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FUNÇÕES PSICOLÓGICAS DO ESPORTE MODERNO: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS CONCEITOS DE CATARSE E MIMESES NA OBRA DE NORBERT ELIAS

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Academic year: 2021

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FUNÇÕES PSICOLÓGICAS DO ESPORTE MODERNO: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS CONCEITOS DE CATARSE E MIMESES NA OBRA DE NORBERT ELIAS

Sergio Servulo Ribeiro Barbosa1 Frederico Witier Mazzonetto2

Resumo:

ELIAS e DUNNING, (1992) apresentam dois conceitos que vamos de denominar de mimésis e catarse, como efeitos produzidos pelo esporte tanto no público como nos praticantes do esporte. Neste sentido: quais são as diferenças entre estes dois conceitos? Como eles podem ser aplicados ao esporte? O objetivo deste artigo é de compreender e diferenciar os conceitos de mimeses e catarse, como funções psicológicas do desporto moderno. Neste sentido foram abordadas as funções do esporte moderno e em seguida discutido os conceitos de mimésis e catarse. A principal diferença entre os conceitos de mimésis e catarse esta na consideração de que o esporte possui necessariamente um caráter mimético, mas nem toda experiência esportiva leva a catarse. Palavras-chave: Esporte. Mimésis. Catarse.

PSYCHOLOGICAL FUNCTIONS OF MODERN SPORT: A DISCUSSION ON THE CONCEPTS AND CATHARSIS MIMESES THE WORK OF NORBERT ELIAS abstract:

Elias and Dunning, (1992) we present two concepts of styling of mimesis and catharsis, as the effects produced by the sport both in public and practitioners in the sport. In this sense: what are the differences between these two concepts? How can they be applied to sports? The purpose of this article is to understand and differentiate the concepts of mimeses and catharsis, as psychological functions of modern sport. In this regard were discussed functions of modern sport and then discussed the concepts of mimesis and catharsis. The main difference between the concepts of mimesis and catharsis in this consideration that the sport has necessarily a mimetic character, but not all sporting experience leads to catharsis.

Keywords: Sport. Mimesis. Catharsis.

INTRODUÇÃO

1 Professor de Educação Física; Coordenador do Curso de Educação Física do Centro universitário do Triângulo – UNITRI, Doutorando em Historia da Educação pela Universidade Federal de Uberlândia- UFU.

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O esporte adquiriu no mundo moderno uma importância inimaginável em face de seu surgimento nos meados do século XVIII na Inglaterra. E é considerado por muitos autores, como Tubino (1996), como um dos fenômenos sociais mais importantes, tendo influenciado profundamente a vida cotidiana do homem do século XX.

O termo ―sport‖ era usado na Inglaterra, juntamente com a versão disport, para designar uma variedade de passatempos e divertimentos, inicialmente ao conjunto de passatempos realizados primeiro na festa de Natal, da realeza. Com o passar dos tempos o termo ―desporto‖ passou a ser padronizado como um termo para formas mais específicas de recreação nas quais o esforço físico desempenhava o principal papel – formas específicas de um tipo de recreação que se desenvolveu primeiro na Inglaterra e que, a partir daí, se espalhou por todo o mundo. (ELIAS e DUNNING, 1985: 223)

Elias e Dunning (1985) vão designar o processo de transformação dos jogos em esporte a partir de um processo que vai ser denominado de ―esportivização‖. Este processo vai ter uma relação com outros processos interdependentes – como a mudança nos modos de produção econômica e a conseqüente Revolução Industrial - que vão desencadear numa transformação global das sociedades-estado, nos tempos recentes.

Para os autores citados acima, o esporte possui uma série de funções na Sociedade Contemporânea, entre uma destas funções está a de permitir a prática de atividades físicas a uma população com várias profissões sedentárias. Além desta atribuição bastante importante, os mesmos vão apresentar outras duas funções, fundamentalmente de cunho psicológico. ELIAS e DUNNING (1985) apresentam dois conceitos que por ora vamos de denominar de efeito mimético e efeito catártico, como efeitos produzidos pelo esporte tanto no público como nos praticantes do esporte. Os conceitos de catarse e de mimeses aparecem em toda a coletânea de artigos que formam o livro denominado Em busca de excitação – desporto e lazer no processo civilizacional, e que vão ser discutidos ao longo deste breve ensaio.

Neste sentido, um problema se configura de maneira bem interessante: quais são as diferenças entre estes dois conceitos? Se os conceitos são diferentes, quais são estas diferenças. Como eles podem ser aplicados ao esporte? Como podemos compreendê-los da maneira proposta por ELIAS e DUNNING?

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O objetivo deste artigo é de compreender e diferenciar os conceitos de mimeses e catarse, como funções psicológicas do desporto moderno, apresentando uma discussão que possa esclarecer de maneira objetiva estes dois conceitos tão caros aqueles que se interessam pelo esporte e pela psicologia aplicada ao esporte.

Foram realizadas umas revisões bibliográficas com consultas em livros, artigos e documentos, tanto impressos como pela internet. Para tal foram utilizadas as seguintes palavras chave: esporte, esportivização, catarse e mimeses e que possibilitaram uma análise crítica da atual discussão sobre os conceitos analisados acima.

Neste sentido vamos abordar inicialmente as funções do esporte moderno e em seguida discutir os conceitos de mimésis e catarse, buscando o significado que os mesmos conceitos possuem na obra, para em seguida se empreender uma análise detalhada sobre estes mesmos termos, a fim de compreendê-los em sua densidade semântica e conceitual.

As funções do esporte moderno

Parece claro que a atuação dos atletas em campo e a atitude e comportamento dos torcedores nas arquibancadas são bastante estudadas pela psicologia. A psicologia do Esporte enquanto área de estudo esta consolidada no mundo. Segundo SAMULSKI (2002, p. 20) ―A

psicologia do Esporte se ocupa da análise e modificação de processos psíquicos e de ações esportivas. Muitos autores partem do princípio de que a ação esportiva representa um comportamento intencional e psiquicamente regulado.”

São objetos de estudo desta psicologia do esporte, a personalidade, a liderança e a coesão grupal, a motivação para a prática esportiva, o estresse, a agressividade no esporte entre outros assuntos importantes, porém, não se discutem o porquê da prática e da assistência como expectadores do próprio esporte, como atividade de lazer no tempo livre, e como isto afeta psicologicamente as pessoas. Neste sentido falamos de funções psicológicas do esporte moderno os conceitos de ―mimésis‖ e de ―catarse‖. Em relação a estes conceitos os mesmos serão abordados nos itens seguintes.

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Segundo o dicionário Michaelis (2012) o termo mimetismo é um substantivo masculino que significa:

1 Capacidade que têm certos animais e plantas de adaptar-se à cor do ambiente ou de outros seres ou objetos, para passarem despercebidos de seus inimigos ou vítimas. 2 Mania de imitação. 3 Disfarce. (Michaelis, Dicionário on line)

Neste sentido voltaremos ao capitulo introdutório desta obra, onde os autores vão detalhar de uma maneira mais complexa o que se entende por caráter mimético.

Um detalhe importante para a sobrevivência e o sucesso das pessoas na sua vida em sociedade é um autocontrole dos impulsos libidinais, afetivos e emocionais. Segundo ELIAS E DUNNING (1992) este autocontrole não pode ser nem demasiado frágil e nem muito forte. Principalmente nas sociedades onde há um campo muito delimitado para a demonstração de sentimentos fortes, os acessos de raiva e cólera, o ódio feroz aos seus semelhantes não vai ser bem aceito, podendo levar as pessoas que não conseguem se controlar emocionalmente, ainda segundo os autores, para o hospital ou para as prisões. Os autores prosseguem dizendo que algumas pessoas têm sorte e possuem uma capacidade de facilmente transformar e canalizar os seus impulsos e sentimentos para atividades benéficas para si e para os outros, porem outros não possuem a mesma sorte e não conseguem conciliar as exigências da consciência ou razão com a satisfação dos seus desejos e necessidades instituais e impulsos afetivos e emocionais.

Ate onde se pode verificar, a maioria das sociedades humanas desenvolve algumas contramedidas em oposição às tensões do stress que elas próprias criam. No caso das sociedades que atingiram um nível relativamente avançado de civilização, isto e, com relativa estabilidade e com forte necessidade de sublimação, as restrições harmoniosas e moderadas, na sua globalidade, podem ser observadas, habitualmente, numa considerável multiplicidade de actividades de lazer, que desempenham essa função, e de que o desporto e uma variante. Mas, para cumprir a função de libertação das tensões derivadas das pressões, estas actividades devem conformar-se a sensibilidade existente face à violência física que e característica dos hábitos sociais das pessoas no ultimo estádio de um processo de civilização. (ELIAS e DUNNING, 1992, PP. 69 e 70)

E prosseguem os autores a analisar que esta sensibilidade a violência física foi sendo modificada ao longo dos períodos históricos e que espetáculos muito apreciados na Idade Antiga como os combates entre gladiadores e na Idade Média as execuções publicas de condenados, seriam vistos hoje em dia na maioria dos países ocidentais como intoleráveis e repugnantes.

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Além disto, a luta pela vida era muito mais dura, e a expressão sobre os seus impulsos, afetos e emoções eram muito mais diretos, sem os rodeios e obstáculos colocados por uma vida mais civilizada. Neste sentido podemos compreender o movimento que baniu a briga de galos no Brasil e o movimento em escala mundial contra as touradas praticadas na Espanha e em países da America Espanhola.

Nas sociedades ocidentais atuais, a impossibilidade de dar fluência a excitação, a repressão dos sentimentos, impulsos e emoções torna-se inevitável, para resolver este problema às sociedades atuais vão buscar nas ocupações de lazer um ―quadro imaginário‖ que objetiva a propiciar o excitamento, substituindo em muitas situações as atividades da vida real, sem, no entanto, correr os perigos e riscos dessas situações e ou vivências.

Mais adiante no texto os autores explicam como as atividades de lazer possibilitam tais sentimentos:

Se perguntarmos de que modo e que se animam os sentimentos, como e que a excitação e favorecida pelas actividades de lazer, descobre-se que isso e dinamizado, habitualmente, por meio da criação de tensões. Perigo imaginário, medo ou prazer mimetico, tristeza e alegria são produzidos e possivelmente resolvidos no quadro dos divertimentos. Diferentes estados de espíritos são evocados e talvez colocados em contraste, como a angustia e a exaltação, a agitação e a paz de espírito. Deste modo, os sentimentos dinamizados numa situação imaginaria de uma actividade humana de lazer têm afinidades com os que são desencadeados em situações reais da vida — e isso que a expressão «mimética» indica —, mas o ultimo esta associado aos riscos e perigos sem fim da frágil vida humana, enquanto o primeiro sustenta, momentaneamente, o fardo de riscos e de ameaças, grandes e pequenas, que rodeia a existência humana. (ELIAS e DUNNING, 1992, P. 71)

Ressaltam ainda, os autores que numa partida de futebol, para os espectadores o jogo representam um confronto entre duas equipes rivais, que se batem uns contra os outros, num terreno campal, sabendo que nada ocorrerá de mal aos seus participantes neste confronto e nem aos próprios espectadores que estão a assistir. Neste sentido é claro um prazer, uma excitação que ELIAS e DUNNING vão denominar de excitação mimética que de alguma forma vai representar uma excitação na vida real, sem os perigos da mesma. Por exemplo, um duelo medieval, com espada, a excitação sentida pelos duelistas é enorme, visto que um dos dois vai morrer no confronto. No esporte a excitação existe pelo confronto e pela perspectiva de um ganhador, porem o risco de danos físicos é infinitamente menor.

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O termo aparece em várias outras partes da obra de Elias e Dunning (1985) no capítulo 1 – A busca de excitação no lazer, ao se referir a várias atividades de lazer do nosso tempo, que possuem funções de propiciar excitação ―controlada‖ das tensões.

Simultaneamente, a maior tolerância pública, nos tempos recentes, quanto à exteriorização de manifesta excitação apenas demonstra, de uma forma mais pronunciada e directa, a função geral das actividades de lazer, em particular as da categoria especifica de que falamos. Dado que não existe um termo sociológico precise para este tipo, chamamos-lhe «mimetico». A maior parte das actividades de lazer, embora não todas, pertence a esta categoria, do desporto a musica, da caça e pesca a corrida e pintura, dos jogos de azar ao xadrez, da natação a dança rock e muitas outras. Aqui, como noutras situações, a busca de excitação, o «entusiasmo» de Aristóteles, e, nas nossas actividades de lazer complementar relativamente ao controlo e restrição da emotividade manifesta na nossa vida ordinária. Uma não se pode compreender sem a outra. (p. 105)

Mais adiante na mesma obra, os autores, ao classificarem as atividades de tempo livre, distinguem cinco esferas diferentes no tempo livre das pessoas, as quais se confundem e se sobre põem de varias maneiras, entre elas se elenca como uma das esferas a categoria das atividades miméticas ou jogo. No entanto ELIAS e DUNNING (1992) ponderam sobre o uso da palavra jogo (play em inglês, ser usado de maneira a ter vários sentidos e o aspecto um tanto vago do termo) fazendo opção pelo termo mais especifico para este tipo particular de atividades, de tempo livre denominado de atividades miméticas.

Em relação especifica ao desporto, ELIAS e DUNNING, afirmam que:

- O desporto, tal como outras actividades de lazer, no seu quadro especifico pode evocar através dos seus desígnios, um tipo especial de tensão, um excitamento agradável e, assim, autorizar os sentimentos a fluirem mais livremente. Pode contribuir para perder, talvez para libertar, tensões provenientes do stress. O quadro do desporto, como o de muitas outras actividades de lazer, destina-se a movimentar, a estimular as emoções, a evocar tensões sob a forma de uma excitação controlada e bem equilibrada, sem riscos e tensões habitualmente relacionadas com o excitamento de outras situações da vida, uma excitação mimética que pode ser apreciada e que pode ter um efeito libertador, catártico, mesmo se a ressonância emocional ligada ao desígnio imaginário contiver, como habitualmente acontece, elementos de ansiedade, medo — ou desespero. Neste momento do texto os autores introduzem um novo termo a discussão que o

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Sobre o conceito de catarse

Catarse é um substantivo feminino, que pode ser definido pelo dicionário Michaelis como:

(gr kátharsis) 1 Purgação. 2 Purificação. 3 Psicol e Med Método de purificação mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados, para aliviar o doente dos desarranjos físicos e mentais oriundos do recalcamento.

Neste sentido vamos recorrer à filosofia para compreender melhor o termo catarse. Para tanto vamos nos apropriar de um artigo escrito por CAIRUS (2008), onde o autor afirma que para compreender o conceito de catarse, temos que compreender o contexto que este termo é utilizado. Ele vai se reportar a Platão e principalmente a Aristóteles, que no livro denominado poética, utiliza o termo inicialmente na sua acepção mais comum:

Dizemos que é catártico um espetáculo, artístico ou esportivo, que nos emocione e que realmente vibre as cordas dos nossos sentimentos, liberando tensões ou mesmo ensejando uma revisão de algum dado de nossas vidas sob uma perspectiva epifânica. (CAIRUS, 2008, p. 21) Prossegue o autor analisando a importância deste conceito para o próprio Aristóteles, afirma que:

Catarse está, na obra aristotélica, no cimo de sua apreciação do objeto estético, e, mais especificamente, da representação dramática.

Não está, contudo, na filosofia a chave para a compreensão do conceito de catarse. Como várias outras idéias, a de catarse adentra a filosofia pela fronteira nem sempre bem definida com a medicina e com a religião.

Catarse é, sem dúvida, um termo que orbita em torno da medicina, onde expressa a ação do verbo ‗katharé-o‘, que significa simplesmente ‗purgar‘. Mesmo Platão, no seu Crátilo (405a), lembra que são os médicos que lidam melhor com a catarse.

Ainda segundo o autor, temos que nos reportar a idéia de que o conceito de catarse esta relacionada com a idéia do combate aos excessos que acomete as cidades estados gregas a partir do século VI a.C., combatendo uma idéia anterior relacionada aos heróis, aos grandes feitos, ao exagero. “o bem-estar do corpo – do corpo biológico e do corpo social, cuja forma modelar era

a pólis – dependia de uma ausência de excesso, de um equilíbrio.” (p.21) desse modo a catarse

estaria relacionada com a saúde não só corporal mas, também social, sendo a sua função principal purgar os excessos, eliminar, quer sejam do corpo biológico, quer sejam do corpo

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social. Também vamos ver o termo sendo usado no sentido de saúde mental, no restabelecimento da harmonia da mente, como um controle das emoções exageradas. Sobre estes vários sentidos do termo catarse, o autor nos esclarece:

A catarse aristotélica, especialmente aquela que encontramos na Poética (1449b), também se insere nesse projeto de salvaguardar a

sophrosýne. E o instrumental dessa catarse é claramente nomeado: os páthe, as perturbações das quais o espírito é passivo. Tal purgação é

realizada de uma forma particularmente complexa sobre a qual interessaria falar em outra ocasião, mas, hoje, o que nos interessa aqui é reconhecer que, segundo Aristóteles, o teatro visava a essa purgação, e que a emoção extremada do páthos funcionava como fármaco emético.

A catarse de Aristóteles, assim como a catarse filosófico-religiosa dos pitagóricos, tracejava o que mais tarde foi relido como loucura filosófica, que deveria ser distinta da loucura física. E foi precisamente repensando a idéia de páthos que Pinnel, no séc. XVIII, em seu ―Tratado médico-filosófico de alienação mental‖ redimensiona a loucura dando-lhe corpo e alma, tornando-a, enfim, humana. (CAIRUS, 2008, pp. 24 e 25)

Na presente obra, ELIAS e DUNNING (1992) vão utilizar o termo em alguns trechos da introdução e no capitulo 1 – e segundo o entendimento, é bem próximo ao significado lato do conceito apresentado acima, principalmente nos itens 1 e 2, no sentido de purgação e purificação, notadamente ligada as emoções. No texto eles aludem ao esporte por seu caráter mimético a possibilidade de catarse, no sentido de ser capaz de desencadear emoções e com isto dar vazão a uma serie de sentimentos represados na pessoa, com isto aliviando as tensões criadas por este represamento.

Já o conceito de catarse conforme os autores admitem, tem o sentido preconizado ainda por Aristóteles para poder preencher uma lacuna conceitual para o entendimento do desporto. Os confrontos permitidos pelos adversários no desporto ao alcançar a vitória sobre os outros, seja através de uma disputa ou de uma luta física sem provocar danos físicos. O desfecho da tensão no confronto e o esforço para atingir a vitória podem ter um efeito alegre e purificador. ―É

possível usufruir da confirmação de seu próprio valor sem má consciência, um aumento justificado do amor próprio, na certeza de que a luta foi justa. Nessa linha, o desporto proporciona amor próprio sem má consciência”. (ELIAS e DUNNING, 1992, p.81)

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Para estabelecer uma diferença nítida entre estes dois conceitos, vamos nos reportar a nota de rodapé nº 11, onde os autores em questão vão tentar definir as principais diferenças entre estes dois conceitos. Relatam-nos os autores respeito do termo ―mímesis‖ no seu uso sobre o esporte:

Por vezes, o quadro imaginário do desporto como uma luta que e, em ultimo recurso, um jogo, e como tal relacionado, apesar de diferente, com as lutas reais e os combates da vida das pessoas, deu origem a sugestão de que o desporto e uma imitação dos confrontos da vida real. Não e inteiramente irrelevante que neste contexto ocorra o problema da imitação, como acontece no contexto da arte.(ELIAS e DUNNING, 1992, p. 79)

Ainda neste sentido mais adiante os autores deixam bem claro esta relação entre ―mimesis‖ e esporte:

Algo muito semelhante acontece se compararmos uma luta física real entre seres humanos numa prova desportiva. O caracter mimetico de uma prova desportiva como uma corrida de cavalos, um combate de boxe ou um jogo de futebol e devido ao facto de aspectos da vivencia-sentida associados a luta física real entrarem no campo da vivencia-sentida de uma luta «de imitação» própria de um desporto. Mas, na experiência dos desportos, a vivencia-sentida de uma luta física real e deslocada para um mecanismo diferente. O desporto permite as pessoas a experiência da excitação total de uma luta sem os seus perigos e riscos. O elemento do medo na excitação, ainda que não desapareça por completo, e bastante reduzido, e o prazer da excitação do combate e, por esse motivo, elevado. A partir dai, se falarmos dos aspectos «miméticos» do desporto, referimo-nos ao facto de que ele imita, de forma selectiva, uma luta da vida real. O esquema de um jogo desportivo e a destreza de um homem ou de uma mulher desportista permitem que o prazer do confronto se desenvolva sem ferimentos ou mortes.

Já o termo catarse, tendo como base os textos anteriores, se referem no sentido atribuído por ELIAS e DUNNING (1992) de sentimentos e emoções de efeito alegre e purificador, dando um aspecto interessante ao esporte, de através de sua participação como atleta ou como torcedor, vivenciar emoções e dar vazão a sentimentos sentidos em outros aspectos da vida cotidiana, tendo dessa forma, um caráter de sublimação.

Neste sentido, para encerrar esta breve exposição, na nossa visão, a principal diferença entre os conceitos de mimésis e catarse na obra de ELIAS e DUNNING (1992) esta na consideração de que o esporte possui necessariamente um caráter mimético, mas nem toda experiência esportiva leva a catarse, sendo portanto, dois conceitos distintos e devem ser usados de maneira separadas ao se reportar ao desporto. No entanto, estes conceitos demonstram a

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importância do ponto de vista psicológico que o esporte vai assumir, principalmente nos países ocidentais, nos últimos 60 anos, como um fenômeno de massas de dimensão planetária, um espetáculo muito apreciado por bilhões de pessoas, que se deleitam com a sua assistência.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

CATARSE. In: DICIONÁRIO Michaelis. Disponível em: <www.uol.com.br/michaelis>. Acesso em: 15 de out. 2012.

CAIRUS, H. A arte de curar na cura pela arte: ainda a catarse. Anais de Filosofia Clássica, vol. 2 nº 3, 2008, pp. 20 -27.

ELIAS, Norbert. & DUNNING, E. A Busca da Excitação. Lisboa: DIFEL, 1992.

MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998-(Dicionários Michaelis). 2259p.

MIMÉSIS. In: DICIONÁRIO Michaelis. Disponível em: <www.uol.com.br/michaelis>. Acesso em: 15 de out. 2012.

SAMULSKI, Dietmar. Psicologia do esporte. São Paulo: Manole, 2002.

TUBINO, Manuel José Gomes. O Esporte no Brasil do período colonial aos nossos dias. São Paulo: IBRASA, 1996.139p

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