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Hidrossolidariedade em associações de bacias hidrográficas no gerenciamento de recursos hídricos para o plano diretor urbano

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Hidrossolidariedade em associações de bacias hidrográficas no gerenciamento de recursos hídricos para o plano diretor urbano

Cristiane Ap. Guedes Ribeiro a*, Eduardo Mario Mendiondo b*

a Bacharel em Direito, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental - USP, Brasil, cagribeiro@yahoo.com.br

b Professor Titular da Universidade de São Paulo - São Carlos, Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, emm@sc.usp.br – 55 (16) 33739542

PALAVRAS CHAVE: hidrossolidariedade, associação de bacia, Plano Diretor, gerenciamento de recursos hídricos

TÍTULO ABREVIADO: Hidrossolidariedade em associações de bacias hidrográficas RESUMO

A necessidade de se instalar uma cultura de “poupança hídrica” no século XXI, baseada nos aspectos legais que citam: “... a bacia é uma unidade territorial para política de recursos hídricos...”, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada...” (artigo 1, V e VI, Lei 9.433/97), e segundo o Código Civil, art. 265 “a solidariedade não se presume; resulta de lei ou da vontade das partes”, emerge o conceito “Hidrossolidariedade”. Este trabalho pretende avaliar as vantagens e desvantagens do conceito de hidrossolidariedade em associações de bacias e analisá-lo na aplicação na drenagem urbana envolvendo a comunidade. Sensibilizar a comunidade frente aos problemas ambientais de cada bacia urbana envolvida no trabalho, inserindo o conceito de “Hidrossolidariedade” no gerenciamento de recursos hídricos, a fim de estimular o sentimento de solidariedade e responsabilidade cidadã frente à problemática da água tanto no âmbito espacial como temporal. A comunidade terá participação através de representação criada pela Associação dos Amigos da Bacia, na área de atuação, micro-bacia do Tijuco Preto, para planejar decisões frente às suas respectivas micro-bacias, numa gestão integrada e continuada.

1. INTRODUÇÃO- HIDROSSOLIDARIEDADE

Cresce as necessidades de desenvolver metodologias que envolvam as comunidades no gerenciamento dos recursos hídricos. A hidrossolidariedade é um conceito que está dentro deste contexto, pois envolve o gerenciamento de recursos hídricos estudando todas as necessidades da bacia hidrográfica e as necessidades do ser humano um solidário ao outro.

Estudos de hidrossolidariedade realizados no Vale Jordan, Nabulsi & Wolff (2003) definem a hidrossolidariedade como um termo conclusivo para princípios éticos na distribuição de água e como uma manobra no desenvolvimento, balanceando todas as

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ações e interessados nas regiões prioritárias que possam ser alcançadas. Surge as necessidades da bacia e exige uma gestão de recursos hídricos tanto no âmbito social, ambiental e no que refere à sustentabilidade nas comunidades estudadas.

Na Espanha, Blenkner (2001) referindo-se ao uso inadequado do conceito de hidrossolidariedade, descreve que em junho de 2001 o parlamento espanhol ordenado pela nova Lei Plano Nacional de Água traçou a transferência de uma parte de água para o Rio Ebro Sul de Barcelona e a outra metade da água para bacia de Segura. Esta transferência foi questionada por alguns grupos da Espanha. O questionamento se deu devido ao fato que o rio Ebro tem um excesso de água e se as pessoas de Segura realmente estão numa situação de desespero em relação a água. Segundo o autor quase 90% da água usada em Segura é destinada para irrigação de colheita de alto valor e não para uso de águas urbanas.

Depois da nova Lei do Plano Nacional de Água de 2001 a hidrossolidariedade não deveria servir de subsídios públicos infinitos para o detrimento de outra população que se agrupa em regiões de outro lugar. O Parlamento espanhol segue a filosofia de livre irrigação, o plano faz com que voltamos a pagina de hidrossolidariedade desenvolvido por SIWI – Stockholm International Water Institute que fala da água compartilhada entre a montante e a jusante e entre que tudo que é vivo na bacia baseado na capacidade social de ajustar os conflitos dos recursos naturais e não para o uso de uma parte da população de maior poder aquisitivo.

Para Mendiondo (2002) “Hidrossolidariedade é a transferência de conhecimento ecológico-ambiental e as ações a serem efetivadas. Tal conceito insere usuários das bacias (escolas, professores, alunos, associações), figura 01, em um programa de capacitação para a liderança e a compreensão dos processos de ocupação das bacias.

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Figura 01. Componentes de Ciência, Tecnologia e Inovação na Bacia Escola, e os seus principais derivados: monitoramento, planejamento e hidro-solidariedade. Fonte (MENDIONDO, 2002).

Este artigo trata da integração do contexto legal do conceito de hidrossolidariedade discutindo suas limitações e alcances através de criação de associações de bacias hidrográficas. “A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes” é o que estabelece o artigo 265, Capítulo VI, “Das Obrigações solidárias”, Seção I, do Código Civil Brasileiro (Lei 10.406, 11/01/2002). Para complementar, “A política nacional de recursos hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos (sic), VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público, dos usuários e das comunidades”, artigo 1, VI (Lei 9.433, 8/1/1997). Finalmente, “São consideradas organizações civis de recursos hídricos: II – as associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos”, artigo 47 (Lei 9.433, 8/1/1997).

Segundo Falkenmark & Folke (2002) a hidrossolidariedade parte do princípio de que para o gerenciamento de uma bacia é necessário envolver todas as suas necessidades, bem como a do ser humano, de forma solidário a ela. O gerenciar da bacia envolve, além das diferentes atividades da bacia hidrográfica, a ética solidária. Para realizar e dar um passo inicial a esse desenvolvimento são necessárias atitudes de gestão na bacia hidrográfica envolvendo a: comunidade, universidade e os interessados na questão sendo solidários entre eles, tendo a população mais acesso as informações

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através de educação ambiental. 2. OBJETIVOS

Este trabalho visa apresentar e discutir os alcances e limitações do conceito de hidrossolidariedade através da participação da comunidade em associações de bacia visando o gerenciamento de recursos hídricos de acordo o Plano Diretor de São Carlos. 3. METODOLOGIA

Optou-se por um estudo de caso pela necessidade de se facilitar o levantamento de contradições que representem os diferentes pontos conflitantes presentes numa situação político-social.

3.1. Abrangência do conceito de Hidrossolidariedade Legal

Devido ao caráter teórico desta parte é realizado um levantamento da legislação a partir do direito em vigor, e revisão bibliográfica para verificar o conceito de hidrossolidariedade no gerenciamento dos recursos hídricos no contexto jurídico, com análise e discussão de suas limitações a alcances.

3.2. Criação da Associação de bacia hidrográfica

Para a criação da associação além do levantamento da legislação é realizada uma pesquisa participante ao qual se produz um conhecimento enquanto age para promover objetivos do público alvo.

São usadas as seguintes ferramentas legais na criação de Associação; Código Civil (2002) – artigo 265, “Das Obrigações Solidárias”, Constituição Federal de 1988 – artigo 225, Lei Federal nº. 9.433/1997 disciplina a Política Nacional de Recursos Hídricos: artigo 1 (inc. VI) e artigo 47 (inc. II), Lei nº. 7.663, de 30/1991 que estabelece à Política Estadual de Recursos Hídricos e do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Estatuto da Cidade, Lei nº. 13. 691/ 2005 (Plano Diretor do Município de São Carlos), Código Civil (2002), Das Pessoas Jurídicas, artigos 44 ao 52,

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Das Associações, artigos 53 a 61 e a Lei de Registros Públicos nº. 6015, de 03/12/1973. 3.2.1. Síntese da formação de bacia

A tabela 1 apresenta uma síntese das etapas realizadas para a criação da associação: Etapas Etapas do processo de criação da associação

1ª Etapa: Elaborar diretrizes para o Plano Diretor da bacia hidrográfica 2ª Etapa: Seminários da comunidade cientifica e representantes de entidades

3ª Etapa: entrevista Promover a Educação Ambiental

reuniões junto a comunidade 4ª Etapa: Reunir e assinar a lista dos sócio-fundadores.

5ª Etapa: Publicar em jornal do Município um Edital de Convocação da Assembléia

6ª Etapa: Reunir em uma Assembléia Geral de Constituição da Associação, escrever a Ata e aprovar o Estatuto

7ª Etapa: Registrar o Estatuto e a Ata 8ª Etapa: Receita Federal e criar o CNPJ

9ª Etapa: Prefeitura Municipal – Alvará de licença. 10ª Etapa: Andamento da associação.

11ª Etapa: Entrevistas com a comunidade estudada

Tabela 1. Síntese das etapas da criação da associação de bacia hidrográfica. 3.3. Realização de entrevistas

Após a criação da associação são realizadas entrevistas com a comunidade para verificar o nível conhecimento e participação comunitária no gerenciamento de recursos hídricos em associações de bacias. Elaborou-se um questionário dividido em duas partes, A e B. Na parte A tem-se a caracterização social do entrevistado e na parte B apresenta questões gerais as quais servem para avaliar os objetivos da entrevista. A parte B foi dividida em temas, como análise de estudo deste artigo foram utilizados os seguintes temas: Bacia Hidrográfica, Hidrossolidariedade no Gerenciamento dos Recursos Hídricos, Gestão Participativa, Associação de Bacia.

4. ÁREA DE APLICAÇÃO

O município de São Carlos está localizado na região centro-norte do estado de São Paulo a cerca de 240 Km da capital estadual. Tem a sua região urbana inserida na área da bacia hidrográfica do rio Monjolinho que tem como tributários a micro-bacia do

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Tijuco Preto e que percorre diversos bairros da cidade de São Carlos. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

São apresentados a seguir os resultados e discussões referentes à aplicação da hidrossolidariedade na associação de bacia hidrográfica.

5.1. Primeira etapa – diretrizes para Plano Diretor numa gestão de participação comunitária

O artigo 182, § 1 da Constituição Federal descreve que o Plano Diretor é obrigatório em cidades com mais de vinte mil habitantes. Trata que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade conforme diretrizes fixadas em lei, “Estatuto da Cidade” (Lei nº. 10.257/2001). No artigo 4º enumera os instrumentos da política urbana, dentre eles o inc. III alínea a salienta “que o planejamento municipal é o Plano Diretor”. Sendo assim, São Carlos por ter mais de 20 mil habitantes possui um Plano Diretor.

5.2. Segunda etapa - seminários

De inicio, o NIBH (Núcleo Integrado de Bacias Hidrográficas/EESC/USP), com sua equipe técnica e multidisciplinar, realizam o projeto Pró-Tijuco (vide FIPAI/PMSC, 2003). Nesse projeto participam a Prefeitura Municipal de São Carlos, o Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e a Defesa Civil de São Carlos.

Há a reunião de várias áreas interdisciplinares para discutir problemas com enfoque na micro-bacia do Alto Tijuco Preto, dentre eles: a educação ambiental, a gestão participativa, a discussão sobre criação de associações de bacias e a importância da aplicação de Planos Diretores. O resultado deste projeto é descrito em 12 relatórios.

A seqüência do trabalho são realizados seminários na presença da comunidade científica e representantes de entidades como o Conselho Regional de Engenharia,

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Arquitetura e Agronomia (CREA), Secretaria Municipal da Ciência, Desenvolvimento e Tecnologia, entre outros.

5.3. Terceira etapa - envolvimento da comunidade para sua participação no gerenciamento dos recursos hídricos

O envolvimento da comunidade é feito através da apresentação do projeto em reuniões públicas. O diálogo entre a universidade e a comunidade é fundamental para melhorar as condições ambientais e sociais de quem vive no entorno da micro-bacia do Tijuco Preto. Dentre os princípios fundamentais do Plano Diretor de São Carlos no artigo 2º, o inc. XII descreve que a gestão democrática da cidade deve ser realizada, mediante participação da população e das associações representativas dos vários segmentos da comunidade nos processos de decisão, planejamento, formulação, execução, acompanhamento e fiscalização do desenvolvimento urbano.

5.4. Quarta etapa – reuniões com a comunidade para assinar a lista dos sócios – fundadores da associação

Essas reuniões são oportunidades para discutir valores universidade/comunidade a fim de despertar interesse pelo conhecimento da realidade atual da bacia para uma possível mudança de paradigmas. Isso permite, por sua vez, analisar e comparar as situações pré e pós- implantação da criação da associação, avaliando-se os resultados.

Em umas das reuniões realizadas a lista de sócio-fundadores é assinada e marcado o dia da Assembléia Geral. Como resultado das reuniões e seminários, as necessidades da bacia são avaliadas dando início à elaboração do Estatuto da Associação.

5.5. Quinta etapa – edital de convocação

Esta etapa refere-se à publicação de um Edital de Convocação da Assembléia Geral em jornal do Município, neste caso, foi no jornal Classificados de São Carlos.

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5.6. Sexta etapa – Assembléia Geral de Constituição

Reunir para Assembléia Geral de Constituição da Associação, e escrever a Ata e aprovar o Estatuto refere-se esta etapa. Aprovado o estatuto é constituída a associação no caso “Associação Amigos da Bacia do Tijuco Preto”, sob a sigla (AABTP).

5.7. Sétima etapa – registro do Estatuto e da Ata

Aprovado o Estatuto, a próxima etapa é fazer o seu registro junto ao Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas. O artigo 120 da Lei de Registro Público nº. 6015, de 03/12/1973 estabelece o que o devera conter estatuto para sua legalização.

5.8. Oitava etapa - resultado referente à criação da associação de bacia - CNPJ A seguir a figura 02 traz o resultado da oitava etapa citado na tabela 1. É criada a Associação Amigos da Bacia do Tijuco Preto (AABTP), localizada na micro-bacia do Tijuco Preto, São Carlos-SP.

Figura 02. Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica da Associação. Fonte: NIBH 5.9. Nona etapa - alvará de licença de funcionamento da associação

Esta etapa é relacionada à entrada do pedido de Alvará de Licença na Prefeitura Municipal. , neste caso, Prefeitura Municipal de São Carlos.

5.10. Décima etapa – andamento da associação

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No dia 16 de agosto de 2006 na Assembléia Geral para a escolha dos representantes das entidades ambientalistas junto ao COMDEMA (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de São Carlos) a Associação foi escolhida como membro de entidade ambientalista perante o órgão, abaixo a figura 03 apresenta a Ata da Assembléia Geral.

Figura 03. Ata da Assembléia Geral do COMDEMA com a escolha dos representantes das entidades ambientalistas. Fonte: NIBH

5.11. Décima primeira etapa – entrevista com a comunidade pertencente à bacia estudada

A seguir são apresentados os resultados e discussões referentes às entrevistas realizadas na comunidade da micro-bacia do Tijuco Preto.

5.11.1. Caracterização social dos entrevistados

A caracterização social dos entrevistados foram analisados na parte A que serviram para apresentar os entrevistados de forma a garantir a validade da entrevistas. Dos 20 entrevistados, 09 são do sexo feminino e 11 do sexo masculino. Pode-se observar uma distribuição normal com uma pequena concentração da faixa etária entre 20 a 29 anos de idade, com 35%. Com relação ao tempo de residência, a distribuição foi de 20 a 29 anos, com 35%. Os resultados obtidos em relação a ocupação do entrevistado foram: 61% dos entrevistados responderam que trabalham, 11% estuda/trabalha, 6% só estuda e 22% das respostas dadas foram a opção outros sendo destes 03 entrevistados alegaram ser aposentados e 01 entrevistado alegou ser dona de casa.

Na micro-bacia pesquisada o grau de escolaridade se mostrou significativo, sendo 40% dos entrevistados possuem 3º grau completo, 30% possuem 3º grau

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incompleto, 20% possuem 2º grau completo, 5% possuem 2º grau incompleto, 5% possuem 1º grau incompleto e nenhum analfabeto.

5.11.2. Questões gerais da entrevista

As questões da parte B foram elaboradas para analisar o nível de conhecimento da comunidade em relação aos temas propostos.

- Bacia hidrográfica: avaliou-se o grau de conhecimento da comunidade em relação ao conceito de bacia e a aproximação da comunidade com este tema em relação aos recursos hídricos. A bacia hidrográfica de acordo com Rocha et al. (2000) corresponde a um sistema biofísico e socioeconômico, integrado e interdependente, contemplando atividades agrícolas, industriais, comunicações, serviços, facilidades recreacionais, formações vegetais, nascentes, córregos e riachos, lagoas e represas, enfim, todos os habitats e unidades de paisagem. De acordo com este conceito tem-se as seguintes análises em relação à pergunta: 50% dos entrevistados responderam que sabem o que é uma bacia hidrográfica, 25% responderam que não sabem o que é uma bacia hidrográfica e 25% não tem certeza do que se trata. Percebe-se que a comunidade ao ser questionada sobre “o que é uma bacia hidrográfica”, este tema é relacionado ao termo “água”, apesar de não definirem o conceito. Analisou-se que os entrevistados têm uma pequena afinidade em relação ao tema proposto. De acordo com Lima (2002) em seu trabalho sobre percepção ambiental ao qual foi aplicada uma entrevista comenta que a concepção de Bacia Hidrográfica é um conceito pouco aprendido ou não internalizado pela população em geral e ainda comenta em seu trabalho que as pessoas que citam de alguma forma “água” em sua definição, apresentam algum conhecimento sobre bacia hidrográfica. Na questão seguinte foi abordado sobre qual bacia hidrográfica pertence São Carlos. De todos os entrevistados que responderam a qual bacia pertence São Carlos 51% citaram Monjolinho que é considerada uma resposta correta. Conforme

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Espindola (2000), a bacia hidrográfica do rio Monjolinho abrange uma área de aproximadamente 275km², com a maior parte de sua área contida no município de São Carlos.

- Hidrossolidariedade no gerenciamento dos recursos hídricos: pretende-se verificar o grau de sensibilização, solidariedade e o interesse da sociedade em relação aos problemas existentes a sua micro-bacia. As perguntas seguintes são relacionadas ao tema de Hidrossolidariedade. A partir do conceito de hidrossolidariedade já apresentado anteriormente ao qual segundo Falkenmark & Folke (2002) a “Hidrossolidariedade parte do princípio de que para o gerenciamento de uma bacia é necessário envolver todas as suas necessidades, bem como a do ser humano solidário a ela”, 15% dos entrevistados responderam que já ouviram falar de hidrossolidariedade e 85% responderam que nunca ouviram o termo. Por ser um conceito pouco conhecido a idéia ao elaborar esta questão não foi de analisar se a resposta estava correta ou não, a idéia foi analisar o grau de aproximação, sensibilização e percepção da comunidade com o tema de recursos hídricos. Como o termo final da palavra hidrossolidariedade trata-se da palavra solidariedade, percebe-se certa familiaridade da população a este conceito. Como é um conceito que envolve a bacia hidrográfica e todas as suas necessidades a maioria das pessoas demonstraram em suas respostas certa sensibilização com os problemas envolvidos na bacia. Segundo Esteves (2004) a hidrossolidariedade é abordada como a capacidade de adaptação de comunidades em torno de objetivos comuns, porém frente a situações de conflito e de usos múltiplos dos recursos hídricos que mereçam participação e mobilidade pública de pequenos grupos. Ao serem questionados sobre o interesse em serem solidários aos assuntos relacionados à água a grande maioria, 75%, responderam que tem interesse e apenas 25% responderam não se interessar pelo assunto.Apesar do assunto água ter sido um dos elementos fundamentais

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em discussões cientificas, em políticas, sociais, com reuniões em comunidades e jurídica, ainda tem-se respostas que não tem se interessar pelo assunto relacionado a água. Quando questionados sobre quais problemas enfrentavam relacionados à água e suas possíveis soluções, as respostas de maior relevância dos entrevistados foram: desperdício e falta de água, já para solucionar estes problemas foi ressaltada conscientização e a educação da população.

- Gestão participativa: foi questionado se os entrevistados faziam parte de alguma entidade (social, ambiental ou outras), e a porcentagem de entrevistados que participam foi de apenas 17%. O intuito desta questão foi analisar onde se encontra o índice de participação da comunidade em geral, percebeu-se que a falta de divulgação é a maior causa de ausência no interesse da população em participar das entidades. Como sugestão da população para aumentar a participação da sociedade neste tipo de entidade foi ressaltada o aumento da conscientização. Segundo Leal (2004) além da participação social, a associação visa um ponto de referência para a comunidade que pode encontrar na associação um apoio nas decisões ambientais e no processo de propagação da educação ambiental além de promoção de eventos para divulgação e transmissão de conhecimentos e cidadania.

- Associação de bacia hidrográfica: foi feita a pergunta: O que você entende por associação de bacia? As respostas de 40% dos entrevistados demonstram algum entendimento sobre este tema e destes 40% entrevistados 90% tem interesse em participar de uma associação. O conceito de associação conforme Lotufo (2002) nasce de negócios jurídicos de vontades convergentes quanto a sua criação e suas finalidades e podemos então defini-la como a entidade de direito privado formada pela reunião, em caráter estável, de pessoas, objetivando determinado fim comum não lucrativo, regida por contrato ou estatuto, com ou sem capital. Para analisar as respostas olha-se a partir

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do conceito dado do dicionário Aurélio o qual é um livro de mais fácil acesso da comunidade, conforme o Aurélio (1998) associação é um agrupamento permanente de pessoas com fins que não são exclusivamente patrimoniais. Na micro-bacia do Tijuco Preto já existe uma associação de bacia e apenas um dos entrevistados citou a associação de bacia, apesar do entrevistado não participar desta associação mostrou algum conhecimento sobre a existência dela. De acordo com Guedes Ribeiro & Mendiondo (2005) em relação a um trabalho apresentado sobre a associação de bacia observa o diálogo entre a universidade e a comunidade como movimento fundamental para melhorar as condições ambientais e sociais de quem vive na micro-bacia do Tijuco Preto. Esse diálogo ocorre através da criação de uma associação de bacia. A idéia é formar uma gestão inserida no contexto para atender as necessidades humanas sem interferir na elasticidade dos elementos ecológicos vitais dessa bacia, ou seja, na capacidade de suporte da bacia hidrográfica estudada.

6. CONCLUSÕES

Avaliar os alcances e as limitações do conceito de Hidrossolidariedade na micro-bacia do Tijuco Preto foi o propósito deste trabalho. Partindo do conceito de “hidrossolidariedade”, que para o gerenciamento de uma bacia é necessário envolver todas as suas necessidades, bem como a do ser humano solidário a ela. Verifica-se a possibilidade de aplicação desse conceito através do respaldo jurídico local. No caso brasileiro, através do artigo 265 do Código Civil que faz referência à solidariedade no capitulo Das Obrigações Solidárias, “a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes”. A partir disto, verifica-se que para se ter como resultado a solidariedade em relação ao gerenciamento de recursos hídricos a partir de associaçõs de bacias precisa-se de: “lei” ou da “vontade’ do cidadão em participar”, para isto temos a Hidrossolidariedade legal.

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A Lei Federal Brasileira nº. 9433/97, em seu artigo 1º enumera os fundamentos que a política nacional de recursos hídricos se baseia, dentre destes está o inc. VI, “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades” e no artigo 47 da mesma lei, consideram-se como organizações civis de recursos hídricos, inc. II – as associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos, dentro deste respaldo jurídico foi constituída a Associação amigos da Bacia do Tijuco Preto tendo como parâmetro a lei de recursos hídricos e a vontade do cidadão em participar.

Para analisar o grau de aproximação da comunidade com o tema foram realizadas entrevistas com a comunidade. Verificou-se nas entrevistas que apesar de 40% dos entrevistados saber ou ter conhecimento do que seja associação, 90% tem interesse em participar. Portanto o maior obstáculo observado é a falta de divulgação e informação da população em relação a como participar no gerenciamento dos recursos hídricos através de associação de bacia.

Com isto recomenda-se para trabalhos futuros: maior divulgação da associação da micro-bacia já constituída. Elaborar cursos e palestras na comunidade do Tijuco Preto. Reuniões para criar novas metodologias de divulgação da associação e discutir novas propostas junto à comunidade envolvida.

7. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica do Brasil, CNPq-Brasil, CT-Hidro Processo n° 134550/2004-8 e a FINEP 01.02.0086.00.

8. REFERÊNCIAS

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