIRA, BARRACÃO, PR).

Embora as notícias veiculadas em língua espanhola sejam para enunciar sobre o país vizinho, para nosso entrevistado, o uso dessa língua é uma forma de contribuir no aprendizado do espanhol nas escolas:

Eu imagino que uma criança aí de 13 anos que chega da escola, que teve aula de espanhol, e pega um jornal e encontra uma matéria em espanhol ele vá tentar praticar o espanhol, vai tentar ler aquela matéria.

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Esse é um fenômeno que não foi encontrado, por exemplo, por Weber (2014), em jornais da fronteira com o Uruguai, onde as publicações em língua espanhola eram pensadas e direcionadas para o leitor uruguaio. Também, nosso entrevistado de A

Gazeta do Iguaçu (Foz do Iguaçu, PR), menciona que “se algum artista publica um

poema em língua espanhola, é publicado o poema sem nenhuma alteração”.

De nossos quatro entrevistados, só o do Jornal Regional nos relatou que “às vezes publicamos alguma notícia integralmente em guarani, mas isso se dá muito esporadicamente pela dificuldade da escrita do idioma”.

Não, só em português. Nós tínhamos no passado uma coluna escrita em espanhol, depois não foi mais possível continuar. Hoje ele é editado só em português, até porque a grande região de circulação dele é no Brasil, no caso.

Vemos que como mencionam Albuquerque (2006) e Sturza (2005), o guarani é um idioma predominantemente oral. Também observamos que há uma visão integradora que se insere na política editorial dos jornais de fronteira. As relações comerciais ganham reflexos nos discursos dos proprietários/editores-chefes dos jornais que influenciam as práticas jornalísticas.

Considerações finais

Neste estudo preliminar, realizamos o levantamento de quatro jornais de dez cidades consideradas gêmeas na fronteira brasileira que divisam com cidades argentinas e paraguaias. Por meio das entrevistas semiabertas com os proprietários/editores-chefes desses jornais, pudemos constatar que: a) há uma visão integradora que norteia os discursos de nossos entrevistados; b) há um jornalismo de proximidade c) as línguas estrangeiras ainda estão pouco presentes nos espaços enunciativos dos jornais.

Segundo os entrevistados, o contato comercial, que se acentuou mais nas últimas décadas, fez com que seus jornais começassem a adotar características para que o leitor do outro lado da fronteira também seja representado, fazendo, assim, com que a circulação dos jornais se estenda a essas cidades limítrofes.

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Dos quatro entrevistados somente o Jornal Regional afirmou que, às vezes, publica notícias em língua guarani, embora tenha destacado dificuldade de redigir neste idioma pela dificuldade de encontrar redatores que dominem esse idioma.

Na nossa primeira aproximação nos limitamos a realizar um estudo das entrevistas realizadas com os proprietários/editores-chefes, não obstante será preciso realizar um estudo nos espaços enunciativos dos jornais a modo de analisar de que maneira neles se instalam as línguas dos países vizinhos. Ainda é preciso coletar os jornais das cidades de Bela Vista, Porto Murtinho, Mundo Novo e Guaira. Também é preciso mencionar a falta de estudos sobre os usos da língua guarani na e pela mídia para que possamos compreender melhor a presença/ausência dessa língua nativa nos jornais fronteiriços.

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Referências

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