MEIO AMBIENTE
Introdução
Em 2000 havia no mundo mais de 1 bilhão de pessoas sem suficiente disponibi-lidade de água para consumo doméstico e se estima que, em 2020 haverá 5,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas com moderada ou séria falta d’água. A população mundial e suas atividades antrópicas já atingiram uma escala de utilização dos recursos naturais disponíveis que obriga a todos a pensar no fu-turo de uma nova forma. É previsto que a população mundial estabilize-se, por volta do ano 2050, entre 10 e 12 bilhões de habitantes, o que representa cerca de 5 bilhões a mais que a população atual, enquanto a quantidade de água disponível para o uso permanece a mesma. Considera-se, atualmente, que a quantidade total de água na Terra, de 1.386 milhões de quilômetros cúbicos, tem permanecido de modo aproximadamente constante durante os últimos 500 milhões de anos.
Verifica-se que 97,5% do volume total de água da Terra formam os oceanos, e somente 2,5% são de água doce. Ressalta-se que a maior parte dessa água doce (68,7%) está armazenada nas calotas polares e geleiras. A forma de arma-zenamento em que os recursos hídricos estão mais acessíveis ao uso humano e de ecossistemas é a água doce contida em lagos e rios, o que corresponde a apenas 0,27% do volume de água doce da Terra e cerca de 0,007% do volume total de água. Os dados acima conduzem a água à condição de um elemento estratégico na sociedade atual tal a sua valoração.
O conceito de estresse hídrico está baseado nas necessidades mínimas de água per capita para manter uma qualidade de vida adequada em regiões mode-radamente desenvolvidas situadas em zonas áridas. A definição baseia-se no pressuposto de que 100 litros diários (36,5 m³/hab.ano) representam o requisito mínimo para suprir as necessidades domésticas e manutenção de um nível ade-quado de saúde.
A experiência tem demonstrado que países em desenvolvimento e relativamen-te eficienrelativamen-tes no uso da água requerem entre 5 a 20 vezes o valor de 36,5 m³/hab. ano para satisfazer também às necessidades da agricultura, indústria, geração de energia e outros usos. Baseado nessas determinações, foram definidos patama-res específicos de estpatama-resse hídrico, sendo mais de 1.700m³/hab.ano considerada uma situação confortável; entre 1.000 e 1.700 stress hídrico periódico e regular; entre 500 e 1.000 escassez crônica afetando o desenvolvimento econômico, o bem-estar e a saúde; e menos de 500 considera-se escassez absoluta.
O Brasil tem uma posição privilegiada perante a maioria dos países quanto ao seu volume de recursos hídricos, alcançando uma vazão media superficial de 179 mil m3/s, aproximadamente 12% da disponibilidade mundial. Porém, mais
de 73% da água doce disponível do País encontra-se na bacia Amazônica, que era habitada em 1999 por menos de 5% da população. Portanto, apenas 27% dos recursos hídricos brasileiros estavam disponíveis para 95% da população no fim do século. Hoje, o Brasil, com população de 194 milhões de habitantes e a Amazônia com 18 milhões – cerca de 10% – dispõe de 27% dos seus recursos hídricos para 90% da população.
A potencialidade de água subterrânea no território nacional não é uniforme, ocorrendo regiões de escassez e outras com relativa abundância, havendo loca-lidades com significativa disponibilidade hídrica, como aquelas abrangidas pelo Aquífero Guarani e aquíferos sedimentares em geral, e outras com disponibi-lidade baixa, como aquelas de ocorrência das rochas cristalinas no semiárido brasileiro.
O Brasil dispõe de uma estrutura legal e institucional que vem permitindo cuidar da sua riqueza água em nosso território e procurar harmonizar os diversos usos com os países vizinhos por meio de tratados internacionais.
O Código de Águas de 1934, a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 e a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, complementados por leis estaduais de meio am-biente e recursos hídricos em todos os Estados têm destacado o País no cená-rio internacional com moderna Política Nacional de Recursos Hídricos e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Ressalta-se que a Constituição Federal estabeleceu o domínio da água superfi-cial para a União e os Estados.
No que concerne aos princípios básicos da Lei nº 9.433, destaque-se: !A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento;
!O princípio dos usos múltiplos da água, que coloca todas as categorias usuárias em igualdade de condições ao acesso a esse recurso natural, com prioridade para o abastecimento humano;
!O reconhecimento da água como bem finito e vulnerável, o que serve de alerta para a necessidade de uma utilização preservacionista desse bem natural;
!O reconhecimento do valor econômico da água é um forte indutor de seu uso racional e serve de base para a instituição da cobrança pela utilização dos recursos hídricos;
!A gestão descentralizada e participativa; quanto à gestão participativa, ela constitui um método que enseja aos usuários, à sociedade civil organizada, às ONGs e a outros agentes interessados a possibilidade de influenciar no processo de tomada de decisão.
Ainda são aspectos relevantes da Lei nº 9.433 o estabelecimento de cinco instru-mentos de política para o setor:
!Os Planos de Recursos Hídricos;
!O Enquadramento dos corpos d’água em classes de usos preponderantes; !A Outorga de direito de uso dos recursos hídricos;
!A Cobrança pelo uso da água, essencial para criar as condições de equilí-brio entre as forças da oferta (disponibilidade da água) e da demanda; !O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
Já na década de 80 foram realizados pelo DNAEE/MME diagnósticos e plane-jamento de 2,5 milhões de km2 em grandes bacias hidrográficas identificando
as macro questões hídricas com tecnologia totalmente nacional, a saber: rios São Francisco, Parnaíba, Paraguaçu, Mundaú e Paraíba, Itapicuru – Vaza Barris, Jaguaribe, Doce, Paranaíba, Paranapanema, Paraíba do Sul, Moji/Pardo, Jaguari/ Piracicaba, Grande, Iguape, Alto Tietê, Iguaçu, Itajaí-Açú, Uruguai e Guaíba. A Política Nacional de Recursos Hídricos vem sendo desde 2000 implementa-da principalmente pelos Ministérios do Meio Ambiente, por meio do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente Urbano e pelo Ministério da Integração Nacional por meio da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e nos Estados pelas Secretarias e Órgãos Gestores.
No País os Estados de Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Distrito Federal contam com stress Hídrico periódico e regular enquanto Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo e Bahia somente ocasionalmente tenderão a sofrer problemas de falta de água. Nas outras unidades não há observação sobre stress Hídrico. Há, entretanto, déficits em regiões da Bahia e do Ceará.
Importante ressaltar pela sua importância e significado político, social e técni-co o Projeto de Transposição do São Francistécni-co, técni-com transferência de 26,4 m3/s
na altura da Barragem de Sobradinho para melhorar a infraestrutura hídrica dos Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba pelo Eixo Leste (10 m3/s) e Rio
Grande do Norte e Ceará pelo Eixo Norte (16,4 m3/s).
Muitas ações se realizaram no País no âmbito Federal e Estadual desde o ano 2000, mas destacaremos pela importância a existência atualmente de 149 comi-tês de bacia hidrográfica no País, 141 dos quais foram criados em âmbito estadu-al, estando fortemente concentrados nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará e Minas Gerais.
Os oito comitês criados no âmbito federal são CBH do Rio São Francisco, CBH do Rio Verde-Grande, CBH do Rio Doce, CBH do Rio Pomba-Muriaé, CBH do Rio Paraíba do Sul, CBH dos PCJ e os Comitês das bacias dos rios Paranaíba e
Piranhas-Açu, que ainda estão em processo de instalação.
Após os avanços quantitativos notados, inicia-se a discussão acerca dos aspectos qualitativos do sistema, principalmente em relação às atividades dos órgãos es-taduais gestores de recursos hídricos. Ainda são numerosos os órgãos ainda não completamente estruturados, principalmente em relação a recursos humanos. As mudanças administrativas afetam o sistema a cada eleição majoritária, per-dendo-se, em alguns casos, história e conhecimento. O conjunto desses fatores influencia diretamente o funcionamento dos colegiados, pois comitês e conse-lhos dependem de órgãos implementadores suficientemente fortes para valer suas deliberações.
Princípios e diretrizes
!O acesso à água é um direito fundamental dos seres humanos;
!A água pertence ao povo brasileiro, e a União e os Estados exercem o seu domínio para as águas superficiais, devendo sempre ter a visão do alcance social;
!A água subterrânea pertence ao provo brasileiro e os Estados exercem o seu domínio para as águas subterrâneas, devendo sempre ter a visão do alcance social;
!O Município deve participar ativamente, devido às suas Atribuições Constitucionais e sua inserção na Política Nacional de Recursos Hídricos; !A Legislação Brasileira – Código de Águas, Lei nº 9.433/1997 e Lei nº 9984,
de 17/07/2000 e as Leis Estaduais – atende o momento atual e deve ser implementada com condições institucionais e orçamentárias visando con-tribuir para o estágio de desenvolvimento do País, de maneira sustentável.
Propostas
!Revisão e atualização do Plano Nacional de Recursos Hídricos com a efetiva implementação do mesmo;
!Revisão institucional do Ministério do Meio Ambiente para Ministério do Meio Ambiente e Recursos Hídricos;
!Elaboração de todos os Planos de Recursos Hídricos previstos na Lei nº 9.433/1997 e nas Legislações Estaduais, nas Bacias Hidrográficas em que estão implantados, Comitês de Bacias Hidrográficas Federais e Estaduais,
com assistência técnica da ANA e dos Órgãos Gestores Estaduais, por meio de convênio visando à instalação de um Escritório Técnico Especializado vinculado ao Órgão Gestor em cada Estado, para atendimento da deman-da, com garantia de recursos financeiros e participação da Engenharia Consultiva Nacional;
!Garantia de recursos financeiros previstos para o Programa Nacional de Águas Subterrâneas – PNAS aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos em 26/03/2009, no valor de R$ 260 milhões;
!Respeito ao orçamento da Agência Nacional de Águas, não realizando con-tingenciamento de recursos financeiros;
!Elaboração e Implantação como prioridade do Plano Nacional de Infraestrutura Hídrica, com garantia de recursos financeiros e Estrutura Técnico/Institucional;
!Revisão e atualização do Plano Nacional de Capacitação em Recursos Hídricos – PNCRH elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente em 1997 e não implementado com aplicação de R$ 80 milhões no período 2011-2014, como parte do Plano Nacional de Recursos Hídricos e compatibilizado com as ações atuais da Agência Nacional de Águas na área;
!Estabelecimento de programa trainee para os profissionais de recursos hí-dricos recém-mestres nos Órgãos Gestores de Recursos Híhí-dricos Estaduais em reforço ao atual Programa Agentes Gestores da Agência Nacional de Águas;
!Implantação imediata do Centro de Referência para Capacitação e Treinamento em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas;
!Estabelecimento de mecanismos de incentivos financeiros, tributários, eco-nômicos e assistência técnica para Municípios e proprietários rurais “pro-dutores de água” visando à preservação e conservação de áreas floresta-das, reservas permanentes e demais unidades de conservação visando a preservação de mananciais e aumento da oferta de água;
!Elaboração do Programa Nacional de Revitalização de Rios, priorizando-o, com inclusão das áreas em processo de desertificação;
!Fomento pelo Brasil para o estabelecimento da Diretiva da Água para a América do Sul, estabelecendo um enquadramento para a proteção das águas de superfície interiores, das águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas, similar ao realizado pela Comunidade Européia, no sentido do uso sustentável dos recursos hídricos do Continente;
(Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) na área de recursos hídricos em forma de cooperação técnica, cientifica e tecnoló-gica e exportação de serviços de engenharia em recursos hídricos no sen-tido de que Governo e iniciativa privada fomentem, bilateralmente, a prio-ridade destes países nesta área, tendo em vista o caráter de montante dos mesmos na Bacia Amazônica, com políticas e sistemas de Gerenciamento de Recursos Hídricos Sustentáveis;
!Estabelecimento com incentivos financeiros e institucionais do Mestrado Profissional em Gerenciamento de Recursos Hídricos em todas as regiões do País, sendo pelo menos dois na Região Norte e três na Região Nordeste, em 2011 e aumento de acordo com a demanda;
!Reforço institucional dos Órgãos Gestores Estaduais e incluindo as carreiras profissionais evitando-se constante renovação;
!Promover incentivo técnico, financeiro, institucional e às ações existentes de pesquisa e desenvolvimento em reuso de água, com normatização de sua aplicação pela sociedade, empresas e governos.
Referências
Plano Nacional de Recursos Hídricos – Ministério do Meio Ambiente – 2006. Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco – ANA / GTZ / CBHSF – 2004.
Conjuntura – Recursos Hídricos no Brasil – ANA – 2009.