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O QUE PENSAM PROFESSORES E ESTUDANTES SOBRE A MATEMÁTICA FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO

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O QUE PENSAM PROFESSORES E ESTUDANTES SOBRE A

MATEMÁTICA FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO

ENSINO MÉDIO

Eixo Temático: Aspectos relacionados aos processos de Ensino e Aprendizagem de Matemática no Ensino Médio

Laís Macedo de Almeida Nunes1 Érica Marlúcia Leite Pagani2

Resumo

Esse artigo é parte de uma pesquisa maior que está sendo desenvolvida no Mestrado Profissional de Matemática em Rede Ampla (PROFMAT) e que visa investigar como se desenvolve a Educação Financeira, particularmente, no âmbito do Ensino Médio. Ainda hoje, uma parcela significativa da população brasileira apresenta dificuldades para lidar com finanças pessoais, e não se pode negar a relevância desse tema para a sociedade como um todo. Esse tema vem ganhando muita importância nos últimos anos, e sua abordagem na Escola Básica vem sendo discutida e proposta. A pesquisa aqui relatada é de carácter qualitativo e foi realizada com professores e estudantes do Ensino Médio. Os dados foram coletados através de questionários que continham questões abertas e fechadas e versavam sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática Financeira e Educação Financeira no Ensino Médio. O presente trabalho tem como objetivo apresentar e discutir as percepções desses participantes acerca do tema. Como conclusão, salienta-se a relevância e utilidade desse tema que deve ser trabalhado em todos os anos da Escola Básica, e a necessidade de se aprofundar em conceitos do mercado financeiro ainda na escola. Acredita-se que com os itinerários formativos será possível aprofundar nesse tema.

Palavras-chave: Educação Financeira; Matemática Financeira; Ensino; BNCC.

1. Introdução

Diversas pesquisas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC; 2018, 2019, 2020) apontam a dificuldade de muitos brasileiros para lidar com finanças pessoais. Nessa conjuntura, devido à importância da Educação Financeira para as pessoas e para o país, nos últimos anos, o tema ganhou muita relevância dentro da sociedade e nas orientações em documentos oficiais de ensino.

1 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais; Mestranda PROFMAT: laismanunes@hotmail.com 2 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerias; Professora Doutora: eleite@cefetmg.br

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Segundo a Recomendação sobre os Princípios e as Boas Práticas de Educação e Conscientização Financeira publicada pela OCDE3 em 2005, a Educação Financeira deve começar na escola, sendo recomendado que os estudantes tenham contato com questões financeiras o mais cedo possível. Além disso, esta Organização ainda enfatiza a importância da Educação Financeira se estabelecer como um processo contínuo.

O objetivo do presente artigo é apresentar e discutir os resultados de uma investigação realizada por meio de questionários online respondidos por professores que ensinam Matemática Financeira no Ensino Médio e por estudantes do Ensino Médio. Por meio das respostas obtidas, intencionávamos entender o que pensam esses professores e alunos sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática Financeira e Educação Financeira nesta etapa de ensino. As respostas obtidas nos permitiram analisar e discutir as dificuldades encontradas pelos professores e os interesses dos estudantes acerca do tema.

O artigo está estruturado da seguinte maneira: a próxima seção apresenta um breve panorama sobre a Educação Financeira no Brasil, para em seguida, na terceira seção, apresenta-se as orientações dadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) acerca da Matemática Financeira e da Educação Financeira. Na quarta seção, é apresentada a metodologia da pesquisa e na quinta seção trazemos os dados coletados através dos questionários aplicados. Para finalizar, encerramos com as considerações finais e referências bibliográficas.

2. Um breve panorama sobre a Educação Financeira no Brasil

A história da Educação Financeira brasileira começou por volta do fim dos anos 1990 como sinônimo de dicas de investimento para a parcela da população que já possuía patrimônio necessário para tais ações. (ARAÚJO; CALIFE, 2014). Devido a isso e outros fatores e condições, boa parte da população brasileira era deixada de lado quando se tratava de ser instruída a planejar-se financeiramente. Entretanto, “o foco nesses casos nunca foi o de tentar mostrar o caminho para a organização de um plano que resultasse em poupança” (ARAÚJO; CALIFE, 2014, p.1).

Mesmo hoje, é sabido que parte da população ainda encontra dificuldades para lidar com finanças. Borges (2010) acrescenta que geralmente as estratégias mais utilizadas para lidar com os problemas financeiros são: não pagar na data prevista e contrair empréstimos

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para sanar as dívidas. Segundo pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) (SPC, 2020) estima-se que aproximadamente 61 milhões de brasileiros tenham começado o ano de 2020 com alguma conta em atraso e com o CPF4 restrito para contratar crédito ou fazer compras parceladas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira é de aproximadamente 210 milhões de pessoas, sendo assim, de acordo com a pesquisa, aproximadamente 30% da população começou o ano de 2020 endividada (IBGE,2020).

Além disso, de acordo com indicadores apresentados pelo SPC e CNDL5, sete em cada dez brasileiros não conseguiram poupar dinheiro em agosto de 2019. No entanto, a pesquisa também revela que o percentual de não poupadores é alto mesmo entre pessoas com maior poder aquisitivo. Os dados também apontam que:

Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo, 40% justificam possuir uma renda muito baixa, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. Outros 18% foram surpreendidos por algum imprevisto financeiro, 15% fizeram gastos extras atípicos com reformas, tratamentos médicos e compras, por exemplo e 13% reconhecem ter perdido o controle sobre os próprios gastos. (SPC, 2019, n.p.).

De acordo com os mesmos indicadores, apenas 16% dos que poupam seu dinheiro diversificam seus investimentos (SPC, 2019), e apenas 56% disseram aproveitar a vida pela maneira que administraram seu dinheiro (SPC, 2018). Os dados apresentados nessas pesquisas corroboram a afirmação de que parte da população brasileira ainda não está preparada para lidar com as suas finanças pessoais.

De acordo com Silva (2004), a realidade no Brasil é de que as pessoas não foram educadas para pensar sobre dinheiro na forma de administração, o que se vê é que a maioria gasta sem refletir sobre seu contexto financeiro e os impactos futuros. Poupar é importante, mas não é o suficiente. É preciso saber investir, escolher a modalidade mais interessante além da caderneta de poupança. (BORGES, 2010, p. 2)

Isso reforça a importância de se investir na Educação Financeira da população. “A educação financeira é fundamental na gestão das finanças pessoais, principalmente no tocante ao acompanhamento e controle do planejamento financeiro” (BORGES, 2010, p. 9). Além disso, a Educação Financeira propicia à população um amadurecimento econômico, devendo

4 Cadastro de Pessoas Físicas

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ser considerada como um objetivo para o crescimento econômico do próprio país. Savoia, Saito e Santana (2007) corroboram essa ideia ao afirmarem que a Educação Financeira influencia diretamente nas decisões econômicas individuais e em sociedade.

Em relação a Educação Básica, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) orienta a abordagem de conceitos de Educação Financeira em todos os anos escolares. A BNCC é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que um estudante deve desenvolver durante a Educação Básica.

3. BNCC e a Educação Financeira

De acordo com Borges (2010) e Savoia, Saito e Santana (2007), a Educação Financeira não era explorada nas escolas, e a preocupação com o seu ensino é considerada relativamente recente. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tenta consolidar a Educação Financeira na Escola Básica no Brasil. Em relação à abordagem da Educação Financeira, a Base considera como responsabilidade dos sistemas e redes de ensino, assim como das escolas, incorporar propostas pedagógicas que englobem temas contemporâneos, com destaque para a educação para o consumo e a Educação Financeira e fiscal. O documento frisa que:

Atualmente, as transformações na sociedade são grandes, especialmente em razão do uso de novas tecnologias. Observamos transformações nas formas de participação dos trabalhadores nos diversos setores da produção, a diversificação das relações de trabalho, a oscilação nas taxas de ocupação, emprego e desemprego, o uso do trabalho intermitente, a desconcentração dos locais de trabalho, e o aumento global da riqueza, suas diferentes formas de concentração e distribuição, e seus efeitos sobre as desigualdades sociais. Há hoje mais espaço para o empreendedorismo individual, em todas as classes sociais, cresce a importância da educação financeira e da

compreensão do sistema monetário contemporâneo nacional e mundial, imprescindíveis para uma inserção crítica e consciente no mundo atual.

(BRASIL, 2018 p. 568. Grifos nossos)

O estudo de conceitos básicos de economia e finanças, como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras e impostos está presente na BNCC, visando o desenvolvimento da Educação Financeira dos estudantes. A Base ainda reitera a característica interdisciplinar da Educação Financeira, sugerindo abordagens de dimensões culturais, sociais, políticas, psicológicas e econômicas.

Essas questões, além de promover o desenvolvimento de competências pessoais e sociais dos alunos, podem se constituir em excelentes contextos

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para as aplicações dos conceitos da Matemática Financeira e também proporcionar contextos para ampliar e aprofundar esses conceitos” (BRASIL, 2018 p. 269).

Na BNCC, a abordagem da Educação Financeira e Matemática Financeira tem início desde o Ensino Fundamental (Anos Iniciais), devendo ser trabalhado o Sistema Monetário Brasileiro no eixo temático das Grandezas e Medidas. A partir do 5º até o 9º ano, a Matemática Financeira aparece no eixo temático de Números, por meio de cálculo de porcentagens, sendo várias vezes contextualizada na Educação Financeira. O quadro 1 e 2 a seguir, explicita as habilidades e competências trabalhadas acerca do tema ao longo dos anos na Escola Básica.

Quadro 1 – Habilidades indicadas pela BNCC no Ensino Fundamental em relação à Matemática Financeira e Educação Financeira

Ano Unidade

Temática Habilidade

1º EF Grandezas e Medidas (EF01MA19) Reconhecer e relacionar valores de moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro para resolver situações simples do cotidiano do estudante.

2º EF

Grandezas e Medidas

(EF02MA20) Estabelecer a equivalência de valores entre moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro para resolver situações cotidianas.

3º EF Grandezas e Medidas

(EF03MA24) Resolver e elaborar problemas que envolvam a comparação e a equivalência de valores monetários do sistema brasileiro em situações de compra, venda e troca.

4º EF Grandezas e Medidas

(EF04MA25) Resolver e elaborar problemas que envolvam situações de compra e venda e formas de pagamento, utilizando termos como troco e desconto, enfatizando o consumo ético, consciente e responsável. Probabilidade e estatística Análise de chances de eventos aleatórios.

5º EF Números

(EF05MA06) Associar as representações 10%, 25%, 50%, 75% e 100% respectivamente à décima parte, quarta parte, metade, três quartos e um inteiro, para calcular porcentagens, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira, entre outros.

6º EF Números

(EF06MA13) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com base na ideia de proporcionalidade, sem fazer uso da “regra de três”, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira, entre outros.

7º EF Números (EF07MA02) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, como os que lidam com acréscimos e decréscimos simples, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, no contexto de educação financeira, entre outros. 8º EF Números (EF08MA04) Resolver e elaborar problemas, envolvendo cálculo de porcentagens,

incluindo o uso de tecnologias digitais. 9º EF Números

(EF09MA05) Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com a ideia de aplicação de percentuais sucessivos e a determinação das taxas percentuais, preferencialmente com o uso de tecnologias digitais, no contexto da educação financeira.

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Quadro 2 – Habilidades indicadas pela BNCC no Ensino Médio em relação à Matemática Financeira e Educação Financeira Ano Unidade Temática Habilidade 1ª EM 2ª EM 3ª EM Números e Álgebra

(EM13MAT104) Interpretar taxas e índices de natureza socioeconômica (índice de desenvolvimento humano, taxas de inflação, entre outros), investigando os processos de cálculo desses números, para analisar criticamente a realidade e produzir argumentos.

(EM13MAT203) Aplicar conceitos matemáticos no planejamento, na execução e na análise de ações envolvendo a utilização de aplicativos e a criação de planilhas (para o controle de orçamento familiar, simuladores de cálculos de juros simples e compostos, entre outros), para tomar decisões.

(EM13MAT303) Interpretar e comparar situações que envolvam juros simples com as que envolvem juros compostos, por meio de representações gráficas ou análise de planilhas, destacando o crescimento linear ou exponencial de cada caso. (EM13MAT304) Resolver e elaborar problemas com funções exponenciais nos quais seja necessário compreender e interpretar a variação das grandezas envolvidas, em contextos como o da Matemática Financeira, entre outros.

Fonte: BNCC (BRASIL, 2018) adaptado.

No Ensino Médio, apenas a Matemática Financeira é citada, sendo ela relacionada a competências e habilidades. Nas habilidades EM13MAT203 e EM13MAT104, realça-se a importância de conceitos matemáticos para a tomada de decisões e análise crítica da realidade. Nas outras habilidades, a Educação Financeira aparece atrelada à Matemática Financeira, pois operar, analisar, compreender e interpretar os cálculos financeiros e toda matemática comercial é uma forma de se educar financeiramente os estudantes.

Visto as novas recomendações da BNCC quanto à Educação Financeira, julgamos necessária uma investigação sobre a abordagem dada pelos professores em relação a este conteúdo, e o interesse dos estudantes no que tangem ao tema.

4. Aspectos Metodológicos

A pesquisa aqui relatada é de natureza qualitativa pois se pretende compreender e discutir a perspectiva dos participantes em relação ao ensino e aprendizagem de Matemática Financeira e Educação Financeira na escola. Para coletar os dados que vão compor esta análise foram feitos dois questionários utilizando a ferramenta Google Formulários. Em virtude da quarentena provocada pela pandemia do COVID-19, os questionários foram disponibilizados por links tendo sido divulgados na internet em diferentes grupos de professores e alunos de diferentes escolas e contextos, sendo a maioria residente na capital Belo Horizonte, Minas Gerais.

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Um questionário destinava-se a professores do Ensino Médio que lecionam ou já lecionaram o conteúdo de Matemática Financeira; e o outro foi respondido por alunos que vão concluir o Ensino Médio neste ano de 2020, ou que concluíram em 2019 e 2018.

Os questionários contavam com questões fechadas a fim de se analisar o perfil dos participantes e, questões abertas que permitiam respostas livres em relação ao que pesquisado pensa em relação ao tema. As questões abertas permitem respostas livres em que os pesquisados (aqui professores e alunos) podem falar livremente sobre o tema proposto (GOLDENBERG, 2007)

Ressaltamos que os objetivos desta pesquisa são discutir a abordagem dada pelos professores ao conteúdo de Matemática Financeira e analisar o interesse dos estudantes em relação a temas extracurriculares que envolvam Educação Financeira.

5. O que dizem professores e alunos

A pesquisa realizada por meio dos questionários que investigavam as abordagens e dificuldades em relação ao conteúdo de Matemática Financeira e Educação Financeira no Ensino médio, alcançou 55 professores de Matemática que lecionam ou já lecionaram esse conteúdo, e serão chamados, nessa pesquisa, de P1, P2, ..., P55. Dentre esses 55 professores, 40% são professores que lecionam apenas na escola pública, enquanto os outros 60% são professores que lecionam apenas em instituições privadas.

Quando indagados sobre o ensino da Matemática Financeira, 58,2% dos professores tentam explorar diferentes conceitos além de juros simples e compostos, como, investimentos, financiamentos, mercado financeiro e responsabilidade financeira, que vão além da abordagem encontrada nos livros didáticos. Os outros 41,8% dizem abordar e trabalhar principalmente os conceitos de juros simples e compostos. Em relação à abordagem dos livros didáticos e o sistema de avaliações atuais, 58,2% dos entrevistados disseram que se sentem limitados por esses dois fatores, enquanto 21,8% responderam que “talvez” se sintam limitados, e apenas 20% não se sentem limitados por esses fatores.

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Figura 1 – Síntese do resultado da pesquisa Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

Para corroborar o fato de que muitos professores se sentem limitados pela abordagem dada ao conteúdo nos livros didáticos, foi feita uma breve análise de quatro livros didáticos; sendo eles: Rosso e Furtado (2011), Balestri (2016), Dante (2016) e Iezzi (2018). Nessas obras didáticas analisadas, a abordagem matemática por detrás do tema é bem similar. Os quatro livros revisam e aprofundam os conceitos de porcentagem trabalhados no Ensino Fundamental, para em seguida apresentar os conceitos de juros simples e compostos, além de suas interpretações geométricas por meio de funções. O que diferencia um livro do outro são os tópicos extras, que sugerem trabalhos com: responsabilidade financeira, mercado financeiro, tabelas de amortizações, calculadora do cidadão, entre outros. No entanto, geralmente esses extras ficam na introdução do conteúdo ou ao final do capítulo como sugestões e, devido à grande quantidade de conteúdos e cronograma das escolas, muitas vezes o professor não discute esses temas em sala, fazendo com que a abordagem de Matemática Financeira se restrinja apenas a cálculos e resoluções de questões com aplicações muito diretas.

Ao final do questionário, foi pedido que o professor deixasse um breve relato sobre a abordagem que dão em sala de aula e sobre o como é tratado nos livros didáticos o tema, citando as principais dificuldades ao ministrar o conteúdo e experiências interessantes. Sobre

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Leciono uma aula mais focada em porcentagem e juros, mais restrita ao que está no livro didático. Às vezes penso que nem seria interessante para os alunos, a grande maioria pobre, estudar investimentos e mercado financeiro. Mas acho importante saber que não se deve gastar mais do que tem e sobre os juros absurdos do cartão de crédito.

Os alunos normalmente já têm muita dificuldade em entender os conceitos de juros simples e compostos. Explorar mais o assunto acerca do mercado financeiro demandaria mais tempo e fuga do

cronograma, o que não é factível na escola onde leciono.

A maior dificuldade que eu sinto ao ensinar matemática financeira é que os alunos e alunas pouco sabem sobre o sistema financeira que vivem. É muito difícil dar a noção de juros compostos e de valor presente. Os alunos e alunas, muitas vezes, não conseguem entender como funciona um pagamento antecipado de uma dívida usando a fórmula do valor presente. Acredito que o motivo seja a pouca

importância dada ao assunto ao longo do fundamental e médio. Em uma apostila, trabalhamos

matemática financeira em, no máximo, duas semanas. Enquanto que, assuntos como PA e PG são abordados em um mês.

São duas as frontes que dificultam o melhor ensino dessa matéria: O primeiro é a dificuldade em

cálculos básicos dos estudantes e a dificuldade de acesso de calculadoras e computadores. O segundo é a forma superficial que os materiais tratam o assunto.

a abordagem dada à temática nos livros didáticos, alguns consideram que o tratamento dado ao conteúdo nos livros é simplista, superficial e tradicional. Ademais, diversas reclamações se pautam no tempo, horas/aulas, destinadas ao trabalho desse tema. Alguns professores relataram que o tempo para o ensino da Matemática Financeira é ínfimo quando comparado ao tempo de outros conteúdos no Ensino Médio e, em virtude disso, não conseguem explorar mais a fundo o livro didático e nem mesmo materiais extras. Uma outra questão citada pelos professores é que o cronograma e o sistema de avaliações direcionado ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) não permite aprofundar em conceitos que não se encontram nesse cronograma. Destacam-se alguns dos relados dados, expostos nas figuras 2, 3, 4 e 5 a seguir:

Figura 2 – Resposta do professor P1 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020-grifos nossos)

Figura 3 – Resposta do professor P39 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020-grifos nossos)

Figura 4 – Resposta do professor P16 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020-grifos nossos)

Figura 5 – Resposta do professor P14 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020-grifos nossos)

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Trabalho na rede pública estadual e, o público que atendo apresenta uma grande defasagem de conteúdo, o que me obriga a fazer um trabalho bem básico, voltando à conteúdos de embasamento da matemática financeira, como, porcentagem. Isso faz com que o meu trabalho se limite a explorar conceitos bem básicos, como juros simples, ou às vezes, nem isso.

Os alunos têm dificuldade as vezes com conceitos iniciais que deveriam ser apreendidos no 7° ano do fundamental: razão, grandezas diretas e inversas, regra de três simples e composta, então as vezes temos que voltar nestes conceitos para introduzir juros, etc e alguns nem lembram das funções de 1° grau e exponencial.

Observamos que professor P14 aponta outra dificuldade que também é recorrente nas falas dos professores que é a defasagem na base matemática dos estudantes. Foi relatado, ainda, que muitos alunos possuem dificuldades em conceitos do Ensino Fundamental e Médio, como razão e proporção, porcentagens e funções. Entendemos que essa é uma questão relevante e que merece atenção ao tratarmos do tema, o que justifica a necessidade do desenvolvimento da Educação Financeira desde o início da Escola Básica, fundamentada por conceitos e aplicações matemáticas.

A seguir, as figuras 6 e 7 mostram as respostas de dois professores que ilustram essa situação:

Figura 6 – Resposta do professor P16 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

Figura 7 – Resposta do professor P26 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

Devido a essas dificuldades, alguns professores disseram que fazem projetos paralelos para abordar questões favorecem a para a Educação Financeira, tais como o consumo consciente, empréstimos e financiamentos, investimentos e mercado de ações, inflação, imposto de renda e até mesmo empreendedorismo. Muitos professores afirmaram que o ideal seria que existisse uma matéria sobre Matemática e Educação Financeira desvinculada do cronograma da Matemática tradicional, pois assim seria possível aprofundar em conceitos necessários e importantes em relação às finanças pessoais futuras. Nessa mesma proposta, um professor afirmou que com a reforma do Ensino Médio, acredita que a Matemática Financeira e suas aplicações poderá ser abordada de maneira mais eficiente, se tornando mais interessante não só para os estudantes, mas também para os professores.

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Não, mas acredito que existem muitas pessoas que gostariam, mas não tem a oportunidade. .

Sim. Acredito que tais assuntos são de extrema importância para determinados momentos da vida de um cidadão e aprender isso na escola seria de excelente capital cultural, do que vê -los em sites da internet.

Sim. Tenho interesse em aprender tudo em que envolve matemática financeira. Somos jovens, estamos começando nossas vidas profissionais e financeiras agora. É essencial entendermos do assunto já que estamos embarcando agora no mercado financeiro.

A pesquisa destinada aos estudantes visava investigar a aprendizagem de Matemática Financeira no Ensino Médio e o interesse dos estudantes em relação ao tema. Um total de 141 estudantes responderam ao questionário, sendo que estes representam estudantes que concluíram o Ensino Médio nos anos de 2018, 2019 ou concluirão em 2020. Para manter o sigilo necessário, neste trabalho esses estudantes serão identificados como E1, E2, E3, ..., E141. Dentre esses estudantes, 39% estudaram em escolas públicas, enquanto 61% estudaram em escolas particulares. Quando indagados se o professor abordou temas diferentes de juros simples e juros compostos 48,9% dizem que não, 14,9% disseram não se lembrarem e apenas 36,2% responderam sim.

A última pergunta questionava sobre o interesse pessoal desses estudantes em estudar e aprender tópicos extras como responsabilidade financeira, investimentos, mercado financeiro, financiamento e outros. Nas respostas obtidas, apenas 8 estudantes afirmaram não ter interesse, alguns não tendo justificado sua resposta. Dentre os que responderam ter interesse, a maioria das justificativas se pautava na utilidade desses tópicos na vida adulta e no fato que os estudantes são hoje jovens iniciando as suas carreiras profissionais e a vida financeira, sendo assim, de suma importância aprenderem um pouco de finanças pessoais na escola. As figuras 8, 9 e 10 expressam algumas respostas dadas à pergunta apresentada:

Figura 8 – Resposta do estudante E22 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

Figura 9 – Resposta do estudante E13 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

Figura 9 – Resposta do estudante E102 Fonte: Dados dos pesquisadores (2020)

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As respostas acima demonstram o interesse dos estudantes em relação a temas transversais contemporâneos, o que nos leva a concordar com a necessidade de serem inseridos nos currículos. Além disso, ressaltamos a responsabilidade da escola como um espaço orientador para a formação de cidadãos críticos.

Em suma, a análise dos dados obtidos através dos questionários expressa as diferentes opiniões de professores e estudantes a certa do tema, sendo possível levantar diferentes reflexões sobre o ensino e aprendizagem da Matemática Financeira e o desenvolvimento da Educação Financeira que foram a mola propulsora da dissertação que está sendo desenvolvida.

6. Considerações Finais

Este trabalho teve a intenção de investigar e discutir o que professores e estudantes pensam sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática Financeira e Educação Financeira no Ensino Médio. Nos últimos anos, a Educação Financeira tem ganhado relevância devido a sua utilidade para o indivíduo no que tangem a finanças pessoais e importante, também, para o país, devido ao crescimento e amadurecimento econômico financeiro da população.

Como resultado da pesquisa feita com professores que ensinam Matemática Financeira no Ensino Médio, foi possível perceber diversas dificuldades quanto à abordagem e aprofundamento no tema, como, livros didáticos pouco aprofundados, pouco tempo destinado ao conteúdo e defasagem dos estudantes em relação a conceitos básicos de Matemática. Como resultado da pesquisa feita com alunos, observa-se um interesse em massa em aprender conceitos de Educação Financeira como responsabilidade financeira e funcionalidade do mercado financeiro. Conhecendo a dificuldade de abordagem e aprofundamento do tema por parte dos professores e do entusiasmo dos estudantes em relação a temática, reafirma-se a necessidade de se inserir esse conteúdo nos currículos pedagógicos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aborda a Educação Financeira, direta ou indiretamente, em todos os anos do Ensino Fundamental e Médio, propondo inclusive projetos interdisciplinares acerca do tema. Além disso, com a nova Reforma do Ensino Médio, será possível ofertar nas escolas, itinerários formativos sobre Educação Financeira que aprofundem em questões como orçamento familiar, financiamento e investimentos, como previsto na BNCC. Dessa forma, com uma Educação Financeira de qualidade em toda a Escola Básica, acredita-se que o atual cenário relativo à temática no Brasil irá mudar

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gradativamente, propiciando a formação de um cidadão crítico e preparado para interpretar e tomar decisões na sociedade em que está inserido.

7. Referências

ARAÚJO, Fernando Cosenza; CALIFE, Flávio Estevez. A história não contada da

Educação Financeira no Brasil, 2014. Disponível em:

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