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DECLARAÇÃO DE HAMBURGO (sobre direitos de propriedade intelectual)

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1 Brasília, 30 de maio de 2011.

Exma. Sra.

Ministra Anna Maria Buarque de Hollanda D.D. Ministra de Estado da Cultura

Nesta

Excelentíssima Senhora Ministra,

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO – ABERT, a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EDITORES DE REVISTAS – ANER e a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS – ANJ, entidades representativas do setor de comunicação brasileiro, vêm , respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seus representantes subscritos ao final, expor sua análise e avaliação dos possíveis impactos da proposta de alteração da Lei de Direitos Autorais, a Lei 9.610/98, para, ao final, pleitear o que segue.

As signatárias ratificam a manifestação apresentada no curso da consulta pública realizada por esse Ministério no ano de 2010, no sentido de que consideram a temática da mais significativa relevância, até porque os meios de comunicação por elas representados não só tem nas obras protegidas pelos direitos autorais seu principal insumo, como também o são, na grande maioria, produtores de obras intelectuais.

Dessa forma, por ser de fundamental relevância para a adequada proteção da propriedade intelectual, inclusive no âmbito das mídias digitais, as associações ao final subscritas reiteram o pleito formulado perante esse Ministério da Cultura para que a proposta de alteração das regras que regem a proteção à criação intelectual em nosso País seja elaborada em observância aos termos da “Declaração de Hamburgo”, da qual as postulantes são signatárias e que dispõe:

DECLARAÇÃO DE HAMBURGO (sobre direitos de propriedade intelectual)

“A internet é uma grande oportunidade para o jornalismo profissional - mas apenas se mantiver o equilíbrio econômico-financeiro das empresas jornalísticas nos novos canais de distribuição digitais. Não é o que acontece atualmente.

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2 Vários agregadores de conteúdo utilizam obras de jornalistas, editores e empresas jornalísticas sem pagar por este uso. No longo prazo, esta prática põe em risco a criação de conteúdos de alta qualidade e o próprio jornalismo independente.

Por este motivo, precisamos melhorar a proteção da propriedade intelectual na internet. O acesso livre à web não significa necessariamente acesso livre de custos. Discordamos dos que afirmam que a liberdade de informação só será obtida com todos os conteúdos gratuitos.

O acesso universal aos nossos serviços deverá estar disponível, mas não queremos ser obrigados a ceder a nossa propriedade sem autorização prévia.

Assim sendo, consideramos necessárias e urgentes medidas para a proteção dos direitos autorais de jornalistas, editores e empresas jornalísticas na internet.

Não devem existir zonas da internet onde as leis não se aplicam. Os governos e legisladores, em nível nacional e internacional, devem proteger mais eficazmente os conteúdos intelectuais dos autores e produtores. Deve ser proibida a utilização, sem prévia autorização, da propriedade intelectual de terceiros.

Em última análise, também na rede mundial de internet, deve valer o princípio: não há democracia sem jornalismo independente.”

Com efeito, o novo texto do Anteprojeto, aberto a contribuições por esse Ministério, trouxe algumas melhorias, em especial no que concerne à manutenção da regras que garantem a proteção ao conteúdo jornalístico. Contudo, ainda merece reparos relevantes, pois continua em desacordo com os princípios inscritos em nossa Constituição Federal, os quais resguardam os direitos exclusivos consagrados aos criadores e titulares de criações intelectuais.

As associações signatárias destacam, a seguir, os pontos que consideram imprescindíveis para a apreciação desse Ministério:

1. FUNDAMENTAÇÃO - A democracia brasileira, construída a partir da Constituição de 1988, tem nos meios de comunicação um dos pilares básicos de sua sustentação. Com premissa nos princípios constitucionais da liberdade de expressão e da livre iniciativa, as empresas brasileiras de comunicação vêm contribuindo para a evolução democrática do país e para o aperfeiçoamento da nossa sociedade. Com a ampla e livre difusão de informações e a permanente promoção do debate, os meios de comunicação possibilitam que a Nação fale consigo mesma e forme os necessários consensos para os avanços sociais, políticos e econômicos.

PROTEÇÃO AOS DIREITOS AUTORAIS - A Internet é uma grande oportunidade para os meios de comunicação, mas apenas se respeitado o equilíbrio econômico-financeiro das empresas jornalísticas nos novos canais de distribuição digitais. É preocupante constatar que vários

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3 agregadores de conteúdo vêm utilizando obras postadas na internet sem pagar por este uso. No longo prazo, esta prática põe em risco a criação de conteúdos de alta qualidade, bem como o próprio jornalismo independente. Por este motivo, é necessário proteger adequadamente a propriedade intelectual na Internet, vez que o acesso livre à mesma não significa necessariamente acesso livre de custos. Não é correta a interpretação de que não se aplicam na Internet as leis e outros princípios relativos à organização da sociedade. As Associações signatárias acreditam que a atual Lei de Direitos Autorais, a Lei 9.610/98 regula de forma satisfatória o uso das criações pela internet, amparada em conceitos ainda atuais de reprodução, comunicação ao público e de distribuição das obras intelectuais na rede. Acrescente-se, outrossim, que o modelo existente nos EUA, conhecido como “notice and take down” não poderia ter guarida na legislação que, seguindo a trilha ordenada pela Constituição Federal, deve assegurar o legítimo exercício dos direitos exclusivos garantidos aos criadores e titulares de direitos autorais.

Portanto, a proposta trazida no Anteprojeto sob análise não traz para o autor e criador intelectual qualquer alteração benéfica para a proteção e circulação das obras intelectuais na internet.Os governos e legisladores, em nível nacional e internacional, devem proteger mais eficazmente os conteúdos intelectuais dos autores e produtores, proibindo a utilização, sem prévia autorização, da propriedade intelectual de terceiros, de modo a manter algum incentivo à criação, inovação e independência- pilares da democracia - no país.

2. RESPEITO À OBRA JORNALÍSTICA - Para a empresa jornalística, informação é o produto de seu negócio e as notícias, enquanto organizadas em artigos jornalísticos, são obras protegidas. É fundamental proteger o trabalho jornalístico, afastando qualquer proposta de flexibilização da proteção autoral. O enfraquecimento do controle das obras poderá implicar em desestímulo à produção e ao investimento, com prejuízo para toda a cadeia produtiva e, especialmente, aos seus usuários finais.

3. RESTRIÇÕES ÀS LIMITAÇÕES- Não obstante as restrições feitas em relação à proposta anterior, ajustes ainda são necessários considerando os tratados internacionais e a legislação nacional, devendo-se restringir as hipóteses de limitação aos direitos autorais às condições expressas em Berna, tendo-se também em mente a Declaração de Hamburgo a respeito dos agregadores de conteúdo em meio digital. A ampliação exagerada das hipóteses de limitação ao exercício dos direitos autorais, ao revés de impulsionar democratização do acesso aos bens intelectuais, promoverá a extinção de modelos de negócios que permitem o investimento na criação e na distribuição de obras.

4. LIBERDADE DE CONTRATAR - Com relação aos contratos, são propostas regras restritivas à autonomia privada, contrárias a princípios e

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4 garantias constitucionais, aos interesses das partes e aos investimentos realizados, deslocando-se o equilíbrio em detrimento do objeto do negócio. É preciso prever regras genéricas aplicáveis a todos os tipos de criação e não se pode impor normas restritivas à autonomia da vontade das partes, nem tampouco estabelecer ordens que têm como único objetivo entravar a transferência voluntária de direitos sobre criações intelectuais, desconsiderando o interesse do autor para a melhor administração e gestão de sua obra. Além disso, com relação à regulamentação da obra feita mediante encomenda, agora prescrito apenas à encomenda decorrente de contrato de trabalho ou vínculo estatutário, a proposta tornará, para as entidades de direito privado, sem eficácia a inclusão deste instituto no nosso ordenamento pátrio, diante das regras restritivas apresentadas no dispositivo, totalmente dissonantes da prática usual e pacífica para a contratação da criação intelectual. Com efeito, com a manutenção da obra criada sob contrato de trabalho ou vínculo estatutário no formato proposto no Anteprojeto sob análise, o empregador será compelido a buscar uma convenção por escrito para resguardar os seus direitos sobre a criação encomendada, em especial no que concerne às obras jornalísticas, para que possa garantir os seus usos futuros, ainda que pertinentes à mesma modalidade.

5. LICENÇA NÃO VOLUNTÁRIA - Além da intervenção na liberdade de contratar, igualmente inconstitucional é a imposição de licenças não voluntárias para obras literárias, mantida no atual texto do Anteprojeto, em clara desconsideração à autonomia privada. Para que não desrespeitem fundamentos e princípios da atividade econômica e direitos patrimoniais e morais do autor, a licença não voluntária poderia ficar restrita às obras órfãs, cuja utilização representa grande desafio à iniciativa privada e potencial perda para a sociedade. A aplicação de uma licença compulsória sem a observância das regras estabelecidas nos Tratados Multilaterais que integram o nosso ordenamento jurídico expõe o Brasil à aplicação de severas sanções no âmbito da OMC e, portanto, não deverá ser incluída em nossa legislação.

6. IMPOSIÇÃO DE IMPLANTAÇÃO DE GESTÃO UNIFICADA PARA NOVAS MODALIDADES DE DIREITOS – O Anteprojeto sob análise mantém a previsão de imposição de uma associação coletiva no setor editorial para a arrecadação de direitos relativos a cópias reprográficas, e no setor audiovisual, direcionada à gestão da exibição de obras audiovisuais. Contudo, a previsão merece ser revista, pois não foi elaborada considerando a dinâmica dos setores.

Com efeito, mesmo que pudesse superar um exame quanto à sua adequação à Constituição Federal, a imposição da criação de novas entidades direcionadas à gestão coletiva de direitos, tal como previsto no texto do Anteprojeto, cria interlocutores que poderão acarretar o redirecionamento de parte dos recursos hoje alocados em outras atividades, reduzindo a competitividade dos segmentos que se dedicam

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5 ao investimento na produção intelectual, já tão abalado com o desenvolvimento tecnológico. Em verdade, o novo texto em análise mantém a concessão de um poder exacerbado para a gestão de direitos privados, em claro prejuízo aos direitos exclusivos garantidos por lei.

Face ao exposto, as signatárias pleiteiam a este Ministério que sejam considerados os sete pontos elencados, além da incorporação dos princípios da “Declaração de Hamburgo” no texto do Anteprojeto resultante da Consulta Pública.

Por fim, ratificando que o respeito a estes princípios constituem preocupação basilar das signatárias, cabe ressaltar que as peculiaridades de cada segmento serão objeto de contribuições apresentadas isoladamente por cada associação.

Certos de sua compreensão e apoio, agradecemos antecipadamente a atenção ora dispensada por Vossa Excelência.

Respeitosamente,

Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT

Associação Nacional dos Editores de Revistas - ANER

Referências

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