• Nenhum resultado encontrado

SOCIALIZAÇÃO DE DIÁRIOS: UM INSTRUMENTO DE REFLEXIBILIDADE DO PIBID

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "SOCIALIZAÇÃO DE DIÁRIOS: UM INSTRUMENTO DE REFLEXIBILIDADE DO PIBID"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

SOCIALIZAÇÃO DE DIÁRIOS:

UM INSTRUMENTO DE REFLEXIBILIDADE DO PIBID

Edan Luis de Almeida Universidade Estadual do Centro-Oeste, Bolsista da CAPES, - Guarapuava, PR. Lídia Stutz Orientadora Coordenadora do sub-projeto PIBID de Letras Inglês, UNICENTRO. lidiastutz@hotmail.com

Resumo:

A prática de escrita e socialização de diários pode ser utilizada como ferramenta de avaliação pedagógica nos cursos de formação de professores. O presente trabalho visa analisar essa prática como um instrumento analítico e potencializador das capacidades docentes de alunos-professores de Letras Inglês (doravante APLIs), que são integrantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). O objetivo geral desse trabalho é analisar as tensões apresentadas na socialização de diários para melhor entender as necessidades dos alunos, enquanto professores em formação. Para sustentar os pilares de nosso trabalho, nos apoiamos nos estudos interacionista sócio-discursivos (BRONCKART, 1999), que concebem a linguagem e a interação como elementos fundamentais para novas aprendizagens e desenvolvimento docente, e que defendem o papel central da linguagem no desenvolvimento social. Na questão da prática diarista nos apoiamos em Machado (2007), Zabalza (1994), Reichmann (2007) et al. Para o andamento das análises, uma socialização de diários foi gravada e transcrita; a partir desse trabalho foi possível selecionar os excertos para análise. Como resultados esperamos entender melhor o contexto de formação dos APLIs, e, assim, buscar melhores intervenções no processo de formação docente.

Palavras chaves: socialização de diários; capacidades docentes; interacionismo sócio-discursivo.

INTRODUÇÃO

O diário é um instrumento analítico pelo qual é possível evidenciar as dificuldades e os conflitos que os APLIs enfrentam durante a formação. A escrita de diários leva o APLI a um diálogo consigo mesmo, fazendo com que ele seja o leitor e também avaliador de sua própria escrita. Reichmann (2007, p. 112) assevera que a escrita de diários é [...] “essencialmente um espaço narrativo pessoal, protegido, onde o professor/aprendiz/autor pode colocar suas dúvidas, anseios, conflitos – enfim, documentar suas tensões, reflexões e (re)elaborar crenças e práticas” .

(2)

No que diz respeito à socialização, ela faz parte de nossa essência humana, nós evoluímos, mudamos nossas condutas por conta das avaliações e julgamentos interpessoais que fazem parte do processo sócio-histórico. Segundo Bronckart (1997, p. 21), as correntes Interacionistas Sociais [...] “têm em comum o fato de aderir à tese de que as propriedades específicas da conduta humana são resultado de um processo histórico de socialização” [...]

Ainda, segundo Stutz (2012, p. 44) “Os instrumentos de socialização de diários e a autoconfrontação levam o APLI a tomar consciência do processo de ensino e aprendizagem, do entorno do sistema escolar e acadêmico”. Proporcionando aos professores em formação um melhor entendimento das práticas escolares e acadêmicas, provendo melhor preparo pra ministrarem uma sala de aula.

Para atingir o nosso objetivo geral, que é analisar as tensões apresentadas na socialização de diários para ter um melhor entendimento das necessidades dos alunos-professores, temos como objetivos específicos, fazer um levantamento das pesquisas que utilizam diários na formação de professores de línguas; analisar as tensões que se evidenciam nas práticas iniciais da condução de atividades em sala de aula quando da socialização de diários.

METODOLOGIA

A pesquisa é desenvolvida no contexto do PIBID de Letras Inglês, que é composto por 12 acadêmicos. Os participantes desenvolvem atividades em duas escolas públicas, sempre acompanhados por um professor supervisor. Os pibidianos auxiliam o professor melhorando assim a qualidade das aulas, pois, torna-se possível realizar atividades que o professor sozinho não teria o tempo necessário para desenvolver e aplicar, levando em conta o contexto da escola pública, o número de alunos por sala e o tempo das aulas. Ademais, eles participam de reuniões semanais nas quais debruçam-se sobre estudos teóricos que têm o intuito de fortalecer os saberes docentes. Os encontros acontecem nas dependências da própria Universidade e são ministrados pela professora coordenadora.

No que diz respeito à geração de dados por meio da socialização de diários, ela ocorreu entre os meses de junho e julho de 2014. Os participantes foram 12 APLIs, uma professora supervisora e a professora coordenadora. Os APLIs escrevem suas experiências de sala de aula no diário e durante a reunião semanal compartilham excertos que

(3)

consideram pertinentes para discussão e também para reflexão, tanto individual quanto do grupo. Para o andamento das análises, uma socialização de diários foi gravada e transcrita. As transcrições foram feitas conforme as normas de NURC/SP n. 338 EF e 331 D². A partir desse trabalho foi possível selecionar dois excertos para análise, que evidenciam o engajamento e as capacidades docentes dos APLIs do PIBID.

Quanto aos critérios de análise, o ISD parte do pressuposto de que todos os gêneros textuais têm suas construções a partir do contexto social no qual são produzidos (Stutz 2012). Desta forma, iniciamos as análises a partir do contexto de produção, físico e sociossubjetivo. Na sequência, analisamos os tipos de discursos utilizados. Por último, analisaremos as vozes.

Análise dos dados

O contexto de produção das socializações envolveu dez APLIs, uma professora supervisora e a professora coordenadora do PIBID de inglês. Os diários foram socializados por três participantes e suscitaram diversos questionamentos e comentários das professoras e dos próprios alunos. A gravação foi realizada dia 17 de junho de 2014, na sala de reuniões do PIBID. O objetivo da socialização foi compartilhar as experiências de conduzir práticas de ensino, relacionadas à copa do mundo, durante as aulas de inglês na escola parceira do programa.

Os conteúdos temáticos recorrentes na socialização foram a falta de experiência com a sala de aula, a condução das primeiras práticas, o medo e o nervosismo na condução das atividades, a aceitação dos alunos e os imprevistos. O plano global do texto apresentou 102 turnos de fala, e a gravação teve duração de uma hora, dezoito minutos e oito segundos.

A socialização da Érika iniciou com o relato da realização da primeira prática em uma turma de ensino médio.

Excerto 1 – Erika, 17 de junho de 2014.

[...] ao iniciar a aula... e entregar as folhas... eu tremia igual a vara verde... eu estava enfrentando o meu medo... de dar aula para alunos com apenas três ou quatro anos de diferença de mim... o tempo foi passando... eles prestando atenção... colaborando... e eu me acalmando... tudo ocorreu como eu planejava ...e no fim da aula .. agradeci por... por terem

(4)

colaborado e serem queridos comigo... e eles riram do meu ner.. nervosismo... brincando comigo [...]

O tipo de discurso recorrente é o relato interativo, no qual a aluna-professora está implicada no discurso ao evidenciar as ações no tempo passado. As unidades lingüísticas que comprovam a implicação são a repetição de pronomes em 1ª pessoa (eu). Também há a junção de três tipos de passado: imperfeito (tremia, planejava), perfeito (agradeci, riram) e contínuo (estava enfrentando, foi passando, prestando, colaborando, acalmando). Isso mostra que há um distanciamento temporal em relação ao momento da socialização, estabelecendo-se a disjunção. Nota-se uma progressão na construção de emoções positivas relacionadas ao passado contínuo, quando a APLI exterioriza a confiança na realização das atividades planejadas.

A APLI utiliza a voz de autor empírico, ela apresenta os receios e os desafios que precisam ser vencidos para se trabalhar com os alunos do terceiro ano do ensino médio. A posição enunciativa em primeira pessoa do singular evidencia a voz de autora responsável pelo trabalho docente (eu tremia, eu estava enfrentando, eu planejava, agradeci, do meu nervosismo). Também há a inserção da voz social quando a APLI expressa as emoções por meio da expressão “tremia igual a vara verde”. A voz de personagem remete aos alunos do terceiro ano do ensino médio (de dar aula para alunos com apenas três ou quatro anos de mim), essa voz de personagem é recorrente por meio da anáfora “eles”.

Excerto 2 – Pâmela, dia de 17 de junho de 2014.

[...] eu acho que o trabalho dela fez MUIto sentido... justamente porque eles tinham assistido abertura naquele dia [...]

O discurso interativo está encaixado no discurso relato interativo, visto que há a introdução do verbo “acho” no tempo presente, ou seja, situação conjunta ao turno de fala e há a utilização de primeira pessoa (eu) mostrando a implicação da interactante. As avaliações sobre o trabalho realizado apresentam-se no tempo passado (fez, tinham assistido), relacionadas ao dia de abertura do evento (copa do mundo) e da prática das atividades planificadas.

No excerto aparecem dois tipos de vozes: a voz de autor empírico que tece comentários sobre as ações realizadas provém da professora supervisora; e a voz de personagem se evidencia tanto no trabalho da APLI (dela), quanto na dos alunos que

(5)

assistiram a abertura da copa (eles). Compreendemos assim, que para a realização de ações didáticas de ensino e aprendizagem, todos os envolvidos, alunos, professora (APLI) e os objetos a serem ensinados são indissociáveis.

Considerações Finais

Tendo em vista as análises feitas, concluímos que na primeira socialização o que prevalece é o relato interativo, tendo uso recorrente de três tipos de passado: o imperfeito, o perfeito e uma recorrência maior do contínuo. Quanto às vozes, a APLI traz a voz do autor empírico (eu), a voz social ao usar uma expressão “tremia igual vara verde”, e, ainda, a voz de personagem arremetida aos alunos, trazida no texto pelo uso do pronome (eles). Na segunda socialização, a professora supervisora inicia com o relato interativo, fazendo uso do verbo “acho” no presente, portanto, indicando conjunção ao ato da fala. No restante do excerto temos a recorrência do tempo passado (fez, tinha assistido). No que diz respeito às vozes, Pâmela traz a voz do autor empírico (eu), a voz de personagem da APLI (dela), e dos alunos (eles).

Portanto, nota-se que a APLI por meio da socialização vai apresentando as tensões de enfrentar uma sala de aula sem ter a experiência necessária, e, logo em seguida, suas concepções de como estava sendo a resposta da turma, esta demonstrou uma receptividade positiva. Na sequência, a APLI a partir da reflexão de suas ações demonstra uma mudança, superando as tensões apresentadas no início da atividade. Mostrando assim, que a escrita e a socialização de diários levam os APLIS à reflexão de suas práticas, afirmando-se como uma importante ferramenta analítica da formação e avaliação docente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONCKART, Jean Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: Por um interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Raquel Machado, Péricles Cunha. São Paulo, SP: EDUC, 1999.

MACHADO, Anna Rachel. Trabalhos de Pesquisa: diários de leitura para a revisão bibliográfica/ Anna Rachel Machado (coordenação), Eliane Gouvêa Lousada, Lilia Santos Abreu-Tardelli. – São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

STUTZ, Lidia. Sequências didáticas, socialização de diários autoconfrontação: instrumentos para a formação inicial de professores de inglês. 2012, 388 f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina, 2012.

(6)

REICHMANN, Carla L. Professoras-em-construção: reflexões sobre diários de aprendizagem e formação docente. Signum. Estudos de Linguagem, v. 10, p. 109-126, 2007. ZABALZA, Miguel Ángel. Diários de Aula: contributo para o estudo dos dilemas práticos dos professores. Trad. José Augusto Pacheco. Porto Editora, 1994.

Agradecimentos

A minha orientadora, Lídia Stutz, pelo empenho para a realização deste trabalho. Ao grupo de pesquisa Gêneros Textuais e Práxis Docente, pelo grande suporte teórico.

Referências

Documentos relacionados

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

Percebemos a necessidade de questionar a teoria de Halbwachs, no tocante à reconstrução do passado pela memória através de processos coletivos, anteriores ao indivíduo e mais ainda

Neste estudo, o autor mostra como equacionar situações–problema, do tipo: “Descubra dois números cuja a soma é 20 e cuja a diferença é 5”, propondo primeiro que o

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

Ao analisar as características do atendimento pré- natal da rede de atenção básica em saúde tendo como parâmetros o preconizado pelo Programa de Humanização do Parto

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

A direção dos Serviços Farmacêuticos Hospitalares (SFH) fica sempre a cargo de um farmacêutico. São várias as funções desempenhadas pelo FH no decorrer da sua atividade

de forma heterogênea foram identificados outros vários objetivos específicos, com características de ações: proteção ambiental, elaboração da agenda 21 na escola para