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DA ESTRUTURA À FUNÇÃO, A LINGUAGEM ENTRA NO CONTEMPORÂNEO

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DA ESTRUTURA À FUNÇÃO, A LINGUAGEM ENTRA

NO CONTEMPORÂNEO

JULIANO DESIDERATO ANTONIO VALÉRIA CRISTINA DE OLIVEIRA

Universidade Estadual de Maringá Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias Programa de Pós-Graduação em Letras (Mestrado e Doutorado)

Av. Colombo, 5790 – Bloco G-34, sala 001 (térreo) 87020-900 – Maringá-PR – Brasil

valeriacardoso@geduem.com.br

prof.jdantonio@gmail.com

Resumo. Este trabalho visa discutir a emergência do funcionalismo

linguístico nos estudos da linguagem, perguntando: como o Estruturalismo deu condições de existência ao funcionalismo linguístico? Recorremos aos estudos de Pezatti (2005), Dosse (1993), entre outros, para considerar que o funcionalismo linguístico teve sua emergência, respondendo ao formalismo estrutural como modelo crítico de visão relativa da realidade linguística.

Palavras-chave. Estruturalismo. Funcionalismo. Emergência.

Abstract. This research aim at discussing the emergence of functionalism

(linguistics) in studies of the language, enquiring: how did the Structuralism supply existence conditions to functionalism in linguistics? We searched into the studies of Pezzati (2005), Dosse (1993), and others, to consider that the functionalism in linguistics had its emergence, responding to structural formalism as a critical model of relative vision from linguistics reality.

Keywords. Structuralism. Functionalism. Emergence.

1.Apontamentos Iniciais

O funcionalismo linguístico tem por base epistemológica compreender a língua como um instrumento de comunicação, observando as funções linguísticas dos elementos organizadores do texto e do discurso. Alguns de seus modelos, a partir das concepções discursivas, afirmam, sob tais perspectivas, negar a proposta estruturalista de análise da frase, outros, ao contrário, tentam ver no estruturalismo um princípio geral para os estudos da linguagem, inclusive aqueles que são postulados pelo funcionalismo.

Nessa direção, as visões opostas, entre o reconhecimento do estruturalismo como um princípio para o surgimento do funcionalismo e a negação quase total dessa

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possibilidade, incomodam e dão margem a questionamentos, que, aqui, se impõem por meio de duas perguntas: que condições epistemológicas propiciaram a emergência dos estudos do funcionalismo linguístico? E, a partir destas, que propostas funcionalistas hoje se apresentam como possibilidades contemporâneas de análise linguística?

Com esse intuito, este texto começa com algumas considerações sobre o estruturalismo em sua gênese, partindo dele para a função e as condições históricas e epistemológicas em direção ao surgimento do modelo teórico do funcionalismo linguístico. Na sequência, a discussão o encara com algumas acepções do termo função, para então se inscrever e inscrever, também, seus teóricos na atualidade, com uma abordagem de análise descritiva da língua em uso com fins comunicativos.

2. Da Estrutura... princípios

A partir das informações apresentadas por François Dosse – historiador e epistemólogo francês, especializado na história da intelectualidade e autor de várias biografias de intelectuais do século XX-, iniciam-se aqui as discussões sobre os princípios do estruturalismo, como uma ciência da linguagem e suas condições de possibilidade para existir e se ramificar para outras áreas dos estudos da língua, como ocorreu com o funcionalismo, sempre nos indagando como essas fronteiras foram estabelecidas.

De início Dosse (1993) estabelece uma genealogia do termo estruturalismo. Para o historiador, a palavra derivada de estrutura (do latim structura, do verbo struere) foi, no século XVIII, atribuída à arquitetura, cujo Dictionaire Trevoux afirma ser (1771, apud DOSSE, 1993, p. 15) “a maneira como um edifício é construído”. No século seguinte seus sentidos extrapolam o domínio da arquitetura e passam também para a biologia, designando o modo como os seres são construídos, numa clara filiação às ciências sociais que preconizavam a compreensão do sujeito. Para Dosse, os estudos estruturais já chegavam, neste momento, à língua com Bernot e Claude Vaugelas, recuperados do século XVII.

Franco (2013) contribui argumentando que o termo estrutura serviu, nesse momento, para designar i: o homem, o corpo construído e ii: as obras desse homem, como sua língua e a organização para a fala. Bernot, apontado no século XVIII como linguista, traz, conforme a autora, que a estrutura mostra um conjunto, o qual deixa ver suas partes e as relações dessas entre si.

Dosse (1993, p. 15) esclarece que para ele “a postura estrutural só se apossou verdadeiramente do campo das ciências humanas num segundo tempo, recente, a partir do século XIX”, no qual pensadores que vão de Marx à Durkheim começam a tratar o termo como uma combinação complexa de várias partes de um conjunto que pode ser aplicado a diversas ciências, inclusive às humanas. Então o autor conclui que a utilização do termo entre os humanistas mostra um estruturalismo que “[...] nasce nos psicólogos para opor-se à psicologia funcional no começo do século [XX], mas o verdadeiro ponto de partida do método em sua acepção moderna, na escala de todas as ciências humanas, provém da evolução da linguística” (DOSSE, 1993, p. 15).

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O primeiro artigo científico a tratar e utilizar a palavra estruturalismo da forma como hoje o entendemos vem de Hjelmslev, linguista dinamarquês que fundou a revista

Acta Linguistica em 1939, pois mesmo com a publicação do Cours de Linguistique Général, em 1915, o termo ainda não era empregado e difundido. A partir de então as

condições contextuais do momento histórico fizeram do estruturalismo até a década de 1960 uma ciência aplicada à sociedade como um todo. Para Dosse (1993, p. 14), o movimento foi derivado de uma

conjuntura política particular marcada pelo desencanto, configuração do campo do saber que precisava fazer uma revolução para ver uma reforma ser bem sucedida: essa conjunção permitiu ao estruturalismo ser o polo de convergência de uma geração inteira que descobriu o mundo por trás de grade estruturalista.

Coube ao estruturalismo, portanto, ser, de um lado, o rigor de um método como ciência na ebulição dos movimentos sociais e humanos e, de outro, a consciência crítica, quase filosófica que a sociedade daquele momento precisava, com a contestação e a contracultura do classicismo e das instituições canônicas exacerbadas.

Contudo, a grande distância cronológica entre a publicação do Curso de

Linguística Geral (1915) e a difusão de sua leitura, além da atribuição do termo ‘pai da

linguística’ a Ferdinand de Saussure, deu-se por vários fatores, o primeiro deles diz respeito a duas Guerras Mundiais, especialmente no pós Segunda Guerra, pois na Europa destruída, russos e suíços puderam dominar o campo dos estudos da linguagem, domínio antes desenvolvido e dominado, até então, pelos alemães com a filologia comparativa. Conforme Dosse nos mostra,

no primeiro Congresso Internacional de Linguística realizado em Haia em 1928, sela-se uma aliança prenunciadora de um grande futuro: ‘as propostas apresentadas pelos russos Jakobson, Karcevski e Troubetzkoy, por uma parte, e pelos genebrinos Bally e Séchehaye, por outra, têm em comum destacar a referência a Saussure para descrever a língua como sistema’. Portanto, Genebra e Moscou estão na base de definição de um programa estruturalista. (DOSSE, 1993, p. 66)1

Tais condições propiciaram o início da era do estruturalismo que, para o autor, tem seu auge nos anos 1960, com sua derrocada no começo dos anos 1980, num desgaste teórico marcado, sobretudo, por aquilo que a caracteriza: o rigor do sistema e o fato de não ser mais um movimento de contestação. A essa racionalização da estrutura faltava o que a sociedade agora demandava: o sujeito. Para Dosse (1993, p. 73), “a consequência disso é a eliminação do sujeito falante, do homem que fala”.

Considera-se, assim, que se a linguística estrutural de Saussure vitimou o homem em detrimento do estudo do sistema, ela, com essa opção, foi algoz de si mesma. Contudo, essas condições acabaram por oferecer, a partir das contestações sofridas, possibilidades de emergência para outros modelos de pensamento relativos às análises linguísticas.

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3. À função...entendendo o início do funcionalismo linguístico

O estruturalismo, como corrente filosófica de pensamento, se encontrava em várias ciências, entre as décadas de 1920 a 1960, tais como a antropologia de Claude Lévi-Strauss. Fato que conferiu ao movimento um caráter mais próximo do humano e das consequentes críticas de racionalização científica, nas quais vários linguistas já descontentes com as limitações estruturais se inseriam. Muito destacadamente, entre eles, na opinião de Dosse, Roman Jakobson, chamado pelo autor de “o homem-orquestra”.

Na Nova York de 1942 o estruturalismo começa a apresentar sinais de mudanças, pois Lévi-Strauss e Jakobson, exilados por motivos diferentes, mas por consequências gerais dos conflitos armados na Europa, se conhecem no Novo Mundo e começam a levar o campo da linguística para o da significação.

Fugindo do bolchevismo russo, Jakobson passa por Praga e desenvolve lá pesquisas com a Escola Linguística de Praga, cujo Círculo tinha por filiação trabalhos estruturais com bases saussurianas, além de outros do formalismo russo com Gestalt e com o Círculo de Viena. “As teses de 1929” do Círculo de Praga - argumenta Dosse - “vão ter valor de programa para várias gerações de linguistas”, pois seus pressupostos trazem que “em seu papel social, cumpre distinguir a linguagem segundo a relação existente entre ela e a realidade extralinguística” (Les thèses de 1929, 1969, p. 31, apud DOSSE, 1993, p.78). É o começo da compreensão de uma linguagem com função comunicativa, inclusive já apresentada em 1928, no já citado primeiro Congresso Internacional de Linguística em Haia. Lá, o Círculo de Praga é representado por Jakobson que afirma: “pela primeira vez, empregamos a expressão linguística estrutural e funcional. Apresentamos a questão da estrutura como central, sem a qual nada pode ser tratado em linguística” (JAKOBSON, 1969, apud DOSSE, 1993, p. 79).

Então da antiga Tchecoslováquia invadida pelos nazistas, em 1939, Jakobson vai para a Dinamarca de Hjelmslev, depois para a Noruega e Suécia, para então, em 1941, refugiar-se nos Estados Unidos. Lá trabalha como professor e constituí o Círculo Linguístico de Nova York, inaugurando o estruturalismo no ocidente, porém com vistas ao adjetivo funcional.

Embora Dosse entenda Jakobson como o “orquestrador” do estruturalismo no ocidente, outro nome entra em cena para contribuir com a difusão do estruturalismo, porém com ares contestadores. André Martinet, linguista francês ligado ao campo da fonologia, mostra um estruturalismo que precisa de críticas e, estas, por sua vez, conduzem o formalismo, na linguagem, para o domínio da função e da comunicação. Tanto que em entrevista cedida ao próprio Dosse, Martinet afirma que

a grande ideia é a noção de pertinência. Toda ciência se baseia numa pertinência. Uma ciência só pode desenvolver-se independente de uma metafísica se se concentrar num único aspecto da realidade. [...] Ora é porque a linguística serve para a comunicação que podemos saber o que o linguista deve procurar [...] Não tem o menor sentido fazer estruturalismo em linguística se não for funcional. (apud DOSSE, 1993, p. 88)

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Com várias críticas, o estruturalismo sobreviveu intensamente entre as ciências humanas até a década de 1960, e, de um movimento de mudança, ou de “pertinência”, como afirmava Martinet, surge outra proposta. É o que encontramos em Martins (2009, p. 20) que argumenta que a nova proposta dá ênfase ao fato de que “as línguas não podem ser analisadas apenas como estruturas autônomas, dissociadas do uso, uma vez que elas existem para estabelecer relações comunicativas entre falantes e ouvintes”. A partir de então, a noção de função ganha condições de emergência para existir e se desenvolver.

4. O funcionalismo linguístico: considerações

Estudos de Pezatti (2005) nos apontam que o funcionalismo linguístico, tal como hoje o entendemos, conjuga várias vertentes, com trabalhos em diversos países apontando para uma grande variedade de modelos teóricos. Para ela, o fundamental em todas as vertentes é o fato de que sua concepção de linguagem prima pela comunicação e interação social, baseados no uso real de língua, “o que significa não admitir separações entre sistema e uso” (PEZATTI, 2005, p. 168).

A autora ainda argumenta que a linguística funcional pontua que “toda explicação linguística deve ser buscada nas relações entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social” (PEZATTI, ibid., id.), o que obriga considerar o falante e o ouvinte numa relação sócio interacional. Há de se observar que, baseada em Dick (1989, apud PEZATTI, 2005, p. 68), ela conclui asseverando: “o enfoque da linguagem como um instrumento de interação social tem por objetivo revelar a instrumentalidade da linguagem em termos de situações sociais”.

Para Neves (2011), uma gramática, que se quer baseada no funcionalismo linguístico, traz o uso e a função como princípios organizadores. Dessa forma, algumas considerações são importantes e devem nortear as análises nessa vertente. Tais noções são:

1) A linguagem não é um fenômeno isolado, mas, pelo contrário, serve a uma variedade de propósitos [...], e, portanto, tem motivações: [...] que vindas de diferentes direções e possuindo natureza diferente, buscam equilibrar a força da gramática. 2) A língua (e sua Gramática) não pode ser descrita nem explicitada como sistema autônomo [...], imune a uma relação com fatores externos de ativação: [...] ele se ativa motivado por fatores externos (e de mais de um tipo). 3) As formas e os processos da língua [...] são meios para um fim, não um fim em si mesmos [...]: na atividade bem sucedida, os fins são os correlatos das motivações. (NEVES, 2011, p. 24)

Em Antonio (2009, p. 61) ainda encontramos a consideração de que as linhas que compõem a corrente teórica do funcionalismo linguístico “têm como denominador comum o fato de considerarem essencial para o estudo da língua a função dos elementos linguísticos na comunicação”. Com menção aos estudos referentes ao discurso, o autor nos mostra que boa parte dos modelos teóricos da linguística funcional a entendem como fortemente ligada à gramática, criando possibilidades de trabalho que levam as análises linguísticas aos seus contextos reais, fato que distancia as considerações funcionalistas dos estudos do formalismo estruturalista e gerativista. Teorias vistas pelos autores aqui

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mencionados como opostas à linguística funcional, tendo em vista uma compreensão de frase como unidade base de análise estrutural.

Martelotta e Areas (2003, p. 19), baseados em Nichols (1984), consideram que os teóricos de Praga, já a partir das primeiras décadas do século XX, observavam a “função/relação” das proposições, e que a esse duplo de análise cabe a compreensão do fato de ser um “portador de propriedades”, o que para nós, na contemporaneidade, equivaleria à compreensão da importância de se observar os contextos nas análises linguísticas. Os autores argumentam, também, que a linguística funcional

[...] caracteriza-se pela concepção da língua como um instrumento de comunicação, que, como tal, não pode ser analisada como um objeto autônomo, mas como uma estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das diferentes situações comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura gramatical. (MARTELOTTA; AREAS, 2003, p. 20)

Compreende-se, portanto, a partir desses pressupostos, que a linguística funcional, mesmo tendo vários modelos teóricos, prima pelo estudo dos processos comunicativos e, sendo assim, pode aceitar que tais variações de análises existam. Além disso, é inerente à comunicação a flexibilidade para se entender analiticamente o que pode ou não determinar, ou funcionar na organização da gramática e seu uso.

5. E o termo função?

Em geral, nas reflexões levantadas ao se estudar a linguística funcional, é imperativa a compreensão do termo função. Pensando nele três conceitos são movidos por Pezatti (2005, p. 169). No primeiro deles, a autora busca em Martinet (1962, apud LABOV, 1987) o sentido de função como resultado de seleções “que excluem um número de elementos da mesma classe”. A alteração nas escolhas tanto em número quanto em classificação de unidades “altera consequentemente sua carga funcional”.

Para o segundo conceito, a autora recorre a Kiparsky (1971), considerando que há “uma relação direta entre uma dada forma e seu significado referencial” (PEZATTI, 2005, p. 170) que governa, nas palavras da autora, “as condições de mudança linguística”.

O terceiro conceito é recuperado dos estudos de Labov com base na “motivação discursiva da estrutura sequencial [...] entre dado versus novo e tema versus rema” (PEZATTI, 2005, p. 170), encontrados mais recentemente em Halliday (1967), autor este que os compreende como “um dos sistemas da gramática polissêmica”, cuja “organização informacional relaciona estruturas de uma sentença a estruturas de outra”.

A autora conclui que ao terceiro modelo é dada a possibilidade de diferenças que, ao se apresentarem na sua totalidade, podem ser tomadas pelos três conceitos arrolados por Garvin (1978) e encontrados em Dillinger (1991, apud PEZATTI, 2005, p. 171) para o qual a “função pode designar as relações (a) entre uma forma e outra (função interna), (b) entre uma forma e seu significado (função semântica) ou (c) entre o sistema de formas e seu contexto (função externa)”.

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Finalmente, para Martelotta e Areas (2003, p. 18), o termo função pode ser depreendido dos estudos de Nichols (1984) que o compreende como,

um termo polissêmico e não uma coleção de homônimos. Todos os sentidos do termo de certa forma se relacionam, por um lado, à dependência de um elemento estrutural com elementos de outra ordem ou domínio (estrutural ou não estrutural) e, por outro lado, ao papel desempenhado por um elemento estrutural no processo comunicativo, ou seja, a função comunicativa do elemento.

Consideramos que, com essa diversificação e possibilidades de compreensão do que se entende por função, os modelos teóricos que tomam por base o funcionalismo na linguística, não estabelecem entre si relações sempre similares, ao contrário, seus autores e seus modelos teóricos são constitutivamente diversificados. Porém com pressupostos e relações fundamentais, entre eles, as pesquisas referentes aos processos comunicativos em contextos discursivos.

6. Então...alguns autores

Levando-se em consideração a diversidade de modelos teóricos do funcionalismo linguístico, faz-se interessante mencionar que atualmente pode-se partir de pelo menos duas escolas linguísticas no funcionalismo: (a) europeia: com as teorias de Martinet e o Círculo Linguístico de Praga (a partir de 1920), a escola de Londres com Halliday (a partir 1970) e o Grupo Holandês, com Dik (década de 1970); (b) norte-americana: tendo como principais precursores Dwight Bolinger, Sandra Thompson, Paul Hopper e Talmy Givón (trabalhos iniciais entre as décadas de 1960 e 1970).

DeLancey (2001, apud PEZATTI, 2005) sustenta que a linguística funcional contemporânea é, em vários termos, semelhante à concepção de linguistas anteriores a Saussure (Whitney, Gabelentz e Hermann Paul), que já entendiam a língua como um instrumento, a serviço dos homens, para representar seus pensamentos diante de outros homens, ou como diz Pezatti (2005, p. 166) “a expressão na linguagem deve estar a serviço da comunicação”.

Em relação ao expoente da Escola Linguística de Praga, o destaque foi Roman Jakobson, que modificou e estendeu as funções básicas da linguagem de Mathesius (1923), comunicativa e expressiva, para seis “funções da linguagem”, alternadas, distribuídas, e nunca, necessariamente, todas – ou nenhuma – presentes numa dada situação comunicativa. São elas: função referencial, função emotiva, função conativa,

função fática, função metalinguística e função poética.

De acordo com Martins (2009), em Londres, Halliday vê pouco depois as funções da linguagem como uma alternância e distribuição de papéis, a partir das experiências dos interlocutores, com as funções ideacional, interpessoal e textual. Na primeira “o falante/ouvinte organiza e incorpora na língua sua experiência dos fenômenos do mundo, não só interno, mas também externo. [...] Logo, essa metafunção corresponde não só à experiência de linguagem, como também às relações lógicas” (MARTINS, 2009, p. 25).

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Já na função interpessoal entra em cena a interação verbal, meio pelo qual os indivíduos podem expressar suas atitudes e posicionamentos frente às suas ações e às de outros. À terceira função cabe a organização do discurso e do momento de interação entre os falantes, que, pelos elementos semânticos e gramaticais, podem estabelecer comunicação.

Em Martins (2009), também encontramos três níveis de função, apontados por Dik, para uma estrutura sentencial: morfossintático, semântico e pragmático, e, em Antonio (2009), temos que a gramática funcional trata da organização, em termos gramaticais, daquilo que se denomina língua natural, em oposição ao formalismo e à pesquisa de falantes ideais, com frases isoladas, simples e não sequenciais, por exemplo. Para Dik, portanto, a língua natural já é constitutivamente “estruturada e cooperativa [...] porque é governada por regras [...] e é cooperativa porque precisa de pelo menos dois participantes para atingir seus objetivos” (apud ANTONIO, 2009, p. 64).

Às informações sintáticas e semânticas de uma sentença, portanto, Dik acrescenta a informação pragmática, considerada por ele como um “conjunto de conhecimentos, crenças, opiniões, sentimentos etc., [que] é o ponto de partida da interação verbal” (ANTONIO, 2009, p. 65).

O funcionalismo linguístico norte-americano, conforme nos mostram Martelotta e Areas (2003, p. 23), ganhou corpo em suas pesquisas com a divulgação dos trabalhos de Sandra Thompson, Paul Hopper e Talmy Givón, que defendiam “uma linguística baseada no uso, cuja tendência principal é observar a língua do ponto de vista do contexto linguístico e da situação extralinguística”.

Ainda conforme os autores, os textos que se destacaram como precursores do funcionalismo norte-americano foram: The origins of sintax in discourse: A case study of

Tok Pisin relatives, de Gillian Sankoff e Penelope Brown, em 1976, e From discourse to syntax: gramar as a processing strategy, de Talmy Givón em 1979.

Para Antonio (2009), de uma forma geral, temos hoje vários modelos teóricos aos quais podemos recorrer para uma análise linguística de bases funcionais, tais como a Gramática Funcional holandesa, com Dik e a Gramática Discursivo-Funcional nascida “como uma versão revisada da FG [holandesa]” (p. 67). Ele ainda trata da Gramática Sistêmico-Funcional, mostrando a importância de Halliday na “orientação textual explícita [...] com o propósito de analisar textos” (p.70).

Ainda, segundo o mesmo autor, na costa oeste dos Estados Unidos, linguistas trabalham com o modelo teórico funcional (WCF), considerando a noção de transitividade “como uma noção escalar, contínua, baseada em 10 parâmetros que permitem verificar a eficiência e a intensidade com que uma ação é transferida de um participante para outro” (ANTONIO, 2009, p. 72).

Para finalizar, Antonio discute a RST, Teoria da Estrutura Teórica do Texto, também, com origem nos Estados Unidos, que propõe um conteúdo textual explícito e implícito regido por “proposições relacionais que surgem das relações que se estabelecem

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entre porções do texto, [...] essas relações [conferem] coerência ao texto, [...]” (ANTONIO, 2009, p. 76).

Assim, o autor, em sintonia com os anteriormente vistos, mostra a diversidade de modelos linguísticos funcionais à disposição atualmente. Além disso, suas considerações nos levam a perceber a progressão das análises com vistas ao texto e ao discurso, ao sujeito e à sua realidade comunicativa.

7. Considerações últimas

A partir das discussões aqui apresentadas, pudemos observar a emergência de um modelo crítico de análise linguística na sua relação com o Estruturalismo, tendo por base a comunicação e seus aspectos relacionais com o contexto e o discurso produzido entre os falantes/ouvintes. Dessa forma, com os modelos teóricos apresentados, entendemos que o Funcionalismo Linguístico tem atualmente uma grande profusão de variáveis, que se mantêm atuais pela capacidade de compreender e representar a realidade linguística dos falantes como constituinte de seus pressupostos.

Referências

ANTONIO, J. D. O texto como objeto de estudo na linguística funcional. In: _____; NAVARRO, P. (Orgs). O texto como objeto de ensino, de descrição linguística e de análise textual e discursiva. Maringá: EdUEM, 2009. pp. 61-80.

DOSSE, F. História do estruturalismo: o campo do signo, 1945/1966. Trad. Bras. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993.

FRANCO, E. V. P. Lifestyle media: o exemplo do jornalismo cultural em Portugal. Dissertação. Mestrado em Comunicação Social, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2013.

MARTELOTTA, M. E.; AREAS, E. K. A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: CUNHA, M. A. F.; OLIVEIRA, M. R.; MARTELOTTA, M. E. (Orgs). Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 17-28.

MARTINS, A. P. P. Funcionalismo linguístico: um breve percurso histórico da Europa aos Estados Unidos. Domínios de Lingu@gem, ano 3, no. 2, p.18-35, 2º.sem.2009. Disponível em: <www.dominiosdelinguagem.org.br>. Acesso em jan. de 2014.

NEVES, M. H. M. Linguística funcional, princípios, temas, objetos e conexões. Guavira Letras, niversidade Federal de Mato Grosso do Sul, Programa de Graduação e Pós-Graduação em Letras, Três Lagoas (MS), v. 1, no. 1, p. 24-38, 2005. Disponível em: <www.pgletras.ufms.br/revistaguavira/013pdf>. Acesso em jan. de 2014.

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PEZATTI, E. G. O funcionalismo em linguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs). Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2005. p.165-218.

Referências

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