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O Contexto Internacional e a Guerra do Paraguai

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Academic year: 2021

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O Contexto Internacional e a Guerra do Paraguai

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo

nem a si mesmo, perderá todas as batalhas

Sun Tzu

Thiago Rabelo Sales Mestrando em História da Universidade Federal de Mato Grosso

Nos mundos Moderno e Contemporâneo, guerras e conflitos entre países por várias vezes causaram grandes agitações no cenário político internacional. Ao longo do século XIX o contexto internacional atravessou um período de muitas mudanças: independência das colônias americanas, alterações hegemônicas na Europa e o surgimento de uma nova potência além do Velho Continente. Certamente, o processo acelerado de industrialização liderado pela Inglaterra com a Revolução Industrial, contribuiu significativamente para a disseminação de uma mentalidade mais voltada para o capitalismo. Esses novos valores se disseminaram não só pela Europa, como pelo resto do mundo, resultando em alguns conflitos territoriais, políticos e econômicos.

A Revolução Industrial surge trazendo grandes mudanças no sistema de trabalho. Em primeiro lugar, a produção passa a ser feita em série e em larga escala; as oficinas dão lugar às fábricas. A Segunda importante modificação condiz às formas de trabalho, pois a partir de agora, o trabalhador vende a sua força de trabalho em troca de um salário. Por fim, a ascensão da classe burguesa, dona do maquinário e das fábricas, que vê nesse novo sistema a oportunidade de lucros enormes. A necessidade de obtenção de matéria prima para o funcionamento desse sistema torna-o mundial.

Surgem nesse primeiro momento como grandes potências industrializadas a Inglaterra e a França. Esses países vão ter um papel fundamental no processo de pós-independência das colônias latino-americanas. Com o aumento de suas produções, esses países vão em busca de mercados para despejar seus produtos industrializados. Nessa busca, encontram-se com as ex-colônias latino-americanas recém independentes e em

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processo de fortalecimento de sua autonomia política e econômica. Nesse momento, vários tratados de livre comércio serão firmados entre esses novos países e as potências industrializadas, abrindo assim novos mercados consumidores para os produtos industrializados europeus. Muitas nações de periferia inseriram-se nesse sistema sob a condição de interdependência numa tentativa de demonstrar que a industrialização estava ao alcance de qualquer povo1. Era o capitalismo monopolista dando seus primeiros passos no âmbito mundial.

Desse sistema nascerá o liberalismo econômico na fase mais capitalista da Revolução Industrial. E é desse liberalismo econômico, que surgirão diversas disputas internacionais, principalmente na etapa em que o imperialismo predominar sobre os países europeus.

O advento de um sistema capitalista mundial obrigou as nações recém independentes do início do século XIX a se inserirem nessa nova ordem, ocupando uma posição coadjuvante no sistema. Na maioria das vezes, esse lugar consistia em fornecimento de matérias primas para os países industrializados, bem como a compra de produtos industrializados vindos destas mesmas nações.

O Brasil, nas primeiras décadas do século XIX, assinou vários tratados econômicos com nações européias, nos quais se comprometia a adquirir produtos manufaturados dessas nações. Mas a partir da década de 1840, esses tratados foram revogados e o Brasil passou a adotar uma política mais protecionista, voltada para a tentativa de um “surto” de industrialização interna. Essa tentativa não durou muito, já que, nos anos de 1860, os interesses latifundiários e a necessidade de inserção como fornecedor de matérias primas no complexo capitalista mundial falaram mais alto, pondo uma barreira ao pensamento industrial2. No Brasil, esse pensamento industrial era defendido por alguns elementos do partido conservador.

1

CERVO, Amado Luiz. “Hegemonia coletiva e equilíbrio: A construção do mundo liberal”. In: SARAIVA, José Flávio Sombra (org). Relações internacionais contemporâneas: Da construção do mundo liberal à globalização – de 1815 a nossos dias. Brasília: Paralelo 15, 1997, pp.82-83.

2

Esses interesses latifundiários eram defendidos na época pelos liberais radicais, que assumiram o poder naquele momento. Apesar da extinção do tráfico negreiro, a classe dos latifundiários continuou a ter uma participação significativa no governo imperial, interferindo, inclusive, nas estratégias de desenvolvimento econômicas do Brasil. Vale lembrar que nessa época o Brasil passou a ser, devido à guerra civil

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Já o Paraguai, por outro lado, representava uma espécie de “anacronismo” entre as nações sul-americanas da época. Recusando-se a se inserir no mercado capitalista mundial emergente3, o país se fechou às importações e todas as exportações eram coordenadas pelo governo. Essas atitudes fizeram com que o Paraguai se isolasse politicamente do resto do mundo. Mas o elemento catalisador para a guerra foi a situação política em que vivia o Uruguai.

O Uruguai tornou-se independente do Brasil, em 1828, após uma guerra de três anos entre o Império e a Argentina. A Inglaterra, em função dos seus interesses econômicos na região, garantiu a criação do Uruguai, pois permitiria a livre navegação no estuário platino. Por sua vez, o Brasil exercia grande influência, principalmente econômica, sobre a região visando, sobretudo, garantir a livre navegação da bacia do Prata e, assim, o acesso à província de Mato Grosso.

Desde 1861, com a ascensão do membro do Partido blanco, Bernardo Berro, ao poder, o cenário político e social uruguaio era de intensa agitação. Berro instituiu impostos que afetavam diretamente produtores rurais brasileiros do Rio Grande do Sul que possuíam propriedades no Uruguai, além de romper um Tratado de Comércio e Navegação com o Império brasileiro. No mesmo contexto, a Argentina se tornava um Estado Nacional, sob a égide de Bartolomeu Mitre, que buscava a unificação do novo Estado, combatendo os federalistas da oposição. Estes contavam com boas relações com o governo de Berro utilizando, inclusive, o porto de Montevidéu para seu comércio. Os governos de Brasil e Argentina vêem, então, no apoio ao partido de oposição à Berro, o colorado, uma oportunidade de conseguir seus objetivos quanto ao Uruguai. Por sua vez, Berro, sentindo-se ameaçado, busca nos federalistas argentinos e no governo paraguaio apoio para combater

americana, um dos maiores fornecedores de algodão para sustentar as fábricas de tecido inglesas como nos mostra o livro “O processo histórico de Mato Grosso”.

3

Segundo Francisco Doratioto em sua obra “Maldita Guerra: nova história da guerra do Paraguai”, essa recusa se iniciou com a ascensão do ditador José Gaspar Rodrigues de Francia ao poder em 1811. Francia, ou “El Supremo” como era chamando, instaurou no Paraguai um regime em que o Estado era o responsável por todas as negociações de produtos com o mercado internacional, além de estabelecer que tudo que o Paraguai necessitasse deveria ser produzido no próprio país. Além disso, o governo teria o direito de confiscar as propriedades da Igreja, dos indígenas e dos particulares que não as tornassem produtivas. Essas terras confiscadas eram transformadas em “Estâncias da Pátria”, onde eram arrendadas à pequenos produtores e onde todo o excedente produzido era comprado pelo próprio Governo. Os ditadores que sucederam Francia

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os avanços colorados. Embora nunca se tenha assinado um acordo, o apoio paraguaio veio de forma declarada. Com as intervenções brasileira e argentina no Uruguai, Solano López rompe sua relações e declara guerra aos dois países.

As relações entre o Império brasileiro e as demais nações do mundo no contexto da Guerra da Tríplice Aliança

Durante o conflito com o Paraguai, o Brasil preocupou-se em manter relações cordiais principalmente com as grandes potências e com as nações sul-americanas. Para isso, o eficiente corpo diplomático com o qual contava Dom Pedro II conseguiu, ao longo da guerra, conduzir da melhor forma possível as relações exteriores com os demais países.

Entre as grandes potências européias, os governos de Inglaterra e França mantiveram-se neutros ao longo da guerra. A neutralidade francesa acabou por impedir o recebimento pelo Império de um navio de guerra, encomendado junto à estaleiros franceses antes do início da guerra4.

Em 1863, as relações entre o Império do Brasil e a Inglaterra foram rompidas devido a um acontecimento que ficou conhecido como “Questão Christie”5. Mas, com a Guerra despontando no horizonte, o Império brasileiro viu-se na necessidade de evitar o maior número possível de inimizades entre as nações consideradas como grandes potências, além de estar ciente da importância econômica da Inglaterra, caso realmente a Guerra eclodisse. No entanto, somente em maio de 1864, após algumas desculpas feitas pelo governo britânico através de uma nota enviada ao governo brasileiro, houve, finalmente o restabelecimento das relações internacionais entre os dois países.6

mantiveram posturas bem parecidas ao do primeiro, com algumas poucas exceções, como a instalação de uma indústria de base em Assunção.

4

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 256.

5

A “Questão Christie” aconteceu em 1863. O Ministro inglês William D. Christie veio ao Brasil com a missão de obter um tratado de comércio entre os dois países, de induzir o Brasil a associar-se à política da Inglaterra na Bacia do Prata e exigir a abertura da Bacia do Rio Amazonas para navegação internacional, além de resolver problemas de nacionalidade dos filhos de estrangeiros no Brasil. Como não conseguiu nenhum dos objetivos, decidiu por desencadear uma série de acontecimentos tentando intimidar o Governo Brasileiro, o que acabou por desembocar na ruptura das relações entre os dois países.

6

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.256.

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Durante o período de Guerra, a organização diplomática brasileira foi fundamental para a obtenção de armamento e de dinheiro na Europa, além, é claro, do combate ao descontentamento de outros governos com a guerra. Além disso, praticamente isolou politicamente o Paraguai do resto do mundo.

Mas, a diplomacia imperial não foi capaz de obter a total simpatia à causa aliada. Na América, os Estados Unidos, apesar de algumas tentativas de intermediar a paz entre as partes, demonstrou, desde o início do conflito, uma posição favorável ao Paraguai. Entre os países da América do Sul, alguns protestos foram registrados ao longo da guerra, devido, principalmente, à recusa do governo imperial da proposta de intermediação de paz feita por essas nações.

Dentre as nações que não apoiavam os países aliados encontrava-se a maioria das repúblicas da América do Sul (Bolívia, Peru, etc.) e, principalmente, os Estados Unidos, onde o próprio governo local simpatizava com Solano López. Esse era um apoio importante para López, já que há indícios de que o governo norte-americano enviou armas para o exército guarani ao longo da guerra, através da Bolívia. Segundo Francisco Doratioto, “As autoridades bolivianas permitiram que passasse por seu território, em 1870, armas e munições destinadas ao Paraguai”7.

Alguns incidentes também marcaram as relações exteriores do Império brasileiro com os outros países da América do Sul. Alguns autores acreditam que as hostilidades das repúblicas sul-americanas para com o Império, deviam-se ao fato de, no Brasil, ainda vigorar o sistema de monarquia. Essa abordagem defende uma visão imperialista do Brasil frente ao Paraguai. Outros acreditam, que esse posicionamento favorável ao Paraguai simplesmente era uma tendência normal das nações de se colocarem do lado mais fraco numa analogia à parábola de Davi(Paraguai) e Golias(Brasil)8.

7

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.263.

8

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.257. Os maiores expoentes dessa visão são os historiadores do chamado “revisionismo histórico”, movimento que ocorreu na historiografia sobre a guerra do Paraguai na década de 1970, e que vê Solano López como um líder militar que lutava contra o monstro do imperialismo representado pela Tríplice Aliança.

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Em 1867, o Brasil rompeu relações com a República do Peru, devido a uma mensagem favorável ao Paraguai dita pelo então presidente peruano, coronel Prado, ao Congresso Constituinte peruano, no dia 15 de Fevereiro. Prado afirmou que:

“[o] Paraguai sustenta contra o Império do Brasil e seus aliados uma luta em que a justiça da causa rivaliza com o heroísmo da defesa. A bem dos beligerantes e por honra e conveniência da América,

protestamos contra tal escândalo, oferecendo ao mesmo tempo nossa amigável interposição.”9

As relações entre os dois países vieram a se normalizar com a derrubada de Prado e sua substituição pelo vice-presidente, general Canseco, que, ao assumir, anulou os atos de seu antecessor e, assim, foram restabelecidas as relações entre o Império brasileiro e a República do Peru.10

Em Julho de 1866, foi a vez do governo da Bolívia se desentender com o Império. A causa seria o Artigo XI do Tratado da Tríplice Aliança que, segundo o governo boliviano, comprometeria os direitos do país a territórios sobre o rio Paraguai e a Bahia Negra11. Devido a esse incidente, o general Melgarejo, presidente boliviano chegou a oferecer ao governo do Paraguai uma ajuda efetiva de 12 mil soldados imediatos para auxiliarem Solano López contra as forças aliadas12.

O governo Imperial não tardou em nomear o Conselheiro e Deputado Lópes Neto para uma missão na tentativa de acalmar os ânimos do governo boliviano. O enviado brasileiro soube lidar muito bem com a situação e assinou com Melgarejo, em 1866, o Tratado de Limites, Comércio e Navegação. A assinatura desse Tratado acabou por impedir o apoio boliviano a Solano López, mas, por outro lado, mostrou o interesse da Bolívia em tirar proveito do conflito, aproveitando o momento de instabilidade política dos países envolvidos na guerra.

Porém, se o apoio boliviano não veio para o Paraguai através de soldados, veio através do comércio entre os dois países. Além disso, o governo paraguaio utilizou, por

9

SOARES, José Álvaro Teixeira. O drama da Tríplice Aliança (1865-70), Rio de Janeiro, Editora Brand, 1956, p.191.

10

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp.262-263.

11

A Bahía Negra ficava próxima da fronteira com Mato Grosso, o que a tornava um ponto estratégico muito disputado.

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diversas vezes, a Bolívia como porta de saída para documentos e correspondências a serem enviados às suas legações em Paris e em Berlim. A Bolívia foi utilizada, também, como rota de passagem obrigatória para armas e munições vindas, principalmente, dos Estados Unidos13.

Uma importante decisão do governo imperial para amenizar a pressão das grandes potências durante a guerra, foi a abertura para navegação internacional, em 1866, da bacia do rio Amazonas. Esse era um desejo antigo de norte-americanos e de ingleses, combatido pelo governo imperial. Aqueles tinham interesse no uso da bacia para o comércio com os países da região. Aproveitaram o momento da guerra para exigir essa abertura. Sem contar que seria contraditório o Brasil exigir a abertura à livre navegação do rio Paraguai, e ao mesmo tempo se negar a abrir a bacia do rio Amazonas.

Com o fim da guerra, a orientação para a política externa veio da ala conservadora, o que significou iniciativas de afastamento, por parte do governo brasileiro, do governo argentino. A diplomacia imperial passou a trabalhar no intuito de conter ao máximo a influência de nossos vizinhos e, até então, aliados sobre os novos governantes do país guarani. Isso se deve a uma crença antiga dos conservadores brasileiros de que a Argentina teria a pretensão de anexar o Paraguai, formando uma nação com um território e população capazes de fazer frente ao Brasil.

Conclusão

A Guerra do Paraguai (1865-1870) representou o conflito externo de maior repercussão para as nações diretamente envolvidas principalmente no que diz respeito tanto à mobilização de homens, quanto aos aspectos políticos e econômicos. Nesses aspectos, o Brasil levou ampla vantagem por ter um corpo diplomático mais sólido e bem preparado que o Paraguai.

12

DORATIOTO, Francisco F. Monteoliva. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.263.

13

DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da guerra do Paraguai, op. cit. Pp. 263. MONIZ BANDEIRA, Luiz A. op. cit. Pp. 222-224 e 255.

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A nova conjuntura política e econômica internacional apresentada no século XIX delegava papéis de protagonistas aos países em processo avançado de industrialização. Às nações latino-americanas restavam as funções de produção de matérias primas e a compra de produtos industrializados, apesar de algumas poucas tentativas de industrialização, que geralmente esbarravam no conservadorismo das elites agrárias. Essas funções dos países em questão, estão delegadas segundo a teoria da divisão internacional do trabalho, caracterizando o início do processo imperialista.

Durante a guerra, o Império buscou o apoio de outros países à sua causa. Na Europa, apesar de não conseguir um apoio efetivo declarado, o bom relacionamento com os governos das grandes potências foi fundamental para a obtenção de empréstimos e a compra de armamentos. Com relação aos Estados Unidos, a diplomacia brasileira conseguiu conter as tentativas de intermediação de paz feitas pelo governo norte-americano. Apesar de também não conseguir a adesão dos governos dos outros países sul-americanos, o corpo diplomático brasileiro se mostrou muito habilidoso para lidar com situações extremamente delicadas, como foi o caso da missão na Bolívia.

Por outro lado, é importante ressaltar que na época da guerra do Paraguai, não era interessante para nenhum dos outros países, principalmente da América Latina, entrar em guerra contra o Brasil. Não simplesmente por fatores de superioridade populacional e territorial brasileira, mas principalmente por fatores financeiros. Esses elementos, certamente, tornaram mais fácil o trabalho da diplomacia imperial.

Já o Paraguai, que não tinha um corpo diplomático preparado para lidar com um conflito de grandes proporções como foi a guerra da Tríplice Aliança, foi quase que totalmente anulado em suas tentativas de estabelecer contatos com resto do mundo ao longo da guerra. O país recebeu ajuda efetiva – ou pelo menos a tentativa de uma - somente através daqueles países que se sensibilizaram com sua causa, ou que já tinham alguma outra divergência com o Império brasileiro.

Portanto, como analisamos, o processo econômico capitalista pelo qual o mundo estava passando no século XIX pode, certamente, ser considerado como um elemento catalisador do conflito da bacia do Prata. O fato de os sistemas político e econômico paraguaio terem sido extremamente fechados com relação ao resto do mundo,

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principalmente na primeira metade do século XIX, trouxeram grandes desvantagens para o país durante o conflito, principalmente no campo das relações internacionais. E esse campo, numa batalha, é um dos mais importantes. O Império brasileiro soube tirar proveito dessa vantagem anulando boa parte das tentativas de recebimento de ajuda por parte do governo paraguaio.

Mas voltemos a analisar o cenário político em que se encontravam os países da bacia do Prata no século XIX. O Império do Brasil buscava conter as pretensões argentinas de formação de um grande país a partir das ex-colônias do Rio da Prata ao mesmo tempo em que buscava uma hegemonia na América do Sul. A Argentina, em processo de unificação do Estado Nacional, enfrentava a resistência de seus federalistas para a obtenção dessa unificação ao mesmo tempo em que disputava a hegemonia da parte Sul do continente com o Brasil. O Uruguai, independente em 1828, atravessa um momento de instabilidade com a ascensão de um governo blanco, que adotou uma série de medidas que iam de encontro aos interesses brasileiros. Pra piorar a situação, esse governo vai buscar apoio nos federalistas argentinos e no governo do Paraguai. O Paraguai, país praticamente isolado dos outros devido às suas ditaduras, era altamente agrícola e não demonstrava muito interesse em se inserir num mercado econômico mundial que se aflorava. Além disso, estava nas mãos de Solano López, um ditador que superestimava demais seu exército e queria se fazer ouvir, nem que para isso tivesse que usar da força. Certamente, este cenário político conturbado contribuiu de uma forma mais profunda para a eclosão da Guerra do Paraguai.

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