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MAMÍFEROS TERRESTRES ENCONTRADOS ATROPELADOS NA RODOVIA BR- 230/PB ENTRE CAMPINA GRANDE E JOÃO PESSOA.

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MAMÍFEROS TERRESTRES ENCONTRADOS ATROPELADOS NA RODOVIA BR-230/PB ENTRE CAMPINA GRANDE E JOÃO PESSOA.

Marcos Antonio Nobrega de Sousa1; Priscilla Cordeiro de Miranda2

RESUMO - A rodovia BR-230/PB, entre Campina Grande (CG) e João Pessoa (JP), tem 130 km de extensão e possui trechos duplicados, em duplicação e outros não-duplicados. Foi realizado um levantamento das espécies de mamíferos terrestres mortos por atropelamento e identificaram-se quais os trechos da rodovia com maior ocorrência de acidentes. No período de setembro de 2005 a outubro de 2006 foram realizadas, pelo menos, duas viagens semanais de carro ao longo da rodovia entre JP-CG ou CG-JP. Os exemplares encontrados foram fotografados e/ou foram registradas sua ocorrência. Em 172 viagens foram encontrados 47 indivíduos, distribuídos, em cinco famílias e cinco espécies: Didelphis aurita, Cerdocyon thous, Conepatus semistriatus, Galictis vittata e Procyon cancrivorus. A Família Canidae apresentou a maior incidência e a Didelphidae, a menor. Cerdocyon thous apresentou o maior número de registros (62 %) e Didelphis aurita apenas (17 %.). O percurso apresentou uma média de atropelamentos de 0,36 animais/km/ano ou 0,03 animais/km/mês. Os trechos duplicados obtiveram uma taxa de 62% de atropelamentos de animais e os trechos não-duplicados 38%. A adoção de medidas mitigadoras desse impacto é recomendada para os mamíferos terrestres.

Unitermos: Atropelamento, Mamíferos, Rodovias, Paraíba

TERRESTRIAL MAMMALS FOUND ROAD KILLS IN BR-230/PB BETWEEN CAMPINA GRANDE AND JOÃO PESSOA.

ABSTRACT - The highway BR-230/PB, among Campina Grande (CG) and João Pessoa (JP), has 130 km of extension and it possesses duplicated passages, in duplication and others no-duplicated. A rising of the species of terrestrial mammals was accomplished died by running over and they identified which the passages of the highway with larger occurrence of accidents. In the period of September of 2005 to October of 2006 were accomplished, at least, two weekly trips of car along the highway between JP-CG or CG-JP. The found exemplars were photographed and/or they were registered occurrence. In 172 trips 47 individuals were found, distributed, in five families and five species: Didelphis aurita, Cerdocyon thous, Conepatus semistriatus, Galictis vittata and Procyon cancrivorus. The Family Canidae presented the largest incidence and Didelphidae, to smallest. Cerdocyon thous presented the largest number of registrations (62%) and Didelphis aurita just (17%.). The stretch presented an average of running over of 0,36 animais/km/ano or 0,03 animais/km/mês. The duplicated passages obtained a tax of 62% of running over of animals and the no-duplicated passages 38%. The adoption of mitigation measures of that impact is recommended on the terrestrial mammals.

Uniterms: Road Kills, Highway, Paraíba, Mammals INTRODUÇÃO

As estradas estão entre as alterações ambientais que causaram impactos mais extensos em paisagens naturais no século XX (Bergallo, Vera e Conde, 2001), pois, segundo Trombulak e Frissel (2000), estão associadas à ocorrência de impactos negativos sobre a integridade biótica,

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Biólogo, Departamento de Ciências Animais – DCAN, UFERSA, marcossousa@ufersa.edu.br. Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN CEP: 59.625-900.

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tanto de ecossistemas terrestres como aquáticos Para esses autores, os principais impactos ecológicos causados por estradas são: alterações no comportamento dos animais; alteração do estado fisiológico; desequilíbrio ecológico pela introdução de espécies exóticas devido a alterações do hábitat; estresse e/ou remoção de espécies nativas; modificação de cadeia alimentar; fragmentação e alteração de hábitats por efeito de borda; interceptação dos corredores de dispersão natural da fauna terrestre; isolamento populacional e perda de indivíduos por colisão com veículos.

De acordo com Romanini (2000) existem três tipos de efeitos diretos de rodovias sobre vertebrados. O primeiro é o “efeito barreira”, uma vez que as estradas bloqueiam ou restringem movimentos de certas espécies e/ou populações. O segundo é o “efeito de evitação” de rodovias. Várias espécies de grandes mamíferos apresentam densidade de população muito baixa em áreas distando de 100 m. a 200 m. de rodovias. O terceiro tipo de efeito é a perda de indivíduos por atropelamento.

A mortalidade por atropelamento pode ser altamente impactante para populações naturais, principalmente para espécies que existem em baixas densidades, como as ameaçadas de extinção e as que possuem área de vida relativamente grande e taxas reprodutivas baixas, como as de carnívoros. Entretanto, apesar de serem contabilizados grandes impactos de atropelamentos da fauna silvestre que se movimenta em torno das rodovias, as taxas de atropelamento em geral são subestimadas. Os animais que não morrem no momento da colisão deslocam-se para a vegetação adjacente, onde perecem sem ser contabilizados (Prada, 2004). Além disso, pequenos vertebrados mortos são levados rapidamente por necrófagos e carcaças de animais de médio porte em geral desaparecem da rodovia em período compreendido entre 1 e 15 dias (Fischer, 1997).

Alguns dados apontam para o fato de que os animais são atropelados não só pelo percorrer aleatório na região que passou a ser cortada por uma rodovia. Alguns animais podem ser atraídos também por restos de alimento e lixo jogados nas estradas pelos motoristas. Espécies necrófagas vão à procura de animais mortos pelos veículos e à noite algumas espécies de grandes predadores utilizam rodovias que tenham pouco tráfego para se deslocarem, perpetuando muitas vezes um ciclo de atropelamentos (Scoss et. al., 2004).

Poucos estudos sobre acidentes com mamíferos em rodovias foram realizados ao redor do mundo até meados do século passado. No entanto, mais recentemente, os impactos causados à fauna por atropelamentos nas estradas e rodovias têm recebido a atenção de pesquisadores, mostrando que o atropelamento de animais é a fonte primária de morte em estradas. (Forman e Alexander, 1998; Philcox et al., 1999; Trombulak e Frissel, 2000).

No Brasil, existem alguns trabalhos, a exemplo de Vieira (1996) que estimou em 2.700 o número de mamíferos silvestres mortos por ano atropelados em rodovias só nas regiões de Cerrado do país. Fischer (1997), que em 1,5 anos de estudo ao longo de 420 km da rodovia BR-262 no Mato Grosso do Sul contabilizou 1.402 animais silvestres mortos por atropelamento. Silveira (1999) avaliando a rodovia GO-341, que margeia de um lado o Parque Nacional das Emas (PNE) e, do outro, extensas lavouras de soja e milho, entre os quilômetros 83 e 108, concluiu que o atropelamento em rodovias é a principal causa de mortalidade para as populações de Lobos-guarás. Prada (2004) relatou que entre os trabalhos publicados sobre impacto à fauna por atropelamento, são poucos aqueles que tenham sido realizados com metodologia específica.

Bagatini (2006) realizou um estudo comparando a evolução dos índices de atropelamento de vertebrados nas rodovias do entorno da Estação Ecológica de Águas Emendadas, no Distrito Federal, e a eficiência de medidas mitigadoras. O estudo foi comparado a um trabalho desenvolvido na região antes da colocação de placas indicativas de limitação de velocidade e de travessia de fauna e mostrou que houve grande redução dos índices de atropelamento.

Melo e Santos-Filho (2007) em um ano de estudo estimaram o número de atropelamentos de vertebrados silvestres em um trecho da BR-070 na cidade de Cáceres, Mato Grosso, registrando 211 indivíduos, dos quais 59,24% mamíferos, 25,59% aves, 9,47% répteis e 5,21% anfíbios.

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Cherem et al., (2007) realizaram um levantamento de mamíferos de médio e grande porte mortos em diferentes rodovias do Estado de Santa Catarina, durante cerca de quatro anos e contabilizaram 257 carcaças pertencentes a 20 espécies, que representaram 50% das espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte registradas para o Estado de Santa Catarina.

Diante da importância dos registros desses atropelamentos com vistas à conservação e da escassez de estudos dessa natureza no nordeste do Brasil, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento da fauna de mamíferos atropelados na BR-230/PB, no trecho entre as cidades de Campina Grande e João Pessoa, identificando as espécies, a incidência por existência ou não de duplicação e a estação do ano com maior incidência de atropelamentos.

MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo

Foi analisado o trecho rodoviário da BR-230 localizado entre os municípios de Campina Grande (7º 06´50” S) e João Pessoa (7º 06´54” S) com 130 km de extensão com trechos duplicados, não-duplicados e em duplicação (DNIT, 2010) (Figura 1).

Figura 1. Mapa do sistema Rodoviário da Paraíba, com o trecho entre Campina Grande e João Pessoa. Fonte: Atlas Escolar da Paraíba, 2002.

Próximo à cidade de Campina Grande, encontram-se fragmentos de vegetação de transição entre Agreste e Mata úmida. Já em João Pessoa, próximo a BR-230, a vegetação é de Mata Atlântica (Moreira, 1989).

De acordo com a classificação de Köppen, o tipo de clima encontrado em Campina Grande-PB é As’(quente e úmido com chuva de outono-inverno). Ocorre desde o litoral da Paraíba até atingir o Planalto da Borborema em uma extensão aproximada de 100 km. Caracteriza-se por apresentar chuvas de outono - inverno e um período de estiagem de 5 a 6 meses. O Clima em João Pessoa é quente e úmido, com temperatura média anual em torno de 25 ºC, umidade relativa do ar de 80% e índices pluviométricos anuais, em média, de 1600 mm (Atlas Escolar da Paraíba, 2002).

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Coleta dos dados

Foram realizadas, pelo menos duas viagens semanais, no trecho Campina Grande - João Pessoa, de setembro de 2005 a outubro de 2006. Em todas as observações foram anotadas: a ocorrência da espécie, a data da observação, a qual serviu para a análise de diferença sazonal e se o trecho rodoviário era duplicado ou não-duplicado.

Os meios de transporte para execução das viagens foram: carro e moto. Sendo possível, foram realizadas paradas e com o auxílio de uma câmara fotográfica digital ou celular equipado com câmera digital os exemplares atropelados foram fotografados, quando não, apenas foram anotadas a sua ocorrência. A identificação das espécies foi realizada apenas pela morfologia externa de acordo com chave taxonômica para mamíferos (Emmons, 1997) e não foram contabilizadas as carcaças de animais domésticos.

O taxa de atropelamentos foi calculada através da contagem do número de indivíduos encontrados atropelados dividido pela quantidade de quilômetros percorridos por mês e por ano. As metodologias para este tipo de estudo são variáveis, alguns autores dividem o número de indivíduos por mês, outros por ano.

Análise estatística

Foram realizadas duas amostras independentes e aleatórias para observar o dado qualitativo sobre a presença ou ausência de animal atropelado no trecho duplicado e no não-duplicado.

A hipótese testada estatisticamente é de que a proporção de mamíferos encontrados atropelados no trecho duplicado (TD) seria maior do que a do trecho não-duplicado (TND). Para realizar a análise foi utilizado o programa Biostat, versão 5.0, de modo a comparar as proporções de atropelamentos entre os trechos duplicados e os trechos não duplicados ao nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Espécies encontradas atropeladas

Foram registradas cinco espécies de mamíferos distribuídas, em duas Ordens, uma Subordem, e cinco Famílias, Tabela 1, segundo a classificação das espécies de mamíferos viventes (Wilson e Reeder, 2005). Sendo quatro espécies pertencentes à Ordem Carnívora: Cerdocyon thous, Galictis vittata, Conepatus semistriatus e Procyon Cancrivorus. E uma espécie pertencente à Ordem Didelphimorphia: Didelphis aurita. Nenhuma delas encontra-se na lista de animais de extinção do Ibama.

Tabela 1 - Lista das espécies registradas e número de espécimes encontrados atropelados

Ordem Subordem Família Espécie Nome popular Total

Didelphimorphia Didelphidae Didelphis aurita Gambá 8

Carnívora Caniformia Canidae Cerdocyon thous Raposa 29

Mephitidae Conepatus semistriatus Cangambá 3

Mustelidae Galictis vittata Furão 4

Procyonidae Procyon cancrivorus Guaxinim 3

Total 47

Número de atropelamentos

Em 172 viagens de campo realizadas no período de setembro de 2005 a Outubro de 2006 foram registrados 47 indivíduos, em 22.360 kms percorridos. As espécies estão distribuídas, segundo a classificação de Wilson e Reeder, (2005), em cinco espécies: C. thous que apresentou o maior número de atropelamento com 29 registros, (62 %), G. vittata com quatro registros (9 %) e C. semistriatus e P. cancrivorus que obtiveram o menor número de ocorrências, três indivíduos cada (6

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%). Didelphis aurita, a única espécie de marsupial registrada, teve apenas oito registros (17 %) (Figura 2).

O percurso entre Campina Grande e João Pessoa, durante os 12 meses do estudo, apresentou uma média de atropelamento de 0,36 animais/ano ou 0,03 animais/Km/mês.

17% 62% 6% 9% 6% Didelphis albiventris Cerdocyon thous Conepatus semistriatus Galictis vittata Procyon cancrivorus

Figura 2 Porcentagem dos mamíferos encontrados atropelados na BR 230/PB. Porcentagem de atropelamentos no trecho duplicado e não duplicado.

Foi possível realizar uma comparação inédita entre duas situações distintas na mesma estrada: trechos duplicados e não-duplicados. Observa-se que a porcentagem de mamíferos encontrados atropelados foi maior no trecho duplicado - TD (62 %) do que no não-duplicado - TND (38 %) (Figura 3). Após a inauguração da duplicação completa do trecho rodoviário, em julho de 2009, não é mais possível dimensionar esta variável.

TD 62% TND

38%

Figura 3. Porcentagem dos atropelamentos dos mamíferos nos trechos duplicados (TD) e não duplicados (TND).

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Este fato ocorreu, provavelmente, devido à maior largura da estrada nestes trechos. Entretanto, nenhum dos trabalhos semelhantes analisou este item, fato que impossibilitou qualquer tipo de comparação.

Número de atropelamentos no trecho duplicado e não duplicado por espécie.

Entre as espécies registradas, C. thous apresentou a maior número de exemplares encontrados no trecho não-duplicado TND (36%) do que no trecho duplicado (26%). É importante ressaltar, que P. cancrivorus teve ocorrência exclusiva no trecho duplicado, enquanto que C. semistriatus, no trecho não duplicado (Figura 4).

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% Did elph is a lbiv entri s Cer docy on th ous Con epat us s em istri atus Gal ictis vitt ata Pro cyon can criv orus TD TND

Figura 4 Porcentagem de atropelamentos por espécie no trecho duplicado (TD) e não duplicado (TND)

C. thous ter sido encontrada com maior freqüência no trecho não-duplicado ocorre possivelmente devido a grande vagilidade que esta espécie apresenta e pelo grande tamanho de sua área de uso, estimada por Beisiegel (1999), pelo método do Mínimo Polígono Convexo, em 382, 5 ha. Seu comportamento é típico de um mamífero de médio porte, que se desloca por grandes distâncias à procura de alimento, pois seu hábito alimentar é generalista.

Já o fato de C. semistriatus ter sido registrado apenas no trecho não duplicado ocorreu possivelmente devido a este trecho coincidir com área de vegetação do tipo caatinga, visto que esta espécie habita, principalmente, área de vegetação mais aberta, como campos, cerrado e caatinga.

Análise estatística

O teste binomial para duas amostras independentes aleatórias com o nível de significância de 5% corroborou a hipótese de que a proporção de mamíferos encontrados atropelados é maior no trecho duplicado do que no não-duplicado, (Tabela 2).

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Tabela 2. Teste binomial de duas proporções com amostras aleatórias independentes no trecho duplicado (TD) e no trecho não-duplicado (TND).

TD TND Z = 2.2691 --- p1 = 0.6170 --- p2 = 0.3830 --- Unilateral Bilateral p-valor = 0.0116 0.0233 poder (0.05) = 0.7395 0.6247

Número de atropelamentos por estação do ano

Como o trabalho foi conduzido durante um ano, foi possível separar os dados por diferenças sazonais (período seco=PS e período chuvoso=PC). Foi constatado que no período seco a proporção de mamíferos atropelados foi maior, com 77% de casos registrados, enquanto que no período de chuva foi de 23%. Estas proporções certamente indicam que os animais têm maior necessidade de locomoção no período de seca, pois certamente há maior escassez de recursos, (Tabela 3).

Tabela 3. Lista das espécies distribuídas de acordo com a época do ano: Período Seco (PS), Período Chuvoso (PC). ESPÉCIE PS PC Didelphis aurita 18% 17% Cerdocyon thous 82% 56% Conepatus semistriatus 0% 8% Galictis vittata 0% 11% Procyon cancrivorus 0% 8% Total 77% 23%

Observa-se que as duas primeiras espécies da Tabela 3, D. aurita e C. thous mostraram maior índice de atropelamento no período seco, enquanto que as outras três subsequentes: C. semistriatus, G. vittata e P. cancrivorus mostraram uma condição oposta, com índices exclusivos no período chuvoso.

O maior índice de atropelamento no período seco é concordante com os resultados de Prado et al, (2006) que estudou a efeito das estradas na fauna de vertebrados no cerrado brasileiro, encontrando 77,3% dos animais atropelados no período seco e 22,7% no período chuvoso; resultado semelhante constatado por Cherem et al., (2007) em rodovias de Santa Catarina e Turci e Bernade (2009) em rodovia estadual em Rondônia. Pereira et al., (2006), entretanto, em estudo de dois anos em rodovia do Pará, não encontraram diferenças significativas entre o período seco e o chuvoso.

O exclusivo número de atropelamentos de três espécies: C. semistriatus, G. vittata e P. cancrivorus são condizentes com os dados de Forman e Alexander, (1998); Pinowski, (2005); e Smith e Dodd, (2003) que encontraram correlação positiva entre o aumento da precipitação e aumento do número de atropelamentos. Enquanto que em estradas que cortam a floresta Nacional de Carajás, no Pará, a correlação entre precipitação e atropelamento foi negativa (Gumier-Costa e Sperber, 2009).

Número de espécies encontradas

A espécie mais registrada neste trabalho foi C. thous com 29 registros (62%), fato que, é bastante superior ao encontrado em outros levantamentos realizados no Brasil. Vieira (1996) encontrou C. thous como a espécie mais registrada (28%). Fischer (1997) encontrou quase 20% do total de animais registrados desta espécie. Silveira (1999) notou que ela representou de 18% a 30%

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dos atropelamentos, dependendo da rodovia. Prado et al., (2006) contabilizou 15% dos atropelamentos, sendo a espécie mais registrada entre os mamíferos. Prada (2004) encontrou 15 exemplares atropelados, ressaltando o grande impacto das rodovias sobre os carnívoros, em especial para esta espécie, devido ao fato dos carnívoros terem grandes áreas de vida a percorrer, o que as expõe a várias travessias de estradas. Eles também são atraídos devido ao hábito de necrofagia. Além disso, as margens de rodovias, com vegetação baixa, ou as próprias faixas de rolagem, podem ser utilizadas por estes animais como trilhas artificiais para sua movimentação. Tumeleiro et al., (2006) em Uruguaiana, e Cherem et al., 2007 em Santa Catarina, também mostraram que a espécie mais comumente encontrada foi C. thous.

Em relação às outras espécies, Lima (2004) contabilizou a ocorrência de quatro G. vittata e três P. cancrivorus. Já Silveira (1999), registrou cinco C. semistriatus. Enquanto Prada (2004) encontrou apenas um indivíduo de C. semistriatus e P. cancrivorus, não registrando a ocorrência de G. vittata. Por outro lado, Ferreira et al., (2006), em dois anos de estudo no Pará, encontrou P. cancrivorus como a espécie mais abundante.

Neste trabalho, D. aurita foi a segunda espécie mais registrada; resultado semelhante foi obtido por Lima (2004) em seu estudo realizado na BR-277 que margeia o Parque nacional do Iguaçu-PR, quando foram contabilizados 12 exemplares de D. aurita atropelados, sendo a segunda espécie mais abundante. Mantovani (2001), durante estudo realizado na região da Estação Ecológica de Jataí-SP (EEJ), registrou D. aurita como a espécie de maior ocorrência. Prada (2004) encontrou 53 exemplares, que representaram 28,8% do total de mamíferos. Cherem et al., (2007) encontrou 44 indivíduos (17,1%) e Hengemühle (2008) encontrou esta espécie como a mais abundante. Já Silveira (1999), contabilizou nas rodovias que margeiam o Parque Nacional das Emas, UC de 130.000 ha apenas um exemplar de D. aurita.

A maior expressividade de Didelphis aurita deve-se provavelmente à sua abundância e ao seu hábito tolerante ao meio antrópico. Essa espécie tem habitat variado, aparentemente ocorre em qualquer lugar que lhe proporcione abrigo, segurança e alimentação, inclusive áreas domésticas e urbanas (Reis et al., 2006).

Coelho (2003) salienta que, embora D. aurita e C. thous sejam comuns em ambientes alterados, atualmente, em função da possível diminuição ou da drástica extinção de outros carnívoros de grande porte na região por ele estudada, elas podem ser as principais espécies a exercer determinadas funções ecológicas, como dispersão de sementes e predação.

Resultados sobre taxas de atropelamento inferiores aos apresentados neste trabalho (0,036 animais/km/ano) foram encontrados por Prada (2004) e Mantovani (2001), que contabilizaram 0,015 animais/km/ano. Lima (2004) em estudo na BR-277, que margeia o Parque Nacional do Iguaçu-PR, numa área de 32 km encontrou uma taxa de 2,34 animais/km/ano e 0,29 animais/km/mês.

Alguns autores utilizam outros índices para estimar o nível de atropelamento, a exemplo de Silveira (1999) que encontrou 0,045 animais/km percorrido, em trabalhos realizados em rodovias que margeiam o Parque Nacional das Emas, Unidade de Conservação (UC) de 130.000 ha reconhecida pela riqueza e abundância de fauna de grandes mamíferos.

Levando-se em consideração as diferenças entre as regiões estudadas por Fischer (1997), Silveira (1999), Prada (2004) e Lima (2004) e a região aqui estudada, além da diferença nas metodologias, pode-se admitir que a taxa de atropelamento encontrada foi alta, principalmente em relação a espécie C. thous.

Medidas mitigadoras do impacto sobre os mamíferos, como redutores de velocidade e placas sinalizadoras nos trechos com estradas retas e próximas a vegetação deveriam ser adotadas na BR-230/PB.

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CONCLUSÕES

• Foram registrados 47 indivíduos encontrados atropelados, distribuídos, em duas ordens, uma subordem, cinco famílias: Didelphidae, Canidae, Mephitidae, Mustelidae eProcyonidae e cinco espécies: Didelphis aurita, Cerdocyon thous, Conepatus semistriatus, Galictis vittata e Procyon cancrivorus, respectivamente.

Cerdocyon thous apresentou o maior número de registros entre o total de animais contabilizados (62 %) e Didelphis aurita obteve apenas (17 %).

• Os trechos duplicados tiveram uma taxa de 62% de animais atropelados, enquanto os trechos não-duplicados detiveram 38%.

• Ao nível de 5% de significância, a proporção de mamíferos encontrados atropelados é maior no trecho duplicado do que no não-duplicado.

• Medidas para diminuir o impacto sobre os mamíferos, como a adoção de corredores poderiam ser adotadas na BR-230/PB.

REFERÊNCIAS

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Referências

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