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Direito Civil V: Direitos Reais

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Academic year: 2021

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Unidade 1: Conceitos gerais

• Revisitando a teoria geral do direito privado:

• Bens X coisas: Inicialmente, cabe traçar uma distinção entre bens e coisas. Bens podem ser entendidos como todos os valores patrimoniais/ extrapatrimoniais, materiais/imateriais, corpóreos/incorpóreos necessários ao ser humano, ou, em linhas gerais, aquilo que não se confunde com o próprio sujeito. Já as coisas podem ser entendidas como os bens corpóreos e materiais.

• Para que a pessoa tenha acesso às coisas, via de regra, é necessário o negócio jurídico. Nesse sentido, surge o estudo do direito das obrigações, no qual existem partes (ou polos da relação jurídica) que são determinadas ou determináveis e que interagem entre si e geram efeitos apenas a elas relativos.

• Em contrapartida, na disciplina de atual estudo, não há relatividade, mas os efeitos são absolutos (eficácia erga omnes).

• Nesse sentido, tem-se que é possível exercer o direito de ter em relação à todos (efeito absoluto), até mesmo contra o dono da própria coisa, se esta estiver em sua posse. Um exemplo interessante é o caso do aluguel. Caso o locador entre no apartamento alugado para o locatário sem justo motivo, o locatário pode usar da própria força para retirar o indivíduo do

Direito Civil V: Direitos Reais

Faculdade de Direito da UFMG

Professor(a): Marcelo Milagres Ana Clara Pereira Oliveira

2016/1º - Diurno

SER → Personalidade TER → bens/coisas

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apartamento que está em sua posse, mesmo sendo esse apartamento propriedade do locador "invasor".

-

Atenção ao fato de que a autotutela, ou uso da força para garantir o

bem, só poderá ser exercida em momento contemporâneo à agressão ao seu bem.

• Direito de sequela: "Privilégio que assiste ao titular de direito real de executar os bens que lhe servem de garantia para, com o seu produto, pagar-se de seu crédito, bem como de apreendê-los em poder de qualquer pessoa que os detenha. Segue, persegue, vai à busca do bem que lhe pertença, cabendo ação contra aquele que o detenha. O seu titular terá o direito sobre o bem, ainda que o mesmo esteja em poder de terceiros possuidores." Em outras palavras, sequela é o direito de 1

seguir alguma coisa e subtraí-la do poder de quem a possua ou a detenha.

• Ius in re X ius ad rem: o ius in re pode ser entendido como o direito sobre a coisa própria, de forma imediata, exclusiva e contra todos. Ele gera o ius pesequendi (direito de sequela), porém atenta-se ao fato de que ele só pode ser exercido respeitados valores. Lado outro, o chamado ius ad rem se relaciona ao direito obrigacional ou de crédito, e é o direito à coisa, que surge em virtude de um contrato ou obrigação. Ele se dá entre os sujeitos da própria obrigação.

• Outra característica importante dos direitos reais é a taxatividade. Assim, os direitos reais são apenas aqueles previstos em lei, em um rol exaustivo. Este rol está previsto no artigo 1225 do Código Civil.

• Domínio X propriedade: Não necessariamente quem tem o domínio (controle, poder) da coisa tem a propriedade da coisa. Lembrando que o domínio gera sempre um dever. Em linhas gerais, quem tem o domínio da coisa pode exercer os seguintes poderes sobre ela:

➢ Usar;

Enciclopédia Jurídica, disponível em: http://www.enciclopedia-juridica.biz14.com/pt/d/direito-de-sequela/direito-de-sequela.htm 1

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➢ Usufruir;

➢ Dispor;

➢ Reaver a coisa.

-

O domínio é elástico, podendo ser pleno/máximo (direito a fazer tudo

aquilo que foi listado anteriormente) ou não. Ex.: no contrato de locação, o locador não tem direito de usar o bem, que a ele pertence. Isso demonstra que esse proprietário não tem o domínio pleno sobre o bem.

-

Exemplo: Carol aluga o apartamento para Marcelo. Marcelo será então

possuidor, enquanto Carol será a proprietária. Marcelo poderá fazer uso do apartamento e poderá exercer também o poder de reaver o bem injustamente tomado, porém não poderá dispor do mesmo. Carol, por outro lado não irá usar o bem, mas irá dele usufruir, através da percepção do aluguel pago por Marcelo. Além disso ela poderá dispor (vender) o apartamento (respeitados determinados preceitos, como o direito de preferência de Marcelo na aquisição do bem), bem como reaver o apartamento caso necessário.

• Características essenciais dos direitos reais: a. eficácia erga omnes;

b. gera direito de sequela; c. tem exercício imediato.

• Após todo exposto, concluímos que os direitos subjetivos patrimoniais se subdividem em:

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Unidade 2: A posse

• Conceito: A posse é um fato, bem como um direito real, afora não estar prevista no rol do artigo 1225. A posse pode ser considerada um direito subjetivo patrimonial, sendo avaliável economicamente e produzindo efeitos também dessa ordem. Por outro lado, satisfaz também necessidades extrapatrimoniais.

• Discussões doutrinárias:

A. Savigny (Teoria subjetiva): a posse pressupõe dois elementos

constitutivos: corpus (corpo/matéria - poder fático, contato físico com 2

a coisa) e animus (vontade/intenção de ser proprietário da coisa). As críticas a essa teoria se fazem principalmente por ela abordar o elemento puramente psicológico (animus) e, portanto, interno. Além disso, essa teoria traz um problema, pois caso o indivíduo perca o contato físico com a coisa, restará a dúvida quanto à continuidade da posse. Na eventualidade, então, de um locatário sair de seu apartamento para fazer uma viagem de férias, ele estaria perdendo a posse sobre ele.

B. Jhering (Teoria objetiva): inovando a teoria de Savigny, Jhering faz uso dos mesmos conceitos, mas traz novas acepções a eles. De acordo com o jurista, para existir posse deve existir o corpus (necessidade da matéria, mas que não pressupõe uma apreensão fática ou contato físico) e o animus (comportamento típico de um proprietário, identificado por seus aspectos externos e objetivos). A posse pode se desdobrar em direta e indireta. Assim, entende-se

Uma consequência desse pensamento é que a posse incorpórea ou imaterial (como a posse de ideias ou direitos autorais) não seria 2

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que o proprietário será sempre possuidor, mesmo que indiretamente. Nesse sentido, o locador, ao alugar seu apartamento, perderá apenas a posse direta, mas não a indireta. Dito isso, nada impede que a posse se desdobre pela forma de sublocações, por exemplo. Assim, se o locador sublocar o apartamento, coexistirão duas posses indiretas (proprietário e locatário) e uma posse direta (sublocatário). Para Jhering a posse é a exteriorização da propriedade. É possível criticar a teoria pois, para o autor, a posse e a propriedade se confundem, não sendo reconhecida a autonomia da posse em relação à propriedade.

• No ordenamento brasileiro, existe inclinação para a doutrina de Jhering, como é possível entender pelo artigo 1196 (CC), que define a posse:

• As duas teorias estudadas apresentam um problema quanto à autonomia da posse. Imaginemos que um indivíduo encontra um iPad perdido em um parque e tenta encontrar o dono do bem para devolvê-lo. Percebe-se que, no caso, não houve exteriorização da propriedade nem tampouco vontade (ou animus) de possuí-lo. Esse indivíduo tem apenas a posse.

• Quem pode ser possuidor da coisa? Aquele que pode, naturalmente, exercer a posse. Não necessita, assim, de capacidade intelectiva, volitiva ou capacidade de direito (absolutamente incapazes ou relativamente incapazes também poderiam, nesse sentido, ser possuidores). Atenção ao fato de que também não precisa ser um ente dotado de personalidade

CC: Art. 1.196. "Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o

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(ex.: condomínio). Importante ressaltar que a causa da posse não necessariamente precisa ser lícita, não pressupondo uma conduta em conformidade com o direito.

• Ressalte-se que o ordenamento pátrio também adota uma teoria eclética a medida que a posse é considerada autônoma, sendo uma forma de domínio e que se dissocia da propriedade.

• Outro artigo que encontra amparo na teoria de Jhering é o 1197, do Código Civil, vejamos:

-

Observação: no artigo, direito pessoal alude a, por exemplo, um

contrato. Assim, depreende-se de tal dispositivo que o desdobramento da posse pode se dar por meio de um ato de vontade entre duas partes (contratualmente) ou em virtude de um direito real, ou um fato, independente da vontade convergente.

• Atributos do domínio ou atos de posse: usar; usufruir; dispor e reaver a coisa.

• Detenção: O legislador entende que é possível que o sujeito exerça atos de posse, porém sem ser possuidor. É a chamada detenção ou posse degradada, nos termos de Jhering. A detenção é determinada pelo artigo 1.198 do CC:

CC: Art. 1.197. "A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,

temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. "

CC: Art. 1.198. "Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência

para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. "

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-

Exemplo: o professor Marcelo faz uso de uma caneta na sala de aula. Essa caneta não lhe pertence, nem tampouco está em sua posse, apesar dele exercer atos de posse. Ele é detentor da coisa, que pertence, na realidade, à UFMG, autarquia a qual o professor é subordinado.

-

Efeitos da detenção:

o O detentor não tem legitimidade para as chamadas ações

possessórias (tutela jurisdicional). Não obstante, ele poderá exercer o direito de sequela contemporâneo à agressão (mediante autotutela), mas não poderá, por vias judiciais, reaver o bem que lhe foi injustamente tomado.

o Interversão dos atos de posse: inércia no tempo (critério

objetivo) + crença de agir em nome próprio (critério subjetivo). Pode ocorrer quando um empregado passa a agir por nome próprio, após a inércia do dono do terreno. Nesse ponto, começará a correr o tempo para efeitos de usucapião (usucapião = posse + tempo) e a propriedade poderá ser invertida. Muitos autores apenas aceitam a interversão bilateral (ex.: contrato de compra e venda). Porém, é possível também a unilateral, como foi o caso do exemplo dado. Importante ressaltar o enunciado 237 aprovado na III Jornada de Direito Civil:

-

Outra hipótese de detenção é trazida pela primeira parte do artigo

1.208 do CC. A hipótese considera a mera tolerância ou permissão para o uso da coisa pelo seu dono.

CC: Art. 1.208. "Não induzem posse os atos de mera permissão ou

tolerância (...)."

III Jornada de Direito Civil, enunciado 237: "Art. 1.203: É cabível a modificação do título da

posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a

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• Classificações da posse:

1. Direta X Indireta (Jhering);

2. Justa X Injusta: exalta-se que a noção de justiça é desvinculada do critério axiológico, sendo definida, por exclusão, pelo artigo 1200, CC:

2.a) Posse Violenta: A posse violenta é aquela realizada mediante força ou coação moral à pessoa. Ela é um vicio originário e relativo, que surge no momento de tomada da própria posse. O contrário seria a posse que é pacífica, pública e estável.

2.b) Posse Clandestina: É a posse subreptícia, oculta, que também caracteriza vicio originário.

2.c) Posse Precária: Esse é o caso de um vício absoluto e subsequente/superveniente, que decorre do dever de restituição da coisa.

→ Importante dizer que a posse justa não é a posse lícita. A violência, bem como a clandestinidade, são vícios relativos e originários, que poderão não contaminar toda a posse, como ocorre no caso da posse precária, que é vicio absoluto. O artigo 2.208, em sua segunda parte, postula que a posse se consumará após cessada a violência. Entretanto, a doutrina majoritária entende que a violência contra pessoa contamina a posse, ainda que cesse a tal violência. A doutrina minoritária, adotando interpretação literal do artigo 1.208, CC, entende que cessando a violência a posse será mansa e pacífica ainda que a causa seja ilícita e violenta.

CC: Art. 1.200. "É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária."

CC: Art. 1.208. "Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim

como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. ."

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3. Posse com justo título X posse sem justo título: o título é a causa/ fundamento/origem da posse, e não um documento. A posse com justo título é aquela que tem aparência de ter adequação ao sistema jurídico e que enseja, por sua vez, a proteção do ordenamento. A posse com justo título é composta por um elemento subjetivo, a presunção da boa fé. Atenção ao fato de que a posse justa não necessariamente é uma posse com justo título. Um exemplo é o caso de um colega que de sala que pede um livro emprestado e não o devolve quando solicitado. Assim, entende-se que a posse tem justo título (surgiu de um contrato verbal de comodato) porém não é posse justa, caracterizando a posse precária.

4. Posse de boa fé X posse de má fé: inicialmente, importante mencionar a existência da boa fé subjetiva e objetiva. A segunda se relaciona bastante com o direito obrigacional e contratual, enquanto na presente disciplina, destaca-se mais a boa fé subjetiva, que se caracteriza por elementos internos, baseados na crença individual. Assim, na posse de boa fé leva-se em conta a condição psicológica do indivíduo, que tem a convicção de que sua posse a ninguém prejudica. Toda posse de justo título é uma posse de boa fé, porém o contrário não é verídico. Por outro lado, a posse de má fé ocorre quando a pessoa sabe que existe vício em sua posse. Essa classificação está disposta pelo artigo 1201:

CC: Art. 1.201. "É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que

impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção."

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Atenção ao fato de que a boa fé não está sujeita a toda e qualquer

atividade ou relação. Exemplo disso é o artigo 1268 , que restringe 3

a proteção da boa fé apenas para quando a coisa for oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial. Isso não significa, lado outro, que não restará caracterizada a posse de boa fé, que ensejará certas garantias, como, por exemplo, o possuidor de boa fé não será acusado de receptação, bem como poderá fazer jus ao valor pago, por meio da restituição. Um problema que surge é com relação à compra de bens imóveis, adquiridos de boa fé, sob a falsa aparência do registro, vendida por um não proprietário. Nessa seara,

destaca-se o artigo 1247 , que traz o direito do proprietário real do 4

imóvel a reivindicá-lo, independente da boa fé. Uma exceção é a do

artigo 1242 , que é uma modalidade de usucapião, a ser tratada 5

posteriormente.

5. Posse exclusiva X compartilhada (composse): via de regra, o exercício de atos possessórios são exercidos por um indivíduo. Como exceção à essa exclusividade, tem-se a chamada composse ou condomínio. Ressalve-se que o condomínio não se restringe à coisas imóveis, apenas, podendo também ser relativa à coisas móveis, que tem posse compartilhada. A composse tem dois elementos: a pluralidade subjetiva (dois ou mais sujeitos exercendo atos de posse) e a indivisibilidade funcional, física, judicial ou voluntária. Ex.: uma senhora deixa para seus doze filhos uma fazenda e, em seu

CC. Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, 3

em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.

§ 1º - Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.

§ 2º - Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico nulo.

CC. Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. 4

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

CC. Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o 5

possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

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testamento, estabelece que o imóvel não poderá ser dividido. Os doze proprietários estão vinculados pela composse. Isso também acontece no casamento instituído sob o regime da comunhão parcial de bens. O artigo 1199, do Código Civil, trata da composse propriamente dita, ou pura:

Outra modalidade de composse é a composse pro-diviso. Nela, juridicamente, a posse é de todos (por não ter sido feita a partilha), mas do ponto de vista fático, existem posses exclusivas. Uma interpretação gramatical e restritiva do artigo traz a impossibilidade dessa modalidade de composse. Porém, a interpretação ampliativa autoriza a composse pro-diviso, mediante concordância entre todos os co-possuidores.

6. Posse nova X posse velha: A posse nova é aquela exercida a menos de ano e um dia, enquanto a posse velha se caracterizará após decorrido um ano e um dia. Dessa classificação decorrem dois efeitos, sendo um deles procedimental. O efeito procedimental dessa classificação se encontra no artigo 558 do NCPC, o qual dispõe que aquele que teve a posse tomada (esbulho) poderá retoma-la por meio de procedimento especial, para a qual cabe a liminar possessória, no âmbito da tutela de evidência, apenas no caso de posse nova. Caso a posse já seja velha não haverá essa possibilidade, devendo ser requerida por meio de ação de reintegração de posse. Outro efeito é a possibilidade de caracterização de certas modalidades de usucapião.

7. Ad interdicta X Ad usucapione: A posse ad interdicta não constitui usucapião, enquanto a posse ad usucapione é aquela que traz

CC: Art. 1.199. "Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma

exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores."

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possibilidade de ser reivindicada pelo usucapião, contendo seus requisitos. A posse ad interdicta é a que se pode amparar pelos interditos caso ela seja ameaçada ou esbulhada, por exemplo. Toda a posse é ad interdicta, o que irá variar é a extensão dessa possibilidade de defesa da posse. Não são opostas, como as outras classificações. 8. Jus posidendi X Jus possessonis: a jus possessonis é a posse

fundada meramente no fato (situação fática), lado outro, a jus posidendi é aquela cuja causa é o próprio exercício do direito da propriedade.

• Aquisição da posse:

-

Define-se, no ordenamento brasileiro, pelo artigo 1.204, adotando o

entendimento de Jhering:

-

Importante ressaltar que a relação contratual é a mais comum forma de

aquisição da posse, mas que ela, por si só, não transfere posse. É necessária a tradição, ou entrega da coisa.

-

Os tipos de aquisição da posse são:

1) Originária e derivada: a aquisição originária não pressupõe relação intersubjetiva, podendo ser lícita ou ilícita. Um exemplo é o sujeito adquire o objeto mediante roubo ou quando uma pessoa encontra um livro perdido na rua. Já a aquisição derivada surge a partir de uma relação intersubjetiva, que não pressupõe exatamente a entrega da coisa, como é o caso da tradição

presumida (que será tratada mais à frente). 6

2) Singular e universal: a aquisição singular ocorre quando é possível determinar o objeto da aquisição. Por exemplo, quando o indivíduo compra um vade mecum. Lado outro, a aquisição a título

Exemplo: locatário compra do locador o apartamento que já estava para ele alugado há mais de dois anos. Não ocorre a tradição, 6

pois, faticamente, o ex-locatário já estava em posse da coisa.

CC: Art. 1.204. "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o

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universal ocorre quando não se pode determinar ou especificar o objeto da posse, como, por exemplo, uma doação que transfere 30% dos bens de certo indivíduo a uma entidade. Nesse caso, percebe-se que não há individualização da coisa, mas apenas a universalidade.

3) Inter vivos e causa mortis: no caso de atos inter vivos pressupõe-se uma relação intersubjetiva, como, por exemplo, um contrato bilateral. Já no caso de fato decorrente da morte, pode ser gerada também a posse, como a herança, como postula o artigo 1784 (CC).

• Efeitos da posse: 1) Econômicos:

1.a) Frutos e produtos: os frutos são utilidades que as coisas ordinariamente proporcionam, cuja percepção não gera o fim da coisa, como os frutos naturais, por exemplo. Outro exemplo são os frutos civis, como juros remuneratórios. Já os produtos também são utilidades, porém, diferentemente, implicam na destruição da coisa. Um exemplo é o petróleo. Impende destacar que frutos e produtos são equiparáveis, mesmo que o código apenas cite os frutos. Nesse sentido, vejamos o artigo 1214 do CC.

Frutos percebidos são aquelas que já foram colhidos e não necessariamente consumidos, enquanto frutos percipiendos são aqueles que completaram seu ciclo de formação, mas ainda não foram colhidos. Há também os pendentes, aqueles

CC: Art. 1.214. "O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos

percebidos.

Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser

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que não completaram seu ciclo de formação, como, por exemplo, o aluguel antes do dia do vencimento. Destaca-se que disposição contratual em contrário pode afastar a aplicação do 1214. O possuidor tem direito aos frutos percebidos, e também à restituição no caso dos frutos pendentes enquanto durar a boa fé. Isso tem como base a

vedação ao enriquecimento sem causa , pois o trabalho do 7

possuidor de boa fé não pode levar ao enriquecimento do proprietário que nada fez para dar causa a esse fruto. Porém, existe ainda o artigo 2216, o qual determina que, mesmo estando de má fé, o possuidor tem direito às despesas de custeio e produção, ainda de acordo com a vedação ao enriquecimento ilícito. Porém, critica-se esse artigo, pois ele atribui direitos a um comportamento ilícito.

1.b) Benfeitorias e pertenças (acessórios): (art. 1219 X art. 8

35 da lei 8245 X súmula 335 do STJ X Direito do consumidor). Atenção ao possuidor comprovadamente de má fé, o qual somente terá direito de ser indenizado, não lhe sendo assistido o direito a reter a coisa mediante o não pagamento

das benfeitorias, em consonância com o artigo 1220 , CC. O 9

artigo 1221 postula a necessidade de ainda existir a benfeitoria ao tempo da evicção ou de ser comprovada a necessidade dessa benfeitoria para o atual estado do imóvel.

art. 884, CC 7

Acréscimos humanos a algo já existente. Podem ser úteis, necessárias ou voluptuárias. 8

(CC) Art. 1.220. "Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção 9

pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias."

CC: Art. 1.216. "O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e

percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e

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2) Protetivos:

2.1) Autotutela (artigo 1210, § 1º):

Inicialmente, deve-se discutir os conceitos abordados pelo artigo. A turbação se compõe através de atos concretos que prejudicam o exercício legítimo de atos de posse, não pressupondo a tomada da coisa, mas bastando a perturbação. Já o esbulho é a tomada da posse, não necessariamente com violência moral ou física. O artigo autoriza a autotutela contemporânea à agressão, atendidos os critérios da proporcionalidade e da racionalidade. Cabe ressaltar ainda dois conceitos: a legítima defesa da posse (reação proporcional para evitar turbação) e desforço imediato (reação contemporânea). Se não forem respeitados esses preceitos, incorrerá o sujeito no artigo 345 do Código penal (exercício arbitrário das próprias razões).

2.2) Ações possessórias e ações petitórias: as ações possessórias são procedimentos processuais cuja causa de pedir e o pedido se limitam à tutela da posse. Atenção ao fato de que, até mesmo um mandado de segurança ou o embargo de terceiros, por exemplo, poderão ser ações possessórias, mas que serão, porém, atípicas. A ação petitória é a que visa a proteção da propriedade (causa de pedir é a tutela de propriedade), mas cujo pedido poderá ser a tutela da posse. O código brasileiro define a total separação entre os dois tipos de ação. Porém, no âmbito de uma ação possessória típica (manutenção, reintegração e interdito

CC: Art. 1.210. "§ 1º - O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou

restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da

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proibitório) é incabível a discussão relativa à propriedade. Um exemplo de ação petitória é a ação reinvidicatória, na qual a propriedade deve ser demonstrada. A diferença entre esses dois tipos de ação é que petitória só poderá ser feita pelo procedimento comum, enquanto na possessória poderá ser tanto pelo procedimento comum quanto pelo especial,

sendo que o último comporta a possibilidade de liminar 10

possessória (satisfativa), no âmbito da tutela de evidência, de acordo com o artigo 558 (CPC/15). Lembrando que o procedimento especial somente se aplicará se a posse for nova (até um ano e um dia). Se for velha, deverá ser utilizado o procedimento comum.

3) Aquisitivos: usucapião. Ele é definido por Caio Mário como forma aquisitiva originária de direitos reais (e não somente propriedade) em razão de posse continuada no tempo com animo domini, observados os requisitos legais. Depreende-se que, no tempo, a posse deverá ser mansa, pacífica e o sujeito deve ter vontade de ser dono. Muitos a apelidam a usucapião de prescrição aquisitiva, em interpretação aos artigos 1244 e 197 do CC. O professor, porém, critica essa nomenclatura, como veremos posteriormente.

-

Artigos e questões importantes:

o Artigo 1206 e a sucessão possessória:

Esse artigo é um exemplo de transmissão de posse causa mortis, podendo ser singular ou universal. Há possibilidade de deixar 50% do patrimônio do de cujus a um legatário (eleito em testamento), sendo que o restante deverá integrar-se ao patrimônio dos herdeiros legais. Ressalte-se a parte final do artigo, a qual diz que as

provimento a ser apreciado no limiar do processo, em seu início, que se dá pelo recebimento da petição inicial. 10

CC: Art. 1.206. "A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os

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características da posse se mantém, o que é chamado de sucessão possessória pela doutrina. ex.: um indivíduo herda de seu avô uma fazenda, a qual foi "adquirida" por meio de invasão, inclusive com a morte de pessoas. Como a posse conserva seus caracteres, mesmo para o neto a posse será direta, injusta, sem justo título e de má fé, assim como foi a de seu avô.

o Artigo 1207:

A sucessão disposta pelo artigo é inter vivos, podendo ser universal ou singular. Os efeitos diferem de acordo com sua universalidade ou singularidade. No caso de ser universal, são mantidos os caracteres

da posse do sucessor, como no caso do artigo 1206 . Já para casos 11

em que há singularidade, há opção de unir ou não a posse à do antecessor (passando ou não as mesmas características da antiga posse). Essa união só ocorre se for manifesta a opção de dar seguimento à posse pelo adquirente. Essa manifestação pode ser dada, por exemplo, por meio de contrato, em cláusula que postule que será dada continuidade à posse. Isso é chamado de acessão de posse. Essa acessão só ocorre em relação inter vivos e via manifestação de vontade (não necessariamente no momento da tradição, mas podendo ser superveniente), bem como devem as posses serem homogêneas (ex.: posse de boa fé e de má fé não podem ser objeto de acessão). A doutrina majoritária, além disso, só faculta a junção à posse imediatamente antecedente. Ex.: um imóvel está registrado em nome de A, sendo que ele, por ter diversos imóveis, não os administrava com tanta cautela. X, um estelionatário, altera o registro do imóvel, como se seu fosse e vende para B, que adquire o bem de boa fé. Após dois anos de posse, B

vende para C o imóvel (caracterizando uma venda a non domino ). 12

Três anos depois, A descobre a fraude e, de acordo com o artigo

CC. Art. 1.206. "A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres." 11

Venda do bem por alguém que não ter sua propriedade (venda de coisa alheia). 12

CC: Art. 1.207. "O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e

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1247 , o proprietário pode reivindicar seu imóvel, independente da 13

boa fé do adquirente. C, então, tenta utilizar o instituto do usucapião. Inicialmente, por sua posse ter durado apenas 3 anos ele não poderia adquirir o imóvel por usucapião. Não obstante, pelo artigo 1207, é facultado ao adquirente singular dar continuidade à posse do possuidor anterior. Assim, unindo-se os anos de posse de B com C, totalizam-se 5 anos, podendo restar configurado o usucapião.

Unidade 2.1: Ações possessórias típicas 14

• Procedimentos:

a. Comum: procedimento utilizado no caso de posse velha (parágrafo único do artigo 558, NCPC) ;

CC. Art. 1.247. "Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule. 13

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente."

art. 554 até 558, CPC/15 14

CPC/15: Art. 558. "Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as

normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.

Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório."

(19)

b. Especial: para seguir tal rito, a posse deve ser nova (até 1 ano e um dia), segundo o artigo 558, acima transcrito.

c. Sumaríssimo: Lei 9.099. • Características:

a. Fungibilidade (art. 554, NCPC): é possível que o juiz conheça da ação possessória mesmo que tenha havido equívoco em sua propositura. A fungibilidade ocorre com relação à qualquer das espécies de ações possessórias típicas. Não é possível confundir essa situação com a de modificação superveniente da situação fática. Se ocorrer fato novo e superveniente, deverá apenas ser emendada a inicial.

Ex.: o autor narrou esbulho, mas ao invés de pedir a reintegração de posse, ele pediu manutenção da posse. Não obstante, o mais importante será a causa de pedir e o juiz poderá receber a inicial. b. Cumulatividade: há sempre um pedido fundamental, que é a tutela

da posse. Mas poderão ser cumulados outros pedidos, como a pretensão indenizatória. Atenção ao parágrafo único do artigo 555 do CPC vigente, que prevê a possibilidade de cominação de multa astreinte de eficácia inibitória ou outro mecanismo de tutela provisória, afim de resguardar a efetividade da tutela definitiva.

c. Duplicidade: nas ações possessórias pode ocorrer confusão entre autor e réu (via dupla). Assim, na contestação, é possível para o réu,

CPC: Art. 554. "A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a

que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. (...)"

CPC: Art. 555. "É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:

I - condenação em perdas e danos; II - indenização dos frutos.

Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para: I - evitar nova turbação ou esbulho;

(20)

além de defender-se, fazer pedidos de proteção possessória contra o próprio autor e também pedir indenização, nos termos do artigo 556, NCPC. Atenção ao fato de que não é possível ampliar a lide, mas deve o réu ater-se à causa de pedir do autor.

• A inicial da possessória típica deve ser instruída conforme o disposto pelo artigo 561 (CPC/15), narrando tudo aquilo que os incisos exigem. Não atendidos os incisos, deverá ser emendada a inicial.

• Jurisdição: poderá ser federal ou estadual, sendo a última via de regra. • Competência: territorial (do local da coisa).

• Legitimidade: o autor é aquele cuja posse foi violada, sendo tanto o possuidor direto quanto indireto. Atenção ao fato de que o detentor (possuidor precário) não tem legitimidade para propor as ações possessórias. A legitimidade passiva será do autor da ameaça à posse. • Pedidos: manutenção da posse ou sua reintegração. Poderá também ser

pedida liminar possessória.

• Multiplicidade de agentes: nesse aspecto, é essencial ressaltar a questão dos conflitos multitudinários (envolvendo vários indivíduos). O artigo 554,

§1º , do NCPC, possibilita a citação por Edital daqueles que não estão no 15

local. Além disso deverá ocorrer intimação do MP, pois, nos casos de conflitos multitudinários há presunção de interesse público (atenção: essa

NCPC. Art. 554. (...) "§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a 15

citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. "

CPC/15: Art. 556. "É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em

sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor."

CPC/15: Art. 561. "Incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho;

(21)

disposição deve ser interpretada à luz do art. 127, caput da CF). No caso do conflito envolver indivíduos hipossuficientes, o que quase sempre ocorre nesse tipo de conflito, deverá também ser intimada a defensoria pública.

• Tutela de evidência (artigo 562 c/c art. 311, II do NCPC): deve haver 16 17

prova cabal, não sendo necessária, porém, tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou súmula. Lembrando que, diferente das tutelas de urgência, nesse caso não é necessário provar o periculum in mora. Possibilidades de provas interessantes para essa modalidade são o boletim de ocorrência policial e fotos, por exemplo. O juiz poderá negar ou conceder a tutela. Além disso, se restar em dúvida o magistrado, deverá ele designar uma audiência de justificação, objetivando, inclusive a autocomposição, principalmente no caso de conflitos multitudinários.

Atenção ao artigo 562, parágrafo único . Segundo ele, cabe a liminar 18

contra atos do poder público, porém, exige-se a audiência antes do deferimento.

• O art. 565 e a aparente incoerência com o sistema: parece haver 19

incoerência nesse artigo, pois trata de concessão de liminar para posse velha, o que é vedado pela interpretação do artigo 558 (NCPC). No entanto, elucida-se que ele apenas cabe caso a pretensão seja formulada dentro de ano e dia (posse nova), e tendo ela se tornado velha em momento posterior, pela lentidão da justiça. O que o artigo postula é que é obrigatório que o juiz marque audiência de conciliação antes de apreciar

NCPC. Art. 562. "Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar 16

de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. (...)"

NCPC. Art. 311. "A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao 17

resultado útil do processo, quando: (...) II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;"

NCPC. Art. 562. Parágrafo único: "Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a 18

reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais."

NCPC. Art. 565. " No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver 19

ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2o e 4o. (...)"

(22)

a liminar nesses casos em que a posse se tornou velha, também de acordo com o artigo 3º, parágrafo 3º do CPC vigente, que visa sempre a estimular a conciliação entre os sujeitos processuais. Para a audiência de conciliação/ mediação deve haver intimação do MP, no caso de haver interesse público. A falta de intimação (e não de manifestação) poderá gerar nulidade

processual, haja vista o artigo 279, CPC/15 . 20

• Artigo 557 do CPC/15: o autor que é proprietário deve ter cautela ao escolher uma ação possessória típica (na qual se discute apenas a posse) pois só poderá usar a ação possessória atípica, que discute também a propriedade, após o trânsito em julgado da possessória típica, o que pode demorar vários anos.

• As ações possessórias podem ser: (1) Típicas:

1.a) Interdito proibitório: fundado temor, em uma situação fática

concreta, de que haverá agressão à posse. O artigo 567 do CPC 21

trata dessa ação, que poderá surtir um mandado proibitório em que será cominada ao autor de eventual esbulho ou turbação uma multa. O que se percebe no mundo dos fatos é certa ineficácia desse tipo de ação, pois na maioria das vezes esse tipo de conflito envolve indivíduos que possuem baixo poder aquisitivo. Um exemplo de possibilidade de interdito proibitório é em uma região na qual todas as fazendas já foram alvo de esbulho, o possuidor da única fazenda intacta tem justo receio de que sua posse seja ameaçada ;

CPC/15. Art. 279. "É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva 20

intervir. (...)".

21

CPC/15: Art. 557. "Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto

ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. "

CPC/15: Art. 567. "O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse

poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito."

(23)

1.b) Reintegração de posse; 1.c) Manutenção da posse.

(2) Atípicas: são mecanismos que não foram pensados exclusivamente para tutelar a posse, mas o faz incidentalmente.

2.a) Reinvidicatória: a causa de pedir é a propriedade mas pode ter como objeto a tutela da posse. Deverá ser apresentada prova documental da propriedade. A desvantagem é que ela somente pode seguir o procedimento comum, que pode ser bem lento. Lembrando que é possível pedido de tutela antecipada, devendo ser demonstrado o perigo da demora da prestação jurisdicional. Se assemelha à reintegração de posse, mas o fundamento é diferente. 2.b) Imissão na posse: ocorre quando um indivíduo tem a obrigação de transferir a posse àquele que nunca a exerceu (nem fática, nem juridicamente).

2.c) Nunciação de obra nova: caso de uma construção não concluída que tem possibilidade ou que já causou dano. Tem como objetivo resguardar a incolumidade pública ou dos imóveis de vizinhos. Não necessariamente haverá a desconstrução da obra, mas a sua regularização.

2.d) Ação demolitória: visa-se a desconstrução de obra ainda não concluída.

2.e) Ação de dano infecto: obra já concluída, em péssimo estado de conservação. Visa-se a desconstrução da obra.

2.f) Embargos de terceiro: o terceiro não é parte da relação processual, mas sofre com seus efeitos. É regulado pelo artigo 674,

NCPC . 22

CPC/15. Art. 674. "Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou 22

sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1o Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. (...)"

(24)

Unidade 2.3: Usucapião

• Conceito: pode ser entendida como forma de aquisição originária da propriedade, visto que não pressupõe relação intersubjetiva entre aquele que detinha a posse e o novo possuidor. Alguns autores atribuem a esse instituto o nome de prescrição aquisitiva, em razão dos artigos artigos 1244 e 197 do CC. O professor critica esse nome, por não pressupor o instituto prestação ou relação intersubjetiva.

• Elementos:

-

Essenciais:

o Posse

o Tempo

-

Acidentais:

o Boa Fé: nesse caso, considera-se a boa fé subjetiva, que se

refere ao ato estar em conformidade com a lei, apesar de, faticamente, poder ter vícios.

o Justo título: para efeitos de usucapião, o justo título é a causa que, em tese, tem potencialidade para se transferir a propriedade. Ela terá aparência de adequação. Assim, a posse com justo título e boa fé é considerada posse qualificada, enquanto a posse com má fé e sem justo título é menos qualificada e exigirá mais tempo para se configurar. Exemplos são o contrato nulo ou anulado, mas que tem aparência de adequação (ex.: formal de partilha), carta de arrematação que contém vicio interno mas que tem a potencialidade para produzir efeito translativo.

• Objeto: alguns autores postulam que apenas coisas imóveis são suscetíveis ao usucapião. Porém, isso é equivocado, pois coisas móveis também podem o ser.

• Usucapião e os imóveis públicos: os imóveis públicos não são

suscetíveis de usucapião, segundo o artigo 191, parágrafo único , CF. 23

Antes de se iniciar a discussão, menciona-se que há diferenciação entre os tipos de imóveis públicos, sendo eles de bem comum (ex.: praça), especiais (ex.: prédio da faculdade de direito) e dominicais. Os dominicais compõe o patrimônio disponível da administração pública. Alguns autores defendem que estes (dominicais) poderão ser alvo de usucapião, desde que não estejam atendendo a interesses públicos

CF. Art. 191 (...) Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 23

(25)

primários. Cabe ainda ressaltar o artigo 102 do Código Civil, que 24

proíbe que qualquer bem público (e não apenas os imóveis) seja suscetível ao usucapião. Destaca-se ainda que mesmo os bens móveis particulares, nesse raciocínio, não poderiam ser alvo da usucapião caso fossem utilizados para satisfazer interesses públicos primários. Um exemplo é o carro de manutenção da Cemig (pessoa de direito público privado, mas que presta serviço público), que não poderia ser alvo da usucapião. O professor defende a adoção de uma perspectiva de funcionalidade, e não de titularidade (como faz o código civil). Assim, os bens podem ser alvo de usucapião desde que não estejam afetados pelo interesse público primário. Atenção, pois essa ideia não é pacífica. Existem duas correntes principais:

o Titularidade: os bens públicos não são sujeitos ao usucapião, já

que, para os defensores dessa ideia, se pressupõe que o bem público seja afeto ao interesse primário. Ressalte-se que, a posição majoritária dos tribunais ainda é pela titularidade;

o Funcionalidade: deve ser verificada a questão da afetação ao

interesse público primário, já que o simples fato de integrar o patrimônio público não faz com que ele seja afeto ao interesse primário da coletividade. Nesse aspecto, inclui-se a possibilidade dos bens públicos não afetos ao interesse primário serem alvo de usucapião, bem como a possibilidade de não serem sujeitos ao usucapião bens privados que atendem ao interesse primário). 25

• Usucapião imobiliária (espécies):

a. Extraordinária: é a mais presente no âmbito judicial. Esta não requer elementos acidentais, podendo ser adquirida, inclusive, a posse por ato ilícito (gerando posse de má fé e sem justo título).

a.1) Usucapião extraordinária simples: Os requisitos são a posse e o tempo (15 anos). Essencial destacar o disposto pelo artigo 1238 (CC):

CC. Art. 102. "Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião." 24

Para estudar mais sobre o assunto, ler textos do Dropbox. 25

CPC: Art. 1.238. "Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir

como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o

(26)

Segundo o artigo, é necessário que não haja oposição à essa posse no tempo indicado. A oposição que trata o artigo pode ser tanto extrajudicial quanto judicial. A questão é quanto à possibilidade de qualquer forma de oposição extrajudicial ser válida, ou seja, quais as formas seriam válidas? No caso de oposição judicial, sendo julgada

esta improcedente será desconsiderada para fins de oposição . 26

disso, do artigo interpreta-se que a sentença não constitui a usucapião, mas meramente a declara. Assim, preenchidos os requisitos o indivíduo terá a propriedade, e a sentença servirá para formalizar essa propriedade.

a.1) Usucapião extraordinária qualificada: Segundo o dispositivo, que valoriza a função social da propriedade, a posse-moradia ou posse-produtiva reduz o elemento temporal da usucapião para 10 anos.

b. Ordinário: requer, necessariamente, elementos acidentais (boa fé e justo título), o que demonstra necessidade de maior qualificação. Deve ser reconhecida em favor do sujeito que exerça a posse de forma contínua e incontestada, havendo também a presença dos elementos acidentais. Ela se divide em duas modalidades:

b.1) Usucapião ordinária simples (art. 124, caput): basta a posse com justo título e boa fé. O prazo será de 10 anos.

b.2) Usucapião ordinária qualificada (art. 1242, parágrafo único): Há redução para cinco anos do critério temporal do usucapião, sendo requisito para se configurar essa hipótese a existência de imóvel objeto de aquisição onerosa, devendo o possuidor residir ou produzir no imóvel. Esse dispositivo busca tutelar situações em que o sujeito comprou e pagou o imóvel, inclusive havendo escritura pública, mas que, após certo tempo, ocorreu pretensão de nulidade

“Posse pacífica. Não perde o caráter a posse contestada via ação possessória julgada improcedente, ainda com liminar de 26

reintegração”. (REsp. 6.569-SP, DJU 3-8-92)

CPC: Art. 1.238. (...) Parágrafo único. "O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a

dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo."

CPC: Art. 1.242. "Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e

(27)

do negócio, por um vicio absoluto. A grande redução do tempo (5 anos) demonstra, novamente, a preocupação do legislador com a função social da propriedade. Atenção: não se aplica a imóveis adquiridos que não de forma onerosa.

c. Especial: é uma modalidade que busca a atribuição da propriedade pela satisfação de direitos fundamentais. Ela não requer elementos acidentais. A usucapião especial se divide em rural e urbana.

c.1) Usucapião Especial Rural - art. 191 (CF) , art. 1239 (CC) e 27 28

art. 7º (lei 6.969) : 29

-

Os requisitos dessa modalidade são:

→ imóvel rural: considera a localização física do imóvel,

independente da atividade nele exercida.

→ ter até 50 hectares: os hectares não são "padrão",

podendo variar de região para região, mediante índices do INCRA. Além disso, há discussão quanto ao mínimo do tamanho do imóvel, pois, assim como o latifúndio improdutível é indesejável, também o é o minifúndio. Nesse sentido, há uma corrente que defende a consideração de um tamanho mínimo de imóvel para se caracterizar a usucapião especial rural e outra que acredita não dever ser o mínimo considerado, já que não houve menção a isso pela CF.

→ moradia e trabalho na terra

→ sujeito não titular de qualquer outro imóvel: o indivíduo

não poderá ter outro imóvel (urbano ou rural), sendo que essa ausência de outras propriedades deverá subsistir pelos 5 anos

Art. 191. (CF) Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem 27

oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 1.239. (CC) Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem 28

oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Art. 7º (Lei 6969). A usucapião especial poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como 29

título para transcrição no Registro de Imóveis.

CPC: Art. 1.242. (...) Parágrafo único. "Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se

o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico."

(28)

continuamente, desde o primeiro dia da posse até o último. Não ocorrendo isso, se descaracterizará a usucapião.

→ tempo mínimo de 5 anos

→ pessoalidade: deve o sujeito provar que exerceu por si

próprio os atos de posse.

-

A disposição do artigo 7º da lei 6969/81 autoriza,

excepcionalmente, ser a usucapião especial rural invocada como matéria de defesa, autorizando, então, sentença ultra petita, já que transige a causa de pedir assinalada pelo autor da ação.

c.2) Usucapião especial urbana:

c.2.1) Individual (art. 183, CF, art. 1.240, CC e art. 13, lei 10.257 ): 30

-

Ser individual não significa ser em favor de uma pessoa,

mas sim, de uma entidade familiar, com toda complexidade de definição do instituto. Os requisitos são similares à modalidade rural, porém, altera-se a natureza do imóvel. Assim, temos os seguintes requisitos diferenciador:

→ imóvel urbano de até 250 metros quadrados; → apenas moradia: não se exige produção, como no

rural.

-

Discute-se a possibilidade, porém, de ser o imóvel urbano

um apartamento. Já houve superação, porém, dessa

discussão, haja vista o art. 9º da lei 10.257 , que 31

menciona, expressamente, a possibilidade de edificação urbana (desde que atenda o tamanho de 250 metro quadrados).

-

Outra discussão se dá com relação ao caso de algum dos

componentes da entidade familiar a deixarem e invadirem outro imóvel. Seria esse indivíduo, no caso, apto a exercer a nova usucapião sendo proprietário do outro imóvel? Ele

Lei 10.257. Art. 13. "A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que 30

a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis."

Lei 10.257, art. 9º. "Da usucapião especial de imóvel urbano: Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até 31

duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1o O título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2o O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão."

(29)

continuará sendo proprietário mesmo "saindo" do núcleo familiar? Quanto a isso, ressalta-se que só poderá ocorrer essa modalidade de usucapião uma vez, de acordo com o parágrafo 2º do referenciado artigo (9º, do Estatuto da Cidade).

-

Outro ponto de destaque é que, bem como ocorre na

modalidade rural, é possível prolação de sentença ultra petita, de acordo com o artigo 13 da lei 10.257, que também autoriza a invocação da usucapião especial de imóvel urbano como matéria de defesa, o que ultrapassaria a causa de pedir deduzida pelo autor da ação.

c.2.2) Coletiva (art. 10, lei 10.257 ): 32 33

-

Nessa modalidade, há envolvimento de diversas entidades

familiares, ou sujeitos que não guardam entre si laços de efetividade ou consanguíneos.

-

O código não restringe a apenas uma entidade familiar,

podendo, então, ser aplicada a áreas com várias entidades familiares que estariam na mesma condição. Atenção ao fato de que isso não gera, necessariamente litisconsórcio ativo entre elas, do ponto de vista processual, mas podendo gerar também processo coletivo (ver artigo 12 da lei 10.257 ). 34

-

O requisito diferenciados são:

→ famílias de baixa renda;

→ que não sejam proprietárias de outro imóvel.

-

Importante então indicar o inciso III do art. 12, que traz

como parte legítima da ação de usucapião, a associação de moradores (como substituto processual).

Ver texto no Dropbox. 32

Lei 10.257, Art. 10. "As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa 33

renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. (...)"

Lei 10.257, art. 12. " São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana: 34

I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; II – os possuidores, em estado de composse;

III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados.

§ 1o Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público.

(30)

-

O professor entende que é a usucapião coletiva instrumento de regulação do espaço urbano, bem como de satisfação de direitos fundamentais. Porém, ela também apresenta problemas. Um deles é o fato da sentença transformar a composse em um condomínio (parágrafo 3º

do artigo 10 ), não havendo a individualização de 35

propriedades ou matrículas. Este condomínio especial poderá ser desfeito (possibilitando a individualização das

matrículas), segundo o parágrafo 4º , havendo 36

deliberação de 2/3 dos condôminos, porém, é praticamente impossível, do ponto de vista fático, conseguir os 2/3 necessários.

c.2.3) Familiar (por meação): artigo 1240-A do CC. Aquele que possuir como seu, com exclusividade, imóvel que dividia com seu ex-cônjuge que abandonou o lar, irá adquirir a posse após dois anos. Os problemas relacionados à essa modalidade são: o prazo de dois anos, a despeito do estabelecido pela CF, a dificuldade de definição da expressão "abandono de lar" e o fato de que poderá interferir no interesse dos credores de boa fé (ex.: para emprestar dinheiro a um dos cônjuges, o credor instituiu como garantia o imóvel. Na cobrança da dívida, o credor se depara com a ocorrência da usucapião familiar. A esposa então, poderia entrar com embargos de terceiro, alegando o imóvel agora ser dela). Novamente, percebe-se que essa modalidade só se dará uma vez para cada indivíduo.

Lei 10.257, Art. 10. "(...) § 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da 35

dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.

Lei 10.257, Art. 10. "(...)§ 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação 36

favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio."

CC: Art. 1.240-A. "Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição,

posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº

12.424, de 2011)

(31)

* Questões problemáticas envolvendo as modalidades de usucapião especial urbano:

➢ Sobrestamento de outras ações: ponto importante é quanto ao

disposto pelo artigo 11 , o qual determina que, enquanto não 37

correr o trânsito em julgado não se dará prosseguimento ao processamento de outras pretensões que venham a ser propostas a respeito do imóvel. O professor crítica esse artigo, sugerido que poderiam ser tomadas outras providências para conectar as ações, que causassem menores danos à razoável duração do processo.

➢ Aplicabilidade do CPC revogado: há também o problema

quanto ao artigo 14 , que estabelece que será aplicado o rito 38

sumário à ação de usucapião especial urbano. Nota-se que o NCPC extinguiu o procedimento sumário, e em seu art. 1046,

parágrafo primeiro , estabeleceu que as ações que se iniciaram 39

antes da vigência do NCPC e ainda não foram sentenciadas continuarão sendo regidas pelo procedimento sumário estabelecido no CPC/73. As ações posteriores à entrada em vigor do novo código, nesse entendimento, serão regidas pelo procedimento comum. Retornando ao CPC/73, destacam-se os artigos 941 e 942 , os quais dispõe acerca de quem deverá 40 41

ser citado, sob pena de nulidade. Importante citar os terceiros interessados (ex.: imóvel usucapiendo que tem o imóvel como crédito) e os confinantes. A respeito dos confinantes, há o artigo

246, §3º (CPC/15) que faz exceção à necessidade de intimar o 42

confinante no caso de condomínios edilícios. Há dúvida também com relação à aplicação do revogado art. 944 do CPC/73, que

Lei 10.257, Art. 11. "Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias 37

ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo.."

Lei 10.257, Art. 14. "Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário." 38

CPC/15, art. 1.046, § 1º. " As disposições da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos 39

procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste Código. "

CPC/73, art. 941. "Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se lhe declare, nos termos da lei, o domínio do imóvel ou 40

a servidão predial."

CPC/73, art. 942. "O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, requererá a citação 41

daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232. "

CPC/15, art. 246 § 3º. "Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente, exceto quando tiver por 42

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traz a obrigatoriedade da intervenção do MP nos casos de usucapião urbana. No CPC vigente, deve ser verificada a existência do interesse público ou social para que intervenha o MP no processo, segundo o artigo 178, I e III. Sendo julgada procedente a ação, observar-se-á, se ainda aplicado o CPC/73 a causa, o artigo 945. Segundo ele, deverão ser satisfeitas as obrigações fiscais, o que requer atenção dos advogados para, no caso de hipossuficiência do autor, pedir a assistência judiciária. No caso dos autores que não estejam sob o pálio da justiça gratuita, as obrigações deverão ser pagas. Discute-se, nesse âmbito, se seriam devidos os valores e IPTU. O professor defende ser essa uma obrigação propter rem (acompanha a coisa, embora o autor não tenha a ela dado causa).

➢ Reconhecimento extrajudicial do usucapião: utra polêmica é

com relação ao reconhecimento do usucapião por vis extrajudicial, que deve ser realizada pelo oficial do cartório de registro de imóveis do local em que o imóvel deveria estar registrado. Deverá haver, para ser solicitado tal reconhecimento, a ata notarial (cartório de notas), além disso, deverá ser o pedido instruído com a planta do imóvel, sendo ela subscrita pelos confinantes e confrontantes, bem como os eventuais terceiros interessados e do proprietário do imóvel. Tudo isso, de acordo com o artigo 1.071 do NCPC, o qual alterou o art. 216-A da Lei de Registros Públicos. O parágrafo 10 estabelece o requisito da não impugnação ao imóvel para se fazer o procedimento extrajudicial de usucapião. Por óbvio, não pode ser aplicada essa modalidade de reconhecimento para a ação coletiva, pois não existem áreas demarcadas, como dito anteriormente.

➢ Atenção: não se pode dizer que a jurisdição é exclusiva da

justiça estadual, podendo inclusive ser ela do juiz federal (caso de interesse da união). Em Belo Horizonte, importante dizer, as ações deverão ser julgadas pela vara de registro públicos (estadual, competência territorial e funcional).

d. Indígena (lei 6.001 e art. 231, CF): as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são da União, eles apenas possuem usufruto, ou seja, o poder de usar e extrair utilidades para sua manutenção. Assim, eles não têm a propriedade de suas terras. A usucapião indígena está em desuso, visto que pressupõe posse em áreas de até

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25 hectares, por 10 anos e é possível aplicar a usucapião constitucional a eles, sendo esta mais favorável pelo menor tempo exigido.

e. Art. 68, ADCT: é denominada usucapião em favor das comunidades quilombolas. Segundo esse artigo, as comunidades quilombolas que se estabeleçam no tempo, em determinada área, tem a possibilidade de ser reconhecida em seu favor a propriedade. Posse imemorial: posse que não se sabe mais usando se deu o início. Pouco importa de que forma se deu essa posse ou seu tempo de duração. O elemento fundamental é que a posse satisfaça o direito de moradia, além de deter aspecto histórico. Ademais, importante que ao tempo da CF/ 88, as famílias já estivessem no local. Além disso, entende-se que ela incide sobre bens públicos.

Unidade 3: Direito de Propriedade

• Conteúdo: o direito de propriedade é a manifestação por excelência dos direitos reais. Esse direito subjetivo é trazido pela CF/88 como um direito fundamental, essencial aos interesses do sujeito. O texto constitucional também traz, por outro lado e em contraposição à ideia puramente liberal, a função social dessa propriedade.

• Extensão da propriedade e domínio: em regra, a propriedade compreende todos os atributos do domínio, principalmente no que concerne ao direito à disponibilidade da coisa, pois apenas o proprietário poderá exercê-lo. O domínio poderá ter extensão plena, se diferenciando dos demais direitos reais. Não obstante, como já visto, é possível ser proprietário e não exercer o domínio em sua forma plena.

• Características: duas características fundantes do direito de propriedade são a presunção relativa de sua plenitude, bem como a exclusividade.

Elas estão dispostas no artigo 1231, CC . Ademais, a propriedade poderá 43

ser incorpórea e imaterial (intelectual), a despeito da posse. Porém, o professor crítica a preferência do Código Civil em tutelar os bens corpóreos e principalmente os imóveis, sendo que a propriedade incorpórea é tutelada de forma mais completa por legislação extravagante. Dessa forma, via de regra, a propriedade é um direito de propriedade pleno e exclusivo, bem como perpétuo (não sendo condicionado, via de regra, por termo ou condição resolutiva). Excepcionalmente, contudo, é

CC: Art. 1.231. "A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário." 43

Referências

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