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DT\797844PT.doc PE430.865v01-00

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Unida na diversidade

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PARLAMENTO EUROPEU 2009 - 2014

Comissão dos Assuntos Jurídicos

2.12.2009

DOCUMENTO DE TRABALHO

sobre o Livro Verde sobre a revisão do Regulamento (CE) n.º 44/2001 do Conselho, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial

Comissão dos Assuntos Jurídicos

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PE430.865v01-00 2/6 DT\797844PT.doc

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Introdução

O relator quer começar por declarar que se propõe seguir uma abordagem algo conservadora no tocante à revisão do Regulamento (CE) n.º 44/2001. De um modo geral, as regras em matéria de competência judiciária e de reconhecimento e aplicação de decisões que foram consagradas pela primeira vez na Convenção de 1968 têm servido bem cidadãos e empresas, e o relator não deseja arriscar expô-los a consequências inadvertidas de mudanças radicais. Não obstante, a aplicação do regulamento tem originado uma série de problemas, decorrentes nomeadamente da jurisprudência do Tribunal de Justiça, que se tem apoiado excessivamente no princípio da confiança recíproca. A este propósito, o relator deseja citar a resolução do Parlamento de 25 de Novembro de 2009, que aponta medidas concretas tendentes a dar corpo a uma cultura judicial europeia que conduza ao estabelecimento de um clima de maior

compreensão mútua e de melhor comunicação entre os juízes e, consequentemente, a um grau mais elevado de confiança mútua.

O relator reconhece a abertura de espírito que caracteriza o Livro Verde da Comissão. Tem-se empenhado em ler as respostas publicadas no sítio Web da Comissão1, e as observações que se seguem são tributárias do grande capital de experiência que elas reflectem. Deseja também manifestar a sua gratidão aos participantes na audição realizada em 5 de Outubro.

No presente documento de trabalho limita-se o relator a apresentar uma série de conclusões de princípio muito preliminares a que chegou no que se refere a um número restrito de pontos abordados no Livro Verde. Elas visam, em particular, suscitar respostas da parte dos seus colegas de comissão e de um universo mais alargado. Como tal, não são exaustivas e não constituem de modo algum a sua última palavra sobre as questões que decidiu focar para estimular o debate.

Supressão do exequatur

A supressão do procedimento de exequatur é «o principal objectivo» das propostas da Comissão para a revisão do regulamento.

Em primeiro lugar, dir-se-ia que os pedidos de declaração de executoriedade raramente são indeferidos: apenas 1% a 5% são objecto de recurso, que, por sua vez, raramente obtém provimento. Porém, segundo o estudo de Heidelberga, não é isso que ocorre, por exemplo, na Grécia. Depois, o considerável dispêndio de tempo e de dinheiro que o procedimento

necessário para conseguir o reconhecimento e a execução de uma decisão judicial estrangeira envolve para os requerentes é difícil de justificar no mercado único, podendo ser

particularmente gravoso quando o requerente pretenda executar bens do devedor em diversas jurisdições.

Em segundo lugar, o procedimento de exequatur não se encontra previsto em vários

instrumentos de direito comunitário: o título executivo europeu para créditos não contestados (Regulamento n.º 805/2004), o procedimento europeu de injunção de pagamento

(Regulamento n.º 1896/2006), o processo europeu para acções de pequeno montante

(Regulamento n.º 861/2007) e o regulamento relativo às obrigações alimentares (Regulamento n.º 4/2009). Todavia, essa omissão prende-se com particularidades específicas desses casos: a

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ausência de contestação de créditos pecuniários, o valor reduzido das pretensões em causa ou a necessidade de acorrer com urgência a partes em situação vulnerável.

Contudo, impõe-se conservar as garantias mínimas (em matéria de citação e notificação, ordem pública (correspondente ao artigo 6.º da CEDH) e ausência de decisões inconciliáveis) previstas no actual regulamento. O relator considera que – no actual estádio de

desenvolvimento do direito comunitário – se o recurso só puder ser interposto perante o tribunal de origem, isso pesará fortemente, e de forma injusta, contra o requerido, que, importa recordar, se encontra noutro Estado-Membro e terá de arcar com os custos e arrostar com as dificuldades inerentes à instauração de qualquer procedimento no Estado de origem. Em sua opinião, a decisão de supressão do requisito de exequatur será prematura – sem embargo de ela dever constituir o objectivo de longo prazo –, enquanto não se houver adquirido experiência suficiente no âmbito dos regulamentos que já o dispensam e

estabelecido normas processuais mínimas a nível comunitário. Para acelerar o procedimento de obtenção de ordens de execução, poderiam estipular-se prazos para a emissão da

declaração de executoriedade e para a interposição de quaisquer recursos, na linha do que fazem os artigos 30.º e 34.º, n.º 2, do Regulamento n.º 4/2009 para os Estados-Membros não vinculados pelo Protocolo da Haia. Igualmente de ponderar seria a hipótese de se restringir a obrigatoriedade de tradução à ordem final (parte decisória e síntese da fundamentação), excepto quando o pedido de declaração de executoriedade seja contestado – caso em que a tradução integral seria obrigatória. O regulamento poderia especificar ainda que o tribunal de execução se deveria limitar a uma apreciação «formal», dos documentos, excepto

naturalmente quando seja interposto recurso.

Para facilitar a apreciação da necessidade de salvaguardas (em particular à luz do acórdão, de 2 de Abril de 2009, no processo C-394/07 Gambazzi v. DaimlerChrysler Canada, ainda não publicado na Colectânea de Jurisprudência), o relator solicitaria o assentimento da comissão para a ideia de o seu departamento temático encomendar um estudo sobre a invocação de razões de ordem pública para o não reconhecimento numa amostra representativa do conjunto dos Estados-Membros.

Taxas de juro

O relator foi alertado para as dificuldades que têm surgido pelo facto de os Estados-Membros disporem amiúde de normas nacionais divergentes no que toca às taxas de juro aplicáveis em decisões de carácter pecuniário. Um tribunal de execução pode recusar-se a aplicar as regras automáticas do tribunal dos Estado de origem, e aplicar em vez disso a sua taxa de juro nacional com efeitos apenas a partir da data de emissão da ordem de execução. A adopção de uma regra que clarificasse a questão proporcionaria aos litigantes uma maior certeza jurídica.

O âmbito de aplicação do regulamento a) Obrigações alimentares

O relator entende que as obrigações de alimentos devem ser excluídas do âmbito de aplicação, tendo em conta a adopção do Regulamento n.º 4/2009.

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O relator opõe-se à abolição (mesmo parcial) da exclusão da arbitragem do âmbito de aplicação do regulamento.

Está inclinado a considerar que a extensão à arbitragem das disposições do regulamento conduziria a uma regionalização do regime da arbitragem na UE que contende com a natureza universal desse instituto. Poderia resultar também na aquisição de competência exclusiva pela UE, efeito que, atendendo às objecções levantadas pelo Tribunal no caso Lugano, só deverá produzir-se por acto legislativo específico. Além disso, as ideias expressas no Livro Verde da Comissão parecem incompatíveis quer com a Convenção de Nova Iorque de 1958, quer com a Convenção de Genebra sobre a arbitragem comercial internacional de 1961. Salienta-se que todos os Estados-Membros são parte de ambas as convenções. Urge ter em mente também que a Suíça é um grande centro de arbitragem e que a Convenção de Lugano exclui a arbitragem do seu âmbito de aplicação. O relator considera, pois, que o mais avisado, para prevenir qualquer interferência com os direitos e obrigações dos Estados-Membros ao abrigo das convenções de Nova Iorque e de Genebra, é continuar a excluir a arbitragem do âmbito de aplicação do regulamento.

Pela mesma razão, o relator considera que não existe necessidade de estabelecer, mediante uma norma imperativa harmonizada, um regime de competência exclusiva para processos acessórios aos processos de arbitragem. Uma tal norma seria susceptível de gerar problemas no campo da assistência transfronteiras em matéria de obtenção de provas. O relator leu um grande número de tomadas de posição a favor e contra a atribuição de um papel decisivo aos tribunais do lugar da arbitragem e é de opinião que este tipo de questão, bem como a questão assaz controvertida das medidas provisórias neste contexto, não deve ser objecto de novos preceitos no quadro da presente revisão. A seu ver, esta matéria carece de ser estudada isoladamente e tratada numa consulta mais aprofundada aos profissionais e aos organismos internacionais do sector da arbitragem.

Quanto à questão dos West Tankers1, provisoriamente pelo menos, o relator perfilha a opinião de que a exclusão da arbitragem deve ser aclarada, para frisar que as decisões proferidas em violação de cláusulas de arbitragem e as decisões que se pronunciam pela invalidade de cláusulas de arbitragem se não inscrevem no âmbito do regulamento. Como tal, não deverão ter força executiva noutros Estados-Membros a título do regulamento.

Poderia contemplar-se também a hipótese de acrescentar ao texto um considerando, redigido em termos apropriados, que consignasse o princípio da Kompetenz-Kompetenz.

O relator gostaria muito de conhecer os pontos de vista dos seus colegas acerca desta questão, como aliás sobre todas as matérias abordadas neste documento.

Eleição do foro

Atendendo à importância que esta Câmara sempre atribuiu à autonomia das partes, inclusive no contexto do processo legislativo que culminou na aprovação do regulamento «Roma II», relativo à lei aplicável às obrigações extra-contratuais, o relator não pode deixar de apoiar esta posição, de que comunga convictamente.

1

Acórdão de 10 de Fevereiro de 2009 no processo C-185/07 Allianz SpA v. West Tankers Inc., ainda não publicado na Colectânea.

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A interpretação corrente da norma da litispendência (tal como se encontra exemplificada no acórdão do processo Gasser v. MISAT1) permite a «sabotagem» das cláusulas de eleição do foro mediante o recurso a acções abusivas.

O relator considera que a forma mais simples de solucionar este problema seria exonerar o tribunal designado num acordo de eleição do foro da obrigação de suspender a instância por força da norma de litispendência. Em articulação com essa medida, deveria estabelecer-se um dever de celeridade na resolução de quaisquer conflitos de competência a título de questão prejudicial pelo tribunal escolhido. Isto funcionaria como factor de dissuasão da instauração de processos paralelos e faria com que passasse a valer a pena correr o risco de instauração de alguns processos paralelos.

Estas medidas poderiam ser coadjuvadas por um considerando que realçasse a importância primordial que deve ser atribuída à autonomia das partes.

O relator está a estudar o documento sobre transmissão a terceiros de cláusulas de eleição do foro apresentado pelo Professor Muir-Watt, já que se trata de um problema genuíno que deve, se possível, ser resolvido em sede de revisão do regulamento.

Forum non conveniens2

Para prevenir o problema que esteve em destaque no caso Owusu v. Jackson3, o relator sugere timidamente uma solução na linha do artigo 15.º do Regulamento n.º 2201/20034. Um

preceito desse tipo habilitaria os tribunais de um Estado-Membro competentes quanto ao fundo da questão a suspender a instância, quando considerassem que um tribunal de outro Estado-Membro ou de um país terceiro estava em melhor posição para julgar a questão, ou uma parte específica dela, para permitir às partes deduzir um pedido ante esse tribunal, ou ao primeiro tribunal transferir o processo para este. Também aqui, o relator agradece

comentários e sugestões

Funcionamento do regulamento na ordem jurídica internacional

O relator entende que as sugestões do Livro Verde da Comissão, de tão radicais e ambiciosas, extravasam uma mera revisão. A sua concretização seria, na realidade, uma tarefa colossal e não tem em conta os diversos acordos bilaterais e multilaterais de que os Estados-Membros são parte.

Uma possível reforma de âmbito limitado poderia consistir na extensão das normas

comunitárias em matéria de competência exclusiva (em particular nos domínios dos direitos reais sobre imóveis e do arrendamento de imóveis) a processos intentados num país terceiro.

1 Acórdão no processo C-185/07 Gasser GmbH v. MISAT Srl Colectânea [2003] I-14693.

2Curiosamente, apesar de ser tida como uma criação da Common law, a doutrina do forum non conveniens foi importada através da Escócia, país de direito escrito, cujos juristas a foram beber à ordem jurídica neerlandesa (ver Lis Pendens in International Litigation, Campbell McLachlan, Hague Academy of International Law, Martinus Nijhoff Publishers, 2009).

3 Processo C-281/02 Owusu v. Jackson Colectânea de Jurisprudência [2005] I-1383.

4 Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27 de Novembro de 2003, relativo à competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria matrimonial e em matéria de responsabilidade parental, e que revoga o Regulamento (CE) n.º 1347/2000, JO L 338 de 23.12.2003, p. 1.

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É igualmente difícil vislumbrar motivos para que a acção não possa ser intentada num terceiro país da União em que uma das partes tenha o seu domicílio, e em que tiveram lugar todas as actividades e todos os danos que são objecto do processo. O recurso a uma disposição do tipo aventado no ponto referente ao forum non conveniens poderia ser útil nesta matéria.

O relator ainda não foi persuadido das vantagens da introdução de disposições que consagrem a competência exorbitante dos tribunais de Estados-Membros da União.

Definição do domicílio das pessoas singulares e colectivas

O relator considera que seria conveniente estabelecer uma definição autónoma do conceito de domicílio das pessoas singulares, designadamente para obviar a situações em que elas possam dispor de mais de um domicílio. Contudo, ainda não viu ser apresentada uma solução

adequada para este problema.

Veria igualmente com bons olhos a adopção de uma definição única do domicílio das sociedades, mas teme que esse problema seja insolúvel no actual estado de coisas.

Referências

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