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Processo 04S923 Data do documento 18 de janeiro de 2005 Relator Vítor Mesquita

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA | SOCIAL

Acórdão

DESCRITORES

Transporte internacional de mercadorias por estrada - tir > Contrato colectivo de

trabalho > Retribuição > Trabalho extraordinário > Ajudas de custo > Tratamento mais favorável > Ónus da prova > Trabalho suplementar > Crédito laboral > Prescrição > Prova documental

SUMÁRIO

I - A retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT celebrado entre a C (Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Mercadorias) e a D (Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos e Outros), publicado no BTE, 1.ª série, n.º 9, de 08-03-80, tem por objectivo compensar os trabalhadores motoristas de transportes internacionais rodoviários de mercadorias da maior penosidade e esforço acrescido inerentes à sua actividade, tendo sido atribuída pela consideração de que essa actividade impõe, normalmente, a prestação de trabalho extraordinário de difícil controlo.

II - A referida retribuição especial não pressupõe uma efectiva prestação de trabalho extraordinário, revestindo carácter regular e permanente e, como tal, integra o conceito de retribuição nos termos do art. 82.º da LCT e é devida em relação a todos os dias do mês, independentemente da prestação efectiva de qualquer trabalho, acrescendo à retribuição de base.

III - O CCT referido consagra garantias mínimas para os trabalhadores, sendo admissível o estabelecimento de um esquema retributivo para os motoristas de transporte internacional de mercadorias diferente daquele, desde que mais vantajoso para os mesmos motoristas (art. 13.º da LCT).

IV - Compete à entidade empregadora a prova de que o esquema remuneratório fixado é mais vantajoso para os trabalhadores do que o constante do CCT (art. 342.º, n.º 2, do CC).

V - O trabalhador tem direito ao pagamento do trabalho suplementar se este foi prestado com o conhecimento e sem a oposição da entidade empregadora.

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VI - Tratando-se de um motorista de transportes internacionais rodoviários de mercadorias, se a entidade empregadora o encarrega de realizar um serviço ao estrangeiro e trabalha em dias de descanso semanal, obrigatório ou complementar, intercalados entre outros que correspondem a dias de trabalho semanal, é lícito inferir - tendo em conta o normal funcionamento e o desenvolvimento económico de uma empresa de transportes internacionais rodoviários de mercadorias -, que a entidade empregadora sabia que aquele se encontrava a prestar serviço no seu interesse e que não se opôs a que tal serviço fosse prestado.

VII - O art. 38.º, n.º 2, da LCT, não altera, para os créditos nele referidos, o prazo de prescrição estabelecido no n.º 1, apenas limita os meios de prova de que o trabalhador pode lançar mão para demonstrar a existência dos factos constitutivos desses mesmos créditos: através de "documento idóneo", o que tem sido entendido como um documento escrito que demonstre a existência dos factos constitutivos do direito.

VIII - Daí que se trate de um prazo de natureza adjectiva, pelo que o que releva para a contagem dos créditos vencidos há mais de cinco anos, é o da propositura da acção e não o da cessação do contrato de trabalho.

TEXTO INTEGRAL

Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça:

I. Relatório

"A", intentou, no Tribunal do Trabalho de Leiria, acção declarativa de condenação, com processo ordinário, emergente de contrato individual de trabalho, contra B - Transportes de Carga e Comércio, L.da, pedindo a condenação desta a pagar-lhe a quantia de 33.279.138$00, acrescida de juros moratórios que à taxa legal se vencerem sobre o capital de 24.707.983$00, desde 01.01.2000 até integral pagamento e, ainda, a entregar-lhe o diploma de honra da I.R.U. (Associação de Transportadoras a Nível Europeu).

Alegou, para o efeito, e em síntese, que foi admitido ao serviço da R. em 08.10.79, que desde 1983 desempenhou as funções de motorista dos transportes internacionais e que em 05.01.99, por carta registada com aviso de recepção rescindiu com justa causa o contrato de trabalho com a R. com efeitos a partir de 08.01.99, em virtude de esta não lhe pagar as duas horas de trabalho extraordinário previstas na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, os subsídios de férias e de Natal acrescidos do montante da referida cláusula 74.ª, n.º 7 e do prémio TIR, os sábados, domingos e viagens passados nas viagens com o acréscimo de 200% e por não lhe serem concedidos, à chegada, como dias de descanso, os dias correspondentes aos sábados, domingos e feriados passados em viagem e a véspera dos dias de saída para cada viagem, nem os mesmos lhe serem pagos.

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Acrescenta que tais factos, dada a sua gravidade e reiteração, o impediam de continuar a trabalhar para a R., pelo que rescindiu o contrato de trabalho com justa causa.

Contestou a R., sustentando que pagou ao A. o "prémio TIR" a título de ajudas de custo, que a partir de 1983, o A. exercia as funções de motorista quer no serviço nacional quer no serviço internacional, pelo que não lhe seriam aplicáveis algumas das cláusulas que invoca.

Além disso, sempre pagou ao A. as quantias a que tinha direito, tendo acordado a substituição das cláusulas 47.ª - A e 74.ª, n.º 7, do CCT pelo pagamento de "ajudas de custo" calculadas com base nos quilómetros percorridos, situação que era mais vantajosa para o A., pois assim recebia quantias superiores às que normalmente teria direito.

De resto, o A. não efectuou o trabalho suplementar que invoca, nem é verdade que a R. não lhe permitisse o descanso.

O contrato de trabalho que vigorava entre as partes terminou em 31.12.98, pelo que não tem o A. direito a férias e subsídio de férias vencidos em 01.01.99.

De todo o modo, os cálculos apresentados a título de férias e subsídio de férias estão incorrectos por incluírem verbas que não são retribuição, como se verifica em relação à prevista na cláusula 74.ª, n.º 7. Pugna, consequentemente, pela improcedência da acção.

Respondeu o A., reafirmando, basicamente, o constante da petição inicial.

Foi concedido ao A. o benefício do apoio judiciário, mas apenas na percentagem de ½ da taxa de justiça e custas.

Seguidamente, foi proferido despacho saneador, consignados os factos assentes e elaborado questionário, os quais foram objecto de reclamação, com êxito parcial da R.

Os autos prosseguiram os seus termos, com realização de prova pericial, após o que se procedeu a julgamento e, subsequentemente, foi proferida sentença que julgando a acção parcialmente procedente, condenou a R. a pagar ao A.:

" O montante global ilíquido de € 33.153,44 (trinta e três mil cento e cinquenta e três euros e quarenta e quatro cêntimos), a título de retribuição especial à luz da cláusula 74ª n.º 7 do CCT aplicável ao sector, acrescido de juros de mora, à taxa legal, desde a data dos respectivos vencimentos de cada uma das parcelas que o compõem até integral pagamento;

b) O montante global ilíquido de € 7.631,52 (sete mil seiscentos e trinta e um euros e cinquenta e dois cêntimos), a título de pagamento de cláusula 74ª n.º 7 e "prémio TIR" nas férias e subsídios de férias e de Natal desde Julho de 1983 a Dezembro de 1998, acrescido de juros de mora, à taxa legal, desde a data do respectivo vencimento até integral pagamento;

c) O montante global ilíquido de € 20.835,83 (vinte mil oitocentos e trinta e cinco euros e oitenta e três cêntimos), a título de retribuições pelo trabalho efectuado em dias de descanso (Sábados, Domingos e Feriados) passados no estrangeiro, acrescido de juros de mora, à taxa legal sobre cada um dos montantes parcelares que o formam, a calcular desde a data do respectivo vencimento até integral pagamento;

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d) O montante global ilíquido de € 20.835,83 (vinte mil oitocentos e trinta e cinco euros e oitenta e três cêntimos), a título de não concessão de gozo dos correspondentes dias de descanso (Sábados, Domingos e Feriados) passados no estrangeiro, acrescida de juros de mora, à taxa legal, a calcular desde a data de vencimento de cada uma das fracções parcelares que a compõem, até integral pagamento;

e) O montante de € 1.944,03 (mil novecentos e quarenta e quatro euros e três cêntimos), a título de férias e subsídio de férias vencidos em 01/01/1999, acrescido de juros de mora, à taxa legal, desde a data do respectivo vencimento até integral pagamento".

Não se conformando com a sentença, a R. dela interpôs recurso para o Tribunal da Relação de Coimbra, que por acórdão de 13.11.03 julgou parcialmente procedente a apelação, sendo a parte decisória do seguinte teor:

"...acorda-se em julgar parcialmente procedente a apelação e, consequentemente: (A) Em revogar a sentença impugnada, no atinente à condenação da Ré:

(i) No pagamento da quantia de 20.838,83 Euros a título de retribuições pelo trabalho prestado em dias de descanso (alínea C) da parte decisória da sentença), reduzindo-se esse montante para 15.820,86 Euros; (ii) No pagamento de 1.944,03 Euros, a título de férias vencidas em 1/1/99 e respectivo subsídio, absolvendo-se a Ré do respectivo pedido.

(B) Em confirmar a sentença parte restante".De novo inconformada, a R. veio recorrer de revista, tendo nas suas alegações formulado as seguintes conclusões:

1. Está provado que a recorrente tinha um sistema remuneratório distinto do estabelecido no CCTV, pelo qual pagava, nomeadamente, as cls. 47.ª-A e 74.ª-7, a título de ajudas de custo (entre outros, factos F e Q).

2. Por ele a recorrente pagou ao trabalhador a quantia global líquida de 16.381.010$00, quando o peticionado pelo recorrido a título da cl. 74.ª-7 foi no montante líquido de 4.655.952$00.

3. Daí que o pagamento feito é três vezes e meia superior ao imposto pelo CCTV, podendo concluir-se que o sistema, mau grado a falta de acordo do trabalhador, lhe é mais favorável e, por isso, legal, violando o acórdão o disposto nos arts. 12.º e 13.º da LCT ao condenar a recorrente.

4. Caso assim se não entenda, e se considere que o sistema é ilegal, então ele será nulo, devendo o trabalhador restituir tudo quanto tiver recebido, quer por força da nulidade quer pelo enriquecimento sem causa, pelo que o acórdão viola os arts. 289.º e 473.º do CC.

5. O "prémio TIR" não tem qualquer cariz retributivo, sendo criado para fazer face ao maior custo de vida no estrangeiro e para, portanto, assim custear as despesas correntes dos motoristas.

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6. É de facto uma "ajuda de custo", e não deve ser satisfeito nas férias, subsídio de férias ou de Natal, pelo que o acórdão ofende os arts. 82.º e 87.º, da LCT.

7. Não basta a prova do trabalho suplementar, cabendo ao trabalhador o ónus de provar a existência da prévia e expressa determinação da entidade patronal. Este facto essencial não foi sequer alegado pelo autor.

8. Está provado que a indicação das horas e dias de saída e chegada de viagem foi da autoria exclusiva do trabalhador (al. R. da especificação) e não há factos que provem que os sábados, domingos e feriados tenham sido no decorrer das viagens ou apenas no início ou no fim, pelo que não pode concluir-se que a recorrente tinha conhecimento do alegado trabalho suplementar.

9. Ao condenar a recorrente em trabalho suplementar, o acórdão violou o disposto nos arts. 7.º, n.º 4 do DL n.º 421/83, no art. 342, n.º 1, do CC e o princípio constante do art. 264.º do CPC.

10. O prazo de 5 anos referido no art. 38.º, n.º 2 da LCT é de natureza meramente adjectiva, contendo exigência probatória, e nada tem a ver com prazos prescricionais ou de natureza substantiva.

11. Tal prazo conta-se da entrada da petição em juízo (ou da citação) e nunca do termo do contrato.

12. Deve a recorrente ser absolvida quanto a todo o trabalho suplementar alegadamente prestado antes de 17/12/94, e não apenas dos anos de 1991 a 1993, sob pena de ofensa àquele normativo.

13. O cálculo das quantias alegadamente devidas pelo trabalho suplementar basear-se-á apenas no vencimento base e diuturnidades e nunca no valor da cl. 74.ª, n.º 7, justamente porque esta já é devida e não por ser paga outra vez, pelo que o acórdão ofende as cl. 41.ª e 74.ª do CCTV.

14. Não podendo haver condenação em trabalho suplementar anterior a 17/12/94, também não pode assentar na existência de trabalho em dias de descanso compensatório nesse período (ou, pelo menos nos anos de 1991 a 1993), devendo a recorrente ser dele absolvido, sob pena de ofensa ao art. 38.º, n.º 2 da LCT e cl. 41.ª, n.º 5 e 6 do CCTV aplicável.

15. O trabalho suplementar realizado nos sábados - dias de descanso complementar - nunca confere ao trabalhador o direito a um dia de descanso compensatório, havendo violação das cl. 20.ª e 41.ª do CCTV e dos arts. 47.º e 48.º do DL n.º 409/71.

16. O CCTV não determina as consequências do não gozo dos dias de descanso compensatório, e seguramente isso não decorre da cl. 41.ª (norma excepcional que é).

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17. O trabalho realizado nesses dias é-o, seguramente, em dias normais de trabalho e nunca em dias de descanso ou feriados, pelo que não pode ser a recorrente a pagá-los com 200% de acréscimo, pelo que foi violada a cl. 41.ª do CCTV e o art. 11.º do CC.

18. O cálculo das quantias alegadamente devidas pelo trabalho em dias de descanso compensatório basear-se-á apenas no vencimento base e diuturnidades e nunca no valor da cl. 74.ª, n.º 7, pelo que o acórdão ofende as cl. 41.ª e 74.ª do CCTV.

Termina pedindo que a revista seja julgada procedente, "anulando o acórdão recorrido e absolvendo a recorrente".

Contra-alegou o recorrido, pugnando pela improcedência do recurso.

Neste STJ, a Ex.ma Procuradora-Geral Adjunta emitiu douto "parecer" no sentido da concessão parcial da revista, ao qual responderam recorrente e recorrido, sendo este no que à aplicação da cláusula 74.ª, n.º 7, do CCTV diz respeito - procurando contrariar o mesmo e reafirmando o alegado nos autos -, e aquela remetendo para as alegações de recurso oportunamente apresentadas.

II. Enquadramento fáctico

É a seguinte a matéria de facto dada como assente pelas instâncias, e que este STJ aceita, por não se vislumbrar fundamento legal para a sua alteração:

A) A ré dedica-se à actividade de transporte rodoviário de mercadorias;

B) O autor foi admitido ao serviço da ré em 08/10/79, tendo trabalhado, desde então, sob as ordens, direcção e fiscalização desta como ajudante de motorista;

C) Em 1981, o autor passou a desempenhar funções de motorista de pesados no serviço nacional;

D) A partir de Julho de 1983, o autor passou a desempenhar funções de motorista dos transportes internacionais;

E) A ré não pagava ao autor as refeições à factura;

F) A partir de Janeiro de 1990, a ré acrescentou nos recibos de ajudas de custo e em "nota de rodapé" a seguinte expressão: «este pagamento inclui a cláusula 47-A e 74 do CCTV»;

G) A partir de Fevereiro de 1993, a ré acrescentou à expressão mencionada na alínea anterior a expressão «cláusula 41-A»;

H) A ré não mencionava a expressão referida em F) e G) nos recibos referentes a subsídio de férias e de Natal do autor;

I) A partir de Outubro de 1997, a ré passou a inserir no verso dos recibos do autor o seguinte texto: «com o presente pagamento declaro, livremente, de boa-fé e expontânea vontade, que sobre o período a que se refere me encontro integralmente pago e satisfeito de toda e qualquer quantia que a entidade patronal me devesse a título de diferenças de retribuição, pagamento de trabalho normal e suplementar prestado em dias normais, Sábados, Domingos, feriados e dias de descanso semanal ou complementar, bem como em quaisquer repercussões destes valores de subsídio de férias e de Natal e quaisquer outras: pelo que dou,

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para todos os efeitos legais e judiciais, por via deste documento, plena, definitiva e irretratável quitação»;

J) A partir de Julho de 1998, a ré deixou de inserir nos recibos do autor as expressões mencionadas nas alíneas F), G) e I);

K) O autor enviou à ré uma carta registada com aviso de recepção, datada de 05-01-1999, na qual declarava rescindir o contrato de trabalho que mantinha com esta, com efeitos a partir de 08-01-1999, com base nos seguintes fundamentos:

«a) - Por não lhe serem pagas as quantias legalmente devidas e relativas às duas horas extraordinárias diárias, conforme ao disposto no n.º 7 da cláusula 74 do CCT;

b) - Por não lhe serem pagos os subsídios de férias e de Natal acrescidos do montante da cláusula 74 n.º 7 e do prémio TIR;

c) - Por não lhe serem pagos os Sábados, Domingos e Feriados passados nas viagens com acréscimo de 200%;

d) - Por não lhe serem concedidos, à chegada, como dias de descanso, os dias correspondentes aos Sábados, Domingos e Feriados passados em viagem e a véspera dos dias de saída para cada viagem, nem me serem pagos;

f)- Porque a gravidade, reiteração e consequências dos referidos factos o impediam de continuar, por mais tempo, a trabalhar para a R.»

L) A ré respondeu à carta a que se alude na alínea anterior, mediante o documento de fls. 504 dos autos, comunicando ao A. que a declaração de rescisão do contrato pelo A., além de abusiva, é totalmente inútil, uma vez que o A. já anteriormente, no início de Outubro de 1998, havia informado a R. que se iria embora no final desse ano, tendo assim rescindido, nessa ocasião, o contrato com aviso prévio.

M) Não obstante o facto a que se alude em F), a ré não especificava nos recibos de ajudas de custo do autor, quais os montantes pagos a título de cláusula 74;

N) Nos recibos respeitantes às outras retribuições (que não os de ajudas de custo referidos em F) e referentes aos meses de Março a Dezembro de 1990 e de Janeiro a Maio de 1991, a ré fazia constar especificadamente a quantia efectivamente paga a título de cláusula 74 n.º 7;

O) Em 1990, a ré pagou ao autor, a título de cláusula 74 n.º 7, as seguintes quantias: - Março 11.552$00; - Abril 10.108$00; - Maio 10.108$00; - Junho 13.718$00; - Julho 12.274$00; - Agosto 12.274$00; - Setembro 722$00;

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- Outubro 13.718$00; - Novembro 13.718$00; - Dezembro 8.664$00.

P) Em 1991, a ré pagou ao autor, a título de cláusula 74 n.º 7, as seguintes quantias: - Janeiro 14.440$00;

- Fevereiro 15.336$00; - Março 15.336$00; - Abril 6.816$00; - Maio 17.040$00.

Q) O denominado "prémio TIR" é pago sob a designação de ajudas de custo;

R) Os documentos de fls. 25 a 188 (roteiros de viagem) e de fls. 199 a 217 (mapas de viagem serviço internacional) foram preenchidos e parte deles assinados pelo A.

S) Os documentos de fls. 348 a 473 foram assinados pelo autor;

T) As declarações exaradas no verso dos documentos de fls. 480 a 488 (Notas de abonos e vencimentos) foram assinados pelo A.

U) Aquando do facto a que se alude em D), a ré pagava ao autor uma determinada quantia diária de ajudas de custo quando deslocado no estrangeiro, com o esclarecimento de que essa quantia era de 1.200$00 (resp. ao quesito 1º);

V) As ajudas de custo a que se alude na alínea anterior, passaram, a partir de determinada altura, a ser calculadas mediante os quilómetros percorridos (resp. ao quesito 2º);

W) Ultimamente, a ré pagava ao autor as ajudas de custo referidas no quesito anterior a 11$00 (onze escudos) o quilómetro (resp. quesito 3º);

X) Nos últimos meses as ajudas de custo deixaram de ser pagas ao quilómetro e passaram a ser pagas por viagem (resp. quesitos 4º e 5º);

Y) O autor depois de chegar de uma viagem fazia 24 horas de descanso e saía para uma nova viagem (resp. quesitos 8º e 9º);

Z) Em 1991, o autor esteve ao serviço nos dias 5, 6, 19 e 20 de Janeiro; 2, 3, 16 e 17 de Fevereiro; 2, 9, 10, 16 e 17 de Março; 29 de Junho; 7 de Julho; 14, 15, 28 e 29 de Setembro e 5 e 6 de Outubro (resp. quesito 12º);

AA) Em 1992, o autor esteve ao serviço nos dias 2, 3, 9, 30 e 31 de Maio; 13, 14, 27 e 28 de Junho; 4, 11, 12, 18, 25 e 26 de Julho; 1, 2 e 8 de Agosto; 20 de Setembro; 3, 4, 5, 17, 18 e 24 de Outubro; 14, 15, 28 e 29 de Novembro; 5, 6, 8, 12, 13, 19 e 20 de Dezembro (resp. quesito 13º);

BB) Em 1993, o autor esteve ao serviço nos dias 16, 17 e 23 de Janeiro; 6, 7, 20 e 21 de Fevereiro; 6, 7 e 27 de Março; 9, 10, 11, 24 e 25 de Abril; 8, 9, 15 e 16 de Maio; 19, 20, 26 e 29 de Junho; 4, 10, 17, 18, 24, 25 e 31 de Julho; 1, 7, 8, 14 e 15 de Agosto; 25 e 26 de Setembro; 16, 17, 23, 24, 30 e 31 de Outubro; 20, 27 e 28 de Novembro; 1, 8, 11 e 12 de Dezembro ( resp. quesito 14º);

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CC) Em 1994, o autor esteve ao serviço nos dias 15, 16 e 22 de Janeiro; 5, 6, 12, 19 e 20 de Fevereiro; 26 e 27 de Março; 9, 10, 16, 23, 24, 25 e 30 de Abril; 1, 7, 8, 21, 22, 28 e 29 de Maio; 2, 4, 5, 10, 11, 12, 18, 19, 25 e 26 de Junho; 9, 10 e 17 de Julho; 6 e 7 de Agosto; 10, 11, 24 e 25 de Setembro; 1, 2, 5, 22, 23, 29 e 30 de Outubro; 1, 5, 6, 19, 20, 26 e 27 de Novembro; 1, 3 e 4 de Dezembro ( resp. quesito 15º);

DD) Em 1995, o autor esteve ao serviço nos dias 21, 22, 28 e 29 de Janeiro; 4, 5, 11, 12 e 18 de Fevereiro; 11, 12 e 25 de Março; 1, 2, 8, 9, 14, 15, 16, 22, 23, 25 e 30 de Abril; 6, 13, 14 e 20 de Maio; 3, 4, 11, 24 e 25 de Junho; 1, 2, 8, 9, 15, 22, 23 e 30 de Julho; 5, 6, 12, 13 e 15 de Agosto; 30 de Setembro; 1, 5, 14 e 22 de Outubro; 4, 5, 18, 19 e 25 de Novembro; 16 e 17 de Dezembro ( resp. quesito 16º);

EE) Em 1996, o autor esteve ao serviço nos dias 1, 13, 14, 27 e 28 de Janeiro; 1, 2, 8, 9, 22 e 23 de Fevereiro; 8, 9, 22, 23, 29 e 30 de Março; 13 e 14 de Abril; 4, 5, 11, 18, 19 e 25 de Maio; 1, 2, 6, 8, 15, 29 e 30 de Junho; 27 e 28 de Julho; 21 e 22 de Setembro; 5, 6, 12, 19 e 20 de Outubro; 2, 3, 9, 16, 17, 24 e 30 de Novembro; 7, 8, 14 e 25 de Dezembro ( resp. quesito 17º);

FF) Em 1997, o autor esteve ao serviço nos dias 11, 12, 25 e 26 de Janeiro; 1, 2, 8, 9, 22 e 23 de Fevereiro; 8, 9, 22, 23, 29 e 30 de Março; 5, 6, 25, 26 e 27 de Abril; 17, 18, 24, 29 e 31 de Junho; 5, 6, 12, 19, 20 e 26 de Julho; 2, 3, 9, 15, 16 e 17 de Agosto; 20, 21, 27 e 28 de Setembro; 5, 11, 12, 18 e 19 de Outubro; 8, 9, 22, 23, 29 e 30 de Novembro; 1, 6, 13 e 14 de Dezembro ( resp. quesito 18º);

GG) Em 1998, o autor esteve ao serviço nos dias 10, 11, 17, 18, 24, 25 e 31 de Janeiro; 7, 8, 14, 21, 22 e 28 de Fevereiro; 7, 8, 15, 28 e 29 de Março; 5, 10, 11, 12, 25 e 26 de Abril; 1, 2, 3, 9, 10, 16, 17, 23, 24, 30 e 31 de Maio; 6, 7, 10, 20, 21, 27 e 28 de Junho; 5, 12, 25 e 26 de Julho; 5, 6 e 19 de Setembro; 3, 4, 5, 17, 18, 24 e 25 de Outubro; 21, 22, 28 e 29 de Novembro; 1, 8, 12, 13, 20 e 26 de Dezembro ( resp. quesito 19º);

HH) Sempre que o autor prestou serviço nacional, a ré pagou-lhe ajudas de custo ( resp. quesito 22º); II) Com referência aos meses em que o autor fez transporte internacional, a ré pagou-lhe uma importância global líquida que comporta o montante de 16.381.010$00 ( resp. quesito 26º);

JJ) O autor, normalmente, confeccionava as suas próprias refeições, com produtos levados de sua casa (resp. quesito 27º);

KK) No início do mês de Outubro de 1998, o autor contactou directamente os representantes da ré e disse-lhes que deixaria de ser funcionário da mesma a partir do fim desse ano (resp. quesitos 29º e 30º);

LL) Os mapas de viagem eram elaborados pelos motoristas, por ordem da ré e eram utilizados por esta para controlo dos factos neles mencionados (resp. quesitos 34º e 35º);

MM) O autor assinou os documentos juntos aos autos a fls. 489 a 503, quer no respectivo rosto, quer no respectivo verso (resp. quesito 38º).

III. Enquadramento jurídico

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disposto nos art.s 690.º, n.º 1 e 684.º, n.º 3, do CPC, ex vi do art. 1, n.º 2, a), do CPT/81 - são as seguintes as questões a decidir:

1. Saber se a R. deve ser condenada a pagar ao A. a retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT celebrado entre a C Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Mercadorias e a D -Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Urbanos e Outros;

2. Se no cálculo da retribuição de férias e dos subsídios de férias e de Natal deve ser atendida a remuneração designada por "prémio TIR";

3. Se o A. tem direito ao pagamento do trabalho suplementar prestado em sábados, domingos e feriados; 4. Se no cálculo da retribuição do trabalho suplementar deve ser considerada a retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, supra referida;

5. Se o A. tem direito a remuneração pelo trabalho prestado em dias de descanso no período até 17.12.94; 6. Se o A. tem direito a remuneração com acréscimo de 200% pela não concessão dos correspondentes dias de descanso passados no estrangeiro e se na retribuição a considerar no cálculo daquela remuneração se deve atender à prevista na cláusula 74.ª, n.º 7.

Analisemos, de per si, cada uma das questões.

1. Quanto à retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT.

Diga-se, antes de mais, que é inquestionável que à relação entre as partes se aplica o contrato colectivo de trabalho celebrado entre a C - Associação Nacional dos Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias e a Federação dos Sindicatos de Transportes Rodoviários e Outros, publicado no Boletim do Trabalho e Emprego, 1.ª Série, n.º 9, de 08 de Março de 1980, com as revisões publicadas no mesmo Boletim, 1.ª Série, n.º 16, de 29 de Abril de 1982 (e posteriores alterações quanto à tabela salarial, que, todavia, não relevam para as questões controvertidas nos autos), com Portarias de Extensão (PE) publicadas no mesmo Boletim, 1.ª Série, n.º 30, de 15 de Agosto de 1980, e n.º 33, de 8 de Setembro de 1992.

Sob a epígrafe de Regime de trabalho para os trabalhadores deslocados no estrangeiro", dispõe a cláusula 74.ª:

"1 - Para que os trabalhadores possam trabalhar nos transportes internacionais rodoviários de mercadorias deverá existir um acordo mútuo para o efeito. No caso de o trabalhador aceitar, a empresa tem de respeitar o estipulado nos números seguintes.

(...)

7 - Os trabalhadores têm direito a uma retribuição mensal, que não será inferior à remuneração correspondente a duas horas de trabalho extraordinário por dia.

8 - A estes trabalhadores, de acordo com o estabelecido no número anterior, não lhes é aplicável o disposto nas cláusulas 39.ª (Retribuição de trabalho nocturno) e 40.ª (retribuição de trabalho extraordinário).

(...)".

No n.º 7 referido consagra-se, pois, o direito dos trabalhadores dos transportes internacionais rodoviários de mercadorias a uma retribuição mensal que não pode ser inferior à remuneração correspondente a duas

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horas de trabalho extraordinário por dia.

Trata-se de uma retribuição especial, que tem por objectivo compensar aqueles trabalhadores da maior penosidade e esforço acrescido inerentes à sua actividade, tendo sido atribuída pela consideração de que essa actividade impõe, normalmente, a prestação de trabalho extraordinário de difícil controlo.

Mas não pressupõe uma efectiva prestação de trabalho extraordinário, revestindo carácter regular e permanente e, como tal, integrando a retribuição.

Por isso, a mesma é devida em relação a todos os dias do mês, independentemente da prestação efectiva de qualquer trabalho, acrescendo à retribuição de base devida (1) .

Como tem sido afirmado pela jurisprudência deste tribunal (2), o pagamento da retribuição específica prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, corresponde a uma compensação idêntica à que é devida aos trabalhadores, em geral, com isenção de horário de trabalho, tendo a referência a trabalho extraordinário que ver apenas com a fixação do respectivo montante, e não com a realização efectiva desse trabalho extraordinário.

Aceite, pois, que o pagamento da retribuição específica previsto na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, integra o conceito de retribuição tal como se encontra consagrado no art.º 82, da LCT, é agora chegado o momento de analisar se a ré pagou aquela ao autor.

Sustenta a ré que tinha um sistema remuneratório distinto do estabelecido no CCTV, pelo qual pagava, nomeadamente, as cl. 47.ª-A e 74.ª, n.º 7, a título de ajudas de custo, sendo que a tal título pagou ao trabalhador a quantia global líquida de 16.381.010$00, quando o peticionado pelo recorrido a título da cláusula 74.ª, n.º 7, foi no montante de 4.655.952$00.

Ao invés, o A., considerando que a R. não especificava os montantes pagos a título de cl. 74.ª, n.º 7 - só o tendo feito nos meses de Março a Dezembro de 1990 e de Janeiro a Maio de 91 -, conclui que não pode ter-se por verificado o pagamento a título de tal cláusula.

Com relevância para a resolução desta questão, verifica-se da matéria fáctica assente que:

- A partir de Janeiro de 1990 e até Julho de 1998, a R. acrescentou nos recibos de ajudas de custo e em "nota de rodapé", a expressão "este pagamento inclui a cláusula 47-A e 74 do CCTV" (F) e J) da matéria de facto);

- A R. não especificava nos recibos de ajudas de custo do A., quais os montantes pagos a título de cláusula 74, sendo que nos recibos respeitantes às outras retribuições (que não os referentes aos meses de Março a Dezembro de 1990 e de Janeiro a Maio de 1991, a R. fazia efectivamente constar especificadamente a quantia efectivamente paga a título de cláusula 74.ª, n.º 7 (M) e N), da matéria de facto).

- Com referência aos meses em que o A. fez transporte internacional, a R. pagou-lhe a importância global líquida que comporta o montante de 16.381.010$00 (II) da matéria de facto).

É sabido que não pode a entidade patronal alterar unilateralmente a retribuição no que se refere a elementos que derivam da lei ou dos Instrumentos de Regulamentação Colectiva; todavia, nada impede que por acordo entre a entidade patronal e o trabalhador, ou mesmo unilateralmente, através de um

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compromisso vinculativo para a entidade patronal, tal retribuição seja alterada desde que da mesma resulte um regime mais favorável para o trabalhador (3) .

Isso mesmo se extrai do disposto nos arts. 12.º, 13.º e 21.º, n.º 1, c), da LCT e 14.º, n.º 1, da LRCT.

A este propósito, escreveu-se no acórdão do STJ de 30.11.00, supra mencionado: "(...) se em termos gerais, a liberdade contratual está balizada por limites da lei (art.º 405, do CC), em termos de relações laborais, os limites encontrados, geralmente mínimos, podem decorrer de outras fontes que não a lei, como é o caso da convenção colectiva, como forma de revelação de normas jurídicas, pelo que, não só em termos genéricos de prevalência na aplicação das normas, art.º 13 da LCT, como também na específica das convenções colectivas, art.º 14 do DL 519-C1/79, de 29 de Dezembro, a regulamentação estabelecida por estas últimas não pode ser afastada pelos contratos individuais de trabalho, salvo para estabelecer condições mais favoráveis para os trabalhadores" (sublinhado nosso).

E acrescenta, fazendo referência ao acórdão do STJ de 11.02.98 (4): "À entidade patronal caberá o ónus da prova da demonstração da existência de acordo quanto à prática, na empresa, de um esquema remuneratório especial contemplando a retribuição, nomeadamente, para todo o trabalho suplementar prestado, sob pena de estar vinculada à satisfação nos termos do instrumento de regulamentação colectiva aplicável".

Ora, aplicando tais princípios aos presentes autos, consagrando o CCT celebrado entre a C e a D, garantias mínimas para os trabalhadores, é admissível o estabelecimento de um esquema retributivo para os motoristas de transporte internacional de mercadorias, diferente daquele, desde que mais vantajoso para os mesmos motoristas.

Contudo, compete à R. a prova que o sistema remuneratório estabelecido é mais vantajoso para os trabalhadores.

No caso, desconhecendo-se qual o montante que concretamente a R. pagou ao A. a título de cláusula 74.ª, n.º 7, exceptuando os períodos de Março a Dezembro de 90 e Janeiro a Maio de 91, não é possível concluir que tal sistema de pagamento era mais favorável ao trabalhador.

Deste modo, porque o acordado contraria o disposto em cláusulas insertas no CCT, impõe-se concluir pela nulidade da alteração da estrutura remuneratória, por violação das normas legais supra citadas.

Dessa nulidade decorre que o A. tem direito a receber da R. as quantias referentes à cláusula 74.ª, n.º 7; porém, tem também o dever, por força do estatuído no art. 289.º, n.º 1, do CC - de acordo com o qual a declaração de nulidade implica a restituição de tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente -, de restituir as importâncias que recebeu a tal título (5).

De outro modo, ou seja, não havendo lugar a essa restituição, estaríamos perante um enriquecimento sem causa justificativa por parte deste.

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E, não se conhecendo o montante exacto pago ao A. a título de cláusula 74.ª, n.º 7, sob a rubrica "ajudas de custo", a liquidação do montante indemnizatório, em que serão deduzidas as importâncias já pagas, terá que ser relegada para execução de sentença.

Assim, e concluindo: deve a R. ser condenada a pagar ao A. as quantias devidas com base na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, a que serão deduzidas as importâncias já recebidas pelo A. a tal título, ainda que sob outra denominação, relegando-se para execução de sentença o apuramento daquele montante (art. 661.º, n.º 2, do CPC).

Procedem, por isso, nesta parte, e ainda que parcialmente, as conclusões das alegações de recurso.

2. Quanto a saber se no cálculo da retribuição de férias, subsídio de férias e de Natal se deve atender ao "prémio TIR".

Sustenta a recorrente que o "prémio TIR" (6) não tem cariz retributivo, sendo criado para fazer face ao maior custo de vida no estrangeiro e para, portanto, custear as despesas correntes dos motoristas, pelo que deve ser considerado uma "ajuda de custo".

Estabelece o art. 82.º, do DL n.º 49 408, de 24.11.69 (LCT) que:

"1. Só se considera retribuição aquilo a que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito como contrapartida do seu trabalho.

2. A retribuição compreende a remuneração de base e todas as outras prestações regulares e periódicas feitas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou em espécie (sublinhado nosso).

3. Até prova em contrário, presume-se constituir retribuição toda e qualquer prestação da entidade patronal ao trabalhador".

Como escreve Monteiro Fernandes (7), "A noção legal de retribuição, conforme se deduz do art. 82.º, será a seguinte: o conjunto dos valores (pecuniários ou não) que a entidade patronal está obrigada a pagar regular e periodicamente ao trabalhador em razão da actividade por ele desenvolvida (ou, mais rigorosamente, da disponibilidade de força do trabalho por ele oferecida)".

As características de regularidade e periodicidade no pagamento não se verificam quando as prestações têm uma causa específica e individualizável, diversa da remuneração do trabalho ou da disponibilidade da força de trabalho, situação que ocorre, v.g., com as ajudas de custo, despesas de transporte e subsídio de deslocação devidos como compensação, transitórios, enquanto perdurar a execução de determinada tarefa, numa área de trabalho distinta da habitual e num condicionalismo que não permite ao trabalhador organizar a sua vida pessoal e familiar em termos normais, salvo se essa importâncias tenham sido previstas no contrato ou se devam considerar pelos usos como elemento integrante da remuneração do trabalhador (cfr. art. 87.º da LCT).

Nesta linha de orientação a jurisprudência deste STJ vem-se pronunciando no sentido de que as ajudas de custo regulares não constituem retribuição quando tenham uma causa específica e individualizável, diversa da remuneração da disponibilidade para o trabalho, e não traduzem um ganho efectivo para o trabalhador (8).

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Ora, no caso, constata-se que o "prémio TIR" era pago com carácter de regularidade e periodicidade ao trabalhador: como resulta do CCT, "Os motoristas deslocados em serviço internacional auferirão uma ajuda de custo de ".

Não resulta da matéria de facto, ou do referido CCT, que a quantia paga a tal título tenha em concreto uma causa específica e individualizável, diversa da remuneração do trabalho ou da disponibilidade da força de trabalho, pelo que terá que se concluir que integra o conceito de retribuição.

Dito de outro modo: o "prémio TIR" tem carácter regular e periódico e é pago independentemente de despesas feitas pelo trabalhador.

Aliás, presumindo-se constituir retribuição toda e qualquer prestação da entidade patronal ao trabalhador, sobre a R. impendia ilidir tal presunção, designadamente provando que as quantias se destinavam ao pagamento de despesas realizadas pelo A. no cumprimento da prestação do trabalho, prova essa que não foi feita (cfr. art. 342.º, n.º 2 e 350.º do CC).

Assim, conclui-se que sendo o "Prémio TIR" pago com carácter de regularidade e periodicidade, integra o conceito de retribuição, pelo que, face ao disposto nos art.s 6.º, n.º 1 e 2, do DL n.º 874/76, de 28.12 e art. 2.º, n.º 1, do DL n.º 88/96, de 03.07, o referido prémio deve ser considerado no cômputo da remuneração das férias, subsídio de férias e de Natal.

Improcedem, assim, nesta parte, as conclusões das alegações de recurso.

3. Quanto a saber se o A. Tem ou não direito ao pagamento do alegado trabalho suplementar prestado aos sábados, domingos e feriados.

Alega a recorrente que não basta a prova do trabalho suplementar (9), cabendo ao trabalhador o ónus de provar a existência da prévia e expressa determinação da entidade patronal, facto este que, continua a recorrente, não foi sequer alegado pelo A./recorrido.

Sob a epígrafe de "Retribuição do trabalho em dias de descanso e feriados", dispõe a cláusula 41.ª:

"1 - O trabalho prestado em dias feriados ou dias de descanso, semanal e ou complementar é remunerado com o acréscimo de 200%".

O pagamento de trabalho suplementar pressupõe a prova de dois factos, constitutivos do direito, competindo, por isso, a prova ao autor: a prestação efectiva do trabalho suplementar e a determinação prévia e expressa da execução de tal trabalho pela entidade patronal.

Com efeito, determina o art. 7, n.º 4, do DL n.º 421/83 que "Não é exigível o pagamento de trabalho suplementar cuja prestação não tenha sido prévia e expressamente determinada pela entidade empregadora".

Anteriormente à publicação do DL n.º 421/83, de 2 de Dezembro, na falta de disposição expressa que regulasse o direito à retribuição, uma corrente jurisprudencial pronunciava-se no sentido de que, embora não solicitado nem conhecido pela entidade patronal, o trabalho efectivamente prestado fora do período normal de trabalho, desde que necessário à empresa, ou implicando vantagem económica para a mesma,

(15)

deveria considerar-se coberto pelo regime do trabalho extraordinário (10).

Porém, a regra do art. 6, n.º 1, do DL n.º 421/83, posteriormente transferida para o art. 7, n.º 4, na redacção dada pelo DL n.º 398/91, de 16 de Outubro, condicionava o direito à retribuição de trabalho suplementar a prévia e expressa determinação da entidade patronal quanto à sua prestação.

Procurou-se, por esta forma, não só desincentivar o recurso ao trabalho suplementar, como também evitar que a entidade patronal fosse obrigada a remunerar trabalho suplementar em relação ao qual é alheia, sendo certo não competir ao trabalhador prolongar unilateralmente o período de trabalho, ainda que daí resulte benefício para o empregador.

Contudo, relativamente a tal exigência, considerou-se que a mesma interpretada e aplicada em termos estritos, poderia conduzir a situações injustas e, por isso, procuraram-se fazer interpretações "correctivas". Assim, para Monteiro Fernandes (11) "Esta regra não pode, porém, deixar de acomodar-se a situações anómalas, em que o trabalhador - nomeadamente por virtude do dever de lealdade - há-de ter-se por vinculado a desenvolver a actividade mesmo para além do horário e independentemente de ordem expressa e antecipada do empregador: são em especial os casos de força maior e os de necessidade imperiosa de prevenir prejuízos graves para a empresa, a que se refere o art. 4.º/2".

Mota Veiga (12) sustenta também que a norma do art. 7, n.º 4, na redacção do DL 398/91, de 16 de Outubro, "deve ser entendida em termos hábeis", sendo de manter a anterior orientação jurisprudencial que reconhecia direito a retribuição no caso "do trabalho suplementar efectuado por iniciativa do trabalhador para ocorrer a circunstâncias de força maior, ou prevenir prejuízos ou riscos iminentes de carácter grave, de que a entidade patronal não teve conhecimento a tempo de mandar realizar o trabalho suplementar necessário para lhes fazer face".

Considera o mesmo autor que é justo e equitativo que o trabalho fora do horário seja remunerado como tal, desde que se deva considerar que a entidade patronal o teria ordenado se tivesse tido conhecimento oportuno dos factos que objectivamente o determinaram.

Para Francisco Liberal Fernandes (13) "A norma do n.º 4 do artigo 7.º não pode ser interpretada em termos estritamente literais, muito embora isso não signifique pôr em dúvida a regra de que a entidade patronal não pode ser constrangida a remunerar trabalho suplementar relativamente ao qual é alheia e, reciprocamente, o princípio de que o trabalhador não goza da faculdade de prolongar unilateralmente a jornada de trabalho, ainda que daí resulte benefício para o trabalhador.

Contudo, podem verificar-se determinadas situações, desconhecidas da entidade patronal, em que, por força dos seus deveres de diligência ou de custódia, seja exigível ao trabalhador prolongar a respectiva actividade para além do período normal. É o caso das situações previstas no art. 4, n.º 2, da Lei do trabalho suplementar, designadamente por motivo de força maior ou quando a paralisação do trabalhador no término do período normal seja susceptível de acarretar prejuízos ou riscos graves para o empregador".

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Pedro Romano Martinez (14) ensina que embora o pagamento do trabalho suplementar só seja devido tendo havido ordem expressa e prévia do empregador quanto à sua realização e que faltando tal ordem, o trabalhador não tem direito ao pagamento das horas suplementares, "(...) poderá haver justificação para tal pagamento caso se recorra ao instituto do enriquecimento sem causa, atendendo à mútua colaboração e ao dever de o trabalhador promover a melhoria da produtividade da empresa; esta situação deverá ser excepcional, designadamente em situações anómalas, em que a urgência não se compadece com a ordem prévia".

Na jurisprudência, já se decidiu que o pagamento do trabalho suplementar é exigível caso tal trabalho seja efectuado com a vontade do empregador, com a sua autorização ou concordância, só o não sendo quando o trabalho suplementar for prestado contra as ordens do empregador, ou sem o consentimento deste (15).

Outra corrente jurisprudencial entende que o pagamento do trabalho suplementar só é exigível, quando a sua prestação proceder de ordem expressa e antecipada do empregador - sendo certo que é ao trabalhador que incumbe o ónus da prova dessa ordem -, não bastando que a execução do trabalho suplementar seja consentida por ele (16).

Todavia, o acórdão do Tribunal Constitucional de 23 de Novembro de 1999 (17), veio a julgar inconstitucional a norma do art. 6, n.º 1, do DL 421/83, de 02.12 (na redacção originária do diploma, correspondendo ao art. 7, n.º 4, na actual redacção, dada pelo DL n.º 398/91, de 16.10), quando interpretada no sentido de considerar não exigível o pagamento de trabalho suplementar prestado com conhecimento do empregador (implícito ou tácito) e sem a sua oposição, por violação dos art.ºs 59, n.º 1, al. a) e d), 2.º e 18.º, n.º 2, da CRP.

E, na sequência desse acórdão, o STJ decidiu que para que o trabalhador tenha direito à retribuição por trabalho suplementar é necessário que demonstre que esse trabalho existiu e que foi efectuado com o conhecimento e sem oposição da entidade patronal (18).

Esta interpretação tem, aliás, mais recentemente vindo a constituir jurisprudência pacífica deste tribunal, como disso são exemplo os acórdãos de 18.06.03, de 24.06.03 e de 12.11.03 (19) .

Assim, em síntese, tem-se entendido que o direito ao pagamento do trabalho suplementar não decorre da simples prestação dele: exige que o trabalho foi efectuado, no mínimo, com o conhecimento e sem a oposição do empregador.

Perfilhando esta orientação jurisprudencial, consideramos, pois, que o trabalhador tem direito ao pagamento do trabalho prestado em dias feriados ou dias de descanso semanal e complementar, se este foi prestado com o conhecimento e sem a oposição da entidade patronal.

Feita esta breve análise doutrinária e jurisprudencial sobre o trabalho suplementar, é agora chegado o momento de apurar se o A. tem direito ao pagamento do trabalho prestado em dias de descanso e feriados, como decidiram as instâncias.

(17)

Mostra-se provado que o A. esteve ao serviço da R. no estrangeiro nalguns dias de descanso e feriados, e que esta não lhe pagou tais dias com o acréscimo de 200%.

Tenha-se presente que se o motorista se encontra no estrangeiro determinados sábados, domingos e feriados, na sequência de um trabalho que anteriormente lhe foi ordenado pela sua entidade empregadora, deve considerar-se ao serviço desta, ainda que naquele período não haja conduzido.

Com efeito, como se assinalou no acórdão deste Tribunal de 12.03.03 (20), "É sabido que nas viagens ao estrangeiro o motorista encontra-se longe da sua terra e dos seus, de alguma forma isolado, tendo de permanecer por vezes em locais recônditos. E é em tais circunstâncias que, dentro dos padrões do homem médio e de acordo com as obrigações decorrentes dos citados normativos (IRCT), devem zelar pelos veículos e sua carga. Estão nessa medida, e de certa forma, ao dispor da entidade empregadora, situação que hoje, expressamente, o art. 2.º, da Lei n.º 73/98, de 10.11, considera como tempo de trabalho. E essa tarefa é obviamente desenvolvida com o conhecimento do empregador e sem a sua oposição, pois que co-natural ao serviço determinado" (sublinhado nosso).

Ou seja, dito de outra forma: se a entidade empregadora encarrega o trabalhador/motorista de realizar um serviço ao estrangeiro, iniciando a(s) viagem(ns) em determinada(s) data(s), os dias subsequentes despendidos em tal viagem no estrangeiro, ainda que não em condução, dada a especificidade do trabalho, devem entender-se como tendo sido ao serviço daquela e com o seu conhecimento e sem a sua oposição.

Dada a natureza e especificidade do trabalho, com imprevisibilidade quanto ao tempo concreto de duração da viagem - decorrente quer do tráfego rodoviário, quer das condições climáticas, quer até da disponibilidade e agenda de terceiros onde vai ser feita a carga e/ou descarga do veículo, ou ainda de outros imponderáveis -, dificilmente se compreenderia que antes de cada dia de descanso ou feriado passado pelo trabalhador no estrangeiro, ou até antes de cada viagem, a entidade empregadora tivesse que dar o seu consentimento ao trabalhador para a prestação do trabalho nos referidos dias.

Sobre esta matéria, assinalou-se no acórdão recorrido: "estando tais dias intercalados entre outros que correspondem a dias de trabalho semanal, é lícito inferir (a) que a Ré sabia que, durante os dias de descanso semanal ou feriados inseridos em cada um dos períodos em que o A. se encontrava no estrangeiro, se encontrava a prestar serviço no seu interesse, (b) e que, não obstante estar ciente de tal facto, a Ré não se opôs a que tal serviço fosse prestado".

Aliás, de acordo com a experiência comum e tendo em conta o normal funcionamento e desenvolvimento económico de uma empresa de transportes internacionais rodoviários de mercadorias, não seria aceitável que um seu motorista em serviço no estrangeiro tivesse que interromper a viagem por ser sábado, domingo e feriado.

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Concluímos, por isso, volta-se a sublinhar, que os sábados, domingos e feriados que o A prestou no estrangeiro ao serviço da R. por serem inerentes ao serviço determinado, o foram com o conhecimento e sem oposição da R.

Improcedem, assim, também quanto a esta parte, as conclusões das alegações de recurso.

4. Quanto a saber se no cálculo do trabalho suplementar deve atender-se à retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT.

Já se deixaram explanados supra, ainda que implicitamente, os fundamentos para que a resposta à questão equacionada seja afirmativa.

Com efeito, concluiu-se que a retribuição prevista naquela cláusula deve ter por base todos os dias do mês e não somente os dias úteis, já que se destina a compensar os trabalhadores dos TIR pela maior penosidade e pelo esforço acrescido inerentes à actividade de que se ocupam.

Igualmente se concluiu que a referida retribuição tem carácter de regularidade e periodicidade, correspondendo a uma compensação idêntica à que é devida aos trabalhadores isentos de horário de trabalho, integrando o conceito de retribuição que vem definido no art. 82.º, da LCT.

Daqui que a mesma deva ser considerada, como efectivamente foi, no cálculo da retribuição por trabalho suplementar.

5. Quanto a saber se o A tem direito à remuneração pelo trabalho prestado em dias de descanso no período até 17.12.94.

Decorre da citada cláusula 41.ª, n.º 1, do CCT, quanto ao trabalho prestado em dias feriados ou dias de descanso semanal e ou complementar que o acréscimo de 200% se adiciona à remuneração dia normal do trabalhador

Recorde-se que a 1.ª instância condenou a R. a pagar ao A, pelo trabalho por este prestado aos sábados, domingos e feriados, desde 1991 a 1998, o montante global, ilíquido, de 4.086.992$00 (€ 20 835,83).

A 2.ª instância, considerando não ter sido apresentado "documento idóneo", julgou não provada a prestação de serviço durante os dias de descanso semanal e feriados nos anos de 1991 a 1993, inclusive (a que corresponderia um crédito de € 4 565,91), reduzindo o montante da condenação, a tal título, para € 15.820,86.

Alega, agora, a recorrente que deve ser absolvida quanto a todo o trabalho suplementar alegadamente prestado antes de 17.12.94, e não apenas dos anos de 1991 a 1993, uma vez que o prazo de 5 anos referido no art. 38.º, n.º 2, da LCT é de natureza adjectiva, contendo exigência probatória, e nada tem a ver com prazos prescricionais ou de natureza substantiva.

O objecto do recurso, nesta parte, circunscreve-se, assim, a saber se o prazo dos créditos vencidos há mais de cinco anos cuja prova deve ser feita por "documento idóneo" se conta até à data da cessação do contrato de trabalho ou até à propositura da acção.

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Não se questiona, pois, a falta de "documento idóneo" em relação aos créditos vencidos há mais de cinco anos em relação à propositura da acção, mas tão só para trás de que evento se devem contar esses cinco anos para prova dos créditos por "documento idóneo": propositura da acção ou cessação do contrato.

O art. 38.º, n.º 1, da LCT, estabelece a regra de que todos os créditos resultantes do contrato de trabalho e da sua violação ou cessação se extinguem por prescrição decorrido um ano a partir do dia seguinte àquele em que cessou o contrato de trabalho.

E o n.º 2, do mesmo preceito legal dispõe que "Os créditos resultantes de indemnização por falta de férias, pela aplicação de sanções abusivas ou pela realização de trabalho extraordinário, vencidos há mais de cinco anos, só podem, todavia, ser provados por documento idóneo".

Assim, enquanto no n.º 1, do artigo se estabelece o prazo de prescrição de créditos, no n.º 2 fixa-se um regime probatório especial para certos créditos; ou seja, no n.º 2, do art. 38.º, da LCT, não se altera, para os créditos nele referidos, o prazo de prescrição estabelecido no n.º 1, apenas se limita os meios de prova de que o trabalhador pode lançar para demonstrar a existência dos factos constitutivos desses mesmos créditos: através de "documento idóneo", o que tem sido entendido como um documento escrito que demonstre a existência dos factos constitutivos do direito.

Daí que se trate de um prazo de natureza adjectiva, pelo que o que releva, quanto ao prazo de cinco anos, é o momento em que os créditos são reclamados - data da propositura da acção - e não da cessação do contrato de trabalho.

Isto é, exigindo a lei um especial regime de prova - por "documento idóneo" - quanto aos créditos vencidos há mais de cinco anos, o que releva para contagem (para trás) desse prazo é o da propositura da acção.

E, tendo a acção sido intentada em 17.12.99, os créditos mencionados no preceito, anteriores a 17.12.94, só podiam ser provados por "documento idóneo": não tendo sido feita essa prova, como, aliás, a 2.ª instância já decidira em relação aos créditos de 1991 a 1993, não poderão os mesmos ter-se por provados. Assim, quanto aos créditos de 1994, vencidos até 17 de Dezembro, totalizam, de acordo com a matéria de facto provada, 60 dias, a que corresponderia um crédito quantitativo de 577.344$00, ou € 2 879,78 [60 x (95.500$00 + 48.836$00): 30 x 2].

Procedem, pois, nesta parte as conclusões das alegações de recurso, pelo que se deverá reduzir o montante de condenação da R. a pagar ao A., a título de trabalho prestado aos sábados, domingos e feriados, para € 12 941,08 (15 820,86 que haviam sido fixados no acórdão recorrido menos os referidos € 2 879,78).

6. Quanto a saber se o A. tem direito a remuneração com o acréscimo de 100% pela não concessão dos correspondentes dias de descanso passados no estrangeiro e ainda se no cálculo daquela remuneração se deve atender à retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT.

(20)

Dispõe a cláusula 20.ª, n.º 3 do CCT: "Devido às condições específicas de trabalho dos trabalhadores dos transportes internacionais rodoviários de mercadorias, tem de haver um descanso mínimo de 24horas, imediatamente antes do início de qualquer viagem, acrescido dos dias de descanso semanal e feriado que coincidirem com a última viagem".

Por sua vez, estatui o n.º 6 da cláusula 41.ª do mesmo CCT: "Por cada dia de descanso semanal ou feriado em serviço no estrangeiro o trabalhador, além do adicional referido nos n.ºs 1 e 2 desta cláusula, tem direito a 1 dia de descanso complementar, gozado seguida e imediatamente à sua chegada".

Da interpretação conjugada destas cláusulas, verifica-se que os trabalhadores dos transportes internacionais rodoviários de mercadorias têm, além do adicional referido nos n.ºs 1 e 2 da cláusula, direito a gozar, em seguida a cada viagem, os sábados (21), domingos e feriados passados em serviço no estrangeiro, acrescido de um dia de descanso imediatamente antes do início da viagem seguinte (22).

Daqui decorre, pois, a obrigatoriedade de a R. conceder ao A os correspondentes dias de descanso passados no estrangeiro, concretamente em relação aos sábados.

O A. alegou que os dias de descanso não lhe foram dados a gozar, pelo que a R. se constituiu na obrigação de remunerar tais dias com um acréscimo de 200%, conforme estabelece a cláusula 41.ª, n.º 1, 5 e 6, do CCT (cf. art. 84.º da p.i.).

Não vem questionado, excepto no período de 1991 a 17.12.94, que a R. não deu a gozar ao A. os correspondentes dias de descanso passados no estrangeiro, pelo que, nos termos dos preceitos legais citados deverá ser condenada no pagamento da remuneração de tais dias com o acréscimo de 200%.

Todavia, concluindo nós, como concluímos, que o A. não provou a realização, entre 1991 e 17.12.94, de trabalho suplementar aos sábados, domingos e feriados, consequentemente também não tinha que gozar aqueles que seriam os correspondentes dias de descanso quando do regresso a Portugal.

Com efeito, se não se provou a realização de trabalho suplementar naquele período, logicamente que o A. não teria direito a descanso compensatório referente a esse período e a remuneração pelo alegado trabalho prestado nesse dias.

Quanto aos valores a atender na componente da retribuição que deve ser considerada no cálculo da remuneração, naquela é de incluir a retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, pelos fundamentos já supra aludidos, para os quais se remete.

Assim, nos mesmos termos referidos em 4. tem o A. direito a receber da R. a quantia de € 12 941,08 e não € 20 835,83 que havia sido fixada pela 1.ª instância e confirmada pelo acórdão recorrido.

(21)

IV. Decisão.

Termos em que se decide conceder parcialmente a revista, revogando-se o acórdão recorrido na parte em que condenou a R. a pagar ao A. o montante global ilíquido de € 33 153,44, a título de retribuição especial prevista na cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, condenando-se a R. a pagar ao A. as importâncias previstas na citada cláusula 74.ª, n.º 7, a liquidar em execução de sentença, a que serão deduzidas as importâncias auferidas pelo A. sob a rubrica "ajudas de custo" referentes a tal cláusula, bem como na parte em que condenou a R. a pagar ao A. a quantia de € 15 820,86, a título de retribuição pelo trabalho prestado em dias de descanso, cuja condenação se reduz para € 12 941,08, e ainda na parte em que confirmou a condenação da R. a pagar ao A. a quantia de € 20 838,83, por não concessão de gozo dos correspondentes dias de descanso passados no estrangeiro (alínea d) da parte decisória da sentença da 1.ª instância), reduzindo-se tal condenação para € 12 941,08, mantendo-se no mais o decidido.

Custas por recorrente e recorrido na proporção de vencidos, tomando-se em consideração o apoio judiciário concedido ao A. recorrido, sendo suportadas provisoriamente por ambas as partes em partes iguais no que respeita à condenação a liquidar em execução de sentença.

Lisboa, 18 de Janeiro de 2005 Vítor Mesquita

Fernandes Cadilha Mário Pereira

---(1) Neste sentido, podem ver-se, entre outros, os acórdãos do STJ de 13.10.98, (BMJ 480-180), de 12.07.00 (Revista n.º 96/00), de 30.11.00 (Revista n.º 56/00), de 20.12.00 (Revista n.º 2864/00), de 09.04.03 (Proc. n.º 2329/02) e de 02.06.04 (Recurso n.º 1005/04), todos da 4.ª Secção.

(2) Vide, os acórdãos do STJ de 20.01.99 (BMJ 483-122), e de 20.12.00 supra citado.

(3) Neste sentido, entre outros, conforme jurisprudência constante desta 4.ª Secção do STJ, acórdãos de 17.10.01 (Revista n.º 1190/01), de 16.01.02 (Revista n.º 1822/01), de 16.01.02 (Revista n.º 3250/01), de 16.01.02 (Revista n.º 3659/01), de 30.01.02 (Revista n.º 2074/01), de 06.03.02 (Revista n.º 3916/01), de 24.04.02 (Revista n.º 3723/01), de 12.03.03 (Revistas n.º 702/01 e 4301/02), de 09.04.03 (Revista n.º 2329/02), de 03.12.03 (Proc. n.º 2172/03) e de 24.11.04 (Recurso n.º 918/04).

(4) Processo n.º 141/97, 4.ª Secção.

(5) Neste sentido, podem ver-se os acórdãos deste tribunal de 16.01.02 (Proc. n.º 3181/01), de 06.03.02 (Proc. n.º 3916/01) e de 03.12.03 (Recurso n.º 2172/03), todos da 4.ª Secção.

(6) Embora no CCT não conste qualquer referência expressa a "Prémio TIR", quer ao nível dos intervenientes naquele, quer ao nível dos motoristas, quer ao nível das próprias decisões judiciais, parece encontrar-se comummente adoptada aquela denominação quanto à "ajuda de custo internacional" que consta do Anexo II do CCT.

(7) Direito do Trabalho, Almedina, 11.ª edição, pág. 439.

(22)

19.02.04 (Recurso n.º 3478/03 - 4.ª Secção).

(9) Refira-se que, como resulta do que já se deixou supra exposto a propósito da retribuição especial constante da cláusula 74.ª, n.º 7, do CCT, esta afasta a retribuição do trabalho nocturno e do trabalho suplementar nos termos do n.º 8 da mesma cláusula. Assim, ao se mencionar aqui trabalho suplementar, tem-se em vista o trabalho prestado em dias de descanso e feriados, a que se refere a cláusula 41.ª do mesmo CCT.

(10) Neste sentido Ac. do STA de 10 de Janeiro de 1956 e de 17 de Abril de 1956 (Colecção de Acórdãos, Vol. XVIII, pág. 8 e 306, respectivamente).

(11) Obra citada, pág. 353.

(12) Lições de Direito Trabalho, 7.ª Edição, 1997, pág. 442 e 443).

(13) Comentário às Leis da Duração do Trabalho e do Trabalho Suplementar, Coimbra, 1995, pág. 151 e 152.

(14) Direito do Trabalho, Almedina.

(15) Cfr. Ac. do STJ de 27 de Maio de 1992, BMJ 417-554.

(16) Neste sentido, por todos, Ac. do STJ de 12 de Janeiro de 1994 (AD 389-613), de 23 de Fevereiro de 1994 (AD 391-889), de 23 de Novembro de 1994 (BMJ 441-133), de 14 de Dezembro de 1994 (BMJ 442-105), e de 11 de Novembro de 1997 (CJ, S, ano V, tomo III, pág. 277).

(17) Diário da República, II Série, n.º 68, de 21 de Março de 2000, pág. 5349).

(18) Cfr., por todos, Ac. do STJ de 08 de Março de 2000 e de 16 de Maio de 2000 (CJ, S, ano VIII, tomo I, pág. 277 e ano VIII, tomo II, pág. 264, respectivamente).

(19) Recursos n.º 836/03, n.º 1696/03 e n.º 2005/03, respectivamente, todos da 4.ª Secção. (20) Revista n.º 4301/02 - 4.ª Secção.

(21) Reconhece-se que o n.º 6 da cláusula 41.ª, em contraponto com o n.º1, pode suscitar dúvidas, pois enquanto neste se faz referência a "dias de descanso, semanal e ou complementar", naquele menciona-se apenas "dia de descanso semanal". Cremos, todavia, que pela interpretação sistemática da cláusula, a referência a "dia de descanso semanal" inserta no n.º 6, pretende abranger não só o descanso obrigatório como o complementar. Aliás, tenha-se presente que o próprio diploma sobre o trabalho suplementar (DL n.º 421/83, de 02.12), maxime o n.º 3, do art. 7.º, alude a descanso semanal, em situações que se referem a descanso obrigatório ou complementar.

(22) É certo que nos termos da cláusula 20.ª do CCT, não tem o dia de descanso semanal obrigatório que coincidir com o domingo, nem o complementar com o sábado: de acordo com a mesma o dia de descanso semanal obrigatório deve coincidir, sempre que possível, com o domingo, e o dia de descanso complementar tem de ser fixado imediatamente antes ou a seguir ao dia de descanso semanal. Daqui se conclui que imperioso é que o trabalhador tenha dois dias de descanso seguidos, sendo que um deles será, sempre que possível, o domingo.

Ora, dos autos não resulta - a recorrente não o alega -, que o dia descanso semanal obrigatório não fosse ao domingo e o dia de descanso semanal complementar, ao sábado.

(23)

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